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RESENHA CRÍTICA EM TERRA DE CEGO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
RAYSSA KEMILY FERREIRA RAMALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESENHA CRÍTICA DO O CONTO “EM TERRA DE CEGO” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTES E LACERDA-MT 
2017 
WELLS, H. G. Em Terra de Cego, versão de 1939. Tradução por Renato 
Pompeu. 
A obra de Wells se passa em uma terra selvagem, um vilarejo indígena 
equatoriano que é acometido por uma doença que deixa toda a tribo cega, onde até 
mesmo as crianças nascem sem visão. Um homem daquela tribo resolve sair e 
procurar uma cura para aquela doença, porém devido a erupção do Mindobamba, que 
separa “para sempre a Terra dos cegos dos passos exploradores dos seres humanos” 
ele não consegue retornar à comunidade, deixando para trás sua mulher e filhos. Após 
sua saída, sua história mal contada se torna lenda, que se perpetuou dessa forma até 
15 gerações depois. Apesar das adversidades, a tribo consegue sobreviver e vive bem 
com toda essa situação até a chegada de Núnez ao vilarejo. Ao descobrir que se 
encontrava na comunidade “perdida” dos cegos, o estrangeiro aspira em se tornar o 
seu rei, legitimando este posto no provérbio “em terra de cego quem tem olho é rei”, 
entretanto a história segue por desfechos não previstos por ele. 
A história se passa em um vale entre as montanhas, cheio de vida, água doce, 
clima ameno, solo rico e propício a deslumbres. Pena que uma terrível doença 
acomete aquele povo mestiço peruano que procurava uma vida alternativa àquela que 
viviam sob a tirania espanhola. Doença tão deplorável esta que não se sabia a origem 
real ou como curá-la, mas que alcançou a comunidade fazendo com que as crianças 
nascessem cegas e depois avançou até afetar os mais velhos. Porém como relatado, 
o vale tinha tudo para garantir a sobrevivência dos cegos, além de não possuir animais 
ferozes ou algo que colocassem as suas vidas em risco. Mas antes que todos 
ficassem cego, um dos habitantes do vale saiu para procurar a cura daquela doença 
que ele entendia como um castigo dos deuses pelos pecados do povo, porém antes 
que ele pudesse retornar ao vale com o antídoto houve erupção do Mindobamba que 
o separou de sua família. Dessa forma viveu sua vida contando a história da terra dos 
cegos e que depois de sua morte acabou virando lenda. 
Tendo passado 15 gerações depois do retirante que estava em busca da cura, 
a comunidade acabou se esquecendo do sentido da visão e tudo que a ele se 
relacionava, mas viviam felizes daquela forma. Aquela tribo era formada por pessoas 
hábeis e fortes que acabaram aguçando seus outros sentidos, tanto que podiam ouvir 
o batimento cardíaco um dos outros e sentir cheiros quase imperceptíveis. Tudo 
seguia seu curso normal até o dia em que um montanhês guia de um grupo de 
escaladores cai do pico da montanha e sobrevive, mesmo que este acontecimento 
seja considerado quase impossível. Após certo tempo da queda logo de manhã, o 
montanhês chamado Núnez consegue se levantar e começa a andar pelo vale com o 
objetivo de encontrar ajuda, e assim avista um vale que parecia ser habitado. Ao 
chegar no muro, Núnez passou por uma ponte que ligava a uma abertura no muro e 
pode definitivamente entrar naquela comunidade. Avistou alguns homens em filas 
carregando cestos e foi falar com eles, quando se aproximou percebeu que eram 
cegos e lembrou-se da lenda que ouvira sobre aquele lugar e logo o seu pensamento 
se voltou ao provérbio “Em terra de cego que tem um olho é rei” e o repetia como se 
fosse um mantra. 
No primeiro contato com os cegos, Núnez se apresentou vindo de Bogotá, além 
das rochas e lhes disse que podia ver. Os cegos por sua vez o apalparam e 
perceberam que ele tinha dois órgãos estranhos a eles e estes por sua vez tinham 
fios e eram úmidos, e ao tatear Núnez eles questionavam o que seria ver, olhos e o 
que seria visão, pois haviam perdido do conhecimento da comunidade tudo 
relacionado a isso. Ao concluírem que aquele estranho era louco pois falava coisas 
absurdas que eles não tinham conhecimento, os cegos levaram-no ao chefe da tribo 
que se encontrava dentro de uma daquelas casas imergidas em escuridão. O ancião 
começou a o interrogar e Núnez por sua vez o explicava sobre como era a vida além 
da montanha, como era ver, como tudo acontecia fora daquele lugar, porém o ancião 
dizia que ele tinha a mente recém-formada pois tudo aquilo não passava de histórias 
infantis e então começou a contar a filosofia de vida do seu mundo (o vale), lá eles 
trabalhavam no frio e dormiam no calor pois era mais agradável, além disso se não 
fosse a chegada do estrangeiro eles estariam dormindo agora. Depois de muita 
conversa levaram Núnez a um lugar isolado para que pudesse comer e depois dormir 
sem que incomodasse o sono dos cegos, mas o montanhês decidiu sentar-se após a 
refeição e pensar sobre tudo que havia acontecido até ali. Indignou-se por ser 
chamado de tolo e infantil, pois como pode os servos falarem daquele jeito com o seu 
rei? Dessa forma ele procurava uma forma de fazer com que os cegos o entendesse 
e assim pudessem reconhecer sua superioridade. 
Apesar de seus esforços em contar como era ver aos cegos, Núnez sempre 
fracassava e era motivo de chacota e um dia até se enfureceu, mas depois de certo 
tempo ninguém mais dava ouvidos ao o que ele dizia. Certa vez levantou uma pá para 
acertar os cegos, porém os ouvidos aguçados dos mesmos o fizeram perder a luta, 
ele, porém resolver se refugiar além do muro. Visto que não poderia sobreviver sem 
comida e abrigo, Núnez volta a aldeia dizendo estar louco e com a mente recém-
formada, os cegos o aceitam e dizem que ele receberá aulas dos filósofos da 
comunidade. Núnez quase acreditou que sofria de alucinações e então se tornou um 
cidadão da Terra de Cegos. Lá ele arrumou um emprego com Yacob e conheceu sua 
filha Medina-saroté, pela qual se apaixonou e fazia de tudo para que ela o notasse. 
Após alguns dias Medina-saroté percebeu a afeição de Núnez e mesmo ainda 
considerado louco, fornecia atenção a garota que era desprezada pelo resto da 
comunidade por ser considerada feia. Núnez a via como a mais linda de todas e com 
muito cuidado falava a ela sobre a visão, ela por sua vez entendia em parte o que 
seria ver, mas muito mais de forma poética do que em um sentido real. Núnez 
transforma todo aquele amor em coragem e resolve pedir a Yacob e aos anciões 
Medina-saroté em casamento, entretanto o casamento entre os dois era visto com 
demasiada aversão. Yacob percebendo que a filha realmente gostava de seu servo 
foi a procura dos sábios encontrar alguma saída para que o casamento acontecesse. 
Um curandeiro da tribo após analisar Núnez prevê que o rapaz pode se tornar são se 
permitir a realização de uma pequena cirurgia para retirar seus olhos, isso faz com 
que Medina-saroté se encha de esperanças com o casamento. 
Ao contar a Núnez sobre a solução encontrada, Medina suplica-o para que 
permita a cirurgia, ele triste ao pensar em perder a visão consente por piedade a 
amada. Na semana que estava marcada sua cirurgia, Núnez não consegue dormir e 
propõe-se a observar a natureza e seu esplendor com mais atenção e começa a 
pensar cada vez mais no fato de perder a visão, não tendo mais certeza de sua 
resposta. Quando o dia chega, Núnez revê Medina-saroté e reafirma sua disposição 
a ser submetido a cirurgia, ele sai a fim de encontrar um lugar quieto para observar a 
pradaria. Lá ele viu as geleiras, montanhas, flores e aos poucos foi percebendo que a 
vida no vale como cego não se compararia a deslumbrar toda aquela beleza que ali 
existia. Então ele saiu do vale e começoua escalar a fim de ver cada vez mais as 
montanhas, e logo já estava longe da terra dos cegos e quase não podia mais avistá-
la. Ao anoitecer ele parou e observou quieto a dança das cores, deitado sozinho 
olhava atentamente as estrelas e sorria e ali ele ficou em paz. 
Tendo em vista que Núnez ao encontrar aquela tribo tenha pensado em a 
governar, o que o poder significava para ele? Seria a possibilidade de realizar seus 
desejos? Ou seria a capacidade de ascender sua condição social a rei de uma 
comunidade? Pode ser uma ou outra e até mesmo a união de ambas. De acordo com 
Maquiavel a chegada ao poder pode acontecer das seguintes formas: a conquista do 
poder pela própria virtude, pela fortuna, pela perversidade e pelo consentimento dos 
cidadãos. É nítido que pela fortuna Núnez não conseguiria, nem pela perversidade 
pois através da força ele seria morto pelos cegos. Todavia ele optou pela virtude, que 
seria a sua capacidade de ver como o objetivo de conseguir consentimento dos 
cidadãos para declarem-no superior. Entretanto isso não acontece, a sua capacidade 
de ver faz com que ele seja diferente dos demais e dessa forma não encontraria auxílio 
para ascender ao poder. 
A partir dessa concepção é possível perceber que o provérbio “Em terra de 
cego quem tem um olho é rei” está errado, na verdade é o contrário disso. No Brasil 
se vota em alguém para ser seu representante se ele possui ideologias similares a 
suas, a não ser que o deva favores. Mas voltando as ideologias, não se vota ou quer 
alguém no poder com o pensamento antônimo ao seu e isso pode ser argumento para 
refutar o provérbio. 
Outro ponto a ser compreendido é a desvalorização de Núnez por poder 
enxergar, que pode ser equiparado ao que acontece na alegoria da caverna de Platão. 
Onde o prisioneiro que consegue se libertar vê nitidamente o mundo lá fora e quando 
volta, percebe que as sombras outrora tidas como real não são, entretanto se o liberto 
tentasse mostrar a sua nova concepção aos outros ele seria isolado, tido como inferior 
e até poderia ser morto. A morte de Sócrates pode ser considerada como uma boa 
analogia ao conto, pois foi condenado à morte por pensar diferente dos demais e por 
incentivar a reflexão de tais pessoas. No conto Núnez tinha duas escolhas: ou se 
submetia a cirurgia e ficava cego, ou se isolava e morria sozinho com a sua visão, e 
neste caso ele escolhe a segunda opção. 
A leitura antropológica dessa obra de Wells é importante para compreender que 
muitas vezes tratamos de forma inferior as outras pessoas por elas serem diferentes. 
A xenofobia e inúmeros preconceitos são gerados apenas pelo fator de ser algo 
diferente, e qual é a necessidade de sermos todos exatamente iguais? Por que não 
respeitar as diferenças de outras pessoas, povos e culturas? Sempre achamos que 
somos superiores aos outros e isso se transforma em guerra e ódio. Essa obra é 
indicada a todos, pela pluralidade de concepções críticas que podem se formar, que 
promove até mesmo questionamentos sobre os deficientes físicos, raças diferentes, 
culturas diversas, opção de sexualidade e a intolerância em todos os âmbitos. O valor 
da visão ou de uma particularidade não deve categorizar padrões normativos como 
Foucault entende nas relações de poder. A particularidade só fornece uma 
característica a mais, a qual não deve ser usada como um problema a ser sanado. 
O autor do conto “Em Terra de Cego”, Hebert George Wells nasceu no dia 21 
de setembro de 1866 em Bromley na Inglaterra e morreu no mesmo distrito em agosto 
de 1946. Considerado como pai da ficção científica, Wells foi autor de obras de 
enorme sucesso como: “A Máquina do Tempo” (1895), “O Homem Invisível” (1897) e 
seu romance popular “A Guerra dos Mundos” (1898). Já o conto “Em Terra de Cego” 
foi publicado na Revista Strand em 1904 e se tornou livro em 1911, depois de quase 
30 anos Wells escreve uma segunda versão para o conto. 
Rayssa Kemily Ferreira Ramalho, Acadêmica do Curso de Direito na 
Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
FOUCAULT, M. "Soberania e disciplina": Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 
1979. 
 
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos Pré- socráticos a 
Wittgenstein. 2a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,2000. A Alegoria da caverna: 
A Republica, 514a-517c tradução de Lucy Magalhães.

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