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ARTIGO Brinquedo terapêutico como coadjuvante

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Revista Psicologia: Teoria e Prática, 15(1), 130-144. São Paulo, SP, jan.-abr. 2013. ISSN 1516-3687 (impresso), ISSN 1980-6906 (on-line). 
Sistema de avaliação: às cegas por pares (double blind review). Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Brinquedo terapêutico como coadjuvante 
ao tratamento fisioterapêutico de 
crianças com afecções respiratórias
Isabel de Castro Schenkel
Júlia Macruz Garcia
Marina da Silva Kleinubing Berretta
Camila Isabel Santos Schivinski1
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis – SC – Brasil
Maria Eduarda Merlin da Silva
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC – Brasil
Resumo: O atendimento em pediatria tem características particulares daquele realiza-
do em outras faixas etárias. Esta revisão integrativa tem como objetivo apresentar pu-
blicações e fazer uma análise crítica acerca do uso de brinquedos terapêuticos durante 
sessões de fisioterapia em pneumopediatria, recursos inseridos no atendimento como 
estratégia para motivar e ensinar as crianças. Pesquisaram-se as bases PubMed, Medline, 
SciELO, Lilacs e Science Direct, a partir dos descritores: terapia respiratória, pediatria e 
jogos e brinquedos. De um total de 73, foram selecionados 36 trabalhos na íntegra, 
publicados entre 1969-2009. Literatura específica sobre o tema, na área da fisioterapia 
respiratória pediátrica, é ainda escassa. A maioria do material elencado é referente ao 
uso do brinquedo como símbolo cultural, social, pedagógico e até filosófico. Esses estu-
dos não discutem ou evidenciam os princípios fisiopatológicos que fundamentam seu 
uso durante as sessões de fisioterapia, apesar do notório reconhecimento quanto à sua 
importância como recurso fisioterapêutico coadjuvante. 
Palavras-chave: fisioterapia; fisioterapia respiratória; pediatria; brinquedo terapêutico ; 
jogos e brinquedos.
THERAPEUTIC PLAY AS TECHNIQUE SUPPORTING TO PHYSIOTHERAPEUTIC 
TREATMENT IN CHILDREN WITH RESPIRATORY DISORDERS 
Abstract: This integrative review aims to provide publications concerning about the 
use of therapeutic play during sessions of physical therapy in children with respiratory 
disorders. This kind of intervention such funds placed in care as a strategy to motivate 
and teach children. The revision was carried out in the databases PubMed, Medline, 
SciELO, Lilacs, Science Direct, using the descriptors: respiratory therapy, pediatrics 
and play and playthings. From a total of 73 publications, 36 works were selected in full, 
developed and published between 1969-2009. Specific literature in the field of respira-
tory therapy in childhood diseases is still scarce and most of the material part listed 
regarding the use of toys as a symbol of the cultural, social, educational and even philo-
sophical. These studies do not discuss the pathophysiological principles underlying 
their use during physical therapy sessions, despite the apparent recognition of its im-
portance as adjuvant.
Keywords: physical therapy (specialty); respiratory therapy; pediatrics; therapeutic 
play; play and playthings. 
1 Endereço para correspondência: Camila Isabel Santos Schivinski, Departamento de Fisioterapia – Centro de 
Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina, Rua Pascoal Simone, 358, Coqueiros – 
Florianópolis – SC – Brasil. CEP: 88080-350. E-mail: cacaiss@yahoo.com.br.
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JUEGO TERAPÉUTICO COMO UN COMPLEMENTO A EL TRATAMIENTO DE 
FISIOTERAPIA PARA LOS NIÑOS CON ENFERMEDADES RESPIRATORIAS
Resumen: Esta revisión de integración tiene como objetivo proporcionar publicacio-
nes y hacer un análisis crítico del uso de juguetes durante las sesiones terapéuticas de 
la fisioterapia en neumología, esos fondos colocados en la atención como una estrate-
gia para motivar y enseñar a los niños. La revisión fue realizada en PubMed, Medline, 
SciELO, Lilacs, Science Direct, del DeCS: terapia respiratoria, pediatría y juguetes y 
juegos. De un total de 73 trabajos, 36 fueron seleccionas en su totalidad, desarrollados 
y publicados entre 1969-2009. Literatura específica en el campo de la terapia respira-
toria en enfermedades de la infancia es aún escasa y la mayoría de la parte material que 
figuran en el uso de juguetes como un símbolo de la vida cultural, social, educativo e 
incluso filosóficas. Estos estudios no discutir o revelar los principios fisiopatológicos 
subyacentes a su uso durante las sesiones de terapia física, a pesar de la aparente reco-
nocimiento de su importancia como terapia física como adyuvante.
Palabras clave: fisioterapia; fisioterapia respiratoria; pediatria; juguete terapéutico; 
juego e implementos de juego. 
O paciente pediátrico apresenta uma série de diferenças anatômicas e fisiológicas 
quando comparado ao adulto, as quais estão continuamente mudando durante o 
crescimento e desenvolvimento. Essas diferenças são mais notáveis nos prematuros e 
recém-nascidos, mas estão presentes na infância, sendo as fases pré-escolar e escolar 
consideradas como transitórias para instalação de alguns padrões da idade adulta 
(Oberwaldner, 2000). Além do caráter fisiológico, o paciente apresenta aspectos psico-
lógicos, emocionais e comportamentais totalmente diferentes do adulto, e um manejo 
terapêutico eficiente depende do conhecimento dessas características. É fundamental 
que o profissional da saúde, principalmente o fisioterapeuta, considere a idade crono-
lógica da criança, assim como suas habilidades e seus interesses, quando for programar 
e estabelecer suas condutas e mecanismos de intervenção. Isso porque, em crianças 
com alguma deficiência e limitações, nem sempre a idade cronológica coincide com 
habilidades e interesses (Ratliffe, 2000). 
A fisioterapia pediátrica baseia-se na avaliação, no planejamento e na execução 
do programa de intervenção. Na avaliação, o profissional busca identificar limitações, 
dificuldades, alterações, capacidades, interesses e necessidades de cada criança e, a 
par tir dela, elabora um programa terapêutico, de acordo com as necessidades da 
criança, em conjunto com os pais (Fujisawa & Manzini, 2006). Além disso, comumente 
são repassadas orientações de cunho educativo e preventivo, sendo realizadas reava-
liações periódicas.
Dessa maneira, o trabalho do fisioterapeuta no campo da pediatria exige um co-
nhecimento que permita a esse profissional atender a criança em suas necessidades, 
desde as mais básicas até as mais específicas, como a reeducação respiratória (Guima-
rães & Moriyama, 1980). A cooperação com a fisioterapia respiratória é passiva em 
recém-nascidos e lactentes. Estes, muitas vezes, aceitam o tratamento administrado 
sem grande desconforto e, rapidamente, familiarizam-se com as sensações concomi-
tantes, tais como o som da voz do terapeuta e seu toque. Por sua vez, as crianças em 
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idade pré-escolar são, em geral, pacientes mais difíceis, já que não colaboram passiva-
mente e nem sempre conseguem ser persuadidas a uma cooperação ativa muito pro-
longada. No entanto, breves períodos de cooperação podem ser obtidos por meio de 
distração, persuasão, palavras de incentivo e mediação com jogos e brincadeiras 
(Oberwaldner, 2000).
O uso do brinquedo na área de pediatria é reconhecidamente importante e habi-
tual. Dentre os vários aspectos que motivam e interessam o paciente pediátrico duran-
te os atendimentos, encontram-se“o brincar e o brinquedo”, com notórias funções 
facilitadoras e mediadoras: tanto de intervenções pedagógicas quanto psicológicas e, 
até mesmo, clínicas (Letts, Stevens, Coleman, & Kettner, 1983; Alger, Beardslee, Lee, & 
Linn, 1985; Ribeiro, Sabatés, & Ribeiro, 2001; Borges, Nascimento, & Silva, 2008; Maia, 
Ribeiro, & Borba, 2008).
Apesar disso, poucos são os estudos que apresentaram e analisaram a utilização 
do brinquedo e do brincar como recursos coadjuvantes de terapias específicas, es-
pecialmente na área de fisioterapia. Embora a criança e o brinquedo sejam temas in -
terligados, por uma forte questão cultural, a reflexão e abordagem dos princípios 
que norteiam essa interação como um recurso utilizado na área da saúde ainda pre-
cisam ser feitas. 
Estudos comprovam que as brincadeiras e os jogos infantis têm função muito além 
da mera diversão, pois também auxiliam na aprendizagem de habilidades diversas. O 
brincar auxilia no desenvolvimento sensório-motor e intelectual da criança, e, ainda, 
é reconhecida sua importância no processo de socialização, desenvolvimento e aper-
feiçoamento da criatividade autoconsciência, da motivação e de habilidades e atitu-
des necessárias à sua participação social futura (Piaget, 1976; Vygotski, 1984; Araujo & 
Lorenzani, 1995; Françani, Ziliolli, Silva, Sant’ana, & Lima, 1998; Pereira, 2005).
Considerando esses elementos, o profissional da fisioterapia utiliza, na prática clíni-
ca, recursos lúdicos durante a terapia respiratória das crianças, na tentativa de melhorar 
a aderência e viabilizar (ou até mesmo potencializar) o efeito de algumas condutas 
fisioterapêuticas. 
Apesar de o uso desses recursos já ter sido incorporado na rotina assistencial de 
hospitais, clínicas e ambulatórios, não há estudos sobre a eficácia desses procedimen-
tos, tanto do ponto de vista da aderência da criança à terapia lúdica quanto, e princi-
palmente, em relação a aspectos fisiológicos que sustentem e justifiquem o princípio 
terapêutico dos recursos utilizados. 
O objetivo principal foi realizar uma revisão integrativa da literatura científica a 
respeito do brinquedo terapêutico (BT) como recurso coadjuvante da fisioterapia res-
piratória no manejo de doenças pulmonares pediátricas. Além disso, fazer uma análise 
crítica do material encontrado, a fim de caracterizar os trabalhos publicados nas fon-
tes de indexação de maior impacto, nos âmbitos nacional e internacional, viabilizando 
a identificação do perfil dos estudos relativos a esse conceito. 
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Método
Apresentado sob forma de revisão integrativa (Beyea & Nicoll, 1998), este estudo 
sumariza pesquisas já realizadas e tira conclusões amplas no que diz respeito a um 
corpo de literatura específico, nesse caso do uso do brinquedo terapêutico como co-
adjuvante ao tratamento fisioterapêutico de crianças com afecções respiratórias. A 
revisão integrativa possibilita a construção de análise geral, enriquecendo possíveis 
discussões sobre métodos e resultados de pesquisa, mas também propiciando refle-
xões sobre futura realização de estudos. Para tanto, os autores se preocuparam em 
seguir padrões de rigor, clareza e crítica na revisão da literatura realizada, viabilizan-
do que o leitor identifique as mais evidentes características dos estudos revisados 
(Ganong, 1987). Para operacionalização desta revisão, foram utilizadas as seguintes 
etapas: seleção da questão temática, estabelecimento dos critérios para a seleção da 
amostra, análise e interpretação dos resultados e apresentação da revisão. 
A fim de operacionalizar a busca nas bases de dados, utilizaram-se os descritores 
(termos de busca) terapia respiratória, pediatria e jogos e brinquedos, consultando-se 
as seguintes bases indexadoras: PubMed (via Ebsco), Medline, SciELO, Lilacs e Science 
Direct. O acervo bibliográfico da Biblioteca Universitária do Estado de Santa Catarina 
(Udesc) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também foi acessado. Fo-
ram adotados critérios de inclusão e exclusão para recuperação dos trabalhos. Foi in-
cluído material bibliográfico que referenciasse a faixa etária pediátrica e referenciasse 
a utilização do brinquedo como coadjuvante no tratamento de crianças na área da 
saúde (fisioterapia, enfermagem, psicologia), além daqueles em que o brinquedo foi 
explorado com uma abordagem mais humanística e social. Não se excluíram trabalhos 
como teses, dissertações, livros e capítulos de livros, exceto aqueles que não abordas-
sem diretamente o tema ou que, no decorrer de sua análise crítica, os autores obser-
vassem não compatibilidade com os critérios preestabelecidos. 
Esse processo de seleção objetivou eliminar publicações de pouca qualidade, de 
modo a ser selecionada apenas a literatura indexada, complementada por trabalhos 
na íntegra, oriundos de livros com reconhecido padrão editorial. Em virtude da escas-
sez de material específico publicado em fisioterapia, incluíram-se relatos de pesquisas 
de áreas afins, que abordassem a questão do BT, a questão do jogo e do brincar e seus 
pressupostos simbólicos, filosóficos, antropológicos, pedagógicos e psicológicos. 
A pesquisa inicial localizou 73 trabalhos potencialmente qualificados, e a base de 
dados na qual foi encontrado maior número de publicações foi SciELO, seguida do 
Medline. Considerando os critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, 
do material primeiramente selecionado, foram incluídos na corrente revisão 23 artigos 
(15 em língua portuguesa e oito em inglês), além de quatro dissertações ou teses, oito 
livros ou capítulo de livros e um projeto de extensão disponível on-line, pois estavam 
de acordo com os critérios propostos. Após mais uma análise criteriosa desse material, 
nenhum desses trabalhos foi excluído. 
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Discussão de resultados
A literatura científica que discute o uso do BT como recurso coadjuvante da fisiote-
rapia respiratória no manejo de doenças pulmonares pediátricas, quando analisada 
sob uma ótica crítica para caracterização do perfil dos trabalhos publicados nas fontes 
de indexação de maior impacto, permite a explicitação de uma série de resultados. 
Quando se analisa o perfil dos trabalhos encontrados, por exemplo, constata-se 
que a maior parte dos estudos pertinentes a esta revisão integrativa foi publicada na 
língua portuguesa, além das publicações em língua inglesa. A área da saúde foi fonte 
do maior volume de trabalhos, destacando-se a produção científica, especialmente em 
enfermagem, psicologia e pedagogia. Nessa área de estudo, os trabalhos discutiram 
possíveis usos do brinquedo, a saber: como estratégia para aproximação com a criança, 
como um instrumento educativo quanto a determinados procedimentos clínicos (pun-
ção venosa, por exemplo), como elemento simbólico para expressar emoções (como 
dor e estresse) e, também, como recurso culturalmente adotado em intervenções com 
crianças. Contudo, não foram encontrados artigos que tivessem como foco referenciar 
os princípios terapêuticos fisiológicos do uso do brinquedo durante a fisioterapia res-
piratória infantil. Nesse sentido, na área da saúde, estudos sobre o brincar, o brinque-
do e o BT são escassos. A reflexão sobre o uso desses elementos como coadjuvante 
terapêutico é rara e superficial, e, além disso, parcos são os trabalhos que abordam os 
princípios fisiológicos que norteiam sua indicaçãono tratamento fisioterapêutico de 
crianças com afecções respiratórias. 
No que concerne à brincadeira como fenômeno, há muito é tema de estudo de pes-
quisadores de outras áreas de conhecimento, que não da saúde, ou com uma abordagem 
 diferente da focalizada neste estudo. Autores de áreas como a psicologia (psicanalistas, 
behavioristas, cognitivistas), a pedagogia, a filosofia e a antropologia têm investido 
seus esforços em estudos sobre a brincadeira como fenômeno (Alves & Gnoato, 2003). 
Reconhece-se que o brincar é um dos aspectos mais importantes na vida de uma crian-
ça e um dos instrumentos mais eficazes para diminuir o estresse (Françani et al., 1998), 
além de ter um importante papel na formulação de valores morais. No entanto, o 
brinquedo ainda não foi adequadamente investigado em estudos científicos como re-
curso para ensinar, motivar, mediar e potencializar os atendimentos e as intervenções 
na área da saúde, em especial como recurso fisioterapêutico coadjuvante. 
Em relação ao tema deste manuscrito, não foram encontradas produções cientí-
ficas caracterizadas por revisões de literatura. Grande parte do material bibliográfi-
co incluso é de artigos (23), sendo também utilizados capítulos de livros e/ou livros 
(8), dissertações e/ou teses (4) e um projeto de extensão disponível on-line. Dentre os 
artigo s inclusos, mais da metade são ensaios clínicos, tendo sido encontradas, tam-
bém, discussões teóricas sobre o tema. De todo esse material, sete utilizaram o brin-
quedo como instrumento de aprendizado durante a terapia e seis como recurso 
lúdico para melhorar a aderência das crianças e a satisfação dos pais diante do trata-
mento (fisioterapêutico). 
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O brinquedo citado como um recurso terapêutico, embora não se discutam seus 
princípios técnico-científicos, contemplou cinco estudos, que fundamentaram sua uti-
lização em todo conceito que envolve o brincar. Ao brincar, a criança libera sua capa-
cidade de criar e reinventa o mundo, libera afetividade e, por meio do mundo mágico 
do “faz de conta”, explora seus próprios limites e parte para uma aventura que pode-
rá levá-la ao encontro de si mesma (Françani et al., 1998). Essa função constitui a base 
da ludoterapia (técnica psiquiátrica infantil conduzida por médicos, enfermeiras psi-
quiatras ou psicólogos) e também do BT (técnica que segue os princípios da ludotera-
pia), conceitos utilizados pela assistência de enfermagem no manejo de crianças hos-
pitalizadas (Green, 1974). A ludoterapia e o BT têm como função auxiliar no preparo 
da criança para procedimentos terapêuticos, assim como para viabilizar que ela des-
carregue sua tensão após vivenciá-los (Barton, 1969; Clatworth, 1978). Tanto a ludote-
rapia quanto o BT são estratégias que capacitam o observador a ter uma melhor com-
preensão das necessidades de cada criança (Green, 1974). Pensando nessa linha de 
atuação terapêutica, o brinquedo vem sendo utilizado como instrumento de aprendi-
zado durante a terapia, bem como um recurso lúdico para melhorar o envolvimento 
da criança durante diferentes tratamentos.
Nessa perspectiva terapêutica, o brincar aparece como uma possibilidade de ex-
pressão de sentimentos, preferências, receios e hábitos; mediação entre o mundo fa-
miliar e situações novas ou ameaçadoras; e elaboração de experiências desconhecidas 
ou desagradáveis (Mitre, 2000). Os trabalhos apontam para o fato de que tudo isso 
contribui para que os profissionais que atendem sensibilizem-se quanto à importância 
de procurar mecanismos de melhorar sua interação com pacientes pediátricos, além 
de buscarem meios mais eficazes de propor tratamentos diferenciados. Isso ocorre 
porque cada criança partilha de uma cultura lúdica, e essa cultura é formada a partir 
da introjeção de regras oriundas do meio social que são particularizadas pelo indiví-
duo, incluindo suas interações com os profissionais de saúde que cuidam das crianças 
(Brougére, 2002). 
A preocupação com todo esse conceito é reforçada pela característica da popula-
ção pesquisada nos estudos elencados. As crianças, frequentemente, encontravam-se 
em regime de internação ou em ambiente hospitalar, em decorrência da presença de 
doenças respiratórias, como fibrose cística e asma, além de comprometimentos moto-
res. Esse contexto de hospitalização e doença, por si só, exige por parte dos profissio-
nais de saúde envolvidos no manejo do paciente pediátrico estratégias de abordagem 
terapêutica, sendo o brincar e o brinquedo parte dela. 
De modo geral, os trabalhos abordaram o brinquedo como um recurso cultural-
mente aceito e de lógica aplicação nas diversas terapias clínicas envolvendo crianças. 
Foram identificadas outras produções com propósitos muito específicos, que não che-
garam a constituir propriamente uma categoria de análise. 
É importante ressaltar ainda que cerca da metade de todas as produções seleciona-
das data do ano 2000 em diante, o que caracteriza a relevância do tema na atualidade . 
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Mas também é grande número de produções concentradas nas décadas de 1970 e 
1980, das quais algumas escritas por autores hoje considerados clássicos no tema do 
brincar, do brinquedo e do jogo (Piaget, 1976; Vygotski, 1984).
Após leitura e análise crítica dos artigos selecionados, procede-se a considerações 
sobre o brincar e o brinquedo como recursos potencialmente fisioterapêuticos. Em 
pesquisa realizada com profissionais de três hospitais brasileiros, por exemplo, foi re-
latada a necessidade de modificação de suas rotinas no atendimento pediátrico, adap-
tando-as à utilização de recursos lúdicos (Reis, Sampaio, Reis, Silva, Oliveira, & Silva, 
2007). Isso surgiu a partir da percepção de que o brincar poderia ser usado como uma 
linguagem de domínio da criança, possibilitando sua maior participação no processo 
de tratamento. Contrapondo-se a tal estudo, uma pesquisa qualitativa e descritiva, 
realizada com fisioterapeutas de uma região da Bahia, verificou que é expressiva a 
utilização do lúdico e do simbólico como técnica coadjuvante à fisioterapia por meio 
de brinquedos, jogos e brincadeiras no tratamento de crianças portadoras de paralisia 
cerebral. Nesse estudo, os terapeutas apontaram importância, contribuição, vantagens 
e desvantagens do uso dessa técnica coadjuvante à fisioterapia. Os fisioterapeutas 
afirmaram que o uso do brinquedo permite uma maior interação terapeuta e pacien-
te, torna o tratamento mais dinâmico e o facilita. A dispersão do tratamento foi uma 
das desvantagens mencionadas (Reis et al., 2007). Intervenções pediátricas por meio de 
técnicas lúdicas também são sugestões da Classificação das Intervenções de Enferma-
gem (NIC), que se refere aos diagnósticos e às intervenções relacionados à fibrose cís-
tica. Esse material preconiza o uso de técnicas lúdicas a fim de encorajar a respiração 
profunda de crianças, tais como: soprar cata-vento, apito, balões, gaita de boca, entre 
outras (Mcclosney & Bulechek, 2004). 
Nessa linha, um estudo cita o uso de materiais e atitudes semelhantes, como soprar 
algodão, uma pena ou um cata-vento; fazer bolhas com um canudinho na água; so-
prar com um canudinho uma bolinha de isopor ou de pingue-pongue; para conduzir 
exercícios respiratórios aplicados em um projeto de extensão realizado em um curso 
de fonoaudiologia (Lemos & Oliveira, 2006). Esses achados apontam então para utili-
zaçãodo BT não só durante a fisioterapia, mas também como recurso de outras áreas 
da saúde, como a enfermagem e fonoaudiologia.
Especificamente na fisioterapia, Campbell, Ferguson e Mckinlay (1986) referencia-
ram o uso de brincadeiras utilizando o sopro como recurso, além de atividades físicas 
e da pressão positiva expiratória (PEP), esta última adaptada pelo uso de uma garrafa 
com coluna de água e tubos de grande diâmetro para fornecer a PEP. Tais recursos 
podem ser propostos como um complemento ou uma alternativa a terapias não lúdi-
cas tão logo as crianças estejam maduras o suficiente para participar de maneira mais 
ativa das sessões de fisioterapia. 
As estratégias de alteração do volume pulmonar em crianças em idade escolar e 
adolescentes são comparáveis às utilizadas em adultos e se baseiam em inspirações 
profundas voluntárias associadas ao aprisionamento do ar na capacidade pulmonar 
total. Crianças na idade pré-escolar apresentam uma dificuldade especial para as téc-
nicas de alteração do volume pulmonar, a qual é mais psicológica do que de natureza 
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fisiológica. Elas já não permitem as mesmas manipulações passivas realizadas no lac-
tente e nem aumentam o volume pulmonar voluntariamente. Sendo assim, a perícia e 
a paciência do terapeuta são desafiadas, e jogos que envolvem manobras inspiratórias 
são de assistência considerável, vindo a contribuir para a participação ativa das crian-
ças nas sessões terapêuticas (Oberwaldner, 2000).
Há relatos sobre o treinamento respiratório para crianças com acometimentos pul-
monares, como em pacientes asmáticos em idade pré-escolar, em que se afirma que 
esse tipo de treinamento deve ser realizado de maneira direcionada para cada indiví-
duo, com o auxílio de brinquedos de sopro e sempre num clima de descontração e 
brincadeira, pois o uso de recursos lúdicos é considerado um facilitador no manejo 
desses pacientes, além de estimular a atividade da criança, o que evidencia os resulta-
dos positivos do uso do brincar em atendimentos na faixa etária pediátrica (Guima-
rães, 1983; Marcucci, 2005).
Deve-se ressaltar que as famílias das crianças, assim como estas, usualmente de-
monstram preferência por atividades mais ativas e tidas como divertidas (Lanneffor, 
Button, & Mcilwaine, 2004). Esse conceito é reforçado por outros autores em cujo 
programa de educação psicomotora, envolvendo um grupo de crianças com neces-
sidades especiais, com idade entre 6 e 13 anos, desenvolveram atividades para organi-
zação do esquema corporal, equilíbrio postural, dominância lateral e controle respira-
tório. Os exercícios para controle da respiração consistiam em soprar bolinha de isopor 
em diferentes direções, soprar as próprias mãos e a chama de uma vela, além de fazer 
bolhas de sabão. As crianças demonstraram interesse pelas atividades, com melhora 
do ritmo respiratório e diminuição da sialorreia (Araujo & Lorenzani, 1995). Esses re-
sultados apontam a importância do uso desses recursos lúdicos quanto à dinamicidade 
e ao interesse das crianças em participar dos atendimentos.
Outro aspecto dos trabalhos apresentados refere-se ao fato de que a presença do 
lúdico, tanto na fisioterapia como nas outras áreas, caracteriza-se como uma ativida-
de-meio, ou seja, um recurso que tem como finalidade facilitar os objetivos estabeleci-
dos ou conduzir a eles. Embora para a criança a atividade lúdica possa ser considerada 
como brincar, por meio dela se alcançam outros objetivos (Fujisawa & Manzini, 2006). 
Nesse sentido, também se analisou um trabalho com abordagem qualitativa na 
área de fisioterapia, com crianças portadoras da síndrome de Prune-Belly, doença re-
conhecida por seus episódios recidivantes de complicações respiratórias, em decorrên-
cia do débil mecanismo de tosse. A terapia foi baseada no lúdico, na qual o exercício 
recebia uma “roupagem” de brincadeira e uma canção associada. As principais brinca-
deiras utilizadas no tratamento da mecânica respiratória foram assim descritas pelo 
autor: “parabéns” – após cantar a criança, devia soprar a velinha; “elevador” – com a 
criança em decúbito dorsal, o terapeuta segura as mãos e estimula movimentos de 
subida e descida com flexão do tronco para treinamento da musculatura abdominal; 
“brincadeira da bola nos pés” – criança em decúbito dorsal segura a bola com os pés 
e entrega para o fisioterapeuta para treinamento da musculatura abdominal (Ungier, 
2005). Utilizando também a música associada à fisioterapia, um estudo avaliou os 
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benefícios da musicoterapia durante a sessão fisioterapêutica de crianças fibrocísticas. 
Os resultados indicaram que a satisfação das crianças e de seus pais, em relação à ses-
são de fisioterapia, aumentou significativamente após a introdução da música na ro-
tina diária desse tratamento (Grasso, Button, Allison, & Sawyer, 2000).
Seguindo essa linha de atendimentos com música, uma pesquisa estudou a reper-
cussão da música de coral executada durante o tratamento com fisioterapia respirató-
ria no estado emocional (humor), respostas neuroendócrinas, funções imunológicas e 
pulmonares em sujeitos em condições de infecção pulmonar. Os resultados encontra-
dos indicaram que a intervenção acompanhada de música tem efeito positivo nos pa-
râmetros imunológicos e no estado emocional e um significativo aumento nas funções 
pulmonares. Os autores concluíram que sua pesquisa apresenta evidência científica 
para afirmar que a música afeta tanto aspectos psicossomáticos quanto biomédicos em 
situações de infecção pulmonar (Le Roux, Bouic, & Bester, 2007). O Quadro 1 foi idea-
lizado a fim de ilustrar de maneira sintética os principais estudos que utilizaram o 
brinquedo terapêutico e/ou a atividade lúdica e quando foram publicados.
Quadro 1. Estudos que utilizaram o brinquedo terapêutico e/ou a atividade lúdica 
Atividade lúdica utilizada para 
exercícios respiratórios Referência 
Soprar bola de sabão Araujo e Lorenzani (1995) e Mcclosney e Bulechek (2004)
Apito Mcclosney e Bulechek (2004)
Fazer bolhas com canudinho na água Lemos e Oliveira (2010)
Sobrar bolinhas de isopor Araujo e Lorenzani (1995) e Lemos e Oliveira (2010)
Soprar algum objeto (cata-vento, 
pena, folha de papel)
Araujo e Lorenzani (1995), Mcclosney e Bulechek (2004), 
Lemos e Oliveira (2010) e 
Monteiro, Silva, Lopes e Araújo (2008)
Língua de sogra Mcclosney e Bulechek (2004)
Brincadeira do “elevador”, soprar vela 
(“parabéns”), “brincadeira da bola nos pés”
Ungier (2005)
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Como já mencionado, assim como no manejo fisioterapêutico, estudos de enferma-
gem também referenciam o uso do brinquedo como recurso no cuidado do paciente 
pediátrico. Uma investigação comparou as intervenções de enfermagem desenvolvi-
das por enfermeiros assistenciais com as preconizadas pela Classificação das Interven-
ções de Enfermagem (NIC), os quais realizaram alguns comentários sobre a fisiote-
rapia respiratória pediátrica (Monteiro et al., 2008). Foram analisadas crianças de até 
5 anos de idade com doença respiratória aguda e diagnóstico de enfermagem de de-
sobstrução ineficaz de vias aéreas. Os autores discutem a utilização de recursos lúdicos 
Brinquedo terapêutico como coadjuvante ao tratamento fisioterapêutico de crianças com afecções respiratórias
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para encorajar a respiração profunda de crianças, como soprar balões de algodão ou 
uma bola de pingue-pongue sobre uma mesa, soprar um cata-vento ou bolhas, impe-
dir a queda de um papel ao soprá-lo contra a parede, estratégias apontadas em traba-
lho de outros autores (Hockenberry, Wilson, & Winkelstein, 2006).
Em artigo recentemente publicado, foram comparadas as reações de 34 crianças 
internadas para procedimento cirúrgico. A pesquisa descritiva exploratória, com abor-
dagem quantitativa, teve por objetivo comparar as reações manifestadas pela criança 
durante o curativo realizado antes e depois do preparo emocional com o brinquedo 
terapêutico instrucional. O comportamento e um escore de dor foram avaliados na 
criança durante a confecção de curativo, antes e depois da introdução de um brinquedo 
terapêutico para preparo emocional dos pacientes quanto ao procedimento. As auto-
ras verificaram manifestações indicativas de maior adaptação e aceitação diante da 
intervenção, assim como redução da dor em mais de 95% das crianças participantes 
da pesquisa, diante da presença do brinquedo (Kiche & Almeida, 2009).
Os brinquedos e os jogos são elementos essenciais no atendimento pediátrico, e 
seu emprego de maneira correta torna a fisioterapia eficaz (Ratliffe, 2000), bem como 
outras terapêuticas, como discutido no corrente material. Dessa forma, tanto no am-
biente hospitalar quanto no ambulatorial, o uso do brinquedo deve ter como foco 
não apenas recrear, estimular e socializar, mas também cumprir sua função terapêu-
tica ou catártica (Ribeiro, 1998). No entanto, o uso do brinquedo deve ser elencado de 
acordo com a capacidade de desempenho motor que a criança é capaz de aprender 
(Shepherd, 1996).
O Quadro 2 apresenta os principais recursos lúdicos utilizados pelo fisioterapeuta 
nos atendimentos de pneumopediatria e uma proposta de seu princípio terapêutico 
de acordo com a fase respiratória enfatizada. Cada recurso é graduado com o sinal de 
“+”, de acordo com a intensidade de trabalho desprendida durante sua execução nas 
fases inspiratória e expiratória, por exemplo: o assovio estimula mais a expiração 
(“++”) do que a inspiração (“+”). Também aponta o objetivo fisioterapêutico preten-
dido com sua indicação, podendo ser o de promover a reexpansão pulmonar ou a hi-
giene brônquica, por exemplo: a língua de sogra conduz mais à reexpansão pulmonar 
(“++”) do que a higiene brônquica (“+”).
Quadro 2. Recursos lúdicos utilizados pelo fisioterapeuta nos atendimentos de 
fisioterapia respiratória pediátrica
Inspiração Expiração
Reexpansão 
pulmonar
Higiene
brônquica
Apito + ++ (mista) + +
Assovio + ++ (lenta) + ++
Língua de sogra ++ ++ (forçada) ++ +
(continua)
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Inspiração Expiração
Reexpansão 
pulmonar
Higiene
brônquica
Cata-vento + ++ (lenta) + ++
Bolinha de sabão + ++ (lenta) + ++
“Passarinho de assopro” + ++ (lenta) +++ +++
Cachimbo de brinquedo + ++ (lenta) + ++
Balão/bexiga +++ ++ (forçada) ++++ +
Jogos de assopro ++ ++ (mista) ++ ++
Assoprar com canudinho ++ ++ (lenta) ++ ++
Beber com canudinho +++ – (mista) +++ +
“+”: intensidade do trabalho realizado pela atividade ou recurso lúdico apontado, de acordo com a fase respiratória cor-
respondente e com o objetivo fisioterapêutico. 
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos princípios terapêuticos de Oberwaldner (2000). 
O domínio, por parte do fisioterapeuta, dos conceitos até aqui mencionados é de 
suma importância. Esse conhecimento intermedeia uma aproximação entre teoria e 
prática, a fim de que os atendimentos sejam mais lúdicos. De acordo com Guimarães 
e Moriyama (1980), na fisioterapia pediátrica, o profissional deve ter, além do conhe-
cimento técnico-científico, algumas características que facilitam seu trabalho:
• Criatividade para conseguir atingir seus objetivos de tratamento, uma vez que a 
criança se caracteriza por intensa necessidade lúdica e geralmente não se satisfaz 
com simples exercícios físicos ou manipulações de caráter puramente técnico.
• Paciência, persistência e boa vontade, pois a criança doente ou hospitalizada apre-
senta acentuada instabilidade emocional, insegurança e temores próprios da situa-
ção em que se encontra. 
• Tranquilidade e segurança, que devem ser transmitidas à criança, mesmo de pouca 
idade, para que ela desenvolva confiança no terapeuta.
• Carinho em qualquer circunstância, pois trata-se de uma necessidade fundamental 
da criança.
A quantidade inexpressiva de estudos sobre a utilização do brincar e do brinquedo 
indica a necessidade da realização de mais pesquisas a esse respeito, especialmente 
com abordagem qualitativa, envolvendo as crianças, seus cuidadores e os fisioterapeutas 
envolvidos nos atendimentos. Esses trabalhos poderão vir a esclarecer de que forma 
esses recursos lúdicos influenciam na colaboração da criança e no envolvimento dela 
com as sessões fisioterapêuticas. Da mesma forma, nota-se a relevância da realização 
Quadro 2. Recursos lúdicos utilizados pelo fisioterapeuta nos atendimentos de 
fisioterapia respiratória pediátrica (conclusão)
Brinquedo terapêutico como coadjuvante ao tratamento fisioterapêutico de crianças com afecções respiratórias
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de estudos que, além de utilizarem recursos lúdicos no atendimento a crianças pneu-
mopatas, descrevam, de maneira mais específica e direcionada, qual o método de 
utilização e forma de aplicação, assim como os princípios terapêuticos e suas indica-
ções. Ainda, diante dos achados desta pesquisa, percebe-se a pertinência de investi-
gações que venham a comprovar a eficácia terapêutica fisiológica do uso de alguns 
brinquedos em atendimentos de fisioterapia respiratória pediátrica.
As mudanças geradas pela doença respiratória interferem no crescimento e desen-
volvimento infantil, modificando também a estrutura e a função, que já apresentam 
peculiaridades anatomofisiológicas específicas da faixa etária. A complexidade é 
maior, já que existem mudanças constantes na interação psicológica entre terapeuta e 
paciente durante a infância, e uma cooperação voluntária com as técnicas terapêuti-
cas geralmente não é viável antes do fim do período pré-escolar. Sendo assim, foram 
apresentados tópicos inerentes à importância do brincar e do brinquedo nesse proces-
so, mediante aspectos apresentados por estudos da área de humanas e da saúde.
Foi constatado que brinquedos, brincadeiras e atividades lúdicas constituem um 
importante recurso na fisioterapia respiratória em pediatria, principalmente na idade 
pré-escolar, quando a colaboração da criança com o tratamento é de grande valia. Os 
estudos aqui analisados apontam para o aumento substancial do envolvimento da 
criança diante da inserção da brincadeira e do brinquedo no contexto terapêutico. 
Apesar da grande importância desses recursos, foram encontradas poucas publicações 
a respeito. A maioria aborda o assunto de forma sucinta, sem descrever o método de 
utilização e aplicação, bem como os princípios terapêuticos e suas indicações. Mesmo 
assim, todos os estudos que fizeram uso desses recursos lúdicos como coadjuvantes do 
tratamento fisioterapêutico nas doenças respiratórias pediátricas evidenciaram bene-
fícios, seja na maior aderência da criança e dos pais à terapia, na melhora da satisfação 
deles e, ainda, na manutenção da função respiratória.
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Aceitação: 02/10/2012

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