Buscar

Direito Penal I aula 6

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Disciplina: Direito Penal I
Docente: Ana Ketsia B. M. Pinheiro
Aula 6
A INFRAÇÃO PENAL 
Faculdade Estácio de Sá - FAL
A INFRAÇÃO PENAL 
DISTINÇÃO DAS INFRAÇÕES EXTRAPENAIS
Princípios norteadores do Direito Penal – Princípio da Fragmentariedade. 
Diferenças nas punições Greco: “A diferença entre o ilícito penal e o civil, obviamente observada a gravidade de um e de outro, encontra-se também na sua consequência. Ao ilícito penal, o legislador reservou uma pena, que pode até chegar ao extremo de privar o agente de sua liberdade, tendo destinado ao ilícito civil, contudo, como sua consequência, a obrigação de reparar o dano, ou outras sanções de natureza civil”. 
SISTEMA CLASSIFICATÓRIOS: bipartido e tripartido 
Bipartido (sistema adotado pelo Código Penal): distinção entre Crime e Contravenção Penal. 
Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914/1941): Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
3
Utilizamos uma classificação bipartida (ou dicotômica), entre crimes e contravenções, ao contrário de países como Alemanha, França e Rússia, que adotam a tripartida, incluindo uma terceira espécie, o delito. 
As contravenções (Decreto Lei 3.688/1941 – Lei das Contravenções Penais), que por vezes são chamadas de crimes-anões, são condutas que apresentam menor gravidade em relação aos crimes, por isso sofrem sanções mais brandas. 
Distinções entre CRIMES e CONTRAVENÇÕES
A primeira diferença se dá quanto à pena, punindo-se os crimes com penas de reclusão e detenção e as contravenções com pena de prisão simples. 
LCP, Art. 6º. A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção. 
§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias. 
A duração máxima de cumprimento da pena é diferenciada: 30 (trinta) anos no caso de crime e 5 (cinco) anos no caso de contravenção.
LCP Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos;
Ao contrários dos crimes, não há extraterritorialidade quanto às contravenções – LCP, Art. 2º: A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional;
São punidas as tentativas de crimes (art. 14, p.u., CP), mas não as tentativas de contravenções (art. 4º, LCP)
Todas as contravenções são alvo de ações penais públicas incondicionadas, não havendo exceções como nos crimes – LCP, Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício. 
Não é cabível a prisão preventiva nas contravenções penais, conforme o art. 313 do Código de Processo Penal. 
CONCEITOS DE INFRAÇÃO PENAL: 
Formal (Capez): É infração penal tudo aquilo que o legislador descrever como tal, pouco importando o seu conteúdo. Greco: toda conduta que atentasse, que colidisse frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado. 
Material (Capez): crime é todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social. Greco: conduta que viola os bens jurídicos mais importantes. 
Analítico: Segundo Greco, os conceitos formal e material não caracterizam o crime com precisão.
Capez: crime é todo fato típico e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser observada a tipicidade da conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-se se a mesma é ilícita ou não. 
ELEMENTOS DA INFRAÇÃO PENAL CONSOANTE O CONCEITO ANALÍTICO - Fato Típico, Ilícito e Culpável. 
Teoria quadripartida: crime é ação, típica, antijurídica e culpável. 
O fato típico, numa visão finalista, é composto pela conduta (dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva), pelo resultado (naqueles crimes onde se exija, para consumação, de um resultado naturalístico), de nexo de causalidade entre a conduta e o resultado e da tipicidade (formal e conglobante). 
Tipicidade “é a subsunção, justaposição, enquadramento, amoldamento ou integral correspondência de uma conduta praticada no mundo real ao modelo descritivo constante da lei (tipo legal). Para que a conduta humana seja considerada crime, é necessário que se ajuste a um tipo legal.” 
Ilicitude (ou antijuridicidade) é o antagonismo da conduta ao ordenamento jurídico. Somente será lícita a conduta se o agente houver atuado amparado por uma das causas excludentes previstas no art. 23 do Código Penal (relação de exclusão) e de acordo com o consentimento do ofendido. 
11
Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São elementos que integram a culpabilidade: imputabilidade, potencial consciência sobre a ilicitude do fato, exigibilidade de conduta diversa. 
12
SUJEITOS DA INFRAÇÃO PENAL
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito como crime na norma penal incriminadora. Para ser considerado sujeito ativo de um crime é preciso executar total ou parcialmente a figura descritiva de um crime. 
13
Normalmente, a lei penal, ao tipificar as condutas proibidas, não se refere ao sujeito ativo do crime. Esses crimes são chamados de crimes comuns, isto é, podem ser praticados por qualquer pessoa. 
Algumas vezes, no entanto, os tipos penais requerem determinada condição ou qualidade do sujeito ativo. Estes são os chamados crimes especiais ou próprios, como, por exemplo, o peculato.
 Sujeito passivo é o titular do bem jurídico atingido pela conduta criminosa. 
14
Sujeito passivo do crime pode ser: 
o ser humano (ex.: crimes contra a pessoa); 
o Estado (ex.: crimes contra a Administração Pública); 
a coletividade (ex.: crimes contra a saúde pública); 
e, inclusive, pode ser a pessoa jurídica (ex.: crimes contra o patrimônio). 
Sob o aspecto formal, o Estado é sempre o sujeito passivo do crime, que poderíamos chamar de sujeito passivo mediato. Sob o aspecto material, sujeito passivo direto é o titular do bem ou interesse lesado. 
15
Nada impede, no entanto, que o próprio Estado seja o sujeito passivo imediato, direto, como ocorre quando o Estado é o titular do interesse jurídico lesado, como, por exemplo, segundo a doutrina majoritária, nos crimes contra a Administração Pública.
A responsabilidade penal da pessoa jurídica - controvérsias. 
CF, Art.173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, com forme definidos em Lei. (...)
16
5º. A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular popular. 
CF, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. (...)
17
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
Lei 9.605/1998: 
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício
da sua entidade. 
18
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. 
Contrários: Cézar Roberto Bitencourt, Miguel Reale Júnior e José Cretela Júnior (Constituição brasileira não introduziu a responsabilidade penal da pessoa jurídica em nosso ordenamento, mas administrativa); Pierangelli, Zafaroni e Luiz Regis Prado (a responsabilidade penal da PJ é incompatível com a teoria de crime adotada no Brasil, por impossibilidade de verificação do elemento culpabilidade e por problemas para aplicação da pena)
19
Favoráveis: Gilberto Passos de Freitas, Édis Milaré - basicamente, afirmam a possibilidade por ter sido instaurada pela Lei Maior (art. 225, § 3º).
 
O STJ e o STF posicionaram-se favoravelmente. Para o STJ, é necessária a responsabilização em conjunto de pessoa física. Para o STF, pode haver a condenação mesmo que a pessoa física tenha sido absolvida. 
20
Informativo 714, STF: É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu, em parte, de recurso extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas (Lei 9.605/98, art. 54) teria sido excluída e, por isso, trancada a ação penal relativamente à pessoa jurídica. 
21
Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal, porquanto ausentes elementos para sua aferição. Pontuou-se que o presente recurso originara-se de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. 
22
Assinalou-se que caberia ao magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a prescrição. O Min. Marco Aurélio considerava a data do recebimento da denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a data de seu recebimento ou de sua devolução ao cartório, a prescrição já teria incidido. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013.
23
CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS 
Segundo a doutrina, as classificações podem utilizar alguns critérios:
1. QUANTO À QUALIDADE DO SUJEITO ATIVO:
CRIMES COMUNS: são os que podem ser praticados por qualquer pessoa (lesão corporal, estelionato, furto).
CRIMES PRÓPRIOS OU ESPECIAIS: são aqueles que exigem determinada qualidade ou condição pessoal do agente. Pode ser condição jurídica (acionista); profissional ou social (comerciante); natural (gestante, mãe); parentesco (descendente) etc. 
24
CRIMES DE MÃO PRÓPRIA OU ATUAÇÃO PESSOAL são aqueles que só podem ser praticado pelo agente pessoalmente, não podendo utilizar-se de interposta pessoa (falso testemunho, prevaricação). 
A distinção entre crime próprio e crime de mão própria, segundo Damásio, consiste no fato de que, “nos crimes próprios, o sujeito ativo pode determinar a outrem a sua execução (autor), embora possam ser cometidos apenas por um número limitado de pessoas; nos crimes de mão própria, embora possam ser praticados por qualquer pessoa, ninguém os comete por intermédio de outrem”
25
Há divergência se crimes de mão própria admitem participação – Há doutrina e jurisprudência que aceitam. 
Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA. INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. FALSO TESTEMUNHO. CRIME DE MÃO PRÓPRIA. PARTICIPAÇÃO DE ADVOGADO NO DELITO. POSSIBILIDADE. 1. Após a comprovação da falsidade das declarações firmadas pelos co-denunciados - que haviam sido arrolados como testemunhas de defesa pelo ora paciente em outro processo-crime -, houve a confissão de que mentiram em
26
juízo a pedido do advogado; assim, encontram-se satisfeitas as exigências traçadas pela lei processual penal para que se inicie o persecução penal em juízo, máxime quanto à presença de indícios suficientes da autoria do fato narrado; 2. Mostra-se firme nesta Corte Superior, assim como no Supremo Tribunal Federal, o entendimento quanto à possibilidade de participação do advogado que ilicitamente instrui a testemunha no crime de falso testemunho; 3. Writ conhecido; ordem denegada.
27
2. QUANTO À ESTRUTURA DA CONDUTA DELINEADA PELO TIPO PENAL:
CRIME SIMPLES: é aquele que se amolda em um único tipo penal. Ex: furto;
CRIME COMPLEXO: resulta da união de dois ou mais tipos penais. Ex: roubo (furto + ameaça; furto + lesão corporal).
28
3. QUANTO A RELAÇÃO ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO NATURALÍSTICO:
O crime material ou de resultado descreve a conduta cujo resultado integra o próprio tipo penal, isto é, para a sua consumação é indispensável a produção de um resultado separado do comportamento que o precede. 
O fato típico se compõe da conduta humana e da modificação do mundo exterior por ela operada. 
29
O tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado necessário, cuja consumação reclama esse resultado. Ex: homicídio (necessita da morte).
A não ocorrência do resultado caracteriza a tentativa. 
O crime formal também descreve um resultado, que, contudo, não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. Basta a ação do agente e a vontade de concretizá-lo, configuradoras do dano potencial, isto é, do eventus periculi (ameaça, a injúria verbal). 
30
Afirma-se que no crime formal o legislador antecipa a consumação, satisfazendo-se com a simples ação do agente, ou, como dizia Hungria, “a consumação antecede ou alheia-se ao eventus damni”. 
Nesses crimes, o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Ex: extorsão mediante sequestro (não necessita a efetiva vantagem sobre a extorsão), ameaça, extorsão.
31
CRIMES DE MERA CONDUTA OU DE SIMPLES ATIVIDADE: o tipo penal se limita a descrever uma conduta sem resultado algum. Ex: Ato obsceno. 
Para Damásio, no crime de mera conduta, o legislador descreve somente o comportamento do agente, sem se preocupar com o resultado (desobediência, invasão de domicílio). 
Os crimes de mera conduta “são sem resultado”. A lei penal se satisfaz com a simples atividade do agente 
32
4. QUANTO AO MOMENTO EM QUE SE CONSUMA O CRIME:
Crime instantâneo é o que se esgota com a ocorrência do resultado. Segundo Damásio, é o que se completa num determinado instante, sem continuidade temporal (lesão corporal). 
No crime instantâneo, a consumação se verifica em um momento determinado, não se prolonga no tempo. Ex: furto.
33
Instantâneo não significa praticado rapidamente, mas significa que uma vez realizados os seus elementos nada mais se poderá fazer para impedir sua ocorrência. Ademais, o fato de o agente continuar beneficiando-se com o resultado, como no furto, não altera a sua qualidade de instantâneo.
Crime Permanente é aquele cuja consumação se alonga no tempo, dependente da atividade do agente, que poderá cessar quando este quiser (cárcere privado, sequestro). 
34
CRIME INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES: os efeitos de delito subsistem após a consumação, independentemente da vontade do agente. Ex: bigamia, homicídio.
Veja! Crime permanente não pode ser confundido com crime instantâneo de efeitos permanentes (homicídio, furto), cuja permanência não depende da continuidade da ação do agente 
35
CRIME A PRAZO: a consumação exige a fluência de determinado período. Ex: sequestro em que a privação de liberdade dura mais de quinze dias (CP, art. 148,
§1º, III).
36
5. QUANTO AO NÚMERO DE AGENTES ENVOLVIDOS:
CRIMES UNISSUBJETIVOS, UNILATERAIS, MONOSSUBJETIVOS OU DE CONCURSO EVENTUAL: são praticados por um único agente, admitindo-se concurso. Ex: homicídio.
CRIMES PLURISSUBJETIVOS, PLURILATERAIS OU DE CONCURSO NECESSÁRIO: o tipo penal reclama a pluralidade de agentes, que podem ser coautores ou partícipes.
37
Exemplos: rixa (condutas contrapostas) ou quadrilha ou bando (condutas paralelas).
Não se deve confundir os crimes plurissubjetivos com os crimes de participação necessária. Estes podem ser praticados por uma única pessoa, não obstante o tipo penal reclame a participação necessária de outra pessoa, que atua como sujeito passivo e não é punido, ex: rufianismo, CP, art. 230, corrupção de menores.
CRIMES EVENTUALMENTE COLETIVOS: são aqueles em que, apesar do caráter unilateral, a diversidade de agentes atua como causa de majoração da pena. Ex: furto qualificado.
38
Importante! 
Nos crimes plurissubjetivos, não há o que se falar em participação, já que a pluralidade de agentes garante o tipo penal, sendo todos autores. 
Em contrapartida, nos crimes unissubjetivos, quando houver mais de um agente, aplicar-se-á a regra do art. 29 do CP, devendo-se analisar a conduta de cada qual para aplicação da pena.
39
6. QUANTO AO GRAU DE INTENSIDADE DO RESULTADO:
CRIMES DE DANO são aqueles para cuja consumação é necessária a superveniência de um resultado material que consiste na lesão efetiva do bem jurídico. A ausência desta pode caracterizar a tentativa ou um indiferente penal, como ocorre com os crimes materiais (homicídio, furto, lesão corporal). 
40
CRIMES DE PERIGO são aqueles que se consumam com a superveniência de um resultado material que consiste na simples criação do perigo real para o bem jurídico protegido, sem produzir um dano efetivo. Nesses crimes, o elemento subjetivo é o dolo de perigo, cuja vontade limita-se à criação da situação de perigo, não querendo o dano, nem mesmo eventualmente.
41
Os crimes de perigo causam um perigo de ofensa ao bem jurídico tutelado, um perigo de dano. São tipos penais subsidiários, de forma expressa ou tácita. Quando houver dolo de causar dano ao bem jurídico tutelado, deve o sujeito responder pelo crime de dano, e não pelo crime de perigo, ainda que na modalidade tentada.
Os crimes de perigo dividem-se em crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato. Nos crimes de perigo abstrato, o perigo é visualizado pelo legislador ex ante, ou seja, o legislador comina uma pena à conduta pelo mero
42
fato de considerá-la perigosa, independente da existência de perigo real no caso concreto. Já nos casos de perigo concreto, a análise do perigo é feita ex post, ou seja, cabe a verificação se a conduta gerou ou não um perigo de dano no caso concreto.
Geralmente os tipos penais que contêm as expressões “gerando perigo de dano”, “expondo a perigo” são tipos penais de perigo concreto, só havendo crime se houver perigo de ofensa ao bem tutelado no caso concreto.
43
Distinção entre Perigo Concreto e Perigo Abstrato 
Podemos citar como exemplo o crime de dirigir embriagado.
O tipo penal não exige a lesão ou a morte de alguém, e também não prevê que seja demonstrado que alguém foi exposto a um risco concreto pelo veículo dirigido pelo condutor embriagado. Descreve apenas um comportamento e determina a aplicação da pena, independente do resultado.
Os crimes de perigo abstrato têm sido largamente utilizados pelo legislador nos últimos tempos, não apenas nos crimes de trânsito, mas também na área ambiental, biossegurança, crimes financeiros, dentre outros. 
44
Já nos crimes de perigo concreto, a configuração do crime depende da prova concreta do risco de lesão ao bem jurídico protegido. 
Ex.: crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem (art. 132 do CP); crime de explosão (art. 251 do CP).
INCÊNDIO
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
45
Aumento de pena
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
 
II - se o incêndio é:
em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
46
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
47
EXPLOSÃO
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
        
48
Aumento de pena
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo”.
49

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais