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AULA IV CIENCIA POLITICA TGE CONCEPCOES A RESPEITO DO ESTADO 2013.2

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ALGUMAS CONCEPÇÕES A RESPEITO DO ESTADO: MARX, WEBER, DURKHEIM, KELSEN
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Karl Marx (1818 – 1883): O Estado como instrumento de uma classe dominante.
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O conceito de Estado é de fundamental importância no pensamento marxista pois é considerado como a instituição que, mais do que outras, destina-se a assegurar e manter a dominação e a exploração de classe.
A mais clássica concepção marxista sobre o Estado está expressa na formulação de Marx e Engels no “MANIFESTO COMUNISTA”: “O Executivo do Estado Moderno nada mais é do que um comitê para a administração dos assuntos comuns de toda a burguesia.” 
 Marx nunca desenvolveu uma análise sistemática do Estado, ainda que tenha tratado da temática do Estado em uma obra de 1843 e publicada postumamente (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel), assim como em uma série de textos de cunho histórico: As lutas de classe na França de 1848 a 1850 (1850), O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte (1852) e Guerra Civil na França (1871). 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE ESTADO NO PENSAMENTO DE MARX E ENGELS:
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A PRIMEIRA ABORDAGEM DE MARX A RESPEITO DA TEMÁTICA DO ESTADO
Conforme comentamos anteriormente, o primeiro trabalho de Marx posterior á sua tese de doutorado foi a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.
Este trabalho se insurgia contra a concepção de Estado, desenvolvida por Hegel, em seus Princípios da Filosofia do Direito – nesta obra publicada em 1820, Hegel apresentou o Estado como a materialização do interesse geral da sociedade, pois este se situaria acima dos interesses particulares, sendo, portanto, capaz de superar tanto a divisão entre ele, Estado, e a sociedade civil, como o abismo entre o indivíduo como pessoa privada e o cidadão.
Marx rejeitou a concepção hegeliana de Estado, afirmando que este, na vida real, não representaria o interesse geral, mas sim os interesses da propriedade.
Marx então propõe como remédio para superar a incapacidade do Estado em garantir o interesse geral, a realização da DEMOCRACIA.
Todavia, Marx chegou, pouco tempo depois, à conclusão de que a “emancipação política”, por si somente, não seria capaz de gerar a “emancipação humana” – tal empreendimento exigiria uma reorganização muito mais ampla da sociedade, reorganização esta que teria como principal aspecto a abolição da propriedade privada. 
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ASSIM....
A CONCEPÇÃO DO ESTADO COMO O INSTRUMENTO DE UMA CLASSE DOMINANTE, ASSIM DESIGNADA EM VIRTUDE DA PROPRIEDADE DOS MEIO DE PRODUÇÃO E DO CONTROLE QUE SOBRE ELES EXERCE, PERMANECEU COMO FUNDAMENTAL EM TODA A OBRA DE MARX E ENGELS...
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TODAVIA....
APESAR DA CONCEPÇÃO QUE EXPUSEMOS ANTERIORMENTE, A CONCEPÇÃO MARXISTA DE ESTADO, TAL COMO FORMULADA POR MARX E ENGELS, ATRIBUÍA CONSIDERÁVEL MARGEM DE AUTONOMIA AO ESTADO...
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POR EXEMPLO....
MARX E ENGELS SE DEBRUÇARAM SOBRE OS REGIMES DITATORIAIS, ESPECIALMENTE SOBRE O “REGIME BONAPARTISTA” QUE SE INSTALOU NA FRANÇA DEPOIS DO GOLPE DE ESTADO PERPETRADO POR LUÍS NAPOLEÃO BONAPARTE EM 1853...
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 ATENÇÃO!!!
As formulações desenvolvidas por Marx e Engels sobre as ditaduras, especialmente sobre o bonapartismo, tanto no Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, como na Guerra Civil na França, sugerem que o Estado, em determinadas circunstâncias, não desfruta apenas de uma autonomia relativa – ele pode se tornar independente da sociedade e governá-la de acordo com os interesses e as concepções daqueles que controlam o Estado, controle este que pode ser exercido sem referência a qualquer força da sociedade distinta do Estado. 
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 ATENÇÃO!!! DE NOVO!!!
Dizer que o Estado desfruta de considerável autonomia de ação em relação à sociedade (mais precisamente, em relação aos interesses e aos propósitos das classes dominantes) não significa negar que este Estado esteja a serviço dos interesses dominantes.
 Na articulação entre interesses políticos e econômicos que se desenvolve no mundo real, não se verifica uma fusão – muito contrariamente, as instâncias política e econômica conservam suas identidades, de tal forma que o Estado disponha de margem de manobra suficiente para que possa promover a manutenção e a defesa da ordem social da qual a classe economicamente dominante é a principal beneficiária.
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 ATENÇÃO!!! DE NOVO!!! DE NOVO!!!
A regulação da LUTA DE CLASSES se constitui em importante função do Estado em sua associação com a classe economicamente dominante – e qual seria o objetivo? ASSEGURAR A ESTABILIDADE DA ORDEM SOCIAL.
O domínio de classe sancionado e defendido pelo Estado assume diferentes formas políticas – desde a REPÚBLICA DEMOCRÁTICA até a DITADURA.
 A forma política assumida pelo domínio de classe tem grande importância para o proletariado – entretanto, em um ambiência socioprodutiva marcada pela propriedade e pela apropriação privada da riqueza socialmente produzida, a forma política vigente permanece como domínio de classe, qualquer que seja ela. 
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Max Weber: algumas reflexões acerca do estado moderno (1864-1920)
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O PROCESSO DE RACIONALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS NA CONCEPÇÃO WEBERIANA
Em termos gerais, é possível afirmar que um movimento geral de racionalização foi responsável pelo desenvolvimento institucional (social, político, econômico, cultural) das sociedades ocidentais modernas.
 O autor que melhor tratou da questão relacionada ao processo de racionalização que caracterizou as sociedades ocidentais modernas foi Max Weber (1864 – 1820).
Segundo Weber, o processo de racionalização que marcou de maneira definitiva as sociedades ocidentais derivou da especialização científica e da diferenciação técnica que as caracterizou a partir de um determinado período de seus desenvolvimentos históricos.
Tal racionalização consistiu na organização da vida através de um processo de crescente de divisão, complexificação e de coordenação das mais diferentes atividades, visando maior eficácia e maior rendimento.
Todavia, o conceito de racionalidade em Weber está sujeito a várias análises, ao mesmo tempo em que vários são os sentidos com que tal conceito se apresenta na obra do pensador.
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DENTRE AS DIVERSAS ANÁLISES SOBRE O CONCEITO DE RACIONALIDADE PRESENTE NA TEORIZAÇÃO WEBERIANA, PODEMOS DESTACAR AQUELA DESENVOLVIDA POR JÜRGEN HABERMAS - DE ACORDO COM ESTE PENSADOR, HAVERIA TRÊS MODELOS DE RACIONALIZAÇÃO DESENVOLVIDOS POR WEBER
QUAIS SERIAM ESTES MODELOS?
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RACIONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE: tal racionalização, identificada à modernização da sociedade, trata da “diferenciação” entre o Estado Moderno e a Economia Capitalista, cujas funções se complementam e se estabilizam. 
RACIONALIZAÇÃO CULTURAL: marcada pela previsibilidade, pelo cálculo e pelo controle organizacional e instrumental dos processos empíricos presentes na ciência moderna, na técnica, na arte e na religião autônomas sob a égide de princípios éticos. 
 RACIONALIZAÇÃO DA PERSONALIDADE: diz respeito à conduta racional da vida, um elo de ligação entre a racionalização cultural e a racionalização social – a racionalização da personalidade significa que se faz necessária uma internalização de idéias e de valores.
“MODELOS” DE RACIONALIZAÇÃO PRESENTES NAS TEORIZAÇÕES WEBERIANAS, SEGUNDO HABERMAS:
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A RACIONALIZAÇÃO DA SOCIEDADE ENVOLVERIA, NA VERDADE, TRÊS ELEMENTOS...
QUAIS SERIAM ESTES ELEMENTOS?
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A configuração empresarial pelo núcleo organizativo da economia capitalista, processo este que se deu por meio de uma contabilidade racional, pela utilização formal e eficiente da mão-de-obra livre (assalariada), pela aplicação de conhecimentos de natureza técnico-científica e por investimentos orientados para o mercado.
A organização do núcleo do Estado Moderno que se deu através da configuração de um sistema tributário contínuo e centralizado, de um comando militar igualmente centralizado, da monopolização do uso da violência e da implantação de uma administração burocrática. 
 A organização da Economia
Capitalista e do Estado Moderno e das relações entre tais instâncias que se realizou (e que continua se realizando) pelo princípio normativo baseado no direito formal. 
ELEMENTOS QUE, SEGUNDO HABERMAS, CONSTITUEM O MOVIMENTO DE RACIONALIZAÇÃO “WEBERIANA” DA SOCIEDADE:
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (I)
O estudo realizado por Weber sobre o Estado é todo ele marcado por considerações de natureza política, histórica e econômica.
Assim, é possível afirmar que existe uma determinação recíproca entre o capitalismo moderno racional e as diversas dimensões da estrutura social, a saber:
Uma ética religiosa racionalizada;
 Uma organização administrativa alicerçada em um cálculo racional;
 Um direito racional-formal;
 O Estado Moderno.
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QUAIS SERIAM AS CARACTERÍSTICAS MAIS SIGNIFICATIVAS, SEGUNDO A TEORIA WEBERIANA, QUE UMA COMUNIDADE POLÍTICA DEVE APRESENTAR PARA SE CONFIGURAR COMO UM ESTADO?
SEGUNDO REINHARD BENDIX, QUATRO SERIAM ESTAS CARACTERÍSTICAS DEFINIDAS POR WEBER.
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Administração e ordem jurídica que se modifiquem exclusivamente por meio de normas.
Administração militar cujas funções sejam desempenhadas em consonância rigorosa com direitos e deveres.
Legitimação da aplicação do Poder da comunidade nos limites do território em consonância com a ordem jurídica.
 Monopólio do poder sobre todas as pessoas que se encontrem nos domínios do território da comunidade política (nele nascidas ou não).
CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS À EXISTÊNCIA DE UMA COMUNIDADE POLÍTICA COMO ESTADO MODERNO, SEGUNDO A TEORIA WEBERIANA:
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (II)
Para Weber, o Estado se define como a estrutura ou agrupamento político que avoca para si, de maneira bem-sucedida, o monopólio do constrangimento físico LEGÍTIMO – além desta característica específica, outros traços seriam importantes na definição do Estado:
 A racionalização do Direito com suas consequências:
 a especialização dos poderes judiciário e legislativo;
 a instituição de uma POLÍCIA, encarregada da garantia da segurança dos indivíduos e da manutenção da ordem pública.
 Uma administração racional alicerçada em regulamentos específicos e explícitos, permitindo-lhe a intervenção nos mais diversos domínios (educação, saúde, economia, cultura);
 A constituição de uma força militar permanente.
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 WEBER E O ESTADO RACIONAL (III)
 Segundo Weber, se só existissem estruturas sociais destituídas da violência, o conceito de Estado desapareceria, subsistindo, no sentido próprio da palavra, a "anarquia“ - A violência não é o único instrumento de que se vale o Estado, mas é seu instrumento especifico.
 O Estado é um agrupamento de DOMÍNIO - o verdadeiro domínio, de acordo com Weber, encontra-se somente no Estado Moderno e se realiza na aplicação diária da Administração que se encontra nas mãos do funcionalismo seja militar ou civil.
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O PODER no estudo da POLÍTICA – a tipologia weberiana do PODER nas relações de mando e de obediência
De acordo com Max Weber, as relações de PODER não se baseiam exclusivamente em fundamentos materiais ou no hábito de obediência dos súditos – haveria, sobretudo um específico fundamento de LEGITIMIDADE, em relação ao qual Weber especificou três tipos puros de PODER: 
O PODER LEGAL
O PODER TRADICIONAL
O PODER CARISMÁTICO
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As formas de legitimação do poder em Weber: O Poder legal, o Poder tradicional e o Poder carismático
 O PODER LEGAL: é específico das sociedades modernas/contemporâneas, fundando-se sobre a crença na legitimidade de ordenamentos jurídicos que estabelecem de forma clara a função do detentor do PODER – neste caso, a fonte do PODER é a LEI, EM RELAÇÃO A QUAL TODOS SE SUBMETEM (OU DEVEM SE SUBMETER) INCLUSIVE OS MANDATÁRIOS;
O PODER TRADICIONAL: ele se funda na crença do caráter sacro do PODER existente “desde sempre” – neste caso, a fonte do PODER é a TRADIÇÃO que impõe vínculos aos próprios conteúdos das ordens que o senhor comunica aos súditos;
O PODER CARISMÁTICO: ele se caracteriza pela dedicação afetiva à pessoa do chefe e ao caráter sacro, à força heróica, ao valor exemplar ou ao poder do espírito e da palavra que o distinguem de maneira especial –neste caso a fonte do PODER diz respeito a TUDO O QUE É NOVO, AO QUE NUNCA EXISTIU, NÃO SUPORTANDO, PORTANTO, VÍNCULOS PREDETERMINADOS; o líder, o chefe carismático é o PROFETA, O GRANDE HERÓI GUERREIRO, O GRANDE DEMAGOGO. 
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 A BUROCRACIA
 O domínio racional legal se expressa através da burocracia - entendida como o governo da razão, a burocracia é o meio através do qual se expressa a lei e sob o qual age o Estado Racional Moderno. A burocracia é, portanto, um produto histórico peculiar e inevitável do desenvolvimento da racionalidade formal no Estado Moderno.
 O objetivo da burocracia é levar adiante a gestão do poder - tal gestão, por sua vez, pode ser mais racional, quando mediada pelo tipo de administração burocrática pura, (administração burocrático-monocrático), que ressalta os aspectos da precisão, disciplina, continuidade, calculabilidade, aperfeiçoamento técnico, enfim, de eficácia. 
 
Em termos históricos concretos, essa instrumentalidade do agir racional com relação aos fins diz respeito à função da força política do Estado moderno desenvolvido no Ocidente.
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CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BUROCRACIA (O TIPO IDEAL):
As atribuições dos empregados são fixas e definidas.
Em termos de comando, os poderes são definidos de forma clara e delimitada e na execução cada um tem tarefas definidas. 
Sistema de mando e de subordinação – as autoridades superiores inspecionam as autoridades inferiores, ao passo que estas só podem apelar.
Os empregados são protegidos por estatutos e mediante garantia de remuneração regular em dinheiro.
Nítida separação entre as atividades burocráticas e as atividades pessoais dos empregados.
A administração é baseada em documentos – só tem existência eficaz o assunto registrado por escrito.
O mando é vertical e descendente, sendo a forma hierárquica mais desenvolvida a MONOCRÁTICA.
O recrutamento para o preenchimento de vagas se dá por meio de provas e diplomas.
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A concepção de Estado no pensamento de Émile Durkheim (1858-1917)
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 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS A RESPEITO DA PROBLEMÁTICA DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM
 Segundo Giddens, a teoria de Durkheim sobre política e sobre o Estado se constitui, talvez, no aspecto mais negligenciado de suas contribuições para a teoria social.
 De acordo com Hüsseyn Kubali, que em 1934 publicou a obra intitulada Lições de Sociologia (reunindo aulas até então inéditas proferidas por Durkheim), a problemática do Estado não havia se constituído em objeto de estudo especial em suas obras publicadas anteriormente, nelas encontrando-se algumas evocações de certas questões referentes a ele – ou seja, referentes ao Estado.
 Os autores que se interessaram pela temática política nas obras de Durkheim, destacam nelas a importância do fenômeno político e de seus laços com a sociedade como um todo – além disso, destacam a autonomia do agente social “Estado” e a existência de uma Sociologia Política. 
 O Estado, segundo estes autores, teria se tornado, para Durkheim, um agente moral, desempenhando funções que iriam muito além da questão política per si – tal deslocamento teórico teria obscurecido uma sociologia política em Durkheim?
 A sociologia política durkheimiana deve ser entendida não a partir de uma reflexão sobre o Poder ou sobre o Estado, mas sobre a função social do Poder ou do Estado e sua relação com a moral social individual.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - I
 Noções como Estado, grupos políticos, agentes (funcionários do Estado) devem ser compreendidas no contexto da “sociedade política” que deve ser entendida não apenas como uma categoria de análise, mas também como um espaço social resultante da divisão do trabalho.
 Existe uma relação recíproca entre os indivíduos e o Estado, destacando-se
o papel que o Estado desempenha e/ou deve desempenhar em relação aos indivíduos.
 Os indivíduos, segundo Durkheim, não agem apenas impulsionados por interesses econômicos (conforme pressupunha a filosofia utilitarista da época) – os homens agiriam também com respeito a uma moral.
 Isto significa dizer que é este “indivíduo moral” que possibilita o Estado de agir em nome do interesse da sociedade, sem contudo ser necessariamente determinado pela “opinião pública”.
 O Estado deveria libertar as “personalidades individuais”, resguardando-as contra as antigas corporações (mas também contra as limitações/restrições à emancipação individual impostas por outros grupos como as famílias, as tradições e os grupos religiosos) por meio da criação e/ou da promoção de grupos secundários de representação que serviriam como intermediários entre o nível individual e o nível do Estado.
 A sociologia política durkheimiana relaciona-se ao papel moral e legal que o Estado deveria desempenhar nas modernas sociedades industriais assentadas na solidariedade orgânica.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - II
 Durkheim preocupou-se com a regulação moral das sociedades industriais, com a anomia e com os conflitos de sua época - A saída para estes estaria no Estado, único depositário da força moral capaz de retirar o indivíduo de seu comportamento puramente utilitarista. 
 Em outros termos, também no capitalismo seria possível esperar um comportamento moral - para isso, duas condições seriam necessárias: 
 Primeiro, a atuação das corporações profissionais na produção da “moral profissional”;
Segundo, a atuação do Estado, impedindo que essas corporações agissem como no passado, obrigando seus membros a determinadas práticas sociais, mas também freando o poder do Estado sobre os indivíduos.
Segundo Durkheim, a relação entre a sociedade política (Estado, governo, funcionários etc.) e o indivíduo é central para a manutenção da sociedade. Concordam ainda que essa relação tem por fundamento a autoridade moral ou simplesmente a moral social - dito de outra forma, Durkheim não imaginou a sociedade política atuando de forma paralela aos indivíduos, mas como uma força moral atuando em relação a eles.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - III
 O Estado, para Durkheim, deve proteger e promover o indivíduo, mesmo que tenha que agir contra grupos sociais aos quais ele (indivíduo) se encontra ligado.
 A ação e a função social do Estado têm seus fundamentos na moral (entendendo-se como moral o conjunto de regras e condutas juridicamente estabelecidas – isto é, na verdade, a definição de “fato moral”).
 Assim, a ação e a função social do Estado em defesa dos indivíduos e o funcionamento do sistema político (voto, os atos no Parlamento, nos partidos, nos conselhos...) devem ser compreendidos com base no fundamento moral e legal de cada sociedade.
 De acordo com Durkheim, o papel a ser desempenhado pela Sociologia ficaria próximo daquele desempenhado pelas ciências políticas alemãs que seria o de conferir suporte científico à moral social para que a sociedade se mantivesse íntegra – para as ciências políticas alemãs, o Estado seria o órgão que deveria cumprir o papel integrador na sociedade.
 Todavia, Durkheim entendia que o papel integrador a ser desempenhado pela Sociologia somente poderia ser cumprido caso a legitimidade e a força do Estado estivessem amparadas pela e se mostrassem coerentes com a moral do grupo que representasse.
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - IV
 Em termos conceituais, o que caracteriza a sociedade política é ser referência em matéria de autoridade ou manter em si uma parcela de poder.
 O Estado seria assim um grupo especial encarregado de “representar esta autoridade”, configurando-se como um “órgão eminente” – os indivíduos e o Estado têm deveres recíprocos, tratando-se, portanto, o Estado, de um agente dinâmico definido por sua função social e através da relação que mantém com os membros da sociedade.
 Para Durkheim, a relação entre o Estado e o indivíduo é uma relação de igualdade, já que tanto o Estado como o indivíduo são regidos por regras jurídicas com fundamento moral.
 É a combinação dos fatos jurídicos com os fatos morais que delimita a essência do Estado e sua ação – o indivíduo seria, sob certos aspectos, produto do Estado e o fortalecimento jurídico garante tanto o poder do Estado como a liberdade individual.
 Garantir as liberdades individuais significa desatar os laços corporativos e familiares que pulverizam o corpo social em inúmeras unidades, ameaçando assim a coesão de toda a sociedade.
 Isto, todavia, não significa dizer que os laços sociais que os indivíduos decidem, voluntariamente, manter entre si, devam ser quebrados. 
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 A QUESTÃO DO ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM - V
 O Estado, para Durkheim, vale muito mais como um “reservatório” moral e jurídico destinado a permitir o “florescimento” do indivíduo, do que como instituição detentora do poder.
 Isto significa dizer que o aparato legal e administrativo, o corpo de funcionários necessário à consecução da função de proteção e promoção do indivíduo seriam sempre bem-vindos – a tarefa que cabe ao Estado é ilimitada, não se tratando apenas de realização de um ideal definido mas da liderança moral.
 O Estado seria, assim, um agente social e não uma instituição congelada e distante da realidade social – é um agente dinâmico, evoluindo tal como a moral social e tal como a própria sociedade.
 Na relação do Estado com o indivíduo, Durkheim reafirma a importância da ação dos grupos intermediários (ou seja, do papel a ser desempenhado pela “moral profissional”) – estes grupos intermediários (grupos profissionais) seriam as categorias definidoras das práticas sociais e das identidades sociais, limitando o poder do Estado, impedindo que o fortalecimento em demasia desta instância possa tiranizar o indivíduo.
 A definição de Estado em Durkheim é dinâmica e sua forma de organização superior corresponde a um determinado nível de desenvolvimento moral e social.
 A ação do Estado vai além do escopo da política, tornando-se o resultado de forças sociais em conflito – somente assim ele se torna o órgão direcionador cujo fundamento é a MORAL.
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Direito e Estado em Hans Kelsen (1881-1973)
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - I
 Segundo Kelsen, a teoria tradicional do Direito e do Estado contrapõe o Estado ao Direito, considerando que o Estado é dotado de personalidade jurídica, é sujeito de deveres e direitos, tendo uma existência que independe da ordem jurídica - para tal teoria, o Estado possuiria uma "missão histórica", criando o Direito (a ordem jurídica objetiva), para, depois, submeter-se a este.
 
Kelsen critica tal teoria, crendo que aquilo que existe como objeto do conhecimento é apenas o Direito, sendo o Estado uma ordem jurídica, uma ordem coerciva da conduta humana.
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - II
 Segundo Kelsen, a distinção entre Estado e Direito se mostra descabida, bem como a idéia de que o Estado cria o Direito para depois submeter-se a este. 
Para ele, os atos do Estado são "atos postos por indivíduos e atribuídos ao Estado como pessoa jurídica", de modo que a criação do Direito pelo Estado é, em verdade, a criação do Direito por indivíduos cujos atos são atribuídos ao Estado.
 Assim, segundo Kelsen, não é o Estado que se subordina ao Direito por ele criado, mas sim os indivíduos, cuja conduta é regulada pelo Direito - o que existe como objeto do conhecimento, repita-se, é apenas o Direito, sendo o Estado conceituado como ordem jurídica, de modo que todo Estado é um Estado de Direito.
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 DIREITO E ESTADO NA PERSPECTVA DE KELSEN - III
 Kelsen identifica o Estado com o Direito, na medida em que concebe o Estado como ordem jurídica - o autor refuta, assim, o dualismo entre o Estado considerado como pessoa jurídica e o Estado considerado
como ordem jurídica. 
 Em seu positivismo jurídico, ele concebe o Direito, tanto quanto o Estado, como uma ordem coerciva da conduta humana, não atrelada a qualquer valor moral ou de justiça.
 Deste modo, tanto uma ordem jurídica de caráter democrático, como autocrático são, ambas, ordens jurídicas, são, ambas, Estados de Direito, no sentido de que todo Estado é uma ordem jurídica.

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