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PROSA EM FAMÍLIA BIP Insucesso escolar – como julgar e como enfrentar? www.sejaetico.com.br Por Luis Carlos de Menezes O que se pode chamar de sucesso ou insu- cesso é a primeira questão para se tratar, e sem pressa de classificar resultados, pois são diferen- tes as formas e ritmos para cada um desenvolver e revelar suas aptidões. O próprio conceito de sucesso deve ser questionado, pois, às vezes, ele é menos claro do que pode parecer à primeira vista. Nas ciências, por exemplo, houve tanta gente brilhante e criativa que reconhecidamen- te se deu mal na escola, que se pode duvidar da adequação desta para tratar todos os seus alunos. Entre cientistas geniais, Pierre Curie foi considerado subnormal no ensino fundamental e Albert Einstein viveu um desencanto com o ensi- no superior que adiou seu acesso à academia. Portanto, o que pode ser considerado insucesso não deve ser sentença definitiva para quem quer que seja. Outro exemplo se vê nas atividades des- portivas e artísticas nas próprias escolas ou espa- ços informais, especialmente importantes, pois, envolvem dimensões sócio-afetivas, físicas e es- téticas da formação, tão presentes nos esportes e nas artes. Dessas práticas podem surgir atletas olímpicos, desportistas profissionais e pop stars, mas os que “não se revelaram” não devem ser considerados malsucedidos, porque se desen- volveram, se divertiram, descobriram suas prefe- rências, habilidades e também seus limites. Em outras palavras, a educação não é um esporte olímpico, em que só não é perdedor quem vai para o pódio. Na caracterização do insucesso escolar, compreender esses exemplos pode evitar cometer equívocos graves, como esquecer que o processo educativo é uma relação entre o estudante e a escola, ou adotar critérios competitivos, em que as notas seriam recordes a serem alcançados e superados. Esses dois equívocos, aliás, podem ocorrer combinados, quando a família escolhe escolas ostensivamente competitivas, nem sempre de acordo com seus filhos, e quando isso leva a insucesso, o responsável não é o aluno nem a escola, mas a família. Consideradas essas advertências, há dife- rentes circunstâncias em que se pode identificar o insucesso escolar, o que exigiria tomada de posição da escola e da família, por exemplo, quando um estudante: - tendo sido reprovado, já trata com desâ- nimo a perspectiva de retomada; - se deprime, por não alcançar certos pa- drões de desempenho; - se sente deslocado em sua turma por con- ta de desempenho insuficiente; - é displicente nos estudos, por aversão ou desprezo pelo que faz na escola. Essas situações são simples exemplos, não uma tipologia ou classificação de insucesso, e podem ter causas semelhantes ou diferentes, de- pendendo do caso específico que se apresente. Por exemplo: - o desânimo diante da retomada pode revelar a convicção de que voltará a ser repro- vado, mas pode resultar de ressentimento por ter perdido sua turma; - os padrões que não consegue alcançar podem ter-lhe sido artificialmente impostos, mas também podem ser forma de compensar outras carências não explicitadas; - estar deslocado na turma pode não se dever a seu baixo desempenho, mas, sim, ter componente afetivo, possivelmente mais causa do que consequência de sua defasagem; - a displicência, ou o aparente desdém, pode decorrer de desacordo pessoal com méto- dos adotados, ou também pode ser algo valori- zado, como forma de “afirmação”, entre alguns de seus colegas. O primeiro movimento da família, da esco- la, ou de preferência de ambas conjuntamente, deve ser o de conhecer a razão do desempenho considerado baixo, e isso depende da participa- ção voluntária e convergente do estudante; volun- tária porque se forçada não levará ao conheci- mento real da causa, convergente porque sem a intenção conjunta não se superará o problema. Para se buscar essa participação é melhor tratar a condição de insucesso como uma situação-pro- blema geradora de um diálogo, não como em um tribunal à busca de um culpado. Para isso, pode-se aproveitar um momento em que o pró- prio estudante apresente o problema, ou promo- ver situações em que, apresentado o problema, ele tome parte na discussão de iniciativas a se- rem empreendidas. Como em qualquer diálogo, o sucesso de- pende de se evitarem posições pré-concebidas, em que as partes já vêm com a solução definida, ou pior, com a convicção de que não há solu- ção. Há famílias descrentes em conversar com a escola, convencidas de que seus filhos são real- mente problemáticos, e há as que acham que só resta saber porque a escola não está fazendo seu serviço, já que seus filhos são inteligentes e sau- dáveis. O preconceito mais grave talvez seja a convicção de que não adianta saber o que pen- sam seus filhos, já que o problema estaria neles. Para julgar e tratar de problemas de insu- cesso escolar é preciso reconhecer de que na- tureza é a questão antes de formular qualquer proposta. São tantas as possibilidades, que não poderiam ser completamente respondidas em um texto curto como este, mas há algumas que podem ser pelo menos sinalizadas, uma vez re- conhecida uma situação de insucesso. Vejamos alguns exemplos: - sempre que o insucesso estiver restrito a um aluno, em umas poucas disciplinas, pode ser o caso de se recorrer a um atendimento perso- nalizado, como aulas particulares, dentro das possibilidades da família e com a concordância do estudante; - quando a escola identificar um conjunto de alunos com insucesso recorrente em certas dis- ciplinas, além de questionar e verificar a qualida- de das aulas, poderia propor um tratamento co- letivo, como estudo em grupo e aulas de reforço; - se for percebida uma não afinidade entre o caráter da escola, as expectativas da família e as características da criança, estas últimas de- vem ser tidas como determinantes e a possibili- dade de uma mudança de escola não deve ser desconsiderada; - somente em casos de insucesso atribuível a questões que estejam além do domínio esco- lar, deve-se pensar em buscar, conforme o caso, aconselhamento psicológico, médico ou de as- sistência social, com a discrição e os cuidados éticos indispensáveis. Enfim, há uma grande variedade de situa- ções em que o insucesso escolar pode ser cogi- tado ou identificado, sendo assim também varia- das as formas de avaliá-las e tratá-las. Para isso, como vimos: uma primeira recomendação é ter cautela no diagnóstico, evitando-se julgamentos apressados; uma segunda é dar atenção às cau- sas, evitando-se a padronização de tratamento; finalmente, é manter permanente diálogo e evitar focar a questão unicamente na criança ou no jo- vem, observando-se a adequação das relações em que se dá a aprendizagem. a educação não é um esporte olímpi- co, em que só não é perdedor quem vai para o pódio. Físico e educador na Universidade de São Paulo
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