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I. PROJETO DE FUNDAÇÕES POR SAPATAS 1. Introdução Neste capítulo vamos tratar apenas de como estabelecer as dimensões em planta dos vários tipos de sapatas de fundação. Para isso, vamos considerar que sejam conhecidas: a taxa de trabalho do solo (σadm), as cargas da estrutura, as seções e a locação dos pilares. Lembramos que a determinação da taxa de trabalho, em cada projeto, envolve o conhecimento do perfil do subsolo, dos parâmetros de resistência e deformabilidade das camadas, dos recalques admissíveis para a estrutura e, inclusive, da profundidade e das próprias dimensões das sapatas. Esta determinação pode ser feita através de fórmulas teóricas, provas de carga sobre placa e correlações errvoíricas. "No caso de não haver dúvida sobre as propriedades do solo, conhecidas com segurança, como resultado da experiência ou fruto de sondagens", a NBR 6122 - Projeto e Execução de Fundações apresenta uma tabela de pressões admissíveis para vários tipos de solo. 2. Pilares Centrais Isolados Consideremos inicialmente o caso mais simples: um pilar retangular (de dimensões b x l) que transmite uma carga vertical P ao elemento estrutural de fundação. Quanto à locação em planta, é intuitivo que o centro de gravidade da sapata deve coincidir com o centro de carga do pilar. A área A da sapata será P/ σadm, majorada de um coeficiente que leve em conta o peso próprio da sapata. Este coeficiente deve ser 1,05 no caso de sapatas flexíveis ou 1,10 se a sapata for rígida. Então, no caso de uma sapata rígida, por exemplo, temos: A = 1,1 P / σadm As dimensões B e L da sapata são escolhidas de modo a resultar um dimensionamento econômico. Isso geralmente ocorre quando os balanços em relação às faces do pilar são iguais (Fig. 1), pois desta forma a seção de armadura resulta aproximadamente a mesma nos dois sentidos. Então: B = b + 2x L = l + 2x Portanto: L - B = l - b Assim, obtemos um sistema de equações: B . L = A L - B = l - b Com duas equações e duas incógnitas. Finalmente, realizados os cálculos, devemos desenhar a sapata na planta dos pilares, na devida escala, com todas as dimensões. Observações: 1. Se o pilar for quadrado, logicamente será um caso particular do que foi tratado. Teremos, simplesmente, uma sapata quadrada com dimensões B = L = √ A 2. As dimensões B e L da sapata deverão ser consideradas como múltiplas de 5cm. 3. Deve-se respeitar uma dimensão mínima; geralmente da ordem de 0,60 m em pequenas construções e de 0,80 a 1,00 m em edifícios. 4. Muitos profissionais não levam em conta o peso próprio no cálculo da área da sapata, alegando que isto está dentro das imprecisões da estimativa do valor de σadm. Entretanto, a NBR 6122 prescreve a inclusão do peso próprio dos elementos estruturais de fundação. 5. No caso de fundações adjacentes apoiadas em cotas diferentes, a NBR 6122 estabelece que uma reta passando pelos bordos deve fazer, com a vertical, um ângulo a que dependerá da natureza do terreno, variando entre 60° para solos e 30° para rochas (Fig. 2). A fundação situada em cota mais baixa deve ser executada em primeiro lugar. 3. Pilares Próximos Quando a proximidade de pilares adjacentes inviabiliza a adoção de sapatas isoladas, devido à superposição das áreas, deve-se projetar uma única sapata, chamada de sapata associada, sendo necessária a introdução de uma viga central de interligação dos pilares (viga de rigidez) para que a sapata trabalhe com tensão constante. Sejam, então, P1 e P2 as cargas de dois pilares próximos (Fig. 3): A área da sapata será: Sendo necessário que o centro de carga coincida com o centro de gravidade da sapata. Portanto, Na escolha das dimensões B e L da sapata é difícil a fixação de um critério econômico. Uma recomendação seria a tentativa de se obter três balanços iguais, restando um deles menor do que os outros. 0 lado L da sapata associada deve ser paralelo ao eixo da viga de rigidez, enquanto que o lado B, sempre que possível, deve ser perpendicular, evitando-se a torção na viga. 4. Pilares de Divisa Quando o pilar se situa junto à divisa do terreno, não se pode avançar com a sapata no terreno vizinho, o que torna a sapata excêntrica em relação ao pilar. Então, é necessário o emprego de uma viga alavanca (ou de equilíbrio) ligada a outro pilar para absorver o momento proveniente da excentricidade e (Fig. 4). Figura 4 - Sapata de divisa com viga alavanca Tomando-se os momentos em relação ao ponto - de aplicação da carga P2 obtemos a reação na sapata de divisa onde s é a distância entre os centros de gravidade dos pilares. Entretanto, o valor da excentricidade e depende do lado B1 que é uma das dimensões procuradas: onde f é uma folga necessária para acomodar a tábua de fôrma, geralmente da ordem de 2,5 cm. Então, como o número de incógnitas é maior que o número de equações, o problema deve ser resolvido por tentativas, adotando-se um valor para uma das incógnitas. Como necessariamente teremos R1 > P1. Sabendo-se que a ordem de grandeza de R1, nos casos correntes, é 20% maior que P1, adota-se como primeira tentativa e daí, Na escolha dos lados, recomenda-se o critério de (L = 1,5 B). Alguns profissionais adotam L = 2,0 a 2,5 B. Portanto, Assim, encontra-se a excentricidade o que permite calcular a reação Se a reação calculada R1" for aproximadamente igual à reação estimada R1' (aceita-se diferença de até 10%), pode-se considerar o ciclo como encerrado, obtendo-se os seguintes valores reais: R1 = R1” , e = e’ , B1 = B1’ . Resta apenas encontrar a outra dimensão da sapata: No caso da reação calculada R1" diferir em mais de 10% da reação estimada R1', é necessário repetir o ciclo iterativo do dimensionamento, até o ciclo poder ser considerado encerrado. Na maioria dos casos, a viga alavanca é ligada a um pilar central. Então, do ponto de vista estático, a carga P2 sofre um alívio de Porém, no dimensionamento da sapata central, geralmente considera-se, a favor da segurança, apenas a metade desse alivio, o que se justifica pela parcela de carga acidental que pode não estar atuando. Então: Utilizando o critério de balanços iguais, obtem-se as dimensões B2 e L2. Se não houver um pilar central disponível para ligar a viga alavanca, é necessário o emprego de um bloco de contrapeso ou até mesmo de estacas de tração para absorver o alívio. Neste caso, devemos considerar o alívio integral, obviamente. Observações: 1) É comum acontecer que o eixo da viga alavanca não seja normal a divisa do terreno. Neste caso, o dimensionamento é semelhante ao anterior devendo-se tomar os seguintes cuida dos adicionais (Fig. 5) a) o centro de gravidade da sapata de divisa deve estar sobre o eixo da viga alavanca. b) as faces laterais (no sentido da menor dimensão) da sapata da divisa devem ser paralelas ao eixo da viga alavanca para evitar a introdução de momento de torção significativo na viga. Além disso, nos cálculos é conveniente tomar as cotas como projeções na direção normal à divisa. Figura 5 – Sapata de divisa esconsa 2) Também não é raro ocorrer que mais de uma viga alavanca estejam ligadas a um mesmo pilar central (Fig. 6). Neste caso, o dimensionamento de cada sapata de divisa é feito independentemente,obtendo-se um alívio para cada uma delas. No pilar central, considera-se a metade da soma dos alívios. Figura 6 - Duas sapatas de divisas alavancadas em um mesmo pilar central 4.1 - Sapata Associada na Divisa Se o pilar da divisa, entretanto, estiver próximo do pilar central, pode ser mais interessante a adoção de uma sapata associada do que a utilização de viga alavanca. Há dois casos a analisar. 1) Se o pilar da divisa tem carga menor, a coincidência do centro de gravidade da sapata com o centro de carga é obtida impondo-se o valor de L igual ao dobro da distância x do centro de carga à divisa, como mostra a Fig. 7. Portanto, conhecido L, teremos: Figura 7 - Sapata associada na divisa 2) Se o pilar da divisa tem carga maior, a imposição de coincidir o centro de gravidade da sapata com o centro de carga implica a adoção de uma forma trapezoidal (Fig. 8). Fixando-se o valor L, por exemplo, a distância da divisa até 2,5 cm além da face do pilar P~ , de mostra que: Figura 8 - sapata associado trapezoidal 5. Pilar no Alinhamento Estando o pilar situado junto ao alinhamento da calçada permite-se geralmente um avanço de até 1,00 m para execução da sapata (Fig.9). Este avanço, todavia, não deve ser maior do que 2/3 da largura de calçada. A sapata deve ser dimensionada com balanços iguais mas, se necessário, pode-se .alterar ligeira mente este critério. Figura 9 - Sapata no alinhamento 6. Pilares "Especiais" Consideramos como "especiais'' os pilares que não apresentam a forma retangular. Por exemplo, um caso comum é o de pilar em L (Fig. 10). No dimensionamento da sapata, devemos inicialmente considerar um pilar retangular "equivalente", de tal modo que: tenha o mesmo centro de gravidade e o pilar real fique "inscrito" no retângulo. A partir daí, utilizamos o critério de balanços iguais. 7. Cargas Excêntricas RECOMENDAÇÕES - "a resultante das cargas permanentes deve passar pelo núcleo central da base da fundação"; - "a excentricidade da resultante das cargas totais é limitada a um valor tal que o centro de gravidade da base da fundação fique na zona comprimida, determinada na suposição de que entre o solo e a fundação não possa haver tensões de tração"; - "na falta de um processo mais rigoroso, uniformizar a pressão adotando-se o maior dos seguintes valores: dois terços do valor máximo ou a média dos valores extremos". 8. EXERCÍCIO: Dimensionamento de Fundações por Sapatas Dimensionar as sapatas dos pilares abaixo esquematizados, dada a taxa de trabalho do solo σadm =0,2 MPa .
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