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Aproximação possível EJA e EAD

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Aproximação possível: Implicações da articulação da EJA e a EAD
1) Introdução 
 O presente texto tem como objetivo refletir sobre o atendimento da modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), principalmente nos níveis fundamental e médio, por meio da Educação a Distância (EAD). Essas modalidades, historicamente, possuem momentos de convergência e outros de concorrência. Deste modo, é significativo o número de estudos e práticas que tentam analisar formas de encontrar ações que subsidiaram o acesso ao sistema educativo formal de muitos jovens e adultos excluídos do processo de escolarização tradicional. Nos últimos anos, verificamos um processo de afirmação e consolidação (ainda inconclusa) da EJA, bem como o incremento dessa oferta educativa por EAD, em todos os níveis educativos. Porém, em que medida, essa afirmação recente da EJA e a proliferação de cursos de EAD se aproximam, dialogam e/ou propiciam a garantia do direito constitucional de educação para todos, com um processo de aprendizagem qualificado? Não obstante, procuraremos elucidar algumas questões contemporâneas sobre essas duas modalidades, que permeiam a reflexão mais abrangente, acerca das potencialidades de aproximação de práticas educativas da EJA, alicerçadas na EAD. Para tanto, após a descrição dessas questões supracitadas, explicitaremos a configuração da interseção entre as duas modalidades, as quais julgamos imprescindíveis, para a conclusão exitosa desses atendimentos. 
2) A Educação de Jovens e Adultos 
A EJA, durante as últimas décadas, passou por transformações importantes e permanentes, tanto do ponto de vista teórico-pedagógico quanto da constituição de ações do poder público para sua oferta. Ainda, se apresenta como um horizonte distante da concretização dessa modalidade como uma política pública efetiva, permanente e de ampla envergadura no seu atendimento. Do mesmo modo, do ponto de vista das práticas educativas para essa modalidade, principalmente nos níveis fundamentais e médios, o debate ainda é intenso, com fronteiras teóricas ainda fluidas. Contudo, existem determinadas concordâncias na literatura acadêmica sobre o tema, em que se destacam a necessidade: de reconhecimento das múltiplas diversidades dos sujeitos (educadores e educandos); da constituição de práticas pedagógicas mais flexíveis e calcadas na importância das experiências e contextos sócio-históricos, oriundos dos educandos e da assunção do compromisso com efetivação da ação educativa emancipatória. 
Nesse sentido, é possível - e em alguns casos desejável - a utilização do suporte conceitual e metodológico da Educação a Distância (EAD) para se viabilizar o processo educativo formal de jovens e adultos, nos níveis fundamental e médio. A própria atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) prevê a utilização desse suporte (EAD), mas com características complementares. Diferentemente de algumas práticas passadas (e outras mais recentes) em que o poder público instituído - bem como setores da sociedade civil organizada – formataram essas modalidades educativas como concorrentes e/ou discrepantes, o intuito primordial desse exercício analítico é de destacar os pontos de convergência de ambas, em um princípio comum. Diante dessa baliza conceitual sobre a EJA, como a EAD pode amalgamar-se com esta – na perspectiva de garantir um processo de educação ao longo da vida , dialógica e emancipatória. 
 3) Educação a Distância – EAD 
A EAD não é uma modalidade educativa recente, bem como não apresenta uma uniformidade de instrumentos e possibilidades de organização. Em consequência dos céleres avanços tecnológicos – principalmente a internet e outras tecnologias aplicadas à comunicação virtual – o desenvolvimento de técnicas e instrumentos de cunho pedagógico, também, resultou em uma expansão significativa. Existem, inclusive, mecanismos de mediação entre pessoas à distância, de forma segura e prática, bem como, possibilidades de interação desafiadoras e educativas com vários programas e máquinas de comunicação (computador, telefones celulares, “tablets ”, etc.). No contexto atual das diversas modalidades de educação, a EAD se apresenta em grande expansão nos diversos sistemas educacionais, principalmente por meio da organização de políticas públicas e, no campo acadêmico, ganha espaço nas discussões sobre as estruturas e práticas, principalmente sobre as formas de atendimento. Diante disso, a EAD no Brasil se configura não só como uma modalidade destina aos que não tiveram acesso à uma formação, mas vem apresentando outros princípios, Belloti (2002, p. 120) afirma que as novas gerações estão desenvolvendo novos modos de perceber... novos modos de aprender mais autônomos e assistemáticos, voltados para a construção de um conhecimento mais ligado com a experiência concretas(real ou virtual) em contraposição à transmissão “bancária” de conhecimentos pontuais abstratos, frequentemente praticada na escola. Belloti (2002, p. 120 ) Dessa forma, a EAD é mais uma forma que o sujeito tem como possibilidade de se formar, aperfeiçoar e atualizar. Essa implementação levou a uma maior democratização do acesso ao conhecimento a um número significativo de pessoas. Contudo, na visão de Demo (2006), a EAD apresenta alguns desafios a serem superados como a possibilidade de fraudes; o risco de aprimoramento do instrucionismo; a ideia de que é um curso de fácil acesso a certificação; e ainda, o isolacionismo dos cursistas, pode cair na excessiva de autodidatismo. Rezende Pinto( 2007, p. 61) ainda considera que 7 Para um aprofundamento do conceito de “educação emancipatória” e “educação dialógica”, cf. FREIRE (1987) 8 Segundo a Wikipédia, “Um tablet PC ou simplesmente tablet é um dispositivo pessoal em formato de prancheta que pode ser usado para acesso à Internet, organização pessoal, visualização de fotos, vídeos, leitura de livros, jornais e revistas e para entretenimento com jogos 3D.” . Acessado em 03/07/2011. A educação a distância, em qualquer nível, pode ser um poderoso aliado na formação do educando; no Brasil, contudo, ela sempre foi confundida com ensino de baixo custo para alunos com um histórico de fracasso escolar. É exatamente para este perfil de aluno a que ela não se adequa e, se feita com qualidade, o que implica supervisão qualificada e presencial, seu custo não é pequeno. Rezende Pinto ( 2007, p. 61) Diante nisso, como essa modalidade integrada à EJA pode qualificar a vida dos educandos com esse perfil? Essa “junção” realmente possibilita o acesso e a permanência à educação, com propostas pedagógicas e curriculares não excludentes, visando o sujeito, suas experiência, acesso à tempos e espaços que viabilizem à expressão criadora e critica e, porque não, a vontade de continuar aprendendo? 
4) Diálogos possíveis?
 Ainda persiste no imaginário de grande parte da população brasileira – e entre esse, gestores públicos e educadores de EJA – a imagem da EJA, como educação aligeirada, de qualidade inferior e paliativa, em função da baixa escolaridade média no Brasil . Do mesmo modo, a EAD também compartilha dessa desconfiança, também muito em função das ações implementadas, nas últimas décadas, em substituição à EJA fundamental presencial. Como a lógica explícita de redução de gastos com a educação desses sujeitos (jovens e adultos) - não prioritária durante a ditadura militar e, posteriormente, durante a avalanche neoliberal que assolou a América Latina – muitas das experiências educativas de EJA mediadas pela EAD empreendidas até o momento foram pautadas pela precarização da estrutura de funcionamento, pela baixa exigência de formação dos monitores (educadores) e, consequente, baixa remuneração e pela uniformidade dos modelos de intervenção pedagógica dessa modalidade. A constatação, dessa parca estruturação para a EJA mediada pela EAD, levou inclusive a formulação, por parte do Conselho Nacional de Educação (a após várias audiências públicas) do parecer 23/200810 que, entre outros polêmicos, regulamenta a oferta de EJA do ensino fundamentale médio, por meio da EAD. Esse Parecer estabelece critérios mínimos para: oferta de licenciatura como formação mínima dos monitores/educadores da EAD; oferta de livros didáticos e literatura aos estudantes e garantia de infra-estrutura tecnológica básica - Machado (2010). Embora aprovada em 08/10/2008, essa resolução não foi homologada pelo Ministério da Educação, principalmente (segundo o ministro da época) em função da polêmica em relação do aumento da idade mínima para acesso a EJA. Além disso, percebemos que é fato recorrente, entre mantenedoras de ofertas de EAD, a reutilização de determinado suporte tecnológico educativo (programa de rádio ou televisão, fitas VHS, DVD, programas de computador, etc.) de forma indiscriminada e repetitiva durante longos tempos, independentemente dos sujeitos-educandos com os quais serão trabalhados esses recursos. Do interior do Amazonas, ao interior do Rio Grande do Sul, as mesmas imagens, metodologias e apostilas/livros são trabalhados, cotidianamente, com os educandos, de forma mecânica e propedêutica. Identificamos, portanto, um dos grandes desafios para a articulação da EJA e a EAD: o esvaecimento do reconhecimento das diversas diferenças constituintes dos seres humanos, bem como da restrição do papel do processo educativo formal, à mera reprodução de conhecimentos construídos alhures. A aproximação para um diálogo fecundo e proveitoso entre as duas modalidades, necessariamente deve ser construída sobre outros patamares conceituais. Embora oneroso financeiramente – e qualquer política de inclusão social o é – a convergência entre EJA e EAD, de forma exitosa, não poderá se furtar a estruturar práticas pedagógicas que ampliem e problematizem a inserção dos sujeitos na realidade objetiva em que vivem. Para tanto, o respeito à diversidade (de gênero, de origem geográfica, linguística, étnica, de orientação sexual, religiosa, etc.) deve ser elemento fundante e norteador da ação formativa. Contrariamente à uniformidade – que acaba, também por reduzir os custos da “operação educacional” – a unicidade conceitual e a diversidade de formas, programas e suportes tecnológicos é (ou deveria ser) o mote primordial da EJA e EAD. Em suma, pensar a EAD como alternativa para a EJA implica refletir sobre essa forma de escolarização para além de uma forma flexível de oferta. O poder público deve oferecer não só condições técnicas, mas também, fomentar discussões sobre que estratégias e práticas educativas que vão ser promovidas, bem como, pensar que estrutura será oferecida, para essa parcela da população que estava fora da educação formal – e muitas ainda se encontram distantes dos equipamentos públicos com condições básicas para oferta de uma educação presencial digna - procurando promover uma educação com qualidade social, transformadora e não aligeirada. 
COMENTÁRIOS ACERCA DA PESQUISA
A presente pesquisa mostra a reflexão atual acerca do atendimento da modalidade Educação de Jovens e adultos (EJA) por meio da Educação a Distância (EAD). Essas modalidades, historicamente, possuem momentos de convergência e outros de concorrência. Deste modo, é significativo o número de estudos e práticas que tentam analisar formas de encontrar ações que são subsídios para o acesso dos muitos jovens e adultos excluídos do sistema formal de ensino. No caso da EAD, é de fácil percepção a rápida expansão às iniciativas de atendimento dessa modalidade em todos os níveis de ensino, inclusive, a grande atuação no ensino superior e a incipiente na Educação Básica. A EJA apresenta como princípio o direito à educação para todos, continuada e ao longo da vida. Nesta perspectiva, pretendemos analisar o atendimento da EJA por meio da EAD, tomando como base o diálogo com as diretrizes nacionais e as concepções e especificidades da educação de jovens e adultos, bem como, discutir sobre o reconhecimento dessa “nova” configuração de escolarização para as pessoas jovens e adultas. Destarte, a inserção do debate sobre as formas e as concepções de estruturação da EJA por meio da EAD, na perspectiva de uma oferta qualificada socialmente, faz-se mais do que necessário. Segundo Soeiro ( 2009,p.171 ) : O reconhecimento da existência dessa riqueza e dos saberes que cada aluno traz consigo, tecida na relação com o outro e na sua relação com o mundo é o desafio da EJA, na construção de uma escola na qual educandos e educadores possam interagir, dialogar e produzir conhecimento alicerçados por saberes diversos levando em conta a realidade social e cultural desses sujeitos e propiciando espaços para a problematização e reflexão dos conhecimentos construídos. Já Belloti (2002, p.120) afirma que as novas gerações estão desenvolvendo novos modos de perceber... Novos modos de aprender mais autônomos e assistemáticos, voltados para a construção de um conhecimento mais ligado com a experiência concretas (real ou virtual) em contraposição à transmissão “bancária” de conhecimentos pontuais abstratos, frequentemente praticadas na escola. Destarte, Rezende Pinto ( 2007, p.61 ) considera que a educação a distância, em qualquer nível, pode ser um poderoso aliado na formação do educando; no Brasil, contudo, ela sempre foi confundida com ensino de baixo custo para alunos com um histórico de fracasso escolar. É exatamente para este perfil de aluno a que ela não se adequa e, se feita com qualidade, o que implica supervisão qualificada e presencial, seu custo não é pequeno. Rezende Pinto.

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