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Apostila de MHS

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Curso de Engenharia Ambiental
APOSTILA
MEIO AMBIENTE: HISTÓRIA E SOCIEDADE
Professor Eduardo Lúcio Guilherme Amaral
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Sumário:
Unidade 1: O HOMEM E O MUNDO NATURAL
Aula 1: Natureza e cultura
Aula 2: Natureza e sociedade
Aula 3: Ciência e economia
Unidade 2: POPULAÇÃO, PRODUÇÃO E CONSUMO
Aula 1: As muitas revoluções da produção
Aula 2: As muitas revoluções do consumo
Aula 3: As muitas revoluções demográficas
Unidade 3: ÉTICA AMBIENTAL E ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS
Aula 1: Os primeiros estudos sócio-ambientais
Aula 2: Demografia e meio-ambiente
Aula 3: Por uma nova ética
Unidade 4: AMBIENTALISMO E GEOPOLÍTICA AMBIENTAL
Aula 1: Consciência ambiental
Aula 2: Ambientalismo
Aula 3: Geopolítica ambiental
Unidade 1 – O homem e o mundo natural.
	Nesta unidade vamos estudar o processo de inter-relação da cultura humana com o meio-ambiente. A partir das conclusões desta unidade é que percorreremos os demais conteúdos.
	A primeira aula “Natureza e Cultura” se interroga acerca do modo como o homem cria o seu ambiente, interferindo no mundo natural para poder tirar disso maior vantagem competitiva. Queremos saber se essa prática tem um fundamento biológico ou se, pelo contrário, é resultado da própria cultura e da história.
	Na aula seguinte “Natureza e Sociedade” vamos fazer um histórico da relação entre as várias sociedades antigas com a natureza, procurando aí um vínculo com o nosso próprio modelo de relação entre sociedade e natureza.
	E, finalmente, na terceira aula “Ciência e Economia”, vamos tentar problematizar o nosso modo de lidar com o meio ambiente e seus impasses diante da economia.
	Assim, estaremos formando uma base crítica que possibilite um melhor acompanhamento das questões desenvolvidas posteriormente.
Unidade 1 – Aula 1.
Natureza e Cultura.
	A vida natural é movida por determinados impulsos vitais, que estão para além do controle de cada indivíduo e que definem as características das espécies. Os impulsos vitais relacionam-se à reprodução e a todo o esforço da espécie na preservação dos seus descendentes. São, assim, elementos correlatos: a busca da máxima segurança contra agressores e predadores; a associação com finalidades de alimentação das crias; a incessante busca de satisfação sexual, etc. Ou seja, o objetivo da vida é o de gerar e o de proteger a própria vida e a espécie. 
	Obviamente, como parte da natureza, o homem também é movido por estes mesmos impulsos e, neste sentido, não se diferencia de nenhum outro ser vivo. Nossos instintos básicos são submissos à lei natural e, por mais que os dissimulemos, eles nos acompanham cotidianamente sem que nos demos conta disso. A maternidade, o vínculo familiar, a busca de conforto e segurança, o interesse sexual, são todos eles manifestações instintivas que estão incrustadas no nosso ser e na nossa forma de viver. Entretanto, ocorre no homem um fato curioso, que o distingue das demais espécies. É que, além de ser movido e impulsionado por instintos, o homem também age na natureza modificando-a como maneira de satisfazer suas necessidades de maneira mais eficaz. Ora, todas as outras espécies estão submissas à natureza; o homem, que não deixa também de estar a ela submisso, busca modificá-la, submetendo-a ao seu domínio.
	Por que isso ocorre é algo que a ciência tenta explicar. Uma explicação recorrente é a de que seríamos dotados de um cérebro mais capaz, maior e com mais conexões neurológicas que nos permitisse uma melhor leitura do ambiente e, assim, uma melhor adaptação a ele. Há aqueles, contudo, que invertem esta proposição e afirmam que nosso cérebro já é o produto de uma evolução, cujo crescimento foi motivado por desafios exógenos. Em todo caso, é necessário compreender bem quais aquelas características próprias ao homem e que nenhum outro animal possui.
	Em primeiro lugar, comparativamente a qualquer outra espécie animal, o homem é o mais despreparado e frágil para sobreviver. Não possui nenhuma vantagem competitiva na luta pela sobrevivência: não tem garras nem dentes afiados; correndo, sua velocidade é baixa e sua resistência, pequena; não consegue nadar com destreza; não tem asas; não é forte; não consegue saltar suficientemente alto; não é hábil para escalar árvores e montanhas; quando pequeno, é indefeso pelo menos até os 13 ou 14 anos e depende dos pais para sobreviver até que atinja a maturidade sexual. Visto desta maneira, é até surpreendente que o homem tenha conseguido não só sobreviver enquanto espécie, mas também submeter outras espécies ao seu domínio.
	Em segundo lugar, a maior parte dos sentidos humanos é deficiente se comparada aos outros animais. Nossa visão, apesar de enxergar colorido, é completamente ineficaz na escuridão; nosso olfato é pobre e quase inexistente; nossa audição é limitada. Restam tato e paladar, que são altamente desenvolvidos. Aliados à capacidade de enxergar colorido formam o trio evolutivo mais importante de nossa espécie. Da capacidade de enxergar cores nasceu a sensibilidade humana para as artes, que é uma forma de compreensão do mundo anterior à ciência e à religião; da mesma maneira, fez do olho o nosso mais importante recurso na luta pela sobrevivência, pois, a partir dele é que pudemos analisar o ambiente à nossa volta, medindo os riscos e as vantagens para a sobrevivência da espécie. Na nossa língua, por exemplo, uma série de vocábulos ligados à capacidade de reflexão tem origem na palavra “ver”. Teoria, palavra que vem do grego, quer dizer “ver”; Idéia, outra palavra de origem grega quer dizer “vislumbrar”; Imaginar é “ver” com imagem, ver o pensamento. Quando pedimos um tempo para pensar, não raro dizemos: “deixa-me ver...”
	No que diz respeito ao paladar, o homem consegue distinguir quatro sabores: amargo, doce, salgado e azedo. Isto fez com que pudesse se adaptar a muitas espécies de alimento disponíveis, como frutas, vegetais, cereais, ovos, carne, peixes, leite. Ora, na medida em que pode alimentar-se de muitas coisas (o homem é um animal ovíparo) sua adaptação aos ambientes se torna mais rápida e eficaz. Com o tempo, o homem conseguiu ainda cozinhar os alimentos, transformando o seu sabor através de uma inovação tecnológica – o fogo – que, além de tornar os alimentos mais seguros e higiênicos, foi decisivo na sua caminhada de domínio e transformação da natureza. E, finalmente, o tato humano é superdesenvolvido, principalmente na ponta dos dedos. Esta sensibilidade aguçada, aliada à natural habilidade das mãos permitiu-lhe o cumprimento de tarefas mais especializadas e delicadas, como a produção de ferramentas e armas que o auxiliaram a compensar a sua fragilidade inicial na luta pela sobrevivência.
	Em terceiro lugar, vamos analisar suas características anatômicas. O homem é um dos raros animais que tem uma postura ereta e que, apesar de dotado de quatro membros, anda sobre dois deles e não sobre os quatro. Os sentidos que têm a sua sede na cabeça estão todos voltados para a frente (olhos, nariz, boca) à exceção dos ouvidos que são laterais. Andando de pé, os órgãos sexuais ficam à mostra e são, também, voltados para a frente. Isto permitiu ao homem uma compreensão imediata do outro, olhando-o face a face, distinguindo suas características sexuais (sem apelar para o olfato, como fazem os outros animais) e aumentando a área de contato físico quando do intercurso sexual, o que fez com que os laços afetivos se tornassem mais consistentes e duradouros. A capacidade de ver e tocar o outro fortaleceu o vínculo familiar e o auxílio mútuo.
	Uma importante característica anatômica dos seres humanos é a capacidade de articular sons através da fala. Esta talvez seja a mais evidente característica social da espécie, já que a fala só faz sentido no interior de uma determinada comunidade de falantes, que compreenda os sons emitidos e que possa, da mesma maneira, dar seguimento a uma interaçãoverbal. Há muitas espécies que vivem em sociedade, como as abelhas, as formigas ou os chipanzés. Todos eles, no entanto, mantêm este vínculo a partir de instintos mais ou menos pronunciados. No caso do homem, a sociedade não é uma produção do instinto (embora não se possa negar que este tenha um papel decisivo), mas fruto de uma vontade coletiva intermediada pela linguagem, que faz da sociedade humana algo mais complexo, nas suas relações, que simplesmente uma colméia ou um formigueiro, onde os papéis sociais já estão determinados pela natureza.
	Finalmente, percebemos como o desenvolvimento ou a evolução do homem se dá a partir da natureza em direção à cultura. Ora, mesmo que despido de instrumentos físicos que pudessem fazê-lo prevalecer na competição com outras espécies, o homem transformou as suas fragilidades em vantagens competitivas e fez das suas poucas características vantajosas (visão, postura ereta, paladar, tato e linguagem) o diferencial que o permitisse sobressair-se no meio natural. Desde sempre, então, a marca fundamental da existência humana tem sido a da máxima adaptação, com mínimos recursos e uma capacidade ilimitada de produzir seu bem-estar com os meios disponíveis.
	A cultura humana é produto da interação com a natureza no sentido de superar as dificuldades impostas à sua sobrevivência. É necessário, agora, compreender quais os elementos fundamentais que compõe o universo cultural do homem. A partir da conceituação da filósofa Marilena Chauí, reproduzimos aqui, três características básicas:
a) o universo do trabalho, ou seja da ação do homem na transformação do ambiente visando à maior satisfação dos seus desejos e à superação das suas necessidades;
b) o universo da linguagem, ou seja, da ação do homem na criação de vínculos sociais através da expressão oral (e, posteriormente, escrita);
c) o universo da lei, ou seja, na criação de um código de conduta válido para todos que vivem em comunidade. A lei fundamental diz respeito àquelas proibições de caráter ritual que garantiam a existência da comunidade. Percebam que nenhuma outra espécie é dotada de leis, mas vivem harmoniosamente a partir do instinto. A sociedade humana, como não é fundada no instinto, não pode ser harmoniosa, por isso a necessidade de ereção de determinados tabus.
	c.1) tabu do cru e do cozido: primeiro dos tabus sociais, distingue o homem dos animais, confraternizando-o através de uma prática civilizada: o cozimento dos alimentos;
	c.2) tabu do incesto: outro tabu social, que também distingue o homem dos animais. A proibição do intercurso sexual entre parentes, além disso, permite uma maior variedade genética aos homens, prevenindo anomalias e deformações que o cruzamento de DNA muito próximo ou igual (no caso de irmãos) geraria.
	c.3) tabus de postura: impedimento à prática de andar de quatro, de comer excrementos, de exibir a genitália (a não ser em ocasiões rituais), de comer carne em decomposição, de comer sem usar as mãos, ou seja, tudo aquilo que pudesse lembrar a animalidade da espécie.
	c.4) tabus de convivência: negação do homicídio no interior da coletividade a não ser em situações muito especiais; proteção dos mais fracos: crianças, velhos, mulheres.
	Para completar, tendo em vista que a cultura humana visou, desde o início, à diferenciação do homem em relação aos outros animais, a sua relação com o meio ambiente sempre foi diferenciada. Sabemos que uma espécie está bem adaptada ao ambiente quando consegue equilibrar-se neste ambiente, cumprindo um determinado papel e ocupando um lugar na cadeia alimentar. Todos os animais dependem do equilíbrio da paisagem e do ambiente circundante. Alterando-se este equilíbrio, tendem ao desaparecimento.
	No caso do homem, a situação se inverte. O homem procura, incessantemente, alterar o equilíbrio natural como forma de aproveitar-se dele e garantir a sua subsistência. Ao, por exemplo, eliminar todos os seus predadores naturais, o homem promove o desequilíbrio ambiental; a mesma coisa ocorre ao devastar uma área de vegetação para produzir alimentos, ou ao domesticar certas espécies animais para o seu sustento. Dado que este desequilíbrio é inevitável, também não pode chegar ao cúmulo de produzir a extrema degradação do ambiente, sob pena da sociedade humana ver-se em risco de colapso. Daí que, de maneira inconsciente na maior parte do tempo, as sociedades humanas sempre foram sustentáveis, embora nunca fossem completamente equilibradas. Isto quer dizer que, apesar de promover o desequilíbrio natural, as comunidades humanas preservaram os recursos disponíveis para a sua própria reprodução e perpetuação.
	Necessariamente, contribuiu para isso a imensa oferta de recursos naturais para a escassa demanda de populações reduzidas e com baixo índice de reprodução. Entretanto, ao chegarmos no limiar do século XIX, um novo elemento entra em cena: as sociedades de massa orientadas para o consumo. Neste contexto, a sustentabilidade social já não é mais possível naqueles moldes, haja vista a intensa exploração dos recursos naturais. Invertem-se os termos da equação: agora as necessidades é que são ilimitadas e os recursos escassos. Sobre o desenvolvimento deste conflito trataremos a seguir.
	
	
Unidade 1 – aula 2
Natureza e Sociedade:
No dizer de Aristóteles, o homem é um animal político. Ou seja, sua natureza o leva à vida social (ou seja, da polis), que é onde ele se realiza enquanto homem, desenvolvendo todas as suas potencialidades, sejam elas intelectuais, esportivas, artísticas ou militares. Se, hoje em dia, não temos meios para asseverar que a vida em sociedade é algo geneticamente determinado no homem, pelo menos, não podemos negar que, vivendo afastado dela, o homem não consegue atingir um grau mínimo de desenvolvimento pessoal. Enfim, longe da vida social o homem não logra alcançar a sua humanidade.
Na Índia, no início do século XIX, os colonizadores britânicos capturaram um garoto que sobreviveu sozinho nas selvas daquele país. Espantaram-se com o que viram: o menino não havia aprendido a falar, a sentar ou a usar ferramentas simples, nem possuía a maior parte das nossas habilidades cotidianas; por outro lado, tinha destreza em outras atividades, como caçar ou subir em árvores. Nunca havia comido alimentos cozidos, nem reconhecia qualquer tipo de norma social. Este episódio acabou inspirando a história de Mogli, o menino lobo (e o romance de C.S. Lewis), que depois se popularizou pelo mundo afora. Em vão os ingleses tentaram impor-lhe ou ensinar-lhe um comportamento adequado à vida social. Fulminado por uma tristeza profunda e sentindo-se deslocado naquele meio estranho, o menino acabou morrendo, talvez sem compreender o que dele exigiam, na mais radical de todas as solidões. Enfim, para além daquelas circunstâncias particulares, este caso nos alerta para a importância da convivência social no desenvolvimento de certas habilidades nossas que, de uma outra maneira, nunca aflorariam.
Muitos teóricos da sociologia e da ciência política já conjecturaram a respeito do surgimento da sociedade; dentre estes, talvez os mais célebres fossem os chamados “contratualistas”, pensadores que viveram entre os séculos XVII a XIX e que tinham como ponto de partida de suas discussões a diferenciação entre “Estado de Natureza” e “Estado Político”. Para os contratualistas, a sociedade foi fruto de um “Contrato Social”, cujo objetivo era o de promover a solidariedade diante de ameaças externas e a coesão do corpo social durante a paz. Os críticos, geralmente antropólogos, ciência criada no século XIX, denunciaram a artificialidade deste modelo teórico, que confunde sociedade humana com sociedade política e com Estado. Segundo a antropologia, não é possível imaginar o homem vivendo apartado da sociedade, visto que a própria família já é, ela própria, uma pequena e primitiva sociedade. A família aumentada produz o clã, que é um grupo maior de indivíduos unidos por um antepassadocomum; clãs que vivem em conjunto formam uma tribo; e assim por diante, até a formação de uma sociedade complexa.
Não há para nós, interesse imediato para realizar essas conjecturas. Necessário é somente sublinhar a falta de consenso, seja ele por parte dos historiadores ou outros teóricos da sociedade, em marcar-lhe uma origem definida no tempo. O que a história e a arqueologia podem afirmar, com alguma margem de certeza, é o surgimento da civilização urbana, que data de cerca de 5.000 anos antes de Cristo. Ora, isto quer dizer que as primeiras experiências de vida social foram nômades. O homem só passa a sedentarizar-se a partir do momento em que descobre a agricultura. Antes disso, migrava ao sabor das estações do ano e da disponibilidade de oferta alimentar numa determinada área. A comunidade nômade é plenamente sustentável e equilibrada com o meio ambiente circundante, já que não pretende transformá-lo para a satisfação das suas necessidades, mas antes adequa-se aos seus ritmos. Há comunidades especializadas numa determinada atividade, conforme as características naturais de cada área. Por exemplo: no norte do continente americano, comunidades caçadoras de bisão, outras de ursos; nas florestas tropicais, tribos coletoras que se alimentam basicamente de frutas; ou seja, como as necessidades alimentares advém dos recursos naturais disponíveis, a comunidade humana tende à auto-suficiência, dentro dos estreitos limites da sua especialização alimentar.
Depois do fogo, a grande invenção da humanidade foi a agricultura, por várias razões. Em primeiro lugar, permitiu a sedentarização, fixando o homem em determinados espaços; em segundo lugar, promoveu a diferenciação entre comunidade humana e natureza, que passava a ser um meio para a satisfação das suas necessidades e não uma realidade a qual tivesse que adaptar-se. Invertem-se os termos da equação: não é mais o homem quem deve moldar-se ao sabor dos ritmos naturais e das estações, mas impõe à natureza as suas próprias demandas. Em terceiro lugar, ocorre uma maior diferenciação social, de acordo com o papel desempenhado por cada indivíduo na sociedade. Por exemplo: a grande massa das pessoas têm de trabalhar nas atividades rotineiras do trabalho agrícola: preparação da terra, semeadura, colheita; outros ficam responsáveis pela defesa do território contra eventuais invasores; outros ainda têm de ser deslocados para o fabrico de utensílios e ferramentas; e, finalmente, é necessário um corpo de administradores que organizem e mantenham todo este esforço coletivo em funcionamento.
Como podemos notar, as bases da civilização humana originam-se com a agricultura: sedentarismo, divisão do trabalho, organização política, suporte militar. Notem que a massa dos trabalhadores na agricultura é responsável não apenas por seu próprio sustento, como também de toda a comunidade. Pela primeira vez, parte da comunidade é liberada do trabalho para dedicar-se à funções administrativas. Obviamente que este tipo de situação não deveria ser do agrado dos que tinham que lidar com o cabo de enxada e com o arado, cotidianamente. Necessariamente, era preciso impor-lhes a obrigação de manterem-se conformados com a própria sorte. Para isto recorriam-se a dois grandes expedientes: a coerção física e a legitimação ideológica. O Estado através do seu corpo armado, não apenas defende a comunidade de ameaças externas como também coíbe qualquer contestação interna à ordem estabelecida. A religião, que foi a primeira experiência humana de convencimento das massas, se prestava ainda melhor a este papel, na medida em que divinizava o poder político e ameaçava com castigos eternos a desobediência política.
As sociedades agrícolas provaram serem mais férteis do que as sociedades nômades. Este é um período de intenso crescimento populacional, pelo menos naquelas sociedades mais bem-sucedidas, como as localizadas às margens dos grandes rios da Ásia e África: Nilo, Tigre, Eufrates, Indo, Ganges, Amarelo e Azul. Pela primeira vez, a humanidade pôde contar com um excedente de alimentos e, com a sedentarização, proteger-se das investidas dos animais ferozes e de todos os riscos de uma vida plenamente integrada ao ritmo da natureza. Ocorre que, quanto maiores estas comunidades, maiores também as suas necessidades e mais difícil a tarefa de conseguir manter o corpo social plenamente integrado e vivo. As atividades administrativas tornam-se cada vez mais complexas; as responsabilidades de segurança e defesa cada vez mais desafiadoras. Todo o complexo político-militar-religioso tende então a impor-se mais agressivamente sobre a massa da população.
As cidades nascem neste contexto de diferenciação social exigida pela complexidade das atividades administrativas, políticas e religiosas diante da massa dos trabalhadores agrícolas. O núcleo principal de cada cidade foi a cidadela, espécie de centro fortificado onde concentravam-se as principais atribuições do Estado: armazenagem de comida; concentração das tropas; lugar de culto. Conforme o sucesso do Estado em satisfazer as necessidades alimentares de seus membros, de produzir alimentos e de coibir sublevações, as cidades tendiam ao crescimento. Mas, note-se, a cidade é sempre o lugar daqueles que não precisam produzir o próprio alimento para sobreviver, daí necessariamente estarem, àquela época, cercadas por campos agrícolas.
A civilização urbana do antigo oriente alcançou determinados feitos que até hoje nos surpreendem. No que diz respeito ao esforço em dominar a força dos rios, então, continuam a serem até hoje modelos. A construção de barragens, o desvio dos leitos dos rios, a irrigação, o transporte da água para regiões distantes, a construção de aquedutos que pudessem abastecer as cidades, enfim, o que denota alto grau de organização e de submissão ao poder constituído. Estas grandes realizações, por sua vez, nunca seriam possíveis contando-se somente com o trabalho livre. Pois, como se poderia deslocar o trabalhador livre, que trabalha na agricultura para tarefas como estas, que exigem um número muito alto de braços? Alguém teria que continuar a produzir o alimento, enquanto outros fossem recrutados para os serviços de construção. Surgiu, assim, a diferenciação entre o escravo e o servo: o escravo não precisa produzir o próprio alimento, pois tem que dedicar-se aos serviços do Estado; já o servo não pode libertar-se da sua condição de agricultor, já que isso alteraria toda a organização da sociedade. 
Neste momento específico, o do aparecimento das grandes civilizações da antiguidade, surgiram os primeiros indícios de desequilíbrio ambiental, embora essas civilizações fossem, a muito custo, sustentáveis. Com a dragagem, correção de leitos do rio e construção de barragens, muitas paisagens naturais tiveram o seu panorama alterado. Sintomático, neste sentido, foi a ocupação do delta do rio Nilo. Uma região que, na realidade era um imenso manguezal, com toda a sua flora e fauna característica, transformou-se em pouco tempo, na mais densamente urbanizada área às margens do mar Mediterrâneo. Na Índia, às margens do Indo e do Ganges, assim como na China, às margens do Amarelo e do Azul, imensas áreas de florestas foram devastadas para dar lugar aos campos agrícolas. No Líbano, durante a era pré-cristã, a grande floresta de cedros já havia desaparecido. Muitas espécies animais também tiveram sua população reduzida, como o tigre de Bengala, o urso panda chinês ou o leão europeu, este último extinto ainda durante a antiguidade.
Desde o surgimento da civilização, ou seja, a partir das revoluções agrícolas e urbanas da antiguidade que se impôs a radical diferenciação entre a vida humana e a vida natural, como se fossem elementos inconciliáveis. Retomando a citação de Aristóteles no início deste texto, podemos medir o quanto a auto-imagem do homem esteve marcada por esse distanciamento: a civilização, acreditavam, era a única possibilidade de vida plena do homem. Longe dela restam apenas os bárbaros, os incultos, os incivilizados,os ignorantes. Todas – sem exceção – grandes civilizações humanas da antiguidade e além, orgulharam-se deste distanciamento. Não à toa, a vida urbana era marcada por inúmeros códigos de etiqueta e de convivência e, desconhecê-los significava manter-se à margem da vida coletiva.
Neste sentido, as antigas religiões podem nos dar uma ilustração. Para gregos e romanos, o homem estava num patamar acima dos animais e abaixo somente dos deuses. Era, neste sentido, a obra-prima da criação, imagem dos deuses e dotados de iguais tendências de caráter e comportamento, diferenciando-se somente, no que dissesse respeito à imortalidade. Esta mesma idéia está clara na religião judaica: os homens são o ápice da criação divina e a eles está dado todo o poder sobre os animais. Da mesma maneira, todas as religiões antigas valorizavam o homem enquanto inserido na civilização, pois até as cidades tinham os seus deuses protetores e participar da vida comunitária era, pari passu, vivenciar a vida religiosa. Assim, formou-se lentamente uma justificação ideológica e religiosa que legitimou a postura predatória do homem – e, consequentemente da civilização – sobre a natureza.
Nas suas bases fundamentais, a relação sociedade – natureza tem sido marcada, como estamos a ver, por este desequilíbrio: a natureza aí está para satisfazer as necessidades humanas, sem que se tenha pensado, em algum momento, nas necessidades da própria natureza ou, pelo menos, no uso racional dos seus recursos, vistos sempre como inesgotáveis e disponíveis. Os séculos que nos separam das civilizações antigas apenas aceleraram e intensificaram este processo e apenas as catástrofes naturais, como a fome, as inundações, os incêndios, os invernos prolongados foram capazes de deter o avanço desordenado da civilização sobre a natureza. Obviamente, esta relação que nunca fora igualitária ou sustentável, radicalizou-se durante a Revolução Industrial, já a partir do final do século XVIII. Mas, esta é uma questão que veremos a seguir.
Unidade 1 – aula 3
Ciência e Economia
	Benjamin Franklin, o notável cientista americano do século XVIII, certa vez asseverou que “a necessidade é a mãe de todas as invenções”. De qualquer forma, deve ter havido uma ampliação das necessidades humanas nos últimos dois séculos, já que eles concentraram a maior parte das inovações tecnológicas e invenções científicas realizadas pelo homem. É radicalmente diverso o panorama da vida humana em nossa época se comparada a qualquer outro momento da civilização. Primeiramente, vamos procurar compreender que transformações são essas; depois, buscaremos as razões para que elas tenham surgido.
	Em primeiro lugar, salta aos olhos o tamanho da população humana: já somos quase sete bilhões de indivíduos. Para alcançar o primeiro bilhão, lá por volta de 1890, foi necessário todo o tempo de existência da espécie. A partir de então, as cifras têm se multiplicado vertiginosamente. Hoje em dia, a cada vinte anos, somamos mais um bilhão de pessoas a essa conta. Os estatísticos e demógrafos crêem que seremos 11 bilhões de pessoas em 2050.
	Comparativamente a um homem do século XVIII, nós temos uma vida muito mais longeva. É comum que um determinado país alcance uma média de mais de 70 anos de vida de sua população. Há duzentos anos atrás, a expectativa de vida média oscilava entre 45-50 anos na Europa e 35 anos no Brasil. Ou seja, num período curto de tempo dobramos o tempo de vida de nossa população. Então, além de termos mais gente, essa população vive muito mais.
	Outro aspecto a ser considerado é que o homem, pela primeira vez em toda a sua existência como espécie animal, vive majoritariamente em grandes aglomerações urbanas, em cidades. Nos países de industrialização mais antiga, como os Estados Unidos, a taxa de urbanização alcança 96%. Já naqueles de industrialização mais recente, como China e Índia, essa taxa fica em torno de 40%. Ou seja, ainda há muita margem para a urbanização, principalmente se consideramos estas novas potências industriais. Assim, podemos visualizar um cenário de cada vez maiores cidades, principalmente na Ásia e na África, que são os dois continentes com maior população ainda vivendo no campo.
	Bom, se qualquer pessoa sensata, há trinta anos, fizesse projeções demográficas que levassem a esse quadro (superpopulação e super-urbanização), chegaria a conclusões catastróficas. Particularmente, lembro-me de ter lido, por volta dos onze ou doze anos, um livro ilustrado americano chamado Future. Neste livro, que vinha com muitas fotos coloridas, os autores faziam projeções de tendências para o ano 2000. O pior cenário que viam era o da superpopulação, visto como sinônimo de miséria, haja visto a necessidade de consumo das massas e a exigüidade de recursos naturais disponíveis para tal.
	Mas, se hoje ainda não conseguimos erradicar a fome e a miséria absoluta, temos de convir que nenhuma catástrofe demográfica ocorreu. Na realidade, a obesidade é um problema de saúde pública tão grave quanto a fome; nos países mais ricos, um problema muito maior. O acesso das pessoas à saúde, permitiu que pudessem viver mais; cada vez mais pessoas têm acesso à água tratada, esgoto ou energia elétrica; milhões, sejam no Brasil, na China, na Índia ou na Rússia, saem da pobreza a cada ano; quase um terço da população mundial conta com o conforto de acessar a internet. Enfim, são tantos os avanços, que temos dificuldades de se compreender as razões de tal feito.
	É preciso, se quisermos ter uma compreensão global destas questões, poder acompanhar os desdobramentos e o próprio desenvolvimento do sistema econômico e das suas interconexões com a ciência que, da maneira que é desenvolvida hoje, trata-se de um dos fundamentos básicos da existência não apenas do capitalismo, como também do estilo de vida que ele produziu.
	O sistema capitalista é aquele em que predominam as relações mercantis, de produção, compra e de venda de mercadorias, com o objetivo do lucro. É o lucro quem permite que o sistema permaneça vivo, realizando novas inversões de capital (investimentos) na atividade produtiva ou comercial, gerando ainda mais lucro e aumentando o patrimônio da organização que agem no mercado. Percebam que o movimento do sistema capitalista se alicerça numa tendência à expansão: quanto mais as empresas realizam o lucro, maior será o seu patrimônio; se este processo se consolida amplamente, teremos crescimento econômico, o que é havido como um índice para medir a saúde ou o vigor do próprio sistema. Inversamente, uma economia doente é aquela em que as empresas encontram dificuldades para realizar o lucro e aumentar o seu patrimônio: este é o cenário da recessão.
	Para que ocorra crescimento econômico é necessário que existam algumas condições. A mais importante de todas estas condições é a ampliação do mercado consumidor. O mercado consumidor, ou seja, o conjunto das pessoas que tem condições de comprar mercadorias pode vir a se expandir por dois movimentos. O primeiro, é o do alargamento da sua base, ou seja, a da inclusão de mais pessoas no grupo daqueles que podem comprar. O segundo é o do alargamento de seu vértice, ou seja, o do aumento das pessoas que podem comprar mais ou comprar coisas mais valiosas e caras.
	Mas, por que razão as pessoas compram? Uma resposta mais simples diria que é para satisfazerem as suas necessidades materiais, já que não podem ou não tem tempo para produzi-las. Há duzentos anos atrás, por exemplo, o dinheiro quase não circulava, ou seja, o mercado consumidor era muito menor do que é hoje. Só compravam mercadorias aquelas pessoas que viviam nas cidades e que não podiam fazê-las. Mas, quase tudo era produzido individualmente ou, quando muito, trocado. Havia necessidade de roupa? As mulheres sabiam fiar e produziam as roupas para toda a família. Havia necessidade de comida? Quem vivia no campo, simplesmente plantava ou, quando muito, trocava o excedente de sua produção por mercadorias que não podiam produzir. Comprava comidae roupa quem vivia na cidade e não dispunha nem de tempo para fiar e costurar, nem de terra para plantar. Ou seja, aquelas pessoas que trabalhavam em troca de um salário pago em moeda corrente para a satisfação destas necessidades impossíveis de serem satisfeitas na cidade.
	Duas coisas têm que ser consideradas por nós. A primeira, é que o número de pessoas que trabalhavam em troca de um salário era ainda muito pequeno; a segunda, é que as necessidades das pessoas era ainda muito baixa: comida e roupa, basicamente. Qualquer produto de consumo que estivesse para além disso, era considerado artigo de luxo (livros, ferramentas, objetos os mais diversos) e portanto possível apenas aos proprietários e pessoas muito ricas. Além do mais, qualquer mercadoria para ser produzida, encontrava os maiores desafios, pois não existia ainda a automação industrial do nosso tempo: quase tudo o que era produzido, o era através do artesanato ou da manufatura. Comparativamente a mercadoria industrializada de hoje, o produto artesanal ou manufaturado levava muito tempo para ser feito; poucas peças eram feitas; o sistema de distribuição não era nem um pouco eficiente; nem havia divulgação da mercadoria. Razões pelas quais estes eram produtos caros, além de serem de qualidade inferior aos industrializados (pelo menos, na maioria das vezes).
	Como vimos, a expansão do sistema estava atravancada por inúmeros “gargalos”. Havia a necessidade de se remediar as duas situações a que nos referimos: a da exigüidade do mercado consumidor e o do baixo grau de necessidades de consumo por parte das pessoas. Não era uma questão de não se poder comprar; mas também de não haver necessidade de se comprar. Urgente se fazia permitir às pessoas que comprassem, mas também que as fizessem desejosas da compra.
	A evolução do sistema capitalista se pautou numa lógica fundada sob a idéia de lucro, mas alcançá-lo requeria a racionalidade necessária para se contornar inúmeros problemas, como estes que estamos aludindo. No próximo capítulo falaremos mais sobre este processo, como ele despontou e se consolidou. Para agora, basta saber que o sistema capitalista se baseia em três momentos distintos e complementares: a produção de mercadorias, a circulação de mercadorias e o consumo de mercadorias, que interagem como num círculo fechado, num verdadeiro “sistema”.
	Qualquer uma dessas etapas do sistema deveria passar por uma gestão cujo objetivo era o de desobstruir quaisquer impedimentos para a realização da etapa seguinte. Se houvesse aumento na produção, por exemplo, era necessário que também a circulação fosse mais eficaz, atingindo um número maior de consumidores. Se as necessidades do consumo aumentassem, fazia-se necessário aumentar a produção, incidindo na circulação, num ciclo indefinido. Nem sempre, contudo, a tendência era sempre a da expansão, mas questões conjunturais (moeda, crédito, política, guerras, crise de produção, preço das matérias-primas, salários, nível de emprego, etc) poderiam fazer oscilar o ciclo para cima ou para baixo.
	Em todo caso, a ciência teve papel proeminente na solução dos problemas econômicos de cada tempo. Seja na etapa da produção: fazendo com que determinadas mercadorias fossem produzidas em menor tempo, com um custo menor e com maior qualidade; ou na etapa da circulação, fazendo com que o transporte fosse mais eficaz; e ainda, finalmente, na esfera do consumo, regulando a política econômica de um país, o crédito, o emprego, o mercado. Enfim, é impossível considerar o sistema capitalista moderno sem compreender o papel decisivo da ciência na solução dos problemas com os quais teve de lidar.
Unidade 2 – POPULAÇÃO, CONSUMO E PRODUÇÃO.
	Esta unidade é dedicada ao estudo dos processos de produção e de consumo de mercadoria no interior do sistema capitalista.
	É necessário compreender o desenvolvimento histórico da chamada “Sociedade de Consumo” para que possamos compreender as bases da crise ambiental desencadeada por esta mesma sociedade, por seus valores e por seus ideais.
	Na primeira aula, veremos resumidamente, as fases principais da história da produção de mercadorias, privilegiando o fenômeno da industrialização.
	Na segunda aula, teremos o outro lado da moeda, acompanhando a evolução do consumo de mercadorias com igual privilégio para o fenômeno da industrialização.
	Na terceira aula iremos conhecer os primeiros estudos sócio-ambientais, ou seja, aquelas idéias que nasceram já na esteira da industrialização e da crise ambiental.
	E, finalmente, na quarta aula, teremos um panorama da moderna sociedade industrial de massas, ou seja, da nossa sociedade contemporânea, ao mesmo tempo, vítima da crise ambiental e causadora desta mesma crise.
	Ao final da unidade, o aluno terá uma base teórica para problematizar o problema ambiental e compreender as suas raízes.
Unidade 2 – aula 1
	As muitas revoluções da produção.
	A história da modernidade é também a história da técnica e da tecnologia. Estes foram os instrumentos fundamentais para a revolução da produção de mercadorias que, por sua vez, influenciou todo o nosso modo de viver. Esta influência é tão decisiva que não conseguimos mais nos conceber enquanto sociedade desvinculados do mundo industrial que nos envolve e nos condiciona. Necessariamente, esta sociedade industrial e tecnológica propõe um determinado tipo de relacionamento do homem com o meio ambiente, cujas conseqüências iremos analisar.
	Durante séculos, a produção de mercadorias foi um processo marcadamente artesanal, atendendo mercados locais, muito reduzidos e satisfazendo as pouquíssimas necessidades da população. Entretanto, desde o século XVII, mudamos nossa forma de produzir bens e consequentemente, de nos relacionarmos com o meio ambiente, haja vista que é do próprio ambiente que o homem retira a matéria-prima para a produção e é nele que o homem despeja os resíduos industriais e o lixo do consumo propriamente dito.
	É preciso remontar à história humana pelo menos quatro séculos para podermos compreender a eclosão deste processo. Pontualmente, vamos ressaltar três etapas fundamentais: em primeiro lugar, a revolução comercial do século XVI; em segundo lugar a primeira revolução industrial do século XVIII; e, finalmente a grande onda da revolução técnico-científica dos séculos XIX e XX.
	A Europa, em 1400, era um centro consumidor de produtos manufaturados e de tecnologia vindos principalmente, do Oriente Médio e da China. Em contraste, aquele era um continente basicamente rural, com um mercado consumidor muito pequeno, em que as mercadorias importadas atingiam somente uma parcela muito diminuta da população, ou seja, apenas nobres e os ricos burgueses tinham acesso aos poucos produtos importados. No linguajar econômico de hoje, diríamos que aquela era uma sociedade de fraca dinâmica econômica, com quase nenhuma mobilidade de classe, em que prevaleciam as rotinas tradicionais de trabalho e produção.
	Do Oriente Médio e da China os europeus importaram quase tudo. No que se refere ao conhecimento, por exemplo, de lá trouxeram os algarismos indo-arábicos, a geometria, a astronomia e o pouco conhecimento das ciências naturais desenvolvido até àquela época. Instrumentos tecnológicos hoje banais, foram desenvolvidos no oriente com grande impacto na produção e na disseminação do conhecimento, como o papel. A pólvora, a bússola, entre outros, são invenções chinesas. Produtos valorizados no mercado europeu eram tecidos, como linho, cânhamo, seda, algodão, etc, que não tinham concorrentes no que se refere a tecidos finos (haja visto que na Europa só se usava a lã). Os corantes (como o índigo), por exemplo, vieram do Oriente. O sabão, os perfumes, temperos de todos os tipos, o açúcar, entre outros alcançavam um grande valor de mercado na Europa. Em troca, os europeus vendiam madeira, ferro e outras matérias-primas que alcançavam algum valor no mercado asiático.
	O controledeste comércio pertenceu, inicialmente, às cidades-estado italianas, como Gênova, Pisa e Veneza. Dos seus portos saíam embarcações rumo ao Líbano, a Palestina e ao Império Turco onde compravam produtos vindos de lugares distantes. Obviamente que já se comprava caro o que se produzia na Ásia, principalmente em razão das longas distâncias percorridas pelas caravanas que atravessavam o continente, da China até o Mediterrâneo. Mesmo assim, as cidades italianas foram aqueles locais em que uma nova classe social – os mercadores – puderam impor sua visão de mundo à política e a toda a sociedade. Em pouco tempo, enriquecidos com o vantajoso comércio, os mercadores italianos patrocinaram um amplo movimento de renovação artística e cultural no continente, conhecido por nós como Renascimento Cultural, que trouxe inúmeras inovações em vários campos do saber. Só para se ter a dimensão do Renascimento na vida cultural européia, basta frisar que foi neste momento em que surgiram as principais universidades italianas, Pádua e Florença, disseminando o conhecimento físico, natural e matemático adquirido nas bibliotecas asiáticas.
	Foi nas cidades-estado italianas onde surgiram os primeiros bancos e, com eles, o financiamento das empresas comerciais que transacionavam com o Oriente. Junto com os bancos surgiram os cheques (que se mostraram uma forma mais vantajosa de transportar o dinheiro), o crédito, o papel-moeda e a bolsa de valores. Até mesmo a moderna contabilidade, com seu método de partidas dobradas (onde se contabiliza o saldo ativo e passivo) é uma invenção de Veneza. De 1400 a 1600, o poder dos mercadores e banqueiros espalhou-se por toda a Europa, controlando a vida econômica e influenciando na política dos estados. Além da Itália, puderam fincar seu poderio em vários outros lugares, principalmente na Holanda, onde formaram importante corporação que chegou a dominar todo o comércio do norte europeu e da própria América Latina.
	Foram os mercadores (a quem a partir de agora, chamaremos de burguesia comercial) quem financiaram a exploração dos recursos naturais das colônias espanholas e portuguesas na América. O açúcar brasileiro, por exemplo, obtinha crédito bancário nas casas comerciais holandesas: a mercadoria, por sua vez, era transportada em navios holandeses e as cidades de Amsterdã e Roterdã eram os principais centros de comercialização e distribuição do produto pela Europa. Todo este movimento econômico, cuja base esteve centrada no poder da burguesia comercial, é conhecido por nós como Revolução Comercial. De uma maneira geral, foram estas as suas características principais:
O surgimento e o fortalecimento da burguesia como classe social, dominando as esferas do crédito, da produção e da circulação de mercadorias;
A paulatina dependência de todos os setores produtivos (principalmente da agricultura, ainda dominada pelos senhores feudais) e das classes políticas (nobreza, clero) ao crédito proveniente dos bancos;
A disseminação do papel-moeda nas transações econômicas;
A imposição de uma racionalidade contábil às transações comerciais, como por exemplo, o planejamento estratégico das empresas;
Entretanto, uma coisa não havia mudado: a Europa continuava a ser um amplo mercado consumidor, sem contudo, impor-se como centro produtor de mercadorias. Isto quer dizer que a Europa comprava muito, mas vendia pouco. Com a colonização da América isto iria se transformar: os lucros da empreitada comercial promoveram uma intensa concentração do capital comercial (ou seja, do dinheiro, chamado de Acumulação Primitiva do Capital) nas mãos de uns poucos grandes mercadores. O país que efetivamente conseguiu concentrar o capital com mais eficiência foi a Inglaterra, seguida de perto pela Holanda. Ora, entre os anos de 1600 a 1800 a Inglaterra construiu um imenso império colonial, controlando áreas ricas e populosas, seja do Oriente Médio, da Índia ou da China. A partir disso, pôde impor-se na comercialização dos produtos e especiarias orientais, cujos lucros antes ficavam nas mãos dos mercadores locais e que, agora, passavam à burguesia inglesa.
O poder dos mercadores holandeses foi pouco a pouco perdendo terreno para os comerciantes ingleses. Inclusive, muitos grandes negociantes holandeses passaram a comercializar os seus produtos na bolsa de Londres, deixando Amsterdã numa posição secundária. Este acúmulo de poder e capital permitiu que os ingleses dessem um segundo passo decisivo na história econômica moderna: a Revolução Industrial.
Sempre que pensamos na Revolução Industrial, nos vêm a mente cenas de grandes fábricas e das inovações tecnológicas daquele tempo. Mas, é preciso compreender que, antes de ser uma revolução tecnológica, a Revolução Industrial foi uma revolução na organização da produção. Seu principal objetivo era o de produzir mais mercadorias, com um preço menor, em menos tempo e com mais qualidade. Como eles conseguiram isso?
No final da Idade Média (entre os anos de 900 a 1400) as mercadorias eram produzidas de forma artesanal, como vimos. O que isso significa? Significa dizer que uma mesma pessoa – no caso, um mestre artesão – domina todas as etapas da produção da sua mercadoria e, além disso, detém todas as ferramentas necessárias para o seu trabalho. O mestre artesão, além de fabricar a sua própria mercadoria, também era o responsável pela sua comercialização, muitas vezes vendendo de porta em porta.
Lentamente, as funções da produção começaram a se especializar. O mestre artesão, ao invés de fazer sozinho todas as etapas de seu trabalho, passava a dividir as responsabilidades com os seus empregados. Vamos pensar, hipoteticamente, na produção do sapato. O mestre artesão, na Idade Média, tinha que comprar a matéria-prima (o couro) e depois, curti-lo; depois tinha que cortar o couro, costurá-lo, colá-lo, por a sola, envernizá-lo, encardaçá-lo. Com o sapato pronto, chegava a hora de vendê-lo. Obviamente, que o tempo para se fazer um par de sapatos era enorme. A qualidade dos sapatos poderia variar muito: algumas peças boas, outras ruins. Em conseqüência da baixa produtividade, o preço era muito alto e só as pessoas de alta condição podiam calçar sapatos.
A especialização do trabalho rompe com este ciclo. Ao invés de comprar o couro diretamente com o produtor, o mestre-artesão comprava de um atravessador que oferecia a matéria-prima na porta de sua oficina. Ao invés de cortá-lo, distribuía o couro a vários artífices especializados em cortar o couro: não faziam nada além disso, o que tornava o seu trabalho mais eficaz e especializado. Tendo o couro cortado, ia ser costurado por uma equipe especializada, que só costurava. Daí para o acabamento e mais sapatos eram produzidos num tempo menor, com uma qualidade superior. E, finalmente, ao invés de vender o seu produto de porta em porta, o mestre-artesão o vendia para um comerciante especializado em vender sapatos.
Como vimos, a Europa passou por um processo de reorganização da produção das mercadorias, cujo objetivo era a maior qualidade, o menor preço e a maior quantidade de produtos vendidos. Em conseqüência, teremos maiores vendas e como retorno, maiores lucros. Parte desse lucro, ao invés de ser gasto pelo mestre-artesão, passava a ser reinvestido na produção, pois sempre havia necessidade de aumentar a velocidade da produção, diminuir os preços, aumentar a qualidade. Daí mais lucros e o processo se repetia indefinidamente. Em termos gerais essa é a lógica mesmo do nosso processo de produção de mercadorias: o industrial busca sempre maior lucro, para isso, tem que, necessariamente baixar os seus custos, ou pelo menos, otimizá-los, deixá-los mais competitivos. Maiores lucros, significam maiores investimentos na produção, renovando o ciclo (que é o chamado ciclo virtuoso da produção).
O que a Revolução Industrial permitiu foi o aceleramento deste processo através da mecanização da produção. Apesar de todos os avanços na especialização do trabalho através da distribuição das tarefas, a velocidade da produçãoda mercadoria ainda estava atrelada ao esforço humano. Ou seja, era a habilidade humana a responsável pelo fabrico das mercadorias. E, como sabemos, o homem está sujeito às mais diversas variações na sua capacidade de trabalho: humor, salários, satisfação pessoal, fadiga, cansaço, tédio, etc. A máquina quando substitui o homem altera essa condição: além de ser mais rápida, não cansa nem recebe salários. Vamos, rapidamente, recordar algumas das inovações tecnológicas da revolução industrial que permitiram este avanço da produção de mercadorias.
a) Energia: primeiramente as máquinas eram movidas pela energia térmica (calor e vapor) oriunda da queima do carvão mineral e vegetal; no século XIX, a energia a vapor foi substituída pela energia elétrica produzida por enormes hidroelétricas e distribuídas por uma complexa rede de fios e cabos;
b) Novos materiais: disseminação do uso do ferro em grandes construções, substituindo a madeira e a alvenaria; substituído pelo aço, que é uma composição de ligas metálicas, mais resistente e flexível, o que permitiu que as construções alcançassem alturas maiores;
c) Transportes: a primeira grande vedete da revolução industrial foram as embarcações movidas a vapor, com elas não havia mais necessidade de tempo bom ou vento constante para a navegação; depois dos navios, foi a fez das ferrovias, que substituiu o transporte movido a tração animal. Os transportes foram fundamentais para a revolução industrial, pois otimizavam o custo, levando mais mercadoria em menos tempo.
d) Comunicações: os correios se beneficiaram dos novos transportes movidos a vapor, mas causou sensação a invenção do telégrafo, que consistia numa reprodução de sinais elétricos através de fios; o rádio e o telefone foram invenções do século XIX, popularizadas no século XX;
e) Novas máquinas: a roca e o fiar manual foram substituídos pelos teares mecânicos e depois, elétricos; o motor a explosão foi inventado em 1885 (Daimler); a segadora mecânica (máquina para segar, ou seja, colher, colheitadeira) propiciou um aumento no tempo de colheita;
f) Ciências: nas mais diversas áreas, como na química, promoveram uma maior compreensão dos fenômenos orgânicos, dando soluções a vários problemas, como doenças, baixa produtividade da terra, desenvolvimento de novos materiais, etc.
O processo que motivou a Revolução Industrial continuou até hoje: no século XX vivenciamos a II e a III Revoluções Industriais; e, a partir da década de 1970, estamos assistindo a uma Revolução Tecnológica da Informática, cujo alcance é imenso. O que nos importa, pelo menos nesse momento, é que, com a Revolução Industrial,
1) A produção de mercadorias libertou-se do ritmo humano e passou a acompanhar o ritmo da máquina;
2) As mercadorias passaram a ser produzidas cada vez mais rapidamente, aumentando, por sua vez, a oferta delas no mercado, reduzindo, por sua vez, o preço;
3) Mesmo mais baratas, as mercadorias que consumimos são de melhor qualidade que aquelas consumidas há duzentos anos atrás, em razão da mecanização da produção;
4) Com vendas maiores, aumentou-se o lucro das indústrias, que puderam reinvestir em pesquisa e na produção, sofisticando a produção para torná-la ainda mais competitiva;
5) Comaumento nos lucros, dá-se um processo de concentração do capital, acumulado, a partir de agora, não mais pela burguesia comercial, mas pela burguesia industrial.
Se falamos em produção, não podemos desprezar o fato de que houve também revolução no consumo. Sobre isso é que passaremos a tratar.
Unidade 2 – aula 2:
As muitas revoluções no consumo
	 É inócuo buscar a compreensão do processo de fabricação de mercadorias se não se vincula a este, um esforço para desvendar a própria sociedade de consumo. Tradicionalmente, a história econômica tem se orientado para a investigação do processo de industrialização propriamente dito, sem dar a devida dimensão ao seu outro complementar e necessário, o consumo. No que diz respeito à questão ambiental, constata-se que este é, na base, um problema advindo do consumo: ou seja, remete às nossas práticas cotidianas e à nossa maneira peculiar de satisfazer as nossas necessidades e de nos relacionar com o meio ambiente circundante.
	Mas, afinal, o que é consumo? Consumir significa alimentar um determinado sistema, individual ou coletivo, econômico, administrativo, natural ou mecânico para que este possa continuar funcionando adequadamente. O corpo humano, por exemplo, é um sistema complexo de células, órgãos e tecidos, que necessita produzir a síntese de uma série de nutrientes animais para permanecer vivo. Já a sociedade, ela também é um sistema complexo, que precisa, da mesma maneira, consumir determinados bens para continuar funcionando. Por exemplo, na sociedade contemporânea, a energia elétrica é um item indispensável de consumo, bem como a água, ou os serviços públicos de justiça, administração, segurança, esgoto, etc. Uma empresa, que também é um sistema precisa consumir, digamos, matéria-prima para continuar a produzir as suas mercadorias; um computador precisa de dados, etc.
	Perceba que cada sistema possui determinadas necessidades específicas de consumo, em razão de sua própria natureza. E, o que é mais interessante, estas necessidades todas terão que ser satisfeitas, de maneira direta ou não, através de recursos naturais. A vida natural é, na realidade, um sistema que só existe em função do próprio ambiente circundante. A sociedade, vista como uma “vida coletiva” é, da mesma maneira, retro alimentada, em grande parte dos casos, dos recursos naturais, mesmo que modificados a ponto de servirem a uma amplitude maior de pessoas. As indústrias precisam de matérias-prima. Somente aqueles sistemas inovadores, fundados na economia do conhecimento, é que podem dar-se ao luxo de, pelo menos em parte, abrir mão do ambiente como o alimentador primário do sistema.
	Há, contudo, uma diferença radical entre os sistemas naturais e os sistemas culturais no que se refere ao consumo. Um sistema natural como, por exemplo, uma colméia, nunca ameaça o ambiente do qual satisfaz as suas necessidades para manutenção da vida, reprodução e perpetuação da espécie. Já um sistema cultural pode, muitas vezes, buscar alterar o ritmo natural para melhor garantir a satisfação das suas necessidades. Já vimos inúmeros casos neste sentido e facilmente se conclui que, sendo apenas o homem um ser capaz de transformar o ambiente no qual vive, necessariamente será o único agente capaz de promover o desequilíbrio do próprio ambiente. No caso, como elucidamos anteriormente, a sociedade, de uma maneira ou de outra, necessita da promoção deste desequilíbrio (a agricultura, por exemplo, é uma forma de desequilíbrio natural imposto pelo homem, para o seu benefício). O que preocupa a existência do sistema (no caso, da sociedade humana) é, não somente os extremos do desequilíbrio ambiental, como também a não sustentabilidade desta relação produção – consumo.
	Se, durante toda a existência da espécie humana não houve qualquer ameaça mais relevante à integridade do meio natural, por que afinal, este é um problema recorrente nos dias de hoje? Só pode ter ocorrido uma mudança substancial nos padrões de consumo da sociedade e dos seus parâmetros de relação com o meio ambiente. É preciso poder localizar no tempo este fenômeno: o da insustentabilidade da nossa civilização que compromete exaurir completamente todos os recursos naturais disponíveis ameaçando, não somente toda a vida social, como também a existência mesmo da vida.
	No cerne deste problema está a questão do consumo. Em algum momento no tempo desenvolvemos um comportamento de consumo que não mais se coaduna com os recursos disponíveis. Vamos tentar então, seguir estas pistas, na tentativa de compreendermos melhor o surgimento deste fenômeno.
	As transformações que levaram a esse desequilíbrio provocado pelo aumento drástico do consumo só podem ser encontradasna origem do sistema capitalista como um todo. É preciso, então, apontar as fases mais significativas deste processo:
Período um: fase pré-capitalista.
Produção de mercadorias e seu consumo são realizados localmente;
Inexistência de uma rede constante de trocas comerciais entre lugares distantes;
Necessidades de consumo estão ao nível da própria sobrevivência, para a maior parte da população. As elites econômicas, sociais e políticas, têm acesso a uma gama maior de mercadorias, vindas de lugares distantes, que passam por exóticas, são caras e disponíveis em pequenas quantidades.
Baixíssimo valor tecnológico das mercadorias produzidas, baixíssimo custo da energia para produzi-las, basicamente de origem humana e animal (tração).
Período dois: primeira revolução comercial (séculos XIV a XVI).
	As mercadorias produzidas localmente satisfazem apenas as necessidades da massa da população marginalizada do sistema econômico;
	Reservas de mercadorias de pequena oferta local e grande valor econômico para as elites e para o comércio (mel, carne de gado, farinha de trigo refinada, vinho, madeira, carne de caça, âmbar, bebidas destiladas, azeite). A massa da população tem que se contentar com mercadorias de menor valor (açúcar de beterraba, carne de galinha, farinha de trigo grossa, cerveja).
	Necessidades de consumo das massas trabalhadoras apenas ao nível da própria sobrevivência. As elites econômicas, sociais e políticas têm acesso a uma gama maior de mercadorias, vindas de lugares distantes e caras, porém cada vez mais acessíveis.
	Baixíssimo valor tecnológico das mercadorias produzidas, baixíssimo custo da energia para produzi-las. Utilização de novas fontes de energia, como os ventos (aplicados, principalmente nos moinhos) e a força motriz dos rios. Entretanto, a tração animal e humana continua sendo largamente utilizada, embora através de novas tecnologias que aumentam a produtividade (como o arado, a segadeira mecânica, etc).
Período três: segunda revolução comercial (séculos XVI e XVII).
	As mercadorias produzidas localmente satisfazem as necessidades da massa da população, embora, cada vez mais precariamente, pois o aumento da população diminui a disponibilidade de alimentos. Início da agricultura comercial, fundamentada na grande propriedade e na monocultura.
	Privilégios de consumo de certas mercadorias continuam vigorando.
	Incremento das trocas comerciais provocadas pelas grandes navegações. Produtos e mercadorias passam a circular com mais eficácia, alcançando novos mercados consumidores.
	Surgimento das classes médias na Europa, formada por setores ligados à burocracia do Estado, às profissões liberais, ao comércio e aos pequenos proprietários que conseguem consumir não somente as mercadorias produzidas localmente, como também as mercadorias produzidas em outros continentes.
	Fortalecimento do sistema manufatureiro, barateando a produção de determinados produtos de consumo não-duráveis (sapatos, rendas, roupas, bebidas, utensílios domésticos, ferramentas simples), e, conseqüentemente, ampliando a faixa de consumo. Maior agregação de valor das mercadorias produzidas, pela inovação tecnológica e pelos custos do trabalho assalariado.
	Consumo de energia vinculado ainda à força motriz de ventos, rios e da própria tração animal.
Período quatro: primeira revolução industrial (1750-1850).
	Divisão Internacional do Trabalho entre países industrializados e países agrários. Entre ambos há uma relação de subordinação econômica.
	A produção de mercadorias se orienta dentro de uma lógica maior que articula o sistema de trocas entre as nações. As mercadorias industrializadas são impostas a todos os mercados dos países agrários, mesmo àquelas que possuíam algum tipo de manufatura (como, no caso, a Índia). Já as nações agrárias vendem as matérias-primas essenciais à produção de mercadorias dos países industrializados. Como muitos países agrários são colônias (África e Ásia) ou dependentes econômicos dos países industrializados (América Latina) esta relação é deficitária.
	Os privilégios de consumo baseados nos direitos de nascimento são abolidos. Na realidade, agora, os privilégios baseiam-se apenas na capacidade do indivíduo de comprar.
	O comércio internacional é uma estrutura vital ao desenvolvimento do sistema econômico. Há um grande desenvolvimento do setor de transportes, principalmente em função da adoção do calor como fonte de energia (máquinas a vapor).
	A revolução industrial é uma revolução no campo da produção e do consumo. As mercadorias industrializadas são mais baratas, melhores e mais duráveis, dominando todo o mercado consumidor. 	As mercadorias industrializadas têm grande agregação de valor advinda da revolução tecnológica, enquanto isso, os produtos agrários continuam com baixo valor tecnológico agregado. 
	Primeiros problemas advindos da poluição ambiental (água e ar). As indústrias lançam ao ar toneladas de fuligem (que é o resíduo da queima do carvão mineral), debilitando a saúde dos trabalhadores e das pessoas que conviviam no mesmo espaço físico. A busca pelo lucro, faz com que as indústrias optem em manter baixos os salários dos trabalhadores, gerando uma realidade de miséria e opressão em que, quem produz não tem condições de consumir.
	Urbanização se torna uma realidade nos países industriais e com ela, uma série de problemas correlatos: proliferação do lixo, más condições de higiene dadas pelo rápido crescimento populacional, exclusão social gerando violência, contaminação das fontes de água por mercúrio e outros metais pesados, desaparecimento das florestas.
	Consumo de energia baseada na queima do carvão mineral (energia termoelétrica).
Período cinco: segunda revolução industrial (1850-1929).
	Aumenta a distância entre os países industrializados e os países agrários. Novos países entram no seleto clube dos países iundustrializados, como a Alemanha e os Estados Unidos. Os países industriais são “potências militares” que reforçam os laços de dominação econômica em relação aos demais países.
	As nações industrializadas, através de suas companhias, passam a competir pelo mercado consumidor, bem como pela posse de colônias que possam fornecer matérias primas para a produção. Os países agrários vão se especializando em determinados produtos, trocando a produção de alimentos por matérias primas.
	O consumo de mercadorias industrializadas já é uma realidade na maior parte dos países, embora as classes trabalhadoras consumam abaixo de suas necessidades em razão do baixo salário que recebem.
	A rede de ferrovias se expande por todo o mundo, facilitando o comércio de mercadorias.
	A Europa se torna o primeiro continente urbanizado do planeta.
	Novas tecnologias de comunicação (rádio, telégrafo, telefone) encurtam as distâncias e tornam o sistema econômico cada vez mais coeso. Novas fontes de energia são testadas, principalmente a energia elétrica gerada por diferentes matrizes (rios, ventos, carvão), aumentando a velocidade da produção de mercadorias e a jornada de trabalho.
	Surgimento de novos materiais utilizados na construção civil, como o aço, o que aumenta a demanda por minérios. Início da indústria automobilística, utilizando largamente o petróleo como combustível, o que aumenta a poluição ambiental nas grandes cidades.
	Lentamente, as classes trabalhadoras dos países industrializados são incorporadas ao mercado consumidor. O processo se deu, inicialmente, nos Estados Unidos, o que garantiu a esse país a dianteira da produção e do consumo de mercadorias.
	A disputa entre os países por matérias primas (e, consequentemente por colônias) gera as primeiras grandes disputas militares do mundo industrial: a I Guerra Mundial (1914-1918) e a II Guerra Mundial (1939-1945). Entre elas ocorre a primeira grande crise do consumo e da especulação financeira: o crack da bolsa de Nova Iorque (1929).
Período seis: revolução tecno-industrial (1945-1973)
	Esta é a fase de maiorexpansão do sistema capitalista, que praticamente se torna hegemônico em todo o mundo, à exceção dos países do bloco socialista. Entretanto, tanto o bloco capitalista quanto o socialista vêem sua produção industrial aumentar e, no mesmo caminho, o consumo de bens industriais.
	A classe média torna-se maioria nos países desenvolvidos. Sua maior característica é a de ancorar-se num sistema de consumo poderoso. Bens duráveis passam a fazer parte de seu cotidiano de consumo: o automóvel se populariza, o gasto com energia aumenta consideravelmente, bem como o consumo de água. Grandes obras de infraestrutura têm de ser construídas para atenderem às expectativas de consumo da classe média.
	Nos Estados Unidos, particularmente, o comportamento de consumo da classe média torna-se, por assim dizer, o ideal de felicidade exportado para todas as demais nações: é o American Way of Life, ou seja, o estilo americano de viver, que pressupõe a disponibilidade de todo o conforto possível, o consumo irresponsável e, como conseqüência a devastação irreparável de todos os recursos naturais possíveis.
	Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos colaboram na reconstrução da Europa Ocidental através do Plano Marshall. Estas nações passam a copiar o modelo americano de consumo e têm, da mesma maneira, que operar imensos gastos em infraestrutura para a satisfação das necessidades de uma nova classe média.
	Lentamente, o processo de industrialização também alcançará os países do chamado “terceiro mundo”, inclusive o Brasil. Grandes transformações demográficas mudarão a face destes países, inclusive com a exploração irresponsável dos recursos naturais disponíveis.
	O problema da poluição passa a atingir extensas áreas do planeta, principalmente na União Soviética, no Japão, na Europa Ocidental e no norte dos Estados Unidos. A contaminação dos rios e do ar, o esgotamento das florestas em razão da agricultura mecanizada já era uma realidade nesses países na década de 1960. Nos países subdesenvolvidos, principalmente a partir da década de 1970, o problema vai se repetir a ponto de, um país como o Brasil, contar com a mais poluída cidade do mundo, Cubatão, no estado de São Paulo.
Período sete: revolução tecno-informática (1973 - )
	O período em que vivemos é marcado, no campo da produção e do consumo, por três características básicas. A crise do petróleo desencadeada a partir de 1973 faz com que haja uma radical transformação na maneira de produzir as mercadorias e, por conseqüências, de consumi-las também.
	Primeira característica: busca de maior eficiência na produção, eliminando desperdícios e buscando fontes alternativas de energia que não baseadas no petróleo ou nos seus derivados.
	Segunda característica: processo de unificação dos mercados globais, denominado de globalização. Os interesses das grandes corporações agora afetam o mundo inteiro, facilitado pelo avanço nas tecnologias de informação e de transporte.
	Terceira característica: naturalização do consumo e formação de uma sociedade baseada nele. A isto chamamos de consumismo, ou seja, os padrões de comportamento e de satisfação pessoal agora são ditados pelo consumo de mercadorias que se expande a um nível global nunca visto.
	Como conseqüência do consumo excessivo experimentamos as graves crises ambientais. Em primeiro lugar, o lixo e o desperdício; em segundo lugar, a poluição ambiental e em terceiro lugar, a queda na qualidade de vida das pessoas, principalmente as que vivem em grandes cidades.
Unidade 2 – aula 3.
As muitas revoluções demográficas
	Tendo em vista que a população humana da Terra supera hoje os seis bilhões de habitantes, faz-se necessário compreender a sua dinâmica e seu impacto para o meio ambiente. Sabe-se que um dos fatores primordiais para a chamada crise ambiental está relacionado ao aumento drástico da população mundial. Queremos, então, compreender as razões pelas quais a população mundial alcançou o incrível patamar de hoje em dia e quais são as perspectivas de futuro: este número não parará de crescer jamais? Os recursos naturais, já escassos, terão como suportar um aumento drástico no consumo? Quais seriam as conseqüências para a qualidade de vida das pessoas?
	Nosso primeiro tema diz respeito à chamada transição demográfica. Mas, o que é “transição demográfica”? Na realidade, é uma teoria populacional elaborada pelo geógrafo americano Warren Thompson em 1929. Thompson buscava explicar, mediante um modelo científico as razões pelas quais a população norte-americana havia crescido tanto nos últimos cem anos. Acabou também, de maneira complementar, explicando o processo de transição de uma sociedade agrária tradicional para uma sociedade industrial. A teoria de Thompson está alicerçada em quatro estágios. Hoje fala-se num quinto estágio. Vamos então, a eles.
	
	A primeira fase da demografia humana (fase 1) corresponde a todo o período da história da humanidade anterior à Revolução Industrial. Nesta primeira fase, a população manteve-se estável em 1 bilhão de pessoas. São suas características:
A esmagadora maioria da população vivia no campo, da agricultura. Os núcleos urbanos, além de raros, eram meros apêndices do campo (vilas, povoados);
Havia uma necessidade permanente de mais braços para a lavoura. Quanto mais filhos um casal tivesse tanto melhor, pois esta seria uma garantia, não só de sobrevivência, mas também de um pouco de conforto na velhice. Neste sentido, perceba-se: a taxa de natalidade (nascimentos) era muito alta, sendo comuns famílias com mais de dez filhos. Outros fatores de ordem cultural (preceitos religiosos, fertilidade feminina, masculinidade relativa à quantidade de filhos, falta de conhecimento dos métodos contraceptivos) ajudavam também a manter esta taxa alta.
Entretanto, apesar do número exagerado de nascimentos, havia também uma mortalidade muito alta. Vários fatores contribuíam para isto, entre eles: inexistência de uma prática médica científica; falta de higiene; guerras; fomes; epidemias; etc.
O resultado da equação só pode ser um: um baixo crescimento vegetativo. Muitos nascem, mas também muitos morrem, resultado: não há crescimento.
Taxas de natalidade em torno de 40 ou 50 por mil habitantes; 
Taxas de mortalidade em torno de 40 ou 50 por mil habitantes.
Não há mais nenhum país no mundo experimentando essa fase.
	A segunda fase da demografia humana (fase 2) corresponde ao momento em que essas sociedades agrárias começam a se urbanizar e a economia, a se industrializar. É bom perceber que nem todas as sociedades humanas passaram por esta fase ao mesmo tempo, mas cada uma de acordo com a sua própria dinâmica histórica. A Inglaterra, por exemplo, viveu a fase 2 no final do século XVIII; o Brasil nas décadas de 1960 a 1980; os países africanos e asiáticos ainda estão passando por ela. São suas características:
Os avanços na medicina começam a propiciar uma melhora nos índices de mortalidade. A primeira grande descoberta médica que diminuiu a mortalidade foi a penicilina, um tipo de antibiótico. Depois, vieram as vacinas, o que mitigou o avanço de epidemias. Ainda há as práticas disseminadas de higiene, o avanço do saneamento básico, o acesso à água tratada. As pessoas deixam de morrer por causas banais, embora a guerra e a fome ainda pudessem manter a mortalidade alta.
Geralmente, nesta fase, tem início à urbanização. É a urbanização que facilita o acesso das pessoas a todo conhecimento médico e sanitário: campanhas de vacinação, água potável, coleta de lixo, captação de esgoto. Melhora a qualidade de vida. Aumenta a expectativa de vida, ou seja, vive-se mais anos.
Por outro lado, as pessoas continuam a ter muitos filhos, como faziam no passado. Vários fatores contribuem para esta prática, principalmente as de caráter cultural. Muitas pessoas, apesar de já viverem nas cidades, ainda estão ligadas à cultura tradicional do campo. Neste caso, não têm nenhuma consciência do que seja planejamento familiarou métodos contraceptivos. E ainda valorizam certas práticas, como a masculinidade relativa à quantidade de filhos, ou a feminilidade relativa à fecundidade.
O resultado da equação: explosão populacional. Menos pessoas morrem. Mais pessoas nascem (natalidade 30 a 50 por mil / mortalidade: 20 a 12 por mil).
	A terceira fase da demografia humana (fase 3): esta é a fase de estabilização do crescimento. Pouco a pouco, as novas gerações vão se dando conta da impossibilidade de manterem o antigo estilo de vida de seus pais, produzindo uma imensa prole. Já não é mais necessário economicamente, ter cinco ou seis filhos, já que não representam mais braços para a lavoura. Como na fase anterior, a população se tornou muito jovem, a competição entre as pessoas por emprego, moradia e educação é muito acirrada. Daí se diminuir também o número de filhos por casal. Dois filhos por casal significa que o casal apenas está repondo a população. O Brasil está vivendo o final da fase 3. São suas características:
Mortalidade em queda constante, principalmente a mortalidade infantil e materna. Campanhas de vacinação imunizam grandes parcelas da população. Melhora o acesso aos remédios e aos hospitais. As pessoas adquirem informação sobre temas médicos e iniciam um planejamento familiar.
Natalidade em queda, embora residual: com a vida urbana, a competitividade por empregos, salários, bens se torna mais acirrada. As pessoas passam a ter filhos mais velhas. Novamente, o custo para manter um filho é alto, daí o casal ter poucos filhos. Contribui ainda, para isso, nas sociedades modernas, a fragilidade do casamento e das uniões heterossexuais, que duram poucos anos, gerando obviamente, menos filhos.
Resultado: taxa de crescimento em declínio, embora alto, já que a mortalidade cai mais rápido que a natalidade. Natalidade: 30 a 20 por mil / Mortalidade: 7 a 5 por mil.
	A quarta fase da demografia humana (fase 4): o crescimento populacional começa a diminuir e alcançar taxas próximas a zero. Ou seja, a população do país torna-se estável, embora em níveis muito altos. Quase ninguém tem mais de dois filhos e além disso, há muitas pessoas que vivem sozinhas e não geram família. O Brasil está entrando na fase 4. São suas características:
* A mortalidade por epidemias, na infância, na gravidez e no parto são baixas. A expectativa de vida cresce cada vez mais.
* A natalidade também é baixa e os casais têm, no máximo, dois filhos.
* Resultado: estagnação da população.
	A quinta fase da demografia humana (fase 5): aqui, novamente, começa o desequilíbrio, mas de maneira inversa. As pessoas vivem muito, mas os casais têm um só filho, diminuindo o tamanho da população. Nesta fase, a população, além de diminuir de tamanho, começa a envelhecer. Poucos são os jovens. Já há países, como o Japão e a Alemanha, que vivem esse processo e precisam recorrer a outros expedientes para manter o número de pessoas trabalhando e contribuindo para a previdência social, já que são muitos os aposentados e poucos os que trabalham. São suas características:
Altíssima expectativa de vida, fazendo com que o número de idosos cresça;
Baixíssima natalidade, fazendo com que o número de jovens diminua;
Resultado: decréscimo populacional.
Terceira Unidade: Ética Ambiental e estudos sócio-ambientais.
	Nesta unidade vamos estudar os temas relativos à ética ambiental, relacionando-os com os estudos sócio-ambientais clássicos. Na primeira aula, veremos o surgimento dos estudos ambientais a partir de duas correntes tradicionais: o malthusianismo e o darwinismo social; em seguida, vamos desenvolver o tema a partir de uma reflexão acerca da demografia e de suas interações ambientais; e, finalmente, na última aula desta unidade, vamos conhecer os mais diversos ramos da ética ambiental.
Unidade 3 – aula 1
Malthusianismo e Darwinismo social: os primeiros estudos ambientais.
	Não deixa de ser interessante notar que os primeiros estudos ambientais tenham surgido exatamente no século XIX, ou seja, no momento em que a industrialização produzia a primeira grande crise ambiental de que se tenha notícia.
	Ou seja, seguindo as radicais transformações operadas na natureza pela economia industrial, surgiram os estudos ambientais. Disso podemos concluir que a reflexão acerca do meio ambiente é tão antiga quanto a crise ambiental moderna.
	Nesta aula, iremos, de maneira resumida, apresentar os dois primeiros estudos sócio-ambientais de que se tem notícia. O primeiro apresenta as idéias do economista inglês Thomas Malthus, que tiveram forte repercussão em sua época e que, parece voltar com força também no nosso tempo. E o segundo apresenta a corrente de pensamento denominada de Darwinismo Social que nada mais é do que uma apropriação das idéias do evolucionismo de Charles Darwin aplicadas na sociologia.
	
1. O Malthusianismo:
Thomas Robert Malthus (1766-1834) foi um emérito economista inglês, da escola neoclássica. Foi professor da Universidade de Cambridge e pertenceu à várias associações intelectuais e literárias. Suas idéias mais importantes estão na obra Ensaio Sobre a População (1798), obra que o fez conhecida no mundo inteiro. 
	Malthus viveu a Revolução Industrial nos seus impulsos iniciais. Mas apenas esses movimentos foram capazes de fazer com que percebesse as radicais transformações que estavam por vir. Preocupava-se, principalmente, com as imensas aglomerações humanas nas cidades, fazendo com que a qualidade de vida de seus habitantes ficasse cada vez pior. Por outro lado, se as cidades cresciam, o campo se esvaziava. Com menos gente trabalhando na lavoura, havia menos alimento. E, menos alimento, fazia com que o seu preço subisse. Assim, a situação de pobreza do operário se agravava, pois a alimentação ficava cada vez mais escassa.
	Desse desequilíbrio entre a produção de alimentos e o aumento populacional, Malthus enunciou a sua famosa “lei”: “Enquanto a população cresce numa taxa geométrica, a produção de alimentos cresce numa taxa aritmética”. Ou seja, vamos dizer que a população cresce num ritmo: 2.000 x 4.000 x 8.000 x 16.000 x 32.000, neste caso, a produção de alimentos cresceria em 1.000 x 2.000 x 3.000 x 4.000, etc.
	O grande problema ambiental moderno, para Malthus, era de caráter demográfico. Enquanto a população crescesse num ritmo muito intenso, haveria pobreza. Havendo alimento disponível e suficiente, a tendência de qualquer animal é de se reproduzir a taxas altíssimas. E o homem não era exceção. Mas, segundo ele, quando a oferta de alimento fosse mínima, as taxas de crescimento populacional deveriam diminuir “naturalmente”, ou seja, as pessoas deixariam de ter filhos. Isso no entanto, não resolveria o problema inicial: a da eterna defasagem entre crescimento populacional e produção de alimentos.
	As profecias de Malthus, felizmente, não se cumpriram.
	Nenhuma medição estatística conseguiu provar a sua tese. A produção de alimentos, muitas vezes, cresce a uma taxa superior à população de um determinado país, tendo em vista as novas tecnologias de manipulação genética, de fertilização, de controle de pragas, de mecanização da produção agrícola. Ao mesmo tempo, a população mundial, pelo menos na Europa, no Japão, nos Estados Unidos e na América Latina parece estar crescendo a taxas cada vez mais baixas, mesmo com uma oferta maior de alimentos.
	Já não era tempo, enfim, de mandar as velhas teses de Malthus para a lixeira?
	Acontece que as idéias de Malthus têm sido recuperadas por alguns demógrafos e economistas recentes. Segundo eles, a agricultura moderna pode estar chegando no limite de sua produtividade, tendo em vista o tamanho absurdo da população mundial. Esta agricultura ultramoderna, por exemplo, já trabalha com alimentos transgênicos, ou seja, geneticamente modificados, resistente a bactérias e a predadores. A alimentação da maioria

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