Buscar

REVISTA IBDFAM 23 FAMILIAS NOSSAS DE CADA DIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EDIÇÃO 23
Out / Nov de 2015
Fechamento autorizado
Pode ser aberto pela ECT
Esta edição aborda alguns dos temas mais marcantes da décima edição 
do Congresso Brasileiro de Direito de Família
FAMÍLIAS NOSSAS DE CADA DIA
ENTREVISTA
Ministro Edson Fachin (STF) comenta 
como as mudanças na família afetam 
o Judiciário
pág. 5
NOTÍCIAS
Veja o que foi destaque nos 
dois dias do evento
pág. 7 Confira todos os Enunciados do IBDFAMpág. 19
Há 18 anos construindo uma nova história 
para as famílias brasileiras.
Acompanhe no Facebook os depoimentos
de quem faz parte dessa transformação.
www.facebook.com/ibdfam
3
EXPEDIENTE
Durante dois dias, mais de mil congressistas assistiram a 60 
palestras distribuídas em 24 painéis, no X Congresso Brasileiro 
de Direito de Família, em Belo Horizonte (MG). Foram cerca 
de mil e quinhentos minutos de palestras, um número grande 
para representar um grande evento, já consolidado como o 
maior da área na América Latina. Um momento único, que 
transcendeu todas as expectativas do público presente e da 
organização.
Além do debate doutrinário e da intensa troca de saberes e 
de experiências, o evento foi marcado pela indignação coletiva 
diante do retrocesso legislativo que se avizinha no Congresso 
Nacional, pautado por uma agenda conservadora e retrógrada, 
que usa a religião como subterfúgio para empurrar goela 
abaixo da sociedade projetos de lei que excluem direitos já 
reconhecidos. 
O Sistema ONU no Brasil acompanha com preocupação a 
tramitação da Proposição Legislativa que institui o Estatuto da 
Família (PL 6583/2013), especialmente quanto ao restritivo, 
discriminatório e excludente conceito de família e seus 
impactos para o exercício dos direitos humanos.
Em nota, a ONU diz que “é importante assegurar que outros 
arranjos familiares, além do formado por casal heteroafetivo, 
também sejam igualmente protegidos (unipessoal, casal com 
filhos, casal sem filhos, mulher/homem sem cônjuge e com 
filhos, casais homoafetivos com ou sem filhos, dentre outros), 
como parte dos esforços para eliminar a discriminação. Negar 
a existência destas composições familiares diversas, para além 
de violar os tratados internacionais, representa uma involução 
legislativa”.
Enquanto isso, o Estatuto das Famílias - no plural- (PLS 
470/2013) de autoria do IBDFAM, continua tramitando com o 
objetivo de atualizar a legislação brasileira sobre Direito das 
Famílias. A proposta compreende todas as reais formas de 
composição familiar e suas implicações.
O IBDFAM comemora este ano a sua maioridade e junto 
com seus membros está cada vez mais comprometido na 
atuação contra este e todos os demais projetos que tentam 
impedir o progresso legislativo. Reiterando nosso objetivo 
estatutário em favor da garantia dos direitos das famílias – 
nossas de cada dia. 
EDITORIAL
TODOS JUNTOS SOMOS FORTES
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Rodrigo da Cunha Pereira (MG)
Vice-Presidente: Maria Berenice Dias (RS)
Primeiro-Secretário: Rolf Madaleno (RS)
Segundo-Secretário: Rodrigo Azevedo Toscano de Brito (PB)
Primeiro-Tesoureiro: Antônio Marcos Nohmi (MG)
Segundo-Tesoureriro: Jose Roberto Moreira Filho (MG)
Diretor do Conselho Consultivo: Jose Fernando Simão (SP)
Diretor de Relações Internacionais: Paulo Malta Lins e Silva (RJ); 1º Vice: Cássio Sabbagh Namur 
(SP), 2ª Vice: Adriana Antunes Maciel Aranha Hapner (PR); Secretária: Marianna de Almeida Chaves 
Pereira Lima (PB)
Diretora de Relações Interdisciplinares: Giselle Groeninga / SP
Superintendente: Maurício Santos
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Diretor Norte: Zeno Veloso (PA); 
Diretor Nordeste: Paulo Luiz Netto Lôbo (AL)
Diretora Centro-Oeste: Eliene Ferreira Bastos (DF)
Diretora Sul: Ana Carla Harmatiuk (PR)
Diretora Sudeste: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP)
COMISSÕES
Científica: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP); Vice: João Batista de Oliveira 
Cândido (MG); Direito das Sucessões: Zeno Veloso (PA); 1ª vice: Tatiana de Almeida Rego 
Saboya (RJ); 2º Vice: Flavio Murilo Tartuce Silva (SP); Mediação: Suzana Borges Viegas 
de Lima (DF); Vice: Ana Gerbase (RJ); Infância e Juventude: Melissa Telles Barufi (RS); 
Vice: Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade Maciel (RJ); Idoso: Tânia da Silva Pereira (RJ); 
Jurisprudência: Viviane Girardi (SP); Assuntos Legislativos: Mário Luiz Delgado Regis 
(SP); 1º Vice: Érika de Barros Lima (PE); 2º Vice: Ricardo Lucas Calderón (PR); Gênero 
e Violência Doméstica: Adélia Moreira Pessoa (SE); Vice: Ana Florinda (AL); Notários e 
Registradores: Priscila de Castro Teixeira Pinto Lopes Agapito (SP); Vice: Karin Regina 
Rick Rosa (RS); Estudos Constitucionais da Família: Gustavo José Mendes Tepedino (RJ); 
Vice: Ana Luiza Maia Nevares; Ensino Jurídico de Família: Waldyr Grisard Filho (PR); 
1º vice: Fabiola Albuquerque Lôbo (PE); 2º Vice: Marcos Alves da Silva (PR); Relações 
Acadêmicas: Marcelo Luiz Francisco Bürger (PR); 1º Vice: Ulisses Lacerda Moraes (MT); 
2º Vice: Luiz Geraldo do Carmo (PR); Direito Homoafetivo: Patrícia Cristina Vasques de 
Souza Gorisch (SP); Vice: Vladimir Fernandes Mendonça Costa (SP); Adoção: Silvana 
do Monte Moreira (RJ); Advogados de Família: Marcelo Truzzi Otero (SP); Vice: Aldo de 
Medeiros Lima Filho (RN); 2º Vice: Daniel Blikstein (SP); Magistrados de Família: Jones 
Figueiredo Alves (PE); Vice: Andréa Maciel Pachá (RJ); Promotores de Família: Cristiano 
Chaves de Farias (BA); Defensores Públicos da Família: Karinne Matos (CE); Direito 
Previdenciário: Melissa Folmann (PR); Direito de Família e Arte: Ana Maria Gonçalves 
Louzada (DF); Vice: Fernanda Leão Barreto (BA); Comissão da Pessoa com Deficiência: 
Cláudia Grabois Dischon (RJ); Vice: Katya Maria de Paula Menezes Monnerat (RJ).
DIRETORIAS ESTADUAIS
REGIÃO NORTE: ACRE - Presidente: Eronilço Maia Chaves; AMAPÁ - Presidente: Nicolau 
Eládio Bassalo Crispino; AMAZONAS -Presidente: Gildo Alves de Carvalho Filho; PARÁ 
-Presidente: Maria Célia Nena Sales Pinheiro; RONDÔNIA -Presidente: Raduan Miguel 
Filho; RORAIMA - Presidente: Neusa Silva Oliveira; TOCANTINS - Alessandra Aparecida 
Muniz; REGIÃO NORDESTE: ALAGOAS - Presidente: Ana Florinda Mendonça da Silva 
Dantas; BAHIA - Presidente: Alberto Raimundo Gomes dos Santos; CEARÁ - Presidente: 
Angela Maria Sobreira Dantas Tavares; MARANHÃO - Presidente: Bruna Barbieri 
Waquim; PARAÍBA - Presidente: Dimitre Braga Soares de Carvalho; PERNAMBUCO - 
Presidente: Luciana da Fonseca Lima Brasileiro; PIAUÍ - Presidente: Isabella Nogueira 
Paranaguá de Carvalho Drumond; RIO GRANDE DO NORTE - Presidente: Suetônio 
Luiz de Lira; SERGIPE - Presidente: João Alberto Santos de Oliveira; REGIÃO CENTRO-
OESTE: DISTRITO FEDERAL -Presidente: Ana Maria Gonçalves Louzada; GOIÁS - 
Presidente: Maria Luiza Póvoa Cruz ; MATO GROSSO - Presidente: Angela Regina Gama 
da Silveira Gutierres Gimenez; MATO GROSSO DO SUL - Presidente: Paula Guitti Leite; 
REGIÃO SUDESTE: ESPÍRITO SANTO - Presidente: Thiago Felipe Vargas Simões; MINAS 
GERAIS - Presidente: Silvio Augusto Tarabal Coutinho; RIO DE JANEIRO- Presidente: 
Luiz Cláudio de Lima Guimarães Coelho; SÃO PAULO - Presidente: Sérgio Marques 
da Cruz Filho; REGIÃO SUL: PARANÁ - Presidente: Adriana Antunes Maciel Aranha 
Hapner; RIO GRANDE DO SUL - Presidente: Conrado Paulino da Rosa; SANTA CATARINA 
- Presidente: Mara Rúbia Cattoni Poffo.
REVISTA IBDFAM
A Revista IBDFAM é publicada pela Assessoria de Comunicação Social do Instituto 
Brasileiro de Direito de Família
Redação: Luana Edwiges (Estagiária), Maran Oliveira e Thaís Pontes 
Editora: Maran Oliveira
Gerente de Marketing e Comunicação: Silvana Terenzi Neuenschwander 
Capa e Diagramação: Bruno Santos e Francisco Couret (Estagiário)
Revisão: Pedro Vianna
Projeto gráfico: Agência Reciclo
Assessoria Jurídica: Ronner Botelho, Luma Francielle (Estagiária) e Thaís Souto 
(Estagiária)
Tiragem: 6000 exemplares
Periodicidade:Bimestral
Distribuição: gratuita, aos sócios do IBDFAM. Os artigos assinados são de 
responsabilidade de seus autores
Atendimento ao associado: (31) 3324-9280
Para anunciar: (31) 3324-9280
4
CREDITOS
CRISTIANO CHAVES DE FARIAS:
“Nunca se discutiu e se debateu tanto um ramo da ciência jurídica como o Direito de 
Família. Nenhum outro ramo do Direito, em tão pouco tempo, conseguiu evolução ta-
manha. Nenhum outro ramo conseguiu implementar tantas mudanças legislativas e ju-
risprudenciais e doutrinárias como o Direito de Família. Toda essa ebulição se dá por 
conta do pioneirismo, do compromisso institucional que o IBDFAM tem com a melho-
ria da sociedade brasileira, com a melhoria da situação familiar de todos nós neste país” 
MIN. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA:
“O IBDFAM trouxe um grande desenvolvimento ao Direito de Família no Brasil. As 
pesquisas, os debates, influenciaram muito os tribunais, eu sou testemunha disso. Para-
benizo o IBDFAM, a diretoria e os membros, e que continuem por muitos e muitos anos 
a influenciar positivamente a jurisprudência dos nossos tribunais”.
ROLF MADALENO:
“Eu me sinto como se eu fosse também um pai desta criança. Desta criança que hoje 
tem uma multiparentalidade. É um filho de todos nós que no dia em que, há 18 anos, foi 
criado e nasceu o IBDFAM. Acho que todos hoje nos sentimos realizados e extrema-
mente felizes. Porque o nosso filho criou maturidade, personalidade e se tornou isso que 
ele hoje é. Uma instituição de reconhecido valor, de prestígio e, sobretudo, que presta 
um trabalho, um serviço à sociedade, aos tabelistas e a todo mundo que vive esta paixão 
que é o Direito de Família e o Direito das Sucessões”..
ZENO VELOSO:
“Esse congresso do IBDFAM é o congresso mais importante de Direito que se realiza 
no Brasil e um dos maiores do mundo, apesar de eu não gostar muito dessa história de 
‘maior do mundo’, mas onde eu ando, no mundo inteiro - e eu ando o mundo - não exis-
te um congresso dessa envergadura”.
O QUE ELES DISSERAM...
Entrevista ............................ pág. 05
Notícias............................... pág. 07
Enunciados ......................... pág. 19
EDIÇÃO ESPECIAL
A imagem de capa desta edição é do artista mineiro Sérgio Lima, que foi responsável 
pelo trabalho de identidade visual do evento. As peças foram criadas com o intuito de 
rememorar a importância de pensar o novo levando em consideração o tempo passado.
5
Em junho deste ano, o então advogado 
Luiz Edson Fachin foi empossado como novo 
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 
Fachin teve seu nome aprovado pelo Senado 
após enfrentar a mais longa sabatina da his-
tória - mais de 12 horas. Advogado de carrei-
ra, ele conquistou notoriedade e respeito nos 
círculos jurídicos por meio de seu trabalho 
nas áreas de Direito Civil e de Família. Há 18 
anos, em uma “comunhão de almas”, como se 
refere aos colegas do IBDFAM, ajudou a fun-
dar o maior instituto de Direito de Família do 
mundo. O ministro discursou na conferência 
de encerramento do X Congresso Brasileiro 
de Direito de Família, onde com bom humor e 
tranquilidade falou por mais de uma hora so-
bre “As Famílias Nossas de Cada Dia”. 
A FAMÍLIA ESTÁ EM CONSTANTE MUTAÇÃO E ES-
TAS MUDANÇAS TRAZEM UMA SÉRIE DE REALIDA-
DES COMPLEXAS QUE, COMO O SENHOR COLOCOU 
DURANTE A PALESTRA, A PRINCÍPIO NÃO ESTÃO 
PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO, NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO OU NA DOUTRINA. DIANTE DE UM CE-
NÁRIO DE TANTAS INCERTEZAS, COMO FAZER JUS-
TIÇA, COMO TOMAR DECISÕES, COMO MANTER A 
SEGURANÇA JURÍDICA E O BEM-ESTAR SOCIAL?
Em momentos em que eventualmente o vento 
sopra mais forte, é fundamental que se navegue 
com serenidade, para que o Poder Judiciário cum-
pra as suas duas funções fundamentais. A primei-
ra, na presença de leis que causam alguma dúvi-
da ou algum tipo de problematização, fazer uma 
interpretação conforme a Constituição e pacificar 
os entendimentos para que as diretrizes constitu-
cionais prevaleçam, porque é a Constituição mes-
ma o elemento fundamental a partir do qual todos 
os juízes, que são, a rigor, juízes da Constituição, 
devem agir. Portanto, esta é a sua primeira dimen-
são. 
A segunda, na ausência de legislação, even-
tualmente na ausência de regra, quando os fatos 
sociais desafiam a compreensão do magistrado, 
o Poder Judiciário, na dimensão da unidade do 
ordenamento jurídico que a Constituição repre-
senta, pelas suas regras e pelos seus princípios, 
que são normas vinculantes, o magistrado pode 
comatar essa lacuna, que é uma lacuna da regra, 
mas nunca será uma lacuna do ordenamento por-
que, havendo princípios constitucionais, por meio 
deles as questões atinentes aos litígios de família 
ou eventualmente as controversas interprivadas, 
de um modo geral, podem ser solvidas. Assim, a 
família, como disse ao final deste importante con-
gresso do Instituto Brasileiro de Direito de Famí-
lia, realiza também a sua dupla dimensão de ser 
um direito, na dimensão de que cada um de nós, 
cada criança, cada adolescente, tem direito a ter 
uma família, tem direito a realizar-se como pessoa 
dentro de uma ambiência de família, e ao mesmo 
tempo que todos nós, especialmente os adultos, 
mas também os jovens, temos deveres, dentre eles 
de cuidado, de zelo, a desempenhar dentro da fa-
mília. 
A família, que é no seu microcosmo uma re-
presentação da sociedade, que é o seu macrocos-
mo, convive com essa dualidade: os direitos pres-
supõem deveres que, a seu turno, pressupõem o 
exercício da cidadania. É nessa ambiência que a 
família tem o papel fundamental de dar estabilida-
de, dar formação, de abrir possibilidades para que 
as pessoas se realizem como sujeitos e, ao mesmo 
tempo, de colocar limites. Porque onde há limite, 
há liberdade e há também responsabilidade.
QUAL SERIA O MELHOR CAMINHO PARA APROXI-
MAR A JUSTIÇA DA REALIDADE?
Há dois caminhos a serem trilhados: um diz 
respeito às formas da prestação jurisdicional, e é 
neste sentido que os juízes de primeiro grau, no 
caso de família, os juízes de família ou em algu-
mas comarcas juízes da infância e da juventude, 
enfim, todos aqueles que têm seus afazeres mais 
diretamente ligados à família, a atividade desses 
magistrados deve ser sobremaneira valorizada 
porque eles estão rente à vida, rente aos fatos, são 
deles o primeiro olhar e a primeira escuta deste 
tipo de litígio e de conflito. Portanto, esse é um 
primeiro horizonte que reputo fundamental no 
Brasil, sem embargo da relevância que têm as 
Cortes superiores, para realizarmos na prestação 
jurisdicional uma chancela da importância dos 
magistrados que estão rente aos fatos, valorizar 
as soluções e, à medida do possível, sem que se 
quebre nenhuma garantia constitucional, estabele-
cer um maior número de filtros recursais para que 
estas decisões sejam efetivamente valorizadas. 
E, de outra parte, é claro que o juiz de hoje 
não é apenas o juiz que encontra todas as soluções 
dos fatos apenas num conjunto de regras já pre-
viamente estabelecidas. As regras previamente es-
tabelecidas são muito importantes. O juiz é, sem 
dúvida nenhuma, um aplicador da lei. Ele deve 
seguir os preceitos na medida em que deve ofere-
cer estabilidade, previsibiliade, mas também deve 
estar apto a trabalhar com a incerteza e a imprevi-
sibilidade. O que nós chamamos, por exemplo, de 
filiação hoje, não chamávamos há 10 ou 20 anos 
atrás. A definição que se tem hoje de parentesco 
não é aquela que se tinha antes da Constituição de 
88. E a obra desta nova compreensão não se deu 
apenas no plano legislativo. Se deu também no 
plano da jurisprudência. E aqui a jurisprudência 
cumpre um papel central de responder de maneira 
viva esses fatos. Portanto, muito antes de criticar 
ENTREVISTA
LUIZ EDSON FACHIN
6
a jurisprudência, nós podemos nos orgulhar da 
prestação jurisdicional que nós temos no Brasilporque é uma prestação jurisdicional que respon-
de aos fatos. E como os fatos obviamente são de-
safiadores, às vezes há oscilações, há ambivalên-
cias, mas o Brasil é um país que no concerto das 
nações modernas desse e do outro lado do Oceano 
Atlântico, pode se orgulhar de ter magistrados que 
não abdicam de suas funções e que enfrentam es-
ses problemas, procurando, na medida do possí-
vel, dar uma solução justa e adequada aos casos 
concretos.
PARA O SENHOR, O QUE SIGNIFICA TER 
PARTICIPADO DA FUNDAÇÃO DO IBDFAM?
Participar da fundação do IBDFAM foi, 
antes de tudo, um ato de comunhão de almas. 
Nós nos reunimos porque havia entre nós um 
conjunto de propósitos em comum, que era 
discutir uma das instituições fundamentais da 
sociedade. O IBDFAM é em tudo e antes de 
tudo um instituto de defesa da família. A família 
na base da sociedade, como aliás proclama a 
Constituição, e foi isso que em meu modo de ver 
o IBDFAM fez nesses 18 anos. Um trabalho de 
discussão e reflexão, pondo em primeiro plano 
no cenário jurídico brasileiro os desafios sobre 
a compreensão e as transformações pelas quais 
a família passou. O Brasil mudou, as relações 
familiares mudaram e o IBDFAM trouxe uma 
contribuição muito grande. Então, estar junto 
nesses 18 anos desde o início do Instituto e até 
agora, embora eu tenha alterado um pouco as 
minhas funções, mas estou aqui nesse congresso, 
é a rigor uma emoção.
QUAL A IMPORTÂNCIA DA EMENDA 
CONSTITUCIONAL 66/2010, PROPOSTA PELO 
IBDFAM, QUE SEPULTOU A SEPARAÇÃO JUDICIAL E 
SIMPLIFICOU O DIVÓRCIO NO BRASIL?
Na verdade, a mudança constitucional que 
se operou pelo poder constituinte derivado, no 
âmbito portanto do poder reformador, procurou 
dar um sentido ao fim da união conjugal. A 
ideia da separação judicial era, a rigor, um 
elemento presente na Lei do Divórcio e derivou 
certamente da conjuntura existente naquele 
momento que dizia respeito a um procedimento 
intermediário entre o casamento e o divórcio. 
Até a lei, designava-se de desquite, e que poderia 
possibilitar ou a terminação ou a reconciliação. 
O que se entendeu na vida contemporânea, com 
esta legislação, pela compreensão de que entre 
o casamento e o divórcio essa etapa já poderia 
não mais fazer sentido. E é assim que tem sido 
interpretada, sem embargo de controvérsia e 
divergência, esta emenda constitucional.
O LEGISLADOR, COM O CPC 2015, DISTORCEU 
A FINALIDADE DA EC 66/2010, RESSUSCITANDO 
A SEPARAÇÃO JUDICIAL. NA VISÃO DO SENHOR 
O CPC JÁ NASCE INCONSTITUCIONAL NESSE 
PONTO?
Na verdade, estamos na vacatio legis. É 
preciso verificar se o texto final que se está 
sancionando será mesmo aquele que entrará 
em vigor, porque há na Câmara dos Deputados 
um conjunto de projetos que alteram. Por 
exemplo: nesta semana, foi aprovado um 
projeto que altera o filtro de admissibilidade 
do recurso extraordinário. Então, é preciso 
antes que se cumpra a vacatio legis, e com uma 
disposição dessa natureza, que na legislação 
infraconstitucional restaura a separação judicial, 
parece-me crível que haverá uma arguição de 
constitucionalidade e aí o STF irá examinar se é 
coerente com a Constituição emendada, da EC 
66/2010, ou se o CPC na verdade vai de encontro 
à orientação que o poder reformador deu. No 
momento oportuno, o Supremo Tribunal Federal 
vai se manifestar. 
O IBDFAM TEM PARTICIPADO NO STF COMO 
AMICUS CURIAE EM IMPORTANTES DECISÕES. 
COMO O SENHOR VÊ ESSA PARTICIPAÇÃO?
Na condição de juiz da Suprema Corte, 
tenho visto e deferido um olhar muito especial 
e compreensivo para a presença dos chamado 
amicus curiae. O amigo da Corte, na verdade, 
desempenha um papel importantíssimo no Estado 
Democrático de Direito naquilo que nós podemos 
chamar de legitimação do procedimento porque, 
na medida em que são ampliados os atores 
que participam do desate de uma determinada 
questão constitucional, a decisão certamente 
se legitima por esse diálogo. Além dos amicus 
curiae, há também as audiências públicas, que 
são outros desses procedimentos e que têm da 
minha parte imenso acolhimento. Logo, não 
só ao nosso IBDFAM, mas também aos outros 
institutos, entidades e associações, eu vejo de uma 
relevância ímpar a participação em litígios na 
Suprema Corte.
ENTREVISTA
7
“A arte existe porque a vida não basta”, 
diz o escritor Ferreira Gullar. Assim, o 
poeta reconhece que existem situações 
que transcendem a nosssa vivência e que 
não podem ser explicadas ou sentidas de 
maneira literal. Com esse espírito, seguiram 
as palestras do painel “Direito de Família, 
práticas inovadoras e suas conexões com arte 
e literatura”, no dia 22, durante o X Congresso 
Brasileiro de Direito de Família, que reuniu 
os integrantes da diretoria da Comissão de 
Direito e Arte e entusiastas do tema. 
O coro de vozes entoando “Olhos nos 
Olhos” marcou a palestra “A mulher na 
obra de Chico Buarque”, da juíza Ana 
Maria Louzada, presidente da Comissão e 
presidente do IBDFAM/DF. A magistrada 
abordou a evolução do direito da mulher no 
cenário nacional e as diversas formas de como 
isso se traduz na música. “Desde a mulher 
considerada infiel, a prostituta, a do lar, a que 
trabalha fora e sustenta os filhos, etc”.
“Bárbara”, “Ana de Amsterdam” e 
“Rita” estavam presentes nas canções e 
nas reflexões acerca das conexões com o 
Direito de Família, notadamente o direito da 
mulher. Ana Maria Louzada afirma que esta 
abordagem é um desafio, ao passo que faz 
repensar o Direito como uma ciência aberta, 
de onde se entrelaçam as mais diversas 
situações cotidianas, que muitas vezes podem 
ser melhor compreendidas pela arte do que 
pelo próprio Direito. “Penso que no Direito 
de Família é preciso sensibilidade para que se 
possa aceitar a realidade do outro. E a música 
do Chico nos mostra isso”, diz.
Para a vice-presidente da Comissão, 
Fernanda Barretto (BA), que coordenou o 
painel, o Direito das Famílias e das Sucessões 
tem muito a ganhar com “possíveis mergulhos 
no universo plural, pulsante, crítico e 
criativo, que é o artístico”. Ela explica que a 
Comissão pretende “buscar uma aproximação 
com artistas cujo trabalho nos ajude a 
compreender, em um nível complementar 
e mais profundo, temas do nosso universo 
jurídico, como, exemplificativamente, a 
alienação parental, o abandono afetivo, a 
poliafetividade e a violência doméstica”.
Segundo ela, é importante construir essa 
correlação, uma vez que “a Arte tem o poder 
de nos sensibilizar, de capturar nossa atenção 
e de abrir as portas da nossa percepção de 
um modo intenso e único, e isso pode ser 
muito útil e enriquecedor no que tange à 
investigação dos fenômenos jurídicos”, 
diz. Fernanda ressalta que embora essa 
aproximação possa parecer “exótica”, nota-
se, na cena jurídica nacional, um despertar 
paulatino para essa possibilidade.
COM DIREITO A MUITA ARTE, PAINEL INTERDISCIPLINAR MARCA 
PRIMEIRO DIA DE EVENTO
8
Essa é a questão que está na ordem do 
dia, segundo o professor Gustavo Tepedino, 
presidente da Comissão de Estudos 
Constitucionais da Família do IBDFAM, que 
discursou na conferência de abertura do X 
Congresso Brasileiro de Direito de Família-
Famílias Nossas de Cada Dia. 
 “Hoje não devemos ter limites rígidos. 
O Código Civil e a própria Constituição 
oferecem alguns modelos que são: as 
uniões estáveis, o casamento e a família 
monoparental. As demais entidades que 
vão surgindo hoje, como as uniões livres, as 
famílias simultâneas, vão sendo analisadas 
pelo Judiciário caso a caso”, diz.
O professor considera o Direito de 
Família brasileiro um dos mais avançados 
do mundo, apesar da influência conservadora 
que “sempre presidiu essa matéria. Hoje, 
inclusive, graças ao trabalho do IBDFAM, 
nós conseguimos avançar muito e o Judiciário 
brasileiro, especialmente o Supremo Tribunal 
Federal e o Superior Tribunalde Justiça, têm 
se mostrado bastante progressistas”, diz.
A conferência teve como mote os 
“Dilemas do Afeto”. Para Tepedino, a 
prioridade alcançada no âmbito do Direito 
das Famílias, pelo valor substancial dos 
sentimentos em detrimento das formalidades 
dos vínculos, constitui conquista 
extraordinária, que enaltece a importância 
do afeto, tornando muito mais “humanas” e 
“pulsantes” as relações jurídicas de famílias.
“A conhecida expressão da dramaturgia 
de Nelson Rodrigues – a vida como ela é – 
parece encontrar-se fielmente apreendida 
pelo Direito, após longo e resistente percurso. 
As instituições e as solenidades cedem lugar 
aos caprichosos desígnios da realidade, mais 
criativos que a mais ousada das narrativas 
ficcionais, a fotografarem as relações de 
família tais como são”, diz.
Segundo ele, nas últimas décadas, a 
jurisprudência brasileira, de forma “corajosa”, 
passou a admitir, em nome da igualdade e da 
liberdade, novas entidades familiares. No 
entanto, essa liberdade crescente, admitida 
pelo Jusdiciário, para a constituição de 
modalidades de convivência, nem sempre 
encontra os instrumentos jurídicos aptos à 
sua normatização. “Somente o tempo saberá 
dar conta dessa acomodação da autonomia 
privada à frenética realidade social em 
constante transformação”, diz.
Por fim, o professor destaca que o 
Judiciário é quem “valora” e “define” padrões 
de moralidade que escapam à previsão do 
legislador num processo de judicialização 
de padrões morais de comportamento. 
“O Judiciário afere a compatibilidade 
da pluraridade de modelos de famílias e 
princípios constitucionais, decidindo o 
merecimento de tutela de tais condutas”. 
HÁ LIMITE PARA OS MODELOS DE FAMÍLIA?
9
A evolução da medicina reprodutiva re-
flete diretamente no Direito das Famílias. 
Termos como “útero de substituição”, “repro-
dução heteróloga” e outros, ultrapassaram as 
fronteiras da medicina e hoje estão presentes 
na doutrina e na jurisprudência.
As famílias ectogenéticas, aquelas com fi-
lhos oriundos das técnicas de procriação me-
dicamente assistida, foram objeto de estudo 
no X Congresso de Direito de Família, em pa-
lestra da advogada Marianna Chaves, diretora 
nacional do IBDFAM.
Segundo a advogada, em um passado não 
muito distante, as pessoas ou casais inférteis 
ou com grandes dificuldades para procriar, 
estavam condenados a não terem filhos com 
os quais fossem geneticamente ligados ou 
simplesmente a não terem prole alguma. No 
entanto, no mundo contemporâneo, esse ce-
nário mudou com o auxílio da tecnologia re-
produtiva, que expandiu substancialmente o 
leque de possibilidades para procriação de ca-
sais ou indivíduos inférteis ou pares que pela 
sua natureza não podem se reproduzir como 
casal, como os pares homoafetivos. 
LEGISLAÇÃO LETÁRGICA
Para Marianna Chaves, os regulamentos 
e legislações relativos à procriação são sus-
ceptíveis de ter implicações constitucionais 
significativas, de modo que os esforços para 
regulamentação devem lidar com a natureza 
do direito em jogo. 
“A Constituição do Brasil indica que o 
planejamento familiar deverá basear-se na 
dignidade da pessoa humana e na paterni-
dade responsável, sendo vedado ao Estado 
qualquer tipo de controle ou interferência no 
exercício desse direito. Daí se pode extrair 
o entendimento de um direito fundamental à 
reprodução e consequente constituição de fa-
mília. Qualquer território que negue o direito 
à parentalidade a uma parte dos indivíduos, 
obstando a realização pessoal dos mesmos, 
viola seus direitos fundamentais à igualdade 
e à não-discriminação, obstrui o exercício da 
cidadania e coloca em xeque a própria de-
mocracia e dignidade das pessoas, ao deixar 
de promover positiva e igualitariamente as 
liberdades fundamentais de todos os seus ci-
dadãos”, afirma.
De acordo com a advogada, o Brasil, en-
tretanto, vem deixando a regulação da ma-
téria da procriação medicamente assistida a 
cargo da deontologia médica. Mesmo quan-
do as Resoluções 1.957/2010, 2.013/2013 e 
2.121/2015 do Conselho Federal de Medici-
na, em suas exposições de motivos indicam 
– expressamente – a necessidade de edição de 
uma legislação específica.
“É preciso que o Brasil avance e legisle 
nesse âmbito. Certamente, levando em consi-
deração – ou fazendo uma remissão a – todas 
as normas presentes e amplamente aceitas na 
Resolução do Conselho Federal de Medicina 
(CFM) e tutelando questões que não foram 
previstas, reguladas de forma inconsistente ou 
incompleta na Resolução ou na legislação vi-
gente”, diz.
Conforme Marianna Chaves, a Procriação 
Medicamente Assistida (PMA) acarreta 
em novas dimensões de conceitos básicos 
como os da maternidade e da paternidade, da 
dignidade da pessoa humana, da monogamia, 
da integridade moral das pessoas, além de 
suscitar novas interpretações das regras 
jurídicas clássicas ou impor novas regras. 
“Portanto, não é matéria que se deixe pura e 
simplesmente à deontologia dos profissionais 
da medicina ou a quaisquer outras disciplinas 
intermédias, à livre consciência das pessoas 
e da família ou ao cuidado de comitês de 
reflexão”.
O momento, segundo Marianna, é opor-
tuno para reconsiderar o direito a procriar 
e a reprodução assistida em um contexto do 
século 21. “Todo e qualquer estudo nessa 
matéria deve levar em conta as mudanças tec-
nológicas, sociais e acadêmicas nas últimas 
décadas, uma vez que a reprodução assistida 
tornou-se uma forma amplamente aceita de 
procriação e muitos tribunais e legislaturas – 
como é o caso do Brasil – têm continuado a 
fugir da consideração explícita da natureza do 
direito de procriar com recurso às técnicas de 
PMA”, completa.
A advogada ressaltou a necessidade “ur-
gente” da edição de uma legislação específi-
ca, assim como a inevitabilidade da adapta-
ção e harmonização de normas já existentes 
no sistema jurídico com as realidades criadas 
pela PMA.
ADVOGADA DEFENDE A NECESSIDADE DE 
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PARA FAMÍLIAS COM 
FILHOS FRUTOS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA
10
“Falar de Direito de Família não é uma 
coisa simples. Sobretudo nos dias de hoje, 
onde há uma pluraridade maior, várias possi-
bilidades de família”. Foi assim que o padre 
Alex Barbosa de Brito iniciou sua exposição 
sobre “Direito de Família e Religiões: Coli-
são de Princípios Jurídicos e Princípios Re-
ligiosos”, em um dos debates mais esperados 
pelo público, no X Congresso Brasileiro de 
Direito de Família.
Para o clérigo, a Constituição e o Código 
Civil não são mais capazes de conter a rea-
lidade de fato das “multiformas” de realida-
des familiares existentes. “Autores modernos 
chegam à conclusão, a partir de uma análise 
sociológica, de que a conceituação de famí-
lia é polêmica, especialmente em tempos nos 
quais para alguns não há mais a vinculação 
entre a finalidade unitiva e a procriativa, entre 
casamento e procriação”, diz.
Após tecer considerações sobre como o 
matrimônio se apresenta em diversas religi-
ões, bem como o divórcio, o padre concluiu 
que o matrimônio é uma realidade complexa, 
que pode ser abordada do ponto de vista an-
tropológico, sociológico, político, jurídico, 
psicológico e religioso e que, portanto, “des-
de que sejam respeitadas as legítimas autono-
mias das esferas, não há razão para colisão ou 
conflitos. O perigo está quando o homem ou 
as instituições resolvem se fazer como me-
dida de todas as coisas, estabelecendo aquilo 
que se pode chamar de ditadura do relativis-
mo”, diz.
“Sendo esse o Instituto de Direito da Fa-
mília de maior relevância no Estado brasi-
leiro, composto por juristas e formadores de 
opinião, é mister fazerem valer o estado de 
direito e a primazia das liberdades garantidas 
pelas leis, o respeito à dignidade humana, 
além do diálogo e da mútua relação e coope-
ração sadias que devemexistir entre a socie-
dade e a religião, uma vez que o homem é a 
encruzilhada das esferas civil e religiosa: é 
homem cidadão e homem religioso, ainda que 
seja ateu”, destaca.
REFELEXOS DO USO DO AFETO E DA FÉ NA 
CONTEMPORANEIDADE
Foi com a experiência de 20 anos como 
juíza de família e com a sensibilidade de po-
eta que a juíza Andréa Pachá, vice-presidente 
da Comissão dos Magistrados de Família do 
IBDFAM, conduziu suas reflexões sobre “Li-
berdade, fé e a primazia do afeto”.
À Revista IBDFAM ela declarou que 
não adianta tratar desses assuntos – Direito e 
Religião - como se eles fossem excludentes. 
“Como se fosse possível desenhar um Estado 
sem a interferência da religião que impregna 
nossa cultura. Então, essa conversa é funda-
mental para a gente consolidar os avanços 
que nós tivemos no Direito e para afirmar o 
nosso desejo cada vez maior de respeito por 
uma ética da alteridade, por uma ética que re-
conheça o outro como sujeito, por uma ética 
que inclua, que brigue contra o preconceito, 
que não tolere as injustiças”.
Para ela, a agenda conservadora que pauta 
o Congresso Nacional atualmente tem fun-
cionado porque as esferas naturais do debate 
têm sido omissas na hora de conduzir deter-
minados temas. “Se a gente está vivendo um 
momento de crise política, um momento de 
crise de representação, um momento em que 
as pessoas que teriam algo a contribuir com 
a vida pública têm escolhido o silêncio e a 
omissão, é natural que o conservadorismo 
avance. Quando o IBDFAM propõe um con-
gresso dessa natureza e traz as pessoas aqui e 
traz os temas a serem debatidos, é um avanço 
para a democracia. Na minha opinião, exis-
tem questões que devem ser enfrentadas repu-
blicanamente”.
Segundo Andréa, Direito e Religiosidade 
não são conceitos antagônicos em grande par-
te das vezes. “Sem a religião não se elabora a 
cultura do mundo”. Ela explica que na origem 
histórica do Direito não se diferenciava a mo-
ral da religião e da família. “A preocupação 
com a individualização desses saberes remon-
ta ao século XIX”, diz.
“Durante muito tempo os fatores sociais e 
religiosos dominaram e se confundiram com 
o ordenamento jurídico. Na Roma antiga, a 
família patriarcal prevalecia no Direito. Na 
idade média, a Igreja fabricava e executava 
as normas. A Religião como fonte valorativa 
PECADO É UMA VIDA SEM FÉ E SEM AMOR
11
de princípios sempre limitou as condutas para 
que o objetivo final, o bem maior fosse alcan-
çado, e mesmo a ruptura com a visão teocên-
trica, mesmo depois do antropocentrismo e da 
edição da teoria pura do Direito, de Kelsen, 
o fenômeno religioso continua impregnando 
a cultura e a rede normativa. Direito, religião 
e família (sempre considerando a civilização 
Ocidental) com maior ou menor grau de in-
terferência e interseção continuam existindo 
como mecanismos de controle social, impon-
do condutas e valores e, em tese, objetivando 
o bem supremo”, reflete.
Para ela, o sentimento religioso é um dos 
mais complexos sentimentos que fundamen-
tam a essência do ser humano, e porque é na-
tural e independe da razão e da inteligência, 
ele adquire diversas formas. “Há um momen-
to em que a razão não alcança, há ausências 
que a razão não explica. Como manter a con-
vicção materialista diante da dor das perdas, 
por exemplo? Como experimentar a morte de 
um filho explicando o fenômeno como célu-
las e atómos e moléculas que nunca mais se 
recomporão?”, questiona. 
Nesse contexto, segundo a magistrada, as 
pessoas que têm o privilégio da fé encontram 
o sentido para tudo na religião. “Encontrar na 
fé o conforto e o consolo para nossa precária 
e provisória condição humana é um sentimen-
to que alivia e cria uma rede de proteção ao 
nosso desamparo. A experiência da fé pura 
nos transcende e nos emblema”, diz.
Andréa considera que as religiões se or-
ganizaram ao longo da história como orga-
nismos institucionalizadores de crenças e 
responsáveis também pelo processo de socia-
lização e contenção dos indivíduos. “Como 
catalisadores da fé, mas também como ins-
tituições reguladoras da vida em grupo, as 
igrejas impõem, ao longo da história, o poder 
pelo medo: pelo medo do inferno, pelo medo 
da morte, pelo medo do padecimento, pelo 
medo do sofrimento que os mandamentos 
religiosos são construídos. O Direito, como 
expressão da vontade de um grupo social e 
atuando como limitador dos desejos e impul-
sos individuais, repete esse modelo religioso 
substitutindo o fogo do inferno pelo inferno 
das celas e dos presídios. Nós temos herdado 
das religiões mecanismos muito importantes 
da vida em grupo, mas temos herdado, tam-
bém, grandes arbitrariedades e violências co-
metidas em nome das religiões. Eu não falo 
aqui dos grandes conflitos ideológicos que 
assombram o Oriente Médio e a Europa e 
transformam a fé em instrumento de funda-
mentalismo e de terror. Refiro-me ao amor e 
à liberdade, sentimentos tão constitutivos da 
nossa humanidade quanto a fé. Em nome de 
algumas crenças esses sentimentos têm sido 
profundamente vilipendiados”, diz.
O Estatuto da Família, aprovado na Comi-
são de Constituição e Justiça da Câmara é, se-
gundo Andréa, um triste exemplo daquilo que 
não pode ser tolerado em nome da fé. “Um 
Estado Laico não é aquele que se contrapõe 
às religiões, mas aquele que discute e que de-
bate com a sociedade sobre os temas que di-
zem respeito à cidadania e aos direitos, apesar 
dos credos de cada um, individualmente. Da 
mesma forma que não pretendemos adaptar 
os dogmas religiosos às transformações terre-
nas, não podemos admitir que as normas reli-
giosas pautem as relações”, diz. Isto porque, 
aderir ou se submeter ao comando religioso é, 
segundo a juíza, um ato de vontade. E inte-
grar um Estado e ser cidadão não é uma op-
ção, a pessoa não existe sem cidadania. “Não 
é possivel que em nome da fé se desconsidere 
o afeto como direito constitutivo das relações 
familiares. Não é razoável que a pretexto de 
fortalecer as crenças religiosas se impeça a 
sociedade de discutir as novas famílias, a de-
mocratização dos afetos, a igualdade dos gê-
neros, a multiparentalidade, o aborto”, diz.
Andréa Pachá explica que a democracia 
moderna é “inteira” dos ideais judaico- 
cristãos. “São eles que nos fazem repelir a 
corrupção, a violência, o uso mercantil do 
outro, a crueldade, o preconceito”, e que 
diante do conflito entre princípios legais e 
princípios religiosos a Justiça é chamada a 
decidir em cada caso concreto sopesando os 
valores constitucionais que cada processo 
encerra e reconhecendo a laicidade do estado. 
“Somos seres de espírito, da fé e das re-
ligiões, mas também somos seres errantes do 
amor, do desejo e das fantasias. É pela liber-
dade que conseguiremos construir pontes e 
afirmar tanto na fé quanto no afeto o nosso 
compromisso de construir um mundo mais 
humano para todos”.
O título da matéria é uma alusão ao texto 
“SAGRADO É UM SAMBA DE AMOR” do 
livro A VIDA NÁO É JUSTA - AGIR/2012; 
ANDRÉA PACHÁ.
12
A advogada e professora universitária 
Ana Luiza Nevares, diretora acadêmica do 
IBDFAM-RJ discutiu as inovações do Código 
de Processo Civil de 2015 (CPC) em Direito 
das Sucessões.
Em março de 2016 entrará em vigor novo 
diploma processual civil, estabelecido pela Lei 
13.105, de 16 de março de 2015. Segundo Ne-
vares, um dos motivos expostos pela Comissão 
de Juristas encarregada da elaboração do novo 
Código de Processo Civil, seria a preocupação 
com a real efetividade do processo, ou seja, 
com o fato de o processo ser um instrumento 
eficiente para a concretização do direito ma-
terial. “Nessa direção, os processualistas bus-
caram alcançar os seguintes objetivos: 1) har-
monizar a lei ordinária processual aos valores 
e princípios da Constituição Federal, em claro 
e evidente respeitoà hierarquia das fontes; 2) 
possibilitar que o processo alcance resultados 
consonantes à realidade fática em que esteja 
inserido, enfatizando a atuação das partes na 
solução dos conflitos, a partir da mediação e 
da conciliação, bem como a partir dos instru-
mentos que permitem uma contratualização do 
processo; 3) simplificar o processo, identifican-
do pontos complexos que mereciam redução 
de atos e formalidades; 4) propiciar que cada 
processo tenha maior rendimento possível, 
possibilitando, por exemplo, que as partes, até 
a sentença, modifiquem o pedido e a causa de 
pedir, desde que não haja ofensa ao contradi-
tório, extraindo-se do processo o maior apro-
veitamento possível e 5) obter maior coesão do 
sistema, a partir da organicidade das regras do 
processo civil”, explica.
Ana Luiza Nevares procurou abordar as 
inovações do Código de Processo Civil no 
Direito das Sucessões, refletindo sobre o atual 
momento vivenciado pelo Direito Sucessório, 
tendo em vista que a efetividade do processo 
civil, como afirmado, pressupõe a concreta re-
alização do Direito Material que lhe seja sub-
jacente. “O Direito das Sucessões é o ramo do 
Direito Civil destinado a regular a transmissão 
dos bens de uma pessoa em virtude de sua 
morte. Está disciplinado no Código Civil, Lei 
10.406, de 10 de janeiro de 2002, no Livro V 
do aludido diploma legal, que é subdividido 
em títulos destinados à sucessão em geral, à su-
cessão legítima, à sucessão testamentária e ao 
inventário e à partilha. O conjunto das relações 
patrimoniais de uma pessoa falecida denomi-
na-se herança, sendo certo que o direito de he-
rança está consagrado no inciso 30, do artigo 
5º, da Constituição da República Federativa do 
Brasil, consistindo a sucessão privada, assim, 
em uma garantia fundamental do cidadão bra-
sileiro. A herança só será considerada vaga e 
destinada ao Estado na ausência de sucessores 
legais ou testamentários”, afirma.
Conforme a advogada, os pilares do Direito 
das Sucessões são a propriedade e a família, e 
com efeito o Direito das Sucessões disciplina 
transmissão da propriedade de uma pessoa fa-
lecida, estabelecendo uma ordem de vocação 
hereditária fundada na família, uma vez que, 
por ser a formação social na qual mais genui-
namente se exerce a solidariedade, é a família 
a fonte inspiradora para o legislador determi-
nar a quem devem ser destinadas as situações 
jurídicas patrimoniais transmissíveis de uma 
pessoa após o seu falecimento. “Exatamente 
por se fundar na propriedade, o Direito das Su-
cessões destina um espaço de autonomia para 
a pessoa, facultando-lhe regulamentar a desti-
nação de seus bens após a sua morte, através 
de negócio jurídico denominado testamento, 
valendo destacar que o testamento tem eficá-
cia múltipla (Código Civil, art. 1.857), uma 
vez que não serve apenas para disposições de 
cunho material, mas também a outros objetivos 
do testador, em especial aqueles relativos às 
suas situações jurídicas existenciais. Tal espaço 
de autonomia será mais ou menos amplo con-
forme as exigências sociais relativas à proteção 
da família. Atualmente, o Brasil tutela a família 
nuclear garantindo metade da herança (Código 
Civil, artigo 1.789) aos herdeiros necessários, 
constituídos pelos descendentes, ascendentes, 
cônjuge e companheiro (Código Civil, artigos 
1.845 e 1.850). Muito se discute sobre a perti-
nência de o ordenamento jurídico garantir para 
certos parentes parte da herança de forma obri-
gatória, limitando a liberdade de testar. Sobre 
a questão, importante registrar que o Código 
Civil hoje em vigor é fruto de um projeto de 
lei concebido em 1975, sendo evidente que de 
lá para cá muitas transformações ocorreram na 
família, tendo algumas sido incorporadas no 
atual Código Civil e outras não”, disse.
Segundo a advogada, ao observar os alvo-
roços jurisprudenciais que se travam a respei-
to da normativa sucessória atual, em especial 
aquela relativa ao cônjuge e ao companheiro, 
bem como diante dos recentes diplomas legais 
que versam sobre a família de forma específica 
ou tangencial (Estatuto do Idoso, Guarda Com-
partilha, Alienação Parental, Lei Maria da Pe-
nha e Estatuto do Deficiente), pode-se concluir 
que o Direito das Sucessões precisa se encaixar 
na configuração da família atual, que é plural, 
igualitária e democrática, com atenção vol-
tada aos vulneráveis, em especial às crianças, 
aos demais incapazes e aos idosos. “De fato, 
uma das críticas que é direcionada ao Direito 
“
“
Os pilares do Direito das 
Sucessões são a propriedade e 
a família
CPC E GUARDA COMPARTILHADA:
PAINÉIS NO SEGUNDO DIA ABORDAM TEMAS DE GRANDE REPERCUSSÃO EM 2015 
13
Sucessório é a sua neutralidade, já que, no Bra-
sil, raras vezes a lei estabelece a divisão da he-
rança com base em critérios concretos de pro-
teção da pessoa de cada um dos que integram a 
família, como ocorreu com a lei 10.050/2000, 
que previu o direito real de habitação em re-
lação ao único imóvel residencial do monte 
para o filho órfão portador de deficiência que 
o impossibilitasse para o trabalho, incluindo o 
inciso 3º ao art. 1.611 do Código Civil de 1916. 
Argumenta-se que a aludida neutralidade é fru-
to do princípio da unidade da sucessão, consa-
grado no Direito Francês Revolucionário, que 
tinha por objetivo aniquilar todos os privilégios 
da nobreza, sendo certo que o fracionamento 
da propriedade, a partir da divisão hereditária, 
configurava um importante mecanismo para tal 
intento”, elucida.
Ana Luiza Nevares esclarece que, desse 
modo, se estabeleceu que a sucessão hereditá-
ria não deveria considerar a natureza dos bens 
transmitidos, nem a qualidade dos sucessores, 
de forma a eliminar privilégios como o da pri-
mogenitura ou o da masculinidade na trans-
missão causa mortis, estando o pressuposto da 
sucessão concentrado apenas no fato de aquele 
sucessor pertencer à família do autor da heran-
ça, sem outras considerações. “Com a queda do 
liberalismo burguês e a consagração do sujeito 
de direito não mais como uma categoria neutra 
e abstrata, mas sim como o sujeito histórico-
-real, considerado não só na multiplicidade de 
suas explicações e manifestações ativas, como 
também em suas variadas e diversas necessida-
des, interesses, exigências, qualidades indivi-
duais, condições econômicas, posições sociais 
e, como tal, devendo ser considerado como 
portador de valores essenciais (dignidade, se-
gurança, igualdade, liberdade) e de fundamen-
tais espaços de promoção e desenvolvimento 
da pessoa (saúde, trabalho, educação), sem-
pre considerado em sociedade, não podendo 
prescindir das relações que estabelece com os 
demais, a disciplina das relações jurídicas pri-
vadas passou a atentar para as pessoas que as 
integram, ao modo pelo qual interagem naque-
las relações, bem como à repercussão de seus 
efeitos nas esferas de terceiros. Desse modo, 
no âmbito do Direito das Sucessões, passou-se 
a repensar o princípio da unidade da sucessão 
e, assim, tanto na legislação francesa, como em 
outras que se inspiraram no Código Napoleô-
nico, consagraram-se previsões específicas de 
sucessões consideradas especiais, exatamente 
porque se afastam do regramento geral, para 
atender a interesses específicos relacionados 
aos bens transmitidos e aos sucessores legais”, 
comenta.
A advogada ainda afirma que nessa pers-
pectiva, a legislação sucessória deveria prever 
uma especial atenção aos herdeiros incapazes 
e idosos e, também, aos cônjuges e compa-
nheiros quanto a aspectos nos quais realmente 
dependiam do autor da herança, privilegiando, 
ainda, vínculos específicos dos herdeiros quan-
to aos bens do acervo hereditário, qualificados 
por moradia ou exercício profissional. “Bus-
car-se-ia, assim, concretizar na transmissão da 
herança um espaço de promoção da pessoa, 
atendendoàs singularidades dos herdeiros, em 
especial diante de sua capacidade e de seus 
vínculos com os bens que compõem a heran-
ça, e, ainda, atendendo à liberdade do testador 
quando não se vislumbrasse na família aqueles 
que necessitam de uma proteção patrimonial 
diante da morte de um familiar. Como se verá 
ao longo do presente estudo, o Código de Pro-
cesso Civil de 2015, embora tenha reproduzido 
no geral o sistema processual previsto no Códi-
go de Processo Civil de 1973 quanto ao inven-
tário e à partilha, trouxe inovações importantes 
em relação à matéria, sendo certo que algumas 
delas se alinham aos atuais reclames da legisla-
ção sucessória”, completa.
A GUARDA COMPARTILHADA E O FIM DO 
GENITOR VISITANTE 
A guarda compartilhada foi objeto de estu-
do no X Congresso Brasileiro de Direito de Fa-
mília. Quem abordou o tema foi a juíza Angela 
Regina Gimenez, presidente do IBDFAM/MT.
Para a magistrada, a modificação legislati-
va com o advento da Lei Nº 1358/ 2014 impõe 
uma interpretação concreta sobre o que vem a 
ser a aplicação da guarda compartilhada e faz 
uma reafirmação de alguns preceitos legais, 
“
“
O Direito das Sucessões 
precisa se encaixar na 
configuração da família atual, 
que é plural
14
principiológicos que vêm estruturando o orde-
namento jurídico. 
Além disso, segundo Angela, “a nova lei 
traz a igualdade parental, ela coloca um final 
na história muito triste que nós tínhamos no 
Brasil, em que, na situação de separação, um 
genitor ficava na condição de mero visitante 
do seu filho. As estatísticas têm mostrado que 
essas visitas eram preponderantemente estipu-
ladas ao pai, que nesse sistema de visitas per-
manecia apenas 8% do tempo com seu filho, 
revelando uma situação de total desigualdade 
entre os genitores, perpetuando o mito da ma-
ternidade”, diz.
De acordo com a juíza, durante o último sé-
culo acreditava-se que a maternidade era mais 
importante do que a paternidade e por esse mo-
tivo, “negligenciamos a convivência dos nos-
sos filhos com os pais, trazendo a eles proble-
mas muito graves”.
“Em decorrência dessa negligência, e de 
perpetuamos uma visão extremamente precon-
ceituosa de que ao pai cabe a função de pro-
vedor e à mãe, naturalmente por ser inato das 
mulheres a posição de cuidadora, nós temos 
hoje toda uma geração que tem gerado sérios 
conflitos com a lei. Ao garantir que as crianças 
e os jovens posssam conviver livremente, cal-
mamente, amorosamente com o seu pai e com 
a sua mãe nós não estamos tratando individual-
mente daquela criança ou daquela familia, mas 
estamos pensando no impacto social do afasta-
mento dos pais – eu falo dos pais porque 93% 
das guardas judiciais, até dezembro do ano 
passado, eram concedidas de forma unilateral e 
favoráveis às mães”, diz.
DIVISÃO DO TEMPO
A juíza Angela Regina Gimenez explica 
que ao lidar com a guarda compartilhada os 
profissionais da área se deparam com um ce-
nário difícil. “Toda separação, ainda que cons-
cientemente desejada, causa frustração, causa 
dor. A pessoa que está em sofrimento muitas 
vezes se ensurdece para questões importantes 
dos próprios filhos, isso não é por desmere-
cimento nem por negligência paterna ou ma-
terna, é devido ao sofrimento”, diz. E por esse 
motivo, segundo ela, é responsabilidade do Po-
der Judiciário, das famílias e de toda a socie-
dade viabilizarem a convivência das crianças 
com ambos os pais.
“Nós precisamos compreender que é im-
portante que as nossas crianças possam convi-
ver com seu pai e com a sua mãe e que o ideal 
seja do compartilhamento igualitário sem que 
isso tenha que ser uma camisa de força, mas 
que seja um ideal a ser buscado, que seja uma 
perspectiva a ser alcançada. Inclusive, porque 
essa convivência com o pai e com a mãe tem 
sido um grande antídoto à alienação parental, 
tem propiciado que as nossas crianças possam 
ter uma visão bifrontal da vida, trazendo valo-
res de seu pai e de sua mãe, recebendo afeto e 
alento do pai e da mãe e acolhimento das duas 
famílias extensas, o que sem dúvida nenhuma 
vem ao encontro do melhor interesse das crian-
ças porque é assim que as nossas crianças po-
dem melhor se desenvolver”, diz.
Segundo Angela, a lei da guarda comparti-
lhada fala, expressamente, na distribuição equi-
librada de tempo. Ela afirma que, apesar da 
grande controvérisa que essa questão tem ge-
rado, “não há qualquer razão para que o tempo 
não seja distribuído de forma igualitária”.
“Todas as pesquisas têm mostrado que 
quando não for possível o compartilhamento 
de 50 % do tempo da criança para o pai e 50% 
para a mãe, àquele que permanecer por menor 
tempo tem que ser resguardado o tempo mí-
nimo de 35%, como uma forma de se garantir 
o compartilhamento. Todos os estudiosos têm 
demonstrado que menos do que 35%, ape-
sar de chamarmos de guarda compartilhada, é 
guarda unilateral. A guarda compartilhada não 
veio aumentar o direito de visitação; veio de 
fato desafiar a sociedade brasileira a um novo 
modelo de desenvolvimento humano. O amor 
é exercício de convivência e de toque, que não 
pode ser superado pela internet, e isso deve ser 
resguardado”, diz.
15
Apesar de serem ramos distintos do 
Código Civil, o Direito das Sucessões e o 
Direito de Família se entrelaçam em vários 
aspectos. Por esse motivo, o X Congresso 
também teve espaço para o Direito 
Sucessório, aludido por grandes nomes, 
entre eles Marcelo Truzzi Otero, presidente 
da Comissão de Advogados de Família do 
IBDFAM.
O advogado Marcelo Truzzi Otero 
falou sobre as perspectivas existenciais 
no Direito das Sucessões em uma reflexão 
sobre o Direito Sucessório a partir da 
legalidade constitucional, levando em 
consideração a imperiosidade da mesma 
releitura verificada nos demais institutos 
do Direito Privado. 
Para ele, o Direito Sucessório não 
pode simplesmente continuar atribuindo 
patrimônio aos herdeiros de forma 
desvinculada das necessidades de cada 
um deles. “É preciso realinhar o Direito 
Sucessório de modo a que atenda os 
interesses reais e efetivos dos herdeiros, 
cumprindo a função promocional exigida 
de todos os institutos jurídicos. É preciso 
torná-lo mais humano, sem ignorar o 
conteúdo patrimonial que lhe é inerente”, 
diz.
Segundo Truzzi, a Constituição Federal 
alterou substancialmente o panorama 
jurídico das relações privadas, até então 
caracterizadas pela tutela marcante do 
patrimônio em detrimento dos próprios 
sujeitos envolvidos. Segundo ele, a tutela 
da personalidade estava restrita, em visão 
“acanhada”, à tutela do patrimônio, e não 
precisamente da pessoa do seu titular. 
“A positivação de princípios no texto 
constitucional, com o merecido destaque 
para a dignidade e para a solidariedade, 
valorizou a pessoa humana, obrigando o 
operador do Direito a uma releitura de 
conceitos e de institutos jurídicos clássicos, 
como a propriedade, o contrato, a empresa, 
a família, realinhando-os, em escala de 
valores, às diretrizes constitucionais que 
impõem o respeito e a valorização da 
pessoa humana acima de tudo”, diz. 
FAMÍLIA HUMANIZADA
Nesse sentindo, Truzzi expõe que os 
institutos jurídicos tradicionais adquiriram 
contornos existenciais e serão merecedores 
de tutela jurídica se estiverem em perfeita 
harmonia com a perspectiva promocional 
e funcionalizada que lhes é inerente, sendo 
observados o contexto inclusivo e protetivo 
da pessoa humana em cada caso concreto. 
“Merecedor da tutela jurídica é o 
sujeito, considerado objetivamente em 
todas as suas particularidades, e não mais 
o instituto em si. Não basta, portanto, 
ADVOGADO PROMOVE 
REFLEXÃO SOBRE O 
DIREITO SUCESSÓRIO 
COM UM OLHAR 
HUMANIZADO 
16
que seja meramente lícito para ter-se 
como jurídico; é preciso que o ato seja 
merecedor de tutela e esse juízo deve ser 
feito à luzdos princípios fundamentais 
do ordenamento jurídico, observando que 
a tutela da dignidade e a solidariedade, 
princípios fundamentais dos quais emanam 
outros tantos princípios, não constituem 
um direito apenas, mas um dever a ser 
observado em todas as relações privadas. 
Nada há de ilegal na desconsideração 
de uma norma de Direito Privado que 
contrariar os vetores constitucionais da 
tutela da dignidade e da existência. Ilegal 
é aplicar uma lei, em sua literalidade, para 
gerar uma injustiça, em confronto com 
os princípios constitucionais como o da 
solidariedade e da dignidade da pessoa 
humana; afinal, estaríamos diante de 
uma verdadeira subversão da hierarquia 
normativa, prestigiando leis ordinárias em 
detrimento de normas constitucionais”, 
afirma.
O advogado explica que dentro desta 
ótica, os institutos jurídicos marcantemente 
privados passaram por indispensável 
releitura de modo a conformá-los à ordem 
constitucional, sempre atenta à perspectiva 
funcionalizada e promocional da dignidade 
da pessoa humana. 
“Sem apartar da autonomia da vontade 
e do pacta sunt servanda, o contrato 
passou a contar com um olhar mais 
atento e personificado dos contratantes, 
reconhecidamente figuras centrais, 
ganhando contornos mais humanos a partir 
do equilíbrio mais efetivo, e menos formal, 
entre os contratantes. Assim, o contrato 
foi revalorizado pelos deveres anexos de 
conduta e pela própria função social que 
deve desempenhar. A propriedade, ainda 
marcada pelo caráter individual e absoluto, 
também foi funcionalizada, não apenas na 
ótica do titular, mas também na da própria 
coletividade”, expõe.
Conforme o advogado, a função social, 
o respeito ao meio ambiente, a positivação 
do abuso de direito na legislação 
infraconstitucional, a moradia como direito 
social, a possibilidade do bem de família e 
a ampliação, pelos Tribunais, das hipóteses 
de impenhorabilidade, contribuem para 
a compreensão da propriedade como 
um instrumento para a tutela de valores 
fundamentais e extrapatrimoniais do titular 
e das pessoas que dela se beneficiam, 
com um viés mais humanizado, apartado 
daquele individualismo exagerado que 
décadas atrás permitia ao proprietário fazer 
tudo o que lhe agradasse pelo simples fato 
de ser proprietário. 
“Essa é justamente a função 
promocional do instituto. A família não se 
manteve imune a essa verdadeira revolução. 
Diferentemente do passado, em que era 
protegida como ente despersonalizado e 
abstrato, e reconhecidamente excludente, 
desigual, discriminatória e excessivamente 
patrimonialista, a família atual é 
igualitária, democrática, plural, pautada 
no respeito das individualidades de seus 
membros, que se obrigam mutuamente em 
uma comunidade de vida”, conclui.
Marcelo Truzzi ainda elucida que, a 
exemplo do contrato e da propriedade, 
a família também foi funcionalizada; 
mais que funcionalizada, a família foi 
humanizada, voltou-se para seus membros, 
conscientizando-se de seu verdadeiro 
papel como instrumento executor 
de valores fundamentais, tornando-
se o locus existencial por excelência, 
destinada a promover o desenvolvimento 
da personalidade de seus componentes, 
a partir do afeto, da solidariedade e da 
cooperação. 
“É sob essa ótica existencial, 
funcionalizada e promocional, imposta 
pela Constituição Federal, que as relações 
sucessórias também devem ser analisadas 
e compreendidas, sob o risco de flagrante 
inversão hermenêutica. O problema é que 
a prática forense tem demonstrado que essa 
avalanche de transformações verificadas 
em todos os institutos do Direito Privado 
não se espraiou para o Direito Sucessório, 
como se pudesse este ramo do Direito 
permanecer isolado e infenso à nova 
tábula existencial imposta pelo texto 
constitucional”, explica.
Por fim, o advogado afirma que cabe 
aos operadores do Direito, analisar o 
Direito Sucessório com os mesmos olhos 
que atualmente interpretamos o contrato, 
a propriedade, as relações familiares, 
pautando essa análise pela perspectiva 
existencial dos atores que se apresentam no 
palco do Direito Sucessório. 
“A tutela sucessória deve estar 
focada na perspectiva existencial do 
sucessor, e não mais na ótica única, 
exclusiva e individualista do autor da 
herança. Esse cenário provoca intensas e 
significativas mudanças paradigmáticas, 
como verificamos, exemplificativamente, 
na tutela sucessória do cônjuge, na 
compreensão da legítima do herdeiro 
necessário, na restrição à imposição 
de cláusulas sobre esta legítima e na 
orientação à própria partilha de bens”, 
completa.
“
“
A família também foi 
funcionalizada; mais que 
funcionalizada, a família foi 
humanizada
17
 “Com a Emenda Constitucional 
nº 66/2010, o divórcio no Brasil alcançou o 
seu ponto máximo ao garantir que as pessoas 
não tenham impedimentos e possam livre-
mente reconstituir suas vidas afetivas”, disse 
o advogado Paulo Lôbo, diretor nacional do 
IBDFAM, que proferiu palestra no segundo 
dia do X Congresso Brasileiro de Direito de 
Família.
Na palestra “Divórcio e os modelos de 
separação entre o Código Civil e o CPC de 
2015”, o advogado defendeu que o Esta-
do só deve intervir naquilo que diz respeito 
aos conflitos que as partes não conseguem 
resolver, como a guarda e proteção dos fi-
lhos; partilha de bens; os alimentos e, even-
tualmente, a permanência ou não do nome de 
casado. 
Paulo Lôbo apresentou argumentos con-
tra a permanência da separação judicial, en-
tre eles: a orientação consagrada na doutrina 
e nos tribunais; e as consequências jurídicas 
da separação de corpos e da separação de 
fato. 
O jurista ressaltou a extinção da sepa-
ração judicial no Direito brasileiro, após a 
Emenda Constitucional n°66/2010. “Com 
o advento da Emenda Constitucional nº 
66/2010, extinguiu-se a separação judicial 
como requisito prévio ou como alternativa ao 
divórcio, revogando-se as normas do Código 
Civil que tratavam desta matéria”, diz.
Segundo ele, as referências feitas em al-
gumas normas do CPC de 2015 à separação 
não “restauram” a separação judicial e de-
vem ser interpretadas como referentes à se-
paração de fato. 
Paulo afirma que, historicamente, criou-
se, desde 1977, com o advento da legislação 
do divórcio, uma duplicidade “artificial” en-
tre dissolução da sociedade conjugal e disso-
lução do casamento, como solução de com-
promisso entre divorcistas e antidivorcistas, 
o que, segundo ele, não mais se sustenta. 
“As circunstâncias mudaram, profunda-
mente, e a sociedade passou a aceitar o di-
vórcio como solução normal para o desapa-
recimento da afetividade no casal, não mais 
repercutindo a demonização manejada pelos 
que o rejeitavam”, diz.
“A submissão a dois processos judiciais - 
separação judicial e divórcio por conversão - 
resultava em acréscimos de despesas para 
“
“
Com o advento da Emenda 
Constitucional nº 66/2010, 
extinguiu-se a separação 
judicial
HIERARQUIA NORMATIVA, EC66/2010 E A INUTILIDADE 
DA SEPARAÇÃO JUDICIAL
18
o casal, além de prolongar sofrimentos 
evitáveis”, lembra Paulo Lôbo. 
Para ele, o divórcio direto - amigável ou 
judicial - dispensando causas, contempla me-
lhor a dignidade das pessoas no “delicado” 
momento de suas separações, sem interferên-
cias estatais “constrangedoras” e é a opção 
mais utilizada na atualidade.
Lôbo esclarece que, quanto à interpreta-
ção sistemática, não se pode estender o que a 
norma restringiu e nem se pode interpretar e 
aplicar a norma desligando-a de seu contexto 
normativo. 
“Tampouco, podem prevalecer normas 
do Código Civil ou de outro diploma infra-
constitucional, que regulamentavam o que é 
previsto de modo expresso na Constituição e 
que esta excluiu posteriormente”.
Ao pretender que o Código Civil “valha” 
mais que a Constituição,segundo o jurista, 
inverte-se a hierarquia normativa. “No Di-
reito brasileiro, há um consenso doutrinário 
e jurisprudencial acerca da força normativa 
própria da Constituição. Sejam as normas 
constitucionais regras ou princípios, não de-
pendem de normas infraconstitucionais para 
estas prescreverem o que aquelas já pres-
crevem. O § 6º do art. 226 da Constituição 
qualifica-se como norma-regra, pois seu su-
porte fático é precisamente determinado: o 
casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, 
sem qualquer requisito prévio, por exclu-
sivo ato de vontade dos cônjuges”, afirma. 
Conforme o jurista, no plano da interpretação 
teleológica, ou seja, do estudo filosófico dos 
fins ou propósito da sociedade, indaga-se so-
bre quais os fins sociais da nova norma cons-
titucional. “Permitir sem empecilhos e sem 
intervenção estatal na intimidade dos cônju-
ges, que estes possam exercer com liberdade 
seu direito de desconstituir a sociedade con-
jugal, a qualquer tempo e sem precisar decli-
nar os motivos”, diz. 
E quais os fins sociais da suposta sobre-
vivência da separação judicial, considerando 
que não mais poderia ser convertida em di-
vórcio? Ou que interesse juridicamente rele-
vante subsistiria em buscar-se um caminho 
que não pode levar à dissolução do casamen-
to, pois o divórcio é o único modo previsto 
na Constituição? Para o jurista a resposta é, 
“palmar inocuidade, além de aberto confron-
to com os valores que a Constituição passou 
a exprimir, expurgando os resíduos de quan-
tum despótico: liberdade e autonomia sem 
interferência estatal”, diz.
Ainda que se admitisse a sobrevivência 
da sociedade conjugal, segundo ele, a nova 
redação da norma constitucional permite que 
os cônjuges alcancem suas finalidades, com 
muito mais vantagem. No entanto, por outro 
lado, entre duas interpretações possíveis, não 
poderia prevalecer a que consultasse apenas 
o interesse individual do cônjuge que dese-
jasse instrumentalizar a separação para o fim 
de punir o outro, comprometendo a boa ad-
ministração da justiça e a paz social. 
“O uso da justiça para punir o outro 
cônjuge não atende aos fins sociais nem ao 
bem-comum, que devem iluminar a decisão 
judicial sobre os únicos pontos em litígio, 
quando os cônjuges sobre eles não cedem: 
a guarda e a proteção dos filhos menores, 
os alimentos que sejam devidos, a eventu-
al compensação econômica, a continuidade 
ou não do nome de casado e a partilha dos 
bens comuns. Anote-se, ainda, no plano da 
inutilidade da preservação da separação judi-
cial, que esta não pode mais ser convertida 
em divórcio. Não existe mais o divórcio por 
conversão. Assim, tudo o que fosse objeto de 
eventual separação convencional teria de ser 
repetido no pedido do divórcio judicial ou no 
divórcio extrajudicial. A situação de incom-
patibilidade agrava-se na hipótese de divór-
cio judicial litigioso, pois, se neste não há 
acordo quanto aos itens necessários (modo 
de exercício da guarda compartilhada, ou do 
quantum dos alimentos, partilha dos bens, 
sobrenome), que terão de ser decididos pelo 
juiz, independentemente da existência de se-
paração convencional anterior”, comenta.
Paulo Lôbo explica, ainda, que a nova 
redação da norma constitucional teve a vir-
tude de pôr cobrança à exigência de compro-
vação da culpa do outro cônjuge e de tempo 
mínimo. “O divórcio, em que se convertia a 
separação judicial litigiosa, contaminava-se 
dos azedumes e ressentimentos decorrentes 
da imputação de culpa ao outro cônjuge, o 
que comprometia inevitavelmente o relacio-
namento pós-conjugal, em detrimento, sobre-
tudo, da formação dos filhos comuns”.
Segundo ele, o princípio do melhor inte-
resse da criança e do adolescente dificilmen-
te consegue ser observado, quando a arena 
da disputa é alimentada pelas acusações recí-
procas, que o regime de imputação de culpa 
propiciava. 
“Quando o Poder Judiciário, mobilizado 
pelo cônjuge que se apresentava como aban-
donado e ofendido pelo outro, investigava a 
ocorrência ou não da causa alegada e da cul-
pa do indigitado ofensor, ingressava na inti-
midade e na vida privada da sociedade con-
jugal e da entidade familiar. A Constituição 
(artigo 5º, X) estabelece que são invioláveis 
a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
gem das pessoas, sem qualquer exceção ou 
restrição. Ora, nada é mais íntimo e privado 
que as relações entretecidas na convivência 
familiar. Sob esse importante ângulo, não 
poderia a lei ordinária excepcionar, de modo 
tão amplo, a garantia constitucional da invio-
labilidade, justamente no espaço privado e 
existencial onde ela mais se realiza”.
“
“
O uso da justiça para punir 
o outro cônjuge não atende 
aos fins sociais nem ao bem-
comum, que devem iluminar 
a decisão judicial
19
No X Congresso Brasileiro de Direito de Família, foram aprovados os Enunciados Programáticos do 
IBDFAM. Os Enunciados servirão de diretriz para a criação da nova doutrina e jurisprudência em Direito de 
Família no Brasil.
A votação foi promovida pela Diretoria da entidade junto a seus membros, sob a coordenação dos profes-
sores Flávio Tartuce, José Fernando Simão e Mário Luiz Delgado, diretores do Instituto. Das 16 propostas em 
pauta, 11 foram aprovadas e se somam aos 9 Enunciados aprovados em 2013, na nona edição do evento.
Para Flávio Tartuce, os enunciados do IBDFAM são “leme doutrinário” para os aplicadores do Direito de 
Família e das Sucessões no Brasil. 
Na linha do que propõe o IBDFAM, segundo Tartuce, os enunciados representam o que há de mais inovador 
a respeito desses temas no País. “Assim como o Instituto, os enunciados aprovados estão à frente da legislação”, 
diz.
CONFIRA TODOS OS ENUNCIADOS:
01 A Emenda Constitucional 66/2010, ao extinguir 
o instituto da separação judicial, afastou a perquirição 
da culpa na DISSOLUÇÃO do casamento e na quanti-
ficação dos alimentos.
02 A separação de fato põe fim ao regime de bens 
e importa extinção dos deveres entre cônjuges e entre 
companheiros.
03 Em face do princípio da igualdade das entidades 
familiares, é inconstitucional o tratamento discrimina-
tório conferido ao cônjuge e ao companheiro.
04 A constituição de entidade familiar paralela pode 
gerar efeito jurídico.
05 Na adoção, o princípio do superior interesse da 
criança e do adolescente deve prevalecer sobre a fa-
mília extensa.
06 Do reconhecimento jurídico da filiação socioafe-
tiva decorrem todos os direitos e deveres inerentes à 
autoridade parental.
07 A posse de estado de filho pode constituir pater-
nidade e maternidade.
08 O abandono afetivo pode gerar direito à repara-
ção pelo dano causado.
09 A multiparentalidade gera efeitos jurídicos.
10 É cabível o reconhecimento do abandono afetivo 
em relação aos ascendentes idosos.
11 Na ação destinada a dissolver o casamento ou a 
união estável, pode o juiz disciplinar a custódia com-
partilhada do animal de estimação do casal.
12 É possível o registro de nascimento dos filhos de 
casais homoafetivos, havidos de reprodução assistida, 
diretamente no Cartório do Registro Civil.
13 Na hipótese de adoção intuitu personae de crian-
ça e de adolescente, os pais biológicos podem eleger 
os adotantes.
14 Salvo expressa disposição em contrário, os ali-
mentos fixados ad valorem incidem sobre todos os 
rendimentos percebidos pelo alimentante que possua 
natureza remuneratória, inclusive terço constitucional 
de férias, 13º salário, participação nos lucros e horas 
extras.
15 Ainda que casado sob o regime da separação con-
vencional de bens, o cônjuge sobrevivente é herdeiro 
necessário e concorre com os descendentes.
16 Mesmo quando houver testamento, sendo todos 
os interessados capazes e concordes com os seus ter-
mos, não havendo conflito de interesses, é possível 
que se faça o inventário extrajudicial.17 A técnica de ponderação, adotada expressamente 
pelo art. 489, § 2º, do Novo CPC, é meio adequado 
para a solução de problemas práticos atinentes ao Di-
reito das Famílias e das Sucessões
18 Nas ações de divórcio e de dissolução da união 
estável, a regra deve ser o julgamento parcial do méri-
to (art. 356 do Novo CPC), para que seja decretado o 
fim da conjugalidade, seguindo a demanda com a dis-
cussão de outros temas.
19 O rol do art. 693 do Novo CPC é meramente 
exemplificativo, e não taxativo.
20 O alimentante que, dispondo de recursos eco-
nômicos, adota subterfúgios para não pagar ou para 
retardar o pagamento de verba alimentar, incor-
re na conduta descrita no art. 7º, inc. IV da Lei nº 
11.340/2006 (violência patrimonial).
DAVID CRUMPTON
O professor David Crumpton é o mais novo 
associado internacional do IBDFAM. Crumpton é 
professor PHD na universidade de Maryland (EUA) 
da matéria de políticas públicas e professor e pes-
quisador na UNB e na UFG, no Brasil. Ele esteve 
no X Congresso Brasileiro de Direito de Família e 
conversou com a reportagem. Confira:
COMO CONHECEU O IBDFAM?
Eu trabalho com programas voltados à familia, 
crianças e mulheres na Universidade de Baltimore e 
conheci o IBDFAM através de amigos brasileiros. 
Eu achei interessante e começei a ler as publicações 
do Instituto.
QUAIS TEMAS SÃO MAIS INTERESSENTATES 
PARA O SEU TRABALHO?
 Os temas que mais me interessaram, que mais 
conectam com o meu trabalho nos EUA são os que 
envolvem mediação e resoluções alternativas de 
conflitos. Por lecionar politicas sociais, também es-
tou interessado nos temas de direitos das crianças e 
das mulheres e identificação de gênero.
O QUE ESTÁ ACHANDO DESSA EXPERIÊNCIA 
AQUI NO BRASIL?
A razão principal de estar aqui é para trazer mé-
todos de pesquisas para ver se são aplicáveis aqui 
envolvendo os direitos das minorias. Ouvindo as 
palestras eu percebi que vocês podem utilizar essas 
discussões de forma mais empírica, mais prática. O 
que, na minha opinião, seria bem viável e interes-
sante. Brasileiros e americanos têm problemas simi-
lilares em muitas áreas, inclusive nas questões en-
volvendo o Direito de Família, e a minha intenção é 
unir a experiência dessas pesquisas e trazer também 
soluções interessantes. Os sistemas são diferentes, 
mas os problemas acabam sendo os mesmos.
IBDFAM APROVA ENUNCIADOS
O Tratado de Direito das Famílias, em suas mais de 1000 páginas, reúne 19 dos mais renomados 
autores e doutrinadores brasileiros na área, numa obra inédita, ímpar no Brasil. O conteúdo 
espelha o Direito de Família Contemporâneo, atualizado com as leis 13.105/2015 (novo 
CPC), 13.140/2015 (Mediação) e 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e traduz-
se na maior obra já publicada pela Editora IBDFAM.
A maior obra publicada em Direito de Família. 
Com a marca IBDFAM.
ADQUIRA SEU EXEMPLAR EM
www.ibdfam.org.br/tratato
OU LIGUE
(31)3324-9280
www.ibdfam.org.br

Continue navegando