Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Microbiologia Básica e Ambiental Os vírus Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profº. Dr. Jorge Henrique da Silva Revisão Textual: Profª. Esp. Marcia Ota 5 • Aspectos Gerais • Classificação dos Vírus • A Importância dos Vírus Para que você tenha um excelente aproveitamento dos estudos, é de extrema importância que você, além de ler, atentamente, o conteúdo proposto, consulte, ainda, os materiais complementares. Além disso, assista ao vídeo sugerido. Não se esqueça, também, de buscar outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado. Afinal, conhecimento não ocupa espaço, não pesa! Sendo assim, ao se aprofundar no tema, enriquecendo seus conhecimentos, você se diferenciará dos demais! Nesta unidade, você terá oportunidade de aprender sobre os vírus, suas formas, tipos e como se reproduzem. Assim, conhecerá a importância desses “agentes”. Para que possa assimilar o máximo de conhecimento, leia com atenção a aula, faça um resumo do conteúdo teórico e, se necessário, pesquise outras fontes além das que estão apontadas. Assista, também, ao vídeo sugerido. Os vírus 6 Unidade: Os vírus Contextualização Os vírus são incríveis, ora podem ser classificados como seres vivos, em outro momento, ou situação, não. Por isso, conhecer esses “agentes” e os seus impactos (positivos ou negativos) sobre os organismos vivos é de extrema importância. A partir do momento que a humanidade passou a conhecer como eles se reproduzem, as suas peculiaridades e como se relacionam com a biodiversidade, foi possível não só a prevenção de doenças, como também sua utilização enquanto aliados, em alguns processos, para controlar: · pragas para aumentar a quantidade de alimentos; e · processos de saneamento ambiental. Portanto, nesta unidade, você terá conhecerá as principais características desses “agentes” (parasitas obrigatórios) e os diversos, papéis que eles desempenham. Explore Assim sendo, inicie esse aprendizado, assistindo ao vídeo: Discovery na Escola / Tudo Sobre: Vírus Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=375OOz0mmYI 7 Aspectos Gerais Somente com o avanço da tecnologia na área da microscopia é que os pesquisadores puderam passar a conhecer, de fato, esses “agentes”, atualmente, chamados de vírus. Primeiramente, a cerca de anos atrás, os cientistas classificaram esses “agentes” com sendo um tipo de fluido contagioso. Apenas depois de o pesquisador Wendell Stanley ter tido sucesso ao isolar o vírus do mosaico do tabaco é que se tornou possível o avanço nos estudos sobre a composição química e estrutural de um vírus. Assim, em meados do século XX, para se referir a esses “agentes”, a maioria dos cientistas passou a utilizar o termo vírus, que, em latim, significa toxina ou veneno. A grande questão, envolvendo esses “agentes”, é se os mesmos podem, ou não, ser considerados como seres vivos. Podemos, por um lado, dizer que, sim, os vírus são seres vivos, pois a maior das características que um organismo vivo apresenta é a de se reproduzir. Além disso, quando parasitam em uma célula viva (vegetal, animal ou microbiana), conseguem se “reproduzir” (replicar). Desse modo, devem ser classificados como seres vivos (parasitas intracelulares obrigatórios). Entretanto, por outro lado, como a vida, também, pode ser definida como resultante de uma ação incessante dos ácidos nucleicos, produzindo proteínas e os vírus, quando não estão parasitando uma célula viva, são inertes, não podem (neste estado de inércia) ser considerados, portanto, como seres vivos. Dependendo do aspecto considerado, os vírus podem ser considerados, apenas, com sendo um “aglomerado de elementos químicos” ou, seja, um microrganismo muito simples. Se considerado o seu poder de infecção, causando doenças em vegetais ou animais, os vírus podem, também, nesses casos patogênicos, serem considerados como seres vivos. Por essas características peculiares e, ainda, por não serem constituídos de células, os vírus (figura 1) não pertencem a nenhum reino. Com o passar dos tempos, os cientistas consideraram que tanto a organização estrutural simples, quanto o mecanismo de “reprodução” dos vírus são as características fundamentais que os colocam à parte, fora de qualquer reino. Assim sendo, resumidamente, os vírus apresentam as seguintes características: · a maioria é constituída por uma cápsula, ou invólucro, de proteína, onde se encontra o material genético (o ácido nucleico); · apresentam apenas um tipo de ácido nucleico (DNA ou o RNA); Capsômeros Cápsula Cápsula de proteína Vírus da poliomielite Vírus do tabaco Bacteriófago: vírus que ataca bactérias HIV, vírus da AidsVírus da gripe RNA Lipídios Lipídios Proteínas Enzimas RNA GlicoproteínaProteínas Proteínas e RNA CabeçaRNA DNA Cauda Fibras caudais Figura 1 - Alguns tipos de vírus. Fonte: UFPE (2014) 8 Unidade: Os vírus · reproduzem-se dentro de células vivas, utilizando a estrutura de síntese celular; · conseguem induzir a síntese de mecanismos que farão a transferência do material genético viral para outras células (hospedeiras); · podem sofrer mutações genéticas. Em relação às suas dimensões, os vírus são extremamente pequenos (figura 2), o maior tem menos que a quarta parte das dimensões de uma salmonela (tipo de bactéria) e milhares de vírus, de menor tamanho, poderiam ser colocados dentro da parede celular vazia de um estafilococo (outro ripo de bactéria). Além disso, sendo extremamente pequenos (figura 2), os vírus conseguem, com enorme facilidade, atravessar filtros, onde bactérias são retidas. Esses seres, portanto, somente podem ser observados através da utilização do mecanismo de microscopia eletrônica. Os vírus são tão pequenos, que a unidade de medida utilizada, ao se referir à suas dimensões, é o nanômetro1(nm). Ressalta-se que a unidade para se medir as dimensões das bactérias, organismos extremamente maiores, é o micrômetro2 (µm). Figura 2 - Comparação entre vírus, uma bactéria e uma hemácia em relação ao tamanho. 225 nm Bacteriófago T4 Adenovírus 90 nm Bacteriófagos f2, MS2 24 nm Poliovírus 30 nm Prion 200 . 20 nm Vírus da vaccinia 300 . 200 . 100 nm Rinovírus 30 nm Vírus do mosaico do tabaco 250 . 18 nm Viroide 300 . 10 nm Vírus Ebola 970 nm Eritrócito humano com diâmetro de 10.000 nm Membrana plasmática do eritrócito 10 nm de espessura E. Coli (bactéria) 3.000 x 1.000 nm Bacteriófago M13 800 . 10 nm Vírus da raiva 170 . 70 nm Corpúsculo elementar da Chlamydia 300 nm Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002) 1 Nanômetro (nm) - Um nm é o resultado ao se dividir 1 bilhão de vezes o metro (1m), ou seja, 1m = 1.000.000.000nm. Para ficar mais claro, 1 nm é o resultado ao se dividir 1mm, a menor divisão de uma régua, por 1 milhão de vezes. 2 Micrômetro (µm) - Um µm é o resultado ao se dividir 1 milhão de vezes o metro (1m), ou seja, 1m = 1.000.000µm. Para imaginar isso, pense em 1 mm, a menor divisão de uma régua, sendo dividido em mil de partes iguais. 9 Em relação a sua estrutura, conforme já relatado, cada vírus (ou vírion3) apresenta seu material genético (DNA ou RNA) envolto e protegido por um “envelope” ou o capsídio. Vale lembrar que essa estrutura, o capsídio, é composta por minúsculas unidades de proteína, chamadas de capsômeros, que darão o nome ao vírus, dependendo da sua composição química e forma espacial. Todos os vírus apresentam simetria em sua estrutura, podem ainda, ou não, apresentar envoltório (o “envelope”) formado por lipoproteínas ou lipídeos. Dessa forma, apresentam-se nas seguintes formas: · poliedro regular (representados pelos poliovírus e os adenovírus); · helicoidais(vírus do mosaico do tabaco, por exemplo); · envelopados, quando envolvidos por uma membrana não rígida4 (vírus da herpes, por exemplo) (Figura 3). Ressalta-se que alguns vírus podem se apresentar com seus capsídios não protegidos por “envelopes”. Então, são chamados de “não envelopados” (vírus poliédrico - figura 3). Quando “não envelopado”, a proteção do material genético é de responsabilidade do capsídio. Além de proteger, o capsídio é responsável, também, pela ligação do vírus às células que serão infectadas. Ainda, há tipos de vírus que se apresentam estruturados de maneira mais complexa, como por exemplo os do tipo bacteriófago (figura 3). Na figura 3, é possível observar que o capsídio desse tipo de vírus apresenta-se no formato poliédrico e a sua bainha está enrolada, ou seja, no formato de hélice (helicoidal). Apresentam, ainda, estruturas denominadas fibras da cauda, placa e pino (estruturas importantes no processo de “reprodução” – replicação). Assim, por se apresentarem com uma estrutura bem mais elaborada que os outros tipos de vírus, são chamados de “vírus complexo”. Figura 3 - Comparação entre alguns vírus, em relação a sua estrutura física. Capsômero Capsômero Capsômero Envelope Espículas Ácido nucleico Ácido nucleico Capsídeo Capsídeo Ácido nucleico Capsídeo (cabeça) DNA Fibra da cauda Placa basal Pino Bainha 65 nm Vírus Poliédrico Vírus Bacteriófago Vírus Helicoidal Vírus Envelopado Helicoidal Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002) 3 Partícula viral potencialmente infecciosa, que apresenta seu ácido nucleico envolvido por um tipo de cobertura proteica, que propiciará proteção à transmissão de uma célula (hospedeira) para outra. 4 Os vírus, com envelope, são muito sensíveis às soluções emulsificantes (detergentes e sais biliares), ao clorofórmio e éter, pois essas substâncias dissolvem lipídeos. 10 Unidade: Os vírus Classificação dos Vírus As categorias taxonômicas são necessárias não só para identificarmos/classificarmos os animais, os vegetais e os microrganismos, como também para organizar/classificar os vírus. Os primeiros critérios de classificação, utilizados pelos cientistas, eram apenas com base na sintomatologia. A princípio, um sistema conveniente, mas logo que se descobriu que, dependendo do tipo de célula ou tecido (infectado), um mesmo tipo de vírus poderia causar mais de uma doença, esse sistema passou a não ser mais aceito. No início da segunda metade do século XX, com a criação do Comitê Internacional de Taxonomia Viral (o CITV), os cientistas deram maior relevância a essa questão. Entretanto, ressalta-se que somente foi possível obter informações precisas a fim de se construir um sistema de classificação para esses “seres” (os vírus) após o avanço das tecnologias nas diversas áreas científicas, em especial, da microscopia eletrônica. Com os resultados de pesquisas, que buscaram conhecer mais sobre os vírus, tendo como base a morfologia, tipo de ácido nucleico e na estratégia de replicação, o CITV passou a agrupá- los em famílias. Assim, para se classificar um vírus, passaram a ser utilizadas características primárias e secundárias. As primárias estão relacionadas com: · o tipo de ácido nucleico apresentado (DNA ou RNA - se o mesmo está em fita única ou dupla e sua massa molecular); · estrutura física do vírus (poliédrico, helicoidal, envelopado; · número de capsômeros, diâmetro do nucleocapsídio); e · local de reprodução (se ocorre no núcleo ou no citoplasma da célula hospedeira). Entre as características secundárias, utilizadas para a classificação de um vírus, são consideradas: · hospedeiro (espécie, tecidos ou célula que é infectada); · modo de transmissão (pelas fezes, por exemplo) e; · estruturas específicas de superfície (como: propriedades antígenas5 - por exemplo). O CITV, através das diretrizes para a classificação, orienta utilizar o sufixo ales para representar a ordem. Ressalta-se que este Comitê reconhece apenas três ordens: a Caudovirales, a Mononegavirales e, a Nidovirales. Os vírus que infectam bactérias (bacteriófagos) estão inseridos na ordem Caudovirales, os que parasitam plantas e animais (invertebrados), na ordem Mononegavirales e, por fim, os que têm os animais vertebrados como seus hospedeiros, estão inseridos na ordem Nidovirales. 5 O antígeno, nesse caso, é formado por moléculas (parte de um vírus) que, na maioria, apresentam proteínas, polissacarídeos e/ou lipossacarídeos. Um antígeno desencadeia uma resposta imune (de defesa) na célula hospedeira. 11 O Comitê (CITV), ainda, orienta para a utilização do sufixo virus para se referir aos gêneros e, para as famílias, o sufixo viridae (por exemplo: Família Herpesviridae, Gênero Simplexvirus - Vírus do Herpes Humano). Para se referir a espécie do vírus, não são utilizados epítetos específicos. Assim, segundo as orientações do CITV, as espécies de vírus devem ser apresentadas por nomes descritivos usuais (“vulgares”), como por exemplo, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). As subespécies (se existirem), por sua vez, deverão ser apresentadas com um número, por exemplo: HIV-1, Vírus do Herpes Humano Tipo 2. Nesse aspecto, destaca-se que uma espécie de vírus compreende um grupo desses “seres” que apresentam o mesmo genoma (informação genética) e o mesmo espectro de hospedeiros. Replicação (“reprodução”) dos Vírus Conforme citado anteriormente, os vírus para se replicarem (“reproduzirem”) precisam infectar (parasitar) uma célula. A reprodução dos vírus ocorrerá por meio do processo chamado de replicação. Nesse processo, porções do ácido nucleico se multiplicam (replicam) no interior das células hospedeiras. Resumidamente, o processo de replicação dos vírus se dá através das seguintes etapas: · adsorção; · penetração e desnudamento; · replicação bioquímica; · maturação e; · liberação. Na primeira etapa, para se ligar (adsorção) a um receptor na membrana plasmática da célula que será infectada (parasitada), os vírus que apresentam “envelope”, o capsídio, projetam “pontas” (macromoléculas de glicoproteínas e de lipídeos), que serão responsáveis pela aderência do vírus na membrana da célula a ser infectada (futura hospedeira). Nos casos de vírus sem “envelopes”, o capsídio será o responsável por essa função. Após se adsorverem à célula que será infectada, ocorre a etapa da penetração e desnudamento, na qual, os vírus que possuem “envelope” fundem o seu “envelope” (lipoproteico) com a membrana citoplasmática da célula, resultando na liberação do material genético no citoplasma celular. Já os vírus, que não possuem “envelope”, realizam esse processo por fagocitose. Após injetar o material genético (DNA ou RNA) no interior da célula hospedeira, inicia-se o processo de replicação bioquímica. Para sintetizar proteínas e se replicarem, o DNA (ou RNA) viral assumirá o metabolismo da célula hospedeira. Para tanto, fará uso da energia (ATP) e de estruturas contidas na célula, como: enzimas, ribossomos, RNA de transferência. Na sequência, ocorrerá o processo de maturação, onde os novos componentes como os capsídios, que contêm o DNA (ou RNA) e as caudas (nos casos dos vírus do tipo bacteriófagos), serão organizados, formando, assim, o “novo vírus” (ou partícula viral). 12 Unidade: Os vírus Depois de concluído o estágio de “maturação”, ocorrerá a liberação dos “novos vírus”. Esse processo (de liberação) pode variar dependendo do tipo de vírus e/ou célula infectada. Na maioria dos casos, a liberação dos “novos vírus” ocorrerá pelo processo de lise celular, onde a célula, cheia de vírus, rompe-se (estoura). Há casos, que a liberação ocorrerá de forma lenda e gradativa, onde a célula hospedeira não será destruída (figuras 4 e 5). Figura 4 - As fases da replicaçãode um papovavírus6 . Os vírions são liberados Vírions maduros Proteínas do capsídeo DNA Capsídeo Papovavírus Núcleo Citoplasma DNA viral Proteínas do capsídeomRNA Tradução tardia; as proteínas do capsídeo são sintetizadas O DNA viral é replicado e algumas proteínas virais são sintetizadas Uma parte do DNA viral é transcrita, produzindo mRNAs que codi�carão as proteínas virais “precoces” O vírion penetra na célula e seu DNA é desnudado O vírion se adere à célula hospedeira Legenda: 1 - Adsorção; 2- Penetração e desnudamento; 3, 4 e 5 - Replicação bioquímica; 6- Maturação e; 7 - Liberação. Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002) Replicação (“reprodução”) dos Vírus Bacteriófagos No início do século XX, os pesquisadores Twort e D’Herelle observaram, em seus experimentos, que colônias bacterianas, infectadas por vírus, em algum momento, desapareciam devido ao rompimento (lise) das células. Notaram, ainda, que esse efeito “lítico” era transmitido de uma colônia para outra. A este “agente viral”, causador do rompimento (lise) da célula bacteriana, foi dado o nome de bacteriófago. Os vírus do tipo bacteriófagos7 podem se replicar por dois processos, o ciclo lítico e o ciclo lisogênico. O primeiro termina com a lise da célula hospedeira, enquanto no segundo (ciclo lisogênico), ao final, a célula hospedeira permanecerá viva. Uma vez que os Vírus Bacteriófagos T são os mais estudados, será mostrada sua replicação utilizando a bactéria Escherichia coli, como célula hospedeira (Figura 5). 6 Os papovavírus têm seu nome derivado de: papilomas (verrugas), poliomas (tumores) e vacuolização (vacúolos citoplasmáticos produzidos por alguns desses vírus). Ressalte-se que algumas espécies (deste tipo de vírus) podem causar câncer. 7 Nome que se dá ao vírus capaz de infectar bactérias e, também, destruí-las. 13 O ciclo lítico ocorre na maioria dos vírus do tipo bacteriófagos. Esse processo ocorrerá em cinco etapas: 1- ancoragem; 2- penetração; 3- biossíntese; 4- maturação e; 5- liberação (figura 5). Após a aderência, o material genético do vírus, inserido no citoplasma bacteriano, será transcrito (replicado), seguido da síntese de proteínas virais. Posteriormente, ocorrerá a maturação dos “novos vírus” (ou “partículas virais”) que serão liberados após a lise da célula bacteriana. O rompimento (lise) da célula bacteriana só é possível pela ação de uma enzima (a lisoenzima) sintetizada na fase tardia do processo de síntese proteica. Figura 5 - As fases da replicação (“reprodução”) de um vírus bacteriófago. DNA do fago (�ta dupla) O fago adsorve a célula hospedeira e injeta seu DNA Ocasionalmente, o profago pode ser removido do cromossomo bacteriano por outro evento de recombinação, iniciando um ciclo lítico Muitas divisões celulares A bactéria lisogênica se produz normalmente Por um processo de recombinação, o DNA do fago se integra ao cromossomo bacteriano e se torna um profago O DNA e as proteínas dos novos fagos são sintetizados e montados, formando novos vírions O DNA do fago circulariza e entra em ciclo lítico ou lisogênico Lise cecular e liberação de novos vírions ou Profago Cromossomo bacteriano Ciclo lítico Ciclo lisogênico Legenda: Etapas do Ciclo Lítico: 1 e 2 – Adsorção, Penetração e desnudamento; 3A - Replicação bioquímica; 4A- Maturação e Liberação. Etapas do Ciclo Lisogênico: 2 – Adsorção, Penetração e desnudamento; 3B – Recombinação Gênica; 4B- Divisão (reprodução) da Bactéria; 5 – Nova Recombinação – possível início do ciclo lítico. Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002) Os vírus bacteriófagos, que utilizam o ciclo lisogênico para a sua replicação (“reprodução”), são chamados de lisogênicos ou temperados. No ciclo lisogênico, a produção de componentes virais é desligada indefinidamente e o “vírus” (fago) permanece inativo. Nesse ciclo, os processos de adsorção e de penetração ocorrerão da mesma maneira que ocorre no ciclo lítico. Entretanto, em vez de ocorrer na sequência a biossíntese, o material genético do vírus será fundido (“recombinação”) ao material genético da bactéria, duplicando-se. Eventualmente, poderá ocorrer uma indução “espontânea” do material genético do vírus, permitindo assim que o mesmo possa se replicar (“reproduzir”) do ciclo lítico (Figura 5). Processo de Co Evolução (Vírus x Hospedeiro) Os vírus, assim como seus hospedeiros, buscam, incessantemente, o equilíbrio nesta relação. Com o passar dos tempos, esses seres (vírus e hospedeiros) têm desenvolvido mecanismos para sobreviverem e deixarem descentes, entre estes estão estratégias de defesa (por parte dos hospedeiros) e de ataque (por parte dos vírus). 14 Unidade: Os vírus Nesse processo evolutivo, os hospedeiros mais adaptados vão sendo selecionados, passando para as próximas gerações o genótipo que lhes permite resistirem ao “ataque” de um determinado vírus. Os vírus, por sua vez, também vão sendo selecionados. Assim, os mais adaptados somente é que terão sucesso em parasitar seus hospedeiros, podendo, assim, transmitirem aos seus descendentes essas habilidades. A essa constante “batalha” pela sobrevivência, onde um ser exerce sobre o outro uma pressão seletiva / evolução, chamamos de co-evolução. A Importância dos Vírus As Viroses Os vírus causam infecções (doenças) em microrganismos, plantas, seres humanos e em outros animais. Nos humanos, os vírus podem causar diversas doenças, entre elas: Gripe (Influenzavirus), Gripe Suína (Influenza H1N1), Resfriado (vírus da família dos Picornavirus e Coronavirus), AIDS (HIV), Poliomielite (Enterovirus poliovirus), Dengue (Flavivirus sp.), Febre Amarela (Flavivirus sp.), Catapora (Varicellovirus sp.), Caxumba (vírus da família dos paramyxovirus), Rubéola (Rubella virus), Sarampo (Morbillivirus sp.), Varíola (Orthopoxvirus sp.), Raiva (Lyssavirus sp.), Ebola (Filovirus sp.), Diarreia (Rotavirus sp., Norovirus sp., Astrovirus sp. e os vírus da família dos Adenovirus), Hepatite (Hepatovirus), Herpes (Simplexvirus sp.) , Verruga (Vírus do papiloma humano), SARS (Coronavirus sp.), Sarcoma de Kaposi (Rhadinovirus sp.). A maioria dessas enfermidades (viroses) se não tratadas, os sintomas podem levar o paciente a óbito. Atualmente, a maioria dessas viroses pode ser prevenida através do processo de imunização (utilizando as vacinas). As vacinas são substâncias que contêm vírus atenuados ou mortos, ou mesmo, partes deles (príons8). Assim, essas substâncias, ao serem introduzidas no organismo do animal (que pode ser o homem), estimularão o organismo, através do sistema imunológico, a produzir anticorpos (estruturas de defesa) que combaterão a infecção antes que a doença se instale. Uma vez estimulado, o organismo se tornará imune ao agente desse tipo de vírus. Uso dos Vírus no Controle de Infecções Bacterianas (Fagoterapia) Nos últimos anos, com a intensa seleção química de bactérias, que não podem mais ser controladas por antibiótico, para controlar essas bactérias, o processo de fagoterapia tem sido uma alternativa. Nesse processo, os vírus, do tipo bacteriófago são inoculados e irão se reproduzir dentro da bactéria alvo, destruindo-as. Esses agentes permanecerão ativos enquanto houver bactérias. Ressalta-se que esse procedimento não apresenta efeitos colaterais indesejáveis, tendo em vista que esses vírus são específicos, infectando apenas a bactéria-alvo. 8 Partícula (de um vírus) proteica infecciosa, não possuindo ácido nucléico. Possui propriedades incomuns, como a alta resistência à radiação ultravioleta e ao calor, ao contrário dos vírus convencionais. No entanto, são inativados pelo hipoclorito e autoclave. Assim como os vírus, reproduz-se dentro das células. É possível que as proteínas dos príons sejam codificadas por um gene encontrado no DNA de um hospedeironormal. 15 Por outro lado, não se sabe, ainda, o quanto o processo de fagoterapia é, de fato, efetivo nas diversas situações em que poderia ser empregado como recurso de tratamento. Os vírus causadores de doenças em plantas (chamados de fitovírus), para infectar uma planta precisarão de “ajuda” de outros “agentes”. Nesse sentido, os fitovírus são transportados até uma planta por insetos, ácaros, fungos, ou mesmo por manipulação do homem. O vento e a água, também, podem realizar esse papel. Após infectar uma planta, os vírus parasitarão células das diversas partes do vegetal, podendo ocasionar quadro sistêmico de infecção. Alguns vírus podem causar apenas danos e lesões em determinados locais (folhas, raízes, caule). Os sintomas que a planta pode apresentar quando a infecção for considerada do tipo sistêmica, são: amarelamento, nanismo, superbrotamento, distorção foliar. Por outro lado, quando a infecção for considerada localizada, os sintomas podem ser lesões necróticas. Como consequência, tanto de uma infecção sistêmica quanto de uma localizada, a planta ficará debilitada podendo chegar até a morte. Entre as diversas técnicas de controle de viroses de plantas, pode-se citar: a eliminação dos vetores e de hospedeiros intermediários, o uso de variedades resistentes, destruição da planta infectada e imunização (inoculando o vírus atenuado na planta para estimular sua imunidade). Muitas vezes, os vírus, ao infectar uma planta, podem não produzir prejuízos. Por exemplo, os vírus, que infectam as tulipas, são responsáveis pela coloração variada apresentada nessas plantas. Salienta-se que as tulipas “sadias” são monocromáticas (de apenas uma cor). Controle Biológico Utilizando Vírus A técnica de se controlar pragas sem o uso de produtos químicos, utilizando apenas outros organismos, é conhecida como controle biológico. Em lavouras de soja e de milho, os vírus da família Baculoriridae têm sido muito utilizados para controlar a população de insetos que atacam esse tipo de vegetal. Nessas lavouras, os vírus são pulverizados sobre as plantas contaminando e matando os insetos, ainda na sua forma de lagarta. Para se controlar biologicamente a contaminação de produtos derivados da carne por bactérias do tipo Salmonella e Listeria monocytogenes, a aplicação de soluções contendo bacteriófagos tem se mostrado eficaz. Destaca-se que os tipos de vírus, utilizados nessa técnica de controle, não causam nenhum dano à saúde humana. A utilização de vírus em processos de controle biológico apresenta algumas vantagens: risco mínimo ao se armazenar as soluções, especificidade elevada e não contaminam os seres humanos. Por outro lado, podem apresentar algumas desvantagens: elevado custo de produção, ação lenta e falta de formulações adequadas. Uso dos Vírus no Processo de Saneamento Básico Pode-se considerar que, nas Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs), os vírus do tipo bacteriófagos líticos, logo após as bactérias, são os “agentes” mais importantes no processo de tratamento dos efluentes. 16 Unidade: Os vírus Esses “agentes” são utilizados no processo de redução de bactérias potencialmente causadoras de doenças em seres humanos. Ainda, são utilizados como indicadores da qualidade da água, pois sua existência indicará também a existência da contaminação fecal, ou seja, a presença de bactérias do tipo Escherichia coli. 17 Material Complementar Livros: SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à virologia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2008. UJVARI, S. C. A história da humanidade contada pelos vírus. São Paulo: Contexto. 2008. Sites: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/biovirus.php http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/viroses/ Vídeo: Discovery na Escola / Tudo Sobre: Vírus https://www.youtube.com/watch?v=375OOz0mmYI Aumente seus conhecimentos. Leia! “Sua atitude no início de uma tarefa definirá em muito o êxito dessa tarefa... Identifique os desafios, crie estratégias e aja como se fosse impossível falhar.” 18 Unidade: Os vírus Referências BOSSOLAN, N. R. S. Introdução à microbiologia. São Carlos: USP (IF/SC). 2002. Disponível em: http://iseib.edu.br/biblioteca/wp-content/uploads/2013/05/INTRODU%C3%87%C3%83O- %C3%80-MICROBIOLOGIA.pdf. Acesso em: 11 set. 2014. ICB/UFMG. Vírus: estrutura, classificação e importância. Departamento de Microbiologia / Instituto de Ciências Biológicas / Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://icb.ufmg.info/ mic/diaadia/wp-content/uploads/2012/10/V%C3%ADrus-ECI.pdf. Acesso em: 11 set. 2014. PELCZAR, J. M.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e aplicações. v.1. (2.ed.). São Paulo: Makron Books. 1996. ______. Microbiologia: conceitos e aplicações. v.2. (2.ed.). São Paulo: Makron Books. 1996. TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C. L. Microbiologia. (10 ed.). Porto Alegre: Artmed, 2012. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
Compartilhar