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TCC FEMINICÍDIO CONCLUIDO

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Prévia do material em texto

FAA – FACULDADE DE ADMINSTRAÇÃO DE ALAGOAS 
IESA – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE ALAGOAS 
 
 
 
 
 
Angelina Mara Amorim Melo 
 
 
 
 
 
DANO A MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
Aplicabilidade da Lei 13.104 de 2015 – “Lei do Feminicídio” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maceió-AL 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Angelina Mara Amorim Melo 
 
 
 
 
 
DANO A MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
Aplicabilidade da Lei 13.104 de 2015 – “Lei do Feminicídio” 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de graduação 
apresentado a Faculdade de Administração de 
Alagoas como requisito parcial para a obtenção 
do título de Bacharela em Direito. 
 
 
 
Orientador: Prof. Rodrigo Colombelli 
 
 
 
 
 
 
 
Maceió-AL 
2017 
 
 
 
 
Angelina Mara Amorim Melo 
 
 
 
DANO A MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
Aplicabilidade da Lei 13.104 de 2015 – “Lei do Feminicídio” 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado a Faculdade de Administração 
de Alagoas como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharela em Direito. 
 
 
Aprovado em: ____ de _______ de _____. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
__________________________________________ 
Professor Rodrigo Colombelli 
Orientador 
 
__________________________________________ 
Membro 1 
 
 
__________________________________________ 
Membro 2 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Minha eterna gratidão aquela que acreditou no meu sonho, que me apoiou 
desde o início, que esteve ao meu lado em cada momento de fraqueza, a 
representação do amor verdadeiro, aquela que me deu a vida, por todo amor e 
dedicação ao qual me ofertaste em toda minha vida, muito obrigada por tudo, Mãe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem como objetivo analisar a necessidade e aplicabilidade da lei 13.104 de 2015, 
a lei do Feminicídio, inserida ao Código Penal Brasileiro como uma circunstância qualificadora 
do crime de homicídio, sendo considerada uma das mais importantes medidas criadas para 
coibir e prevenir a violência doméstica e principalmente punir efetivamente de forma mais 
rígida os assassinatos de mulheres em razão de gênero, buscou-se conceituar o Feminicídio 
e de que forma ele se apresenta na sociedade contemporânea, 
 
 
Palavras-chave: Feminicídio, Violência, Gênero 
 
 
ABSTRACT 
 
 
Versão do resumo em inglês. Espaçamento entrelinhas simples, sem recuo de 
parágrafo. 
 
Keywords: 
 
 
 
 
LISTA DE ANEXOS 
 
 
ANEXO A .......................................................................................................44 
ANEXO B .......................................................................................................45 
ANEXO C .......................................................................................................46 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE APÊNDICES 
 
APÊNDICE A.......................................................................................................................47 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .....................................................................................................................10 
1. CAPÍTULO I -FEMINICÍDIO: CONCEITO E EVOLUÇÃO DO TEMA........................12 
1.1. Conceito de Feminicídio ............................................................................................12 
1.1.1. Tipos de Feminicídio .................................................................................................14 
1.1.2. Feminicídio e o Princípio da Igualdade .....................................................................16 
1.2. Influências da Sociedade Patriarcal...........................................................................18 
1.2.1. Feminismo X Machismo.............................................................................................20 
1.2.2. Culpabilização das Vítimas ........................................................................................22 
1.3. Feminicídio No Mundo ...............................................................................................22 
1.4. Feminicídio No Brasil .................................................................................................23 
2. CAPÍTULO II - ANALISE DA LEI Nº 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA.............25 
2.1. Conceito de violência doméstica segundo a Lei Maria da Penha..............................27 
2.2. Mudanças com a implantação da lei .........................................................................28 
2.3. Intercorrências jurídicas entre a Lei Maria Da Penha e o Feminicídio ......................30 
3. CAPÍTULO III - LEI 13.104/2015 – IMPLANTAÇÃO DO FEMINICIDIO NO CODIGO 
PENAL BRASILEIRO.............................................................................................................31 
3.1. Tipificação Penal do Feminicídio ...............................................................................31 
3.2. Casos que ocorreram após a vigência da Lei do Feminicídio ...................................33 
3.2.1. Isamara Filier: A chacina de Campinas .....................................................................33 
3.2.2. Mirella Sena: O assassino morando ao lado .............................................................34 
3.3. Aplicabilidade da Lei de Feminicídio No Brasil ..........................................................36 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O tema além de muito recente é também extremamente controvertido, tanto 
para doutrinadores, quanto para a jurisprudência e operadores do Direito de modo 
geral. A Lei nº 13.104, sancionada em 9 de março de 2015, a chamada “Lei do 
Feminicídio”, veio com a finalidade de tornar o homicídio de mulheres, em razão de 
gênero, uma qualificadora no Código Penal Brasileiro, aumentando a pena nesses 
casos. O que muitos questionam é se a lei é necessária, se é eficaz, se ela será capaz 
de mudar o quadro da violência contra as mulheres no Brasil. 
Só no país, estima-se que a cada quatro minutos uma mulher dá entrada no 
SUS vítima de violência, ato este que quando é levado ao extremo também coloca o 
Brasil em um ranking ainda mais alarmante, além do que é o 5º país que mais mata 
mulheres no mundo, segundo o Mapa da Violência de 2015. O que demonstra que as 
mulheres brasileiras ainda, são obrigadas a conviverem com o machismo pautado na 
cultura patriarcal que ainda domina. 
O trabalho busca inicialmente conceituar o Feminicídio e sua evolução, bem 
como fazer uma análise do que o sistema patriarcal e a cultura do machismo ainda 
influenciam para o aumento da violência contra a mulher. Vale ressaltar que o 
machismo está espalhado de modo geral, permeado através de pensamentos e 
comportamentos que se inserem na sociedade, onde até mesmo mulheres tem 
comportamentos machistas. Busca-se também abordar as mais relevantes teorias 
feministas e sua contribuição para a criação da lei, além de tratar da violência de 
gênero e das formas pelas quais ela se apresenta. 
Ainda no primeiro capítulo, far-se-á um comparativo do Feminicídio no mundo 
e no Brasil, demonstrando dados estatísticos de como essa violência se apresenta, 
isso porque a violência contra o mundo feminino, infelizmente, ainda é universal, 
pode-se encontrá-la de variados modos, com uma incidência maior em alguns lugares, 
comoé o caso em tela, entretanto ainda não é uma ausência no mundo. 
No segundo capitulo, atentaremos à Lei 11.340/2006, mais conhecida como Lei 
Maria da Penha, a qual prevê medidas protetivas à mulher em situação de violência 
doméstica e familiar, e que significou um grande avanço em relação à preocupação e 
à tentativa do Estado em combater esse tipo de violência, que anteriormente não 
 
 
11 
 
previa nenhum tipo de punição eficaz, o que causava uma sensação de impunidade, 
isso acabava por amedrontar mulheres agredidas por seus cônjuges ou pessoas do 
seu convívio, a tomarem a decisão de denunciar a violência sofrida. De que forma a 
lei influenciou para a criação da lei de Feminicídio. 
Por fim, haverá uma explanação a respeito da implantação da lei de feminicídio 
ao Código penal, tentando vislumbrar a efetividade das medidas punitivas no combate 
a esse tipo de conduta e consequentemente prevenir a violência e o assassinato de 
mulheres por questões de gênero, ainda tão latentes na sociedade contemporânea, 
das quais visam a dominação da mulher como ser inferior a superioridade masculina, 
herança da sociedade patriarcal e da cultura do machismo. 
O que se percebe é de que ainda há muita resistência à aplicabilidade da Lei 
de Feminicídio, a mesma resistência sofrida pela Lei Maria da Penha, talvez sofrida 
até os dias atuais, não somente pela sociedade de modo geral, como também pelo 
próprio judiciário, nota-se que há falhas absurdas durante os inquéritos policiais o que 
contribui para a obscuridade e consequentemente à impunidade na prática do 
Feminicídio. 
O objetivo central do trabalho está em explorar as consequências da tipificação 
do feminicídio proposta pelo Senado Federal, através de sua inclusão no Código 
Penal Brasileiro como forma de homicídio qualificado, adentrando também para o rol 
de crimes hediondos. Visando discutir e refletir sobre a aplicabilidade da lei 
13.104/2015, a “Lei do Feminicídio” e sua eficácia no combate a violência de gênero. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
CAPÍTULO I – FEMINICÍDIO: CONCEITO E EVOLUÇÃO DO TEMA 
 
 Inicialmente, cumpre frisar a referência direta que o feminicídio tem ao combate 
à violência praticada contra as mulheres. Em decorrência dessa violência, temos o 
homicídio de mulheres como objetivo principal ou final dessa conduta, o que leva ao 
entendimento de que a mulher é tida como sujeito inferior ao poder masculino, o que 
faz com que o homem munido do sentimento de posse da mulher se torne seu 
principal algoz. 
Sabe-se que a violência de gênero, principalmente no tocante ao feminino, está 
alicerçada no patriarcado, que parte da premissa da inferioridade da mulher perante 
a figura masculina, onde o poder familiar se encontra nas mãos do homem, na 
dominação do pai, e na dominação do marido nas relações familiares. 
A classe feminina começa então a clamar por igualdade, com isso surgem os 
movimentos feministas, os quais vêm a lutar por seus direitos e principalmente visando 
proteger a mulher através da criação de dispositivos legais que coíbam a violência em 
razão do gênero e por fim o extermínio de mulheres. O capítulo trata sobre o conceito 
desse importante instituto e de que forma é apresentado o presente tema. 
 
1.1 . Conceito de Feminicídio 
É de suma importância esclarecer o que vem a ser feminicídio, vale ressaltar 
que muito se confunde com a terminologia Femicídio, vejamos, o Femicídio quer dizer: 
matar um indivíduo do sexo feminino, diferentemente do Feminicídio que é matar uma 
mulher em razão do gênero, que tem um contexto de desrespeito à condição da 
mulher. 
O feminicídio é na verdade uma qualificadora do crime de homicídio onde a 
principal motivação do crime seria o ódio contra as mulheres, demonstrando um 
menosprezo a sua condição feminina. 
O crime de feminicídio é a expressão máxima final de um ciclo de violência 
sofrida de diversas formas que atingem mulheres em uma sociedade marcada pela 
desigualdade de gênero. 
 
 
13 
 
Nesse sentindo, segue as palavras de Patrícia Galvão (2017, p. 9): 
O assassinato de mulheres em contextos marcados pela 
desigualdade de gênero recebeu uma designação própria: 
feminicídio. No Brasil, é também um crime hediondo desde 2015. 
Nomear e definir o problema é um passo importante, mas para 
coibir os assassinatos femininos é fundamental conhecer suas 
características e, assim, implementar ações efetivas de prevenção. 
 
 Outro conceito importante para esse tema é o que está contido no relatório final 
da CPMI sobre Violência contra a Mulher de 2013, a qual teve expressiva influência 
para a criação do projeto de Lei nº 292/2013, aprovado pelo Senado Federal: 
O Feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo 
homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como 
afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, 
quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da 
intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência 
sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade 
da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como 
aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a 
tratamento cruel ou degradante. 
 
 Luiza Eluf, advogada criminalista, a qual lutou pela criação da lei que tipificasse 
o feminicídio no Código Penal Brasileiro, junto a Reforma Penal em 2011, conceitua: 
“A conduta é matar alguém, porém, se este alguém for mulher 
e, se essa mulher morrer devido às condições do sexo 
feminino no Brasil, ou seja, devido a subalternidade ou ao 
entendimento por parte do assassino, de que aquela mulher 
tem menos direito que ele e que aquela mulher lhe deve 
obediência total e ele tem o direito de vida ou morte sobre ela. 
Então, ele mata por esse motivo, ele estará cometendo um 
feminicídio”. 
Explicitadas as conceituações a respeito da nomenclatura do tema, observa-se 
que tudo está no emprego de papeis de gêneros pré-estabelecidos pela sociedade, 
onde obrigações e deveres são implícitos a classe feminina, dando início a um ciclo 
de violência contra elas que pode resultar em suas mortes. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
1.1.1. Tipos de Feminicídio na sociedade contemporânea 
 
O Feminicídio se apresenta de diversas formas em se tratando de razão de 
gênero na pratica do homicídio de mulheres, como veremos a seguir. 
De forma íntima, que é apresentada como o homicídio de uma mulher cometida 
por uma pessoa com quem a vítima tinha, ou tenha tido, uma relação ou vínculo 
íntimo, ou seja, marido, ex-marido, companheiro, namorado, ex-namorado ou amante, 
pessoa com quem tem filho. Inclui-se a hipótese do amigo que assassina uma mulher 
– amiga ou conhecida – que se negou a ter uma relação íntima com ele, seja 
sentimental ou sexual. 
De maneira não íntima, estabelecida pela morte de uma mulher cometida por 
um homem desconhecido, com quem a vítima não tinha nenhum tipo de relação, como 
uma agressão sexual que culmina no assassinato de uma mulher por um estranho. 
Considera-se, também, o caso do vizinho que mata sua vizinha sem que existisse, 
entre ambos, algum tipo de relação ou vínculo. 
Outro tipo que o feminicídio tem expressão é o infantil, qual se estabelece pela 
morte de uma menina com menos de 14 anos de idade cometida por um homem no 
âmbito de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder conferido pela sua 
condição de adulto sobre a menoridade da menina, diferentemente do feminicídio 
familiar, que é determinado pela morte de uma mulher no âmbito de uma relação de 
parentesco entre a vítima e agressor. O parentesco pode ser por consanguinidade, 
afinidade ou adoção. 
Já o feminicídio por conexão sejustifica pela morte de uma mulher que está ‘na 
linha de fogo’, no mesmo local onde um homem mata ou tenta matar outra mulher. 
Pode se tratar de uma amiga ou parente da vítima, ou também de uma mulher 
estranha que se encontrava no mesmo local onde o agressor atacou a vítima. 
O feminicídio sexual sistêmico resulta na morte de mulheres que são 
previamente sequestradas, torturadas e/ou estupradas. Há duas modalidades: o 
sexual sistêmico desorganizado, quando a morte das mulheres está acompanhada de 
sequestro, tortura e/ou estupro. Presume-se que os sujeitos ativos matam a vítima 
num período de tempo determinado e o sexual sistêmico organizado, quando se 
presume que os sujeitos ativos atuam como uma rede organizada de feminicidas 
 
 
15 
 
sexuais, com um método consciente e planejado por um longo e indeterminado 
período de tempo. 
O feminicídio por prostituição ou ocupações estigmatizadas se dar pela morte 
de uma mulher que exerce prostituição e/ou outra ocupação – strippers, garçonetes, 
massagistas ou dançarinas de casas noturnas – cometida por um ou vários homens. 
Inclui os casos nos quais o agressor assassina a mulher motivado pelo ódio e 
misoginia que a condição de prostituta da vítima desperta nele. Esta modalidade 
evidencia o peso da estigmatização social e justificação da ação criminosa por parte 
dos sujeitos: ‘ela merecia’; ‘ela fez por onde’; ‘era uma mulher má’; ‘a vida dela não 
valia nada’. 
O feminicídio por tráfico de pessoas é estabelecido pela morte de mulheres 
produzida em situação de tráfico de pessoas. Por ‘tráfico’, entende-se o recrutamento, 
transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, valendo-se de 
ameaças ou uso da força ou outras formas de coação, quer seja rapto, fraude, engano, 
abuso de poder, ou concessão ou recepção de pagamentos ou benefícios para obter 
o consentimento da pessoa, com fins de exploração. Esta exploração inclui, no 
mínimo, a prostituição alheia ou outras formas de exploração sexual, os trabalhos ou 
serviços forçados, a escravidão ou práticas análogas à escravidão, a servidão ou a 
extração de órgãos. 
Por fim temos o feminicídio por contrabando de pessoas, qual se identifica pela 
morte de mulheres produzida em situação de contrabando de migrantes. Por 
‘contrabando’, entende-se a facilitação da entrada ilegal de uma pessoa em um 
Estado do qual a mesma não seja cidadã ou residente permanente, no intuito de obter, 
direta ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício de ordem material, 
o transfóbico - Morte de uma mulher transgênero ou transexual na qual o agressor a 
mata por sua condição ou identidade de gênero transexual, por ódio ou rejeição, 
lesbofóbico - Morte de uma mulher lésbica na qual o agressor a mata por sua 
orientação sexual, por ódio ou rejeição, racista - Morte de uma mulher por ódio ou 
rejeição de sua origem étnica, racial ou de seus traços fenotípicos e o feminicídio por 
mutilação genital feminina - Morte de uma menina ou mulher resultante da prática de 
mutilação genital. 
 
 
 
16 
 
1.1.2. Feminicídio e o Princípio da Igualdade 
 
Estudiosos do tema em análise muito se questionam se a introdução da 
qualificadora do feminicídio ao ordenamento penal brasileiro não estaria violando o 
princípio da igualdade. O artigo 5º, inciso I, da CRFB/88 aduz que: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos 
termos desta Constituição; 
 
Nesse entendimento, demonstra que homens e mulheres estão em condições 
igualitárias na questão da isonomia, o que denota se o dispositivo da qualificadora 
seria tido como inconstitucional. 
Tudo que é novo causa discussão e controvérsia, esse na verdade é o 
verdadeiro intuito da criação de novas leis, principalmente as que têm um viés social 
como é o caso do feminicídio, exemplo disso é a Lei Maria da Penha quando editada 
em 2006, pois algumas decisões reconheceram a inconstitucionalidade dos 
processos, mas em 2012 o Supremo Tribunal Federal reconheceu a 
constitucionalidade de todo o texto ao julgar a ADC 19 e ADI 4424, in verbis: 
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 19 
DISTRITO FEDERAL RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO 
REQTE.(S) :PRESIDENTE DA REPÚBLICA ADV.(A/S) 
:ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO INTDO.(A/S) :CONSELHO 
FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL ADV.(A/S) 
:MAURÍCIO GENTIL MONTEIRO INTDO.(A/S) :THEMIS - 
ASSESSORIA JURÍDICA E ESTUDOS DE GÊNERO INTDO.(A/S) 
:IPÊ - INSTITUTO PARA A PROMOÇÃO DA EQUIDADE 
INTDO.(A/S) :INSTITUTO ANTÍGONA ADV.(A/S) :RÚBIA ABS DA 
CRUZ INTDO.(A/S) :INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE 
FAMILIA - IBDFAM ADV.(A/S) :RODRIGO DA CUNHA PEREIRA 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS 
MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O 
artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento 
diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com 
a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as 
peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. 
COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – 
JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER. O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a 
conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência 
 
 
17 
 
normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – 
REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da 
Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica 
contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com 
o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a 
obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a 
violência no âmbito das relações familiares. A C Ó R D Ã O Vistos, 
relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do 
Supremo Tribunal Federal em julgar procedente a ação declaratória 
para declarar a constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da Lei nº 
11.340/2006 – Lei Maria da Penha –, nos termos do voto do relator 
e por unanimidade, em sessão presidida pelo Ministro Cezar 
Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das respectivas 
notas taquigráficas. Brasília, 9 de fevereiro de 2012. MINISTRO 
MARCO AURÉLIO – RELATOR. 
 
Nos votos, houve destaque para posição da Ministra Cármen Lúcia Antunes 
Rocha que introduziu: 
O princípio jurídico da igualdade refaz-se na sociedade e rebaliza 
conceitos, reelabora-se ativamente, para igualar iguais 
desigualados por ato ou com a permissão da lei. O que se pretende, 
então, é que a 'igualdade perante a lei' signifique 'igualdade por 
meio da lei', vale dizer, que seja a lei o instrumento criador das 
igualdades possíveis e necessárias ao florescimento das relações 
justas e equilibradas entre as pessoas. (…) O que se pretende, 
pois, é que a lei desiguale iguais, assim tidos sob um enfoque que, 
todavia, traz consequências desigualadoras mais fundas e 
perversas. Enquanto antes buscava-se que a lei não criasse ou 
permitisse desigualdades, agora pretende-se que a lei cumpra a 
função de promover igualações onde seja possível e com os 
instrumentos de que ela disponha, inclusive desigualando em 
alguns aspectos para que o resultado seja o equilíbrio justo e a 
igualdade material e não meramente formal. (…)”. “Ao 
comportamento negativo do Estado, passa-se, então, a reivindicar 
um comportamento positivo. O Estado não pode criar legalidades 
discriminatórias e desigualadoras, nem pode deixarde criar 
situações de igualação para depurar as desigualdades que se 
estabeleceram na realidade social em detrimento das condições 
iguais de dignidade humana que impeçam o exercício livre e igual 
das oportunidades, as quais, se não existirem legalmente, deverão 
ser criadas pelo Direito. Somente então se terá a efetividade do 
princípio jurídico da igualdade materialmente assegurado. 
 
De fato, a Constituição prega a igualdade entre homens e mulheres, porém é 
necessário salientar que o feminicídio está pautado sob a ótica da igualdade 
substancial ou material que é aquela que tem o propósito de igualar os indivíduos 
conforme as suas desigualdades e não tão somente a igualdade puramente formal, 
 
 
18 
 
visando à equidade pela lei, limitando-se apenas ao plano jurídico-formal, portanto 
não há que se falar que homens e mulheres são iguais porque são diferentes 
considerando toda a construção cultural e social em que ambos vivem, pois é preciso 
tratar de forma desigual os desiguais para que haja um equilíbrio. 
Deste modo, a inserção da qualificadora não viola o princípio da igualdade, nem 
torna o Feminicídio inconstitucional. 
 
1.2. Influências da Sociedade Patriarcal 
 
Tem-se como ideia central da sociedade patriarcal, a família, onde seu pilar se 
concentra na figura do pai, o homem da casa, como o próprio nome diz, o “patriarca”, 
aquele que detinha todo o poder e domínio daquela família. No Brasil, esse modelo 
surgiu com a colonização portuguesa, no século XVI com a chegada dos portugueses, 
onde herdamos sua cultura, suas raízes ligadas ao passado medieval europeu e 
também ao patriarcado mulçumano o qual os portugueses absorveram muitas 
características. 
 A cultura patriarcal ditou padrões inerentes a cada integrante das famílias por 
longos anos enquanto perdurou essa configuração, mas que ainda nos deixou 
resquícios negativos que necessariamente ainda precisam ser combatidos na 
sociedade moderna, o principal deles diz respeito a condição da mulher nesse 
contexto familiar, se nele quem comandava era o homem, a mulher era vista como 
“coisa”, “objeto” ou “propriedade”, onde seus direitos eram completamente limitados e 
condicionados a aprovação do “patriarca” da família, isto é, a supremacia masculina 
perante a desvalorização feminina. 
 Nesse entendimento, segue as palavras de Scott (1995, p. 75): 
O patriarcado é uma forma de organização social onde suas 
relações são regidas por dois princípios basilares: as mulheres são 
hierarquicamente subordinadas aos homens, e os jovens estão 
subordinados hierarquicamente aos homens mais velhos, 
patriarcas da comunidade. 
 
Assim, cumpre demonstrar que o homem era o centro e a mulher assumia um 
papel secundário no núcleo familiar, qual objetivo principal era o da procriação. Dessa 
 
 
19 
 
forma, as mulheres não poderiam assumir papéis que eram tidos como próprios aos 
homens. Destarte que as meninas desde a infância já eram educadas com o 
direcionamento para servirem aos ideais masculinos. 
 Segue entendimento da pesquisadora e antropóloga da Universidade de 
Brasília, Débora Diniz: 
O patriarcado nos antecede e nos acompanha: sua principal 
atualização é isso que chamamos de pedagogias do gênero. As 
pedagogias do gênero garantem a reprodução do poder patriarcal. 
As instituições o oficializam como regra de governo. As leis são o 
registro de sua legalidade e de sua potência para o uso da força 
perante as insubordinadas. Não sei dizer se o patriarcado é 
universal nem mesmo se desde sempre existiu: não sou capaz de 
falar em absolutos, mas de nós e do agora. Nesta conversa, o nós 
será sempre biografado – ele terá o nome do corpo ou da lei. 
 
 Destarte que, muito se avançou em se tratando de sistema patriarcal na família 
tradicional, da forma como a mulher era vista e tratada ao longo dos anos, e é notório 
que a mulher vem conquistando seu espaço, mas conforme o quadro alarmante da 
violência ainda persistente sofrida pelas mulheres, muito se justifica pela influência do 
patriarcado e pela visão deturpada de que cada gênero tem papeis distintos a 
exercerem dentro de uma configuração familiar e perante a sociedade, com isso 
gerando uma sensação latente de desigualdade, o que faz surgir também os 
movimentos feministas em detrimento do machismo, considerado um tanto quanto 
mascarado ainda dentro da sociedade. 
Com as constantemente mudanças e importantes impactos do sistema 
patriarcal, seja com o avanço tecnológico como também a própria evolução humana 
como ser social, o sistema supracitado ainda sobrevive, alterando apenas alguns 
aspectos. Pode-se dizer que o mesmo evoluiu, entretanto, mantem em sua essência 
as mesmas bases de superioridade e subordinação em detrimento da figura feminina. 
Tal mudança originou o chamado “patriarcado contemporâneo”. Neste contexto, a 
relação homem versus mulher, continua herdando muitas características desiguais, 
mas estas agora se encontram em menor evidência, ainda assim presentes tanto em 
meio social, quanto profissional e familiar, influenciando o modelo ideal feminino 
contemporâneo. 
 
 
 
20 
 
1.2.1. Feminismo versus Machismo 
 
Durante meus estudos para o desenvolvimento do tema aqui discutido, um 
questionamento surgiu, considerando o alto índice de violência contra as mulheres e 
ainda da posição em que o Brasil se encontra no mapa da violência de 2015, sendo o 
5º país que mais assassina mulheres no mundo em razão de gênero, demonstrando 
com isso um menosprezo a condição de ser mulher. 
Segundo o filósofo Mario Sérgio Cortella, - “nós somos ainda um país machista, 
mas não deveríamos ser e não seremos”. Por que isso não é uma ofensa somente a 
mulheres, é uma ofensa a nós humanos, homens e mulheres, independentemente 
daquilo que é na origem biológica nosso sexo, ou nosso gênero construído, acima de 
qualquer coisa o machismo é uma ofensa a própria dignidade humana. 
Ainda sobre esse raciocínio Cortella diz: “Machismo significa a concepção de 
que mulheres são subordinadas aos homens. O feminismo, por sua vez, não é o 
contrário de machismo. O feminismo não supõe que homens são subordinados às 
mulheres, mas que homens e mulheres são iguais”. 
 Quando se fala do machismo é importante salientar que o machismo está em 
todos nós de uma forma ou de outra, permeado através de pensamentos e 
comportamentos que se inserem na sociedade, onde até mesmo mulheres tem 
comportamentos machistas, diante de situações as quais foram educadas para 
acreditarem que há uma função inerente a cada gênero, onde foram criadas com a 
ideia do respeito a superioridade masculina, tanto no seio familiar, quanto em todos 
os setores da sociedade, restando a elas o papel de esposa submissa, dona de casa 
e mãe, o que culmina no repúdio aquela mulher que ousa fugir desses padrões. 
O machismo muitas vezes é representado pela sensação de que o homem é 
de alguma forma o dono, proprietário da sua companheira, isso traz uma diferença 
hierárquica nessas relações que muitas vezes em conflitos irão resultar num continuo 
de violência dentro do próprio ambiente doméstico, familiar, que começa com 
pequenos atos de controle e de domínio, muitas vezes representados pelos ciúmes 
que muito embora sejam considerados atos de expressão de amor é na verdade tão 
somente uma tentativa de controle. 
 
 
21 
 
Em razão da disseminação da cultura machista no Brasil, anteriormente se 
justificavam os crimes no contexto familiar e principalmente nas relações conjugais 
como sendo crimes passionais, onde o sujeito ativo cometia o crime tomado pela 
paixão e em “legitima defesa da sua honra”, muito se utilizou essa expressão nos 
tribunais como mecanismode defesa, levando a absolvição do criminoso, expressões 
do tipo “matei por amor” eram propagadas como justificativa para tais crimes, onde o 
principal motivo era o cometimento de adultério por parte da vítima, culminando na 
sua morte com isso demonstrando a dominação masculina em desfavor da mulher, 
uma vez que a mulher é tida como propriedade daquele homem ela deve seguir suas 
regras. 
Existem milhares de conceitos do que foi o surgimento ou da criação do 
movimento feminista e por isso de forma genérica, feminismo é: 
“Movimento social, filosófico e político, que tem como objetivos direitos iguais, 
entre os gêneros, empoderamento feminino e liberação de padrões opressores, 
baseados em normas sociais construídas pelo poder vigente”. O movimento vem a 
buscar igualdade de direitos, onde ser feminista quer dizer, “ não queremos ser iguais 
aos homens, queremos apenas os mesmos direitos”. 
Podemos dividir a história do movimento feminista em “três ondas”, sejam elas: 
a) Sufrágio feminino – luta pelo direito ao voto; 
b) Ideias e ações associadas as lutas de liberação feminina (1960); 
c) Ampliação dos movimentos pela igualdade social para as mulheres (1990). 
No Brasil o movimento feminista surge no século XIX, onde as primeiras 
manifestações desafiaram propriamente o patriarcado colonialista (poder do pai no 
âmbito familiar), a ordem conservadora a qual determinava qual era o papel da mulher 
em sociedade e claro tudo isso dentro da dominação masculina, onde o homem está 
acima, a mulher abaixo, que homem manda a mulher obedece. 
Diante do exposto, observamos então uma verdadeira batalha travada entre 
machismo e feminismo, vale frisar que o machismo busca manter os padrões de 
dominação e superioridade perante a mulher, enquanto que o feminismo luta por 
direitos igualitários. Essa batalha reflete diretamente para o aumento da violência 
sofrida pela classe feminina. 
 
 
22 
 
 
1.2.2. Culpabilização das vítimas 
 
Ainda sob a perspectiva do sistema patriarcal e do machismo, é comum 
ouvirmos várias especulações quanto ao comportamento da vítima, como se a mesma 
deu causa aquela situação, o passado da vítima passa a ser investigado, sua vida 
completamente exposta, seu caráter é posto em dúvida, a mesma passa a sofrer um 
verdadeiro linchamento moral e social, passando, então, de vítima a culpada. 
“Grande parte dos homens autores de violências contra suas 
parceiras dizem: ‘eu bati nela porque ela me tirou do sério, me 
irritou, a culpa é dela’. Quando a gente começa a analisar isso junto 
com eles e questionar – ‘por que você acha que tem direito de 
controlar a maneira como ela se veste? Por que você acha que ela 
deve cozinhar para você?’ – é quase impossível separar o que eles 
entendem como ‘ser homem’ e os direitos que isso lhes dá, da 
maneira que eles se comportam e de suas atitudes’.” 
Marai Larasi, diretora executiva da Imkaan, organização não 
governamental feminista negra, e da End Violence Against Women 
Coalition (Coalizão de Combate à Violência contra 
Mulheres) sediadas no Reino Unido. 
 
“É muito comum o uso de termos como genes, hormônios ou 
hereditariedade para explicar ou desculpar o comportamento 
humano. Enquanto pensarmos que comportamentos masculinos 
como agressividade ou apetite sexual são biológicos, perderemos 
o foco das questões sociais e culturais, que são as que precisam 
ser resolvidas. Não podemos aceitar o mau comportamento 
masculino.” 
Matthew Gutmann, antropólogo especialista em masculinidade da 
Universidade Brown (EUA) 
 
O culpado passa a ter uma razão para ter cometido tal ato de violência, se 
valendo da sua condição de superioridade, a qual acredita possuir, com base na 
cultura do patriarcado para justificar o crime cometido. 
 
1.3. Feminicídio no mundo 
 
Há uma incidência maior na América Latina, onde quase todos os países 
criminalizam o Feminicídio, porém isso não acontece nas sociedades europeias, 
 
 
23 
 
porque na Europa já existe uma cultura de igualdade e não é necessário esse tipo de 
punição diferenciada, mas nos países latinos se faz necessário uma construção de 
igualdade, dentre outras coisas. 
Isso corresponde ao fato de que países colonizados foram moldados com a 
ideia de dominação, a começar da dominação do homem branco para com as tribos 
indígenas, com isso persistia a ideia de dominação masculina, que nós vimos lá no 
sistema patriarcal, a mulher tinha como funções exclusivas a elas, dentre as quais ser 
esposa, mãe, dona de casa, tendo que até mesmo que pedir autorização do marido, 
pai, irmão ou filho mais velho para sair de casa. 
 Vejamos abaixo uma importante tabela que vem a demonstrar os índices de 
Feminicídios no mundo, segundo o Mapa da Violência 2015 (Anexo A)
Segundo a ONU, cerca de 60 mil mulheres e meninas são mortas anualmente, 
vítimas de violência doméstica. Esses assassinatos sistemáticos de mulheres são 
chamados de "feminicídio". É um problema global que parece estar acontecendo em 
todos os lugares onde não há proteção suficiente para as vítimas e a impunidade 
prevalece. 
A violência contra o mundo feminino ainda é, infelizmente universal, nós a 
encontramos de modos variados, com uma incidência maior em países da América 
Latina, como é o caso do Brasil, mas ainda não é uma ausência no mundo. 
 
1.4. Feminicídio no Brasil 
 
Como vimos no quadro anterior e segundo o Mapa da Violência de 2015, o 
Brasil ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações do mundo, contando com 
4,8 homicídios em 100 mil mulheres, isso corresponde na grande maioria a homicídios 
de mulheres em razão da sua condição feminina. 
Essa grande incidência de Feminicídios praticados no Brasil se caracteriza 
como desfecho de um ciclo de violência sofrido pela vítima, que na sua grande maioria 
ocorre dentro do ambiente familiar, essa violência doméstica é praticada por conta de 
todo um contexto patriarcalista, machista e de desigualdade de gênero que o Brasil 
 
 
24 
 
ainda enfrenta, e que muito vem sendo combatido através dos movimentos feministas 
principalmente na busca por políticas públicas e ações mais efetivas que venham a 
diminuir esse percentual, evitando que mais mulheres padeçam desse mal e tenham 
suas vidas ceifadas. 
 Através da tabela em anexo, observaremos as taxas de homicídios de 
mulheres por UF e Região no Brasil de 2003 à 2013, conforme o Mapa da Violência 
de 2015 (Anexo B). 
Segundo o mapa da violência dentre essas mortes, no Brasil, se identifica um 
elevado número de mulheres negras assassinadas, esse número de mortes violentas 
aumentou 54% em dez anos, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013, 
enquanto que o homicídio de mulheres brancas diminuiu 9,8%, caindo de 1.747, em 
2003, para 1.576, em 2013 (pag.30). 
Vejamos o gráfico que evidencia essa disparidade, entre os anos de 2003 à 
2013 (Anexo C). 
 Segundo a feminista, Djamila Ribeiro, mestre em Filosofia Política: 
É necessário racializar as políticas de gênero. A mulher negra vem 
sendo violentada desde o período colonial, estupros foram 
cometidos sob a égide da miscigenação. Criaram-se os 
estereótipos da mulher negra como a “boa de cama”, “quente”. 
Essas violências, que também são confinadores sociais, 
desumanizam essa mulher. 
 
 Ainda sobre esse raciocínio, Djamila diz: 
 
Os dados evidenciam que as políticas públicas de combate à 
violência contra a mulher não estão atingindo as mulheres negras, 
ou seja, não se está pensando na realidade dessas mulheres, que 
são maioria no Brasil, na hora de criar [essas políticas]. Isso aponta 
para o que as feministas negras vem dizendo há décadas: não se 
pode universalizar a categoria mulher, mulheres são diversas,e as 
mulheres negras, por conta do machismo e racismo, acabam 
ficando num lugar de maior vulnerabilidade social. Um outro 
problema é que o próprio movimento feminista parece ainda não ter 
entendido que as questões das mulheres negras não podem mais 
ser tratadas como apêndices, precisam ser centrais. É preciso 
romper com essa tentação de universalidade que exclui. 
 
 Outro indicativo que se destaca nesse contexto de homicídio feminino, é a 
idade das vítimas, assim como as mulheres negras, as jovens são mais vulneráveis, 
 
 
25 
 
as maiores taxas se encontram na faixa etária de 18 a 30 anos. Conforme o Mapa da 
Violência há uma incidência baixa até os 10 anos de idade, um crescimento dos 12 
aos 30 e em seguida uma diminuição até a velhice. 
 
 
CAPÍTULO II – ANÁLISE DA LEI Nº 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA 
 
Em 2016 a Lei 11.340, sancionada em 07 de agosto de 2006, a chamada Lei 
Maria da Penha, completou 11 anos, a mesma é considerada o marco na busca por 
leis que venham a combater a violência contra as mulheres. 
Para entender a razão da criação da Lei, é necessário primeiramente ressaltar 
que a Lei leva o nome da primeira vítima de violência doméstica no Brasil que ganhou 
destaque internacionalmente, isso porque, seu caso, assim como outros tantos que 
ocorreram anteriormente a criação da Lei, seguiam impunemente no Brasil, Maria da 
Penha Maia Fernandes, farmacêutica, em 1983 sofreu várias agressões por seu 
marido, o professor universitário colombiano Marco Antônio Heredia Viveros, uma 
delas a deixou tetraplégica, com um tiro de espingarda, enquanto dormia, após 4 
meses no hospital ao retornar pra casa sofreu nova tentativa de homicídio onde o 
mesmo tentou eletrocuta-la enquanto tomava banho. Graças a uma ordem judicial 
Maria conseguiu sair de casa. 
 O crime aconteceu quando ainda nem existia delegacia especializada para 
casos de violência contra mulher, a primeira Delegacia da Mulher foi criada em 1985, 
dois anos após as agressões sofridas por Maria da Penha. Maria enfrentou uma 
verdadeira batalha judicial para condenar o seu agressor, 8 anos após o crime, em 
1991, ocorreu o primeiro julgamento de Heredia, que o condenou, mas seus 
advogados alegaram irregularidades no procedimento obtendo com isso a anulação 
do julgamento. O caso foi julgado novamente em 1996, com nova condenação. 
Novamente a defesa alegou irregularidades e o processo continuou em aberto por 
mais alguns anos. Enquanto isso, Heredia continuou em liberdade. 
 O caso tomou notoriedade internacionalmente, Maria lançou um livro em 1994 
relatando as agressões sofridas, foi quando os comitês internacionais - Centro pela 
 
 
26 
 
Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e Comitê Latino Americano e do Caribe para 
a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) – ajudaram a levar seu caso para a 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados 
Americanos (OEA), em 1998, onde a mesma foi questionada se ela queria denunciar 
o Brasil por se tratar de um caso típico de impunidade, de como o Brasil se portava 
frente a casos de violência contra a mulher, ela aceitou e depois de 4 anos a OEA 
enviou ofícios ao Brasil para que o mesmo se manifestasse, o que não ocorreu, o 
Brasil não se manifestou, então 2001, o Estado Brasileiro foi condenado 
internacionalmente por negligência, omissão e tolerância a violência doméstica contra 
as mulheres, sendo obrigado a mudar as leis do país. 
 O Seminário de Capacitação dispõe relatos do ocorrido, inclusive da própria 
Maria da Penha, como vemos a seguir: 
Para mim foi muitíssimo importante denunciar a agressão, porque 
ficou registrado internacionalmente, através do meu caso, que eram 
inúmeras as vítimas do machismo e da falta de compromisso do 
Estado para acabar com a impunidade”, afirma Maria da Penha. 
“Me senti recompensada por todos os momentos nos quais, mesmo 
morrendo de vergonha, expunha minha indignação e pedia justiça 
para meu caso não ser esquecido”, acrescenta. 
Com 60 anos de idade, completados em fevereiro de 2005, Maria 
da Penha é atualmente uma das coordenadoras da Associação dos 
Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (Apavv), com sede em 
Fortaleza. Passar da condição de vítima para a de protagonista no 
combate à violência foi para Maria da Penha, ao longo de 23 anos, 
“uma luta muito difícil”. “Em 1994, publiquei o livro Sobrevivi... 
Posso Contar, que considero a minha carta de alforria, pois foi 
através dele que o meu caso passou a ser algo concreto, palpável, 
em relação aos casos de violência doméstica, conta. 
 
Entre os anos de 1999 a 2002 alguns Projetos de Lei foram votados, onde 
objetivo central era criar medidas que viessem a combater a violência doméstica, 
porém sem sucesso, vejamos de que se tratava esses projetos (Apêndice A). 
Em 07 de agosto de 2006 a Lei Maria da Penha, nº 11.340, foi aprovada e com 
a nova legislação foram criados mecanismos para coibir e prevenir a violência 
doméstica. O ponto central da lei no momento em que foi editada e que entrou em 
vigor era a finalidade de coibir a violência doméstica no ceio familiar contra a mulher 
e essa é uma finalidade estabelecida e expressa na lei. 
 
 
 
27 
 
2.1 - Conceito de violência doméstica segundo a Lei Maria da Penha 
 
A lei Maria da Penha apresenta uma definição de violência doméstica ou 
familiar seguido de uma explanação das principais formas em que essa violência se 
manifesta inspirada nos princípios dispostos na Convenção de Belém do Pará de 
1994, a qual tratou da violência contra a mulher. 
O conceito está descrito no Título II da Lei, no primeiro Capítulo trazendo a 
definição e o segundo as formas em que ela se apresenta, como exposto abaixo os 
capítulos: 
TÍTULO II - DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A 
MULHER 
CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS 
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no 
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial: 
I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço 
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, 
inclusive as esporadicamente agregadas; 
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade 
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, 
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva 
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de 
coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual. 
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui 
uma das formas de violação dos direitos humanos. 
CAPÍTULO II - DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR CONTRA A MULHER 
“Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, entre outras: 
I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda 
sua integridade ou saúde corporal; 
II - A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que 
lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe 
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e 
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e 
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause 
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a 
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual 
não desejada,mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da 
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, 
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método 
 
 
28 
 
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto 
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos 
sexuais e reprodutivos; 
IV - A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que 
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus 
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, 
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados 
a satisfazer suas necessidades; 
V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que 
configure calúnia, difamação ou injúria. ” 
 
Como vimos acima a violência doméstica se manifesta das mais variadas 
formas, o que implica dizer que não se pode medir a violência sofrida apenas de 
forma física, existem outras formas não menos devastadoras. 
 
“Existe esse ‘vício’ de só enxergar gravidade e importância na 
violência física, e os outros tipos de violência não importam tanto 
quando há essa visão viciada. E foi com isso que a Lei Maria da 
Penha quis muito claramente romper quando explicou todas as 
formas de violência e todo o conceito de violência doméstica em 
seus primeiros artigos. É preciso entender que a violência física é 
só mais um traço de um contexto muito mais global de violência, 
que inclui a violência moral, humilhações, a violência psicológica, a 
restrição da autodeterminação da mulher.” 
Juliana Belloque, Defensora pública do Estado de São Paulo 
 
 
2.2 - Mudanças com a implantação da Lei 
 
Considerada um grande avanço na luta das mulheres pela punição nos casos 
de violência doméstica, a Lei trouxe mudanças significativas 
 
1) Competência para julgar crimes de violência doméstica 
Antes: crimes eram julgados por juizados especiais criminais, 
conforme a Lei 9.099/95, onde são julgados crimes de menor 
potencial ofensivo. 
Depois: com a nova lei, essa competência foi deslocada para os 
novos juizados especializados de violência doméstica e familiar 
contra a mulher. Esses juizados também são mais abrangentes em 
sua atuação, cuidando também de questões cíveis (divórcio, 
pensão, guarda dos filhos, etc). Antes da Maria da Penha, essas 
questões deveriam ser tratadas em separado na Vara da Família. 
 
 
29 
 
2) Detenção do suspeito de agressão 
Antes: não havia previsão de decretação de prisão preventiva ou 
flagrante do agressor. 
Depois: com a alteração do parágrafo 9o do artigo 129 do Código 
Penal, passa a existir essa possibilidade, de acordo com os riscos 
que a mulher corre. 
3) Agravante de pena 
Antes: violência doméstica não era agravante de pena. 
Depois: o Código Penal passa a prever esse tipo de violência como 
agravante. 
4) Desistência da denúncia 
Antes: a mulher podia desistir da denúncia ainda na delegacia. 
Depois: a mulher só pode desistir da denúncia perante o juiz. 
5) Penas 
Antes: agressores podiam ser punidos com penas como multas e 
doação de cestas básicas. 
Depois: essas penas passaram a ser proibidas no caso de violência 
doméstica. 
6) Medidas de urgência 
Antes: como não havia instrumentos para afastar imediatamente a 
vítima do convívio do agressor, muitas mulheres que denunciavam 
seus companheiros por agressões ficavam à mercê de novas 
ameaças e agressões de seus maridos, que não raro dissuadiam 
as vítimas de continuar o processo. 
Depois: o juiz pode obrigar o suspeito de agressão a se afastar da 
casa da vítima, além de ser proibido de manter contato com a vítima 
e seus familiares, se julgar que isso seja necessário. 
7) Medidas de assistência 
Antes: muitas mulheres vítimas de violência doméstica são 
dependentes de seus companheiros. Não havia previsão de 
assistência de mulheres nessa situação. 
Depois: o juiz pode determinar a inclusão de mulheres dependentes 
de seus agressores em programas de assistência governamentais, 
tais como o Bolsa Família, além de obrigar o agressor à prestação 
de alimentos da vítima. 
8) Outras determinações da Lei 11.340 
Além das mudanças citadas acima, podem ser citadas outras 
medidas importantes: a) a mulher vítima de violência doméstica tem 
direito a serviços de contracepção de emergência, além de 
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s); b) a 
vítima deve ser informada do andamento do processo e do ingresso 
e saída da prisão do agressor; c) o agressor pode ser obrigado a 
comparecer a programas de recuperação e reeducação. 
 
 
 
30 
 
 A Lei sofreu grandes críticas e ainda sofre, porém é notório, por todo histórico 
de violência doméstica sofrida pelas mulheres, que a Lei é de extrema importância, 
como demonstra o comparativo acima, anteriormente a impunidade era uma 
constante, leis como essa são criadas no intuito de conscientizar e educar a 
sociedade, principalmente a classe machista, que tem grande influência nesse 
contexto. 
 
2.3 . Intercorrências jurídicas entre a Lei Maria da Penha e o Feminicídio 
 
Como vimos anteriormente, a Lei Maria da Penha percorreu um longo caminho 
até a sua efetividade, sofrendo resistência não só pela sociedade como também pelo 
próprio judiciário e autoridades policiais, a exemplo disso, muitas mulheres ao buscar 
socorro são instruídas ou convencidas a não irem a diante, com isso demonstrando 
uma grande dificuldade da aplicação da lei. 
Alice Bianchini, em um de seus artigos ratifica o que foi essa resistência sofrida 
pela Lei Maria da Penha: 
O Brasil, apesar de possuir uma lei considerada uma das 3 mais 
avançadas do mundo (UNIFEM), demorou para editá-la (foi o 18º 
país na América Latina a ter uma lei de proteção integral à mulher). 
Além disso, ao entrar em vigor (2006), a Lei Maria da Penha sofreu 
intensas resistências, inclusive por parte do judiciário, tendo sido 
considerada inconstitucional em vários processos judiciais. 
Somente no ano de 2012, com o julgamento em conjunto da ADI 
4424 e da ADC 19 pelo STF, declarando sua constitucionalidade, é 
que as resistências começaram a ser minadas, não tendo, 
entretanto, sido esvaziadas até hoje. 
 
A lei veio a trazer uma série de instrumentos, mas ainda assim precisa de uma 
estruturação do Estado, como também de uma mudança cultural jurídica para a 
aplicação efetiva desses institutos. 
Nove anos após a entrada em vigor da Lei Maria da Penha, foi então 
estabelecido o Feminicídio e em seu próprio texto através do § 2º-A, do artigo 121, 
inserido ao Código Penal Brasileiro em 2015, pela lei 13.104, traz à figura do 
Feminicídio comparativamente a Lei Maria da Penha de forma mais abrangente do 
que até o próprio objeto desta, in verbis: 
 
 
31 
 
 
§ 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” 
quando o crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
 
O Feminicídio envolve a condição de sexo feminino, o que pode englobar 
questões que envolvam pura e simplesmente menosprezo e discriminação, portanto 
não necessariamente é preciso ter uma violência doméstica, ou seja, vai além da Lei 
Maria da Penha. 
 A lei trouxe um instrumento mais eficaz no sentido de trazer uma punição mais 
severa a esses crimes, não esquecendo que a lei penal tem, ainda hoje, uma função 
preventiva, logo, ao estabelecer uma qualificadora a qual designa uma punição mais 
severa, terá como finalidade central coibir essa conduta que ainda hoje acontece com 
muita frequência. 
 
CAPÍTULO III - LEI 13.104 - IMPLANTAÇÃO DO FEMINICÍDIO AO CÓDIGO 
PENAL BRASILEIRO 
 
3.1. Tipificação penal do feminicídioA lei 13.104 entrou em vigor em 09 de março de 2017, sancionada pela 
Presidenta Dilma Rousseff, a chamada Lei do Feminicídio, a lei adicionou ao texto do 
Artigo 121 do Código Penal Brasileiro, mais uma qualificadora para os crimes de 
homicídio, praticados contra a mulher em razão da condição de sexo feminino. 
O crime entrou também para o rol dos crimes hediondos, previstos na lei 
8.072/90. Criou ainda uma causa de aumento de pena, a qual possui alguns requisitos, 
quer sejam eles: durante a gestação; nos três meses posteriores ao parto; contra 
pessoa menor de quatorze anos; contra pessoa maior de sessenta anos; contra 
pessoa deficiência; na presença de descendente da vítima; na presença de 
ascendente da vítima. 
 
 
32 
 
O texto do art. 121 do Código Penal Brasileiro passou a ter a seguinte redação, 
in verbis: 
 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém 
Homicídio qualificado 
§ 2o Se o homicídio é cometido: 
Feminicídio 
VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino 
quando o crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Aumento de pena 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a 
metade se o crime for praticado: 
I - Durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
II - Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 
(sessenta) anos ou com deficiência; 
III - Na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
 
 Essa modalidade qualificada de homicídio veio a ser inserida ao rol de crimes 
hediondos dispostos na lei 8.072 de 25 de julho de1990, passando a vigorar com a 
seguinte redação, in verbis: 
“Art. 1o ......................................................................... 
I - Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de 
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e 
homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV, V e VI); 
Muito embora a Lei Maria da Penha tenha sido o grande marco da luta das 
mulheres por respeito, contribuindo muito para uma nova visão da sociedade brasileira 
em relação a violência doméstica, os índices ainda eram gritantes, não somente por 
conta da violência, como também pelo extremo dela, a qual nomeamos Feminicídio. 
 Daí a necessidade da tipificação da Lei do Feminicídio ao Código Penal 
Brasileiro, assim como a Lei Maria da Penha, com o objetivo de prevenir e coibir atos 
de violência, e mais ainda, prevenir e punir o assassinato de mulheres por razão de 
 
 
33 
 
gênero. O Brasil, assim como outros países da América Latina, principalmente, 
apresenta uma certa resistência na aceitação da lei, o que dificulta que condutas como 
essa sejam exterminadas da sociedade, por esse motivo, que se torna relevante a 
criação de medidas públicas e leis que são consideradas pedagógicas nesse sentido, 
demonstrando de forma educativa que crimes com tamanha torpeza venham a ser 
efetivamente punidos. 
 
 
3.2. Casos ocorridos após a vigência da Lei de Feminicídio 
 
3.2.1. Isamara Filier: A chacina de Campinas 
 
Em Campinas, faltando poucos minutos para a virada do ano de 2017, no dia 
31 de dezembro, Isamara, 41 anos, o filho João Vitor de 8 anos e mais 10 pessoas da 
mesma família foram assassinadas enquanto aguardavam a comemoravam a 
chegada do ano novo, na residência de uma das vítimas, o assassino Sidnei Ramis 
de Araújo, de 46 anos, ex-marido de Isamara e pai de João Vitor, entrou na residência 
armada e munido de explosivos, procurando por Isamara e com o intuito de matar o 
máximo de mulheres da família que encontrasse, o assassino deixou áudios e cartas 
declarando ódio a ex-mulher e a classe feminina de modo geral, as quais chama de 
“Vadias”, nas cartas ele demonstra a sua premeditação em cometer os crimes após 
ter matado 12 pessoas da mesma família, Sidnei cometeu suicídio com um tiro na 
cabeça. 
Inconformado com a separação, alegando querer vingança por ter perdido a 
guarda do filho, após a denúncia feita por Isamara de que o mesmo teria abusado 
sexualmente de João Vitor, premeditou o crime, sua intenção era de matar a ex e o 
máximo de mulheres de sua família, como cita o próprio assassino em suas cartas, 
vejamos trechos das cartas: 
Sei que me achava um frouxo em não dar uns tapas na cara dela, 
más eu não podia te dizer as minhas pretensões em acabar com 
ela! Tinha que ser no momento certo. Quero pegar o máximo de 
vadias da família juntas” 
 
 
34 
 
[...] “Filho te amo muito e agora vou vingar o mal que ela nos fez! 
Principalmente a você! Sei o quanto ela te fez chorar em não deixar 
você ficar comigo quando eu ia te visitar. Saiba que sempre te 
amarei! Toda mulher tem medo de morrer nova, ela irá por minhas 
mãos! 
 
 Amigos e familiares contam que Isamara e Sidnei se relacionaram por um curto 
período, as brigas e as ameaças de Sidnei eram constantes, por conta disso Isamara 
fez vários Boletins de ocorrência, num deles ela denunciou o ex-marido por abuso 
sexual praticado contra o filho Vitor, o que por determinação judicial ficou 
temporariamente proibido de ver a criança, depois ficou estabelecido visitas 
supervisionadas pela mãe. 
 Nas mensagens que Sidnei deixou, escancarou sua misoginia referindo-se as 
mulheres como “vadias”, em outro trecho chama a Lei Maria da Penha de “Lei Vadia 
da Penha”. Temos um caso explícito de ódio e menosprezo a mulher, das 12 vítimas, 
9 eram mulheres, uma tragédia anunciada considerando as várias ameaças as quais 
o assassino fez a vítima por anos, a maioria registradas através de boletins de 
ocorrência, causando uma sensação de impunidade ou de que ainda há muito a se 
fazer no combate a esse tipo de crime. 
 
3.2.2. Mirella Sena: O assassino morando ao lado 
 
Edvan Luiz da Silva, 32 anos, comerciante, casado, visto como bom moço, 
tranquilo, nunca antes havia demonstrado agressividade com mulheres, no dia 05 de 
abril deste ano, demonstrou um perfil bem diferente do que seus familiares e amigos 
estavam acostumados a ver. 
Tassia Mirella Sena de Araújo, 28 anos, fisioterapeuta, morava sozinha em um 
flat localizado em Boa viajem, zona sul de Recife, a vítima morava em frente ao 
apartamento do acusado, o qual não tinha nenhum contato íntimo, apenas cruzado 
duas vezes nos corredores do prédio, segundo o próprio acusado ao ser interrogado 
pela polícia. 
 Mirella estava em seu flat, no dia 05 de abril de 2017, por volta das 19hs, 
quando fora surpreendida por seu assassino, a mesma lutou com todas as forças para 
 
 
35 
 
sobreviver, segundo o delegado Francisco Océlio, responsável pelas investigações 
iniciais do caso, o cenário ao qual o corpo foi encontrado era de violência sexual e 
feminicídio, a vítima teve suas vestes arrancadas pelo assassino, o que indica a 
tentativa de estupro, o mesmo usou uma faca para esgotejar Mirella, quase a 
degolando. 
 Após o crime Edvan seguiu para o seu flat, deixando marcas dos seus pés no 
chão e um rastro de gotas de sangue, que levaram os policiais até uma mancha de 
sangue na maçaneta da porta da frente, flat de Edvan, levantando suspeitas de que 
ali se encontraria o assassino, os policiais bateram na porta por muito tempo sem 
obter resposta, foi então que um chaveiro conseguiu abrir a porta, a equipe policial ao 
adentrar no flat se depara com o acusado fingindo estar dormindo, mesmo com toda 
movimentação feita em seu flat, o delegado notou arranhões no corpo do suspeito e 
uma pequena mancha de sangue na perna, o mesmo alegou ter entrado em luta 
corporal com um flanelinha na noite do crime. 
 Materialgenético e fios de cabelo do acusado foram encontrados nas unhas da 
vítima, todos os indícios só levavam a Edvan como principal suspeito do crime, o 
mesmo negou a autoria mantendo a versão de que estava em seu flat dormindo e não 
escutou barulho algum na noite do crime, ele mantém essa versão até hoje e se diz 
inocente. 
 O acusado será julgado por júri popular, o processo corre na 3ª Vara do Tribunal 
do Júri da Capital de Pernambuco, sem data ainda definida, a denúncia se baseia no 
emprego de meio cruel, traição, emboscada ou meio que dificulte a defesa da vítima, 
ocultação e Feminicídio, como descrito no recebimento da denúncia abaixo: 
PROCESSO Nº 7703-38.2017.8.17.0001 Acusado: EDVAN LUIZ 
DA SILVA Vítima: TASSIA MIRELLA DE SENA ARAÚJO 
DESPACHO/DECISÃO I - DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA O 
Ministério Público do Estado de Pernambuco ofereceu denúncia 
contra EDVAN LUIZ DA SILVA, qualificado nos autos, como incurso 
nas penas do artigo 121, § 2º, III, IV, V e VI c/c art.69, e art.213, 
todos do Código Penal Brasileiro, imputando-lhe, em tese, a autoria 
de homicídio qualificado conexo com delito de estupro, fatos 
ocorridos no dia 05 de abril de 2017, no interior do apartamento nº 
1206, do edifício Golden Shopping, localizado na rua Ribeiro de 
Brito, 950, Boa Viagem, nesta cidade, tendo como vítima Tassia 
Mirella de Sena Araújo. Os fatos noticiados na denúncia constituem 
crime doloso contra a vida conexo com delito contra a liberdade 
sexual, sendo, portanto, de acordo com art.5º, inciso XXXVIII, 
alínea da "d" da CF c/c art.74 e 78, inciso I do CPP, este juízo 
 
 
36 
 
competente para o processamento do feito. Estão preenchidos os 
pressupostos processuais e condições da ação, pelo que, e 
conforme o lastro probatório mínimo constante nos autos, há justa 
causa para instauração do processo. Desta feita, a inicial acusatória 
contém todos os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, 
não se verificando, também, quaisquer das hipóteses elencadas no 
art. 395 do mesmo diploma legal. 1. Isto posto, recebo a denúncia 
contra EDVAN LUIZ DA SILVA, e determino a sua citação para 
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, 
podendo arrolar até oito testemunhas (art. 406, do CPP). 2. Caso o 
réu seja citado e não ofereça resposta no prazo legal, nomeio, 
desde logo, a Defensora Pública desta Vara para oferecê-la em 10 
(dez) dias, concedendo-lhe, para tanto, vista dos autos. 3. 
Certifique-se quanto aos antecedentes criminais do denunciado, de 
acordo com a Secretaria de Defesa Social, bem como sobre a 
existência de outros processos tramitando contra o réu. 4. 
Certifique-se acerca da existência de bens apreendidos nos autos 
do inquérito policial, com a indicação de onde se encontram 
depositados, devendo a secretaria intimar as partes para 
manifestação sobre eventual interesse em tais bens, nos termos 
dos arts. 118 e seguintes do Código de Processo Penal, bem como 
da Resolução nº 134, de 21 de junho de 2011, do Conselho 
Nacional de Justiça. 5. Deverá acompanhar o mandado de citação 
uma via da denúncia. 6. Oficie-se à Polícia Federal, a fim de que 
remetam os antecedentes criminais do acusado. 7. Requisite-se à 
administração do Condomínio Golden Shopping, local aonde 
ocorreram os fatos, filmagem da câmera de segurança, que registra 
o momento em que o réu sobe no elevador para o 12º andar. 8. 
Oficie-se à autoridade policial, para que remeta a este juízo os 
demais laudos periciais. Quanto à manutenção da prisão preventiva 
do imputado, comungando do parecer ministerial, mantenho-a 
pelos fundamentos da decisão exarada em sede audiência de 
custódia. Recife, 25 de abril de 2017. Pedro Odilon de Alencar Luz 
Juiz de Direito PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE 
PERNAMBUCO JUÍZO DE DIREITO DA 3ª VARA DO TRIBUNAL 
DO JÚRI DA CAPITAL. Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo 
Wanderley - Av. Martins de Barros, 593, Santo Antônio - CEP 
50010-230. 
 
 Esse é o tipo de Feminicídio em que a vítima e acusado não tinha nem um tipo 
de relação, inclusive não se sabe ao certo quantas vezes eles cruzaram pelos 
corredores do prédio em que residiam. 
 
3.3. Aplicabilidade da lei de Feminicídio no Brasil 
 
A inclusão da qualificadora que tipifica o Feminicídio no Código Penal Brasileiro 
como agravante de pena, é considerada um grande avanço no combate a violência 
 
 
37 
 
doméstica e familiar e na prevenção dos homicídios de mulheres em razão da 
condição de gênero, porém, assim como a Lei Maria da Penha sofreu resistência por 
parte da sociedade e pelo próprio ordenamento jurídico, não tem sido diferente com o 
Feminicídio. 
Vimos que a cultura machista, alicerçada pela sociedade patriarcal, está 
espalhada por todos os âmbitos do nosso cotidiano, fazendo com que a mulher ainda 
tenha que conviver com esse tipo de segregação, em razão disso leis como essa são 
criadas, na intenção de romper com esses padrões impostos pela sociedade que 
limitam o que uma mulher deve ou não fazer o que resulta em uma guerra silenciosa 
travada diariamente entre homens e mulheres, gerando mais violência, de um lado 
homens lutando por manter uma “dominação” e “poder” sobre as vidas das mulheres, 
de outro lado mulheres lutando por direitos iguais e que esses direitos sejam 
respeitados, porque não basta criar leis e medidas coercitivas se elas não serão 
efetivas. 
Um artigo cientifico sobre o tema, das autoras Claudia Albuquerque Gomes e 
Mirela Fernandes Batista, traz um importante aspecto a respeito: 
É preciso construir novos paradigmas para o trabalho diário do 
operador do direito. O conceito da Lei Maria da Penha deverá ser 
utilizado em nossa opinião no ambiente acadêmico com impacto na 
luta contra a impunidade, cada poder seja Legislativo, Executivo e 
Judiciário, possuem responsabilidades especificas para garantir 
que as mulheres tenham acesso à justiça. E se já ouve o homicídio 
dessa mulher que seja ouvida pela última vez, tendo pelo Ministério 
Público voz a fim de que garantam o direito que elas possuem, e 
em vida não fora cumprida, fazendo a justiça plena, aplicando uma 
norma mais severa e justa de acordo com o crime cometido, sendo 
então qualificado como feminicida. 
 
O Ministério Público tem o papel de oferecer a denúncia, garantindo a mulher 
o cumprimento da lei que irá resguarda-la de seus direitos, para que possa ser 
protegida de seu agressor nos casos de violência doméstica, e a efetiva punição do 
delito cometido, e nos casos extremos onde sua vida infelizmente é ceifada por conta 
de um contexto em razão de gênero feminino, configurando o feminicídio. 
A juíza Teresa Cristina Cabral, do TJ-SP, chefe da Coordenadoria da Mulher 
em Situação de Violência Doméstica, lida constantemente com situações de violência 
 
 
38 
 
contra a mulher e Feminicídio, na sua opinião ela alega que o feminicídio ainda 
esbarra com o machismo e para mudar esse quadro, diz que: 
É preciso formar profissionais com a perspectiva de gênero para 
eles entenderem o feminicídio, darem a tipificação penal dele e 
compreenderem o que é o assassinato de mulheres porque são 
mulheres", explicou, para completar "Quem afirma que não há uma 
nomenclatura específica para os assassinatos de homens 
desconhece a realidade de mortes violentas de mulheres, que têm 
um diferencial: as mulheres que morrem porque são mulheres 
padecem de uma coisificação, uma objetificação e um 
pertencimento que criam uma vulnerabilidade que exige essa 
diferenciação. 
 
 A magistrada diz ter ela mesma sofrido preconceito ao longo da sua carreira 
jurídica, o que demonstra que esse preconceito pautado pela cultura machista afeta 
diretamente até mesmo o funcionamento adequado do Poder Judiciário, ela admite 
que há uma falha na coleta de dados o que dificulta a tipificaçãodos crimes em 
Feminicídio. 
 Um dos objetivos mais relevantes e talvez o maior deles em se criar leis e 
medidas a fim de extinguir a violência doméstica e por consequência o homicídio de 
mulheres por sua condição de gênero, é desconstruir estereótipos que nos 
diferenciam, é trazer ao conhecimento da sociedade que condutas como essa deverão 
ser abolidas do nosso cotidiano. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Como pretendido, o trabalho buscou analisar a inserção do Feminicídio ao 
Código Penal Brasileiro através da lei 13.104 de 2015, como conduta qualificadora do 
crime de homicídio, apontando as razões que levaram a criação da lei, bem como 
tentando compreender a sua necessidade e aplicabilidade. 
 Inicialmente o primeiro capítulo trouxe o conceito de Feminicídio e toda sua 
evolução dentro do contexto histórico da luta da classe feminina por punições mais 
gravosas para crimes bárbaros praticados contra as mulheres, inclusive esclarecendo 
a dicotomia existente em relação a terminologia Femicídio, que diz respeito ao ato de 
matar uma mulher sem que para isso haja uma motivação em razão de gênero, ao 
 
 
39 
 
passo que no Feminicídio o agente demonstra ódio e menosprezo a mulher por sua 
condição de gênero feminino, apresentando as mais diversas formas da prática desse 
tipo de conduta. 
 Vimos que o sistema patriarcal ainda influencia indiretamente na sociedade 
contemporânea, contribuindo para a permanência das desigualdades entre homens e 
mulheres, ditando padrões principalmente às mulheres, subordinando-as a autoridade 
masculina, em razão disso causando uma luta de classes, onde temos machismo e 
feminismo em lados opostos, onde quem perde com isso na maioria das vezes são as 
mulheres por conta da sua vulnerabilidade. Dentro desse contexto, e por conta do 
machismo ainda tão enraizado na nossa cultura, as vítimas ainda esbarram na 
chamada culpabilização ou vitimização, onde as vidas das vítimas passam a ser 
investigadas na busca de se encontrar o motivo ou razão para que tenham sido 
assassinadas, isso ocorre principalmente nas situações em que são mortas por seus 
companheiros ou pessoas do seu convívio. 
 Foi demonstrado de que forma o Feminicídio se apresenta no mundo e no 
Brasil, verificando que há uma incidência maior de casos nos países da América 
Latina, onde o Brasil se encontra na 5º posição como país que mais mata mulheres 
em razão de gênero, sendo as mulheres negras as que mais sofrem nessa estatística. 
 No segundo capítulo, estudou-se a Lei 11.340 de 2006, a chamada lei Maria 
da Penha, como grande marco na busca por justiça aos casos de violência doméstica 
contra as mulheres, que até então os agressores não sofriam nenhum tipo de punição, 
a lei trouxe visibilidade para o problema, mulheres que antes viviam na obscuridade 
da violência doméstica começam a lentamente se fortalecer com o advento da lei para 
denunciar seus agressores, porém a lei sofreu e ainda sofre resistência na sua 
aplicabilidade, sendo considerada diversas vezes inconstitucional, até ter declarada a 
sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, em 2012. 
 A lei Maria da Penha em seu texto tratou de conceituar as diversas formas de 
violência doméstica, a exemplo disso, o conceito de agressão dentro do contexto de 
violência doméstica tem um sentido amplo, onde não somente se considera agressão 
a violência física, como também a violência psicológica. 
 Mudanças significativas surgiram com a implantação da lei 11.340, considerada 
um grande avanço, inicialmente atingindo níveis mais baixos de violência, no entanto, 
 
 
40 
 
a lei possuía falhas capazes de contribuírem para a impunidade nos casos de violência 
doméstica, em razão disso algum tempo depois os índices voltaram a subir, 
demonstrando que muito ainda precisava ser feito, daí a influência direta para a 
criação da lei de Feminicídio. 
 O terceiro e último capítulo, buscou demonstrar a implantação da lei 13.104 de 
2015 ao ordenamento jurídico penal, de que forma está tipificado, quais os requisitos 
necessários que deveram estar presentes para que se comprove a tipificação do crime 
em feminicídio, expondo dois casos que repercutiram em razão da brutalidade ao qual 
foram cometidos ambos por questão de gênero, o primeiro caso exposto foi o de 
Isamara Filier, morta por seu ex-marido, onde ela, o filho do casal e mais 10 pessoas 
da mesma família foram mortas na virada do ano de 2017, sendo que das 12 vítimas, 
9 eram mulheres, o próprio assassino deixa cartas e mensagens de áudio declarando 
o seu ódio as mulheres. O segundo caso demonstra que nem sempre o feminicídio se 
expressa dentro do meio familiar, Edvan, 32 anos, era vizinho da vítima, não se sabe 
desde quando o mesmo a observava, os dois não tinham nenhum tipo de relação, no 
dia 05 de abril do corrente ano, Edvan invade o apartamento da fisioterapeuta Mirella 
Sena de 28 anos, na ânsia de estupra-la, Mirella luta para se defender do agressor, e 
em meio a luta corporal, Edvan utiliza uma faca para cortar o pescoço de Mirella 
ceifando sua vida, a luta deixou marcas visíveis no corpo do acusado, o que contribuiu 
para que se comprovasse a autoria do crime. 
 Por fim, fez-se uma análise da aplicabilidade do feminicídio no Brasil após a 
sua implantação, de que forma a lei ainda encontra resistência por parte do judiciário, 
e até doutrinadores que se opõem a lei, alegando inconstitucionalidade, todavia a 
inserção do feminicídio no rol das qualificadoras tem o papel fundamental de mudar a 
concepção moralista, machista e retrograda de argumentos em sentenças do nosso 
judiciário, que muitas das vezes colocam a vítima como culpada de sua morte. 
 Contudo, falar sobre a violência de gênero e feminicídio ainda é necessário e 
urgente, dado ao número alarmante de casos registrados tipificados nesse crime. 
Destarte, considera-se que a finalidade principal do trabalho foi atingida, visto que a 
intenção é chamar atenção para um assunto ainda pouco discutido no Brasil, levando 
em conta que a lei entrou em vigor a pouco mais de dois anos, mas não menos 
relevante para o alcance de uma sociedade igualitária livre de opressões. 
 
 
41 
 
 Diante de uma sociedade preconceituosa quando se trata da figura feminina 
nos crimes ocorridos com grave violência ou até mesmo a lesão ao bem jurídico de 
maior relevância como a vida, foi imprescindível a necessidade da tipificação do 
feminicídio no rol dos crimes contra a vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 
Brasília, DF, Senado, 1988. 
BRASIL. Senado. Projeto de Lei nº 292, de 2013. Com a finalidade de alterar o 
Código Penal para inserir o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio. 
Disponível em 
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20 junho. 2017. 
DINIZ, Débora. Perspectivas e articulações de uma pesquisa feminista. In: 
Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas. p. 12. Disponível em 
http://www.compromissoeatitude.org.br/wpcontent/uploads/2014/02/1_8_tensoes-
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SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. 
Educação & Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1995. 
BIANCHINI, Alice. 10 anos da Lei Maria da Penha: somos tolerantes com a 
violência de gênero? Disponível em: 
https://professoraalice.jusbrasil.com.br/artigos/369825063/10-anos-da-lei-maria-da-
penha-somos-tolerantes-com-a-violencia-de-genero. Acesso

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