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Experiência vivenciada Julio
Nasci e cresci na zona rural de Madre de Deus de Minas, onde meus pais matricularam-me na escola mais próxima do nosso sitio, no distrito de Brasilinha. Comecei os estudos no primeiro ano do primário aos 07 anos não tendo a preparação do pré-escolar. A estrutura física da escola era precária pois, as salas de aulas não haviam portas, havia apenas um banheiro para meninos, meninas, e funcionários. Tinha somente quatro funcionários, sendo três professoras e uma cantineira, uma das professoras desempenhava a função de diretora e professora ao mesmo tempo. Existia três salas de aula, uma sala com turma de primeiro ano, outra sala agregava duas séries segundo e terceiro ano, neste caso a professora dividia a lousa em duas partes lecionando para as duas series ao mesmo tempo; a terceira sala atendia o quarto ano. Outro fator interessante é que não havia muros fechando a escola, e na hora do recreio brincávamos todos na rua livremente, tínhamos a liberdade de ir em casa ou no campinho próximo da escola para jogar bola mas, sabíamos que ao tocar o sinal de término do recreio deveríamos volta para a aula, todos os alunos respeitavam essa regra. Sabíamos respeitar essa liberdade, ninguém cabulava aula. Não havia mesa individual todos compartilhavam uma mesa grande localizado no meio da sala, era oferecida somente duas disciplinas, português e matemática, as avaliações eram poucas. Não havia leitura de livros que desenvolvesse a leitura e o intelecto do aluno, nunca fiz trabalho, nem li um livro, e nem pesquisas nesse período escolar, porque o objetivo era apenas ensinar escrever, ler, e fazer contas, assemelhando-se ao modelo de ensino fordista.
Nesse primeiro ano de escola fui aprovado para o segundo. Na metade do segundo ano letivo meus pais compararam o meu desenvolvimento escolar com meus primos, que cursavam a mesma serie em outra escola que ficava na cidade de Madre de Deus de Minas. Meus pais sabendo dos riscos do transporte (era um caminhão, vulgarmente chamado Pau de arara), um percurso de 28 km de distância entre a casa e a escola, decidiram me matricular na escola da cidade de Madre de Deus de Mina, acreditando ser o melhor para minha educação. Com 08 anos de idade vivendo num lugarejo onde tinha poucos moradores e minha experiência escolar de uma escola singela, ao entrar na nova escola levei um choque de realidade entre dois mundos completamente diferentes; Lembro como se fosse hoje, o que mais me chamou a atenção eram os muros gigantescos e pensava, “aqui eles não brincam na rua? Achei estranho”. Ainda não havia visto tantas crianças juntas, fiquei impressionado com o tamanho do banheiro, achei interessante haver um para os meninos e outro para as meninas. A biblioteca foi outra parte da escola que me chamou a atenção, porque eu nunca tinha pegado e lido um livro na escola de Brasilinha, a professora lia para nós, mas não deixava pegar no livro. Quando entrei na sala de aula havia uma carteira só pra mim achei aquilo um máximo, tudo era encantador, mas o encanto foi se quebrando aos poucos. Depois de iniciar os estudos na nova escola percebi que não sabia ler, e escrever, fazer contas e realizar tarefas simples como os outros alunos faziam. Na segunda semana de aula meus pais foram chamados para uma reunião, onde os responsáveis pela escola deixaram bem claro que teria que repetir a segunda serie no ano seguinte, devido iniciação que tive na primeira serie, mas minha mãe não concordou, ela com recursos próprios e o conhecimento que ela tinha começou a me ajudar além em casa com os estudos e também contratou um professor particular. Depois de muito empenho, horas e horas de estudos veio à recompensa, não precisei repetir o segundo ano, tendo a ajuda de minha mãe que não desistiu de mim e não me deixou na mão do sistema falho do nosso ensino, que continua até os dias atuais.

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