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1 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Ciências Básicas Disciplina de Biofísica MEMBRANAS CELULARES Prof. Harriman Aley Morais Website: www.harriman-morais.com 1) INTRODUÇÃO � Robert Hooke (1655) ⇒ introdução do termo “célula” (do grego kytos = cela; do latim cella = espaço vazio) � Schleiden e Schwann (1839) ⇒ teoria celular “Todo ser vivo é constituído por unidades fundamentais: as células”. 2) MEMBRANA CELULAR OU PLASMÁTICA � Bicamada fosfolipídica (modelo do mosaico fluido) � Estrutura delgada (cerca de 7,5 x 10-7 m de espessura) Figura 1 – Modelo de mosaico fluido da membrana plasmática. � Superfície irregular (assimétrica) � Baixa permeabilidade a solutos polares 2.1) Características � Elevada resistência à passagem de corrente elétrica � Baixa tensão superficial � Principais componentes estruturais �Fosfolipídios (25 % a 40 %) e colesterol �Proteínas (60 % a 75 %) �Glicídios (glicoproteínas) Diferença de composição ⇒ funções distintas 2.2) Funções � Isolamento físico (compartimentação) ⇒ líquidos intracelular e extracelular � Suporte estrutural (formato celular) e união celular � Regulação das trocas com o ambiente ⇒ permeabilidade seletiva � Comunicação entre a célula e seu ambiente ⇒ receptores de membrana, reconhecimento celular � Geração de sinais elétricos � Processos de transformação de energia 3) LÍQUIDOS CORPORAIS � Água ⇒ componente mais abundante do organismo � Compartimentos celulares �Líquido intracelular (LIC) – 40 % do peso corporal �Líquido extracelular (LEC) – 20 % do peso corporal � Plasma – 4,5 % � Líquido intersticial (LIT) - 13,5 % � Líquidos transcelulares (LTC) – 2,0 % 2 Na+ Cl- K+ HPO42- proteína Ca2+ Mg2+ SO42- HCO3- HHCO3 Não eletrólitos Ácidos orgânicos Figura 2 – Composição eletrolítica dos líquidos corporais, cujas concentrações estão expressas em milequivalentes/litro de água. Transporte de moléculas polares ou iônicas (aminoácidos, glicose, HCO3-, K+, Na+ etc) Elevada concentração intracelular de compostos polares Mecanismos para transporte e distribuição de solutos 4) TRANSPORTE ATRAVÉS DAS MEMBRANAS � Incorporação de novas substâncias para o metabolismo celular (p. ex. glicose) � Eliminação de restos metabólicos (p. ex. uréia) � Eliminação de substâncias especiais para o metabolismo extracelular (p. ex. hormônios) � Polarização de membrana (potencial de ação) � Defesa celular (fagocitose) � Equilíbrio hidro-eletrolítico O transporte de substâncias através da membrana plasmática relaciona-se com sua permeabilidade seletiva. 4.1) Permeabilidade seletiva � Bicamada lipídica � barreira para o movimento da água e de substâncias solúveis (compostos polares e iônicos) � permeável a substâncias lipossolúveis � Proteínas de membrana � poros ou canais de membrana � proteínas periféricas ou receptores � proteínas carreadoras ou operadores � Zonas de difusão limitada Figura 3 – Representação esquemática da membrana celular. 4.2) Sistemas funcionais � Transporte passivo � Difusão � Osmose � Equilíbrio de Donnan � Transporte ativo � Endocitose � Pinocitose⇒ moléculas dissolvidas � Fagocitose⇒ macromoléculas � Exocitose⇒ transporte de metabólitos, secreção celular, etc 3 4.2.1) Endocitose � PINOCITOSE � Invaginações da membrana (micropinocitose) ou psedópodos (macropinocitose) � Formação de pinossomos � Gotículas de líquido � Macrófagos e capilares sangüíneos � FAGOCITOSE � Emissão de pseudópodos � Formação de fagossomos � Partículas sólidas � Macrófagos e leucócitos Figura 4 – Comparação entre os mecanismos de endocitose. 4.2.2) Exocitose Figura 5 – Demonstração do fenômeno de exocitose. Figura 6 – Demonstração do fenômeno de exocitose, com destaque para a fusão do pinossomo com a membrana plasmática. Figura 7 – Exocitose de neurotransmissor em junção neuromuscular. 4 4.2.3) Transporte passivo � A favor do potencial eletroquímico � Não há gasto de energia metabólica (hidrólise de ATP) � Formas: � Através da bicamada (ác. graxos, O2, CO2, etc) � Difusão facilitada ⇒ proteínas carreadoras � Mediada por canais iônicos Figura 8 – Mecanismos de transporte de solutos pela membrana celular. � O que é o potencial eletroquímico? O Na+ difundirá de A para B por gradiente de concentração e por gradiente elétrico NaCl 1 mol/L NaCl 0,1 mol/L + + + + + + - - - - - - A B NaCl 1 mol/L NaCl 0,1 mol/L + + + + + + - - - - - - A B O Na+ difundirá de A para B por gradiente de concentração e de B para A por gradiente elétrico O potencial eletroquímico surge da comparação entre estas forças! Força da concentração Força elétrica � O potencial eletroquímico (µ) de um íon é definido por: µ = µ 0 + RTInC + zFE, onde • µ0 = potencial eletroquímico em um estado de referência • R = constante de um gás ideal • T = temperatura absoluta • C = concentração do íon • z = valência do íon • F = número Faraday • E = potencial elétrico µ = µ 0 + RTInC + zFE C(A) ∆ µ = RTIn + zF(EA-EB) C(B) ∆µ positivo = maior potencial eletroquímico no lado A ∆µ negativo = maior potencial eletroquímico no lado B ∆µ = 0 ⇒ equilíbrio ⇒ Equação de Nerst Diferença de energia entre um mol de íons do lado A e do lado B, devido à diferença de concentração Diferença de energia entre um mol de íons do lado A e do lado B, devido à diferença de potencial elétrico A equação de Nerst nos permite calcular a diferença de potencial elétrico que balanceará uma relação de concentrações. A equação de Nerst só se aplica para um íon que está em equilíbrio. a) Difusão facilitada � Moléculas não solúveis em lipídios e cujo tamanho não permite a passagem por canais iônicos. Ex.: glicose e aminoácidos Figura 9 – Animação demonstrando o funcionamento de uma proteína carreadora. 5 Figura 10 – Difusão facilitada por meio de proteína carreadora, com alteração conformacional. � Fatores que afetam a velocidade da difusão facilitada: � Diferença de concentração de substâncias � Quantidade de carreadores disponíveis � Velocidade com que as reações se processam � Efeitos de hormônios Figura 11 – Alteração conformacional induzida de uma proteína carreadora. b) Difusão mediada por canais iônicos � Permeabilidade depende de: � Diâmetro do canal � Raio de hidratação do soluto iônico � Forma e natureza das cargas elétricas � Mecanismo de compota � voltagem � agentes químicos (ex.: neurotransmissor) Figura 12 – Animação demonstrando a difusão por um canal de membrana. Figura 12 – Mecanismo de compotas de um canal iônico. O canal de sódio se abre quando o meio interno está negativo, enquanto que o potássio se abre quando o meio interno se torna positivo. � Relacionados à permeabilidade da membrana � espessura da membrana � lipossolubilidade � número de canais protéicos � temperatura � massa molecular FATORES QUE ALTERAM A INTENSIDADE DA DIFUSÃO � Coeficiente de difusão (área da membrana X permeabilidade) � Gradiente de concentração � Diferença de potencial elétrico � Gradiente de pressão 6 Figura 13 – Efeitos do gradiente de concentração (A), da diferença de potencial elétrico (B) e da pressão (C) na difusão de solutos polares ou iônicos através da membrana celular. Figura 14 – Efeito da concentração de uma substância na taxa de difusão através da membrana. A velocidade da difusão facilitada tende atingir uma valor máximo denominado de VMax. c) Osmose � Osmose (osmos = impulso, empurrar) � Fenômeno de difusão em presença de uma membrana semipermeável (membrana permeável ao solvente e praticamenteimpermeável ao soluto) � A favor do potencial eletroquímico ou potencial hídrico ou diferença de tonicidade Figura 15 – Demonstração do efeito da osmose empregando um osmômetro. Figura 16 – Osmose em uma membrana celular quando uma solução de cloreto de sódio é colocada em um lado e água é colocada do outro lado. � O que é osmolaridade? � É a concentração de partículas osmoticamente ativas em uma solução. � Depende do número de partículas (n) e da concentração molar do soluto (C). Osmolaridade = concentração x número de partículas � Classificação quanto à osmolaridade: �Hiposmótica � Isosmótica �Hiper-osmótica 7 � Exemplo: � Solução de NaCl a 1,0 mol/L e solução de uréia a 1,0 mol/L � Osmolaridade NaCl = 1,0 mol/L x 2 partículas = 2 osm/L � Osmolaridade uréia = 1,0 mol/L x 1 partícula = 1 osm/L Solução de NaCl é hiper-osmótica em relação à solução de uréia � Solução de NaCl a 1,0 mol/L e solução de uréia a 2,0 mol/L � Osmolaridade NaCl = 1,0 mol/L x 2 partículas = 2 osm/L � Osmolaridade uréia = 2,0 mol/L x 1 partícula = 2 osm/L As soluções são isosmóticas! � O que é pressão osmótica? Pressão hidrostática O aumento da pressão hidrostática interrompe a osmose!! � O que é a pressão osmótica? E a pressão necessária para interromper a osmose! Depende da osmolaridade da solução!! π = pressão osmótica N = número de partículas Φ = coeficiente osmótico C = concentração molar da solução R = constante (0,082) T = temperatura em K (K= ºC+273) π = R.T.Φ.n.C � Equação de van’t Hoff � Exemplo: Solução Concentração (mol/L) Coeficiente osmótico (Φ) Osmolaridade (osmol/L) NaCl 1,0 0,3 2,0 Ureia 2,0 0,05 2,0 � Cálculo da pressão osmótica (π = R.T.Φ.n.C): � NaCl = 0,082 x 310 x 0,3 x 2 x 1,0 = 15,252 atm � Uréia = 0,082 x 310 x 0,05 x 1 x 2,0 = 2,542 atm Classificação quanto à osmolaridade ⇒ soluções isosmóticas Classificação quanto à pressão osmótica ⇒ solução de NaCl é hipertônica em relação à de uréia!! Figura 17 – Efeito da tonicidade sobre a integridade da hemácia. � Osmose ⇒ isotonia entre uma solução hipertônica e uma hipotônica ⇒ efeitos sobre a integridade celular (crenação e plasmólise) Figura 18 – Esquemas representando células vegetais em soluções de diferentes tonicidades. A) célula túrgida em meio hipotônico; B) meio isotônico; C) célula em meio hipertônico. 8 d) Equilíbrio de Gibbs-Donnan Concentração significativa de macromoléculas não permeáveis e carregadas eletricamente ⇒ proteínas e ácidos nucléicos Influência na distribuição (equilíbrio) dos íons permeáveis Eletroneutralidade: “em qualquer volume de solução, o número de cargas positivas e negativas deve ser igual. “Nenhuma energia precisa ser gasta para manter o potencial de Donnan; ele é uma característica de um estado de equilíbrio, um estado de energia livre mínima”. K+ - 0,1 mol/L Cl- - 0,1 mol/L A B K+ - 0,1 mol/L X- - 0,1 mol/L 1. A membrana é permeável ao K+ e ao Cl-, mas impermeável a X-. 2. Difusão de Cl- do lado B para o lado A. 3. À medida que o Cl- se difunde, este gera um potencial de membrana negativo no lado A, o que induz uma força que conduzirá o K+ para o lado B. EQUILÍBRIO ⇒ [K+]A.[Cl-]A = [K+]B.[Cl-]B 4.2.4) Transporte ativo � Contra o potencial eletroquímico � Há gasto de energia metabólica (hidrólise de ATP) � Envolvimento de translocadores (“bombas” iônicas) � Na+/K+ - ATPase � Bomba de H+ (mitocôndrias, lisossomos) � Ca2+ - ATPase (músculo e eritrócitos) � H+/K+ - ATPase (células parietais do estômago, rins) � Tipos: � Primário ⇒ transportadores específicos � Secundário ⇒ co-transporte (energia derivada do transporte ativo primário) e contratransporte Figura 19 – Etapas de funcionamento da bomba de sódio/potássio. 1) ligaçãodo Na+; 2) hidrólise do ATP; 3) translocação do Na+ e entrada do K+; 4) ligação do K+; 5) translocação do K+; 6) liberação do K+ no meio intracelular. Figura 20 – Animação da bomba de sódio e potássio. a) Transporte ativo secundário Figura 21 – Representações esquemáticas dos diferentes tipos de transporte ativo secundário. 9 EnterócitoLúmen LEC Na+ glu 3Na+ 2K+ glu Figura 22 – Cotransporte de sódio/glicose no intestino. Este mecanismo também é responsável pelo transporte de alguns aminoácidos. 5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIRES, M. M. Fisiologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 934 p. COSTANZO, L. S. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 393 p GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 1014 p. HENEINE, I. F. Biofísica básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
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