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língua portuguesa - morfossintaxe

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2009
Língua Portuguesa:
Morfossintaxe
Claudio Cezar Henriques
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H449L
Henriques, Claudio Cezar, 1951-
Língua portuguesa: morfossintaxe / Claudio Cezar Henriques. – Curitiba, PR: 
IESDE Brasil, 2009.
276 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0668-7
1. Língua portuguesa – Morfologia. 2. Língua portuguesa – Sintaxe. 3. Lín-
gua portuguesa – Gramática. 4. Linguagem e línguas. 5. Análise do discurso. I. 
Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título. 
09-1949. CDD: 469.5
CDU: 811.134.3’36
Pós-doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); doutor em Letras 
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); mestre em Letras pela Uni-
versidade Federal Fluminense (UFF); licenciado e bacharel em Letras pela Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Claudio Cezar Henriques
Sumário
Introdução à morfossintaxe ................................................. 11
Nomenclatura gramatical e ensino de português ........................................................ 11
Morfologia: morfemas, palavras e classificação ............................................................. 14
Sintaxe: termos e períodos .................................................................................................... 17
Morfossintaxe: palavras e sintagmas a serviço do texto ............................................ 19
Mecanismos sintáticos ........................................................... 27
Sintaxe de concordância: verbos e nomes em sintonia .............................................. 27
Sintaxe de regência: verbos e nomes em hierarquia.................................................... 30
Sintaxe de colocação: palavras em sintonia e hierarquia ........................................... 33
Adequação sintática e adequação semântica ................................................................ 36
Termos essenciais da oração ................................................ 47
O sujeito e o predicado ........................................................................................................... 47
Predicação verbal ...................................................................................................................... 49
Tipologia do sujeito .................................................................................................................. 54
Tipologia do predicado ........................................................................................................... 64
Termos subordinados ao verbo .......................................... 69
Tipologia dos complementos verbais ................................................................................ 69
Regência verbal: casos selecionados ................................................................................. 75
Tipologia dos adjuntos adverbiais ...................................................................................... 82
Palavras denotativas: uma questão à parte ..................................................................... 84
Termos subordinados ao nome .......................................... 93
Tipologia dos predicativos ..................................................................................................... 93
Tipologia dos complementos nominais ........................................................................... 96
Tipologia dos adjuntos adnominais ................................................................................... 99
Agente da passiva, aposto e vocativo ............................111
Tipologia do agente da passiva .........................................................................................111
Tipologia do aposto ...............................................................................................................115
Vocativo: uma questão à parte ...........................................................................................117
Particularidades morfossintáticas .....................................................................................119
Estrutura do período: a coordenação .............................129
Período simples ........................................................................................................................129
Parataxe e hipotaxe (coordenação e subordinação) ..................................................131
Tipologia das orações coordenadas .................................................................................133
Estrutura do período: a subordinação I ..........................151
Tipologia das orações subordinadas ................................................................................151
Orações substantivas: particularidades ..........................................................................154
Orações desenvolvidas X orações reduzidas .................................................................162
Estrutura do período: a subordinação II .........................171
Orações adjetivas: particularidades ..................................................................................171
Função sintática dos pronomes relativos .......................................................................180
Orações desenvolvidas X orações reduzidas .................................................................182
Estrutura do período: a subordinação III .......................191
Orações adverbiais: particularidades ...............................................................................191
Orações desenvolvidas X orações reduzidas .................................................................202
Combinação de estruturas oracionais ............................215
Coocorrência de parataxe e hipotaxe no âmbito do período .................................215
Relações entre morfossintaxe e estilo .............................................................................226
Da frase ao texto .....................................................................233
Situações contrastivas e progressivas ..............................................................................233
Relações de causa, efeito e finalidade .............................................................................235
Referências temporais ...........................................................................................................241
Morfossintaxe, léxico e semântica ....................................................................................245
Gabarito .....................................................................................257
Referências ................................................................................269
Apresentação
Este é um livro destinado a estudantes e estudiosos da Língua Portuguesa. 
A sensibilidade de quem investiga as relações entre a morfologia e a sintaxe ul-
trapassa os conteúdos desses dois componentes do campo gramatical e alcança 
repercussões nas esferas da semântica, da estilística, da pragmática, da análise do 
discurso – enfim, do texto.
O tratamento que damos aqui à morfossintaxe tem a preocupação prioritária 
com a descrição do português, inserindo as ocorrências selecionadas em situa-
ções concretas de uso não apenas na língua literária, mas também na linguagem 
jornalística, publicitária, nas letrasde música, buscando apresentar o assunto 
como uma parte integrante de nosso cotidiano. Consideramos muito importante 
investir no saber expressivo, ou seja, na competência discursiva ou textual que 
permite ao usuário da língua a concretização da capacidade de construir textos 
em situações determinadas.
As explicações sobre palavras, termos, orações e frases têm como intuito al-
cançar o texto, numa expansão que se faz mediante o reconhecimento de cada 
componente dessa imensa rede que começa num pequeno morfema e, prefe-
rimos dizer, não termina, pois a língua é um espaço em estado de construção 
morfossintática.
A Morfologia e a Sintaxe – o leitor confirmará – são disciplinas da vida acadê-
mica e da vida real, que nos ajudam a alcançar um estágio superior na compreen-
são do mundo em que vivemos, pela leitura e pela escrita, pela expressão oral e 
pela necessidade de ouvir.
Optamos, neste livro, por trabalhar progressivamente os conteúdos da morfo-
logia e da sintaxe em sintonia, partindo dos componentes menores das microrre-
lações das classes de palavras até os capítulos finais, que privilegiam as estruturas 
mais complexas na esfera do período, do parágrafo e do texto.
O estudo da gramática é um instrumento valioso para todo profissional que 
emprega a língua portuguesa com a responsabilidade que isso representa. Para o 
futuro professor, em especial, conta-se com sua especial dedicação a esses assun-
tos, que o ajudarão na missão de preparar a juventude para o exercício pleno de 
sua cidadania – essa é a principal lição que se pretende transmitir.
Claudio Cezar Henriques
O objetivo desta aula é conceituar os termos morfologia e sintaxe e de-
monstrar como ambos se vinculam a ponto de se agruparem no termo 
morfossintaxe.
Nomenclatura gramatical 
e ensino de português
Toda ciência tem a sua linguagem própria e uma terminologia especí-
fica. Não é diferente com os estudos linguísticos, que se valem de palavras 
de significação especial nesse campo do conhecimento. Saber o significa-
do técnico que as palavras têm na área linguístico-gramatical é um com-
promisso de todo profissional que atua no ensino e na pesquisa de língua 
portuguesa.
Terminologia gramatical = nomenclatura gramatical
Certamente é costume, no âmbito acadêmico, encontrar a expressão 
nomenclatura gramatical acompanhada do adjetivo brasileira, populari-
zada numa sigla que é parte obrigatória da maioria das gramáticas que 
nossos estudantes já tiveram em suas mãos: a NGB.
No entanto, se o profissional de Letras não se informar e não refletir cri-
ticamente a respeito das questões nomenclaturais voltadas para o ensino 
e para a descrição do português, talvez sua prática docente ou científica 
tenha danos significativos.
Em primeiro lugar, será preciso reparar que a palavra nomenclatura é 
apenas o coletivo de nomes (e não uma camisa de força ou a própria gra-
mática). Apesar disso, nos níveis fundamental e médio de ensino, é peda-
gogicamente aconselhável que os professores não usem nomenclaturas 
divergentes e múltiplas em suas aulas (o que se aplica obviamente a toda 
Introdução à morfossintaxe
12
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
e qualquer disciplina), o que acaba confundindo os alunos e pode até prejudicá-
los eventualmente em algum tipo de concurso público.
Isso não significa, no entanto, que as preocupações em torno da nomencla-
tura a ser utilizada nas escolas sejam mais importantes do que o próprio ensino 
de Língua Portuguesa. Os Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecem que, 
até hoje, a perspectiva dos estudos gramaticais centra-se, em grande parte, “no 
entendimento da nomenclatura gramatical como eixo principal”, frisando uma 
das maiores críticas que se fazem ao ensino conservador, pelo qual “descrição 
e norma se confundem na análise da frase, essa deslocada do uso, da função e 
do texto”.
O estudo gramatical aparece nos planos curriculares de Português, desde as séries iniciais, sem 
que os alunos, até as séries finais do Ensino Médio, dominem a nomenclatura. Estaria a falha 
nos alunos? Será que a gramática que se ensina faz sentido para aqueles que sabem gramática 
porque são falantes nativos? A confusão entre norma e gramaticalidade é o grande problema da 
gramática ensinada pela escola. O que deveria ser um exercício para o falar/escrever/ler melhor 
se transforma em uma camisa de força incompreensível. Essa concepção destaca a natureza 
social e interativa da linguagem, em contraposição às concepções tradicionais, deslocadas do 
uso social. O trabalho do professor centra-se no objetivo de desenvolvimento e sistematização 
da linguagem interiorizada pelo aluno, incentivando a verbalização da mesma e o domínio de 
outras utilizadas em diferentes esferas sociais. Os conteúdos tradicionais de ensino de língua, 
ou seja, nomenclatura gramatical e história da literatura, são deslocados para um segundo 
plano. O estudo da gramática passa a ser uma estratégia para compreensão / interpretação / 
produção de textos e a literatura integra-se à área de leitura. (BRASIL, 1999, p. 137)
Alguns pontos, então, podem ser apresentados ao futuro profissional de 
Letras em relação ao tema nomenclatura gramatical, entre os quais destacamos:
É altamente recomendável a leitura crítica do texto da Portaria n.º 36, pu- �
blicada no Diário Oficial de 11 de maio de 1959 (reproduzida nas páginas 
preliminares de alguns dicionários e do Vocabulário Ortográfico da Língua 
Portuguesa, da ABL, e disponível em páginas da internet como o Portal de 
Língua Portuguesa (www.portaldalinguaportuguesa.org), inclusive pelo 
fato de ela, até hoje, não ter sido abolida pelo Ministério da Educação.
É necessário lembrar que uma nomenclatura gramatical voltada para o �
ensino só é aplicável aos níveis fundamental e médio (não se conceben-
do que ela se aplique monocordicamente a estudos superiores praticados 
por especialistas e universitários), o que justifica plenamente a elaboração 
de uma proposta para sua atualização e modernização.
Introdução à morfossintaxe
13
É discutível a atitude de substituir (nas escolas) termos consagrados nos �
estudos linguísticos por novidades nomenclaturais (por exemplo: falar em 
orações relativas em lugar de orações adjetivas ou em transpositores em 
vez de conectivos), que devem ser reservadas para o ambiente universitá-
rio, onde poderão ser avaliadas do ponto de vista técnico.
É fundamental ter em mente que o principal objetivo do ensino de Língua �
Portuguesa não é a cobrança gratuita da nomenclatura pela nomenclatu-
ra e que esta tem de ser vista não como uma finalidade em si, mas como 
um instrumento, um meio para se alcançar o aprendizado consciente da 
língua.
Essas preocupações quanto ao ensino não são privilégio desses nossos 
tempos, e as críticas à gramática são tão antigas quanto ela. O linguista dina-
marquês Otto Jespersen (1992) expressou, na conclusão de sua obra clássica The 
Philosophy of Grammar, a esperança de que “o ensino de gramática no futuro 
pudesse ser algo mais vivo do que tinha sido até então, com menos preceitos 
mal-entendidos ou ininteligíveis, menos nãos, menos definições, e infinitamen-
te mais observações dos fatos da vida real” (p. 346). Para ele, este seria o único 
modo pelo qual o ensino de gramática poderia tornar-se um componente útil e 
interessante no currículo escolar.
É óbvio que há necessidade de se resolverem oficialmente muitas questões 
acerca do ensino de Língua Portuguesa, inclusive o tema da nomenclatura uni-
ficada, de preferência comum a brasileiros e portugueses. Porém, enquanto 
isso não acontece, espera-se que a conduta dos educadores, em sala de aula, não 
acabe agravando ainda mais a situação, fazendo com que os poucos profissionais 
bem preparados voltem a conviver com uma torre de Babel terminológica ou 
passem a coexistir com a progressiva abolição do ensino dagramática como 
instrumento para a aprendizagem crítica e reflexiva da língua. “Língua e gramá-
tica não rimam”, como diz Irandé Antunes (2007, p. 160), “quando se confunde 
o estudo da nomenclatura com o estudo da gramática”, pois é preciso que se vá 
além da nomenclatura “para encontrar os sentidos que transparecem nos usos 
reais, concretizados, efetivados.” Mas
[...] a crítica à gramatiquice e ao normativismo não significa, como pensam alguns desavisados, 
o abandono da reflexão gramatical e do ensino da norma-padrão. Refletir sobre a estrutura 
da língua e sobre seu funcionamento social é atividade auxiliar indispensável para o domínio 
da fala e da escrita. E conhecer a norma-padrão é parte integrante do amadurecimento das 
nossas competências linguístico-culturais. (FARACO, 2006, p. 26)
14
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Morfologia: morfemas, palavras e classificação
O substantivo morfologia tem origem grega e significa estudo das formas. As 
primeiras referências ao seu emprego, com esse sentido, nos estudos linguísti-
cos remontam ao século XIX. Se tivéssemos de resumir em breves palavras de 
que cuida a morfologia, diríamos que é o ramo da gramática que trata da estru-
tura interna das palavras. Seu estudo propicia a análise dos princípios formais 
que fazem dos morfemas a unidade básica da primeira articulação da lingua-
gem, isto é, a unidade que é dotada de um valor semântico indivisível, tanto no 
âmbito da estrutura como no da formação.
Se definimos morfologia como o estudo das unidades e dos princípios que 
regem os morfemas e sua ordenação no vocábulo, seja pela formação de novas 
bases lexicais, seja pela sua flexão, também podemos afirmar que o componente 
morfológico de uma língua como o português está suficientemente vinculado 
a outras partes da gramática. Com isso, queremos frisar que nem tudo o que se 
refere à unidade palavra é competência da morfologia, que nesse sentido serve 
como importante componente de três campos de estudos: o lexical (por ajudar 
a organizar as unidades memorizáveis das designações), o sintático (por ajudar a 
explicitar as relações de articulação entre as unidades lexicais) e o discursivo (por 
expressar relações como tempo, pessoa, lugar).
Como os subsistemas integrantes de um sistema complexo, como o de uma 
língua, se entrecruzam ou se superpõem de modo também complexo (BOSQUE; 
DEMONTE, 2000, p. 4.309), cabe à gramática a tarefa de descrever como se inter-
relacionam esses subsistemas. No que diz respeito à morfologia, é preciso re-
conhecer, por exemplo, que as unidades léxicas têm propriedades fonológicas, 
semânticas, morfológicas, sintáticas e discursivas que são pertinentes para o 
funcionamento de seus estatutos.
Esses elos, como se vê, mostram que existe uma dinâmica nas manifestações 
dos componentes morfológicos e, por isso, é necessário destacar que os mais 
importantes são as noções de morfema, de palavra e de classe.
Chamamos de morfema todo e qualquer constituinte de um vocábulo, en-
globando os lexemas (morfemas dotados de significação externa, chamados 
morfemas lexicais) e os gramemas (morfemas dotados de significação interna, 
chamados morfemas gramaticais):
significação externa � – é a que se refere ao mundo real ou imaginado 
(ações, sentimentos, coisas);
Introdução à morfossintaxe
15
significação interna � – é a que fica restrita ao campo gramatical (gênero, 
número, conjugação, classe).
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Morfema – menor unidade gramatical que se pode identificar 
e que é dotada de valor semântico indivisível.
Outra distinção técnica na terminologia morfológica é a que envolve a pró-
pria conceituação de palavra, usada na linguagem comum como sinônimo de 
vocábulo, mas que nos estudos linguísticos tem uma acepção mais restrita e 
pode ser compreendida a partir da leitura de uma pequena frase como “José 
é fluminense, e eu sou carioca”. Não há dúvida de que essa frase contém sete 
palavras, como também não há dúvida de que a segunda é e a sexta sou são 
duas formas da mesma palavra, o verbo ser. Por isso, a contabilidade poderia nos 
informar que a frase não tem sete, mas seis palavras, pois uma delas ocorre duas 
vezes. Sete seria, então, o número de vocábulos da frase (e não de palavras).
Portanto, existe, a rigor, a necessidade de dizer que palavra é o termo que 
se usa para designar a unidade mínima autônoma (lexical ou gramatical) para a 
qual se espera, por exemplo, que exista uma entrada própria num dicionário ou 
que, numa gramática, exista um paradigma que a inclua.
Esse paradigma contido numa gramática mostrará as classes das palavras, 
definidas tradicionalmente conforme suas propriedades morfológicas, sintáticas 
e semânticas. É por essa razão que se fala em palavras variáveis ou invariáveis 
16
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
(critério morfológico) ou em palavras que modificam outras (critério sintático) 
ou que designam os seres (critério semântico). Essa forma de classificação apa-
rentemente mista é compreensível, pois afinal o universo lexical de uma língua 
se compõe de elementos heterogêneos que se apresentam a nós sob essa forma 
a que denominamos palavra.
Apresento aqui, com pequena adaptação, uma tabela que incluí no livro Sin-
taxe: estudos descritivos da frase para o texto e que mostra de maneira didática as 
10 classes de palavras e suas propriedades morfológicas:
Classes Gramaticais (10)
(H
EN
RI
Q
U
ES
, 2
00
8,
 p
. 4
)
Verbo variável
Substantivo variável*
Adjetivo variável*
Pronome variável*
Advérbio invariável**
Numeral variável*
Artigo variável
Conjunção invariável
Preposição invariável
Interjeição*** ------
* Excepcionalmente, substantivos (lápis, tórax), adjetivos (piegas, simples), pronomes (eu, 
quem, tudo) e numerais (dois, três) também podem ser invariáveis.
** Excepcionalmente, advérbios (todo, meio) podem se flexionar por atração1.
*** A interjeição poderia não fazer parte desse quadro, pois faz parte da função emotiva da 
linguagem (vinculada à 1.a pessoa do discurso).
Há livros que tentam, sem grande sucesso, classificar as palavras de modo 
menos heterogêneo, mas não nos parece que seja o caso de alterar substancial-
mente o que a descrição tradicional consagrou desde as primeiras gramáticas 
das línguas ocidentais. O que cabe fazer é procurar descrever essas classes de 
acordo com cada um dos três critérios mencionados, embora isso, ao final, nos 
faça novamente refletir sobre aquelas conhecidas definições, pois veremos as 
mesmas classes aparecendo, às vezes, simultaneamente nos três novos grupos.
Outra maneira seria distribuir as 10 classes em dois subconjuntos, o das pala-
vras lexicais (verbos, substantivos, adjetivos, advérbios) e o das palavras grama-
1 A flexão abonada do advérbio meio é registrada em muitas obras, como por exemplo no Dicionário Aurélio Eletrônico versão 5.0 (Positivo, 2004), 
que apresenta a seguinte observação (grifos nossos): “Há muitos exemplos, no português antigo como no moderno, desse advérbio flexionado 
(caso de concordância por atração): a cabeça do Rubião meia inclinada (M. de Assis, Quincas Borba); casou meia defunta (M. de Assis, Várias Histó-
rias); a mesma mulher, sempre nua ou meia despida (E. de Queirós, A Cidade e as Serras); Uns caem meios mortos, e outros vão / A ajuda convocando 
do Alcorão. (L. de Camões, Os Lusíadas, III, 50); cinzeiros com cigarros meios fumados (José Régio, Histórias de Mulheres)”.
Introdução à morfossintaxe
17
ticais (artigos, conjunções, preposições). Mas aqui também poderíamos apontar 
problemas, como por exemplo acontece com a multifacetada situação dos pro-
nomes (indefinidos são lexicais; relativos são gramaticais).
Sintaxe: termos e períodos
O estudo da análise sintática é um dos pontos fundamentais na formação de 
quem aspira ser um usuáriocompetente de sua língua. Duas das habilidades 
principais de uma pessoa culta repousam nas atividades de ler e de escrever, 
ações que podem caracterizar não só nossas carreiras profissionais, mas também 
nossa vida como cidadãos.
Esse tema é um dos que mais deve interessar ao professor de Português, não 
só por representar um dos assuntos com que mais trabalhará em sua carreira 
docente como também porque é pelo domínio da sintaxe que se pode começar 
a conquistar, com plenitude, o texto.
Ler ou escrever um texto é muito mais do que apenas compreender ou or-
ganizar palavras em frases e parágrafos. É algo que envolve um amplo mecanis-
mo a partir do qual o pensamento e as pretensões comunicativas do autor se 
apresentam para reflexão e avaliação do leitor. Como se constroem esses textos? 
Com palavras, sintagmas, termos, orações e períodos2 – elementos que mantêm 
entre si um relacionamento interno de concordância, regência, colocação e atri-
buição (HENRIQUES, 2008).
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2 Não incluímos nessa série a palavra cláusula: unidade de significado que pode ter qualquer estruturação interna – diferente de oração, que 
necessariamente deve apresentar um verbo. A cláusula ocorre no estrato funcional correspondente às funções “comentário” e “comentado”, como 
em “Com toda certeza, o professor virá” (o comentário é “com toda certeza”; o comentado é “o professor virá”). Nesse trecho, há duas cláusulas, mas 
apenas uma oração, pois só há um verbo. Entendemos que essa palavra interessa mais como um contraponto nomenclatural do que como um 
conceito útil no âmbito do ensino e da descrição gramatical.
18
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
A análise sintática é a análise das relações. Por exemplo: na estrutura da 
oração, estudamos as relações que as palavras mantêm entre si na frase. Essas 
relações são binárias: sujeito e verbo; verbo e complemento; núcleo e adjunto; 
etc. Por esse motivo, quando pensamos na tradicional prática de exercícios vol-
tados para o reconhecimento da função sintática de um termo, vemos que ela 
nem sempre alcança o real objetivo de sua aplicação.
Não se pode dizer qual é a função sintática de um termo se não se encontrar o 
outro termo com o qual ele se relaciona, ou seja, não se pode encontrar o sujeito 
de uma oração sem que se confirme sua relação de concordância com o seu par 
(o verbo); não se pode reconhecer que existe um objeto direto sem apresentar 
a prova (o verbo transitivo direto); não se pode afirmar que determinado termo 
é o agente da passiva sem que seu parceiro sintático seja revelado (o verbo na 
voz passiva). E assim sucessivamente com todos os termos da oração, pois cada 
um deles só tem a classificação que tem porque possui uma relação com outro 
termo – e cada uma dessas relações é única, sendo 10 os termos da oração (11, 
se contarmos com o vocativo).
Um texto coeso e coerente organiza-se a partir de princípios lógicos, entre os 
quais se incluem os processos relacionais, que, partindo de uma relação-micro, 
como a existente entre o núcleo de um termo e seu adjunto adnominal, passam 
por uma relação-midi, como a que nos mostra que uma oração é principal porque 
outra é sua subordinada, e se encerram numa relação-macro, confirmando, por 
exemplo, que uma notícia de jornal ou uma crônica literária teve começo, meio 
e fim – e isso só acontecerá de fato se tiverem sido seguidas as regras elementa-
res de adição, oposição, reiteração, substituição e conclusão, entre tantas outras 
regras que se baseiam em ampliações dos mecanismos primários expressos 
pelos conectivos, conjunções, pronomes relativos e pessoais.
Nesse percurso que começa no mundo-micro (da oração), passa pelo mundo- 
-midi (do período) e alcança o mundo-macro (do parágrafo e do texto), é bom 
notar que cada um deles nada mais é do que a repetição dos outros, apenas em 
tamanhos e graus diferentes.
Nesse sentido, a complexidade e a expressividade de um texto se medem a 
partir de vários parâmetros. Um deles repousa certamente na observação da es-
trutura sintática de seus períodos e parágrafos. Por isso, o estudo da sintaxe é um 
dos caminhos para desvendar os mecanismos composicionais escolhidos pelo 
autor de um texto, sendo a nomenclatura e a fixação das regras básicas do rela-
cionamento sintático estratégias didáticas – e não o motivo principal do estudo.
Introdução à morfossintaxe
19
Morfossintaxe: palavras 
e sintagmas a serviço do texto 
Dependendo dos objetivos e dos métodos adotados na explicação dos fatos 
da língua, as classes gramaticais e as funções sintáticas, como vimos, podem 
ser estudadas em separado (respectivamente, pela morfologia e pela sintaxe). 
Na teoria e na prática, porém, essas duas partes da gramática se encontram em 
muitos pontos, pois os valores associativos (morfológicos) se inserem em enun-
ciações lineares (sintáticas), o que comprova a existência de um vínculo inegável 
entre elas. Isso nos lembra o que Flávia Carone (1995, p. 13) aponta como uma 
das condições para que se chegue ao efetivo conhecimento de um objeto:
[...] é necessário que as partes obtidas pelo corte analítico não se dispersem, de tal maneira 
que o todo mantenha sua integridade na consciência de quem o observa – pois analisar é 
observar em uma ordem sucessiva as qualidades de um objeto, a fim de dar-lhes no espírito a 
ordem simultânea em que elas existem.
Tanto material como idealmente, faz-se essa composição e essa decompo-
sição harmonizando-se as relações existentes entre as coisas – como explica 
André Lalande (1960), também citado por Carone.
A sintaxe tem duas parceiras especiais. Uma é a semântica, a ciência do sig-
nificado. Afinal, o entendimento de uma frase depende da sua estrutura e das 
sutilezas que envolvem a construção do sentido. Outra é a estilística (a ciência 
da expressividade), pois compete ao autor da frase fazer as escolhas sobre como 
será sua organização, a partir do repertório que a língua lhe oferece.
Entretanto, para se obter êxito no estudo da sintaxe do português, há um 
pré-requisito, pois a sintaxe e morfologia são assuntos interligados. Ter um bom 
conhecimento acerca das classes de palavras é fundamental para entender a es-
trutura de uma oração e de um período. Recordemos, por exemplo, nosso estudo 
de verbos, substantivos, adjetivos e advérbios nos livros e aulas de morfologia 
– suas flexões, significações e particularidades. Depois, a atenção sobre o verbo 
como elemento central da oração, o substantivo como núcleo de um termo, o 
adjetivo como um elemento periférico ou atributivo de outro, o advérbio como 
um determinante, sobretudo dos verbos.
Morfologia  estudo dos valores associativos das 
formas linguísticas.
20
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Sintaxe  estudo da inserção das formas linguísticas 
em enunciações lineares.
Morfologia Sintaxe Morfossintaxe =
Com isso, queremos enfatizar que um sólido estudo de morfologia é funda-
mental para o que se coloca diante do estudo de sintaxe, confirmando de algum 
modo a advertência de Mattoso Câmara Jr. (2004, p. 57), quanto ao fato de que 
“a distinção entre morfologia e sintaxe tem sido muitas vezes criticada, tanto de 
um ponto de vista didático quanto teórico”. Sua argumentação, no entanto, jus-
tifica a procedência da distinção entre ambas, pois a unidade de cada uma pre-
valece por conta de suas relações, respectivamente, associativa (paradigmática) 
e sintagmática. É uma opinião que não invalida o que Louis Hjelmslev (1991, p. 
162) escreveu em 1939, num artigo em que comentava que, “malgrado todos os 
esforços, nunca se conseguiu separar completamente a morfologia e a sintaxe”. 
Talvez por isso, T. Givón (2001) , no prefácio de seu livro Syntax, fale em estruturas 
morfossintáticas concretas e suas correlações semânticas e pragmáticas.
É o que mostra uma das questões incluídas no ExameNacional dos Cursos de 
Letras, realizado em 2002, cujo enunciado propunha:
Budista e japonês são palavras que podem ser categorizadas como substantivos e como 
adjetivos, o que é comprovável em sintagmas como o japonês budista e o budista japonês. 
Considerando apenas três possíveis critérios de classificação morfológica – o formal (ou 
flexional), o semântico e o sintático –, aponte o critério mais decisivo para determinar a classe 
gramatical desse tipo de palavras, justificando por que você o escolheu e excluiu os demais.
A grade oficial admitiu, entre as respostas, posicionamentos diferentes, com-
binados a justificativas pertinentes, mas considerou que o critério “mais decisivo” 
para determinar a classe gramatical desse tipo de vocábulo é morfossintático.
Para terminar, lembremos que um texto deve ter uma adequação gramati-
cal compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se assim julgar 
pertinente – procurará atingir o nível de exigência da linguagem-padrão pra-
ticada por escrito pela comunidade culta em que se insere. Tudo entrelaçado, 
interligado, no âmbito da palavra e da oração ou da frase (morfossintaticamen-
te) para permitir que alcancemos a competência discursiva ou textual, caracteri-
zando o que Eugenio Coseriu (1992) chama de saber expressivo, ou seja, a com-
petência discursiva ou textual, a capacidade de construir textos em situações 
determinadas.
Introdução à morfossintaxe
21
Texto complementar
Nomenclatura Gramatical Brasileira: 
um necessário passo à frente 
(BECHARA, 1999)
Hugo Schuchardt dizia, com muito acerto, que a nomenclatura estava 
para o cientista assim como o farol para o marinheiro: aplaina-lhe a estrada 
e o conduz a bom porto.
Em muito boa hora, na época em que o Ministério da Educação se preo-
cupava com as medidas substantivas ao aperfeiçoamento do ensino e, por 
consequência, o aprimoramento da cultura, reuniu o ministro as autoridades 
que mais estavam debaixo de sua jurisdição – os competentes catedráticos 
do Colégio Pedro II – para, sob a presidência do decano e emérito Antenor 
Nascentes, apresentar proposta de unificação da nomenclatura gramatical 
reinante nos livros didáticos e científicos (mormente nos primeiros), nas es-
colas e entre professores de Língua Portuguesa.
Para tal tarefa, começaram a trabalhar os professores catedráticos em 
exercício no Externato e no Internato do Colégio Pedro II: Cândido Jucá 
(filho), Carlos Henrique da Rocha Lima, Celso Cunha e Clóvis Monteiro, aos 
quais, depois vieram associar-se, como consultores, Antônio José Chediak, 
Serafim da Silva Neto e Sílvio Elia, todos também pertencentes ao quadro de 
magistério do Colégio Pedro II.
Se a iniciativa era inédita em língua portuguesa, não o era em outras 
partes do mundo, pois a Inglaterra e a França já tinham dado os primeiros 
passos neste sentido da unificação dos termos constantes e correntes na no-
menclatura gramatical de seus idiomas, para fins escolares. 
Para orgulho dos brasileiros, saída a proposta (não era uma imposição!) 
da NGB, a iniciativa estimula a que filólogos e linguistas portugueses, espe-
cialmente de Coimbra e Lisboa, com Manuel de Paiva Boléo na secretaria 
da comissão, passassem a trabalhar para consecução dos mesmos objetivos, 
orientando-se no esquema traçado pelos catedráticos do Pedro II, mas guar-
dando a orientação tradicional da sua terminologia que, diga-se de passa-
gem, pouco difere da praticada entre nós.
22
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
É fácil perceber a floresta, quase selva selvaggia, reinante nos livros di-
dáticos e entre o magistério de língua portuguesa: sem ainda Faculdades 
ou Institutos de Letras (que só começaram nos últimos anos da década de 
30); com as mais díspares orientações da gramaticografia nascente no século 
XIX; com a influência das gramáticas filosóficas, lógicas, puristas, ao lado de 
outras sem nenhuma orientação de valor científico; com o privilegiamento 
de nomenclaturas próprias da gramática clássica, especialmente latina (fa-
lava-se tranquilamente em nominativo, dativo, acusativo, ablativo, genitivo, 
consecutio temporum, etc.), ao lado das modernas novidades trazidas pelos 
livros que divulgaram os métodos histórico-comparativos (Brachet, Egger, 
Brunot, entre outros) ou da gramaticografia alemã e, principalmente, inglesa 
(Becker, Bain, Holmes, Mason e Whitney).
Diante desta multiplicidade de fontes e correntes doutrinárias, é claro 
que não haveria unanimidade terminológica e conceitual entre os autores 
que, a partir da reforma do ensino de línguas promovida por Fausto Barreto, 
em 1887, maxime do português, começaram a escrever seus compêndios de 
gramáticas escolares.
É bem verdade que tivemos autores que, desde cedo, se preocuparam em 
apresentar, para os diversos domínios da gramática, uma racionalização da 
nomenclatura. Entre esses, cabe menção especial aos esforços de Júlio Ribei-
ro, Maximino Maciel e, posteriormente, de José Oiticica, Martinz de Aguiar e 
Antenor Nascentes.
A pluralidade terminológica chegou a tal exagero, que Antônio José Che-
diak arrolou dezenas de denominações para o que hoje chamamos adjunto 
adnominal. Daí, em boa hora, veio a ideia da organização de proposta para 
escolha de um rótulo oficial para cada fato de língua que ostentava uma ri-
queza perturbadora – e inútil – de classificações.
Saída a NGB em 1959, nenhum dos seus signatários concordaria total-
mente com ela (Cândido Jucá, no mesmo ano, lançou um livro intitulado 132 
restrições à NGB). Ainda assim, os compêndios gramaticais vindos à luz na 
década de 60 tiveram de, bem ou mal, agasalhar os nomes propostos e, pas-
sados 40 anos, pode-se dizer que a proposta ministerial, com essa ou aquela 
exceção, trouxe remédio para o carnaval terminológico a que se assistia nos 
Introdução à morfossintaxe
23
livros, em aula, entre professores e, especialmente, nos exames de admissão, 
apesar dos defeitos e omissões que se podem imputar à NGB, e de algumas 
incursões a medo no campo conceitual, decorrentes de certas opções termi-
nológicas facilmente detectáveis na leitura do seu texto.
Sendo hoje totalmente diferente o panorama dos estudos linguísticos, 
filológicos e gramaticais, cremos que uma reedição pura e simples dos pri-
mitivos propósitos da NGB dos anos 50, ainda que acrescidas de nomes es-
quecidos à época (núcleo, por exemplo) e de outros trazidos pelo progresso 
das disciplinas, terá resultados insignificantes, se não inócuos, dada a relativa 
uniformização da nomenclatura promovida pela NGB.
Passados tantos anos desde que a Linguística foi introduzida entre nós, 
alcançamos maturidade para dar um passo à frente, que é a elaboração de 
um Glossário ou Dicionário da Terminologia Gramatical, em que não só se le-
vanta uma nomenclatura específica, mas também se propõe uma conceitu-
ação de cada termo, acompanhada de exemplificação adequada. Está claro 
que será uma proposta (não uma imposição), no domínio da escola de nível 
fundamental e médio.
Para tanto, a comissão que venha a ser designada ou escolhida para tal 
empreendimento já conta com excelentes subsídios que vai haurir dos di-
versos dicionários e léxicos gramaticais elaborados por Antenor Nascentes, 
Sílvio Elia, J. Mattoso Câmara Jr., Zélio dos Santos Jota, Pedro Luft, sem contar 
as obras estrangeiras de David Crystal, André Martinet, Mário Pei, Theodor 
Lewandowiski, Werner Abraham, Hadumod Bussmann, last but not least, 
Lázaro Carreter.
Um bom modelo, aperfeiçoado, é o Glosario de la terminología gramati-
cal, sob a direção de Antonio Alonso Marcos (pela Editora Magistério, Madrid, 
1986), com base no documento elaborado por uma Comissão de cinco mem-
bros, entre os quais figuram Rafael Lapesa Melgar e Fernando Lázaro Carreter.
Aperfeiçoemos o plano primitivo da NGB, sem nos esquecermos de que se 
trata de um nomenclator para o nível de10 e 20 graus, com leve projeção para 
os cursos universitários. Só assim, em nosso parecer, estaremos contribuindo 
para o progresso dos estudos gramaticais e o aperfeiçoamento de seu ensino 
entre nós.
24
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Dicas de estudo
AZEREDO, José Carlos de. “Para que serve o ensino da análise gramatical?”, apên-
dice do livro Fundamentos de Gramática do Português.
O autor expõe opiniões importantes a respeito das possibilidades de se ensi-
nar a análise gramatical de um modo isento dos vícios e defeitos que a tornaram 
desinteressante.
HENRIQUES, Claudio Cezar. “Conceitos básicos”, capítulo do livro Morfologia: es-
tudos lexicais em perspectiva sincrônica.
O capítulo trata das definições de termos como sincronia e diacronia; sintag-
ma e paradigma; palavra e vocábulo; morfema lexical e morfema gramatical – 
todos fundamentais para o desenvolvimento dos estudos de morfossintaxe.
Estudos linguísticos
1. Comente a seguinte afirmação de Irandé Antunes (2007, p. 160):
Língua e gramática podem ser uma solução: se damos à gramática a função que de fato ela 
tem; nem mais nem menos; se reconhecemos seus limites; se a enquadramos na sua justa 
valoração, nas suas justas medidas e aceitamos sua insuficiência frente à necessidade de 
outros saberes e de outras competências.
Introdução à morfossintaxe
25
2. A existência de uma nomenclatura gramatical unificada no ensino de Língua 
Portuguesa dos níveis Fundamental e Médio é uma questão relevante para 
os professores e para os alunos?
3. Explique de que modo os estudos de morfologia e de sintaxe estão interli-
gados.
Toda frase manifesta um pensamento que se constrói por meio de pa-
lavras – organizadas e combinadas segundo princípios que a caracterizam 
como uma estrutura.
FRASE (palavras organizadas de modo a comunicar algo) = ESTRUTURA
Essa pequena explicação nos serve para introduzir o objetivo desta 
aula: apresentar os conceitos de concordância, regência e colocação – os 
mecanismos sintáticos – como conteúdos fundamentais para o estudo da 
morfossintaxe, pois são eles que atuam na organização da frase – nosso 
foco de atenção neste momento.
Sintaxe de concordância: 
verbos e nomes em sintonia
A concordância é um dos mecanismos sintáticos fundamentais do por-
tuguês, pois é o processo que registra um tipo de harmonia gramatical 
existente entre dois componentes da frase.
1. Ela compramos aquele vestidos branca.
Esta frase não está construída segundo os princípios normais de con-
cordância de nossa língua e, portanto, parece inusitada. Porém, se fizer-
mos os ajustes de pessoa, número e gênero, teremos uma frase estrutura-
da adequadamente:
2. Ela comprou (ou nós compramos) aqueles vestidos brancos.
Nas duas relações sintáticas existentes na frase, faltava sintonia, ou seja:
o sujeito e o verbo precisavam estar na mesma pessoa e número (3. � a 
pessoa do singular ou 1.ª pessoa do plural, conforme quem tenha 
feito a compra) – esse princípio caracteriza a concordância verbal.
Mecanismos sintáticos
28
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
o demonstrativo e o adjetivo precisavam estar no mesmo gênero e núme- �
ro do substantivo (masculino plural) – esse princípio caracteriza a concor-
dância nominal.
A relação que há entre verbo e sujeito é única, pois acontece na fronteira 
existente entre os dois termos essenciais da oração prototípica do português, 
o sujeito e o predicado. Diferentemente, a relação que há entre substantivos e 
adjetivos pode ser de duas naturezas: a intrassintagmática e a intersintagmática.
3. 
Seu comentário amargo pode ter sido sincero.
Nessa frase há três palavras que concordam com o substantivo comentário: o 
possessivo seu e o adjetivo amargo concordam com o núcleo do termo ao qual 
pertencem (no caso, o sujeito “seu comentário amargo”) e são seus adjuntos ad-
nominais; já o adjetivo “sincero” concorda com o núcleo de um outro termo e é 
seu predicativo. Os adjuntos adnominais são exemplos de concordância intras-
sintagmática; o predicativo é exemplo de concordância intersintagmática.
Sintetizando:
CONCORDÂNCIA VERBAL
O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.
CONCORDÂNCIA NOMINAL
O adjetivo concorda com o subjetivo em gênero e número.
Cabe aqui um lembrete importante quanto à pontuação: numa frase escrita em 
ordem direta, nunca separamos sujeito e verbo ou verbo e predicativo por vírgula.
4. 
Os maiores jogadores do futebol brasileiro são grandes astros do esporte mundial.
SUJEITO VERBO
PREDICATIVO
Mecanismos sintáticos
29
5. 
Exagerado, eu sou sempre exagerado.
PREDICATIVO
SUJEITO
PREDICATIVO
repetido para confirmar 
o exagero?COM VÍRGULA
VERBO
Como se viu pelos exemplos, a concordância é um mecanismo sintático que 
se concretiza a partir de elementos tipicamente morfológicos: as flexões de 
pessoa, de gênero e de número. Devemos reparar que, em nenhum momento se 
falou em modo e tempo (para os verbos) e em grau (para os nomes).
O motivo é simples: modo e tempo são componentes exclusivos dos verbos 
(e não há como estabelecer esse tipo de identidade entre o verbo e seu sujei-
to, que é um termo representado por substantivos ou seus equivalentes – logo, 
sem marca de modo e de tempo); grau é um componente comum a substantivos 
e a adjetivos, mas com atribuições distintas (nos substantivos, o grau expressa 
aumentativo ou diminutivo; nos adjetivos, expressa comparativo ou superlativo 
– logo, não é possível fazer a sintonia de grau entre eles).
O gênero e o número estão entre os processos flexionais (e obrigatórios) de 
nossa língua, o que inegavelmente não é o caso do grau, que se faz de manei-
ra opcional, por um acréscimo derivacional (livr + inho = livrinho, moderno + 
íssimo = moderníssimo) ou lexical (livro pequeno, muito moderno), excludentes 
mutuamente, se assim preferir o usuário da língua, como vemos nas possibilida-
des abaixo transcritas:
6. Comprei um livrinho (ou um pequeno livro) moderno  grau só no subs-
tantivo.
7. Comprei um livro moderníssimo (ou muito moderno)  grau só no adjetivo.
A conhecida expressão Concordo com você em gênero, número e grau é, por-
tanto, inaplicável no mundo da gramática, onde só é possível concordar em 
gênero e número ou em número e pessoa.
Acrescente-se a lembrança de que o grau é um processo que também ocorre 
com os advérbios, também manifestando relação intensificadora (comparativo 
ou superlativo):
8. Ela canta melhor (= mais bem) e mais alto (do) que nosso vizinho.
30
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
9. Ela canta altíssimo (ou muito alto), mas emociona muito pouco (ou pou-
quíssimo).
Por fim, resta ainda dizer sobre o grau que os sufixos que se juntam a radi-
cais para expressar ideias de aumento, diminuição e intensificação têm um uso 
bastante expandido no português, sendo possível encontrá-los de modo muito 
expressivo em formações que subvertem seus valores iniciais, seja na linguagem 
jornalística, publicitária e coloquial, com grande produtividade.
10. Quem gosta de música tem todíssimos os motivos para não arredar pé do 
Rio este fim de semana. (Danuza. Jornal do Brasil: 16 out. 1998)
11. Aplicar corretamente o condicionador: passá-lo somente nas pontas, 
massagear levemente, desembaraçar com um pente de dentes largos e 
enxaguar bastantão, até sair tudo. (Revista Atrevida: fev. 1996)
O recurso (que serve como exemplo de gramaticalização) também é comum 
em nossa literatura, como atestam os casos de “cunhados e cunhadíssimos” (Ma-
chado de Assis em Esaú e Jacó), “eles passarão, eu passarinho” (Mário Quintana, 
no “Poeminha do Contra”), “o velho era antigão” (Stanislaw Ponte Preta, em “A 
Vontade do Falecido”) ou “ele está dormindinho” (José de Alencar, no Posfácio 
de Iracema).
Sintaxe de regência: 
verbos e nomes em hierarquia
A regência é outrodos mecanismos sintáticos fundamentais do português, 
pois é o processo que marca uma relação de hierarquia existente entre dois com-
ponentes da frase, isto é, se um termo tem ou não algum tipo de complemento 
ou circunstância que o acompanha em sua significação.
As palavras regentes de termos são os verbos e os nomes. Os termos que são 
regidos são chamados de complementos verbais e nominais.
Na nomenclatura gramatical, regência, em sentido amplo, equivale a subor-
dinação em geral. Em sentido restrito, e mais habitual, designa a subordinação 
peculiar de certas estruturas a palavras que as requerem ou preveem na sua 
significação ou em seus traços semânticos. Essas estruturas compõem, com as 
palavras que as requerem (isto é, regem), um complexo significativo – estruturas 
regidas completam com os núcleos regentes um todo semântico, motivo pelo 
Mecanismos sintáticos
31
qual que se denominam complementos. Regência é, então, exigência ou previ-
são de complementação (LUFT, 1987).
REGÊNCIA VERBAL
O verbo prevê uma complementação mediante o uso ou não de preposição.
REGÊNCIA NOMINAL
O nome (substantivo ou adjetivo) prevê uma completação 
mediante o uso de preposição.
Cabe aqui outro lembrete importante quanto à pontuação: numa frase es-
crita em ordem direta, nunca separamos o verbo e o seu complemento ou cir-
cunstância (até a 2.ª delas) por vírgula, e também não se separa o nome de seu 
complemento por vírgula.
12. Encontraremos as explicações no dicionário.
VERBO
(regente)
COMPLEMENTO
(o quê?)
CIRCUNSTÂNCIA
(em que lugar?)
13. Os comerciantes entregaram os documentos aos fiscais.
VERBO
(regente)
COMPLEMENTO
(o quê?)
COMPLEMENTO
(a quem?)
14. O caso foi comunicado à imprensa pelos detetives com discrição.
VERBO
(na voz passiva)
(regente)
COMPLEMENTO
(a quem?)
COMPLEMENTO
(por quem?)
CIRCUNSTÂNCIA
(de que modo?)
32
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
15. Seu envolvimento com os estudos mostrou-se benéfico a todos.
SUBSTANTIVO 
ABSTRATO
(regente)
COMPLEMENTO
(com o quê?)
ADJETIVO
(regente)
COMPLEMENTO
(a quem?)
16. Os professores almoçam aos sábados neste restaurante, desde 1995.
COM VÍRGULACIRCUNSTÂNCIA
(em que dia?)
CIRCUNSTÂNCIA
(em que lugar?)
CIRCUNSTÂNCIA
(desde que ano?)
Assim como a concordância, a regência é um mecanismo sintático que se con-
cretiza a partir de elementos tipicamente morfológicos, destacando-se nesse 
caso as relações com ou sem preposições.
Também foi possível deduzir pelos exemplos que os complementos e as cir-
cunstâncias são elementos previstos por verbos ou por nomes. Isso significa que 
nem todo verbo e nem todo nome tem, compulsoriamente, de estar acompa-
nhado de termos regidos, os quais devem ser entendidos como potenciais no 
âmbito do discurso, pois atuam em função das pretensões do falante.
17. Na semana passada eu almocei.
18. Na semana passada eu almocei com minha prima.
19. Na semana passada eu almocei feijoada.
As frases acima empregaram o mesmo verbo, mas observa-se que suas pre-
tensões comunicativas são distintas, o que justifica a existência de um comple-
mento (feijoada: almocei o quê?), de uma circunstância (com minha prima: na 
companhia de quem?) ou de nada (Ø: pratiquei a ação de almoçar).
Mecanismos sintáticos
33
Sintaxe de colocação: 
palavras em sintonia e hierarquia
A colocação é mais um dos mecanismos sintáticos fundamentais do portu-
guês, pois é o processo que marca as possibilidades permitidas de combinação 
ao se construir uma frase. Todas as línguas faladas pelo homem têm uma carac-
terística em comum: são feitas de palavras que se organizam segundo determi-
nadas características e relações.
COLOCAÇÃO
As palavras e as orações são organizadas na frase segundo regras próprias.
Ao falarmos em ordenar (pôr em ordem), precisamos explicar o que se chama 
ordem direta (ou lógica): a sequência em que o sujeito vem à esquerda do verbo, 
este precede os complementos e os circunstanciadores (o direto tem preferên-
cia sobre o indireto, e os objetos têm preferência sobre os adjuntos adverbiais), 
os determinantes vêm depois dos determinados, os termos acessórios se posi-
cionam à direita dos seus pares, os conectores e transpositores encabeçam os 
sintagmas ou orações por eles interligados.
Veja o exemplo:
20. “O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite, 
quando uma senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa, 
já então iluminada” (ALENCAR, 1975, p. 2).
O trecho de Alencar exemplifica bem a ordem direta do português:
a frase se inicia pelo sujeito ( � o arrulhar destes dois corações virgens) de 
durava;
o núcleo do sujeito ( � o arrulhar) precede seu determinante (destes dois co-
rações virgens);
o determinante de � durava (até oito horas da noite) está à direita do verbo;
a conjunção � quando encabeça a oração subordinada adverbial, que está 
posicionada depois da oração principal;
34
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
o sujeito da segunda oração ( � uma senhora de certa idade) precede o verbo 
que com ele concorda (chegava);
o determinante de � chegava (a uma das janelas da casa) está à direita do 
verbo;
o determinado � casa precede seu determinante (já então iluminada).
Esses são apenas alguns comprovantes de que o trecho de Alencar está cons-
truído rigorosamente em ordem direta, o que não significa que se trata de uma 
ordem obrigatória no português. O mesmo trecho poderia ter sido escrito de 
outra maneira, sem nenhum prejuízo para sua estrutura, como vemos nos exem-
plos abaixo, exatamente com as mesmas palavras:
21. Até oito horas da noite durava o arrulhar destes dois corações virgens, 
quando a uma das janelas da casa, já então iluminada, chegava uma se-
nhora de certa idade.
22. Durava até oito horas da noite o arrulhar destes dois virgens corações, 
quando chegava uma senhora de certa idade a uma das janelas da casa, 
já então iluminada.
Não há diferença sintática entre as frases, mas elas não são iguais. Qual das três 
representa de modo mais adequado a expressividade pretendida pelo autor? Já 
se vê por essas três maneiras de se construir a mesma frase que, diferentemente 
dos mecanismos de concordância e de regência, há muito mais maleabilidade no 
estudo da colocação.
Em (20) a frase começa com o sujeito; em (21) inicia com a circunstância de 
tempo; em (22) a primeira palavra é o verbo durar. Os deslocamentos feitos em 
(21) e (22) (sua topicalização) são justificáveis? Em cada opção, teríamos um ele-
mento destacado: o próprio acalanto dos jovens, em (20), a marcação do tempo; 
em (21), a noção de prolongamento que o verbo transmite – plenamente justifi-
cáveis, conforme o desejasse o escritor.
TOPICALIZAÇÃO
Termo usado para indicar o deslocamento de um sintagma de sua posição 
normal na frase para o início dela – o que geralmente se dá por razões de 
natureza discursivo-textual.
Mecanismos sintáticos
35
Façamos agora uma exemplificação ao contrário, tomando outro trecho do 
próprio Alencar, extraído do mesmo romance A Viuvinha.
23. “Pouco depois desapareceram os adornos da cerimônia, e na sala ficaram 
apenas algumas pessoas que festejavam em uma reunião de amigos e de 
família a felicidade dos dois corações” (ALENCAR, 1975, p. 38).
Aqui, não há a rigorosa obediência à ordem lógica do português. Alencar pri-
vilegiou a ordem inversa, como destacamos nas seguintes passagens:
o sujeito dos verbos � desaparecer (os adornos da cerimônia) e de ficaram 
(algumas pessoas) está posposto;
os determinantes de � desapareceram (pouco depois) e de ficaram (na sala) 
estão antes dos verbos;
o complemento do verbo � festejar (a felicidade dos dois corações) está dis-
tanciado dele pela antecipação do adjunto adverbial em uma reunião de 
amigos e de família.Porém, como ficaria essa opção sintática de Alencar se fosse reescrita na 
ordem direta?
24. Os adornos da cerimônia desapareceram pouco depois, e apenas algu-
mas pessoas que festejavam, em uma reunião de amigos e de família, a 
felicidade dos dois corações ficaram na sala.
Observa-se que o sujeito “apenas algumas pessoas”, ao ser posicionado à es-
querda de seu verbo (ficaram) teve de trazer consigo toda a oração subordinada 
que o secundava, pois, afinal, essa oração do verbo festejar é adjetiva, isto é, de-
terminante de pessoas e se posiciona depois desse substantivo.
Novamente cabe perguntar qual das maneiras se presta de modo mais ade-
quado à expressividade pretendida pelo autor. De todo modo, uma conclusão se 
pode alcançar desde logo: a ordem direta ou lógica nem sempre é a mais reco-
mendável ou a melhor. Cada situação discursiva, textual, é que dirá se a escolha 
mais apropriada é uma, outra ou mesmo um misto de ambas.
36
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Adequação sintática e adequação semântica
Chamamos de adequação sintática a construção coerente de períodos e orações, 
observadas as relações existentes entre seus termos e a sua organização. A inadequa-
ção sintática pode gerar desde dificuldades localizadas de compreensão até a com-
pleta ausência de sentido. A esse vício de linguagem dá-se o nome de obscuridade.
A adequação semântica ocorre quando um texto demonstra competência na 
argumentação (na descrição, na narração ou na interpretação), evidenciada por 
seu autor a partir de uma seleção de opiniões, dados e fatos fundamentados no 
seu conhecimento de mundo. Mas é sempre oportuno lembrar que, embora re-
comendáveis para as situações referenciais da vida comum, os paralelismos se-
mântico e sintático podem ser quebrados com arte e criatividade. É o que Thaís 
Nicoleti de Camargo (2002) comenta no artigo “Falta de paralelismo semântico 
cria efeito de estilo”.
Preservar o paralelismo semântico é tão importante quanto preservar o pa-
ralelismo sintático. Mas, na pena de um bom escritor, a quebra da simetria se-
mântica pode resultar em curiosos efeitos de estilo. Não foi outra coisa o que 
fez Machado de Assis no conhecido trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, 
em que, irônica e amargamente, o narrador diz: “Marcela amou-me durante 15 
meses e 11 contos de réis”. No mesmo livro: “antes cair das nuvens que de um 
terceiro andar”.
O uso desse artifício parece ser uma das marcas estilísticas do autor. Na aber-
tura de Dom Casmurro, o narrador diz: “encontrei um rapaz, que eu conheço de 
vista e de chapéu”.
No conto “O enfermeiro”, ao anunciar que vai relatar um episódio, o narrador ad-
verte que poderia contar sua vida inteira, “mas para isso era preciso tempo, ânimo 
e papel”. O elemento papel, disposto nessa sequência, surpreende o leitor e instala 
o discurso irônico. Ter ou não papel para escrever é algo prosaico. A falta de ânimo, 
um problema pessoal, está em outro patamar semântico (CAMARGO, 2002).
Não foi o que aconteceu com a manchete de jornal ou com a placa do salão 
de beleza que estão reproduzidas a seguir. Ambas esbarram na falta de parale-
lismo, pois a escolha sintática não representa a intenção comunicativa, que só é 
compreendida porque o leitor reinterpreta o que vê para constituir a adequação 
inexistente no enunciado.
Mecanismos sintáticos
37
M
ar
ce
lo
 M
or
ae
s.
Pintos cortados? ou Corto e pinto 
cabelos?
D
iv
ul
ga
çã
o 
Fo
lh
a 
de
 S
ão
 P
au
lo
.
Missa pela febre? ou Papa tem febre e cancela 
missa?
No livro Sintaxe: estudos descritivos da frase para o texto (HENRIQUES, 2008, p. 
17-19) exemplifico os problemas de inadequação a partir do trecho de um anún-
cio publicado na Folha de S. Paulo em 17 de junho de 1998:
Inadequação sintática e semântica.
JOSÉ DA PENHA 
SANTOS, depois de ter 
ultrapassado o pórtico 
de um século de idade, 
no próximo dia 18 de 
junho, 98, a partir das 
18h30, na LIVRARIA 
CULTURA, Av. Paulista, 
2.073, Conjunto Nacion-
al, a quem o honrar com 
a sua presença, dará au-
tógrafos da 4.ª edição de 
CONHECIMENTO E VEN-
TURA, muito ampliada, 
pois se a 3.ª edição tinha 
526 páginas, tem esta 
860 e 4.278 pensamen-
tos dos maiores homens 
de todos os tempos.
Propagar esta obra, 
não é por vaidade do 
autor, mas cumpre o 
sagrado dever de levar 
a desencantados co-
rações o encanto de 
viver, conforme afirma 
o eminente economis-
ta HENRY MAKSOUD: 
“O livro Conhecimen-
to e Ventura está entre 
aqueles que se deve ter 
à mão como recurso nos 
momentos em que falta 
a esperança e os proble-
mas parecem intrans-
poníveis. José da Penha 
Santos nos oferece a 
ponte sólida e amiga”.
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Língua Portuguesa: Morfossintaxe
É claro que o objetivo principal do anúncio é o aviso sobre o lançamento de 
um livro. No entanto, suas múltiplas inadequações sintáticas, ainda que não im-
peçam a compreensão dos dados objetivos sobre local, data, horário, poderão 
comprometer o comparecimento do público ao evento e até mesmo a venda-
gem do livro anunciado. Afinal, se o anúncio tem tantos problemas textuais, não 
será de estranhar que o livro citado (substituíram-se os nomes do livro e do autor) 
esteja no mesmo nível.
Vejamos alguns dos problemas sintáticos do texto:
Há quase 40 palavras entre o sujeito “José da P. Santos” e o predicado “dará �
autógrafos”. Esse distanciamento tira a objetividade do trecho e prejudica 
a compreensão da mensagem.
A sequência antecipada de expressões entre vírgulas nesse mesmo trecho �
é inadequada, pois mistura elementos de função diferente, a saber:
“depois de ter ultrapassado o pórtico de um século de idade” refere-se �
ao sujeito, mas a data que vem a seguir não é a do seu aniversário;
a cadeia “no próximo dia 18 de junho, 98”, “a partir das 18h30” e “na �
LIVRARIA CULTURA” refere-se circunstancialmente ao sintagma “dará 
autógrafos”, e o número 98 entre vírgulas é supérfluo pois o texto já 
usara “próximo dia 18 de junho”;
“Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional” identifica uma circunstância de �
“Livraria Cultura”, por meio da ideia implícita de localização;
“a quem o honrar com a sua presença” complementa o verbo “dar”. �
A expressão causal “pois se a edição [...] de todos os tempos”, que encerra �
o primeiro parágrafo, é mal construída porque:
o sujeito (com a palavra � edição subentendida) está depois do verbo e 
há dois numerais seguidos (o primeiro com a palavra páginas suben-
tendida);
entre a palavra � pois e o restante da expressão causal foi inserida uma ora-
ção condicional com apenas a vírgula da direita (toda inversão de oração 
circunstancial deve ser marcada por duas vírgulas).
O segundo parágrafo começa com três erros graves, a saber: �
a vírgula entre o sujeito “propagar esta obra” e o seu predicado “não é”; �
Mecanismos sintáticos
39
o emprego desnecessário da preposição “por” (o correto seria: “propa- �
gar esta obra não é vaidade do autor”);
a oração adversativa “mas cumpre o sagrado dever...” não dá sequência �
ao trecho anterior (ou seja: propagar esta obra não é vaidade – verbo 
de ligação + substantivo –, mas cumpre – verbo transitivo?) = a coesão 
se daria se estivesse assim: “propagar esta obra não é vaidade do autor, 
mas é o cumprimento do sagrado dever de”.
Ora, se o redator do anúncio tivesse observado a ordem das palavras nas 
frases e considerado a hierarquização das informações, teria produzido um texto 
mais objetivo e claro. Um dos resultados, procurando, ao máximo, respeitar as 
escolhas lexicais do original, poderia ser:
Versão adequada sintática e semanticamente.
Depois de ter ultra-
passado o pórtico de um 
século de idade, JOSÉ DA 
PENHA SANTOS dará au-
tógrafos da 4.ª edição de 
CONHECIMENTO E VEN-
TURA a partir das 18h30do próximo dia 18 de 
junho, na LIVRARIA CUL-
TURA (Av. Paulista, 2.073, 
Conjunto Nacional), a 
quem o honrar com a 
sua presença. Muito am-
pliada, tem esta edição 
860 páginas e 4.278 
pensamentos dos maio-
res homens de todos os 
tempos, enquanto a 3.ª 
tinha 526 páginas.
Propagar esta obra 
não é vaidade do autor, 
mas o cumprimento do 
sagrado dever de levar a 
desencantados corações 
o encanto de viver, con-
forme afirma o eminen-
te economista HENRY 
MAKSOUD: “O livro Co-
nhecimento e Ventura 
está entre aqueles que 
se deve ter à mão como 
recurso nos momentos 
em que falta a esperança 
e os problemas parecem 
intransponíveis. José da 
Penha Santos nos oferece 
a ponte sólida e amiga”.
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Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Assim, falar em adequação sintática significa falar em “bom-senso e critério 
nas escolhas sintáticas”, tanto no âmbito da frase como no âmbito do parágrafo 
e do texto.
Fica evidente que a chamada adequação sintática é um instrumento em favor 
da adequação semântica, que outra coisa não é senão a realização coerente do 
que se pretende dizer. Por isso, concordamos com Carlos Franchi (2006, p. 102) 
quando afirma que “a teoria gramatical visa estabelecer a relação entre a forma 
das expressões e sua significação”, ou seja, que é necessário “mostrar as correla-
ções entre a estrutura sintática e a estrutura semântica”.
Texto complementar
Organização da frase
(CARONE, 1995)
É esse o nome que Tesnière dá àquela energia que imanta as palavras e 
as faz organizarem-se em sintagmas, e estes em orações. Usamos as palavras 
energia e imantar, pouco usuais num contexto gramatical, para salientar o 
caráter abstrato das relações sintáticas, que é algo que se instala indepen-
dentemente de concretizações de qualquer natureza. Em “João sai” não há 
apenas dois elementos sintáticos, mas três: “João”, “sai” e a conexão sintática, 
que articula os dois e inaugura uma unidade de nível superior: a oração.
A conexão é uma relação de dependência que se estabelece entre dois ele-
mentos; desses, um é o central, o outro é o marginal. O marginal pressupõe o 
central, mas o inverso não é verdadeiro. Na sílaba a consoante pressupõe a vogal; 
no vocábulo, afixos pressupõem um radical; no sintagma nominal, artigo e adje-
tivo pressupõem um substantivo. Na oração, o pressuposto é o verbo, elemento 
central com que se articulam os demais, imediata ou mediatamente.
Muitas de nossas gramáticas, certamente orientadas pela NGB, que é 
um roteiro oficial, não aproximam as noções de regência e subordinação, só 
mencionando esta última palavra quando vão tratar do período composto. 
Ora, quando as palavras se organizam em sintagmas, e estes em orações, 
fazem-no graças à conexão entre um termo central (regente, subordinante) 
Mecanismos sintáticos
41
e um termo marginal (regido, subordinado). O dirrema (frase nominal bi-
membre) e a frase verbal (oração) organizam-se por subordinação. Nenhuma 
frase se formaliza unicamente pela coordenação de seus termos; na verdade, 
coordenam-se termos em uma frase já estruturada por subordinação. Se-
quências de nomes coordenados não constituem uma estrutura frasal: cada 
um deles é, por si, uma frase nominal unimembre. 
Quando o falante de uma língua depara com um conjunto de duas pala-
vras, intuitivamente é levado a sentir entre elas uma relação sintática, mesmo 
que estejam fora de um contexto mais esclarecedor. Se for o conjunto fala 
viva, por exemplo, ele poderá interpretá-la como:
uma fala (expressão) viva (vivaz, fluente); �
alguém fala (diz) a palavra viva; �
fala (imperativo: tu) a palavra viva; �
ela fala estando viva; �
que a fala (substantivo) viva (subjuntivo, optativo). �
Assim, além de captar o sentido básico das duas palavras, o receptor 
atribui-lhes uma gramática – formas e conexões. Isso acontece porque ele 
traz registrada em sua mente toda a sintaxe, todos os padrões conexionais 
possíveis em sua língua, o que o torna capaz de reconhecê-los e identificá- 
-los. As duas palavras não estão, para ele, apenas dispostas em ordem linear: 
estão organizadas em uma ordem estrutural.
A diferença entre ordem estrutural e ordem linear torna-se clara se elas 
não coincidem, como nesta frase que um aluno criou em aula de redação, 
quando todos deviam compor um texto para outdoor, sobre uma fotografia 
da célebre cabra de Picasso: “Beba leite de cabra em pó!” Como todos rissem, 
o autor da frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”
Pior a emenda que o soneto. Mas a frase foi ótima para perceberem o 
constrangimento (às vezes insolúvel) que a ordem linear impõe, visto que 
nem sempre é possível seguir, palavra por palavra, os caminhos da ordem 
estrutural. Todos, porém, com a intuição de falantes nativos, haviam captado 
a ordem estrutural, a sintaxe da frase:
42
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
beba
(você) leite
de cabra em pó
Num processo de comunicação verbal, quando o emissor produz uma 
frase, faz uma dupla escolha: a dos conceitos que quer transmitir, e a do 
arranjo gramatical que dará forma a seu pensamento. Ao formular concre-
tamente sua frase, porém, tem de submeter-se à dimensão do tempo, que 
transcorre numa linha única; por esse motivo, a ordem estrutural, que é toda 
uma armação abstrata, mas pluridimensional, deverá conformar-se à lineari-
dade da frase realizada.
Inversamente, ao ouvir uma frase – que lhe chega linearmente, palavra 
após palavra, som após som –, o receptor capta e reconhece as conexões 
sintáticas que a estruturam, e reconstitui em sua mente a rede de relações 
que seu interlocutor escolheu para compor a mensagem.
Para que essa miraculosa transferência de mente a mente se opere, é ne-
cessário que ambos os interlocutores possuam os registros das combinações 
sintáticas possíveis na língua em questão. Quando se trata da língua materna, 
a sintaxe é haurida à medida que a criança ouve o que lhe dizem, ou o que 
se diz a sua volta; e, num espaço de tempo espantosamente pequeno para 
a grandeza do mistério, estará apta a criar frases diferentes das que ouviu, 
realizando combinações novas com os padrões sintáticos que já fixou.
Dicas de estudo
BECHARA, Evanildo. “Sintaxe: noções gerais”, lição I do livro Lições de Português 
pela Análise Sintática.
O autor define oração e focaliza temas como a entoação oracional, a impor-
tância da situação e do contexto, como se constituem as orações e quais os seus 
tipos, entre outros assuntos relevantes para o estudo da sintaxe.
Mecanismos sintáticos
43
KURY, Adriano da Gama. “Noções básicas preliminares”, primeiro capítulo do livro 
Novas Lições de Análise Sintática.
O capítulo explica o que é análise sintática e qual sua finalidade, além de 
apresentar as noções de termos como frase, oração e período.
Estudos linguísticos
Concordo com 
você em gênero, 
número e grau
GRAU?
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1. Comente, do ponto de vista gramatical, a possível incoerência existente na 
frase usada na charge, que repete o conhecido chavão “Concordo com você 
em gênero, número e grau”.
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Língua Portuguesa: Morfossintaxe
2. Construa duas frases com o verbo implicar, de modo a explicar seus traços de 
regência quando significa aborrecer e quando significa incluir, determinar.
Mecanismos sintáticos
45
3. Escreva a seguinte frase na ordem direta: “Finalmente, chegaram ontem de 
Londres os dois passageiros do ônibus espacial brasileiro.”
O objetivo desta aula é descrever a estrutura oracional do português, 
a partir da dicotomia sujeito-predicado. Além de discutir a questão da 
essencialidade desses termos, trataremos também de sua classificação e 
tipologia.
O sujeito e o predicado
Em português uma oração apresenta normalmente uma estrutura dual, 
obrigatoriamentecentrada em um verbo (SV = sintagma verbal), que fun-
ciona como eixo relacionado a um sujeito (SN = sintagma nominal).
Os autores normalmente afirmam que a estrutura básica da oração 
tem esse caráter bimembre. É o que dizem, por exemplo, Celso Cunha e 
L. Cintra (2007, p. 136): “São termos essenciais da oração o sujeito e o pre-
dicado. O sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração; o predica-
do é tudo aquilo que se diz do sujeito.” Explicação semelhante se vê em 
Rocha Lima (1992, p. 234): “Em sua estrutura básica, a oração consta de 
dois termos, o sujeito (o ser de quem se diz algo); e o predicado (aquilo 
que se diz do sujeito).”
Um dos comentários a fazer sobre essas definições tradicionais reco-
menda que relativizemos o entendimento das palavras ser e essencial. Nem 
sempre o sujeito é um ser no sentido dicionarizado; nem sempre o sujeito 
está concretamente presente na frase. Agindo assim, não deverão nos pre-
ocupar algumas indagações de ordem lógica (e não sintática) do tipo:
Se o sujeito é um termo essencial, como existe oração sem sujeito? �
(Choveu muito ontem)
Se o sujeito é um ser, como existe sujeito que não é um ser? (A com- �
pra foi um sucesso)
Termos essenciais da oração
48
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
Resolve-se a primeira pergunta com um silogismo: se o sujeito não fosse um 
termo essencial, por que teríamos de reconhecer que, em determinadas frases, 
ele não existe? Fala-se em oração sem sujeito, mas não se fala em oração sem 
objeto direto, oração sem predicativo. Isso deixa implícito que o sujeito é de fato 
um termo essencial – sendo, inclusive, possível enumerar os casos de inexistên-
cia do sujeito, a rigor, idiomatismos do português.
Quanto à segunda pergunta, é melhor não considerar os limites da palavra 
ser como uma pessoa ou uma coisa, pois isso nos levará a apenas substantivos 
concretos. A definição pode ser retocada substituindo-se a palavra ser pela ex-
pressão “substantivo (ou equivalente)” e assim retiramos o perigoso componen-
te semântico de uma definição que deve privilegiar os aspectos sintáticos.
SUJEITO (SN)
Termo de natureza substantiva, de quem se diz algo, com um verbo que 
com ele concorda em número e pessoa.
PREDICADO (SV)
Termo de natureza verbal, que contém o que se diz do sujeito.
As orações do tipo declarativo (Eu vou ao baile.) são as mais comuns no nosso 
cotidiano, coexistindo com orações interrogativas (Você vai ao baile?), imperati-
vas (Vá ao baile.), exclamativas (Foi um baile tão lindo!). Predominam também as 
orações afirmativas sobre as negativas.
Se nos lembrarmos das coisas que lemos, escrevemos, falamos ou ouvimos 
ao longo do dia de hoje, por exemplo, é muito provável que a maior parte das 
frases encontradas tenha revelado um fato, indicado uma opinião, registrado 
uma notícia – e quase sempre com uma estrutura gramaticalmente afirmativa 
(sem o uso do advérbio não, prototípico).
Vejamos a primeira estrofe do “Epigrama n.º 9”, de Cecília Meireles (2001), que 
nos mostra a estrutura oracional declarativa:
O vento voa, 
A noite toda se atordoa, 
A folha cai.
Termos essenciais da oração
49
Esses três versos descritivos introduzem o questionamento que a autora 
fará na segunda estrofe, a respeito da existência ou não de “algum pensamento 
sobre essa noite”. Interessa-nos observar que as três orações mostram o modelo 
declarativo, afirmativo e com a disposição do SN (tema) e do SV (declaração) na 
ordem direta. Assim, ao cenário da natureza (vento, noite e folha – posicionados 
à esquerda do verbo) se soma a interferência da subjetividade do eu lírico (a 
noite se atordoa), como mostra o quadro:
Sujeito (SN) [tema] Predicado (SV) [declaração]
O vento voa
A noite toda se atordoa
A folha cai
Predicação verbal
Não há oração sem verbo, elemento principal que atua no predicado.
Pelo ato de predicar, o homem exercita e expressa seu raciocínio; não apenas 
isola uma parcela de sua experiência no mundo e lhe dá um nome (pela função 
da designação), mas também “pronuncia-se” sobre essa parcela, formulando um 
pensamento sobre ela: O céu é azul, A borboleta voa, O vento está frio, A justiça 
consola as pessoas, A estrela brilha, Caminhar faz bem à saúde, Esquecer alivia o 
coração.
O ato de predicar constitui ordinariamente uma declaração sobre um conceito, 
e só é possível graças ao verbo. O verbo tem outras funções na língua, mas “predi-
car” é sua função mais típica, além de lhe ser exclusiva (AZEREDO, 2000, p. 75).
A classificação dos verbos quanto à predicação é, então, o primeiro passo que 
devemos dar para reconhecer a estrutura de uma oração. E isso se consegue 
a partir de uma visão semântico-estrutural – ou seja, uma análise que leva em 
conta a significação do verbo e sua função na oração.
Um verbo como confessar se constrói potencialmente com três SN:
O padre (A) confessou seu delito (B) ao bispo (C)
Numa estrutura como essa, o elemento à esquerda do verbo confessar e que 
determina sua concordância em número e pessoa é o SNsuj. À direita do verbo 
50
Língua Portuguesa: Morfossintaxe
estão dois termos regidos por ele: o SNod (sem preposição) e o SNoi (com pre-
posição). Nas relações entre confessar e seus três parceiros, há, por fim, os valo-
res semânticos em jogo, ou seja, enquanto o SNsuj é necessariamente um ser 
humano, um dos objetos (o direto) é algo inanimado e o outro (o indireto) é de 
novo um ser humano.
Adotaremos aqui uma maneira bem objetiva de descrever a predicação dos 
verbos, tomando como foco apenas os elementos que atuam no âmbito do 
predicado.
Numa análise de base semântico-estrutural, dividiremos os verbos em dois 
grupos: os verbos de estado (ser, estar, ficar e sinônimos) e os verbos de ação 
(os demais). Essa distinção semântica, ainda que passível de restrições lógicas 
quanto ao que se pode entender sob o rótulo de “ação”, é didaticamente pro-
veitosa e se baseia no entendimento do significado de três verbos muito usuais 
na língua (ser, estar e ficar). Não nos parece tarefa das mais difíceis responder a 
uma pergunta como: “O verbo que temos para analisar é ou não sinônimo de ser, 
estar ou ficar”?
Esse procedimento é o mesmo adotado no livro Sintaxe: estudos descritivos da 
frase para o texto (2008) e que transcrevemos a seguir, com adaptações.
Verbos de estado
Podem ser: de ligação1 (se houver predicativo do sujeito) ou intransitivos (se 
não houver predicativo do sujeito).
3. Minha vida era um palco iluminado.
SUJEITO
(termo A)
PREDICATIVO
(termo B)
de ligação
4. Muitas personalidades estavam no lançamento.
ADJ. ADV. DE 
LUGAR
SUJEITO
intransitivo
1 Alguns autores preferem chamá-los de verbos predicativos ou copulativos, terminologia adotada, por exemplo, no Dicionário Aurélio, porém não 
contemplada pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB).
Termos essenciais da oração
51
Verbos de ação
Podem ser: transitivos (se houver complemento não circunstancial) ou intran-
sitivos (se não houver complemento).
5. A ponte política ligará os dois estados.
OBJETO 
DIRETO
transitivo direto
6. O rapaz se priva de nossa amizade.
OBJETO 
INDIRETO
transitivo indireto
7. O inverno trará mais prejuízo aos agricultores.
OBJETO 
INDIRETO
transitivo direto e 
indireto
OBJETO 
DIRETO
8. Os comerciantes vendem em condições especiais.
ADJ. ADV. DE MODO
intransitivo
9. O prejuízo dos clubes brasileiros aumentou. intransitivo
Como dissemos, essa classificação não chega a satisfazer a todos os gostos, e 
não é raro encontrar em livros de sintaxe ou em dicionários termos como verbo 
transitivo relativo, verbo transitivo circunstancial, verbo bitransitivo, verbo birre-
lativo, verbo pronominal e verbo transobjetivo. Quando aparecerem, valem as 
seguintes equivalências:
Transitivo relativo
10. Ontem assisti a um jogo

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