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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ANDERSON DE JESUS LIMA PROPOSTA DE TRATAMENTO DA ÁGUA DO AÇUDE MARCELA EM ITABAIANA-SE PARA USO NA AGRICULTURA São Cristóvão – SE 2017 I ANDERSON DE JESUS LIMA PROPOSTA DE TRATAMENTO DA ÁGUA DO AÇUDE MARCELA EM ITABAIANA-SE PARA USO NA AGRICULTURA Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe – UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil. Orientadora: Profª Drª Denise Conceição de Gois Santos Michelan São Cristóvão – SE 2017 II ANDERSON DE JESUS LIMA PROPOSTA DE TRATAMENTO DA ÁGUA DO AÇUDE MARCELA EM ITABAIANA-SE PARA USO NA AGRICULTURA Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe – UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil. Aprovado em: 7 de abril de 2017. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________Nota: ______ Prof. Dra. Denise Conceição de Gois Santos Michelan - Universidade Federal de Sergipe (Presidente - Orientadora) _________________________________________________________Nota: ______ Prof. Dra. Luciana Coelho Mendonça - Universidade Federal de Sergipe (Examinador 1) _________________________________________________________Nota: ______ Prof. Dr. Daniel Moureira Fontes Lima - Universidade Federal de Sergipe (Examinador 2) III É concedida à Universidade Federal de Sergipe permissão para reproduzir cópias desta monografia e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho acadêmico pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. Assinatura LIMA, Anderson de Jesus. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO São Cristóvão, 2017 Trabalho acadêmico orientado. Centro de Ciências Exatas e Tecnologias, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. I. Universidade Federal de Sergipe. CCET/DEC II. Proposta de tratamento da água do açude Marcela em Itabaiana-SE para uso na agricultura. IV DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos produtores de hortaliças do perímetro irrigado Marcela, pessoas batalhadoras, que retiram deste reservatório seu sustento e de sua família de forma digna. Em especial, meu pai Givaldo (in memoriam), que durante 10 anos de minha existência me sustentou, me educou, e me ensinou a viver. Não medindo esforços para transformar cada hortaliça cultivada em possibilidades de um futuro melhor para seus filhos, através da educação. V AGRADECIMENTOS Agradeço por primeiro a Deus, criador de todas as coisas, detentor de toda sabedoria e conhecimento, por ter sonhado comigo esta graduação. A minha família, minha mãe Josefa, meus irmãos Maria Aparecida, Antônio, Maria Elisângela, José, Fátima, Adilson e Luana, que sempre representaram fonte de incentivo e porto seguro ao longo do curso. A minha madrinha, Maria Bernadete, por todo apoio, suporte e carinho doado a mim desde a infância. A minha namorada Marília, por todo amor, atenção e compreensão dedicados a mim, principalmente, nas etapas finais do curso. Aos professores com quem tive a honra de aprender durante os 5 anos de UFS, de forma especial, a Prof. Denise por todos ensinamentos e orientação no desenvolvimento desse trabalho e a Prof. Luciana pela solicitude em me ouvir, discutir e ajudar no desenvolvimento de uma parte importante do mesmo. As pessoas que Deus colocou em minha vida, os amigos de infância, a família JR, os colegas de trabalho e aos amigos que fiz viajando no ônibus da AIU que transformaram as idas e vindas à UFS em momentos de descontração, aprendizado e descanso. Aos colegas de curso, especialmente aqueles com os quais tive a oportunidade de trabalhar nas atividades acadêmicas em grupo. A ADEMA e Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Itabaiana/SE, pelas informações gentilmente fornecidas. A todas as pessoas que torceram por mim no decorrer do curso, de forma aberta ou no anonimato. A todos estes, minha sincera gratidão. Que Deus os abençoe! VI EPÍGRAFE “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Romanos 8:28) VII RESUMO O açude Marcela em Itabaiana-SE é o recurso hídrico utilizado no perímetro irrigado Marcela, onde se cultiva, predominantemente, hortaliças. Durante muitos anos, vem recebendo esgotos domésticos gerados nas mais diversas regiões da cidade. Este fato traz grandes prejuízos a qualidade da água, com expressiva concentração de DBO, fósforo total e coliformes termotolerantes, tornando inapropriada para a irrigação de hortaliças que são consumidas cruas. Este trabalho propôs dois sistemas de tratamento da água do açude, norteando principalmente a remoção de coliformes termotolerantes. Um dos sistemas se baseou na coagulação/floculação com semente da Moringa oleifera seguida de filtração lenta: os tanques de coagulação terão capacidade de 1,6m³ e necessitarão de 32g da semente da moringa no processo, retirando o lodo cada vez que realizá-lo; o filtro lento é alimentado em batelada por 10 horas, mas seu tempo de operação será de 24 horas; e o outro sistema em 2 lagoas de maturação: onde a vazão é regularizada no tanque de equalização e enviada para lagoa de forma constante durante todo o dia, o efluente será retido por 8,5 dias em cada lagoa. Ambos os sistemas são eficientes na remoção de coliformes; o primeiro ocupa menor área, porém com operação presencial e trabalhosa, enquanto que o segundo necessita de área 16 vezes maior que o primeiro, mas se sobressai no quesito operação (necessita apenas que a bomba regularizadora de vazão esteja funcionando) e manutenção (a remoção do lodo é realizada depois de vários anos). Independentemente do sistema adotado é necessário acompanhar a qualidade da água resultante do sistema de tratamento e é interessante realizar teste em escala piloto. E, em uma eventual aplicação prática, buscar recursos nos órgãos públicos. Palavras-chave: hortaliças, recurso hídrico, coliformes termotolerantes. VIII ABSTRACT The dam Marcela in Itabaiana is the water resource used in the irrigated perimeter Marcela, where they cultivate mostly vegetables. For many years it has been receiving domestic sewage generated in various regions of the city. This fact, brings great damages the quality of the water, with its high concentration of BOD, total phosphorus, and thermotolerant coliforms, making it unsuitable for the irrigation of vegetables that are consumed raw. This work proposed two systems of treatment of water of the dam, guiding primarily the removal of thermotolerant coliforms. One of the systems was based on coagulation/flocculation with seeds of the Moringa oleifera then filtration slow: tanks coagulation will have a 1,6m³ and will need 32g of the seed of moringa in the processof removing the sludge every time you carry it, the filter to slow it is fed in batches for 10 hours, but their time of operation will be 24 hours; and the other system in 2 ponds of maturation: where the flow is equalized in the equalization tank and sent to the lagoon steadily throughout the day, the effluent will be retained by 8.5 days in each pond. Both systems are effective at removing thermotolerant coliforms; the first takes up less area, however with operation face-to-face and uphill, while the second requires area 16 times larger than the first, but stands out in the category of operation (you only need the pump regularizadora flow is working) and maintenance (removal of sludge is carried out after several years). Regardless of the system adopted is necessary to monitor the quality of water resulting from the treatment system, it is interesting to perform the test and pilot scale. And for a possible practical application seek resources in public agencies. keywords: vegetables, water resource, thermotolerant coliforms. IX LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1: Classificação das águas doce. .................................................................................... 7 Quadro 2: Classificação das águas salinas. ................................................................................ 8 Quadro 3: Classificação das águas salobras. .............................................................................. 8 Quadro 4: Padrões de qualidade - águas doces classe 1. ............................................................ 9 Quadro 5: Padrões de qualidade - águas doces classe 2. .......................................................... 10 Quadro 6: Padrões de qualidade - águas doces classe 3. .......................................................... 11 Quadro 7: Padrões de qualidade - águas doces classe 4. .......................................................... 11 Quadro 8: Padrões de qualidade - águas salinas classe 1 ......................................................... 12 Quadro 9: Padrões de qualidade - águas salinas classe 2. ........................................................ 13 Quadro 10: Padrões de qualidade - águas salinas classe 3. ...................................................... 13 Quadro 11: Padrões de qualidade - águas salobras classe 1. .................................................... 14 Quadro 12: Padrões de qualidade - águas salobras classe 2. .................................................... 15 Quadro 13: Padrões de qualidade - águas salobras classe 3. .................................................... 15 Quadro 14: Características do sistema CM+FL ....................................................................... 31 Quadro 15: Características do sistema de lagoas de maturação ............................................... 33 Tabela 1: Consumo de água por culturas.................................................................................. 16 Tabela 2: Demanda de macronutrientes em hortaliças. ............................................................ 17 Tabela 3: Parâmetros analisados (dez/2015 - nov/2016) comparados com o exigido pelo CONAMA.. .............................................................................................................................. 24 X LISTA DE FIGURAS Figura 1: Moringa oleifera ....................................................................................................... 19 Figura 2: Localização do Açude Marcela em Itabaiana/SE. .................................................... 21 Figura 3: Visita à área de estudo. ............................................................................................. 22 Figura 4: Plantação de coentro. ................................................................................................ 22 Figura 5: Plantação de alface. ................................................................................................... 22 Figura 6: Canal de lançamento de esgoto. ................................................................................ 23 Figura 7: Ponto de lançamento do esgoto. ................................................................................ 23 Figura 8: Esquema CM+FL. ..................................................................................................... 25 Figura 9: Esquema lagoa de maturação .................................................................................... 27 Figura 10: Cortes tanque de coagulação e filtro lento. ............................................................. 32 Figura 11: Layout sistema CM+FL. ......................................................................................... 32 Figura 12: Cortes tanque de equalização e lagoa de maturação. .............................................. 34 Figura 13: Layout sistema lagoas de estabilização. .................................................................. 34 XI SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 2 2.1. Objetivo Principal ...................................................................................................................... 2 2.2. Objetivos específicos ................................................................................................................. 2 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 2 3.1. Parâmetros de Qualidade da Água ........................................................................................... 2 3.2. Resolução CONAMA 357/2005 .............................................................................................. 5 3.2.1. Classificação dos corpos de água ............................................................................................ 6 3.2.2. Padrões de qualidade da água .................................................................................................. 8 3.3. Cultivo de hortaliças ................................................................................................................... 16 3.3.1. Demanda hídrica ...................................................................................................................... 16 3.3.2. Demanda de macronutrientes ................................................................................................. 17 3.4. Possíveis Sistemas de Tratamento de Água e/ou Efluentes para Fins Agrícolas ............... 17 3.4.1. Filtração lenta ........................................................................................................................... 17 3.4.2. Coagulação e floculação com semente da Moringa oleifera ............................................. 18 3.4.3. Lagoas de maturação ............................................................................................................... 20 4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 21 4.1. Área de estudo .......................................................................................................................... 21 4.1.1. Aspectos gerais ......................................................................................................................... 21 4.1.2. Qualidade da água .................................................................................................................... 24 4.2. Propostas de sistemas de tratamento ......................................................................................24 4.2.1. Coagulação com semente da moringa seguido de filtração lenta ...................................... 24 4.2.2. Tratamento com lagoas de maturação ................................................................................... 27 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 29 5.1. Dimensionamento do sistema CM + FL ............................................................................... 30 5.2. Dimensionamento das lagoas de maturação ......................................................................... 32 6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 35 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 36 1 1. INTRODUÇÃO A água é um recurso abundante na terra. Estima-se que o planeta tem 70% da sua superfície coberta por água, principalmente no estado líquido. Sempre se considerou a água um recurso inesgotável, tendo em vista que seu ciclo hidrológico garante a renovação dos recursos hídricos. Entretanto, considerando seu uso, a água é um recurso finito e que pode vir a faltar um dia. Estima-se que de toda água existe no planeta apenas 0,5% representa água doce explorável, tecnológica e financeiramente viável. Estas águas são extraídas, principalmente, de rios, lagos e aquíferos. Quando se subtrai a parcela de água doce que se encontra em locais de acesso dificultado e a parcela de água doce muito poluída, resta para a utilização direta, apenas, 0,003% do volume total de água disponível no planeta (BRAGA et al., 2005). O Brasil é um país privilegiado em termos de recursos hídricos. Estima-se que passa pelo Brasil cerca de 260.000 m³/s de água. Desses, 205.000 m³/s pertencem a bacia hidrográfica do rio Amazonas, restando somente 55.000 m³/s para as demais bacias existentes no país. Isso demonstra a má distribuição dos nossos recursos hídricos. O nordeste brasileiro é quem mais sofre com a escassez de água. Fatores como baixos índices pluviométricos, elevadas temperaturas, forte insolação e altas taxas de evapotranspiração contribuem para o agravamento da situação (ANA, 2016). Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2016), a seca que atingiu o semiárido nordestino em 2014 apresentou um período de retorno superior a 100 anos. O estado de Sergipe não ficou de fora desse panorama, 15 % dos municípios decretaram Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública por causa da seca. A diminuição da disponibilidade de recursos hídricos traz grandes prejuízos para região, seja no âmbito da saúde pública, da geração de energia, da produção industrial, da pecuária ou da agricultura. Este último é de extrema importância para o nosso país, que tem a economia baseada em commodities, o que torna a produção agrícola muito sensível à disponibilidade de água. A irrigação brasileira demandou, em 2015, 55% da vazão retirada de forma consuntiva (ANA, 2016). É uma atividade que solicita recursos hídricos expressivos. Diante desse exposto, todo esforço para aumentar a disponibilidade de água é bem-vindo, seja na economia e uso consciente dos recursos hídricos, na preservação dos mananciais, no armazenamento de água: poços, cisternas, reservatórios, na reutilização de água, e/ou na despoluição dos corpos hídricos. Muitas vezes o que compromete a irrigação não é a ausência de água disponível e sim sua qualidade. A atividade antrópica tem se revelado o maior inimigo da preservação dos recursos 2 hídricos. Pensar em uma forma de utilizar esses recursos é um passo para uma gestão hídrica consciente, alinhados a esse é necessário tratar e não poluir mais os mananciais. É com base nessa vertente que esse trabalho consiste em formular sistema de tratamento de água que possibilite a utilização da água de um reservatório, possivelmente poluído por esgoto doméstico, destinados para fins de irrigação em escala individual ou de cooperativas. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Principal Propor alternativas de tratamentos da água do Açude Marcela localizado em Itabaiana- SE, para irrigação de hortaliças em propriedades circunvizinhas em caráter individual ou cooperativo. 2.2. Objetivos específicos Verificar a legislação vigente sobre a característica de qualidade da água para fins de irrigação; Buscar dados de qualidade da água do açude; Propor alternativa para tratamento da água; Dimensionar o sistema de tratamento proposto. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Parâmetros de Qualidade da Água A água é considerada solvente universal de muitas substâncias, por conta disso, nunca é encontrada em um estado de pureza absoluta. Tem a capacidade de dissolver e transportar inúmeras substâncias, seja de forma dissolvida ou suspensa. Caracterizar a água de acordo com as substâncias existentes, estabelecendo indicadores, é de fundamental importância para definir onde poderá ser usado este recurso, bem como, para nortear a concepção de projetos que integram a gestão de recursos hídricos (COSTA, 2010). Primeiramente, de uma forma geral, serão classificados alguns componentes encontrados na água - que funcionam como parâmetros indicadores dá qualidade da água, de acordo com sua natureza. Estes, se dividem em três grandes grupos, a saber: indicadores físicos, químicos e biológicos (BRAGA et al., 2005). 3 Considerando a diversidade de indicadores para ser analisados na determinação da qualidade da água, abordam-se aqueles considerados mais importantes pela ANA. A citar: temperatura, pH, oxigênio dissolvido (OD), sólidos, nitrogênio total, fosforo total, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), coliformes termotolerantes, turbidez e condutividade elétrica (VIEIRA, 2017). Temperatura: É um parâmetro muito importante, tendo em vista que influencia no comportamento de outros parâmetros, tais como: pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, etc. A temperatura interfere na maioria dos processos físicos, químicos e biológicos. É normalmente medida em campo e tem responsabilidade na manutenção da vida aquática e na normalidade das reações e processos que ocorrem no ambiente aquático (VIEIRA, 2017). Potencial Hidrogeniônico (pH): Determina a concentração de íons de hidrogênio [H+] na água, afeta o metabolismo de várias espécies aquáticas. Os efeitos de substâncias químicas tóxicas para a fauna aquática podem ser intensificados quando ocorre alterações no pH da água (ANA, 2017). Oxigênio Dissolvido (OD): O oxigênio dissolvido na água é imprescindível para a manutenção da vida aquática, advém nos recursos hídricos de duas maneiras: através da fotossíntese dos organismos aquáticos fotossintetizantes ou através da transferência, por processo de difusão, do oxigênio existente na atmosfera. O oxigênio dissolvido na água varia com a alteração de outros parâmetros dela, como por exemplo: temperatura ou salinidade. O aumento da temperatura ou de sais dissolvidos na água acarretam diminuição da concentração de oxigênio dissolvido. A presença significativa carga orgânica no ambiente aquático intensifica a atividade biológica provocando diminuição da concentração de OD (VIEIRA, 2017). Nitrogênio Total: O nitrogênio se apresenta nos corpos d’água de diversas formas, a citar: nitrogênio orgânico, amoniacal, nitritos e nitratos (ANA, 2017). As bactérias nitrificantes utilizam a matéria orgânica vegetal ou animal para produzirem nitratos (VIEIRA, 2017), além disso também ocorre a fixação do nitrogênio atmosférico por algumas algas (ANA, 2017). Os compostos de nitrogênio são nutrientesnos processos biológicos, porém, sua presença em grandes quantidades nos corpos d’água acarretam um crescimento excessivo de algas, 4 fenômeno denominado como eutrofização. A eutrofização dos corpos d’águas tem uma forte ligação com as atividades antrópicas. O despejo de efluentes sem tratamento e o uso excessivo de fertilizantes nas áreas que tem sua drenagem, desaguando nos corpos d’águas aumentam a presença de nutriente provocando a eutrofização do rio ou lago (ANA, 2017). Fósforo Total: Tal como nitrogênio, o fósforo é um nutriente importante nos processos biológicos. Está presente nos esgotos domésticos (pela presença da matéria fecal e dos detergentes superfosfatados) ou em fertilizantes arrastados pela drenagem para os corpos hídricos. A presença excessiva de fósforo na água também provoca eutrofização (ANA, 2017). Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): As bactérias presentes na água são responsáveis por decompor a matéria orgânica presentes no corpo hídrico. Para isso, consomem o oxigênio dissolvido na água. A DBO é uma medida indireta da quantidade de matéria orgânica presente no corpo d’água, representa a quantidade de oxigênio consumido no processo de oxidação biológica da matéria orgânica (VIEIRA, 2017). Este parâmetro é determinado a partir da quantidade de oxigênio consumido na degradação da matéria orgânica, durante 5 dias à temperatura de 20°C. O lançamento de cargas orgânicas, como as de esgotos domésticos, nos corpos d’águas provocam aumento dos valores de DBO. Isso acarreta na diminuição do oxigênio dissolvido trazendo impactos ambientais como eliminação de organismos aquáticos e até mortandade de peixes (ANA, 2017). Coliformes Termotolerantes: Representa os mais diversos organismos que residem no intestino dos animais de sangue quente. Este parâmetro indica, principalmente, a possibilidade de contaminação do corpo d’água por excretas humanos advindos do despejo de esgoto doméstico ou da drenagem superficial (VIEIRA, 2017). Não deve existir, na água para consumo humano, micro-organismos patogênicos. Os mais diversos usos da água exigem que ela esteja isenta de contaminação fecal. Para indicar a contaminação fecal é feita a análise da presença de bactérias de referência, como as do grupo coliforme (BRASIL, 2013). 5 Turbidez: Turbidez é a medida de dispersão dos raios luminosos que passam através da água, conferindo a mesma uma aparência turva. A turbidez da agua advém dos sólidos em suspenção; seja esses sólidos de origem natural: partículas de rocha, silte, argila, algas e outros micro- organismos; seja de origem antrópica: despejos de esgotos domésticos ou industriais, erosão, etc. A turbidez não traz inconvenientes sanitários diretos, porém, pode reduzir a penetração da luz, prejudicando os organismos que realizam fotossíntese. Valores elevados deste parâmetro também podem reduzir a eficiência do processo de desinfecção no tratamento da água (VON SPERLING, 1996). Condutividade Elétrica: A condutividade elétrica da água está diretamente ligada a concentração de sais dissolvidos nela. Este parâmetro permite determinar rapidamente a quantidade de sólidos totais dissolvidos (STD) presentes na água (PÁDUA e FERREIRA, 2010). 3.2. Resolução CONAMA 357/2005 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em sua Resolução Nº 357 de 17 de março de 2005 (CONAMA, 2005) dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. No Capítulo I da referida resolução, encontram-se algumas definições para o melhor entendimento da mesma, destacamos algumas: I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 ‰; II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰; III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30 ‰; IV - ambiente lêntico: ambiente que se refere à água parada, com movimento lento ou estagnado; [...] V - ambiente lótico: ambiente relativo a águas continentais moventes; [...] VIII - cianobactérias: microorganismos procarióticos autotróficos, também denominados como cianofíceas (algas azuis) capazes de ocorrer em qualquer manancial superficial especialmente naqueles com elevados níveis de nutrientes (nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas com efeitos adversos a saúde; IX - classe de qualidade: conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros; X - classificação: qualificação das águas doces, salobras e salinas em função dos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade) atuais e futuros; XI - coliformes termotolerantes: bactérias gram-negativas, em forma de bacilos, oxidase-negativas, caracterizadas pela atividade da enzima β-galactosidase. Podem crescer em meios contendo agentes tenso-ativos e fermentar a lactose nas temperaturas de 44º - 45ºC, com produção de ácido, gás e aldeído. Além de estarem 6 presentes em fezes humanas e de animais homeotérmicos, ocorrem em solos, plantas ou outras matrizes ambientais que não tenham sido contaminados por material fecal; [...] XVI - desinfecção: remoção ou inativação de organismos potencialmente patogênicos; [...] XX - enquadramento: estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo; XXI - ensaios ecotoxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos a diversos organismos aquáticos; XXII - ensaios toxicológicos: ensaios realizados para determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos a diversos organismos visando avaliar o potencial de risco à saúde humana; XXIII - escherichia coli (E.Coli): bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae caracterizada pela atividade da enzima β-glicuronidase. Produz indol a partir do aminoácido triptofano. É a única espécie do grupo dos coliformes termotolerantes cujo habitat exclusivo é o intestino humano e de animais homeotérmicos, onde ocorre em densidades elevadas; [...] XXVI - padrão: valor limite adotado como requisito normativo de um parâmetro de qualidade de água ou efluente; XXVII - parâmetro de qualidade da água: substancias ou outros indicadores representativos da qualidade da água; [...] XXXII - tratamento avançado: técnicas de remoção e/ou inativação de constituintes refratários aos processos convencionais de tratamento, os quais podem conferir à água características, tais como: cor, odor, sabor, atividade tóxica ou patogênica; XXXIII - tratamento convencional: clarificação com utilização de coagulação e floculação, seguida de desinfecção e correção de pH; XXXIV - tratamento simplificado: clarificação por meio de filtração e desinfecção e correção de pH quando necessário; 3.2.1. Classificação dos corpos de água As águas doces, salobras e salinas são classificadas, segundo a qualidade necessária para os seus usos preponderantes. As águas que apresentam uma melhor qualidade podem ser aproveitadas em usos menos exigentes, desde que não diminua a qualidade da água, entendidos outros requisitos pertinentes (CONAMA, 2005). Os quadros 1, 2 e 3 trazem a classificação das águas doces, salinas e salobras, respectivamente, conforme sua destinação (CONAMA, 2005): 7 Quadro 1: Classificação das águas doce. Águas doces Classificação Destinação Classe especial Abastecimento humano para consumo, com desinfecção; Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; Preservaçãodos meios aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. Classe 1 Abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; Proteção das comunidades aquáticas; Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho1; Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película Proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. Classe 2 Abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; Proteção de comunidades aquáticas; Recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho1; Irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; Aquicultura e à atividade de pesca. Classe 3 Abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; Irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; Recreação de contato secundário; Dessedentação de animais. Classe 4 Navegação; Harmonia paisagística. Fonte: CONAMA (2005). 1 Conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000. 8 Quadro 2: Classificação das águas salinas. Águas salinas Classificação Destinação Classe especial Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. Classe 1 Recreação de contato primário1; Proteção das comunidades aquáticas; Aquicultura e à atividade de pesca. Classe 2 Pesca amadora; Recreação de contato secundário. Classe 3 Navegação; Harmonia paisagística. Fonte: CONAMA (2005). Quadro 3: Classificação das águas salobras. Águas salobras Classificação Destinação Classe especial Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. Classe 1 Recreação de contato primário1; Proteção das comunidades aquáticas; Aquicultura e à atividade de pesca; Abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado; Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvem rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película, e à irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com as quais o público possa vir a ter contato direto Classe 2 Pesca amadora; Recreação de contato secundário. Classe 3 Navegação; Harmonia paisagística. Fonte: CONAMA (2005). 3.2.2. Padrões de qualidade da água A Resolução CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005) estabelece os padrões de qualidade das águas, estipulando limites individuas para cada substância em cada classe. Por haver quantidade considerável de parâmetros, muitos deles, na prática, não são determinados nas análises das águas. 9 a) Águas doces Os padrões de qualidade da água doce estão apresentados, conforme sua classe, nos Quadros de 4 a 7 com a descrição da condição de qualidade da água, bem como, os limites padrões dos principais parâmetros com suas respectivas unidades de medida: Águas doces classe 1: Quadro 4: Padrões de qualidade - águas doces classe 1. Água doce - Classe 1 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que comuniquem gosto ou odor Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes Recreação de contato primário: Obedecer aos padrões de balneabilidade1. Demais usos: ≤ 200 coliformes/100ml2. DBO ≤ 3 mg/L 𝑂2 OD ≥ 6 mg/L 𝑂2 Turbidez ≤ 40 UNT Cor verdadeira Nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L pH 6,0 a 9,0 Clorofila a ≤ 10 μg/L Sólidos dissolvidos totais ≤ 500 mg/L Fosforo total (ambiente lêntico) ≤ 0,020 mg/L Nitrato ≤ 10,0 mg/L N Nitrito ≤ 1,0 mg/L N Nitrogênio amoniacal total 3,7mg/L N, para pH ≤ 7,5 2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0 1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5 0,5 mg/L N, para pH > 8,5 Fonte: CONAMA (2005). 2 Em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. 10 Águas doces classe 2: Quadro 5: Padrões de qualidade - águas doces classe 2. Água doce - Classe 2 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que comuniquem gosto ou odor Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Devem ser passivos de remoção por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais. Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes Recreação de contato primário: Obedecer aos padrões de balneabilidade1. Demais usos: ≤ 1000 coliformes/100ml2. DBO ≤ 5 mg/L 𝑂2 OD ≥ 6 mg/L 𝑂2 Turbidez ≤ 100 UNT Cor verdadeira 75 mg Pt/L pH 6,0 a 9,0 Clorofila a ≤ 30 μg/L Sólidos dissolvidos totais ≤ 500 mg/L Fosforo total (ambiente lêntico) ≤ 0,030 mg/L Nitrato ≤ 10,0 mg/L N Nitrito ≤ 1,0 mg/L N Nitrogênio amoniacal total 3,7mg/L N, para pH ≤ 7,5 2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0 1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5 0,5 mg/L N, para pH > 8,5 Fonte: CONAMA (2005). 11 Águas doces classe 3: Quadro 6: Padrões de qualidade - águas doces classe 3. Água doce - Classe 3 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico agudo a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que comuniquem gosto ou odor Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Devem ser passivos de remoção por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais. Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes Recreação de contato secundário: ≤ 2500 coliformes/100ml2. Dessedentação de animais confinados: ≤ 1000 coliformes/100ml2. Demais usos: ≤ 4000 coliformes/100ml2. DBO ≤ 10 mg/L 𝑂2 OD ≥ 4 mg/L 𝑂2 Turbidez ≤ 100 UNT Cor verdadeira 75 mg Pt/L pH 6,0 a 9,0 Clorofila a ≤ 60 μg/L Sólidos dissolvidos totais ≤ 500 mg/L Fosforo total (ambiente lêntico) ≤ 0,050 mg/L Nitrato ≤ 10,0 mg/L N Nitrito ≤ 1,0 mg/L N Nitrogênio amoniacal total 13,3 mg/L N, para pH ≤ 7,5 5,6 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0 2,2 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5 1,0 mg/L N, para pH > 8,5 Fonte: CONAMA (2005). Águas doces classe 4: Quadro 7: Padrões de qualidade - águas doces classe 4. Água doce - Classe 4 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Materiais flutuantes, inclusiveespumas não naturais Virtualmente ausentes Óleos e graxas Toleram-se iridescências Odor e aspecto Não objetiváveis Substâncias facilmente sedimentáveis que contribuem para assoreamento de canais de navegação Virtualmente ausentes OD ≥ 2 mg/L 𝑂2 pH 6,0 a 9,0 Fonte: CONAMA (2005). 12 b) Águas salinas Condições de qualidade das águas salinas conforme suas classes: Águas salinas classe 1: Quadro 8: Padrões de qualidade - águas salinas classe 1 Água salina - Classe 1 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que produzem odor e turbidez Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes Recreação de contato primário: Obedecer aos padrões de balneabilidade1. Cultivos de moluscos bivalves destinados a alimentação humana: ≤ 43 coliformes/100ml3; Demais usos: ≤ 1000 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 3 mg/L como C OD ≥ 6 mg/L 𝑂2 pH 6,5 a 8,5 Fosforo total ≤ 0,062 mg/L Nitrato ≤ 0,40 mg/L N Nitrito ≤ 0,07 mg/L N Nitrogênio amoniacal total ≤ 0,40 mg/L N Fonte: CONAMA (2005). 3 Referente a média geométrica da densidade de coliformes termotolerantes, de um mínimo de 15 amostras coletadas no mesmo local, e o percentil 90% não deverá ultrapassar 88 coliformes termotolerantes por 100 mililitros. 13 Águas salinas classe 2: Quadro 9: Padrões de qualidade - águas salinas classe 2. Água salina - Classe 2 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico agudo a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que produzem odor e turbidez Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes ≤ 2500 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 5,00 mg/L como C pH 6,5 a 8,5 OD ≥ 5,0 mg/L 𝑂2 Fosforo total ≤ 0,093 mg/L Nitrato ≤ 0,70 mg/L N Nitrito ≤ 0,20 mg/L N Nitrogênio amoniacal total ≤ 0,70 mg/L N Fonte: CONAMA (2005). Águas salinas classe 3: Quadro 10: Padrões de qualidade - águas salinas classe 3. Água salina - Classe 3 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que produzem odor e turbidez Virtualmente ausentes Corantes provenientes de fontes antrópicas Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes ≤ 4000 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 10 mg/L como C pH 6,5 a 8,5 ± 0,2 OD ≥ 4 mg/L 𝑂2 Fonte: CONAMA (2005). 14 c) Águas salobras Esta resolução estabelece, também, os padrões de qualidades para águas consideradas salobras, segundo as suas classes: Águas salobras classe 1: Quadro 11: Padrões de qualidade - águas salobras classe 1. Água salobra - Classe 1 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que produzem cor, odor e turbidez Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes Recreação de contato primário: Obedecer aos padrões de balneabilidade1. Cultivos de moluscos bivalves destinados a alimentação humana: ≤ 43 coliformes/100ml3; Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvem rente ao solo e que seja ingerida cruas sem remoção de películas, bem como para irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto: ≤ 200 coliformes/100ml. Demais usos: ≤ 1000 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 3 mg/L, como C OD ≥ 5 mg/L 𝑂2 pH 6,5 a 9,5 Fosforo total ≤ 0,124 mg/L Nitrato ≤ 0,40 mg/L N Nitrito ≤ 0,07 mg/L N Nitrogênio amoniacal total ≤ 0,40 mg/L N Fonte: CONAMA (2005). 15 Águas salobras classe 2: Quadro 12: Padrões de qualidade - águas salobras classe 2. Água salobra - Classe 2 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Efeito tóxico Não verificação de efeito tóxico agudo a organismos de acordo com critérios estabelecidos polo órgão ambiental competente. Materiais flutuantes Virtualmente ausentes Óleos e graxas Virtualmente ausentes Substâncias que produzem cor, odor e turbidez Virtualmente ausentes Resíduos sólidos objetiváveis Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes ≤ 2500 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 5,00 mg/L, como C OD ≥ 4 mg/L 𝑂2 pH 6,5 a 9,5 Fosforo total ≤ 0,186 mg/L Nitrato ≤ 0,70 mg/L N Nitrito ≤ 0,20 mg/L N Nitrogênio amoniacal total ≤ 0,70 mg/L N Fonte: CONAMA (2005). Águas salobras classe 3: Quadro 13: Padrões de qualidade - águas salobras classe 3. Água salobra - Classe 3 Condição/Parâmetro Condição/Valores limites Materiais flutuantes Virtualmente ausentes Óleos e graxas Toleram-se iridescências Substâncias que produzem cor, odor e turbidez Virtualmente ausentes Substâncias facilmente sedimentáveis que contribuem para assoreamento de canais de navegação Virtualmente ausentes Coliformes termotolerantes ≤ 4000 coliformes/100ml2. Carbono orgânico total ≤ 10,0 mg/L, como C OD ≥ 3 mg/L 𝑂2 pH 5 a 9 Fonte: CONAMA (2005). 16 3.3. Cultivo de hortaliças 3.3.1. Demanda hídrica As águas utilizadas na irrigação normalmente são de origem superficial, subterrânea ou residuárias. As águas superficiais são as mais utilizadas na agricultura e são retiradas, principalmente, de rios e lagos. Estas águas podem possuir características qualitativas de origem naturais ou resultado de contaminação. As águas subterrâneas são aquelas extraídas de aquíferos por meio de poços e são resultantes da infiltração da água no solo, confinadas nos espaços vazio intrínseco das rochas (ALMEIDA, 2010). Além dos recursos hídricos citados acima, destaca-se o uso de águas residuárias para fins agrícolas. Segundo Almeida (2010), as águas residuárias são todas as águas descartadas após seu uso, seja doméstico, industrial ou urbano. Estas águas levam consigo quantidade considerável de poluentes que devem ser retirados antes que chegue ao corpo receptor para que não lhe cause danos ambientais. A utilização de águas residuárias é considerada boa alternativa para se contornar o problema de escassez de recurso hídricos, desde que essas águas, antes da aplicação na irrigação, estejam de acordo com os critérios qualitativos estabelecido pela legislação vigente para seu determinado uso. O desenvolvimento de cultura de hortaliças se baseia na transformação do vegetal, mediante a presença de água. É inerente a germinação, respiração, crescimento, desenvolvimento do caule, folhas e frutos. As hortaliças deum modo geral apresentam mais de 90% do seu peso fresco em água, contudo possuem uma baixa capacidade de extração de água no solo, fato este, que as tornam sensíveis a pequenos períodos de estiagem. Os valores de consumo de água total variam de acordo com o tipo e estágio de desenvolvimento da cultura, com o clima, com o tipo, coloração e cobertura do solo (LUCIETE, 2013). A Tabela 1 relaciona a demanda hídrica para alguns tipos de culturas, expressando valores médio de consumo de água (PENTEADO, 2010): Tabela 1: Consumo de água por culturas. Cultura Lâmina (mm/mês) Volume (m³/há.dia) Alface 240 80 Brócolis 240 80 Cebola 240 80 Hortaliças 240 80 Pepino 240 80 Tomate 240 80 Fonte: Penteado (2010). 17 3.3.2. Demanda de macronutrientes A adubação é importante para fornecer às plantas os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. A quantidade de nutrientes a ser aplicada é estimada considerando diversos fatores: tipo da cultura, a fertilidade do solo, o teor de matéria orgânica, a época do cultivo e o estado sanitário. Para a determinação desses fatores são feitas análises filiar (análise das necessidades nutricionais da planta) e do solo (PENTEADO, 2010). Os elementos minerais utilizados pelas plantas em seu desenvolvimento são divididos em dois grupos por aspectos puramente quantitativos. Os macronutrientes são nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). E os micronutrientes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco (Zn) (FAQUIN e ANDRADE, 2004). Existem estudos que se estipulam valores médios dos macronutrientes: nitrogênio, fósforo (na forma de fosfato) e potássio (na forma de óxido de potássio), demandados por alguns tipos de hortaliças durante o seu ciclo completo (TRANI et al., 2014). As informações foram tabeladas (Tabela 2): Tabela 2: Demanda de macronutrientes em hortaliças. Demanda de macronutrientes (kg/ha) Cultura N P K Alface 60 a 100 15 a 30 30 a 50 Almeirão 40 a 80 10 a 20 20 a 40 Chicória 40 a 80 10 a 20 20 a 40 Coentro 40 a 80 10 a 20 20 a 40 Espinafre 40 a 80 10 a 20 20 a 40 Rúcla 80 a 140 15 a 30 30 a 50 Fonte: Trani, Purquério, et al (2014) - adaptado. 3.4. Possíveis Sistemas de Tratamento de Água e/ou Efluentes para Fins Agrícolas 3.4.1. Filtração lenta A filtração lenta é um processo que tem como função principal a remoção de partículas responsáveis pela cor e turbidez da água. A presença destas reduzem a eficiência do processo de desinfecção (LIBÂNIO, 2010). Os filtros, tradicionalmente, são classificados em filtros lentos e filtros rápidos a depender da taxa de filtração com que trabalham e pelo método de limpeza. As taxas em que operam os filtros rápidos são 40 vezes maiores do que as taxas dos filtros lentos; a limpeza dos filtros rápidos dura apenas alguns minutos enquanto os filtros lentos demandam um tempo maior para serem limpos, mas a frequência de limpeza nos filtros lentos é menor do que a dos filtros rápidos (RICHTER, 2009). 18 A filtração ocorre por meio de processo físico-químico ou biológico, como é o caso de filtros lentos, que serve para a separação de impurezas em suspensão na água através da passagem por um meio poroso. Este meio poroso pode ser constituído de diversos materiais, a areia é o mais comum, seguida de antracito, areia de granada, carvão ativado granular, etc (RICHTER, 2009). Segundo Di Bernardo e Dantas (2005), a água é purificada nos filtros por meio de dois mecanismos: transporte e aderência. Estes mecanismos dependem das características do filtro, a citar: dimensões das camadas filtrantes, tamanho efetivo, coeficiente de uniformidade, densidade, esfericidade e porosidade dos materiais filtrantes. Os filtros lentos, desenvolvidos na Inglaterra no início do século XIX, são normalmente empregados na purificação de águas de baixa cor verdadeira, turbidez e concentração de algas, operando com taxas de 2 a 6 m³/m.dia quase sempre em etapa única, ou em alguns casos, precedidos por unidade de pré-filtração (LIBÂNIO, 2010). A filtração lenta realiza a purificação da água por processo biológico, através de uma camada superficial denominada scmutzdecke. Essa camada funciona como manta biológica que remove turbidez, cor, e quantidade considerável de bactérias patogênicas (RICHTER, 2009). A boa eficiência dos filtros lentos na remoção de coliformes é bastante relatada na literatura, Murtha e Heller (2003) observaram uma eficiência de 99% a 99,9% na remoção de coliformes termotolerantes. Alguns autores recomendam, para a utilização dos filtros lentos, que a concentração de coliformes termotolerantes na água seja menores que: 2000 NMP/100ml (RICHTER, 2009), 1000 NMP/100ml, indicado por Macedo (2004) apud Tomaz (2010). Apesar disso, existem trabalhos como o de Brito et al. ( 2005) que analisaram a eficiência na remoção de coliformes totais com concentração de 100000 a 1000000 NMP/100ml e E. coli com 1000 a 10000 NMP/100ml, onde se obteve uma eficiência de remoção acima de 90% para ambos. 3.4.2. Coagulação e floculação com semente da Moringa oleifera O processo de coagulação consiste em atrair as partículas de carga superficiais negativas, oriundas das impurezas presentes na água, por meio de um agente coagulante, geralmente sais de alumínio e ferro. A aglomeração dessas partículas forma partículas maiores, denominadas flocos, fenômeno este definido como floculação (DI BERNARDO e DANTAS, 2005). Apesar do uso de coagulantes químicos ser mais difundido no mundo, existe a possibilidade de usar coagulantes de origem natural, como é o caso da semente da Moringa oleifera. Esta planta é nativa da Índia, sua altura varia de 5 a 12 m, possui uma copa aberta em 19 forma de sombrinha, tronco ereto com casca esbranquiçada, esponjosa (RANGEL, 1999). Na Figura 1, observa-se uma espécie adulta da moringa. Figura 1: Moringa oleífera. Fonte: O autor. Para o uso no tratamento de água as sementes da moringa devem ser mantidas na árvore até que fiquem secas para depois serem coletadas. As sementes devem ser bem trituradas, depois adiciona-se pequena quantidade de água até que se consiga consistência pastosa. Coloca- se, então essa pasta numa garrafa vazia, adiciona-se 200 ml de água limpa, e agita por cerca de 5 minutos para ativar as substâncias químicas existente na semente. Depois disso adiciona-se a solução à água que se deseja tratar misturando rapidamente por 2 minutos e depois vagarosamente por 10 a 15 minutos. Dessa forma, a semente da moringa coagula as impurezas na água, fazendo-as sedimentar no fundo do recipiente levando consigo quantidade considerável de bactérias patogênicas; depois de 1 hora a água tratada pode ser removida (FOLKARD, SUTHERLAND e AL-KHALILI, 1966 apud RANGEL, 1999). Além dos seus resultados reconhecidos na redução de turbidez e cor da água, a Moringa oleifera atua muito bem na remoção de bactérias patogênicas, especialmente, coliformes 20 termotolerantes. Nunes et al. (2014) obtiveram uma eficiência de remoção de coliformes termotolerantes em torno de 42% para o tempo de sedimentação de 2 horas, utilizando concentração de 0,04 g/L da semente da moringa. Já Monaco et al. (2010) encontraram, para esta mesma concentração, remoção de 95,6% de coliformes termotolerantes; este resultado está mais alinhado com os valores de remoção de 90% a 99% obtidos por Madsen, Sxlundt e El Fadil (1987) apud Rangel (1999). 3.4.3. Lagoas de maturação As lagoas de estabilização tratam o afluente pelo mecanismo de sedimentação prolongada. É um dos processos mais econômicos e eficazes no tratamento de esgotosindicados para países com clima tropical. Tem como principal vantagem a maior eficiência na remoção de micro-organismos patogênicos dentre todos os processos. A remoção de matéria orgânica é feita por meio de processos biológicos aeróbios e anaeróbios. As lagoas podem ser classificadas como anaeróbias, facultativas e aeróbias (ou maturação), a depender da predominância de um ou outro processo biológico (MENDONÇA, 1990). As lagoas de maturação são empregadas principalmente, para a remoção de micro- organismos patogênicos. Nessas lagoas, a elevada transparência favorece a penetração da luz em toda camada, aumentando o processo de fotossíntese das águas e assim, elevando o oxigênio dissolvido e o pH da água. A ação combinada desses fatores com alguns outros que serão citados posteriormente, podem provocar expressivas taxas de decaimento de microrganismos patogênicos (MENDONÇA, 1990). A remoção de patógenos depende, também, do tempo de retenção do efluente na lagoa. Tempos curtos impedem a proliferação de algas, inibindo a geração do ecossistema alga- bactéria. Assim como, tempos elevados induzem o crescimento exagerado de algas, causando o desequilíbrio da interrelação algas-bactérias, fazendo o ambiente operar sob condições anaeróbicas e com baixa remoção de patógenos (MENDONÇA, 1990). Nas lagoas de maturação, as bactérias e vírus presentes no afluente são removidos por fatores como: temperatura, pH, escassez de alimento, organismos predadores, competição e compostos tóxicos. Enquanto os cistos de protozoários e ovos de helmintos são removidos por sedimentação. O dimensionamento da lagoa é feito de forma a otimizar a remoção de coliformes. Esse processo se torna mais efetivo para menores profundidades. Pode-se conseguir, nas lagoas de maturação, uma eficiência de remoção de coliformes termotolerantes 21 de 99,9% a 99,99%. Aplicando-se, em muitos casos, um sistema de lagoas em série para aumentar sua eficiência (SPERLING, 2002). 4. METODOLOGIA 4.1. Área de estudo 4.1.1. Aspectos gerais Localizado no município de Itabaiana-SE, o Açude Marcela foi construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) em 1957, possui capacidade de 2.710.000m³ sendo 463.000m³ de volume morto. Sua cota de sangradouro é de 100,00m e sua tomada d’água dá-se na cota de 94,00m, apresenta uma área superficial de 97ha. Sua bacia hidrográfica mede 14 km², e faz parte da bacia hidrográfica do Rio Sergipe (DNOCS, 2005). A Figura 2 apresenta uma visão espacial do Açude Marcela; já a Figura 3 traz uma imagem feita na visita da área em estudo. Figura 2: Localização do Açude Marcela em Itabaiana/SE. Fonte: Google Maps 22 Figura 3: Visita à área de estudo. Fonte: O autor. O açude foi criado para contribuir com abastecimento da cidade e para servir de recurso hídrico para o perímetro irrigado da Marcela. Segundo a Prefeitura Municipal de Itabaiana, existia em 2010, cerca de 24 propriedades agrícolas, ocupando a área de 55,5ha no entorno do açude, onde se explora culturas como: quiabo, pepino, coentro, tomate, alface, brócolis, maxixe, salsa, hortelã, pimentão, cebolinha, etc. Esses produtos, especialmente as hortaliças, são comercializados em diversas regiões do estado. Os municípios de Itabaiana, Aracaju, São Domingos, e Lagarto são os principais centros consumidores (ITABAIANA/SE, 2010). As Figuras 4 e 5 apresentam imagens de uma plantação de alface e coentro irrigados como a água do açude, respectivamente. Apesar do açude ser tão importante, tanto para os produtores de hortaliças quanto para a economia da cidade, há anos deixou de ser gerenciado por algum órgão competente. Isso Fonte: O autor. Fonte: O autor. Figura 5: Plantação de alface. Figura 4: Plantação de coentro. 23 permitiu o manejo inadequado de suas águas, construções irregulares em suas margens, instalações industrias na sua proximidade que despejam seus afluentes sem tratamento no açude, o uso exagerado de agrotóxicos pelos agricultores e mais notadamente o despejo de esgoto doméstico de grande parte da cidade sem nenhum tratamento prévio. Essa última problemática é a que mais preocupa as autoridades atualmente. O aporte de efluente no açude é realizado há muitos anos pela cidade em diversos pontos. Nas Figuras 6 e 7 pode-se visualizar alguns pontos de lançamento de esgoto doméstico no açude. Dessa forma, as características das suas águas foram totalmente alteradas inviabilizando seu uso na irrigação de hortaliças. Além disso, já se registrou em diversas ocasiões a mortandade de diversas espécies de peixes, indicador de que as condições ambientais neste reservatório estavam críticas. Figura 6: Canal de lançamento de esgoto. Fonte: O autor. Figura 7: Ponto de lançamento do esgoto. Fonte: O autor. 24 4.1.2. Qualidade da água Os dados dos parâmetros de qualidade da água foram obtidos junto a Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA). Os principias parâmetros analisados foram: temperatura da água, pH, OD, DBO, nitrogênio amoniacal, salinidade, fósforo total e coliformes termotolerantes. As amostragens foram feitas em três pontos distintos: um situado na margem direita (P1), um próximo ao vertedouro da barragem (P2) e o outro na margem esquerda (P3) (ADEMA, 2017). Neste trabalho foram utilizados os dados de análise da água mensais no período de dezembro/2015 a novembro/2016. A Tabela 16 apresenta os valores médios dos parâmetros obtidos para cada ponto que foram coletadas as amostras bem como os valores padrões exigidos pelo CONAMA para águas doce, classe 1. Tabela 3: Parâmetros analisados (dez/2015 - nov/2016) comparados com o exigido pelo CONAMA. Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 CONAMA Temperatura da água ºC 29 29 29 - pH - 6,97 a 8,72 7,05 a 8,18 7,12 a 8,73 6 a 9 OD mg/L 6,69 4,51 5,58 6 DBO mg/L 17,79 19,03 13,78 3 Nitrogênio Amoniacal mg/L 0,03 0,36 0,03 0,5 Salinidade ppmNaCl 340 339 338 500 Fósforo Total mg/L 2,93 2,95 2,87 0,02 Coliforme Termotolerantes UFC/100ml 96575 43250 50883 200 Fonte: ADEMA (2017) - adaptado 4.2. Propostas de sistemas de tratamento Os sistemas de tratamento para a água do açude foram propostos conforme sua eficiência da remoção de coliformes termotolerantes, capazes de atender à demanda hídrica de uma propriedade com um hectare de área. Diante disso, foram sugeridas duas propostas de tratamento. Uma consiste em fazer a coagulação/floculação da água usando a semente da Moringa oleifera como coagulante natural e depois fazer passar a água coagulada por um filtro lento (CM + FL). Para a outra sugestão recorreu-se à uma técnica de tratamento de esgotos que também possui boa eficiência na remoção de coliformes, por meio de lagoas de maturação. 4.2.1. Coagulação com semente da moringa seguido de filtração lenta O sistema é constituído por um reservatório onde ocorrerá a coagulação e floculação com a adição da semente a moringa, seguido de um filtro lento de areia e brita, e por último um reservatório de acumulação da água tratada. O sistema deve funcionar, preferencialmente por gravidade, a depender da topografia da propriedade. Na impossibilidade do escoamento por 25 gravidade, deve-se realizar a transferência do líquido das unidades por meio de bombeamento. A Figura 8 apresenta o esquema desse sistema. Figura 8: Esquema CM+FL. Fonte: O autor Para a coagulação foi proposto, inicialmente, uma concentração de 0,04 g/L da semente da moringa com tempo de sedimentação de uma hora, podendo ser alteradas caso a eficiência do sistema não atenda as expectativas. A fim de facilitar a adição e mistura da semente foi adotadoreservatório cilíndrico, cuja as dimensões altura e diâmetros não deverá exceder 1,50 m. Para garantir que essa condição seja atendida, a capacidade do tanque de coagulação foi dimensionada como uma fração do volume total diário requerido pela propriedade. Dessa forma o filtro será alimentado em batelada, recebendo a água para a filtração em etapas. O lodo gerado no tanque de coagulação deve ser removido do fundo do tanque antes que entre o novo volume de água a ser coagulado. Esse lodo deve ser tratado antes da sua destinação final. Para remoção e acumulação do lodo, deve-se manter uma altura de 5 cm entre o fundo do tanque e o tubo que retira a água coagulada. A drenagem do lodo foi feita por um tubo rente ao fundo do tanque. O tanque também contará com uma borda livre de 5 cm apara absorver as variações dos volumes de entrada no tanque. Dessa forma pode-se calcular o diâmetro do tanque para uma determinada altura útil de lâmina d’água (Equação 1); e sua altura total por meio da Equação 2, onde a adição de 0,1m dá-se devido a borda livre e o fundo para remoção do lodo. 𝐷 = 2√ 𝑉 𝜋ℎ𝑢 (1) 𝐻 = ℎ𝑢 + 0,1 (2) Onde: D = Diâmetro do tanque de coagulação (m); V = Capacidade do tanque de coagulação (m³); 26 hu = Altura útil da lâmina d’água (m); H = Altura total do tanque (m). Para o dimensionamento do filtro lento, consideram-se as seguintes premissas: O sistema contará com 5 tanques de coagulação, o volume total será coagulado em 10 etapas com duração de 1 hora. Logo, o tempo total para coagulação do volume requerido no dia será de 10 horas; O tempo de operação do filtro será de 24 horas; A taxa de filtração adotada é de 2,4 m³/m².dia (0,1 m³/m².hora). A determinação da área do filtro é feita em função da vazão a ser filtrada e da taxa de filtração em que opera o filtro, conforme Equação 3. 𝐴 = 𝑄 𝑡 (3) onde: A = Área do filtro (m²); Q = Vazão (volume diário/tempo de operação do filtro) (m³/h); t = Taxa de filtração adotada (m³/m².hora). Segundo Mcghee (1991) apud Tomaz (2010), para filtros com taxa de filtração entre 0,4 a 1,5m³/m².hora, indica-se profundidade mínima para a camada de areia de 0,70m com diâmetro efetivo dos grãos variando de 0,1 a 0,3mm, a camada de pedras deve ser em torno de 0,3m e a lâmina d’água de no mínimo de 0,50m. Neste trabalho o meio filtrante será areia fina com tamanhos dos grãos de 0,15 a 0,6mm. A camada suporte será de brita, dividida em três camadas: brita 1 (4,8 a 12,5mm), brita 2 (12,5 a 25mm) e brita 3 (25 a 50mm). A drenagem da água tratada será feita por meio de um fundo falso de 20cm de altura. A lâmina d’água no filtro de forma que garanta o acúmulo de toda água coagulada no filtro, descontando o volume já filtrado no tempo que se gasta com a coagulação. Diante disso, a parte reservada para o líquido no filtro funcionará como um tanque de equalização. O volume desse tanque é determinado a partir da Equação 4. 𝑉𝑒𝑞 = (𝑄𝑒 − 𝑄𝑠)∆𝑡 (4) onde: Veq = Volume de equalização (m³); Qe = Vazão de entrada no tanque (m³/h); Qs = Vazão de saída no tanque (m³/h); ∆t = Tempo de duração da vazão de entrada (hora). 27 Para realizar a limpeza manual do filtro deve ser removido de 12 a 50mm de camada de areia até que se chegue a uma altura de 0,50m (MCGHEE, 1991) apud (TOMAZ, 2010). Esta raspagem deve ser feita mensalmente sempre lavando areia retirada e armazenando-a depois de limpa. Anualmente deve-se lavar toda a areia do filtro e a cada dois anos trocar toda a areia do filtro (TOMAZ, 2010). 4.2.2. Tratamento com lagoas de maturação O sistema é formado por um tanque de equalização (para regularizar a vazão de entrada na lagoa), por uma ou mais lagoas de maturação e um reservatório para armazenar a água tratada. A Figura 9 traz um modelo esquemático dessa proposta de tratamento. Figura 9: Esquema lagoa de maturação Fonte: O autor O tanque de equalização será de base quadricular, sua altura útil será de 2,00m e contará com uma altura extra de 0,50m para garantir volume mínimo no tanque a fim de proporcionar um bom funcionamento da bomba que levará a vazão regularizada para a lagoa, com borda livre de 0,10m. O volume de equalização é encontrado com a mesma Equação 4 supracitada. Já o volume mínimo é determinado pela Equação 5. 𝑉𝑚í𝑛 = 𝐿²ℎ𝑚í𝑛 (5) onde: Vmín = Volume mínimo no tanque de equalização (m³); L = Medida do lado do quadrado da base (m); hmín = Altura extra definida para o bom funcionamento da bomba (m). O volume total do tanque é a soma do volume de equalização com o volume mínimo. No que diz respeito à lagoa de maturação, Mendonça (1990) sugere uma profundidade da lagoa de 0,6 a 1,5m e período de retenção do efluente de 3 a 10 dias. A remoção de coliformes termotolerantes é regida pela Equação 6. 28 𝑁𝑒 = 𝑁𝑖 (1+𝑘𝑏𝑡)𝑛 (6) onde: Ne = Concentração de coliformes no efluente (UFC/100ml); Ni = Concentração de coliformes no afluente (UFC/100ml); kb = Coeficiente de velocidade de remoção de coliformes (1/dia); t = Período de retenção (dias); n = Número de lagoas de maturação em série. O coeficiente de velocidade de remoção de coliformes é em função da temperatura (°C) através da equação de Yanez (Equação 7). 𝑘𝑏 = 1,1(1,07) 𝑇−20 (7) Quanto aos aspectos construtivos as lagoas de maturação devem possuir uma relação largura:comprimento de 1:2 ou 1:3. A relação para inclinação do talude das paredes nas lagoas é de 2H:1V ou 3H:1V (MENDONÇA, 1990). A lagoa de maturação proposta nesse trabalho terá 1,00m de profundidade, a relação largura:comprimento será de 1:3, e a inclinação do talude será 2:1 e período de retenção do efluente de 8,5 dias. O fundo da lagoa será impermeabilizado com argila de maneira que a altura dessa camada garanta não haver poluição do lençol freático, quando exista risco de isso ocorrer. A área da lagoa de maturação é determinada a partir da Equação 8. 𝐴𝐿 = 𝑄𝑚é𝑑 .𝑡 ℎ𝐿 (8) onde: AL = Área da lagoa (m²) Qméd = Vazão média de entrada na lagoa (m³/dia) tr = Período de retenção do afluente (dia); hL = Altura da lagoa (m). 29 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a irrigação de hortaliças consumidas cruas é necessário que os parâmetros da água se enquadre na Classe 1, podendo ser doce ou salobra. Essa exigência dá-se ao fato de que estas hortaliças, quando contaminadas, podem ser transmissoras de doenças. As hortaliças irrigadas com água contaminada carregam consigo bactérias patogênicas, como a E. coli. A forma como são consumidas essas hortaliças (cruas ou malcozidas), normalmente, são ineficientes na remoção dessas bactérias. Dessa forma, aumenta a possibilidade de transmissão de doenças. Visando diminuir o risco de contaminação humana, o CONAMA impõe que a água utilizada na irrigação de hortaliças apresente ótima qualidade, principalmente no que diz respeito à concentração de coliformes termotolerantes. A Tabela 3 apresenta os valores médios dos parâmetros analisados bem como os valores padrões exigidos pela Resolução do CONAMA nº 357. Os valores de pH obtidos para todos os pontos analisados estão de acordo coma faixa de 6 a 9 exigidos. Os valores de oxigênio dissolvido só foram satisfatórios para o ponto 1, nos pontos 1 e 2 foram observados valores de 4,51mg/L e 5,58 mg/L, respectivamente, valores ligeiramente abaixo 6mg/L de OD exigidos pelo CONAMA. No que diz respeito a DBO, todos os pontos apresentaram valores acima de 3mg/L exigidos pela legislação vigente. Os parâmetros: nitrogênio amoniacal e salinidade estão de acordo com os máximos exigidos. Os valores de fósforo total foram insatisfatórios para os três pontos, com média geral da concentração para os três pontos de 2,92mg/L quando se é esperado uma concentração de 0,02mg/L. Para destino de água para irrigação, os valores de oxigênio dissolvido não há grande interferência, mesmo assim, é bem possível que seja corrigido na etapa de captação e armazenamento na propriedade, onde a água passa a ter um contato maior com o ar. No que diz respeito a elevada concentração de DBO e fósforo, é um claro resultado do aporte de esgoto doméstico no açude. Apesar do CONAMA exigir, para água destinadas a irrigação, valores máximos para esses parâmetros, os sistemas de tratamentos ora propostos não se preocupam com a redução ou remoção desses parâmetros, embora se espere alguma redução. Não foi encontrado na literatura, durante o desenvolvimento desse trabalho, nenhuma referência a problemas gerados pela utilização de águas com elevadas taxas de DBO, pelo contrário, a matéria orgânica faz bem para o solo e para a planta, devendo-se tomar cuidados apenas com a colmatação do solo, mas isso só ocorre com taxas elevadíssimas de matéria orgânica, o que não é o caso do açude da Marcela. Quanto ao fósforo presente na água esse 30 pode ser usado para suprir a demanda nutricional da planta. Conforme a Tabela 2, as hortaliças, de um modo geral, necessitam de 15 a 30kg de fósforo por hectare cultivado. Considerando um consumo de 80 m³ de água no mês na irrigação das hortaliças cultivadas em uma área de um hectare (ver Tabela 1) e tomando como referência a concentração de 2,92 mg/L de fósforo, tem- se com a utilização da água do açude uma inserção de 233,6kg/dia de fósforo em um hectare cultivado. Ou seja, a demanda de fósforo pode ser facilmente atingida somente na utilização da água açude. Porém é necessário avaliar os impactos gerados pelo o excesso de fósforo. Vale lembrar também que há possibilidade de remoção de nutrientes nos sistemas propostos, sendo necessário verificar sua ocorrência na prática. A média de coliformes termotolerantes contidos na água do açude foi o parâmetro mais preocupante. Todos os pontos apresentaram valores elevadíssimos, muito além das 200 UFC/100ml estabelecidos pelo CONAMA. O ponto 1 foi o que apresentou o pior resultado, uma média de 96575 UFC/100ml. O sistema de coagulação com a semente de moringa oleífera seguida de filtração lenta deve ter uma eficiência de 99,8% na remoção de coliformes termotolerantes. Da mesma forma que a concentração de coliformes termotolerantes no efluente na saída da lagoa de estabilização deve ser de no máximo 200 UFC/100ml. 5.1. Dimensionamento do sistema CM + FL A demanda diária de água a ser tratada para a irrigação de um hectare cultivado é de 80m³, serão consumidas 3,2 kg de semente da moringa por dia, 320g por etapa, 64g por tanque de coagulação. Como o processo de coagulação desse volume será dividido em 10 etapas, cada uma deverá coagular/flocular 8m³ de água, considerando que esse processo será feito em 5 tanques obtém-se que a capacidade desse tanque deverá ser de 1,6m³. Com essa capacidade e tomando a altura útil de lâmina d’água no tanque como 1,20m pode-se encontrar o diâmetro do tanque de coagulação (Equação 1). O diâmetro para o tanque de coagulação encontrado foi D = 1,30 m. Substituindo o valor da altura útil de lâmina d’água na Equação 2, obtém-se o valor da altura total do tanque, que foi H = 1,30m. O filtro lento deverá ser capaz de filtrar 80m³ de água durante 24h, logo, deverá funcionar à vazão 3,33m³/h. Alimentando a Equação 3 com essa vazão e a taxa de filtração de 0,1 m³/m².h, obtém-se a área para o filtro de aproximadamente 34m², esse será de formato retangular medindo 4m de largura por 8,50m de comprimento. O filtro terá formato retangular, com altura 31 da camada de areia de 0,90m, para a brita 1, brita 2 e brita 3 a altura das camadas serão de 0,05m, 0,05m, e 0,20m, respectivamente. Para determinar a altura da lamina d’água, é necessário determinar o volume de equalização do filtro. Sabe-se que o filtro receberá toda a demanda hídrica diária em 10 horas, logo, a vazão de entrada na parte do filtro que funcionará como tanque de equalização será de 8m³/h. Com esses dados e a vazão de saída no tanque encontra-se o valor do volume do tanque de equalização (Equação 4) de 46,67m³. Dividindo esse valor pela área do filtro, encontra-se a altura da coluna d’água de aproximadamente 1,40m. O Quadro 14 traz as dimensões de e característica dos tanques de coagulação e do filtro lento. A Figura 10 mostra um corte desses elementos com dimensões em metro e na Figura 11 pode-se observar o layout da implantação desse sistema. Quadro 14: Características do sistema CM+FL. Tanque de Coagulação/floculação Diâmetro (m) 1,30 As paredes do tanque podem ser construídas de tijolinhos, impermeabilizadas, e amarradas com aço. O tubo de saída do lodo para o tratamento será de 20mm e o de alimentação para o filtro de 32mm. O fundo do tanque deve ter uma pequena inclinação para facilitar a saída do lodo acumulado. Altura útil (m) 1,20 Borda livre (m) 0,05 Remoção do lodo (m) 0,05 Altura total (m) 1,30 Área (m²) 1,33 Área total - 5 tanques (m²) 6,64 Sementes/etapa/tanque (g) 64,00 Filtro Lento Borda livre (m) 0,10 As paredes podem ser construídas de concreto aramado ou de tijolinho caso o filtro seja enterrado, devem ser impermeáveis. Recomenda-se construir uma estrutura de abrigo para o filtro afim de evitar que ocorra algum tipo de poluição ou perturbação na água presente no filtro. O sistema deve contar com sistemas de registros para que caso hajanecessidade de parar o funcionamento do filtro o mesmo continue com uma lâmina d’água de no mínimo 5cm. Para se recolher a água filtrada pode-se utilizar um tubo de 50 mm ou simplesmente um canal até o reservatório de acumulação da água tratada. Coluna d’água (m) 1,40 Areia fina (m) 0,90 Brita 1 (m) 0,05 Brita 2 (m) 0,05 Brita 3 (m) 0,20 Fundo falso (m) 0,20 Altura (m) 2,90 Largura (m) 4,00 Comprimento (m) 8,50 Área (m²) 34,00 Fonte: O autor 32 Figura 10: Cortes tanque de coagulação e filtro lento. Fonte: O autor. Figura 11: Layout sistema CM+FL. Fonte: O autor. 5.2. Dimensionamento das lagoas de maturação Estima-se que a captação e o enchimento do tanque de equalização terão duração de 4 horas. Dessa forma, a vazão de entrada no tanque para garantir os 80m³ diário será de 20m³/h. A vazão de saída será a mesma do item anterior, dessa forma, pode-se estimar o volume de equalização por meio da Equação 4. Logo o volume de equalização encontrado foi de 66,67m³, admitindo que o tanque terá altura de dois metros, obtém-se o valor do lado da sua base quadrada por meio da definição de volume do cubo. Nesta situação, o tanque de equalização terá como medida do lado de aproximadamente 5,80m. O volume mínimo no tanque de equalização será defino a partir da altura reservada para este volume, que foi de 0,50m, e da medida do lado da base do tanque. Usando com essas informações na Equação 5, encontra-se Filtro lento Tanque de coagulação Água para tratamento Camada de areia
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