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CONCEITO DE DIREITO
1) Noção de Direito
Nos nossos dias, o Direito é uma realidade que está presente na maior parte dos actos que praticamos, a maior parte das vezes sem nos apercebermos disso.
Daí que, não tendo vocês optado por um curso com vertente jurídica vão ter no vosso curriculum académico várias disciplinas de Direito.
Posto isto, vejamos então o que é o Direito?
Existem várias definições e sentidos da expressão “Direito”, sendo que este termo é mais comummente utilizado ou num sentido objectivo ou num sentido subjectivo.
A) Sentido Objetivo
No que respeita ao Sentido Objectivo do termo “Direito”, nas palavras do ilustre Professor Castro Mendes, podemos defini-lo como o “sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva”, isto é, como o conjunto de comandos, regras ou normas.
Neste sentido, dizemos que o Direito civil Português actual se inspirou no Direito civil alemão. 
Porém, para assim podermos definir o Direito temos que conhecer a origem e necessidade de surgimento do Direito?
Por um lado, se analisar-mos o comportamento dos seres humanos, indubitavelmente, concluímos que o Homem tem uma natureza eminentemente social, ou seja, é um ser eminentemente social.
Com efeito, o homem é corpo e alma e, simultaneamente, matéria e espírito.
Logo, tem necessidades materiais e espirituais que não pode satisfazer por si só, mas apenas na associação com os outros homens. 
Tais necessidades traduzem-se em situações de carência ou desequilíbrio, que têm que ser satisfeitas com bens, isto é, com todo e qualquer meio apto a satisfazer necessidades humanas. 
É através da “vida social”, da vida em sociedade, que o Homem procura a satisfação adequada das suas necessidades e estabelece vínculos de solidariedade com os outros homens, nomeadamente:
- solidariedade por semelhança – os homens unem-se para satisfazer necessidades comuns a todos eles (necessidades de defesa) 
- solidariedade orgânica – para melhorar o aproveitamento das aptidões individuais a divisão do trabalho torna-o dependente dos demais.
 
Assim, como vimos já, a sociedade humana implica vida em sociedade.
Por seu lado, a vida em sociedade pressupõe regras que pautem os modos de agir dos homens.
Na verdade, é impensável viver em sociedade sem um mínimo de princípios que regulem o agir humano, tanto mais que são inevitáveis os conflitos de interesses, quer individuais, quer colectivos, emergentes da raridade de certos bens (a sua insuficiência para satisfazer todas as necessidades que os solicitam).
É, então, necessário que na vida social existam regras que determinem a cada indivíduo as suas formas de colaboração com os outros, por meio de actos ou omissões, na prossecução dos fins sociais.
Efetivamente, é inerente à vida em sociedade a existência de normas que possam definir o comportamento de cada homem com os demais.
Tais normas de condutas têm que estar preestabelecidas para organizarem as actividades entre os homens
Por outro lado, essas regras de conduta são o meio de se obter a segurança de que cada membro do grupo necessita na sua relação com os demais, pois só as mesmas permitem tornar previsível as condutas alheias e a elas adequar condutas próprias – é a previsibilidade que confere segurança aos indivíduos e possibilita a colaboração interindividual necessária ao alcance dos fins sociais.
	
Em suma:
- o Homem não vive isolado, mas em sociedade, em convivência com os outros homens - “ubi societas, ibi ius” (onde existe uma sociedade, existe direito);
- o Homem tem um instinto para se agrupar - nas palavras de Aristóteles é um “animal social.”
- é o direito que vai “promover a solidariedade de interesses e resolver os conflitos de interesses”, surgindo como uma ordem normativa.
Contudo, não basta que existam normas; é também necessário que se garanta a sua eficácia, isto é, que essas normas existam e sejam respeitadas, independentemente da vontade daquelas a quem se destinam, ou pelo menos, quando violadas seja assegurada a reparação dessa violação.
Por exemplo:
- existe uma norma que estatui que quem compra uma coisa ou um direito tem que pagar o respectivo preço a quem lhe vende esse bem - o art.º 874º do C. Civil define o contrato de compra e venda como “o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço”.
Se o pagamento do preço não correspondesse ao padrão normal de conduta ninguém venderia nada a ninguém.
Todavia, a mera existência da referida norma não corresponde ao seu cumprimento por todos os seus destinatários; muitos destes não a cumpririam, frustando-se a sua eficácia. 
Daí que, existam meios de que o credor pode dispor para ver cumprida a norma em causa e ver tutelados os seus direitos e interesses, nomeadamente, recorrendo aos tribunais, forças policiais ou militares. 
Se A compra um automóvel a B, pelo preço de 5000,00 € e não paga tal preço a B, pode este obter a condenação de A a pagar o referido montante e, em sede executiva, penhorar bens daquele (apreensão de bens).
- existe uma norma que determina que os contratos devem ser pontualmente cumpridos (art.º 406º do C.C.) – regra “pacta sunt servanda”. 
Supondo que A contrata um pianista para dar um concerto, e este no dia, hora e local acordado não cumpre o contrato, faltando ao concerto, em face da referida norma como obrigá-lo a cumprir?
Em casos como este não se pode recorrer à execução forçada específica da prestação em si porque a prestação do pianista é uma prestação de facto infungível.
Há, então, lugar há chamada execução não específica ou execução por sucedâneo equivalente pecuniário – obtém-se à custa do devedor um resultado equivalente ao que se obteria se o contrato tivesse sido cumprido, indemnizando-se as perdas e danos decorrentes do não cumprimento.
- verificado um acidente de viação, o que sucede ao veículo danificado? 
Determina a lei que “todo aquele que com dolo, ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrém ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes dessa violação” (art.º 483º do C.C.). 
O princípio geral da indemnização é o de que deve reconstituir-se a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação (art.º 562º do C.C.). 
Assim, a reparação do automóvel acidentado corresponde à execução específica. 
Contudo, se a reconstituição natural não for possível, não reparar integralmente os danos ou for excessivamente onerosa para o devedor há lugar à indemnização em dinheiro - a chamada execução por sucedâneo pecuniário (art.º 566º, n.º 1 do C.C.).
Assim, a ordem jurídica é inerente a existência de garantias de eficácia dos seus preceitos, de modo a que estes não se reconduzam a normas meramente morais ou axiológicas. 
Devem antes ser aplicadas e respeitadas pelos seus destinatários, podendo para o efeito recorrer-se à força coerciva quando não for cumprida voluntária e espontaneamente, através de órgãos do próprio Estado.
Daí que, as normas jurídicas se distingam:
a) das Leis da Natureza
As normas jurídicas dirigem-se com carácter imperativo à vontade do homem, podendo ser, como tal, violadas enquanto que as leis da natureza se referem, explicativamente, aos fenómenos naturais, não tendo sentido falar-se em “obediência”.
Por outro lado, as normas jurídicas são logicamente anteriores aos actos que pretendem regular e as leis da natureza são posteriores aos fenómenos que se destinam a interpretar e compreender.
b) das Normas Religiosas
Formalmente as normas jurídicas são criadas pelos homens para regular as relações entre eles, e as normas religiosas são “como que” criadas por entes sobrenaturais, destinado-se a regular as relações entre o homem e Deus, embora também regulem as relações entre os homens (não matar)
c) da Moral
A moral respeita ao conjunto de imperativos impostosao indivíduo pela sua própria consciência ética, de quando violados geram reprovação da própria consciência do indivíduo e é incoercível, enquanto que as normas jurídicas são coercíveis.
Por outro lado, a moral é unilateral porque se dirige ao homem e respeita à conduta isolada do homem e não com os demais homens, ao passo que o Direito é bilateral, estatuindo deveres e direitos e regulando as relações entre os homens permitindo a coexistência entre eles.
B) Sentido Subjetivo
O conceito de “Direito” pode ainda ser utilizado com outros sentidos, mormente em Sentido Subjetivo.
É o caso, de por exemplo, dizer-mos que temos um direito de propriedade sobre a nossa casa, que comprámos regularmente e não se encontra onerada.
Neste sentido subjetivo, pretende-se referir a vantagem que a norma estatui em favor da fruição dos bens por determinado sujeito, o poder que a cada um é conferido sobre uma coisa, com exclusão das demais pessoas sobre essa coisa. 
O proprietário de uma casa tem o direito de não ver violado, por qualquer modo, o direito de usar, fruir e dispor dessa casa por todos os outros que não são titulares de qualquer direito sobre a mesma.
A distinção entre direito objectivo e direito subjectivo é bastante visível no direito anglo-saxónico, nomeadamente correspondendo-lhes diferentes termos:
- “right” – direito subjectivo
- “law” – direito objetivo
Relação do Direito com outras Ordens Normativas
O direito não é uma só ordem normativa, e não é a única ordem normativa. 
Existem outras ordens normativas de cariz religioso, cariz moral, cariz natural, cariz criminoso, entre muitas outras.
Por vezes, o âmbito dessas ordens normativas coincide, como acontece, por exemplo, com a norma que estatui “não matarás”, que além de ser uma norma jurídica, é também uma norma moral, e uma norma de várias religiões.
Quando o direito encontra algumas das suas normas nas referidas ordens, torna essa norma jurídica – jurisdiciza-a.
Noutros casos, o âmbito do direito e das outras ordens é indiferente ou mesmo conflituante.
Direito e a Justiça
Os conceitos de Direito que expusemos são conceitos meramente formais, que não consideram se a disciplina jurídica de determinado momento é:
- conveniente ou inconveniente; 
- justa ou injusta
- boa ou má
Assim sucede, pois só deste modo o Direito pode ser universal.
Porém, tal não significa que o Direito não se deva nortear pelo valor da Justiça, repartindo por todos os bens da vida.
A justiça, como diziam os Romanos, á a “constante e perpétua vontade de atribuir a cada um o que é seu”.
Efetivamente, norteado pelo valor da justiça, consagrou o legislador constitucional, no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, que:
“Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”.
Trata-se de um critério de justiça material e não justiça formal.
O Homem é um animal.
Os homens convivem, isto é, vivem conjuntamente, vivem em sociedade, e na sua vivência estabelecem relações sociais.
Essas relações sociais geram, ou pelo menos, podem gerar conflitos de interesses, pelos quais os interesses de uns homens se opõem aos interesses de outros homens e vice-versa.
Por exemplo, se dois homens querem passar de carro ao mesmo tempo numa ponte que só tem uma faixa de rodagem, os seus interesses colidem, entram em conflito um com o outro.
Por outro lado, a convivência dos homens em sociedade exige:
- solidariedade
- colaboração
- divisão de trabalho, etc.
Para resolver os conflitos de interesses dos homens e ou harmonizar as suas actividades em sociedade, são necessárias regras ou normas de conduta, isto é, tem que existir uma ordem normativa.
Tal facto verifica-se porque os homens convivem uns com os outros por necessidade e não naturalmente e, se nascem bons são corrompidos pela sociedade (Rosseau) ou se nascem maus têm que ser corrigidos – “homo homini lupus” (Hobbes).
Pelo que, a vida em sociedade exige sempre regras ou normas de conduta que estabeleçam limites às liberdades individuais para que a vida em comum seja possível: a liberdade de cada homem termina onde começa a liberdade dos outros.
Tais regras ou normas de conduta social destinadas as resolver os conflitos de interesses dos homens ou a promover a solidariedade dos interesses humanos são normas jurídicas, ius iuris.
Em rigor, a palavra ius significa justo, dar a cada um o que é devido, ao passo que a expressão directo derivará de directum. 
Mas, existem outras ordens normativas, isto é:
A conduta social dos homens não se rege apenas por normas jurídicas, pelo Direito, pela ordem normativa jurídica.
Efetivamente, existem outras ordens normativas de conduta, nomeadamente:
- Morais – socorrer um ferido
- Religiosas – não matar
- de Cortesia – cumprimentar os outros
- fixadas pelos Usos – vestir de luto
- fixadas por Convenções Sociais – noivas vestirem branco, dar gorjeta ao empregado de café
Existem, ainda, ordens normativas sociais, como é o caso dos estatutos de clubes, fundações, associações, e mesmo ordens normativas criminosas a que certos homens obedecem (mafia, al quaeda).
Contudo, hoje as normas que regulam as sociedades modernas são as leis, normas jurídicas escritas.
Direito Objetivo
As normas jurídicas distinguem-se das outras normas pelo seu carácter coativo, ou seja,
Quem não cumpre as normas morais ou de cortesia pode sofrer uma sanção, um castigo, uma punição psicológica, moral ou social, nomeadamente remorsos, reprovação dos outros, etc., já que a ordem moral resulta da consciência individual, da prossecução do bem, mantendo o cumprimento dessas determinações a tranquilidade e o seu incumprimento gera desconforto, desassossego e remorsos do faltoso.
Se a moral social coincidir com a moral do pecador, o não cumprimentos das regras morais gera reprovação e rejeição social do pecador pelos outros.
Já se os homens não cumprirem as normas jurídicas sofrem uma sanção jurídica: por exemplo se alguém não paga uma dívida que tem para com outrem pode ver os seus bens serem penhorados e, consequentemente, vendidos para com o produto da venda ser pago o seu crédito.
De igual modo, se alguém mata outrem é punido com pena de prisão, ou em alguns países com pena de morte.
Donde que, a sociedade criou meios destinados a coagir, a obrigar as pessoas a cumprir as normas jurídicas.
Efetivamente, não basta que existam normas destinadas a prevenir e dirimir os conflitos de interesses, é também necessário que essas normas sejam eficazes
Ou de outro modo dito, não é suficiente que uma norma estatua que quem compra uma coisa tem que pagar o seu preço ou que quem pedir emprestado uma coisa tenha que a devolver ao seu dono.
É também necessário assegurar que o preço da coisa seja pago ou que a coisa emprestada seja devolvida, mesmo que contra a vontade de quem têm ou deve fazê-lo.
Assim, a eficácia das normas jurídicas é assegurada pelos “meios de tutela (protecção) do Direito”, que fazem cumprir as normas jurídicas, exercendo coacção sobre os homens.
Logo, objetivamente, podemos definir o Direito como o “sistema de normas de conduta social com protecção coactiva”
No que respeita à relação entre a ordem jurídica e as outras ordens normativas, o Direito encara-as e trata-as de forma diversa, nomeadamente:
a)- assume e jurisdiciza algumas ordens normativas, incorporando-as na ordem jurídica – é o caso da norma “não matarás” que, sendo uma norma moral e religiosa, goza de protecção coactiva, de modo que quem mata é punido com pena de prisão -, ao passo que proíbe outras dessas normas, jurisdicizando-as igualmente – é o caso das ordens para matar da mafia;
b)- coloca-se numa posição neutra ou de indiferença em relaçãoà maior parte das normas de outras ordens, nomeadamente, no que toca à ordem religiosa, de cortesia, etcc;
c)- normalmente, mantém relações próximas com as normas morais: o que em certo momento e num dado lugar é moral, normalmente será também jurídico.
Não obstante, o Direito e a Moral não se confundem.
Na verdade, as normas morais têm relevância interior, podendo pecar-se por pensamentos, palavras ou actos, enquanto que as normas jurídicas têm relevância exterior, e nunca são ofendidas ou violadas por pensamentos.
Outros Sentidos do termo Direito
Podemos referir-nos a diversos sentidos, a saber:
a)- Direito Subjetivo
O direito é perspetivado de acordo com os interesses das pessoas, dos sujeitos, significando poder ou faculdade (conferida pelo direito objectivo)
Assim, alguém pode morar na casa que arrendou, tem o direito de morar nessa casa. 
Neste caso, o direito objectivo reconhece-lhe o direito de lá morar, ao mesmo tempo que proíbe os outros de o impedirem que exerça esse direito.
Consequentemente, podemos referir que o direito subjectivo se traduz numa situação de vantagem, estando os outros proibidos de estorvar ou impedir que o titular deste ou daquele direito subjectivo o goze.
b)- Direitos aduaneiros, Direitos Reais, Ciência do Direito; Doutrina e Jurisprudência
O termo “direito” também se utiliza para definir institutos jurídicos:
- direitos aduaneiros – direitos pagos pelas mercadorias nas fronteiras ou aduanas;
- direitos reais – direitos das coisas ou sobre as coisas;
- direitos sucessórios – reguladores das sucessões e/ou heranças;
O Direito e a Justiça. O problema da lei injusta.
Na prevenção ou resolução dos conflitos de interesses, emergente na vida social, o Direito deve nortear-se pelo valor da Justiça, a vontade perpétua de dar a cada um o que é seu, fixando os critérios de repartição dos bens sociais.
Mas o Direito prossegue outros valores que não só o da Justiça, mormente, o valor da paz social, da segurança e da certeza jurídica, o que pode gerar leis injustas em função do valor único da justiça.
Por exemplo:
- o valor da paz social pode determinar a declaração de estado de sítio, derrogando várias liberdades (de trânsito, de associação)
- o valor da segurança jurídica gerou leis sobre a prescrição de direitos – os comerciantes devem reclamar o preço das coisa que vendem dentro de determinado tempo – 6 meses – sob pena de os seus direitos prescreverem, e se eternizarem situações de dívida, com a dúvidas e incertezas a elas inerentes. Neste caso, podem ter que tolerar-se certas injustiças (quanto aos comerciantes) para evitar injustiças maiores (J. Rawls).
Direito, Estado e sociedade. As modernas teorias sobre a intervenção do Estado na sociedade.
Porque ubi societas ibi ius, existirão tantos direitos objectivos quantas forem as sociedades.
A forma de sociedade mais importante é o Estado: sociedade politicamente organizada, fixada em certo território privativo, com soberania e independência.
Cada Estado tem o seu direito.
Sendo o Estado a forma de sociedade mais importante, o direito estadual é a forma de direito mais importante, mas não a única.
Com efeito, dentro dos Estados existem outras sociedades, como por exemplo a Ordem dos Advogados, os clubes desportivos, os partidos políticos, que se regem por leis próprias, os estatutos, mas conformes às leis gerais dos respectivos países.
Outras sociedades não se inserem neste ou naquele Estado, regendo-se por ordens jurídicas autónomas: a Igreja rege-se pelo Direito Canónico e a sociedade internacional pelo Direito Internacional Público.
ELEMENTOS DO CONCEITO DE DIREITO
I) Elementos do conceito de Direito
Como vimos já, podemos definir o Direito, em sentido objectivo, como o “sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva”.
Desta noção podem retirar-se três características fundamentais:
1) Sistema
2) Norma
3) Proteção Coativa
Sistema Jurídico
O Direito surge como um conjunto de normas que se relacionam e harmonizam entre si, reguladoras da vida social, que formam um sistema, uma ordem, a chamada ordem jurídica.
Esse sistema jurídico é caracterizado pela coercibilidade ou possibilidade de protecção coactiva, ou seja, pela existência de um conjunto de meios que permite assegurar o cumprimento e o respeito das normas jurídicas, mesmo que contrárias à vontade dos seus destinatários.
Porém, qual é o âmbito de aplicação do sistema jurídico, o âmbito de aplicação do direito?
Logicamente o âmbito de aplicação do sistema jurídico não é ilimitado, de modo a cercear totalmente a liberdade das pessoas.
Efetivamente, o sistema jurídico atua:
a) ao impor condutas, quer positivas (quando preceitua), quer negativas (quando proíbe).
Quando impõe condutas o direito está limitado pelo âmbito da imposição em causa, em face do princípio da liberdade, segundo o qual é lícito tudo o que não for proibido;
b) ao permitir - esta permissão traduz-se na mera possibilidade de agir materialmente ou na permissão de estatuir regras que pelas quais se pautem as condutas - a chamada autonomia da vontade.
Por exemplo, a lei permite usar as coisas que nos pertencem, mas também permite que as partes quando contratam umas com as outras estabeleçam as regras que regulem a sua composição de interesses.
Mas aqui coloca-se a questão de saber se as pessoas podem ilimitadamente querer sujeitar ou não sujeitar à tutela do direito os acordos e contratos que celebrem entre si.
Como princípio geral tal opção não recai sobre o poder de vontade das pessoas, sendo que, em regra, os acordos entre pessoas sobre os seus interesses e conduta futura são tutelados pelo direito. 
Ao lado destes acordos ou contratos podem as partes celebrar simples acordos que não têm tutela jurídica:
- os chamados acordos de cavalheiros - gentlemen’s agreements – A empresta a B 1000 €, tendo este que restituir tal montante a título de compromisso de honra; 
- os negócios de pura obsequidade – A convida B para passear, o que este aceita, contudo se A faltar não tem que indemnizar B, pois esse acordo não é juridicamente vinculante.
Caracterizador do sistema jurídico é também o princípio da plenitude da ordem jurídica.
Com este princípio não quer significar-se que o legislador vazou em normas jurídicas todos os casos possíveis e respectivas soluções jurídicas. 
Tão só se explicita que dos princípios que enformam o sistema jurídico, dada a sua generalidade, se podem extrair as soluções para a maioria das questões jurídicas não previstas positivamente e, bem assim, se podem resolver os casos não previstos directamente na lei, através da integração de lacunas, nos termos do art.º 10º do C. Civil, dado que o tribunal não pode ficar-se por um “non liquet”. 
Na verdade, consagra o artigo 8º, n.º 1 do C.C. que “o tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou a obscuridade da lei ou invocando dúvida insanável acerca dos factos em litígio”.
2) A Norma Jurídica
Ao considerar-mos o elemento norma jurídica temos que distinguir:
norma jurídica em sentido estrito
norma jurídica em sentido lato
a) Norma Jurídica em sentido Estrito
Conceito e Estrutura 
Quando falamos em norma jurídica somos tentados a identificá-la com o termo disposição, preceito, ou mesmo lei.
Em sentido restrito e próprio ou stricto sensu, a norma é um elemento da ordem jurídica, e traduz-se na “ligação de uma estatuição à previsão de um evento ou situação”.
Isto é, as normas jurídicas, enquanto normas de conduta social, prevêem as situações que visam regular e fixam as condutas que querem que sejam observadas.
Na sua função perfeita, a estrutura da norma jurídica compõe-se de três elementos:
- Previsão
- Estatuição
- Sanção - sanção coativa - apenas este elemento é privativo da norma jurídica.
Previsão
A previsão corresponde ao acontecimento ou estado de coisas que se prevê na norma – éa factispécie ou Tatbestand.
Com efeito, toda e qualquer norma jurídica prescreve padrões de conduta adequados subsumir às situações futuras, sendo que a previsão consubstancia uma “representação dessa situação futura”.
Tal situação da vida, geralmente, é caracterizada de forma geral e abstracta, a subsumir a casos concretos futuros, com vista a contemplar todas as situações futuras.
Não obstante essa previsão ser geral e abstracta, podem existir normas cuja previsão seja um facto futuro singular e concreto, como por exemplo as seguintes normas:
- “quando morrer o Chefe de Estado do país Y”
- “quando vagar o lugar de escrivão do Tribunal de Leiria ser extinto esse lugar”.
Exemplo de previsão – Artigo 1323º, n.º 1 C.C.: 
“Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado”
Estatuição
A estatuição corresponde às consequências jurídicas que se estatuem para o caso de a previsão se verificar – é o efeito jurídico.
Na verdade, toda a norma faz corresponder à respectiva previsão uma estatuição, ou seja, a necessidade de uma conduta.
Essa necessidade de conduta designa-se, em relação a cada pessoa a quem se dirige, dever ou obrigação em sentido amplo.
Em toda a norma jurídica a estatuição é sempre geral e abstracta, sob pena de se tratar de um mero preceito singular e concreto.
Exemplo de estatuição – Artigo 1323º, n.º 1 C.C.: 
“Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e souber a quem pertence deve restituir o animal ou a coisa a seu dono ou avisar este do achado”
Sanção
A sanção pode ser entendida como um elemento da norma jurídica, ou no entender do Professor Castro Mendes, como um elemento do sistema jurídico.
As normas são jurídicas porque integram o sistema jurídico, sendo que o sistema é jurídico porque comporta meios de coacção.
Caracteres da Norma Jurídica
São características da norma jurídica:
1) Bilateralidade
Esta característica traduz-se no facto de a prescrição que a norma jurídica contém ter sempre dois destinatários: 
- por um lado, o titular do direito
- por outro lado, o sujeito do dever
Esta característica não é aceite por todos.
2) Imperatividade
A imperatividade traduz-se na estatuição ou comando que a norma contém – dar uma ordem e não conselhos ou recomendações.
Na verdade, a norma jurídica exprime sempre uma ordem ou um comando, seja para permitir, seja para proibir, seja simplesmente para declarar.
Daí que se diga que a norma jurídica é imperativa. 
Por exemplo, o texto de uma lei científica limita-se a verificar factos ou descrevê-los, exprimindo meros juízos de existência, enquanto que as normas jurídica, existindo para disciplinar condutas humanas, impõem aos seus destinatários determinados comportamentos.
3) Violabilidade
Dirigindo-se a norma a pessoas livres, pode a mesma ser violada pelos seus destinatários, ou seja, padece a mesma da susceptibilidade de ser violada ou não acatada.
4) Generalidade e Abstração
Abstração
A abstração contrapõe-se ao concreto
A norma prevê a conduta de forma abstracta, indicando um padrão ou modelo de conduta, determinada por características fundamentais, mas não particularíssimas, ou seja, a norma abstrai-se das particularidades do caso concreto e das pessoas a quem vai aplicar-se em cada momento, reportando-se sempre a um tipo mais ou menos amplo de situações - não considera as relações individualmente.
Assim, não regula diretamente o contrato celebrado entre A e B em determinado momento e em determinado lugar, ou a situação de D ou E.
Com efeito, o Direito traduz-se em regras de conduta válidas para uma generalidade de situações.
Pelo que, ao legislar, tem sempre que se generalizar, abstraindo-se de circunstâncias variáveis, contingentes, individuais, subjectivas e elevar-se a uma abstracção.
Generalidade
A generalidade contrapõe-se à individualidade – é geral o preceito respeitante aos cidadãos, individual o preceito respeitante ao cidadão X.
A norma também prevê as condutas de forma geral, dado que se destina a uma generalidade de pessoas e não a uma única pessoa concreta – é a chamada generalidade horizontal (as normas aplicam-se simultaneamente a todos os que estão em certa situação).
Mesmo que as normas se apliquem sempre a uma só pessoa, com é o caso da normas que regem a actuação do Presidente da República, elas aplicam-se a quem quer que no momento ocupe esse cargo – é a chamada generalidade vertical (as normas aplicam-se sucessivamente a A, depois a B, depois a C, etc.). 
As estatuições concretas e singulares, que se dirigem a uma só pessoa e lhe fixam determinada conduta designam-se preceitos singulares e concretos - é o caso da sentenças condenatórias judiciais ou dos preceitos fixados por negócio jurídico, nomeadamente por meio de contrato.
5) Coercibilidade
Mas as características referidas não distinguem as normas jurídicas das demais normas de conduta social, mormente, das normas religiosas, morais ou de cortesia – todas essas normas são imperativas, gerais e abstractas.
Ora, é a coercibilidade que confere especificidade à norma jurídica.
A coercibilidade traduz-se na possibilidade de usar a força para impedir e reprimir a violação da norma (protecção coactiva: protecção coactiva preventiva e sanção coactiva), sendo verdadeiramente um elemento do sistema e não da norma.
É a coercibilidade que distingue os ditos tipos de normas, isto é, a diferente natureza da sanção correspondente à sua violação.
Quem infringe uma norma religiosa, moral ou de cortesia tem normalmente uma sanção interior ou psíquica (remorso, reprovação da sociedade).
Por seu lado, quem viola uma norma jurídica é sancionado através de órgãos especiais pela aplicação, por exemplo, de penas de prisão, pagamento de multas, indemnizações, etc, recorrendo-se caso necessário ao emprego da força física.
Donde que, a norma jurídica é acompanhada da susceptibilidade de ser imposta pela força, nisto consistindo a sua coercibilidade.
A coercibilidade não se manifesta necessariamente em coerção efectiva, ou seja, o que se afirma de essencial no Direito é a coercibilidade ou coatividade e não a coacção – a possibilidade de emprego da força e não o emprego efectivo dessa força.
Tanto mais que felizmente a maior parte da proibições legais (por exemplo, matar, furtar, roubar) são acatadas pelas pessoas, o mesmo se verificando em relação ao cumprimento pontual dos contratos celebrados prescrito no C. Civil (art.º 406º).
Assim, a coercibilidade é apenas um meio de o Direito se afirmar (frequentemente as normas são respeitadas pelos seus destinatários).
Por outro lado, a coercibilidade tem que ser entendida como um possibilidade jurídica ou ideal e não como uma possibilidade de facto.
Por exemplo, quando se mata uma pessoa já não se pode restituir-lhe a vida; quando se contrata uma pessoa para pintar um quadro e ela não o faz, não se pode pegar na sua mão e obrigá-lo a fazê-lo.
Nesses casos, a possibilidade jurídica da coercibilidade não se transforma em possibilidade de facto, pela própria natureza das coisas.
b) Norma Jurídica em sentido Lato
Preceito, Disposição
O conteúdo do sistema jurídico é formado por normas em sentido estrito.
A norma jurídica em sentido lato ou lato sensu corresponde ao elemento autónomo da forma porque aparece a ordem jurídica, designadamente os textos legais.
Considerado o âmbito das normas lato sensu podemos distinguir ou classificar as normas jurídicas em:
normas éticas e normas técnicas;
normas de estatuição material e normas de estatuição jurídica;
normas imperativas ou injuntivas, permissivas, supletivas e interpretativas;
normas ordenadoras e normas sancionatórias;
normas diretas e indiretas;
normas completas e normas incompletas;
normas gerais, excecionais e especiais;
normas universais gerais e locais;Normas de Interesse e Ordem Pública e Normas de Interesse e Ordem Particular;
Norma Perfeita, Norma Imperfeita, Norma Mais e Menos que Perfeita.
1) Normas Éticas e Normas Técnicas
Existem normas lato sensu que não são normas éticas, nem normas técnicas como é o caso das normas permissivas.
A norma ética é norma stricto sensu: em face da situação x deve adoptar-se a conduta y, porque a ordem jurídica o comanda; o acto que a ordem jurídica comanda surge como um dever para o destinatário da norma, sendo o acto contrário a esse comando ilícito, em regra geral cominado com a consequente sanção jurídica.
Existem outras normas que perante a previsão estabelecem uma conduta como necessária apenas para determinado fim, que é indiferente para o direito ser ou não prosseguido.
É o caso do art.º 875º do C. Civil que prescreve que “o contrato de compra e venda de imóveis só é válido se for celebrado por escritura pública”.
Assim, todo aquele que quiser celebrar uma compra e venda de um imóvel de forma válida e eficaz tem que fazê-lo por meio de escritura pública, sendo que o fim desse negócio é indiferente para o direito.
A conduta não é necessária em absoluto, mas surge como um meio de realizar um certo fim; pelo que já não estamos perante um dever, mas face a um ónus, ou seja, a necessidade de uma conduta não em absoluto, mas como meio de atingir certo fim, em si mesmo indiferente para direito. 
Se as partes não celebrarem a referida compra e venda do imóvel através de escritura pública o acto não é ilícito, é ilegal, apenas determinando uma desvantagem para quem o celebrou, a nulidade por falta de forma.
2) Normas de Estatuição Material e Normas de Estatuição Jurídica
Existem normas projectam o seu comando sobre a vida social: a sua estatuição reporta-se a actos dessa vida, como por exemplo não matar, entregar o achado. Tratam-se de normas stricto sensu ou normas de estatuição material.
Além dessa normas, temos normas lato sensu cujo conteúdo se esgota no plano jurídico – normas de estatuição jurídica -, e que reflexamente se vão traduzir em normas de estatuição ou conteúdo material.
Por exemplo, o art.º 130º do C.C. prescreve que.
“Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens”.
Perante a previsão desta norma – completar dezoito anos de idade – estatui-se algo sob a forma de consequência jurídica, a aquisição de plena capacidade de exercício de direitos, habilitação para reger a sua pessoa e dispor dos seus bens.
Reflexamente, a norma tem corolários permissivos – aquele que perfaz dezoito anos de idade pode livremente celebrar actos jurídicos – e imperativos – ninguém se deve opor a que aquele que perfaz dezoito anos de idade celebre actos jurídicos.
Trata-se de normas de estatuição jurídica.
3) Normas Imperativas ou Injuntivas: Preceptivas, Proibitivas e Permissivas e Normas Facultativas: Dispositivas, Interpretativas e Supletivas 
As normas lato sensu podem ser:
- imperativas ou injuntivas
- facultativas
- permissivas
- supletivas
- interpretativas
Norma Imperativa, Injuntiva ou Cogente
É a norma que impõe um dever, que impõe uma determinada conduta aos seus destinatários (aqueles que se encontram na situação nelas prevista) – é a norma stricto sensu.
A conduta imposta pode ser positiva – uma acção -, ou negativa – uma omissão.
Logo, quando ocorrer a previsão da norma, a conduta que a mesma estatui é obrigatória para os seus destinatários.
São “comandos ou proibições que visam interesses gerais ou interesses individuais muito fortes e, por isso, querem ser acatadas a todo o custo.”
As normas imperativas/injuntivas, enquanto regras de conduta, podem dividir-se em:
- preceptivas – são aquelas normas em que a conduta que se impõe (ou que impõem uma conduta) é um comportamento positivo, uma acção, um facere, como sucede com:
- a obrigação de restituição de animal ou coisa encontrada ao seu dono ou anúncio do achado (art.º 1323º, n.º 1 do C.C.); 
- a obrigação de sujeitar a escritura pública a compra e venda de imóveis (art.º 875º do C.C.);
- obrigação de prestação alimentos do pai ao filho;
- obrigação de restituição de juros no mútuo;
- obrigação de cumprir serviço militar
- proibitivas – são aquelas normas cuja conduta se impõe (ou que impõem uma omissão) se traduz num comportamento negativo, uma omissão ou abstenção, um non facere - os negócios celebrados contra normas imperativas são nulos (art.º 294º do C.C.) -, como é o caso de:
- proibição do sócio de uma sociedade se servir das coisas sociais para fins estranhos à sociedade sem o consentimento unânime dos demais sócios (art.º 989º do C.C.); 
- normas que proíbem a prática de crimes – não matar, furtar, violar a honra; 
- norma que proíbe a venda de pais a filhos ou avós a netos, sem consentimento dos demais filhos ou netos (art.º 877º do C.C.).
- permissivas - traduz-se na norma que estatui uma permissão, uma faculdade, uma possibilidade jurídica de acção ou resultado, ou seja, permite uma conduta:
- regra que autoriza a feitura de testamentos 
A permissão pode ser:
- pura – dirigida a actos materiais – possibilidade do usufrutuário procurar águas subterrâneas por meio de poços, minas ou outras escavações em benefício do prédio usufruído (art.º 1459º, n.º 1, do C.C.); 
- concessão de autonomia da vontade para produção de efeitos jurídicos – possibilidade de todos os indivíduos que a lei não declare incapazes para testar (art.º 2188º do C.C.).
Norma Facultativa
As normas facultativas são aquelas que regulamentando embora certas situações, não se impõem obrigatoriamente, limitando-se a conceder certas faculdades ou contendo um comando que os particulares podem livremente afastar.
As normas facultativas podem subclassificar-se em:
a)- normas dispositivas
b)- normas interpretativas
c)- normas supletivas
a)- Normas Dispositivas 
São as que se limitam a conceder certos poderes ou faculdades, deixando ao arbítrio do indivíduo praticar ou não praticar certos atos.
“Não constrangem absolutamente o querer dos indivíduos”.
Exemplos: 
- art.º 950º do C.C. que permite receber doações a todos os que não estejam especialmente inibidos de as aceitar por disposição da lei; 
- art.º 1698º daquele código permite fixar em convenção antenupcial o regime de bens do casamento; 
- art.º 2188º do C.C. que permite fazer testamento a todos os indivíduos que a lei não declare incapazes de o fazer 
b)- Normas Interpretativas
Destinam-se a fixar o sentido de certas expressões pouco claras usadas pelo legislador, ou pelos particulares nos seus actos jurídicos.
Ou seja, são as normas que esclarecem o sentido de outra disposição jurídica, mormente da lei ou de negócio jurídico.
Donde que, existem:
- normas interpretativas de lei – é o caso das definições legais vazadas nos artigos 349º do C.C. (“presunções são as ilacções que a lei ou o julgador tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido”), 874º do C.C. (“Compra e venda é contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço”); são coisas imóveis os prédios rústicos e urbanos, as águas, as árvores (art.º 204º do C.C.); das enunciações legais – art.º 1º, n.º 1 (“são fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas”).
- normas interpretativas de negócio jurídico – é o caso das normas de interpretação do negócio jurídico previstas nos artigos 236º e segs. do C. Civil, das normas de interpretação do testamento dos artºs 2187º, 2262º do C.C.;
Imagine-se que num testamento se diz o seguinte:
“Deixo todos os meus bens a António, a Carlos e aos filhos de Manuel”.
Esta declaração pode ser interpretada de duas formas:
- os filhos de Manuel recebem no seu conjunto uma parte igual à de António e Carlos;
- os bens objecto dotestamento devem ser repartidos em partes iguais por António, Carlos e cada um dos filhos de Manuel; 
Para dilucidar eventuais dúvidas interpretativas, o art.º 2227º do C. Civil, que é uma norma interpretativa dispõe que:
“Se o testador designar certos sucessores individualmente e outros colectivamente, são estes havidos por individualmente designados”.
Vale então a interpretação referida em segundo lugar.
c)- Normas Supletivas
São as normas que se aplicam aos negócios jurídicos no caso de as partes aquando da sua celebração não haverem excluído a sua aplicação ou não haverem previsto o regime a aplicar em determinada situação.
Ou seja, destinam-se a suprir a falta ou insuficiência de manifestação de vontade dos indivíduos, relativamente a certos assuntos que necessitam de disciplina jurídica.
Assim sucede, porque as partes, em regra, não regulam de forma completa e minuciosa todos os aspectos do contrato que celebram e, nestes casos, o legislador prescreve um conjunto de normas que colmatam as insuficiências da regulamentação dos interesses das partes.
Exemplos:
- quando alguém celebra um contrato de arrendamento com outrém, se nada for estipulado quanto ao dia em que se vence e deve ser paga a renda, determina a lei que a primeira renda se vence no dia da celebração do contrato de arrendamento e que as restantes se vencem no primeiro dia útil do mês imediatamente anterior àquele a que respeita (art.º 20º do RAU).
- se dum contrato emergir a obrigação de pagar um montante pecuniário e nada for estipulado quanto ao lugar onde deve ser cumprida essa obrigação, a prestação deve ser efectuada no domicílio do credor (art.º 772º, n.º 1 do C.C.)
- se num contrato de compra e venda as partes nada estipularem quanto ao momento e lugar do pagamento do preço da coisa vendida, deve esse preço ser pago no momento da entrega da coisa vendida e no lugar do domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento (art.º 885º, nºs 1 e 2 do C.C.).
Não tendo as partes manifestado uma vontade contrária à prescrição legal, a norma supletiva tem o mesmo valor que as outras normas, de forma se for aplicável a um determinado caso (em consequência da vontade das partes), o seu cumprimento já não depende de vontade das partes.
A norma supletiva não se confunde com a norma cuja previsão contém elementos que dependem de vontade das partes.
Por exemplo, as normas que regulam o regime pessoal do casamento são normas imperativas; porém, apenas se aplicam, e de forma imperativa e sem possibilidade de afastamento, se as pessoas casarem, o que são livres de fazer.
Neste caso, a vontade das partes recaiu sobre a previsão e não sobre a estatuição da norma, sobre a sua aplicabilidade.
Estamos perante uma norma supletiva quando o texto legal contenha expressões do seguinte tipo: “na falta de convenção em contrário”, “excepto se o próprio contrato o dispensar”, na falta de indicação em contrário”, “na falta de estipulação das partes”, etc.
Existem situações em que o legislador afasta a possibilidade de normas supletivas, nomeadamente quando utiliza a expressão “não obstante convenção em contrário”,. Como ilustra o artigo 1037º, n.º 1, do C.C. – “não obstante convenção em contrário, o locador não pode praticar actos que impeçam ou diminuam o gozo da coisa pelo locatário, com excepção dos que a lei ou os usos facultem ou o próprio locatário consinta em cada caso, mas não tem obrigação de assegurar esse gozo contra terceiros”.
Mas qual a razão da existência de normas supletivas?
As normas supletivas podem basear-se em dois fundamentos:
fundar-se na vontade comum e conjectural das partes, isto é, o legislador entende que a sua disciplina corresponde ao a generalidade das pessoas quereria naquele caso e que provavelmente as partes adoptariam se tivessem previsto a situação em causa;
fundar-se na maior justiça da solução;
4) Normas Ordenadoras e Normas Sancionatórias
Quando a norma jurídica é completa, a mesma é composta por previsão, estatuição e sanção, designando-se por normas ordenadoras.
A sanção decorre da existência de outras normas jurídicas, normas estas denominadas normas sancionatórias.
Supondo a seguinte norma “Se alguém tiver a possibilidade de furtar algo, não furte, aliás será condenado numa pena criminal”, a sanção resulta da existência de normas que impõem às autoridades do Estado do dever de condenarem quem saibam que furtou. Tais normas de imposição são normas sancionatórias em relação à norma que proíbe o furto e são normas ordenadoras em relação às normas que a normas que sancionam o comportamento ilícito das pessoas que ocupam o lugar de autoridades do Estado: se estas autoridades tiverem conhecimento de um furto e não o punirem incorrem em sanções disciplinares as quais constituem normas (normas do Conselho Superior de Magistratura).
Exemplo de outra norma sancionatória é o art.º 483º do C. Civil, nos termos do qual “aquele que culposamente causou prejuízo a outro (violando a norma ordenadora que proíbe causá-los) é responsável pelos mesmos. 
5) Normas Diretas e Normas Indiretas
Normas Diretas
São as normas cujos destinatários têm intervenção na vida social, aplicando-se à resolução de problemas da vida.
É o caso da generalidade das normas do Código Civil.
Normas Indiretas
Também designadas por normas instrumentais, são as normas que se destinam aos que têm como função aplicar as normas jurídicas e resolver questões de direito, aplicando-se em concreto à resolução de problemas jurídicos, com carácter específico.
É o caso do art.º 9º, n.º 3 do C. Civil, que é uma norma sobre interpretação (diferente de norma interpretativa):
“Na fixação do sentido da lei, o interprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube expressar o seu pensamento em termos adequados”.
Podem ser de várias categorias:
- Normas Remissivas
Correspondem às situações em que a própria lei determina que ao caso concreto em causa se aplicam as normas previstas para outro problema de direito, isto é, remete-se a solução do problema para essas normas. 
Por exemplo, o contrato de permuta ou troca é um contrato que não tem regulação específica no Código Civil, não significando tal facto que o mesmo não seja tutelado juridicamente. 
Efetivamente, tal contrato é um contrato que se subsume no art.º 939º do C.C., que considera aplicáveis as normas da compra e venda aos contratos onerosos pelos quais se alienem bens ou se estabeleçam encargos sobre eles, na medida em que sejam conformes com a sua natureza e não estejam em contradição com as disposições legais respectivas, o que sucede no caso da permuta.
O art.º 939º do C.C. é uma norma indirecta pois orienta o jurista na solução de problemas relativos ao contrato de permuta.
A remissão pode ser material, isto é, quando se remete para outra norma em função do seu conteúdo, como se verifica frequentemente no domínio dos negócios jurídicos, ou pode ser formal quando se remete para outra norma porque é essa norma que em determinado momento regula um problema em concreto, como sucede no âmbito da lei. 
Normas de Aplicação das Leis no Tempo
Normas de Direito Internacional Privado
6) Normas Completas e Normas Incompletas
Normas Completas
São aquelas que podem produzir efeitos jurídicos só por si e contêm em si uma valoração jurídica imperativa ou permissiva.
Normas Incompletas
São aquelas que não produzem efeitos só por si, tendo que ligar-se a outras normas. 
É o caso das definições legais – o art.º 940º define o contrato de doação -, das classificações legais e enumerações legais de tipos.
7) Normas Gerais, Excecionais e Especiais
a)- Normas Gerais
São as normas que constituem o regime regra (a regra geral) aplicável à generalidade de situações ou relações jurídicas de um determinado tipo; traduzem os princípios fundamentais do sistema jurídico, sendo a regra das relações que regulam.
Exemplo: norma que diz quea validade dos contratos não depende de formalidade alguma externa
b)- Normas Excecionais
São as normas que, disciplinando um sector restrito de relações, consagram uma regulamentação oposta à contida nas normas gerais; regulam determinado sector restrito de relações com características particulares, pelo que fixam disciplina oposta à que vigora para a generalidade das relações desse tipo – o regime-regra.
Exemplo: 
- o art.º 219º do C.C. estabelece o princípio da liberdade de forma, prescrevendo que “a validade da declaração negocial não depende da observância de forma especial, salvo quando a lei a exigir” – trata-se de uma norma geral.
Porém, o art.º 875º do C.C. estatui que “o contrato de compra e venda de imóveis só é válido se for celebrado por escritura pública”, ao passo que o art.º 1143º do mesmo código prescreve que “o contrato de mútuo de valor superior a ___ só é válido se for celebrado por escritura pública, e o de valor superior a __ se o for por documento assinado pelo mutuário” – são normas excepcionais.
c)- Normas Especiais
São as normas de direito especial que regulam um grupo mais ou menos restrito de casos, consagrando uma disciplina que constitui um simples desvio ou complemento das normas gerais, sem que directamente as contrariem; regem um sector restrito de casos de forma diferente do regime-regra aplicado a casos idênticos mas que não se opõe directamente ao regime-regra.
Exemplos: 
- norma que diz que os casamentos celebrados sem convenção antenupcial ficam sujeitos ao regime da comunhão de adquiridos.
- normas especiais da compra e venda (art.º 874º a 935º do C.C.);
- normas especiais da doação (artºs 940º a 979º do C.C.)
Esta distinção tem grande relevo ao nível da integração das lacunas da lei:
- o art.º 11º do C.C. proíbe a aplicação por analogia das normas excepcionais aos casos que não estiverem directamente previstos por elas – nesses casos só se pode recorrer às normas gerais ou normas especiais.
8) Normas Universais Gerais e Locais
As normas universais ou de direito universal são aquelas que se aplicam a todo o território de um país, o que se verifica em relação à generalidade das normas.
As normas locais ou de direito local são as que se aplicam apenas a uma certa fracção do território do Estado, em certa região ou localidade, como é exemplo as normas camarárias ou regulamentos das polícias distritais.
Em caso de conflito entre uma norma universal e uma norma local prevalece esta última.
9)- Normas de Interesse e Ordem Pública e Normas de Interesse e Ordem Particular
As Normas de Interesse e Ordem Pública regulam os altos interesses sociais, como é o caso da norma que impedem os pais de casarem com as filhas, sob pena de nulidade, não podendo a sua aplicação ser afastada pelos particulares.
As Normas de Interesse e Ordem Particular regulam interesses dos particulares, podendo ser afastadas pelos interessados – por exemplo a lei diz onde se deve cumprir certo contrato, mas as partes podem fixar um lugar diferente do indicado na lei para o efeito.
10) Norma Perfeita, Norma Imperfeita, Norma Mais e Menos que Perfeita
Norma Perfeita ou Lex perfecta
É aquela que tem como sanção a nulidade.
Norma Menos que Perfeita ou Lex minus quam perfecta
É aquela cuja sanção é outra que não a nulidade.
Norma Mais que Perfeita ou Lex magis quam perfecta
É aquela que tem como sanção a nulidade; à qual acresce uma outra sanção.
Norma Imperfeita ou Lex imperfecta
É a norma que não tem sanção.
PROTEÇÃO COATIVA: A SANÇÃO
A proteção coativa traduz-se na proteção pela força, se necessário, das normas jurídicas, não só após a violação dessas normas, mas também antes, com vista a prevenir a sua violação.
A coercibilidade consiste, precisamente, na possibilidade/susceptibilidade de aplicar sanções, pela força se necessário for.
Desde logo, temos que a proteção coativa, isto é, os meios adoptados em defesa da ordem jurídica podem ser, fundamentalmente, de duas espécies.
Por um lado, a Proteção Repressiva ou os Meios Repressivos. 
Esta proteção assume a forma de sanção, a sanção coactiva e pressupõe que a violação já foi praticada ou visa a imposição coactiva do próprio preceito infringido.
Por outro lado, a Proteção Preventiva ou os Meios Preventivos.
Afasta o perigo mais ou menos iminente da ilicitude e evita a sua consumação.
Num Estado de Direito Democrático, os actos de coerção, quer preventivos, quer sancionatórios competem a entidades públicas – Administração Pública e Tribunais. 
Assim, consoante a qualidade do seu agente protector, a protecção coactiva ou a tutela dos direitos pode ser:
I) Justiça Privada, Autotutela ou Tutela Privada do Direito, também designada por autodefesa, autotutela, “justiça pelas próprias mãos”
Neste caso, é o próprio titular do direito ameaçado, ofendido ou violado que reage por sua força e autoridade contra tal ameaça, ofensa ou violação.
É o particular que realiza o Direito.
Este tipo de justiça foi exclusiva dos tempos bárbaros e, além de ter a vantagem de evitar as delongas dum processo judicial, tem inúmeros inconvenientes. Fomenta lutas, perturbação, etc.
II) Justiça Pública ou Tutela Pública do Direito
Corresponde à reação através da força pública, da acção dos tribunais, mediante pedido dos interessados, às ameaças, ofensas ou violações de normas jurídicas. 
Legalmente, a autotutela ou tutela privada, definida e assegurada pelos próprios particulares, só em casos muito excepcionais não é proibida.
Com efeito, o art.º 1º do C.P.C. determina o princípio geral da proibição da autodefesa, dispondo que:
“A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei”.
Assim, a tutela pública do direito assume-se como regra geral, garantindo a paz jurídica e a justiça social (art.º 1º, 1ª parte do C.P.C).
Incumbe ao Estado, através dos tribunais, “órgão de soberania a quem compete administrar a justiça em nome do povo”, incumbindo-lhe “assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos” (art.º 202º da C.R.P.), reconhecer aos cidadãos o direito de acção, isto é, conceder a todo o titular do direito violado a providência necessária à reintegração efectiva desse direito, pois que: 
“A todo o direito, excepto quando a lei determine o contrário, corresponde a acção adequada a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá-lo coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da acção” (art.º 2º, n.º 2 do C.C.).
Por seu lado, a autotutela ou tutela privada tem carácter excepcional, admitido-se, nomeadamente nos casos em que se não fosse usada a ofensa seria maior do havendo tutela privada, isto é, baseia-se na necessidade de agir rapidamente sob pena de não se realizar o direito (art.º 1º, 2ª parte, do C.P.C.).
A autodefesa deve ser seguida do recurso aos meios coercivos normais, procedimentos cautelares e acção subsequente, a intentar no prazo fixado na lei para consolidação das providências cautelares decretadas pelo tribunal.
Nos termos legais, a tutela privada é lícita e legítima nas seguintes situações:
a)- Acão direta 
“É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito quando a acção directa for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito , contanto que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo”, não sendo lícita quando sacrifica interesses superiores aos que o agente visa assegurar ou realizar (art.º 336º, nºs 1 e 3 do C.C.).
b)- legítima defesa 
“Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão actual e contrária à lei contra pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde que não seja possívelfazê-lo pelos meios normais e o prejuízo causado pelo acto não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão (art.º 337º, n.º 1 do C.C.).
A defesa é legítima quando concorrem os seguintes pressupostos:
agressão ilegal;
em execução ou iminente;
contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro;
impossível recorrer à força pública;
existir racionalidade dos meios empregues
Exemplo: A está a ser agredido por B, que o atinge com um tiro, e começa a cambalear, dirigindo-se a B com uma faca, mas já muito diminuído fisicamente. Se B volta a carregar a arma e dispara de novo contra B, que se encontra ainda longe, matando-o não há legítima defesa, porque falta o requisito da actualidade – não havia condições para a agressão continuar.
c)- erro acerca dos respectivos pressupostos
“Se o titular do direito agir na suposição errónea de se verificarem os pressupostos que justificam a acção directa ou a legítima defesa, é obrigado a indemnizar o prejuízo causado, salvo se o erro for desculpável (art.º 338º do C.C.)
d)- estado de necessidade
“É lícita a ação daquele que destruir ou danificar coisa alheia com o fim de remover o perigo actual de um dano manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro” (art.º 339º, n.º 1 do C.C.)
Exemplo: condutor que realiza uma manobra de salvamento não é responsável pelos danos em coisas, decorrentes da colisão dos veículos, quando essa manobra pretendeu evitar o atropelamento de uma criança ou desviar-se de um ciclista.
A manobra realizada na condução tem que ser o meio adequado a afastar o perigo imediato de uma colisão ou atropelamento, não removível de outro modo, e para o qual nada concorreu o condutor em causa, não sendo previsível a produção de evento com igual ou superior gravidade.
Exemplo: aquele que para escapar a um incêndio arromba a porta de uma habitação alheia
	
CASOS EM QUE É LÍCITO RECORRER À JUSTIÇA PRIVADA (art.º 1º, parte final do C.P.C.)
A)- ACÇÃO DIRECTA (art.º 336º do Código Civil):
A licitude da conduta do agente, ao abrigo da acção directa, que reage contra a violação da norma e defesa de um direito depende de vários requisitos cumulativos, nomeadamente previstos no n.º 1 do art.º 336º do C.C.:
1º) recurso à força;
2º) fim de assegurar ou realizar um direito próprio – pressupõe uma violação efectiva do direito já finda ou consumada;
3º) impossibilidade de recorrer aos meios coercivos (judiciais ou policiais) normais em tempo útil; 
4º) ato ser indispensável para evitar a inutilização prática do direito próprio;
5º) não se exceder o necessário para evitar o prejuízo;
6º) não se sacrificar interesses superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar (art.º 336º, n.º 3 do C.C.)
Da conjugação dos requisitos vertidos nos nºs 5 e 6 decorre a exigência de racionalidade dos meios utilizados, dado que o agente não pode ele mesmo causar, com a sua acção, um dano superior ao prejuízo que pretende evitar.
B) LEGÍTIMA DEFESA (art.º 337º do C.C.)
O ato praticado ao abrigo da legitima defesa é licitamente admitido pela lei quando (art.º 337º do C.C.):
1º) ato do agente se destine a afastar uma agressão;
2º) agressão for atual – pressupõe-se uma agressão já iniciada, não consumada, ou seja, iminente ou em início de execução – quando se reage têm que existir condições para a agressão continuar;
3º) agressão for contrária à lei – ilegal, não provocada;
4º) agressão se dirija ao património ou pessoa do agente ou de terceiro;
5º) não seja possível reagir contra a agressão através dos meios normais – exige a necessidade do meio empregue: o meio utilizado tem que ser o único meio capaz de obstar à agressão;
6º) prejuízo causado pelo acto não seja manifestamente superior ao que pode decorrer da agressão – exige racionalidade do meio empregue: só é legítimo o acto quando se usou do meio, entre os vários à escolha, que causa menos danos ao agressor.
Na legítima defesa, contrariamente do que sucede na acção directa, pode haver desproporção entre os prejuízos, contanto que não seja manifesta.
C) ESTADO DE NECESSIDADE (art.º 339º do C.C.)
A licitude de uma conduta ao abrigo do estado de necessidade pressupõe (art.º 339º do C.C.):
1º) um acto do agente que destrói ou danifica uma coisa alheia – só é admissível a lesão ou sacrifício de coisas ou direitos patrimoniais;
2º) esse ato se destine a remover o perigo actual – ou seja um perigo imediato, que não possa ser removível de outro modo que não destruindo ou danificando a coisa alheia; 
3º) perigo seja de um dano manifestamente superior, do agente ou de terceiro – o interesse defendido tem que ser manifestamente superior que o interesse sacrificado
O estado de necessidade é a situação de receio gerada por um grave perigo que determina a necessidade de praticar um acto violador de normas tuteladoras de direitos e interesses para afastar o perigo em que está o agente.
Contudo, se o perigo se deve a culpa exclusiva do agente tem este que indemnizar os prejuízos causados ao terceiro (art.º 339º, n.º 2, 1ª parte do C.C.).
D)- CONSENTIMENTO DO OFENDIDO 
“O ato lesivo dos direitos de outrem é lícito, quando este houver consentido na lesão”, desde que não seja contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes (art.º 340º, n.º 1 e 2 do C.C.)
Exemplo: cortar o cabelo, realizar uma intervenção cirúrgica
E) – DIREITO DE RESISTÊNCIA 
“Todos têm direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública” (art.º 21º da C.R.P.)
F)- DEFESA DA POSSE
“O possuidor que for perturbado ou esbulhado pode manter-se ou restituir-se por sua própria força e autoridade, nos termos do art.º 336º, ou recorrer ao tribunal para que este lhe mantenha ou restitua a posse (art.º 1277º do C.C.)
G)- DEFESA DA PROPRIEDADE 
“É admitida a defesa da propriedade por meio de acção directa, nos termos do art.º 336º” (art.º 1314º do C.C.)
Exemplo: alguém que dentro da sua propriedade mata uma cabra que, após várias tentativas frustradas de a expulsar, já danificara árvores e videiras dessa mesma propriedade, no mesmo valor sensivelmente da cabra e se preparava para causar outros danos.
i)- direitos reais
“As disposições precedentes são aplicáveis, com as necessárias correcções à defesa de todo o direito real” (art.º 1315º do C.C.)
A Proteção Repressiva está associada a uma Sanção que se traduz num efeito jurídico, na consequência imposta pela ordem jurídica pela violação da regra de conduta que a norma estatui. 
A sanção pode ser:
- Material – o aspeto fundamental da norma é a alteração da situação da vida social que se pretenda e em que a sanção consiste.
- Jurídica – o aspeto fundamental da norma é a sua projecção no plano jurídico;
As Sanções Materiais podem ser de várias espécies, consoante a função que desempenham e a respectiva finalidade.
Mas, a existência de várias sanções não significa que a aplicação de uma delas exclua a aplicação das demais à mesma situação de facto, podendo cumular-se várias sanções a uma só violação.
Entre as várias sanções temos:
a)- Sanções Compulsórias ou Meios Compulsivos
São as sanções que actuam sobre o infractor da normas de modo a que o mesmo adopte, mesmo que tardiamente, a conduta devida estatuída na norma.
Pretende-se obter a mesma situação que decorreria do cumprimento da norma, sendo medidas tomadas após a violação da norma, destinando-se a evitar que essa violação se prolongue no tempo.
Se uma norma não é tempestivamente cumprida, mas ainda existe a possibilidade de o ser, o direito socorre-se de outros meios compulsivos, aplicando ao infractor sofrimentos que cessarão logo que cumprir.
Como exemplo desta sanção:
- art.º 829º-A do C.C. que se refere à Sanção Pecuniária Compulsória:
“1. Nas obrigações de prestação de facto infungível,positivo ou negativo, salvo nas que exigem especiais qualidades científicas ou artísticas do obrigado, o tribunal deve, a requerimento do credor, condenar o devedor ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por cada infracção, conforme for mais conveniente às circunstâncias do caso.”
- direito de retenção (art.º 754º e segs. C.C.):
“O devedor que disponha de um crédito contra o seu credor goza do direito de retenção, se estando a obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos por ela causados”.
É o caso de uma pessoa que repara um automóvel não o entregar ao seu dono, enquanto este não lhe pagar no montante da reparação – a restituição deve fazer-se logo que a dívida seja paga.
É também o caso de uma pessoa nomeada depositária judicial de determinados bens que foram penhorados ter que apresentar os bens que lhe foram entregues quando tal lhe for ordenado pelo tribunal, sob pena de lhe serem penhorados bens próprios.
Contudo, tal apreensão dos bens do depositário judicial cessa logo que o mesmo apresentar ao tribunal os bens de que era fiel depositário. 
b)- Cumprimento Coativo
Sempre que possível a lei determina o cumprimento coactivo da norma, a saber, nos casos em que a norma prescreve uma prestação fungível.
Exemplo: se A deve 100 € a B e não lhe paga esse montante, dependendo dos casos, o tribunal pode executar o património do primeiro para pagamento do crédito do segundo.
Neste caso, a norma cumpre-se de forma coactiva e não de forma voluntária.
c)- Reintegração ou Sanções Reconstitutivas 
A reintegração pode ser:
- natural;
- por equivalente, sucedâneo pecuniário ou em espécie
Se o cumprimento coativo não for possível tem lugar a reintegração, repondo-se, em princípio, as coisas no estado que as mesmas existiriam se a norma não tivesse sido violada. 
Normalmente quando uma norma é violada impõe-se a reconstituição natural ou restituição in natura (tal qual) ou restauração natural da situação que se teria verificado se a norma tivesse sido cumprida, se não tivesse existido violação.
Tal regra vale quer no domínio do direito das coisas, quer no domínio das obrigações quando for possível a execução específica. 
Se a prestação a que o devedor se obrigou consiste na entrega de coisa determinada que se encontra em poder daquele, se o devedor não cumprir voluntariamente pode intentar-se uma acção declarativa e pedir ao tribunal que o condene na entrega daquele bem, ou se o credor dispuser de um título executivo, e se tratar de uma coisa móvel certa, pode logo requerer a execução para entrega de coisa certa (artºs 45º, 46º al. c) e 928º a 932º do C.P.C.) – é possível a execução específica .
Se a prestação a que o devedor se obrigou consiste na realização de um facto, pode não ser possível a execução específica, nomeadamente quando a actividade pressupõe características pessoais.
Não obstante, temos que atender ao tipo de prestação em causa:
1) prestação de facto negativo – se o devedor não deve realizar determinada obra, e mesmo assim a realiza, se for possível desfazê-la, a obra é desfeita pelo devedor ou à sua custa (art.º 829º do C.C.)
2) prestação de facto positivo fungível – se o devedor não realizar a prestação de facto a que está obrigado, e for possível a sua realização por outras pessoas, o credor pode requerer que o facto seja realizado por terceiro à custa do devedor (art.º 828º do C.C.)
Donde que, em primeiro lugar, deve proceder-se à restituição natural ou in natura (restabelece-se o estado material e efectivo das coisas), legalmente prevista no art.º 562º do C.C.:
“Quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação”.
Exemplo: Se A empresta o seu relógio a B e este não lhe o devolve, podem os tribunais, a pedido de A, apreender o relógio e entregar-lhe-o, repondo a situação anterior. 
Opera-se, assim, a restituição ou reintegração natural da situação tutelada pela norma jurídica que obriga as pessoas a devolver as coisas aos donos que lhes as emprestaram.
Se não for possível a reintegração natural, tem lugar a reintegração por sucedâneo ou equivalente pecuniário.
Com efeito, nos casos em que não pode colocar-se as coisas no seu estado natural, estabelece-se o seu equivalente jurídico por meio de bens patrimoniais do mesmo valor ou o seu preço em dinheiro, nos termos do art.º 566º do C.C.:
“A indemnização é fixada em dinheiro sempre que a reconstituição natural não seja possível, não repare integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor”.
Deste modo, satisfaz-se um direito pecuniariamente equivalente ao que foi ofendido.
Exemplo: Se no caso descrito B tivesse destruído o relógio de A já não seria possível a reintegração natural, dado que o relógio já não podia ser apreendido.
Nesse caso A teria que pedir ao tribunal que fosse apreendido dinheiro ou outros bens de B para serem vendidos e com o produto da venda B prestar a A o valor pecuniário do relógio que destruíra – B dá a A o equivalente ou sucedâneo pecuniário da coisa protegida pela norma que B violou.
d)- Reparação
Se não for possível a reintegração ou a mesma não repare totalmente a violação da norma, tem lugar a chamada reparação.
A reparação traduz-se num sacrifício imposto ao violador da norma em contrapartida da respectiva violação, e numa satisfação em contrapartida da violação sofrida para o lesado. 
A reparação pode traduzir-se em:
numa compensação por danos morais, também designados por danos não patrimoniais (art.º 496º do C.C.);
Exemplo: num acidente de viação pode atribuir-se uma indemnização às dores e transtornos sofridos pelos acidentados.
Dessa forma, procura dar-se ao lesado uma soma pecuniária com a qual obtenha ou possa obter algumas satisfações em contrapartida do seu sofrimento.
numa pena (a pena afere-se pela culpa do agente infractor, pelo que a pena de multa se distingue da indemnização pecuniária, cuja medida se afere pelo dano, quer se trate de damos emergentes ou lucros cessantes).
A pena pode ser:
- Sanção civil – de um contrato bilateral emergem obrigações para ambas as partes; se uma das partes falta culposamente ao cumprimento das suas obrigações tem a outra parte um conjunto de direitos, nomeadamente, direito de ser indemnizado pelos prejuízos sofridos, direito de resolver o contrato (artºs 798º a 803º do C.C.)
- Sanção criminal – é uma pena efectiva ou potencialmente pessoal sendo aplicado à própria pessoa que violou a norma criminal; é a sanção correspondente à prática de um crime
Exemplo: Se B furtou o relógio a A, contra a vontade deste, ao Direito já não basta a apreensão do relógio e sua devolução a A, seu dono, havendo lugar à aplicação de uma pena, que consiste num mal, num sofrimento imposto ao infractor da norma, reveladora de uma reprovação moral da sua conduta. 
- Sanção disciplinar – é a sanção aplicável à infracção disciplinar – por exemplo a demissão, repreensão de um funcionário público
Correlativamente, a responsabilidade, enquanto dever que recai sobre a pessoa que violou a norma de reintegrar ou reparar a violação, pode ser: 
- civil – tem por objecto a reintegração, a compensação por danos morais e a pena civil, e decorre do ilícito civil;
- criminal – tem por objecto a pena criminal e decorre da prática de um crime;
As Sanções Jurídicas são as que se destinam a produzir efeitos práticos e que relevam no plano jurídico.
Se por exemplo, A acorda com B em matar C, mediante o pagamento de uma quantia pecuniária, tal acordo não é vinculativo juridicamente, de modo que a sua sanção é o acordo de nada valer.
Estamos perante uma sanção jurídica, quando com a violação de uma norma jurídica, as partes pretendiam a produção de efeitos jurídicos, ou seja, celebram negócios jurídicos.
Mas qual a consequência jurídica dos negóciosjurídicos celebrados ilícita ou ilegalmente?
Quais as sanções do não cumprimento das normas jurídicas nos negócios jurídicos?
A principal consequência é a sua invalidade, isto é, o negócio existe mas não produz efeitos jurídicos a que tende, ou pelo menos não produz os efeitos jurídicos que as partes pretendiam que produzisse. 
Pode suceder que o negócio nem sequer exista, caso em que enferma de Inexistência Jurídica.
É o caso de negócio celebrado com coacção absoluta ou sem consciência da declaração, nos termos do art.º 246º do C.C. 
A invalidade do negócio decorre de vícios ou deficiências do negócio, contemporâneas da sua formação, e pode assumir duas formas principais:
- nulidade (nulidade absoluta) – o acto não produz efeitos jurídicos ab initio, ou pelo menos os efeitos que as partes queriam que produzisse;
- anulabilidade (nulidade relativa) – os efeitos jurídicos do negócio produzem-se, sendo esse negócio tratado como se fosse válido, ficando dependente a produção desses efeitos (a sua validade) da não arguição da anulabilidade do negócio pela parte com legitimidade para o efeito, anulação essa que produz efeitos retroativos.
A nulidade é a consequência, nomeadamente, dos seguintes actos:
- vícios de forma – “Sempre que a declaração negocial careça da forma legalmente prescrita é nula, quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei” (art.º 220º do C. Civil);
- vícios de objeto – “É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou indeterminável. É nulo o negócio contrário à ordem pública, ou ofensivo dos bens costumes” (art.º 280º, nºs 1 e 2 C.C.);
- falta de vontade – “O negócio simulado é nulo” (art.º 240º, n.º 2 C.C.); “A declaração não séria feita na expectativa de que a falta de seriedade não seja desconhecida carece de qualquer efeito” (art.º 245º, n.º 1 C.C.); nos casos de coacção física e falta de consciência de declaração o negócio não produz qualquer efeito” (art.º 246º C.C.);
- contrariedade à lei – “Os negócios celebrados contra disposição legal de carácter imperativos são nulos, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei” (art.º 294º C.C.);
A anulabilidade verifica-se, nomeadamente, nos casos de:
- incapacidade do agente – os menores, interditos e inabilitados padecem de incapacidade para o exercício de direitos, pelo que os actos por eles praticados sem suprimento da sua - incapacidade estão feridos de anulabilidade (art.º 122 a 124º, 125º e segs., 138º a 151º, 152º a 156º, todos do C.C.);
- vícios da vontade – erro (artºs 251 e 252º do C.C.), dolo (artºs 253º e 254º do C.C.), coacção moral (artºs 255º e 256º do C.C.), incapacidade acidental (art.º 257º do C.C.) 
venda de pai ou avós a filho ou netos sem consentimento dos outros filhos ou netos (art.º 877º do C.C.)
Pode, ainda, suceder que o negócio celebrado seja afectado por outro vício, a saber a Ineficácia jurídica.
É o caso de ser celebrada uma compra e venda de imóvel não registada.
Este negócio é eficaz entre as partes e é ineficaz em relação a terceiros (artºs 4º e 5º do C.R.Predial).
PROTEÇÃO PREVENTIVA
Existem também meios de prevenção da violação das normas, nomeadamente:
a)- Medidas de Segurança – artºs 91º e segs. C. Penal.
Com as medidas de segurança pretende-se colocar as pessoas tendencialmente perigosas e delinquentes em situação de não poderem praticar crimes, como sucede como o internamento de delinquentes inimputáveis;
b)- Procedimentos Cautelares 
É o caso do Arresto (artºs 406º e segs. do C.P.C.), Arrolamento (artºs do C.P.C.).
Caso Prático:
Considere as seguintes hipóteses e aprecie a sua validade e possíveis sanções:
a) António encontra João a roubar vários objectos da casa do seu irmão e atinge-o gravemente com um tiro. António alega em sua defesa que apenas estava a proteger os bens do seu irmão.
b) Carlos, vendo o seu cavalo preferido a afogar-se num poço existente num quintal vizinho, arromba a cerca desse quintal para retirar aquele animal do poço.
c) Ana, interveniente num acidente de viação em que não foi responsável culpada, pretende que a seguradora lhe pague a reparação do seu veículos e todos incómodos sofridos.
Resposta:
a) Todas as normas jurídicas surgem e existem como regras de conduta preestabelecidas reguladoras da organização e colaboração da vida dos homens em sociedade.
Porém, não basta que essas normas jurídicas existam enquanto regras de conduta da vida social.
É, ainda, necessário que as normas jurídicas sejam eficazes, isto é, tem que se garantir a eficácia e o respeito das normas jurídicas pelos seus destinatários, mesmo contra a sua vontade.
Ora, definindo-se o Direito em sentido objectivo como o “sistema de normas de conduta social, assistido de protecção coactiva”, concluímos logo que, é precisamente o elemento “protecção coactiva” que assegura a protecção das normas jurídicas, se necessário pela força, quer posteriormente à respectiva violação, quer em momento anterior a essa violação.
Daí que, possamos distinguir protecção repressiva de protecção preventiva.
Assim, existindo no nosso caso comportamentos violadores de regras de conduta estatuídas em normas jurídicas - a conduta de António que ofendeu a integridade física de João e o acto de roubo de João -, impõe-se proteger a violação dessas normas através da referida protecção repressiva, à qual corresponde a sanção.
Mas quem pode exercer os actos de coerção repressivos e preventivos em que se traduz a sanção?
Esta questão coloca-se porque de acordo a qualidade do agente protector das normas jurídicas ou meios de tutela do direito podemos distinguir, por um lado, a justiça privada, autotutela ou tutela privada do direito (é o próprio titular do direito ameaçado ou violado que reage contra a violação da norma jurídica, realizando o direito) e, por outro lado, a justiça pública ou tutela pública do direito (a reacção contra a violação de normas jurídicas processa-se através da força pública - tribunais).
A este respeito consagra o art.º 1º do C.P.C. o princípio geral da proibição da autodefesa, prescrevendo que “A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei”.
Logo, estabelece-se a justiça pública como a regra geral e a justiça privada como excepção apenas legalmente admissível nos casos e dentro dos limites da lei.
No nosso caso, António, encontrando João a furtar objectos na casa do seu irmão, decide impedi-lo de continuar tal actividade criminosa e atinge-o gravemente com um tiro, reagindo ele próprio contra a violação das normas jurídicas que tutelam a propriedade privada de cada um.
A sua conduta ofendeu a integridade física de João, podendo, contudo, questionar-se se a mesma é válida e lícita face à lei.
Conforme se referiu a conduta de António só é lícita se subsumir a algum dos casos indicados na lei.
Desde logo, não se trata de acção directa prevista no art.º 336º do C.C. porque António não recorre à força para assegurar um direito seu; também não se trata de estado de necessidade previsto no art.º 339º do C.C. pois não está em causa a destruição ou danificação de coisa alheia.
O que hipoteticamente pode tornar lícita a atitude de António é a legítima defesa consagrada no art.º 337º do C.C., nos termos da qual pode a sua conduta ser justificada.
Contudo, para assim suceder têm que verificar-se cumulativamente os requisitos legais enumerados naquele artigo.
Na verdade, António atuou da forma descrita para afastar:
- uma agressão contrária à lei – é ilegal roubar bens alheios e ofender as normas que tutelam a propriedade privada de cada um;
- uma agressão atual – o roubo estava em execução e ainda não consumado: António encontrou João em flagrante delito;
- contra o património de um terceiro – contra os objectos pertença do seu irmão;
- impossibilidade de recorrer aos meios coercivos

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