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DIREITO PROCESSUAL CIVIL 1. TUTELA ANTECIPADA Regulada pelo art. 273 do CPC, é uma espécie das chamadas tutelas de urgência (tutela antecipada e tutela cautelar). 1.2. Diferença entre Tutela Antecipada e Tutela Cautelar Em toda ação judicial há sempre um pedido. O Juiz só atende ao pedido no final. A tutela antecipada consiste em atender ao que foi pedido antes do término da ação. Ao conceder a tutela antecipada, o Juiz satisfaz provisoriamente a pretensão do autor. Logo, a tutela antecipada tem sempre natureza satisfativa, ao contrário do que ocorre com a tutela cautelar (que tem natureza meramente assecuratória, protetiva), em que o Juiz jamais satisfaz aquilo que está sendo pedido. Aquele que pede uma tutela cautelar não deseja antecipar o que só será concedido no fim. Mas, devido à demora (até que o Juiz decida o processo), pode ser tarde demais; assim, a cautelar garantirá a futura satisfação do direito. As liminares na ação cautelar só podem ter natureza cautelar. Já a liminar no processo de conhecimento, antecipa-o. Logo, tem natureza de tutela antecipada. A tutela antecipada só passou a ser tratada, de forma genérica pelo Código de Processo Civil, a partir de 1994. Isso fez com que alguns doutrinadores afirmassem que a tutela antecipada foi criada no Brasil nesse período. Mas, antes de 1994, já havia previsão de liminar com natureza de tutela antecipada (não com essa denominação) em situações específicas, expressamente previstas em lei, para algumas ações de rito especial (ex.: alimentos provisórios). A inovação do art. 273 do CPC é a extensão da tutela antecipada a qualquer tipo de ação. Dicas: Cautelar – Assegurar o resultado prático de outro processo. Analisem os artigos 796, 798 do CPC e 813 a 866 do CPC, onde localiza-se as cautelares nominadas e ainda temos a cautelar inominada. Na cautelar basta o “fumus boni iuris” e “periculum in mora” Tutela – Necessita antecipar os efeitos da sentença o próprio direito. Os requisitos são maiores do que uma fumaça ou presunção, o juiz tem que ser convencido da certeza de sua decisão. Principio da Proporcionalidade = Segurança da Decisão e Efetividade desta. Necessidade de Caução – Verificar artigos 461, parágrafo 4º do CPC. 1.3. Cognição Significa “conhecimento”. É tudo aquilo que pode ser levado ao conhecimento do Juiz e por ele apreciado. 1.3.1. Classificação da cognição • Sob o ponto de vista horizontal: − plena: é aquela em que não há limitação, por parte do legislador, das matérias que serão conhecidas pelo Juiz. Ex.: se a execução é fundada em título extrajudicial, o devedor pode alegar em embargos qualquer matéria lícita em defesa (art. 745 do CPC). Logo, a cognição é plena; − parcial: é aquela em que há limitação, por parte do legislador, das matérias que serão apreciadas pelo Juiz. Ex.: se a execução é fundada em título judicial, o devedor não pode alegar em embargos qualquer matéria de defesa (art. 741 do CPC). Logo, a cognição é parcial. Na ação possessória, a cognição também é parcial, já que não se pode discutir domínio (art. 923 do CPC). Do ponto de vista horizontal, o que se leva em consideração é a extensão das matérias que podem ser alegadas pelas partes e apreciadas pelo Juiz. • Sob o ponto de vista vertical: − exauriente: é aquela em que o Juiz decide com base na certeza do direito. Quando não couber recurso (coisa julgada), a decisão do Juiz é de cognição exauriente; − superficial: as decisões são proferidas com base em juízo de mera probabilidade. Essa espécie de cognição está sempre associada ao fenômeno da urgência. Do ponto de vista vertical, o que se leva em consideração é o grau de profundidade das matérias alegadas e apreciadas. Durante muito tempo, no Brasil, vislumbrava-se somente a tutela cautelar como exemplo de cognição superficial. Hoje, aceita-se também a tutela antecipada (desde 1994). 1.4. Requisitos da Tutela Antecipada (Art. 273 do CPC) A tutela antecipada, já existente em ações de cunho específico no Código de Processo Civil, mesmo antes da mini-reforma de 1994 que, por sua vez, a ampliou, sofre nova extensão em seus institutos, operada pela Lei n. 10.444/02, esclarecendo que o legislador, preocupado com a efetividade dos resultados do processo, confia na utilização, cada vez mais responsável pelos juízes, desta espécie de tutela de urgência. Assim, são requisitos para a concessão da tutela antecipada: • Prova inequívoca da verossimilhança do direito alegado (“caput”); • fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (inc. I); ou abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu (inc. II); (requisitos alternativos) • Inexistência de risco de irreversibilidade do provimento antecipado (§ 2.º) • Incontrovérsia de um ou mais pedidos cumulados, ou parcelas destes, quando na ação houver cumulação de pedidos (recente inclusão da Lei n. 10.444/02) Por “prova inequívoca da verossimilhança das alegações” entende-se um requisito semelhante ao da tutela cautelar denominado “fumaça do bom direito” (fumus boni júris, ou juízo de mera probabilidade). Mas a prova inequívoca é mais intensa, até porque a tutela antecipada é uma medida mais forte do que a tutela cautelar. O Juiz deve considerar as alegações plausíveis, de acordo com a diferenciação realizada pela doutrina, e não apenas prováveis. Deve estar presente ainda uma das duas situações: • perigo de prejuízo irreparável ou de difícil reparação: nesse caso, fica muito semelhante à tutela cautelar; ocasião em que demonstra-se o perigo na demora da obtenção do provimento, denominado em latim periculum in mora; • abuso de direito de defesa ou manifesto intuito protelatório do réu: tem quase um caráter punitivo, em razão da utilização incorreta dos direitos afetos ao princípio do contraditório. Na hora de conceder ou não a tutela antecipada, o Juiz deve se basear no princípio da proporcionalidade, ou seja, deve verificar as conseqüências da concessão ou não da tutela antecipada e apreciar a proporção entre elas. Não pode haver risco de irreversibilidade do provimento. Cumpre registrar que este requisito negativo, ou seja, a inexistência de risco de irreversibilidade do provimento antecipado, deve ser interpretado com parcimônia, ou, nas lições do eminente Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo Teixeira, “cum granu salis”. A tutela antecipada, até a edição da Lei n. 10.444/02, foi inexoravelmente provisória. Vejamos as modificações operadas pelo atual §. 6.º do artigo 273 do diploma processual: “§ 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.” O parágrafo 6.º do artigo 273, ao prever a possibilidade de concessão de tutela antecipada quando, entre os pedidos cumulados, houver pedido incontroverso, quebra a dogmática tradicional do instituto, ao afastar o arraigado modelo de tutela embasada na plausibilidade e no receio de ineficácia do provimento final, fazendo, de acordo com recente doutrina ainda não sedimentada, conviver dois princípios que, no modelo anterior, pareciam confrontar-se, quais sejam, o princípio da eventualidade, também entendido como concentração da defesa, e o princípio do contraditório, que prevê a ciência bilateral dos termos do processo, com possibilidade de exercício de defesa. Assim, a previsão legal dá efetividade ao princípio da eventualidade de defesa, uma vez que, sem preterir o contraditório, concede benefícios satisfativos ao credor em relação aos pedidos não impugnados, admitidos na seara civil como incontroversos. Quanto à interpretação do que seja pedido parcial ou totalmenteincontroverso, dentre os pedidos cumulados, a doutrina menciona que seja ponderada, ou de acordo com consagrada expressão latina cum granu salis, mormente quando houver a impugnação de tais pedidos por vias reflexas, fora da contestação. Cabe ressaltar que não se aplica a concessão de tutela exclusivamente após a contestação, pois, apesar de nosso sistema processual basear-se em preclusões, em determinadas hipóteses, nas quais a tutela antecipada será concedida somente quando da sentença, cabendo apenas efeito devolutivo no recurso que a atacar (artigo 520, inciso VII, do Código de Processo Civil), poder-se-á vislumbrar a incontrovérsia de determinados pedidos. Com efeito, esses pedidos considerados incontroversos, porque não atacados, serão submetidos à efetivação da tutela, e essa, pelo menos em tese, deverá, a depender da obrigação, seguir, no que couber, os preceitos da execução provisória, ainda que não atacados estes pedidos na apelação da sentença, em razão da impossibilidade de cisão de julgados de primeiro grau. Ficará a cargo da doutrina a definição de ser a efetivação da tutela antecipada relativa a pedidos incontroversos, definitiva ou nos moldes da execução provisória, que, em princípio, inclina-se para este último entendimento, ante as previsões dos artigos 273 e 588. Registra-se, aqui, que dessa modalidade de efetivação, apesar de não ter relação com as tutelas de urgência e punitiva, também caberá o recurso de agravo, pois o processo segue quanto à parte incontroversa, quer em primeira, quer em segunda instância. 1.4.1. Momento oportuno para concessão da tutela antecipada No caso de abuso de direito de defesa, só pode ser pedida a tutela antecipada após o oferecimento da resposta do réu. Se a tutela antecipada tiver por base perigo de prejuízo irreparável, é possível o pedido desde a inicial (inaudita altera parts). O Código de Processo Civil não previu a possibilidade de audiência de justificação para a concessão de tutela antecipada, mas isso é perfeitamente admissível. A tutela antecipada pode ser requerida no curso da ação e até mesmo na fase de sentença, desde que a apelação tenha efeito suspensivo, pois, se não tiver, já poderá o autor executar a sentença. Do ponto de vista prático, dar ao Juiz o poder de conceder tutela antecipada na fase da sentença significa dar a ele o poder de tirar da apelação o efeito suspensivo. Cabe novamente relembrar que, com as novas disposições do §. 6.º do artigo 273, não se aplica a concessão de tutela exclusivamente após a contestação, pois, apesar de nosso sistema processual basear-se em preclusões, em determinadas hipóteses, somente quando da sentença poder-se-á vislumbrar a incontrovérsia de determinados pedidos. É um grande equívoco o Juiz dar a sentença e conceder a tutela antecipada dentro da sentença. Se quiser conceder a tutela antecipada na fase da sentença, deverá fazê-lo fora. Isso porque existe o princípio da unirrecorribilidade, relativo aos recursos (de cada decisão cabe apenas um recurso). Assim, se o Juiz conceder a tutela antecipada dentro da sentença, caberá apenas a apelação, ao passo que, se apreciar a tutela antecipada fora da sentença, caberá apelação contra a sentença e agravo de instrumento contra a decisão que conceder a tutela antecipada. Cabe tutela antecipada após a prolação da sentença, porém quem vai apreciar não é o Juiz de 1.ª instância. Deve ser solicitada ao relator do recurso. Contra a decisão do relator cabe “agravo regimental” – que será julgado pela turma do Relator – no prazo de 5 dias. Não é possível conceder tutela antecipada na fase de recurso extraordinário ou recurso especial porque tais recursos não têm efeito suspensivo. 1.5. Observações Gerais em sede de Tutela Antecipada 1.5.1. Tutela antecipada em reconvenção É perfeitamente cabível o pedido de tutela antecipada em reconvenção, pois ela (a reconvenção) tem natureza jurídica de ação. 1.5.2. Tutela antecipada em denunciação da lide O requerimento de tutela antecipada na denunciação da lide só será possível se tiver havido pedido de tutela antecipada na ação principal. 1.5.3. Tutela antecipada em face da Fazenda Pública A Lei n. 9.494/97 limita a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública em certas ações referentes a funcionários públicos. Os Tribunais Regionais Federais, em sua maioria, reputaram-na inconstitucional por violar o princípio da isonomia, bem como o acesso à jurisdição. O pleno do STF, porém, decidiu pela constitucionalidade da lei. 1.5.4. Tutela antecipada no processo de execução Não cabe tutela antecipada no processo de execução porque não há mais o que antecipar; a execução já visa à satisfação do exeqüente. 1.6. A Fungibilidade do pedido Cautelar e Antecipatório As recentes modificações na seara processual civil propiciaram ao juiz um grande poder, descrito no atual §. 7.º, do artigo 273, in verbis: “§ 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.” (NR) O parágrafo 7.º do artigo 273 inova ao tornar possível a fungibilidade entre o pedido de tutela antecipada equivocado e a tutela cautelar, permitindo, destarte, a proteção de direitos da parte. Ainda que sejam levados pedidos cautelares de forma errônea a juízo, revestidos impropriamente de pedido antecipatório substancial, e não protetivos, por erros dos respectivos patronos, o juiz pode utilizar-se do princípio da fungibilidade. O novo dispositivo desrespeita a acessoriedade e a autonomia do processo cautelar; todavia, essa interpretação iconoclasta ocorre com o fito de resolver problemas ante a constatação de situações dúbias, controversas em relação à possível colidência dos institutos a serem aplicados, mesmo que tenha havido erro grosseiro, inescusável, ocasião em que o juiz deve conceder liminarmente o pedido verdadeiramente cautelar, fundamentado em seu poder geral de cautela previsto no artigo 798 do Diploma Processual Civil, cuja finalidade é garantir a real instrumentalidade do processo. Em síntese, a nova sistemática tem por objetivo a não-rejeição de plano do pedido, a ser interpretado com parcimônia, de modo a permitir que eventual erro seja sanado pela fungibilidade, e desde que presentes os requisitos de concessão das cautelares, cabendo ressaltar que é de difícil aplicação em sede de cautelares nominadas, e que a recíproca (concessão de tutela antecipada quando o pedido de cautelar se mostrar equivocado) não é verdadeira. 1.7. A efetivação da tutela antecipada e suas recentes alterações “§ 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e 5o, e 461-A. (NR) . Alteração processada pela Lei n. 10.444/02”. O parágrafo 3.º do artigo 273 amplia a aplicação da execução provisória aos casos de efetivação de tutela antecipada, que, por sua vez, também sofreu inúmeras modificações, a serem oportunamente estudadas. A doutrina, ainda que informalmente, inclina-se para a interpretação do parágrafo 3.º, não de forma cumulativa, mas sim de forma a observar a natureza da obrigação cujos efeitos são antecipados pelo instituto da tutela antecipatória, no que tange à aplicação das regras da execução provisória e execução específica das obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa, pois, uma vez inequívoca a intenção do legislador em buscar a satisfatividade específica do credor, atendendo ao princípio do exato adimplemento, deverá promover a aplicação dos institutos previstos no parágrafo 3.º,de maneira a simplificar a efetivação da tutela. Assim, como, por exemplo, nas obrigações de pagamento de quantia, aplicar-se-ão, em regra, os expedientes da execução provisória do artigo 588; na efetivação da tutela antecipada sobre a entrega de coisa, a priori, aplicam-se os institutos do recém-criado artigo 461-A; e, por fim, na execução das obrigações de fazer e não fazer cabem as proposições do consagrado artigo 461, vigente desde a mini-reforma de 1994. Necessário lembrar que há possibilidade de o juiz aplicar qualquer instituto destes artigos, se entender necessário à eficaz efetivação da tutela antecipada. Em relação à aplicação, no que couber, dos artigos 588, 461 e 461-A para a efetivação da tutela antecipada, parece-nos correto afirmar que, justamente em razão das expressões “no que couber” e “efetivação da tutela”, a eficácia do sistema antecipatório se amplia, admitindo, ao menos em tese, a concessão de tutela antecipada até mesmo em ações de cunho declaratório, desde que não haja escoamento do objeto da ação inicialmente formulada. Amplia-se, conseqüentemente, o entendimento da aplicação de todo o artigo 588, inclusive o seu caput, à efetivação da tutela antecipada, deixando inequívoca, mesmo nesta seara, a idéia da responsabilidade objetiva do credor pelo resultado decorrente da revogação da tutela provisoriamente efetivada, em razão da previsão de correr a execução provisória por conta e risco do credor.
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