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Resumo de Ciência Política 1ª Apresentação CABE A CIÊNCIA POLÍTICA: Estudar o Estado e suas relações com a sociedade, cabendo a esta disciplina o estudo dos diversos aspectos que dizem respeito ao funcionamento das instituições responsáveis por essa sociedade, estudo este que se encontra “atravessado” pelo imbricamento de questões referenciadas ao Estado, ao Governo, à democracia, à Legitimidade, ao Poder. Ciência Política é uma forma de saber que se desenvolve NO TEMPO (uma DISCIPLINA HISTÓRICA), sofrendo, por conta desta característica, contínua transformação – por ser uma CIÊNCIA HISTÓRICA, nela não cabe a experimentação, ao mesmo tempo em que compartilha com outras ciências ditas humanísticas, dificuldades próprias que derivam de algumas das principais características do “agir humano”. - Norberto Bobbio Principais dificuldades que derivam do “agir humano” e que se encontram no cerne das ciências humanísticas e especificamente da Ciência Política: • O homem é um animal teleológico, que age e serve das coisas visando o atingimento de determinados objetivos, nem sempre declarados, nem sempre conscientes. • O homem é um animal simbólico que se comunica com seus semelhantes através de símbolos (dentre eles a linguagem). • O homem é um animal ideológico, o que significa dizer que ele se serve de valores pertinentes ao sistema cultural no qual se encontra inserido, visando a racionalização de seu comportamento, movimento este que permite com que alegue motivações diferentes daquelas que realmente impulsionaram as falas, os comportamentos, as tomadas de decisão A Teoria Geral do Estado tem como finalidade principal a análise do Estado, de todos os seus elementos e dos fatos políticos, visando seu aperfeiçoamento. - Dalmo de Abreu Dallari A Teoria Geral do Estado pode ser entendida como uma disciplina sintetizadora dos principais conhecimentos a respeito do Estado (jurídicos, políticos, sociológicos, filosóficos, históricos, antropológicos, econômicos e psicológicos), visando seu aperfeiçoamento, concebendo-o como uma realidade social e como uma ordem, que busca atingir seus fins com eficácia e justiça. Importante intelectual alemão, Georg Jellinek, a quem se deve a criação da disciplina Teoria Geral do Estado. ABORDAGENS DIFERENCIADAS NA ANÁLISE DO “OBJETO” DE ESTUDO - ESTADO • Abordagem filosófica: trata o Estado como um fenômeno cultural/político; • Abordagem sociológica: trata o Estado como um fenômeno social onde existe uma integração de forças/estratos sociais; • Abordagem jurídica que considera o Estado tão somente como uma entidade geradora de direito positivo; • Abordagem política na qual o Estado é considerado como uma Nação politicamente organizada, o que pressupõe governantes e governados. • De um modo geral o Estado comumente é definido como a organização jurídico- político-administrativa do grupo social que ocupa um território fixo, possui um povo e está submetido a uma soberania. 2ª Apresentação PRINCIPAIS DISCUSSÕES QUE DERIVARAM E QUE CONTINUAM A SE CONFIGURAR COMO DESDOBRAMENTOS RELACIONADOS À TEMÁTICA CENTRAL DA CIÊNCIA POLÍTICA (A CONSTITUIÇÃO E A MANUTENÇÃO DO PODER POLÍTICO): • O problema da obrigação política, tema característico da tradição política liberal. • A questão da legitimidade da dominação presente na formulação de Weber. • A discussão a respeito da hegemonia, presente no pensamento marxista e cuja referência fundamental encontra-se nas formulações de Gramsci. • A questão da governabilidade, presente em uma linha mais conservadora do pensamento político (Crozier, Huntington). Nos países do Ocidente, a democracia é o único regime político capaz de garantir a aceitação dos governados. A busca pela adaptação do rótulo “democrático” para si próprios, o que contribuiu para gerar uma série de democracias “adjetivadas” (democracia islâmica, democracia popular)... No campo da Teoria Política, a teoria da democracia se tornou a preocupação dominante. Também nos estudos empíricos da Ciência Política, a democracia é também uma questão central através, por exemplo de estudos sobre eleições, sobre processos decisórios, sobre elites. É possível afirmar, portanto, que a democracia, há algumas décadas, está a se converter no “horizonte político” de quase toda a Ciência Política. DESAFIOS QUE SE COLOCAM EM RELAÇÃO À CONSTRUÇÃO DE UMA “ORDEM DEMOCRÁTICA: • Relação entre os INTERESSES INDIVIDUAIS e uma “pretensa” vontade coletiva; • Lidar com a capacidade heterogênea que os indivíduos apresentam em determinar suas preferências e interesses segundo seus RECURSOS COGNITIVOS e segundo sua POSIÇÃO SOCIAL; • A construção de uma ordem democrática implica em um desafio gerado pela possibilidade de manipulação da determinação da “vontade coletiva” através do uso estratégico das normas de agregação de preferências PROBLEMAS FUNDAMENTAIS QUE SE APRESENTAM PARA A CONSECUÇÃO DE UMA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: • A separação entre governantes e governados, o que leva à constatação de que as decisões políticas são tomadas, de fato, por um pequeno grupo e não pela massa das pessoas que serão submetidas a elas – QUEM GOVERNA EXERCE DE FATO A SOBERANIA QUE PERTENCE, APENAS, NOMINALMENTE AO POVO; • Como consequência do problema anterior, verifica-se a formação de uma política distanciada da massa da população – nas democracias contemporâneas, especialmente na brasileira, verifica-se uma considerável distância entre a massa da população e a elite política; • Ruptura do vínculo entre a vontade dos representados e a vontade dos representantes; • No caso das representações construídas pela via eleitoral, pode ser constatada a distância entre o momento em que são firmados os compromissos de campanha e o momento do exercício do poder. 3ª Apresentação ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE POLÍTICA O conceito de POLÍTICA é normalmente utilizado para designar uma atividade ou um conjunto de atividades que tem, de algum modo, como termo de referência, a POLIS – em nosso mundo, que tem como termo de referência, de algum modo, o ESTADO. - Norberto Bobbio Pertencem à esfera da POLÍTICA, ou seja, ao âmbito de atuação da POLIS (ou seja, do ESTADO), na condição de “sujeito da ação”, as atividades de comandar (ou de proibir algo), de exercer domínio exclusivo sobre um determinado território, de legislar com normas válidas erga omnes, de extrair/distribuir recursos de um setor da sociedade para outro/outros... ALGUMAS “DEFINIÇÕES” PARA UM CONCEITO DE POLÍTICA NOÇÃO DE PODER – isto quer dizer que quem faz política busca ou exerce o poder, poder que se exerce sobre outro homem ou sobre determinado grupo social.- PRÁXIS HUMANA O homem que se entrega à política, aspira ao poder, seja como instrumento de consecução de determinados fins (ideais ou egoístas), seja pelo desejo do “poder pelo poder”, usufruindo, assim do sentimento de prestígio que o exercício do poder confere.- Weber Sistema social como uma condição voltada para a geração e a distribuição do poder.- Parsons A tomada de decisões através de meios públicos.- Karl Deutsch A política deve ser entendida como a organização e atuação autônoma da cooperação social em um determinado território.- Hermann Heller OBSERVAÇÕES: Uma questão se torna política na medida em que poderá se transformar em uma questão polêmica. A política abrange diferentes significados, estando, porém, todos vinculados, de alguma forma à posse, à manutenção ou à distribuição do poder. “O pior analfabeto é o ANALFABETO POLÍTICO... Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas. O ANALFABETO POLÍTICOé tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política... Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o POLÍTICO VIGARISTA, PILANTRA, CORRUPTO E LACAIO das empresas nacionais e multinacionais...” - BERTOLD BRECHT A IMPORTÂNCIA E O SIGNIFICADO DA POLÍTICA SEGUNDO MAX WEBER “A política é um esforço tenaz e enérgico para atravessar grossas vigas de madeira. Tal esforço exige, a um tempo, paixão e senso de proporções. O PODER POLÍTICO Poder supremo, ao qual todos estão submetidos. O poder se constitui como um dos mais importantes processos sociais das sociedades humanas, não havendo registro histórico de alguma sociedade que o tenha prescindido. Independentemente de sua função ser a organização da vida em sociedade ou o estabelecimento da dominação de um grupo sobre outro, a ascendência do PODER POLÍTICO sobre os demais poderes é um fato indiscutível. AÇÃO POLÍTICA É a que, em termos ideais, determina a vida social, organizando-a, visando a obtenção do bem comum. Pode ser compreendida também como aquela que possibilita a tomada de decisões coletivas por meio de uma comunidade, decisões estas movidas, segundo Hannah Arendt, por um “querer viver junto”. Podemos entender como “decisor”, o agente que, além de elaborar o projeto que abriga os fins a serem atingidos, decidiu engajar-se na sua concretização, tornando-se totalmente responsável por ela. COMO SE DÁ A ORGANIZAÇÃO DA AÇÃO POLÍTICA? Espaço de discussão dos objetivos a serem definidos (partidos, sindicatos, grupos associativos em geral, mídias). Forma de ter acesso à representação do poder (por meio de eleições). Ela deve propor modalidades de controle (internamente às diversas instituições e externamente por movimentos reivindicativos diversos). INSTÂNCIAS IMPLICADAS NA AÇÃO POLÍTICA A instância política é delegada e assume a realização da ação política – por ser uma instância de decisão, deve agir sempre em função do POSSÍVEL. A instância cidadã está na origem na escolha dos representantes do poder – a instância cidadã elege a instância política para realizar o DESEJÁVEL. ALGUNS CONCEITOS DE PODER POLÍTICO Está diretamente ligado a dominação e a violência através do Estado, impondo sua autoridade com a aparência da legalidade, ao mesmo tempo em que obriga os indivíduos à submissão. – Weber Resulta de um consentimento, de uma determinação dos indivíduos em viverem juntos, o poder político não se ligaria à opressão, mas a livre opinião. – Hannah Arendt Implica na existência de um poder comunicativo e de um poder administrativo. – Habermas Os poderes comunicativo e administrativo se definem segundo relação de força que exigem processo de regulação misturando linguagem e ação, no primeiro predomina a linguagem e no segundo a ação. - Charaudeau 4ª Apresentação ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS A RESPEITO DO CONCEITO DE SISTEMA POLÍTICO SISTEMA POLÍTICO O conjunto de atividades políticas que se desenvolvem em uma sociedade, indo muito além dos conceitos de governo, de Nação, de Estado. O conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza a fim de exercer o seu poder sobre a sociedade. Cabe notar que esta definição é válida mesmo que o governo seja considerado ilegítimo. Assim, um SISTEMA POLÍTICO abrange não apenas organizações governamentais (legislativos, cortes de justiça, órgãos administrativos), mas também todas as estruturas sociais, incluindo grupos familiares e sociais, em seus aspectos políticos. A presença de novos movimentos sociais, reivindicando a ação política dentro da sociedade civil, se constitui como uma “nova forma de fazer política” para além do binômio institucional tradicional PÚBLICO-PRIVADO. - Claus Offe - As ações destes novos movimentos sociais, para que sejam “aceitas”, “registradas”, “reconhecidas”, “legitimadas”, devem estar relacionadas a objetivos que sejam assumidos pela sociedade. - Tais movimentos não buscam, necessariamente, o exercício do poder, aspirando, entretanto, que o poder os leve em consideração na formulação de determinadas políticas públicas e que, ao mesmo tempo, não interfira em aspectos de seu interesse. - Seus interesses seriam “pós-materiais”, relacionando-se, por exemplo, a temáticas de “identidade sexual”, meio ambiente, ao mesmo tempo em que suas formas de organização se constituiriam de forma menos rígida, atuando, muitas vezes de maneira informal e/ou descontínua. “Sistema político corresponde a qualquer padrão razoavelmente constante de relações humanas que implique, significativamente, em PODER, GOVERNO ou AUTORIDADE.” - Robert Dahl ALGUMAS CARACTERÍSTICAS CONSTANTES DOS SISTEMAS POLÍTICOS, SEGUNDO ROBERT DAHL: • Controle desigual dos recursos políticos • A busca pela influência política • Objetivos conflituosos/concorrentes • Busca/aquisição de legitimidade • O impacto de outros sistemas políticos e influência da mudança • Desenvolvimento de uma ideologia DISCURSO POLÍTICO COMO PROCESSO DE INFLUÊNCIA SOCIAL O conjunto de atos de linguagem que circulam no mundo social, refletindo tudo aquilo que se constitui nos universos do pensamento e dos valores que se impõem em um tempo histórico determinado. Ainda que o discurso político não esgote todo o conceito político, NÃO HÁ POLÍTICA SEM DISCURSO. A AÇÃO POLÍTICA e o DISCURSO POLÍTICO estão inevitavelmente ligados, permitindo que o estudo político se faça pelo discurso (pela análise do discurso). OS LUGARES DE FABRICAÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO • Como sistema de pensamento resulta de uma atividade discursiva que busca fundar um ideal político a partir de certos princípios que sirvam de referência para a construção de opiniões e posicionamentos. • Como ato de comunicação relaciona-se diretamente aos atores que participam da cena da comunicação política objetivando a obtenção de adesões, rejeições ou consensos – o discurso político como ato de comunicação resulta de aglomerações que estruturam em parte a ação política. • Como comentário tem como propósito o conceito político, cuja finalidade está fora do campo da ação política, sendo um discurso a respeito do político, sem o risco político. AS ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS UTILIZADAS PELO SUJEITO POLÍTICO PARA ATRAIR A SIMPATIA DO PÚBLICO DEPENDEM DE VÁRIOS FATORES, TAIS COMO: • A identidade social do sujeito político enunciador do discurso; • A maneira como o político percebe a opinião pública (que pode ser favorável, desfavorável ou indiferente). • O caminho para se atingir esta opinião pública. • A “posição” dos demais atores políticos (parceiros ou adversários). • Os “alvos” a serem defendidos ou atacados: pessoas, ideias ou ações. A MENTIRA SE CONSTITUI EM UM ATO DE LINGUAGEM QUE SE VINCULA A TRÊS CONDIÇÕES BÁSICAS: • o sujeito que fala diz, na condição de portador de uma identidade discursiva, o contrário daquilo que sabe ou julga como indivíduo pensante. • o sujeito que fala deve saber que aquilo que diz é contrário ao que pensa (neste sentido, não há mentira que não seja voluntária). • o sujeito que fala deve fazer com que o interlocutor creia que o que está sendo enunciado é idêntico àquilo que ele (interlocutor) pensa. A mentira pode se configurar pelo silêncio, pela omissão, pela dissimulação, pela fabulação ou pelo blefe.
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