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Infiltração Prof.ª Andréa de Oliveira Cardoso Este processo depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior. A água infiltrada no solo preenche os poros originalmente ocupados pelo ar, sendo o solo uma mistura de materiais sólidos, líquidos e gasosos. Quando um solo tem seus poros completamente ocupados por água, diz-se que está saturado. Ao contrário, quando está completamente seco, seus poros estão completamente ocupados por ar. Infiltração é o processo de passagem de água da superfície para o interior do solo. Importância da infiltração: diminuir o escoamento superficial; reduzir as cheias e inundações; minimizar as erosões; abastecer os aquíferos e sustentar o fluxo nos rios durante as estiagens; contribuir para o crescimento da vegetação; Uma chuva que atinge um solo seco será inicialmente absorvida quase totalmente pelo solo, enquanto o solo apresenta muitos poros vazios de água (com ar). À medida que os poros vão sendo preenchidos, a infiltração tende a diminuir; Cessada a infiltração, a camada superior atinge um “alto” teor de umidade, enquanto que as camadas inferiores apresentam-se ainda com “baixos” teores de umidade; Há uma tendência de um movimento descendente da água provocando um molhamento das camadas inferiores (via percolação); Além disso, parte da água é transferida para a atmosfera por evaporação direta ou por transpiração dos vegetais; Esses dois últimos processos faz com que o solo vá recuperando a capacidade de infiltração tendendo a um limite superior à medida que as camadas superiores do solo se tornam mais secas. Processos relacionados a infiltração Zona de aeração: Camada superior onde os poros estão parcialmente cheios d’água. Zona de saturação: Imediatamente abaixo onde os poros estão repletos de água. A água mantêm-se pela atração molecular e pela ação da capilaridade, agindo contra a força da gravidade. Após a saturação começa a deslocar- se para baixo. (faixa de Umidade do Solo) Retém a água por atração molecular e capilaridade, estando os seus poros parcialmente ocupados pela água. É a região mais próxima ao nível de água do lençol freático, onde a umidade é maior devido à presença da zona saturada logo abaixo. A água é retida por capilaridade. É a região abaixo do lençol freático (nível freático) onde os poros ou fraturas da rocha estão totalmente preenchidos por água. Constitui a água subterrânea, cujo movimento se deve à ação da gravidade. Lençol freático Perfil de água no solo Condição da superfície: Áreas urbanizadas apresentam menores velocidades de infiltração que áreas agrícolas, principalmente quando estas têm cobertura vegetal. Tipo de solo: A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade e com o tamanho das partículas do solo. Por exemplo, a presença de argila no solo diminui sua porosidade, não permitindo uma grande infiltração. Umidade do solo: Quando a água é aplicada em um solo seco, não há movimento descendente dessa água até que as partículas do solo estejam envolvidas por uma fina película de água. Solo compactado: Solos nus podem se tornar parcialmente impermeáveis pela ação compactadora das grandes gotas de chuva, pelo tráfego constante de homens, veículos ou animais. Fatores que interferem na capacidade de infiltração: Cobertura vegetal: Um solo coberto por vegetação é mais permeável do que um solo desmatado. O sistema radicular das plantas cria caminhos preferenciais para o movimento da água no solo. Inclinação do terreno: Em declividades acentuadas a água corre mais rapidamente, diminuindo o tempo de infiltração. Temperatura: A velocidade de infiltração aumenta com a temperatura, devido à diminuição da viscosidade da água. Tipo de chuva: Chuvas intensas saturam rapidamente o solo, ao passo que chuvas moderadas têm mais tempo para se infiltrar. Carga hidráulica: Quanto maior for a carga hidráulica, isto é, a espessura da lâmina de água sobre a superfície do solo, maior deverá ser a taxa de infiltração. Fatores que interferem na capacidade de infiltração: A equação de balanço hídrico de uma camada de solo pode ser expressa pela equação: Balanço de água no solo A infiltração é a diferença entre a precipitação (P) e o escoamento superficial (Q). Em condições naturais a umidade do solo varia ao longo do tempo, sob o efeito de fatores climáticos (precipitação e temperatura) e pela evapotranspiração. A percolação é a passagem da água da camada superficial do solo para camadas mais profundas. ΔV = P −Q −G − ET Onde, ΔV é a variação de volume de água armazenada no solo; P é a precipitação; Q é o escoamento superficial; G é a percolação e ET é a evapotranspiração. O movimento da água em um solo saturado pode ser descrito pela Equação de Darcy: Movimento da água no solo O gradiente hidráulico (dH/dz) representa a força responsável pelo escoamento da água no solo. O sinal negativo na equação de Darcy indica que o escoamento se estabelece do maior para o menor potencial. É limitada para gradiente hidráulico pequeno. A condutividade hidráulica dependente do tipo de material poroso. Aplicável somente: 1) Condutividade hidráulica do solo não for nula. 2) Há diferença de potencial entre os pontos considerados. Solo não-saturado: é considerada a variação da condutividade hidráulica com o teor de umidade do solo, tendo esta como limite superior o próprio valor da condutividade hidráulica do solo saturado. q = velocidade de Darcy, mm/h; (tensão) associado às propriedades físicas da matriz de poros Capacidade de Infiltração: É a quantidade máxima de água que pode infiltrar no solo, em um dado intervalo de tempo, sendo expressa geralmente em mm/h. É a infiltração que pode ocorrer se houver precipitação maior ou igual a esta taxa. Quando o solo está próximo da saturação, a capacidade de infiltração permanece constante e aproximadamente igual à condutividade hidráulica do solo saturado. Determinada pela relação entre a quantidade de água que atravessa a unidade de área do material do solo e o tempo. Depende da permeabilidade e do gradiente hidráulico (tipo de solo e teor de umidade), conforme determinado pela Lei de Darcy. Velocidade de infiltração Variação da infiltração com o tempo O modelo de infiltração de Horton indica que se a precipitação exceder a capacidade de infiltração, a infiltração tende a diminuir de forma exponencial. Precipitação Curva de capacidade de infiltração Viessman e Lewis, 2002. Onde, t = tempo decorrido desde a saturação superficial do solo; It = taxa de infiltração no tempo t; Ii = taxa de infiltração inicial (t=0); Ib = taxa mínima de infiltração (condição de saturação); e k = constante de diminuição da taxa de infiltração. Equação de Horton: Equação empírica para representar o decaimento da infiltração com o tempo: A partir de experimento de campo por Horton (1939); Solo submetido a uma precipitação com intensidade sempre superior à capacidade infiltração. It = Ib + (Ii-Ib).e -kt Decaimento da infiltração com o tempo Onde t = tempo decorrido desde a saturação superficial do solo; fp= capacidade de infiltração no tempo t; fo= capacidade de infiltração inicial (t=0); fc = capacidade de equilíbrio ou capacidade final (condição de saturação); k = constante representando a taxa de diminuição da capacidade de infiltração. A capacidade mínima de infiltração fc, teoricamente seria igual à condutividade hidráulica saturada Ksat, se não houvesse o efeito do ar aprisionado no interior do solo, dificultandoa infiltração. Por isso normalmente, fc é menor que Ksat Pode também ser expressa através da taxa de infiltração: (1) O volume infiltrado acumulado até o tempo t, contado a partir do momento em que a precipitação excede a capacidade de infiltração do solo, é obtido integrando a Equação de Horton com relação ao tempo, conforme: tIe k II V b ktbi f )1(Podendo também ser expresso conforme => O volume infiltrado (Vf) é dado por: Volume infiltrado a partir da saturação tfe k ff V c ktc f )1(0 Capacidade de infiltração (Ic) é a taxa de infiltração que pode ocorrer se houver precipitação (P) maior ou igual a esta capacidade. Capacidade de Infiltração x Taxa de infiltração Infiltração real (Ir) : é a taxa de infiltração que realmente ocorre em cada intervalo de tempo, conforme: Se P > Ic Ir = Ic Se P < Ic Ir = P 1) Dada uma capacidade de infiltração inicial f0 2,9 mm/h e uma taxa de diminuição da capacidade de infiltração k=0,28 h-1, estime o volume total da água infiltrada (em mm) sobre a bacia nas 8 primeiras horas, para o caso de uma capacidade de infiltração final 0,50 mm/h. Considere que neste caso o solo foi submetido a uma precipitação com intensidade sempre superior à capacidade infiltração. Exercício em sala: O volume infiltrado é obtido através da integração da Equação de Horton, dado por: Sendo, f0=2,9 mm/h, k=0,28h -1, fc=0,50 mm/h e t=8h, tem-se: Solução do exercício 1) tfe k ff V c ktc f )1(0 65,118.50,0)1( 28,0 50,09,2 8.28,0 eV f 2) Com base na variação da capacidade de infiltração, discuta a infiltração real que ocorre nos diferentes intervalos de tempo, conforme demonstrado no gráfico abaixo: Exercício em sala: D E Algoritmo de Berthelot: Utiliza o modelo de Horton com algumas modificações. Este algoritmo calcula a infiltração (entrada) e a percolação (saída) de água na camada superior do solo, combinando num balanço hídrico, a equação da continuidade, a equação de Horton e uma equação empírica para a percolação. Bastante conveniente à simulação matemática do escoamento em bacias hidrográficas, porque além de avaliar o que infiltra ou escoa superficialmente, também determina a percolação que vai compor o escoamento subterrâneo ou de base. Tal algoritmo equaciona diferentes casos que podem ocorrer dada uma precipitação Pt constante entre t e t+1 (casos em que a precipitação pode ser maior ou igual a capacidade de infiltração ou que pode ser menor). As deduções das equações podem ser encontradas no livro Hidrologia: Ciência e Aplicação (Tucci, 2007). Infiltrômetros de anel: • São aparelhos para determinação direta da capacidade de infiltração do solo. Consistem basicamente por dois cilindros concêntricos e um dispositivo de medir volumes da água ligado ao cilindro interno. • A razão da existência do cilindro externo é prover a quantidade de água necessária ao umedecimento lateral, atenuando o efeito da dispersão da água no tubo interno. • A água é colocada, ao mesmo tempo nos dois anéis e, com uma régua graduada, faz-se a leitura da lâmina d’água no cilindro interno ou anota-se o volume de água colocado no anel, com intervalos de tempo pré-determinados. • A diferença de leitura entre dois intervalos de tempo, representa a infiltração vertical neste período Medições para a determinação da capacidade de infiltração: Simuladores de Chuva: • São equipamentos nos quais a água é aplicada por aspersão, com intensidade de precipitação superior à capacidade de infiltração do solo. • O objetivo é coletar a lâmina de escoamento superficial originada pela aplicação de uma chuva com intensidade superior à capacidade de infiltração do solo. • A aplicação de água é realizada sobre uma área delimitada com chapas metálicas tendo, em um dos seus lados, uma abertura a fim de ser possível a coleta do escoamento superficial. • A taxa de infiltração é obtida pela diferença entre a intensidade de precipitação e a taxa de escoamento resultante. Infiltrômetro de aspersão pendular Medições para a determinação da capacidade de infiltração: Referências Bibliográficas: PINTO, Nelson L. de Souza et al. Hidrologia básica. 11 ed. São Paulo: Edgarb Blucher, 2008. TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. Editora da Universidade – ABRH, Porto Alegre, 4ª ed., 2007, 943 p. VIESSMAN, W. ; LEWIS, G. L. Introduction to Hydrology. 5 ed. Publisher: Prentice Hall, 2002, 612 p.
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