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Aula 6 Obrigações de Divisíveis e Indivisíveis Introdução às Obrigações Solidárias

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 CENTRO UNIVERSIÁRIO ESTÁCIO DE BRASÍLIA Campus Estácio - Asa Sul - Brasília
DIREITO CIVIL II - CCJ0013
Semana Aula: 6
Obrigações de Divisíveis e Indivisíveis; Introdução às Obrigações Solidárias
Tema
Obrigações de Divisíveis e Indivisíveis; Introdução às Obrigações Solidárias    
Palavras-chave
Obrigação – divisível – indivisível - solidária
Objetivos
Conceituar obrigações divisíveis e indivisíveis e compreender seus reflexos jurídicos.
Conceituar obrigações solidárias.
Compreender os princípios gerais das obrigações solidárias.
Estrutura de Conteúdo
 
Obrigação Divisível
Conceito
Reflexos jurídicos
Obrigação Indivisível
Conceito
Reflexos jurídicos
Introdução às Obrigações Solidárias
Conceito
Princípios Gerais
Procedimentos de Ensino
O presente conteúdo deve ser trabalhado nas duas aulas da sexta semana. É possível trabalhá-lo em uma única semana, podendo o professor dosar o conteúdo de acordo com as condições (objetivas e subjetivas) apresentadas pela turma.
 
 
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
 
Tratam-se de obrigações complexas com multiplicidade de sujeitos. O Código Civil de 2002 limitou-se, no art. 258, a conceituar apenas as obrigações indivisíveis: a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão[1], por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Assim, embora a (in) divisibilidade da prestação seja comumente confundida com a (in)divisibilidade do objeto (art. 87, CC), a confusão é descabida, uma vez que aquele conceito é, antes de tudo, jurídico e não material.
 
Destaca Caio Mário da Silva Pereira (2008, p. 70) que obrigação divisível é aquela que, uma vez fracionada, suas partes não perdem as características essenciais do todo nem sofrem depreciação acentuada. 
 
Os reflexos jurídicos destas modalidades de obrigações aparecem quando há multiplicidade[2] de credores, ou de devedores, não sendo a obrigação solidária[3]:
Se a obrigação é divisível[4], cada credor só tem direito a uma parte, podendo reclamá-la, independentemente dos demais sujeitos. Por seu turno, cada devedor responde exclusivamente pela sua quota parte, liberando-se assim com o respectivo pagamento (art. 257, CC). Aplica-se o brocardo concursu partes fiunt (as partes se satisfazem pelo concurso).
Se a obrigação for indivisível, cada credor pode exigir o cumprimento integral, assim como cada devedor responde pela totalidade (art. 259, CC), não se admite pagamento pro parte.
I. Portanto, na unidade de devedor e de credor, a prestação é realizada na sua integralidade, a não ser que as partes tenham ajustado do contrário.
II. Sendo o bem indivisível, e, havendo mais de um devedor, se eles não pagarem a dívida de forma equânime ou se somente um deles a pagar, o devedor que realizou o pagamento (sozinho) sub-roga-se no direito de credor em relação aos outros demais coobrigados (art. 259, parágrafo único, CC).
III. Se plurais os credores e a obrigação indivisível, qualquer deles pode demandar o devedor pela dívida inteira, e, recebendo a prestação, torna-se a seu turno devedor dos demais credores, pela quota-parte de cada um (obedecendo no rateio a que o título estabeleceu ou no silêncio deste a divisão em partes iguais). Quando o bem for indivisível, aquele que dele tiver posse deverá dar, em espécie, o equivalente aos outros credores, ou, se assim desejarem, constituir condomínio entre si (art. 261, CC).
IV. O devedor de obrigação indivisível, por sua vez, desobriga-se pagando a todos conjuntamente, ou a um só, desde que dê caução[5] de ratificação  dos demais (art. 260, CC). 
V. Além do pagamento, pode a dívida extinguir-se pela remissão, que o faça o credor, como, ainda, por transação, novação, compensação ou confusão, formas de pagamento que serão estudadas oportunamente. Assim, por exemplo, se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só poderão exigir descontada (leia-se reembolsando-se) a quota parte do credor remitente.
VI. No caso de perda do objeto de obrigação indivisível, converter-se-á em divisível. Havendo multiplicidade de devedores e culpa recíproca, todos responderão proporcionalmente (pro rata). Quando nem todos forem culpados cada um será responsabilizado com base no ato que praticou (art. 263, CC). 
Sobre a redação dada ao art. 263, CC, adverte Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 95) que a exoneração mencionada no §2º, do art. 263, segundo entendimento majoritário, é total, pois, atinge tanto a obrigação quanto a indenização suplementar. [...]. 
Mas a questão não é pacífica, havendo quem entenda que, existindo culpa de um dos devedores na obrigação indivisível, aqueles que não foram culpados continuam respondendo pelo valor da obrigação; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Assim entende Álvaro Villaça de Azevedo [...]. Sugere-se que o professor apresente esses posicionamentos aos alunos e indique com o qual concorda.
 
 
OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 
 Tratam-se, também, de obrigações complexas com multiplicidade de sujeitos.
 
As obrigações solidárias são comuns no Direito brasileiro, sendo certo que a solidariedade é na verdade, um artifício técnico utilizado para reforçar o vínculo, facilitando o cumprimento ou a solução da dívida[6]. Então, há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou com responsabilidade pela dívida toda, como se fosse o único (art. 264, CC). Assim, internamente serão tantos vínculos quantos forem os sujeitos, mas, externamente, aparecem como se fossem um único credor ou um único devedor (responsabilidade in solidum).
 
 "A obrigação será solidária quando a totalidade do seu objeto puder ser reclamada por qualquer dos credores ou qualquer dos devedores" (Silvio de Salvo Venosa), caracterizando-se, dessa forma, pela necessária coincidência de interesses entre os sujeitos. 
 
Questiona-se qual seria a natureza jurídica das obrigações solidárias:
a)    Tese unitária: considera que entre credores e devedores solidários há uma espécie de mandato tácito e recíproco. A aceitação desta tese implica que se impossibilitando a prestação por culpa de um dos coobrigados, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente e os juros de mora e para o culpado a responsabilidade pelas perdas e danos. Pontes de Miranda, Orlando Gomes e Inácio de Carvalho Neto afirmam que o Código Civil teria adotado essa tese, mas com as consequências da tese pluralista.
b)    Tese pluralista: reconhece que cada credor ou devedor solidário age em nome e no interesse próprio e, por isso, há tantos vínculos quantos forem os sujeitos, permitindo-se que a obrigação seja pura e simples para um e condicional para outra. Portanto, a solidariedade só se manifesta nas relações externas, o que explica a desnecessidade de constituição de litisconsórcio.
 
Nesta modalidade de obrigação o efeito fundamental é o mesmo das obrigações indivisíveis, mas nesse caso a possibilidade de reclamar a totalidade não deriva da natureza da prestação, mas da vontade das partes ou da lei; como pode ser observado no art. 265 do Código Civil. 
 
São princípios comuns às obrigações solidárias: 
 
Unidade da prestação (qualquer que seja o número de credores ou devedores, a prestação é única). Então a quitação dada por um dos credores, ou o pagamento integralmente feito por um dos devedores, extingue a obrigação.
II.    Pluralidade e independência do vínculo. A prestação pode ser pura e simples para algum dos devedores e pode estar sujeita à condição, ao prazo ou encargo para outros segundo (art. 266, CC). 
III.   Co-responsabilidade entre os sujeitos (responsabilidade in solidum).
IV.   Intransmissibilidade. Morrendo um dos credores ou devedores, a solidariedade não se transmite aosseus herdeiros cujos direitos e deveres se restringirão ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.
V.     A solidariedade não se presume (art. 265, CC), decorre da vontade das partes[7] ou da lei (ex.: arts. 932, III e 942 e parágrafo único, CC; 154; 585; 680; 1.986; CC). A solidariedade não pode decorrer de sentença, uma vez que o juiz não pode condenar solidariamente se esta não era preexistente.
 
São espécies de obrigações solidárias[8]:
a)     Solidariedade ativa (arts. 267 a 274, CC): pluralidade de credores, cada um com direito à integralidade da dívida.
b)     Solidariedade passiva (arts. 275 a 285, CC): pluralidade de devedores, cada um respondendo pela integralidade da dívida.
c)     Solidariedade mista: pluralidade de credores e devedores.
 
Após conceituá-las brevemente, deve o professor ressaltar que apenas as duas primeiras estão previstas no Código Civil, aplicando-se às híbridas as regras previstas para as demais. 
 
Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação aos tópicos abordados. Após, deve realizar breve síntese dos principais aspectos abordados nesta semana dando ênfase especial aos exemplos trabalhados, preparando o aluno para o próximo tópico: obrigações solidárias passivas e ativas.
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[1] Quanto à indivisibilidade, advertem Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 181) que ?a indivisibilidade pode ser material ou jurídica e decorre da própria natureza do bem, da lei ou da vontade das partes. Pode ser física, pela própria natureza da coisa [individuum natura (um automóvel), legal [individuum obligationem] (indivisibilidade do lote urbano com menos de 125m² - Lei n.. 6.766/79) ou contratual [?individuum obligationem] (condôminos que acordam em não dividir o imóvel, mantendo-o em estado de indivisão por cinco anos ? art. 1.320, CC).
[2] A multiplicidade de sujeitos pode ser originária, quando nasce com a própria obrigação, ou derivada como no caso de herança.
[3] Não se pode confundir indivisibilidade com solidariedade. A causa da solidariedade é o título; a da indivisibilidade é normalmente a natureza da obrigação; na solidariedade, o credor pode exigir de qualquer devedor solidário o pagamento integral da prestação, porque qualquer deles é devedor do todo. Na indivisibilidade, o credor pode reclamar igualmente, de qualquer co-devedor, satisfação integral, não porque o demandado seja devedor do total exigido (ele só deve parte), mas porque a prestação, sendo indivisível, não comporta execução fracionada; a solidariedade é uma relação subjetiva; a indivisibilidade uma relação objetiva; a indivisibilidade assegura a unidade da prestação; a solidariedade visa facilitar a satisfação do crédito; a solidariedade cessa com a morte dos devedores, a indivisibilidade subsiste; a solidariedade conserva este atributo ainda que convertida em perdas e danos; a indivisibilidade termina quando se converte em perdas e danos (Caio Mário da Silva Pereira).
[4] Washington de Barros Monteiro (2008, p. 139) aponta como consequências das obrigações divisíveis: cada um dos credores só tem direito de exigir sua fração no crédito; de modo idêntico, cada um dos devedores só tem de pagar a própria quota no débito; se o devedor solver integralmente a dívida a um só dos vários credores, não se desobrigará com relação aos demais concredores; o credor que recusar o recebimento de sua quota, por pretender solução integral, pode ser constituído em mora; a insolvência de um dos co-devedores não aumentará a quota dos demais; a suspensão da prescrição especial a um dos devedores não aproveita aos demais (art. 201, CC); a interrupção da prescrição por um dos credores não beneficia os outros (art. 204, CC), operada contra um dos devedores não prejudica os demais.
[5] Entendem Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 182) que ?a referida caução é um documento no qual se insere uma garantia de aprovação da quitação unilateral por parte dos outros credores?.
[6] Destaca Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 104) que ?dois fatores respondem pela grande importância da solidariedade em matéria de obrigação: a segurança e a comodidade. É evidente que, se vários devedores respondem, por inteiro, por um só débito, a garantia é muito maior. Por outro lado, a possibilidade de cobrar ou pagar a cada qual dos co-réus implica relevante expediente que facilita o tráfico dos negócios. A correalidade [solidariedade perfeita] tem sido apontada como uma criação do Direito, para o fim de melhor garantir a eficácia da obrigação, ligando vários devedores à mesma dívida por modo completo e facilitando a vários credores a cobrança respectiva pelo modo mais pronto e eficaz.
[7] Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 185) entendem que apesar do art. 265 do Código localizar a gênese da obrigação solidária em cláusulas contratuais ou na imposição normativa, parece-nos que o seu nascimento também poderá resultar da leitura dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato. Interpretando-se os negócios jurídicos à luz das teorias da confiança e da responsabilidade (art. 113, CC), entendemos que as legítimas expectativas depositadas em uma das partes da relação jurídica poderão atrair a responsabilidade solidária de outras pessoas, além daquela com que a parte havia contratado?.
[8] A doutrina aponta a existência de solidariedade simples (ou imperfeita) e a correalidade (perfeita). Ensina Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 106) que existe solidariedade simples ou imperfeita quando ao obrigação de cada devedor e respectivamente o direito de cada credor procedem de causas independentes, e constituem outras tantas relações obrigatórias distintas. Existe solidariedade perfeita ou correalidade (correalidade vem de co-réus) quando a obrigação de cada devedor ou o direito de cada credor tem origem em um só e mesmo ato, constituindo uma relação obrigatória única?. Distinção que parece não ter sido acolhida pelo Direito brasileiro.
Estratégias de Aprendizagem
Indicação de Leitura Específica
Recursos
Quadro e pincel; datashow    
Aplicação: articulação teoria e prática
Caso Concreto
 
Antônio, Bernardo e Carlos vendem a Diego o quadro "X" de Rafael, que deverá ser entregue dentro de 6 meses. Foi estipulado que, em caso de inadimplemento da obrigação, deveria ser paga multa de R$ 90.000,00. Por ocasião do adimplemento da obrigação, Bernardo verificou que o quadro fora destruído juntamente com alguns objetos antigos, por descuido de Antônio. Diego ingressou em juízo, para pleitear seus direitos, em face de Antônio, Bernardo e Carlos para receber a multa de R$ 90.000,00. Os  amigos devedores rebelaram-se contra isso e procuraram um excelente advogado, que fizera seu curso de Direito na Universidade Estácio de Sá. 
Pergunta-se: Qual a defesa apresentada por este advogado?
 
Questão Objetiva
 
Sobre as obrigações solidárias é correto afirmar:
a) A solidariedade pode ser presumida em se tratando de obrigação derivada de ato ilícito.
b) Havendo a morte de um dos devedores solidários, cada um de seus herdeiros está obrigado a pagar a cota que corresponder ao seu quinhão hereditário, a menos que seja indivisível a obrigação.
c) O conteúdo da obrigação solidária deve ser exatamente o mesmo para todos os devedores.
d) O pagamento feito pelo devedor a um dos credores solidários não extingue inteiramente a dívida, pois aqueles que não receberam o seu crédito poderão demandar o devedor comum para receber a sua quota parte, segundo o princípio de que “quem paga mal, paga duas vezes”.
Avaliação
Caso Concreto 
Antônio, Bernardo e Carlos vendem a Diego o quadro "X" de Romero Brito, que deverá ser entregue dentro de 6 meses. Foi estipulado que, em caso de inadimplemento da obrigação, deveria ser paga multa de R$ 90.000,00. Por ocasião do adimplemento da obrigação, Bernardo verificou que o quadro fora destruído juntamente com algunsobjetos antigos, por descuido de Antônio. Diego ingressou em juízo, para pleitear seus direitos, em face de Antônio, Bernardo e Carlos para receber a multa de R$ 90.000,00. Os amigos devedores rebelaram-se contra isso e procuraram um excelente advogado, que fizera seu curso de Direito na Universidade Estácio de Sá. 
Pergunta-se: Qual a defesa apresentada por este advogado?
Sugestão de gabarito: Por ser indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena, mas esta só poderá ser exigida integralmente do culpado, pois os demais responderão apenas pela sua quota, tendo ação regressiva contra o que deu causa à aplicação da pena.
Questão Objetiva 
Sobre as obrigações solidárias é correto afirmar:
a) A solidariedade pode ser presumida em se tratando de obrigação derivada de ato ilícito.
b) Havendo a morte de um dos devedores solidários, cada um de seus herdeiros está obrigado a pagar a cota que corresponder ao seu quinhão hereditário, a menos que seja indivisível a obrigação.
c) O conteúdo da obrigação solidária deve ser exatamente o mesmo para todos os devedores.
d) O pagamento feito pelo devedor a um dos credores solidários não extingue inteiramente a dívida, pois aqueles que não receberam o seu crédito poderão demandar o devedor comum para receber a sua quota parte, segundo o princípio de que “quem paga mal, paga duas vezes”.
Gabarito: LETRA B
Considerações Adicionais
Prof. René Dellagnezze

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