Buscar

SOCIOLOGIA JURÍDICA - CADERNO PROVA 02 - GEOVANE PEIXOTO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
Sociologia Jurídica – Ana Lúcia Sabadell 
Lição 02 – Abordagem Sociológica do Sistema Jurídico 
Surge, ao final do século XIX e, principalmente, no início do século XX a 
Sociologia Jurídica. Não havia uma definição do ponto de vista epistemológico 
que ali existia a Sociologia do Direito, mas já era clara escritos da perspectiva 
sociológica o mundo do direito. Nesse contexto, foi iniciada por Durkheim e 
principalmente Weber, com a sua obra “Economia e Sociedade”, na qual ele faz 
longa análise do papel do direito a partir da análise sociológica e não mais 
dogmática. Ou seja, estudavam os vários fenômenos sociais, analisando o 
direito ao lado da economia, moral, política, classes sociais, religião, família, etc. 
A Sociologia Jurídica nasce como disciplina no início do século XX, 
quando os fenômenos jurídicos começam a ser analisados por meio dos 
métodos da sociologia geral. Nesse sentido, o nascimento real da Sociologia do 
Direito se dá pelo italiano Carlo Nardi-Greco, considerado o fundador da 
disciplina. Contudo, quem inseriu o estudo da Sociologia do Direito nas 
universidades foi o professor Norberto Bobbio, com a sua obra “Da estrutura à 
função”. 
O positivismo jurídico, corrente muito importante ao pensamento jurídico, 
tem o formalismo como característica. Nesse aspecto, Bobbio, em sua obra, 
propõe uma evolução na estrutura do positivismo, através da sociologia jurídica. 
Embora Nardi-Greco tenha sido o pai, a obra mais importante para a 
definição da Sociologia Jurídica foi a obra de Ehrlich “Fundamentos da 
Sociologia do Direito”. Mais uma vez temos uma análise epistemológica. Ele diz 
que em uma sociedade existem vários ordenamentos jurídicos (direito da 
comunidade, direito do Estado, direito dos juristas), organizados em multiníveis 
de ordenamentos na sociedade, tendo que partir para uma discussão 
metodológica, analisando sociologicamente esses ordenamentos e não discutir 
quantos existem. 
No Brasil, foi Queiroz Lima que inaugurou essa abordagem sociológica 
com a obra “Princípios da Sociologia Jurídica” que foi, em verdade, uma 
introdução à sociologia. Nesse sentido, a obra de fato que trouxe a Sociologia 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
do Direito ao Brasil foi a de Pontes de Miranda, com a obra “O sistema da ciência 
positiva do direito”. Dessa forma, foi o primeiro que abriu o debate da Sociologia 
Jurídica e o fez com uma perspectiva positivista. Vale lembrar que o pai da 
Sociologia, August Comte, também era positivista, ou seja, a sociologia tem em 
sua base o positivismo. 
Ainda no pensamento de Erlich, parte-se da premissa que o direito é um 
fato social ou função da sociedade, sendo ele analisado na sociedade ou a partir 
dela, nunca, portanto, algo externo à sociedade. Ou seja, do direito se manifesta 
como uma das realidades observáveis na sociedade: a sua criação, evolução e 
aplicação podem ser explicadas por meio da análise de fatores, de interesses e 
de forças sociais, tendo o direito uma única fonte: a vontade do grupo social. 
Nesse sentido, foram desenvolvidas duas perspectivas de abordagem: a 
Sociologia do Direito e a Sociologia no Direito. 
Sociologia do Direito: A Sociologia do Direito é a sociologia baseada na 
observação, na análise sem intervenção. Portanto, coloca-se em uma 
perspectiva externa ao sistema jurídico. Ou seja, há aí uma função analítica, 
definindo análises na perspectiva sociológica do problema. É uma abordagem 
positivista, pois ela observa, sem intervenção; faz-se uma junção dos 
pensamentos weberianos e kelsenianos, na medida em que na obra de Weber, 
ele queria construir uma sociologia livre de avaliações (“neutralidade axiológica” 
do pesquisador) e Kelsen versa sobre a pureza da ciência jurídica que não deve 
ser confundida nem misturada com análises filosóficas ou sociológicas. Ou seja, 
a sociologia jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do direito, 
tratando-se, apenas, do conhecimento zetético, pois tem início, meio e o final 
significa um novo início, permitindo conclusões sociológicas e não jurídicas, 
portanto não pode interferir nas decisões jurídicas. A sua tarefa é a de ser um 
observador neutro do sistema jurídico. 
Assim, essa abordagem diz que é possível a aplicação imparcial do 
direito, onde o juiz deverá ser o mais neutro possível. Contudo, ao admitir a 
contribuição de outros ramos, corre-se o risco de que estes venham a interferir 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
na aplicação do direito. Portanto, exclui-se disciplinas como a filosofia, a história 
do direito, a criminologia, a psicologia jurídica, etc. 
Sociologia no Direito: Aqui, diferente da Sociologia do Direito, adota-se 
uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico, havendo a intervenção, 
tendo por finalidade intervir na solução do problema e não só o observar. É, 
portanto, uma abordagem evolucionista e não mais positivista, onde os estudos 
sociológicos vão ajudar na evolução do direito, tendo a sociologia, portanto, 
interferindo nas decisões jurídicas. Apresenta uma ruptura com o pensamento 
kelseniano, não podendo tratar a ciência jurídica como ciência pura do direito. 
Contesta, assim, a neutralidade do jurista. 
Nesse sentido, não há tanto problema ao dizer que a sociologia irá 
interferir no processo de elaboração das leis, pois muitas vezes será necessário 
que o legislador recorra a estudos sociológicos e consulte peritos para 
comprovar fatos e para constatar a opinião da sociedade em casos juridicamente 
relevantes. Contudo, a discussão se polemiza quando se fala na interferência da 
sociologia na aplicação da lei. O juiz deve ou não fazer interpretações, levando 
em consideração o ponto de vista sociológico-jurídico na hora de sentenciar o 
réu? Dessa forma, entende-se que a sociologia jurídica deverá contribuir na 
“humanização da sociedade”, influenciando o juiz a aplicar um direito mais justo, 
em sintonia com a realidade e as necessidades sociais. 
A título ilustrativo das duas abordagens tem-se o exemplo do médico 
legista e do cirurgião para melhor exemplificar. Nesse cenário, o médico legista 
seria a Sociologia do Direito, o qual tem como função apenas fazer o exame de 
óbito. Ou seja, se o médico legista encontrar um tumor no cadáver, ele não vai 
retirá-lo, apenas registrará a existência deste em seu relatório. Por seu turno, o 
médico cirurgião, detectada a existência do tumor, irá realizar uma cirurgia a fim 
de melhorar a saúde do paciente. Portanto, é um médico interventor, 
exemplificando a Sociologia no Direito. 
Após analisado concisamente as duas abordagens, é possível a junção 
delas? Há possibilidades. Nas últimas décadas desenvolveram-se tentativas de 
unificar a perspectiva interna da sociologia jurídica com a externa. Do ponto de 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
vista de separação e conciliação, reconhece-se a distinção entre as duas, mas 
ambas devem ser consideradas. Do ponto de vista externo moderado o 
sociólogo do direito analisa externamente o que é considerado como “direito” 
pelo ponto de vista da dogmática jurídica. 
Há, portanto, interação da sociologia e o direito. Cabe saber se privilegia 
o trabalho do sociólogo ou do jurista, sendo essa definição determinante, pois a 
leitura do sistema jurídico feita pelos sociólogos é extremamente diferente 
daquela realizada pelos juristas. Abre-se o espaço para os dois ramos: 
Sociologiado Direito e Sociologia Jurídica, a qual, como mencionado, a primeira 
é analítica e a segunda aplicadora. Dessa forma, podem ser conjugados, mas 
com finalidades diferentes. Na Sociologia Jurídica, o profissional do direito não 
poderá apenas se valer dos dogmas jurídicos, tendo que usar dos valores 
econômicos, filosóficos, sociológicos, etc. Ou seja, o direito sofre interferência 
sociológica antes, durante e depois. 
A sociologia em uma perspectiva interativa examina as causas e efeitos 
das normas jurídicas. O direito não tem como fazer isso. Tanto é que a eficácia 
social é dita pela Sociologia Jurídica. Assim, com tantas controvérsias, o que se 
pode concluir é que sensibilizar e influenciar o processo de elaboração das leis 
e participar ativamente do debate dogmático é um dever da sociologia jurídica, 
pelo menos até quando exista direito. 
Portanto, a realidade jurídica é o objeto da análise na busca de três 
respostas: 
1. Por que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico? 
(Produção, finalidade); 
2. Quais as consequências na vida social? (Aplicação, eficácia); 
3. Quais são as causas sociais da “decadência” do direito, que se 
manifesta por meio do desuso e da abolição de certas normas ou 
mesmo mediante a extinção de determinado sistema jurídico? 
(Desuso, decadência). 
Essas respostas podem ser relacionadas com a chamada 
tridimensionalidade do direito, na qual diz que o sistema jurídico pode ser 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
abordado sob três pontos de vista: justiça, validade e eficácia. Ou seja, o direito 
é fundamentado pela sociologia jurídica, a qual examina as relações entre o 
direito e a sociedade em três momentos: produção, aplicação e decadência da 
norma. Desta definição resulta que o jurista-sociólogo observa o direito “de fora”, 
em uma leitura externa. 
Por exemplo: o crime de adultério foi retirado do sistema penal. Isso 
porque esse crime foi cominado em uma realidade completamente diferente, 
onde a religião católica era predominante. Assim, no Estado laico que vivemos 
atualmente não cabe mais ser apenado por pecados de uma única religião. Ou 
seja, isso é a sociologia jurídica quem vai dizer. 
Observações de Niklas Luhmann 
Para justificar essa definição são necessários dois esclarecimentos feitos 
por Luhmann. Ele vai dizer que a observação externa não significa neutralidade 
ou liberdade, onde o pesquisador se encontre desvinculado de qualquer 
instituição e sistema teórico. Nesse sentido, o pesquisador abandona a ótica 
jurista e coloca-se numa outra perspectiva, que pode ser política, econômica, 
social, etc. Ou seja, a observação sociológica do sistema jurídico é externa 
somente em relação ao direito positivo. 
A segunda observação diz respeito à relação entre direito e sociedade, no 
qual diz que só pode ver o direito como um fenômeno interno, pois só se pode 
dialogar com o direito inserido na sociedade. O direito é, portanto, parte e produto 
da análise social, é um subsistema do direito da sociedade. Ou seja, é preso a 
esse sistema social, ao mesmo tempo que dialoga com outros sistemas. 
Lição 03 – A Função da Sociologia Jurídica e a Eficácia do Direito 
A Sociologia Jurídica analisa o processo de criação do direito e sua 
aplicação na sociedade. Contudo, nos fatos ocorridos dentro da sociedade, cada 
um irá julgar baseado em suas convicções. Por exemplo, em um caso real, em 
que uma empregada doméstica tentou furtar em uma farmácia um shampoo e 
um condicionador no valor total de 24 reais, foi presa e passou mais de um ano 
na prisão aguardando o julgamento. Nesse caso, incide sobre a situação 
diversas abordagens do que seria justo acontecer com a empregada. O seu 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
advogado irá recorrer à realidade social, em que ninguém persegue autores de 
furtos de pequeno valor; o filósofo do direito iria argumentar que, na verdade, a 
empregada que é a vítima da sociedade, na medida em que não lhe foi dada a 
oportunidade de usufruir dos utensílios básicos que garantam o seu bem-estar; 
e o juiz irá se posicionar perante o direito, alegando que seria ilegalidade não 
prendê-la por furto já que consta no Código Penal. 
Contudo, como o sociólogo do direito deve se posicionar? O sociólogo do 
direito deverá fazer uma pesquisa social, examinando em que medida são 
efetivamente perseguidos e punidos os furtos de pequeno valor e analisando a 
relação entre o direito e a evolução da sociedade para tentar explicar porque a 
norma que pune o furto é aplicada ou não. Para tanto, o sociólogo deverá 
assumir uma postura neutra, sem aplicar um juízo de valor, na medida em que 
sua função é compreender o pensamento e o comportamento do legislador, das 
autoridades e dos cidadãos. Assim, não interessa ao sociólogo do direito julgar 
o caso, mas sim buscar as explicações da atuação das pessoas desta ou 
daquela forma. Isto é o que Weber denomina de SOCIOLOGIA 
COMPREENSIVA. 
Daí tira-se duas conclusões acerca do papel da sociologia jurídica e do 
seu campo de ação: 
1. A sociologia jurídica não se interessa pelo estudo da justificação do 
direito. Ou seja, a análise de seus fundamentos é pertinente à filosofia 
do direito; 
2. A sociologia jurídica não realiza análises normativas, isto é, não se 
ocupa do problema da validade e da interpretação do direito. Estes 
problemas competem aos teóricos do direito positivo. 
Tridimensionalidade do direito – desenvolvida, entre outros, por 
Miguel Reale 
Os filósofos do direito costumam afirmar que o sistema jurídico pode ser 
abordado sob três pontos de vista: justiça, validade e eficácia. 
Justiça: A questão da justiça interessa aos filósofos do direito, que 
examinam a chamada idealidade do direito. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
Validade: O estudo interno do direito positivo interessa ao “dogmático” ou 
intérprete do direito, que visa identificar as normas válidas, sendo o objeto do 
conhecimento, neste caso, a normatividade do direito. 
Eficácia: Aqui interessa ao sociólogo do direito, o qual toma como objeto 
de conhecimento a vida jurídica, examinando a realidade social do direito, sem 
se interessar pelas questões técnicas da interpretação do direito. 
Com isso entende-se a distinção das perspectivas entre o intérprete do 
direito, o filósofo do direito e o sociólogo do direito. Ou seja, a principal distinção 
do trabalho do sociólogo do direito é a análise sistemática da aplicação prática 
do direito, ou seja, a sua eficácia. 
Contudo, vale lembrar que essas três dimensões estão interligadas, na 
medida em que, se a sociedade achar uma norma injusta, esta terá que ser 
revogada pelo intérprete, ou cairá em desuso. Da mesma maneira que o filósofo 
e o sociólogo do direito irão precisar das normas positivadas para fazer as suas 
análises acerca da realidade e a idealidade do direito. 
Efeitos sociais, eficácia e adequação interna das normas jurídicas 
A análise das repercussões sociais de uma norma jurídica formalmente 
válida pode ser feita em três perspectivas: 
1. Efeitos da norma: Qualquer repercussão social ocasionada por uma 
norma. Por exemplo: manifestações em oposição à vigência da norma. 
2. Eficácia da norma: Trata-se do grau de cumprimento da norma dentro 
da prática social. Uma norma é considerada socialmente eficaz 
quando é respeitada por seus destinatários ou quando a sua violação 
é efetivamente punida pelo Estado. Neste caso, há dois tipos de 
eficácia: a que resulta do respeito espontâneo por parteda população, 
chamada de eficácia primária; e a eficácia que resulta do poder 
punitivo do Estado, chamada de eficácia secundária. 
3. Adequação interna da norma: Trata-se da capacidade da norma em 
atingir a finalidade social estabelecida pelo legislador. Exemplo: O 
rodízio de carros em São Paulo, se teve por finalidade a diminuição da 
poluição ou a diminuição do trânsito na cidade, não teve adequação 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
interna, na medida em que a maioria da população comprou um 
segundo carro para poder rodar todos os dias. Ou seja, não houve aí 
uma transgressão à norma, mas sim uma transgressão aos objetivos 
finais do legislador ao criar a norma. 
Fatores de eficácia da norma no direito moderno 
Quanto mais forte é a presença destes fatores, maiores serão as chances 
de eficácia da norma jurídica. 
Fatores instrumentais (dependem da atuação dos órgãos de elaboração 
e de aplicação do direito 
a) Divulgação do conteúdo da norma na população pelos meios 
adequados, empregando métodos educacionais e alguns dos meios 
de propaganda política e comercial. Exemplo: propaganda que orienta 
a população no uso das urnas. 
b) Conhecimento efetivo da norma por parte de seus destinatários. 
c) Perfeição técnica da norma, ou seja, clareza na redação, brevidade, 
precisão do conteúdo e sistematicidade. 
d) Elaboração de estudos preparatórios sobre o tema que se objetiva 
legislar. 
e) Preparação dos operadores do direito responsáveis pela aplicação da 
norma. 
f) Consequências jurídicas adaptadas à situação e socialmente aceitas. 
g) Expectativa de consequências negativas, ou seja, se, com base em 
experiências anteriores, os destinatários da lei observarem que o não 
cumprimento lhe causará realmente uma sanção, serão mais propícios 
a respeitar a lei. 
Fatores referentes à situação social (fatores ligados às condições de vida 
da sociedade em determinado momento). 
a) Participação dos cidadãos no processo de elaboração e aplicação das 
normas. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
b) Coesão social. Quanto menos conflitos existam em uma sociedade e 
quanto mais consenso haja entre os cidadãos com relação à política 
do Estado, mais forte será o grau de eficácia das normas vigentes. 
c) Adequação da norma à situação política e às relações de força 
dominantes. Uma norma que corresponde à realidade política e social 
possui mais chances de ser cumprida. 
d) Contemporaneidade das normas com a sociedade. Em geral, não se 
tornam eficazes normas que exprimem ideias antigas ou inovadoras. 
 Lição 04 (Ponto 3) – O direito como propulsor e obstáculo da 
mudança social 
O conceito de mudança social 
O processo de interação social do indivíduo não se realiza sem que haja 
conflitos. Esses conflitos, muitas vezes, causam modificações na organização 
da sociedade, o que os sociólogos chamam de mudança social, que implicam na 
restruturação das relações sociais. A mudança social ocorre, pois a sociedade 
encontra-se em transformação contínua, portanto a mudança social é 
classificada como um processo dinâmico. A mudança social é o objeto geral de 
todos os estudos sociológicos. 
Os sociólogos estudam principalmente as formas de mudança social e as 
suas causas. Há aqueles que defendem causas gerais, formulando “leis de 
desenvolvimento social”, como, por exemplo, a racionalização da sociedade 
(Weber), a solidariedade social (Durkheim) e a luta de classes (Marx). A 
mudança social é sempre considerada como produto da combinação de vários 
fatores. Relaciona-se, portanto, com as mudanças do direito. 
Relações entre direito e sociedade 
A sociedade determina o direito ou o direito determina as relações 
sociais? Para responder a essa pergunta, há duas correntes: 
Há a perspectiva realista, na qual diz que o direito é uma manifestação 
social determinado pelo contexto sociocultural, ou seja, a sociedade produz o 
direito que lhe convém. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
Por outro lado, há a perspectiva idealista, que diz que o direito determina 
o contexto social, atuando sobre a realidade e mudando-a, na medida em que 
as normas impõem à sociedade novos tipos de comportamento. 
Contudo, há uma terceira posição de interação entre as duas primeiras: o 
direito é, em geral, configurado por interesses e necessidades sociais, mas influi 
sobre a situação social, assumindo um papel dinâmico. O direito é, portanto, 
ativo e passivo, pois determina e é determinado. 
Relações entre o sistema jurídico e a mudança social 
Quais são as formas e as modalidades de interação entre o sistema 
jurídico e os outros campos de ação social no decorrer do tempo? 
Que o direito tenta acompanhar as rápidas mudanças sociais não é motivo 
de discussão. O problema é quando se tenta estudar o papel ativo do direito na 
mudança social. Nesse cenário, grande parte dos estudiosos defendem o 
construtivismo jurídico, que diz que o direito pode influenciar o comportamento 
das pessoas na sociedade, na medida em que impõe padrões de 
comportamentos, construindo e mudando a sociedade. 
Há duas correntes sociológicas nessa linha: direito como instrumento de 
governo conservador, freando as mudanças sociais; e o direito como instrumento 
propulsor da transformação social. 
1. Direito impede mudança: Direito como um fator negativo perante as 
necessidades e reivindicações sociais, na medida em que é lento ao 
detectar as necessidades sociais. 
2. Direito propulsor de mudanças: Direito como instrumento eficaz para 
a consecução de grandes mudanças sociais, através de reformas 
jurídicas. Aqui tem o direito como função educadora. Os partidários 
desta corrente acreditam que a realização de uma adequada reforma 
jurídica contribui para a mudança das estruturas sociais, geradoras de 
um círculo vicioso de violência, permitindo, assim, exercer o controle 
social de forma mais humana e civilizada. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
As duas correntes são passíveis de crítica. A capacidade reformadora do 
direito é limitada. A história mostra que a tentativa de mudar o comportamento 
das pessoas por meio do direito foi um fracasso. Exemplo: Lei seca dos EUA nos 
anos 20. 
Soriano afirma que a relação entre direito e mudança social se concretiza 
da seguinte forma: 
a) O direito é uma variável dependente. Ou seja, é um fenômeno social 
que muda em função de outros fenômenos. É um produto de 
interesses sociais, que dependem das relações de dominação em 
cada sociedade. Além disso, o direito é influenciado por elementos de 
ordem física, como a evolução tecnológica e por valores étnicos-
culturais de várias regiões do mundo. Assim, o que explica a 
defasagem entre o direito e a evolução da moral social é a tradição 
jurídica de cada país. 
b) Direito possui uma autonomia relativa. Ou seja, pode induzir a 
mudanças sociais de forma direta ou indireta. De forma direita, como, 
por exemplo, na obrigatoriedade do cinto de segurança, associado a 
sanções. De forma indireta, como, por exemplo, reformas do programa 
de educação, onde orienta o professor sem abolir sua autonomia. 
Diante de uma situação de mudança social, o direito pode adotar posições 
de reconhecimento, anulação, canalização ou de transformação de suas 
tendências. 
Reconhecimento: Reconhece a nova realidade social através de suas 
normas; 
Anulação: Sistema jurídico opõe-se à mudança, ignorando-a ouaplicando 
sanções contra as inovações. 
Canalização: Direito tenta limitar o impacto de uma mudança ou seus 
efeitos, através de reformas que atendem parcialmente às reivindicações 
sociais. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
Transformação: Papel ativo do direito, tentando provocar mudança na 
realidade social por meio de reformas graduais e lentar ou radicais e rápidas. 
Atuação do direito como fator de mudança social 
No estudo das mudanças sociais decorrentes da atuação do sistema 
jurídico surgem três questões principais: intensidade, esferas de manifestação e 
ritmo de mudança. 
Intensidade da mudança e “direito alternativo” 
O direito pode operar mudanças parciais, mas dificilmente conseguirá 
mudanças radicais. Exemplo: Há como modernizar determinado setor da 
economia, mas praticamente impossível mudar todo o sistema de produção, por 
meio de reformas jurídicas. 
Quanto mais aberto, abstrato e flexível é o sistema jurídico, mais fácil será 
operar uma mudança social. Do contrário, um sistema jurídico rígido, dificilmente 
permite mudanças sem ruptura. 
A intensidade da mudança também está relacionada com a natureza do 
sistema político. Se o poder for concentrado e forte, mais fácil será de realizar 
mudanças rápidas a partir da reforma política. Por exemplo em revoluções. 
A mudança social do direito foi discutida nas últimas décadas no âmbito 
das teorias sobre o “direito alternativo”, que consiste na interpretação e aplicação 
do direito com uma finalidade emancipadora, favorecendo as classes e os grupos 
sociais mais fracos. 
 Na Europa, essa teoria foi à tona, onde a aplicação do direito deveria 
tornar-se um instrumento de solidariedade social. Ou seja, o operador jurídico 
deveria tirar proveito do caráter genérico e ambíguo das normas, empregando 
métodos de interpretação inovadores, que lhe permitiriam fazer justiça social. 
Estes movimentos provocaram a ira dos conservadores e não conseguiram 
atingir os seus objetivos. 
Contudo, na América Latina essa concepção chegou a um ponto mais 
alto. Ao invés de ser alternativas do uso alternativo do direito estatal, formaram-
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
se alternativas ao direito estatal, ou seja, outras fontes e modos de 
regulamentação social. 
Portanto, o direito alternativo, no significado latino-americano do termo, 
tenta elaborar um novo sistema jurídico, que seria antagônico ao direito do 
Estado (mudança de alta intensidade), enquanto que o uso alternativo do direito, 
na Europa, tenta mudar o direito “por dentro”, respeitando as normas jurídicas 
em vigor e tentando introduzir a mudança mediante atuação dos poderes 
constituídos (mudança de baixa intensidade). 
Esferas de manifestação da mudança 
O direito moderno possui duas esferas de manifestação: a interna, relativa 
ao direito nacional, e a externa, relativa ao direito internacional e comparado. Um 
processo de mudança social pode ser impulsionado por ambas esferas. 
A constatação de um problema social por parte do governo ou a pressão 
política por parte de grupos desfavorecidos podem levar a reformas do direito. 
Por outro lado, há reformas que são produto de pressão internacional, de 
imitação de legislações estrangeiras ou do contato entre culturas e sistemas 
jurídicos diferentes. Neste caso estamos diante do “transplante jurídico”, na qual 
suas principais características são o “empréstimo jurídico” e a “aculturação 
jurídica.” 
Empréstimo jurídico: Assimilação voluntária de determinadas normas 
provenientes do direito de outras nações. Ou seja, é usar a norma alheia como 
modelo para a criação da norma interna. 
Aculturação jurídica: Processo de recepção de um direito alienígena que 
provoca alterações globais no direito do país receptor. Aqui verifica-se uma maior 
influência da esfera externa. Pode acontecer de maneira externa, como, por 
exemplo, imposição do sistema jurídico das metrópoles às colônias; e de 
maneira interna, como, por exemplo, as autoridades políticas decidem adotar o 
sistema jurídico de outra nação, por considera-lo mais adequado. 
A diferença entre aculturação e empréstimo é que este refere-se a 
matérias específicas, enquanto aquele refere-se a todo o ordenamento jurídico. 
Leonardo David – 2º semestre – Introdução à Sociologia e Sociologia 
Jurídica – T2A – 2017.2 
 
 
Além disso, o empréstimo ocorre de maneira voluntária, enquanto que a 
aculturação pode ser produto de uma imposição direta. 
Ritmo da mudança 
Há áreas da atuação social, onde é relativamente fácil introduzir uma 
mudança e outras onde é mais complicado. As mudanças são mais rápidas no 
setor da organização do Estado do que no setor da economia privada, onde há 
uma maior resistência dos agentes econômicos. Por exemplo, reformas no 
direito tributário, no direito do trabalho e na distribuição de auxílios estatais, 
incentiva-se a atividade econômica em determinadas regiões. Contudo, as 
mudanças globais são difíceis no campo econômico, porque isto pressupõe uma 
transformação radical na estrutura de classe do país e criam grandes 
resistências políticas. Ou seja, tudo dependerá do setor de atuação e do apoio 
social concedido aos propulsores da reforma. Em outras palavras, a mudança 
social por meio do direito é um problema plenamente e exclusivamente político.

Outros materiais