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TCC ANTECEDENTES E INFLUENCIAS.ppt * * TCC: antecedentes e influências RANGÉ, B. “Bases filosóficas, históricas e teóricas da psicoterapia comportamental e cognitiva”. In: RANGÉ, B. (org.) Psicoterapia comportamental e cognitiva: pesquisa, prática, aplicações e problemas. Campinas, Ed. Psy II, 1995. * * TCC: antecedentes e influências Século XIX, grande desenvolvimento das ciências, psicologia distancia-se das suas raízes filosóficas Vai buscar se inserir no meio científico, construindo métodos por aproximação às ciências naturais A psicologia que se desenvolve no século XX era dualista: corpo/mente Objeto de estudo era a consciência, que poderia ser atingida pelo método da introspecção Relatos de auto-observação de experiências subjetivas * * Teorias e técnicas psicoterápicas Eram apresentados estímulos a sujeitos treinados pelos experimentadores a relatar sua experiência dentro de certos critérios Com isso, visava-se, por meio de análise, decomposição, descobrir os elementos constituintes da experiência “tal como estruturas químicas” Problemas dos resultados: reaplicação e generalização, utilidade – o que fazer com as descrições minuciosas dos conteúdos da cs?? * * Teorias e técnicas psicoterápicas Ao mesmo tempo, desenvolve-se a psicologia animal, oriunda do darwinismo evolucionista Capaz de demonstrar, em pouco tempo, as vantagens de uma abordagem verdadeiramente experimental Apragmatismo da psicologia introspectiva x espírito conquistador, transformador e prático Alemanha x EUA Precursores: Pavlov (Rússia, 1927); Thornidike (EUA, 1895) Adaptação, evolução e variação das atividades mentais * * Teorias e técnicas psicoterápicas Indicavam um modelo mais preditivo e explicativo das condutas variadas Rigor metodológico e riqueza de produção de conhecimento científico (Wundt x Titchener) Destaque ao papel da aprendizagem no comportamento Coerente com os postulados positivistas Watson: tenta transpor para o domínio da psicologia humana os mesmos métodos de investigação Behaviorismo: objetiva predição e controle do comportamento. * * Teorias e técnicas psicoterápicas Mudança na concepção da psicologia como ciência O behaviorismo coloca a psicologia como um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural Descarta o dualismo corpo/mente e a introspecção como método Posição ontológica naturalista e evolucionista Monismo materialista: negação metodológica da cs Determinismo causal Pragmatismo: aplicação do conhecimento em benefício da humanidade * * Teorias e técnicas psicoterápicas Situacionismo – espaço e tempo imediato, presente dos eventos Manutenção do elementarismo associacionista Aprendizagem como processo privilegiado de explicação do comportamento Essa ênfase resultou numa enorme quantidade de pesquisas nessa área, diversas teorias de aprendizagem surgem, caracterizando a fase neobehaviorista Maior parte estudos de laboratório com animais * * Teorias e técnicas psicoterápicas Mais recentemente, pesquisa com seres humanos, valorizando aspectos das interações sociais e tendo que controlar as variáveis inerentes. Teoria da Aprendizagem Social, não rejeita, amplia Década de 50, Skinner, behaviorismo radical: negação da mente como realidade substancial, mesmo que imaterial. Estabelecer as relações diretas entre ambiente e comportamento em termos funcionais. O que era entendido como experiência cs passa a ser um relato verbal de observações do mundo interior do corpo, que nada teriam a ver com um suposto mundo imaterial da cs. * * Teorias e técnicas psicoterápicas Volta da introspecção, sob nova e revolucionária posição filosófica. Anos 60: revolução cognitiva nas pesquisas afeta e modifica o behaviorismo. Modelos como os de Ellis, Bandura e Beck, foram sendo progressivamente aceitos e reconhecidos. A escola behaviorista, em termos de pesquisa básica e de aplicação clínica, passa a ser chamada de “cognitivo-comportamental”. Volta do behaviorismo metodológico. Princípios básicos: * * Teorias e técnicas psicoterápicas Comportamentos e condicionamentos : respondentes e operantes. Comportamento respondente: respondem a estímulos específicos, que o antecede. Reflexos involuntários: patelar, salivar, pupilar, respostas cardíacas, vasodilatadoras ou vasoconstritoras (medo, ansiedade). Produz mudanças no organismo, adaptando-o às mudanças causadas pelo estímulo. Operante: opera no ambiente, produz modificações. * * Teorias e técnicas psicoterápicas Voluntário, espontâneo, pois não é possível um estímulo que o antecede e esteja relacionado com ele A relação verificável é com os estímulos que os sucedem As mudanças ambientais alteram comportamentos futuros da mesma classe Escrever livro, andar de bicicleta, chamar elevador Meios de medir a força dos comportamentos: Respondente: magnitude da resposta e latência * * Teorias e técnicas psicoterápicas Operantes: repetição no tempo, taxa – razão do número de respostas pela quantidade de tempo A duração da emissão da resposta também Os comportamentos não são imutáveis, podem ser modificados sob certas condições Daí o termo condicionamento Condicionamento respondente (clássico ou pavloviano, tipo I ou tipo S) Estímulo incondicionado imediatamente após o estímulo condicionado Produzir a mesma resposta só que com um estímulo neutro * * Teorias e técnicas psicoterápicas Relação de contingência entre os estímulos: EI só aparece após EC Pode ser reforçado quanto mais vezes houver a apresentação contingente do EI Estímulo incondicionado é reforçador do reflexo condicionado Extinção respondente: comportamento enfraquecido e eliminado, por deixar de apresentar o EI contingentemente Discriminação: reforçar apenas 1 dos estímulos semelhantes, pela presença do EI Generalização: pelo reforçamento de estímulos de uma mesma classe * * Teorias e técnicas psicoterápicas Condicionamento operante (skinneriano, Tipo II ou tipo R) Observar comportamentos sem interferência ou manipulação por parte do experimentador Nível operante: quantas vezes um comportamento “livre” ocorre em um período fixo de tempo reforçamento: apresentação do estímulo contingente à emissão da resposta Condicionamento operante: aumento na frequência das respostas * * TCC: antecedentes e influências Estímulo reforçador positivo: responsável pelo aumento da força do comportamento Extinção operante: extingue-se o comportamento pela suspensão do estímulo reforçador Reforçamento negativo: aumento na força da resposta pela eliminação de estímulos Punição: apresentar estímulo com vistas a reduzir a probabilidade de determinada resposta Comportamento de fuga: afasta o estímulo Respostas de evitação: evita a situação (Pânico, TOC, Agorafobia – ansiedade antecipatória * * TCC: antecedentes e influências Frustração: estímulo fica inacessível ao organismo. Resposta mais comum é a agressão Frustrações muito intensas e generalizadas podem levar ao suicídio Modelação: aprendizagem que se dá através da observação de modelos reais ou simbólicos Auto-eficácia: crença de que tem a capacidade ou habilidade de apresentar determinados comportamentos que levam a resultados necessários ou desejados * terapia cognitiva.ppt * * TCC-intervenções CORDIOLI, A. (org.)“Psicoterapias – abordagens atuais”. Porto Alegre, Artmed, 2008, 3 ed. Cap. 16. * * TCC – intervenções Reavaliar e corrigir os pensamentos Pensar e agir de modo mais adaptado e realista sobre as dificuldades Empatia: o terapeuta deve olhar o mundo do paciente com os olhos do paciente Para entender as crenças do paciente, como se formaram, sem menosprezar seu sofrimento Interesse genuíno O primeiro passo é explicar o modelo cognitivo, o que são pensamentos automáticos e como identificá-los * * TCC – intervenções Avaliar se os pensamentos são funcionais (condizentes com a situação) ou disfuncionais (conteúdo distorcido) Ao saber identificar, pode tentar modificar os pensamentos disfuncionais Isso promove alívio dos sintomas Daí, o tratamento passa a focar nas crenças (intermediárias e centrais) Principalmente as disfuncionais A modificação profunda de crenças mais fundamentais previne futuras recaídas * * TCC – intervenções No primeiro contato, é feita a conceitualização em termos cognitivos; para tal, é fundamental uma boa entrevista, para abordar aspectos como: Dados relevantes da vida atual; crenças centrais; crenças e regras condicionais; estratégias compensatórias; situações vulneráveis; pensamentos automáticos; emoções; comportamentos Levanta hipóteses que podem ser confirmadas, modificadas ou descartadas ao longo da entrevista Em alguns momentos, pode verificar as hipóteses com o paciente * * TCC – intervenções Deixar claro ao paciente que o modo como se sente diante de uma determinada situação decorre não da situação em si, e sim da interpretação que faz dela Técnicas utilizadas: Identificação de pensamentos, sentimentos e situações: entregar uma lista para que o paciente possa discriminá-los Diários: anotar o que sentiu em determinada situação e os pensamentos automáticos Questionamento socrático: perguntas que o levam a pensar racionalmente as situações * * TCC – intervenções Levantamento de vantagens/desvantagens da continuidade ou manutenção do comportamento inadequado Tempestade de ideias: criação de soluções que dependam do paciente, pontuação de acordo com as consequências positivas e/ou negativas. Pessoal – 2 pontos; social – 1 ponto; longo prazo – 2 pontos; curto prazo – 1 ponto A estratégia que tiver maior pontuação nas consequências positivas é a que deve ser posta em prática * * TCC – intervenções Em grupo: não basta agrupar por características comuns; os componentes devem ter objetivos comuns BASE TEORICA DA TCC.pdf Bases Filosóficas, Históricas e Teóricas da Psicoterapia Comportamental e Cognitiva1 Bernard Rangé Instituto de Psicologia, UFRJ A psicologia que se desenvolvia no início do século XX era dualista: concebia o ser humano como composto de um corpo e uma mente ou consciência, em concordância com a tradição cartesiana. Seu objeto de estudo era a consciência, que somente poderia ser atingida por uma introspecção, seja mais fenomenológica, na tradição cartesiana, seja mais analítica, na tradição empirista que evoluia desde Locke. Este último também foi moldou-a nos seus aspectos elementaristas e associacionistas. Com o grande desenvolvimento das ciências que se observou no século XIX, distanciou-se das suas origens filosóficas e aproximou-se das ciências naturais, tentando encontrar um meio de tornar-se experimental. Seus "experimentos" consistiam em relatos de auto-observações das experiências subjetivas de sensações provocadas por estímulos apresentados a sujeitos treinados pelos experimentadores a fazê-las dentro de certos critérios. Sob orientação deles, os sujeitos descreviam suas experiências conscientes e os experimentadores os ajudavam a definir por análise seus elementos básicos, dentro da noção de que, tal como estruturas químicas, as experiências conscientes seriam compostos que requereriam análise para se descobrir os elementos constituintes. Os resultados destas observações não eram replicáveis, não eram verificáveis e sua generabilidade era questionável. Da mesma forma, descrições minuciosas de conteúdos 1 Este texto representa o que foi enviado para a editora em 1994 e está portanto sem revisão alguma. [BR, 2005] da consciência não eram, evidentemente, de grande utilidade: a psicologia introspectiva era, por sua própria natureza e origem, necessariamente também apragmática. Quase ao mesmo tempo, a psicologia animal, oriunda do evolucionismo darwinista, vinha sendo capaz de demonstrar, em pouco tempo, as vantagens de uma abordagem verdadeiramente experimental, como a praticada nas ciências naturais. O positivismo, ao expressar as vitórias e conquistas das ciências naturais, já havia valorizado as vantagens científicas do caminho objetivo. O apragmatismo da psicologia introspectiva chocava-se frontalmente com o espírito conquistador, transformador e prático da cultura norteamericana, cujos ideais expressavam um certo grau de darwinismo social e exigiam uma concepção do homem que acentuasse a idéia de que todos nasceriam iguais e que, no embate com os desafios do ambiente, os mais fortes ou capazes venceriam. As experiências de vida se encarregariam de completar o que a biologia tivesse produzido, construindo aos poucos - para o bem ou para o mal - cada indivíduo. Dentro desta vertente, dois trabalhos experimentais altamente estimulantes como os desenvolvidos por Pavlov (1927), na Rússia, e por Thorndike (1895), na América, indicavam um modelo a ser seguido na psicologia humana, tal o valor heurístico, o poder preditivo e explicativo que ofereciam para condutas variadas e as possibilidades de aplicação prática do conhecimento. No aspecto metodológico, ambos ofereciam técnicas de investigação rigorosas e extremamente ricas para a produção de conhecimentos psicológicos. No aspecto mais filosófico, ambas expressavam uma adesão uma concepção determinista, coerente com os postulados positivistas. É preciso ressaltar também que ambos destacavam o papel da aprendizagem na determinação do comportamento, o que reforçou mais ainda a inclinação de Watson, apesar de sua recusa da Lei do Efeito, para este tipo de interpretação. Influenciado por estes e outros resultados que observou em seus estudos em psicologia animal, Watson (1913) procurou transpor para o domínio da psicologia humana os mesmos métodos de investigação. Isto exigia inúmeras mudanças na concepção global da psicologia como ciência, admiravelmente expressas com toda a concisão no primeiro parágrafo do artigo-manifesto do behaviorismo "Psychology as the Behaviorist Views It": "A psicologia, tal como o behaviorista a interpreta, é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento. A introspeccão não é parte essencial de seus métodos nem o valor científico de seus dados depende da facilidade com que possam ser interpretados em termos de consciência. O behaviorismo, em seu esforço para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre o homem e os animais irracionais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e toda a sua complexidade constitui apenas uma parte do esquema total de pesquisa do behaviorista." (Watson, 1913) As grandes premissas que vieram fundamentar a posição behaviorista eram, portanto: (1) uma identificação com o ramo natural das ciências, de modo que o dualismo ficasse descartado e que a adesão aos rigores de uma metodologia objetiva e experimental fosse uma exigência inicial indispensável (o que excluiria, automaticamente, a introspecção como forma de conhecimento); (2) uma posição ontológica que concebia o ser humano dentro de uma perspectiva naturalista e evolucionista, donde continuista em relação às outras espécies; (3) uma posição monista materialista apenas metodológica (já que Watson, em seus escritos iniciais adotou uma cautelosa negação apenas metodológica da consciência); (4) uma concepção determinista de causalidade; (5) uma inclinação pragmatista que destava o objetivo de aplicar o conhecimento assim constituido em benefício da humanidade. Outras características do behaviorismo nascente se definiram a partir dos estudos em psicologia animal, em especial os de Pavlov e Thorndike: (6) uma ênfase no situacionismo (valorização do espaço e tempo imediatos e presentes); (7) uma manutenção do elementarismo associacionista; e (8) uma inclinação teórica em que a aprendizagem seria o mecanismo principal que poderia explicar um comportamento específico em um momento determinado. Quais foram as consequências desta atitude? A ênfase em objetividade e a eleição do método experimental como o principal instrumento de investigação implicavam em controle de variáveis e conduziu inexoravelmente à formulação de hipóteses testáveis e verificáveis, o que se tornaria facilitado por estudos de laboratório. Por este motivo, a maior parte do trabalho realizado pelo (neo)behaviorismo derivava de estudos de laboratório, quase sempre com animais, dadas as inúmeras vantagens oferecidas por eles quanto ao controle experimental de variáveis mais complexas, como linguagem, cultura, socialização etc. A ênfase no processo de aprendizagem resultou no desenvolvimento de uma enorme quantidade de pesquisas nesta área que vieram sustentar a formulação de várias teorias da aprendizagem. Apesar de diferenças quanto aos fatores fundamentais no processo de aprendizagem (contigüidade X efeito, aprendizagem de respostas X aprendizagem de cognições etc.), as diversas teorias de aprendizagem que caracterizaram a fase neobehaviorista, produziram um conjunto de princípios que, tomados em conjunto e minoradas as diferenças, vieram a ser conhecidos como "a" Teoria da Aprendizagem. Abrigaram-se historicamente sob este título genérico a teoria do reforço de Hull, (1943, 1947, 1952) a teoria da contiguidade de Guthrie, (1935) a teoria cognitiva de Tolman, (1935) a análise experimental do comportamento de Skinner, (1938) e as retificações ou complementações à teoria de Hull feitas por vários cientistas como Spence, (1960) Miller e Dollard, (1941, 1952), Mowrer (1939, 1950, 1960). Mais recentemente, desenvolveu-se um ramo desta orientação teórica, que, ao realizar pesquisas com seres humanos e valorizar aspectos das interações sociais, não pôde deixar de dar conta de variáveis tipicamente humanas como a influência social. Foi formulada uma Teoria da Aprendizagem Social que não rejeita mas apenas amplia, com novos conceitos, os horizontes da outra (Bandura e Walters, 1963; Bandura, 1969, 1977, 1980, 1989). Manteve a ênfase no rigor experimental como subsídio para a construção teórica e a atitude de negação metodológica da consciência e complementando-a com a conceituação de construtos mediacionais, principalmente cognitivos. Na década de '50, Skinner entendeu que uma coisa era a ciência do comportamento e outra era a filosofia desta ciência. Esta distinção veio marcar o estabelecimento do behaviorismo radical como a filosofia behaviorista dominante naquele período. Ao contrário de Watson, faz uma negação metafísica da consciência, de qualquer processo mental e da própria mente como uma realidade substancial, mesmo que imaterial. O dualismo implícito na timidez da negação extritamente metodológica do mental fica totalmente descartado, sendo substituido por um monismo materialista em que apenas o comportamento e o ambiente como instâncias de uma seriação física interminável são reais. O que importava, a partir de então, era estabelecer as relações diretas entre o ambiente e o comportamento em termos funcionais. O comportamento deixa de ser apenas a ação explícita e aberta de um organismo, publicamente observável: todas as atividades "internas", encobertas também são comportamentos submetidos às mesmas contingências que controlam as ações descobertas. Aquilo que era entendido como experiência consciente passa a ser compreendido como relato verbal de observações do mundo interior do corpo (não de ocorrências em um suposto mundo imaterial da consciência), tal como há relatos verbais de observações do mundo exterior. A introspecção estava de volta, mas sob uma novíssima e revolucionária posição filosófica (ver Skinner, 1953, 1974; ver também os capítulos 2, 3 e 4 da Parte I deste livro). Mais tarde, nos anos '60, a disseminação da chamada "revolução cognitiva" na pesquisa básica em psicologia, provocou também uma "revolução cognitiva" no behaviorismo. Aos poucos, modelos cognitivos como os de Ellis (1962), Bandura (1969, 1977, 1989) e Beck e seus colaboradores (1977, 1985, 1990, 1993) foram sendo introduzidos e progressivamente aceitos, sendo que, atualmente, a sua influência é tal que a própria escola behaviorista, tanto em termos de pesquisa básica quanto em termos de aplicação clínica, passa a ser chamada de "cognitivo-comportamental" (ver capítulo Terapia Cognitiva neste livro). É a volta do behaviorismo metodológico em contraposição ao behaviorismo radical skinneriano. Teoria comportamental e cognitiva: princípios básicos Segundo uma distinção feita por Skinner no seu Behavior of Organisms (1938) existem duas espécies de respostas mais elementares: (1) os comportamentos respondentes, que envolvem primordialmente músculos lisos e glândulas e são regulados pelo sistema nervoso autônomo e (2) os comportamentos operantes, que envolvem musculatura estriada e são governados pelo sistema nervoso central. Os primeiros são chamados respondentes porque ocorrem como respostas, isto é respondem, a estímulos específicos. Isto é, são eliciados pelos estímulos. Constituem reflexos, aos quais se aplica o termo “involuntário” para descrevê-los. São exemplos desta categoria de respostas os reflexos clínicos como o patelar e o de Babinsky, os reflexos pupilares e salivares, as respostas cardíacas, as respostas vasodilatadoras ou vasoconstritoras, as respostas psicogalvânicas etc. O termo operante descreve a principal característica deste comportamento: ele opera no ambiente, isto é, produz modificações no meio em que a pessoa se comporta. Diferencia- se assim do comportamento respondente, na medida em que este produz mudanças no organismo, adaptando-o às mudanças produzidas pelo estímulo que o elicitou. O comportamento operante parece “voluntário”, "espontâneo", uma vez que, frequentemente, não é possível especificar um estímulo antecedente que se mostre estar relacionado com ele. Verifica-se que as mudanças ambientais que um operante produz alteram comportamentos futuros de sua mesma classe. A relação verificável que ele estabelece é, primordialmente, com estímulos que o sucedem. São exemplos de operantes as ações de escrever um livro, andar de bicicleta, namorar alguém, discar um número ao telefone, chamar um elevador, esmurrar alguém etc. O mundo muda em consequência a estes comportamentos: papéis apresentam letras e palavras, o cenário muda com o passeio de bicicleta, sorrisos e carinhos se produzem após um beijo, alguém atende um telefone, o elevador aparece, um nariz sangra. Também, são diferentes os meios de medir a força de comportamentos respondentes e operantes. No primeiro caso, pode-se observar que a força de um respondente depende da intensidade do estímulo que produz. Quanto mais intensa for uma luz, maior será a diminuição no diâmetro da pupila; quanto mais intenso o calor de uma chapa, mais rapidamente a mão que lhe toca é retirada. Dois tipos de medida, portanto, são utilizados para medir a força de respondentes: a magnitude da resposta ou a sua latência, isto é, o tempo que decorre entre o surgimento do estímulo e a ocorrência da resposta. No caso de operantes estas medidas não são possíveis de vez que não são os estímulos antecedentes que os provocam, e mesmo quando estímulos antecedentes têm influência sobre as respostas, não guardam, com relação a elas, as mesmas relações de determinação absoluta que são observadas entre estímulos e comportamentos respondentes. Operantes apresentam uma característica distintiva que é a de se repetir no tempo. Quanto mais vezes uma ação se repete, mais certamente é possível afirmar que se trata de um comportamento forte no repertório de uma pessoa. Assim, é a frequência, ou melhor ainda, a taxa (razão do número de respostas pela quantidade de tempo) de respostas que é utilizada como medida de operantes. Se passamos pouco tempo lendo ou muito tempo vendo TV, se fumamos quarenta vezes ao dia, se a cada instante estamos comendo ou bebendo, se completamos uma maratona, ou se temos relações sexuais cinco vezes por semana ou por ano, tudo isto indica a força de cada uma destas respostas, pelo número de vezes que ocorrem ou pelo tempo dispendido em apresentá-las. Por isso, a duração da emissão também pode ser uma medida de operantes, uma vez que o tempo pode ser dividido em unidades de tamanho variável e cada uma ser contada como uma emissão de resposta, traduzindo-o, portanto, em frequência. Os comportamentos que uma pessoa apresenta não são imutáveis. Não ocorrem sempre iguais em cada situação. São dóceis, pode-se dizer. Sob certas condições podem ser modificados. Por este motivo, fala-se em condicionamento. É necessário que atendam a certas condições para que possam ocorrer. As leis ou princípios que regulam os condicionamentos de comportamentos respondentes e operantes, apesar de análogas, são diferentes. Condicionamento respondente É também chamado de clássico ou pavloviano ou Tipo I ou Tipo S por estarem baseados nos clássicos estudos feitos por I.P. Pavlov (1927) onde enfatizava a contingência entre estímulos (S-S). Na primeira década do século, enquanto fazia estudos sobre a digestão (que acabaram, inclusive, lhe valendo um Prêmio Nobel), Pavlov pôde demonstrar que a salivação de um cão, originalmente produzida por carne, podia ser condicionada a estímulos neutros tais como luzes ou sons. Estritamente, o que Pavlov observou foi que, provocando dois reflexos contígua e sucessivamente (por exemplo: carne-salivação, som- movimento de orientação com a cabeça), ao apresentar apenas o estímulo do segundo par (som) este era capaz de por se só produzir, além da sua resposta original de orientação, a resposta de salivação original do outro estímulo. A condição para este fenômeno era a apresentação do chamado estímulo incondicionado (EI, carne) imediatamente após o aparecimento do chamado estímulo condicionado (EC, som). Fala-se então de um condicionamento respondente que se estabelece por uma relação de contingência entre estímulos, na medida em que o EI somente aparece depois de aparecer o EC. A contiguidade entre os estímulos forma, pois, um novo reflexo - condicionado: som- salivação - anteriormente inexistente. Este reflexo será tão mais forte, isto é, mais salivação mais rapidamente oferecida em reação ao som, quanto mais vezes ele for reforçado pela apresentação contingente do EI. O estímulo incondicionado tem assim uma função de estímulo reforçador do reflexo condicionado. Da mesma forma que um condicionamento pavloviano se forma e é fortalecido pela apresentação do EI, pode ser também enfraquecido e eliminado quando deixamos de apresentá-lo. A este fenômeno denomina-se extinção respondente (ou clássica, ou pavloviana). Observou ainda que um animal poderia fazer uma discriminação entre estímulos semelhantes, desde apenas um deles fosse reforçado pela presença do EI; e que podia fazer uma generalização de estímulos quando vários estímulos de uma mesma classe eram reforçados. Condicionamento operante É também chamado de skinneriano, Tipo II ou Tipo R, em função dos trabalhos que B.F. Skinner realizou durante as décadas de 30 e 40 sobre o comportamento de ratos e pombos em um aparelho experimental (que ficou sendo conhecido como "Caixa de Skinner") em que enfatizava as contingência entre respostas (R) e estímulos consequentes. A técnica de observação experimental de Skinner consistia em deixar um sujeito se comportar "livremente" na caixa- isto é, sem qualquer tipo de interferência ou manipulação por parte do experimentador. Esta tem as seguintes características: possui uma alavanca em uma parede lateral logo acima de um orifício através do qual pode ser dispensada água ou comida; uma parede frontal transparente que permita a observação de seu interior; e grades no chão que podem ser eletrificadas. Em geral, a caixa funciona ligada a um quimógrafo - aparelho que conta e registra em gráfico, automaticamente, eventos que ocorrem na caixa. Selecionou, arbitrariamente, um comportamento para ser observado. Skinner preferiu observar o comportamento de pressionar a alavanca, uma vez que, apesar de não fazer parte do repertório natural inato de um rato, seria possível que ele o apresentasse esporadicamente. Se contarmos quantas vezes ele ocorre em um período fixo de tempo obteremos o seu nível operante, isto é, a força com que ocorre naturalmente, independente de qualquer manipulação experimental. Esta frequência serve de parâmetro para comparações das modificações no comportamento de pressionar alavanca decorrentes da apresentação de uma pelota de alimento após cada emissão da resposta de pressão à barra, desde que o animal tenha sido privado de comida por um certo tempo. A este aumento na frequência de respostas chama-se condiconamento operante. À apresentação da comida contingente à emissão da resposta, Skinner denominou reforçamento, uma vez que é esta variável a responsável pelo aumento da força do comportamento. Consequentemente, o estímulo que o produzia foi denominado estímulo reforçador positivo. De forma análoga, se a apresentação do estímulo reforçador for suspensa, após a emissão de cada resposta, é possível verificar que, após um breve momento em que há um incremento na frequência, a taxa de respostas diminui e tende a voltar ao nível operante. Este fenômeno chama-se extinção operante. Um comportamento pode ter também a sua força aumentada quando tem como consequência a eliminação, suspensão ou adiamento da ocorrência de certos estímulos. Denomina-se reforçamento negativo a este aumento na força de respostas pela eliminação de estímulos. Os estímulos que quando eliminados aumentam a força da resposta são chamados estímulos reforçadores negativos. Estímulos desta classe, caso sejam apresentados após a emissão de uma resposta, determinam uma diminuição na sua frequência. O processo de reduzir a probabilidade de ocorrência de uma resposta pela apresentação de um estímulo chama-se, evidentemente, punição. Estímulos envolvidos em punição ou em reforçamentos negativos também são chamados de estímulos aversivos, já que se supõe que tenham esta propriedade pelo tipo de efeito que produzem no comportamento. As observações de Skinner e seus colaboradores foram feitas quase sempre, com ratos e pombos na caixa de Skinner. Podemos aceitar estes fatos como descrições apropriadas do comportamento humano nas complexidades de seu dia-a-dia? É óbvio que as generalizações têm que ser muito cuidadosas, mas deve-se lembrar que a situação caixa de Skinner é um modelo daquilo que acontece na realidade, não uma cópia ou recriação da realidade comportamental em todos os seus detalhes. É uma situação análoga a dos mapas que são formas de representar esquematicamente a realidade geográfica e não de recriá-la em toda sua complexidade. A caixa é assim apenas um instrumento privilegiado e padronizado de observação que oferece possibilidade de controle bastante grande das variáveis que atuam sobre um organismo em um momento dado e que permite, portanto, a observação sistemática de simulações de situações reais reduzidas porém, a suas estruturas mínimas. O setting psicanalítico é um outro exemplo de modelo, no qual Freud fez observações de forma análoga a Skinner, porém sem o mesmo rigor experimental e descritivo. Pessoas que são mais atenciosas, que oferecem mais aprovação ou afeição são mais procuradas; alguém permanece numa profissão quando os resultados são bons; torcedores vão mais a jogos de seu time quando ele ganha mais; pessoas desagradáveis, ruas engarrafadas e barulhentas são mais evitadas; tende-se a apertar o botão do elevador quando ele não desce após a primeira pressão (e também podem ocorrer socos na porta quando mesmo depois de várias pressões ele não vem... que são típicas respostas emocionais observadas em outras situações de extinção como esta) etc. O hábito de chupar o dedo já foi observado e experimentalmente demonstrado que pode estar sob controle de consequências reforçadoras (Baer, 1962), a birra de crianças foi extinta em inúmeros trabalhos (Williams, 1959; Rego e Sobral, 1974); o efeito do reforçamento sobre o choro também já foi inúmeras vezes descrito *(Hart e cols., ); o comportamento cooperativo já foi desenvolvido por métodos operantes (Azrin e Lindsley, 1956). Estas observações chamam a atenção para fato de que a tendência que temos de explicar por traços de personalidade a ocorrência de uma resposta como a de chupar o dedo em crianças, frequentemente, pode ser substituída por explicações que ressaltam variáveis situacionais sempre que uma análise comportamental adequada tenha sido efetuada. Outras condições que também exercem controle sobre o comportamento operante foram isoladas. Skinner observou (Fester e Skinner, 1957) que ocorrem diferenças na frequência com que alguém apresenta uma resposta em função dela ter um reforçamento contínuo após cada emissão ou de ter um reforçamento intermitente. No segundo caso, as frequências tendem a ser consistentemente maiores. Esquemas de reforçamento diferentes podem determinar, portanto, mudanças na força de uma resposta. Uma pessoa pode ser reforçada periodicamente, dependendo do número de respostas que apresenta, como nos esquemas de razão fixa ou variável. Esquemas variáveis podem ser observados, por exemplo, no comportamento de jogadores de roleta ou de máquinas caça-níqueis, onde alguém ganha apenas de vez em quando, mas cujo acerto depende do número usualmente grande e variável de respostas de apostar que tenha apresentado. Uma pessoa também ser reforçada periodicamente dependendo do tempo transcorrido entre cada apresentação do estímulo reforçador. Estes são os esquemas de intervalo, que assim como os de razão, podem ser de intervalos fixos - tempos iguais entre cada reforçamento - ou variáveis. Aqueles que trabalham e são remunerados ao fim de cada semana ou mês, estão sob um esquema de intervalo fixo. Aqueles que falam ao telefone, precisam ouvir de vez em quando a voz do interlocutor que aparece a intervalos variáveis, pois em caso contrário, desligariam o telefone. Muitos outros esquemas existem controlando o nosso comportamento, inclusive esquemas mistos, que envolvem dois ou mais esquemas diferentes. No entanto, não vamos descrevê-los aqui, pois o objetivo é apenas de se dar uma idéia geral e introdutória dos princípios básicos que governam nosso comportamento. Não só consequências alteram a probabilidade de comportamentos. Situações estimuladoras antecedentes a uma resposta que tenham ficado associadas a um reforçamento também passam a governá-lo. São chamadas estímulos discriminativos (ED), pois discriminam ou indicam a ocasião em que a resposta deve ser emitida para que possa aparecer o estímulo reforçador. Dessa forma, uma pessoa aprende a discriminar, no ambiente, as condições em que pode agir de uma forma específica e não de outra. Fazemos nossas refeições em salas e não quartos ou banheiros; expressamos nossa sexualidade em locais reservados, longe de todos; ouvimos quando alguém fala e falamos quando alguém nos ouve; discamos um número quando o sinal do telefone discrimina que devemos fazê-lo. Assim como diferenças são estabelecidas entre estímulos, os organismos são capazes também de fazer generalizações, isto é, estabelecer semelhanças onde há diferenças. É o mecanismo da generalização que dá estabilidade ao mundo pois nos permite responder de forma semelhante, a uma mesma pessoa - pois é reconhecida sempre como a mesma apesar de num momento se apresentar de frente, no outro de perfil, no outro nos olhando de baixo para cima, etc. A cada situação, a imagem que ela produz será diferente, mas generalizamos como sendo variações de um mesmo estímulo. É pelos mecanismos de discriminação e generalização que os conceitos são formados. Para um conceito ser criado é necessário agrupar um conjunto de objetos segundo uma característica semelhante comum, mas separá-lo de outros conjuntos com características diferentes. É assim também que generalizamos padrões de comportamento de uma pessoa, diminuindo suas diferenças e os discriminamos dos de outra pessoas, conseguindo com isso reagir a elas como sendo sempre as mesmas, iguais, estáveis, individuais e únicas, com seus próprios nomes. É daí que surge, por exemplo o conceito como o de personalidade. Organismos são também capazes de estabelecer uma diferenciação em seus comportamento. O comportamento dos organismos animais ou humanos é, naturalmente, variável. O rato, por exemplo, não aperta a barra sempre com a mesma força ou com a mesma topografia corporal. Em um momento pode fazê-lo com as duas patas dianteiras e sentado sobre as traseiras; em outro com apenas uma delas e em pé; em outro pode fazê- lo com os dentes mordendo a barra. Se exclusivamente uma destas respostas for sistematicamente reforçada, ela se diferenciará das demais e apenas ela será emitida. Isto significa que por um processo de diferenciação progressivo o ambiente pode fazer um organismo apresentar respostas novas, isto é, que não existiam antes em seu repertório. Este processo de criação de respostas novas por diferenciação gradual chama-se modelagem. No início, foi feita uma distinção entre comportamentos e condicionamentos respondentes e operantes. Deve-se ressaltar agora que estes conceitos apenas descrevem classes de fenômenos diversos mas que na realidade ocorrem de forma relacionada. Um estímulo se torna discriminativo, adquirindo portanto uma função operante, quando é seguidamente emparelhado com o estímulo reforçador, donde pelo estabelecimento de uma contingência respondente. O EC que adquire parte das propriedades do EI torna-se um estímulo discriminativo ao se tornar capaz de indicar a presença do estímulo reforçador. Também adquire, por via de um condiconamento respondente, propriedades ou funções reforçadoras, caso suceda a resposta. Uma campainha várias vezes associada com comida dispara no rato resposta de salivação e também lhe indica que deve pressionar a barra. Dessa forma, o mesmo estímulo é simultaneamente parte de um reflexo respondente e de um operante. Se uma campainha produz salivação, isto significa que, em parte, ela substitui a comida, e, por este motivo, pode ser usada também como substituto do estímulo reforçador na situação operante. Quando estímulos neutros são associados com reforçadores e são posteriormente apresentados após a emissão de uma resposta, observa-se que também têm a propriedade de aumentar a frequência delas. Isto permite chamá-los de estímulos reforçadores condiconados ou secundários. Alguns destes reforçadores condicionados foram e são tantas vezes associados com estímulos reforçadores primários que tornam-se estímulos reforçadores generalizados. É o caso de dinheiro, de títulos e créditos acadêmicos, da atenção e da aprovação oferecida por outros, de status social, de poder etc. O choro do bebê é reforçado pela aproximação da mãe; o hipocondríaco mantém suas queixas pela atenção dos outros; quem não for pago pára de trabalhar; a afeição demonstrada por uma moça aumenta a probabilidade do rapaz voltar a procurá-la. Pode-se dizer mesmo que, a nível humano, a maior parte do comportamento está sob o controle de reforçadores generalizados muito mais do que reforçadores primários, que são de natureza mais biológica. Honorários, palmas, beijos, abraços, gestos, palavras, olhares, enfim uma lista interminável e sempre crescente, pois a cada momento de vida de uma pessoa, novos estímulos vão ficando associados a reforçadores primários. Muitos comportamentos são produzidos por situações aversivas. É recomendável examinar algumas delas: punição, fuga, evitação, ansiedade e frustração. Define-se punição por uma operação que, ao produzir um evento após a emissão de uma resposta, observa-se, no futuro, uma redução da frequência de respostas da mesma classe. Eventos deste tipo são chamados aversivos, pois sabe-se que um estímulo é aversivo quando, ao ser apresentado após a resposta, diminuem sua força e, ao serem apresentados antes, a aumentam se as respostas os eliminam. Existem dois tipos de punição: (a) apresentação de um estímulo aversivo como, por exemplo, uma criança levar uma palmada da mão depois de mexer em algo proibido; (b) retirada de um estímulo reforçador positivo previamente disponível como, por exemplo, a criança ficar impedida de ver televisão porque não estudou. Em qualquer tipo, entretanto, tanto podem estar envolvidos estímulos primariamente positivos ou aversivos, quanto estímulos cuja capacidade reforçadora ou aversiva seja condicionada. Depois dos trabalhos de Skinner (1938) e Estes (1944) não há mais muito debate sobre os efeitos e as consequências da punição. Demonstraram que a punição produz uma diminuição apenas temporária na frequência com que um comportamento ocorre e, mesmo assim, apenas enquanto o agente punitivo estiver presente. Além disso, gera comportamentos emocionais e agressivos, mais evitação do agente punitivo. É comum observarmos que crianças e adolescentes frequentemente punidos pelos pais tornam-se mais hostis a eles e a seus valores, e tendem a fugir e a evitá-los, pois assim evitam, com maior probabilidade, serem mais punidos. Segundo Skinner, o reforçamento positivo é muito mais eficiente na mudança do comportamento, mas a punição, por produzir efeitos reforçadores negativos mais imediatos em quem pune, tende a ser preferivelmente utilizada com maior frequência. Azrin e Holz (1966), no entanto, demonstraram que, dependendo de condições como intensidade, frequência e grau de motivação para emitir o comportamento que está sendo punido, seu efeito pode ser mais ou menos permanente. Na descrição dos efeitos da punição já introduzimos o conceito de comportamento de fuga. Esta resposta afasta um estímulo aversivo presente. Fechar janelas para diminuir o barulho do tráfego de automóveis na rua, afastar-se de alguém desagradável, abrir um guarda-chuva quando a chuva se inicia, são exemplos de situações de fuga em que estímulos reforçadores negativos primários (barulho, chuva) ou condicionados (pessoa desagradável) estão envolvidos. Se a resposta de fugir é uma solução momentânea para uma estimulação aversiva presente ela não serve para eventos aversivos futuros previsíveis. Neste tipo de situação fala-se de respostas de evitação. Estes comportamentos podem se desenvolver quando um estímulo discriminativo passa a indicar a ocorrência do estímulo aversivo. O que ocorre é uma espécie de antecipação da resposta de fuga, que em vez de ser emitida após o aparecimento do estímulo aversivo, passa a ser emitida após o estímulo discriminativo e antes do estímulo aversivo. Mowrer (1939) hipotetizou que, na medida em que um estímulo discriminativo adquire, por condicionamento respondente, propriedades aversivas, e é eliminado ou afastado pela resposta, isto a reforça negativamente, aumentando a possibilidade de que uma resposta semelhante venha a ser emitida no futuro em condições análogas. No exemplo anterior, se um pai pune frequentemente o filho, sua presença indica ao filho que está aumentada a probabilidade dele ser punido e que, portanto, se afastar-se do pai, evitará novas punições. Quando se comporta assim o menino é punido menos vezes e a resposta é adquirida e mantida. Grande parte de nosso repertório é constituído de respostas de evitação pois, em situações recorrentes, comportamentos de fuga tendem a se tornar evitações. São comportamentos de difícil extinção, pois, raramente, uma pessoa se dispõe a não exibir evitações quando há sinais de que algo ruim vai ocorrer. Sempre paramos nos sinais vermelhos, a não ser quando distraídos. O próprio fato de ficarmos atentos no trânsito pode ser, em parte, evitação: mesmo numa bela paisagem, preferimos manter a atenção, pois, se não o fizermos poderá ocorrer um acidente. Quando a ameaça é muito grande, uma extinção natural é quase impossível. Nos casos de pânico com agorafobia ou de comportamentos obsessivo-compulsivos, as consequências antecipadas pelos pacientes são tão grandes que, invariavelmente, apresentam uma resposta de evitação. Agorafóbicos evitam lugares em que sua mobilidade seja menor ou que o acesso a apoio ou a recursos esteja diminuido porque antecipam que podem morrer ou perder o controle nestas situações; obsessivos realizam seus rituais porque se não o fizerem acreditam que serão punidos com consequências horríveis como a morte de alguém querido, serem contaminados etc. Uma forma de extinguir estes comportamentos costuma ser a exposição àquelas situações em que eles ocorrem, acompanhada de prevenção das respostas de evitação. Isto permite que estes pacientes constatem que as consequências previstas não ocorrem de fato. Mesmo assim a extinção será muito difícil e prolongada. Outra condição que envolve estimulação aversiva é a situação de ansiedade. Ansiedade pode ser definida por uma operação respondente, diferentemente da fuga, da evitação e da punição que são processos operantes. Quando um estímulo neutro é seguido diversas vezes por um estímulo aversivo ele se torna um estímulo aversivo condicionado. Quando este aparecer, ele indicará a ocorrência do estímulo aversivo primário. As consequências comportamentais de sua apresentação são chamadas de ansiedade. Deve-se notar que neste paradigma não há possibilidade de respostas de fuga ou esquiva pois o evento aversivo é inevitável. Uma prova que devemos fazer para a qual não estamos preparados, o aluno que é chamado pelo inspetor, o paraquedista antes do salto, o neurótico obsessivo antecipando a contaminação por ter tocado em dinheiro, são exemplos de reações de ansiedade. Outro processo que, por sua frequência no dia a dia e pelas consequências muitas vezes marcantes que produz, precisa ser destacado é a frustração. Ela ocorre quando, por exemplo, ficamos presos em um engarrafamento, ou quando a TV sai do ar na hora em que vai começar a final do campeonato, ou ainda, quando fazemos um regime para emagrecer. Pode ser objetivamente definida por uma operação em que o estímulo reforçador fica inacessível ao organismo. Lundin (1974) mostrou que podem ser observados três tipos de situações em que o acesso a estímulos reforçadores pode ficar bloqueado. A primeira é a frustração por impedimento, observável nas situações de extinção, em que uma pessoa fica sem acesso ao estímulo reforçador. A morte de alguém querido impede que parentes e amigos continuem recebendo as manifestações de sua simpatia, afeição, cooperação, aprovação, etc.; a falta de condições de trabalho pode impedir um pesquisador de realizar a sua tarefa; crianças menores podem ficar impedidas de assistir a certos filmes ou ingressar em determinados locais; o acesso a alguns bens ou privilégios pode estar impedido a pessoas de certas classes sociais, raças, religiões ou sexos. Como se observa, os obstáculos aos reforçadores podem ser de natureza física, social, legal, psicológica etc. Um segundo tipo é a chamada frustração por atraso em que o indivíduo tem que esperar um tempo maior para consumir o estímulo reforçador. É uma situação necessariamente envolvida em todo o processo de socialização, uma vez que o ingresso na sociedade implica basicamente na submissão do tempo individual ao tempo social, em aprender a esperar. Aprendemos a esperar a hora de comer, a controlar os esfíncteres para que a liberação se dê nos momentos e locais apropriados, temos que aprender a esperar chegar a certa idade para que possa existir o relacionamento sexual, bem como temos também que aprender a esperar para que possa existir a troca e a cooperação social, uma vez que negócios, aulas, reuniões, festas, casamentos sempre têm horas marcadas e temos que ser capazes de obedecê-las para que deles possamos participar. Torna-se necessário o desenvolvimento de uma capacidade de tolerar a frustração para que possamos participar da vida social sem que existam grandes prejuízos tanto para a sociedade quanto para cada um de nós. O terceiro tipo de frustração ocorre quando uma pessoa se vê em uma situação de conflito. Há conflito quando estímulos reforçadores estão simultaneamente disponíveis a, pelo menos, duas respostas incompatíveis. É compreensível, portanto, porque um conflito pode ser um caso de de frustração: na medida em que a resposta é emitida na direção de um, o outro fica necessariamente impedido. Os três tipos de conflito mais comuns são: aproximação-aproximação, aproximação- evitação, evitação-evitação. No primeiro caso, a aproximação de um estímulo reforçador positivo implica no afastamento de outro. A compra de um carro pode significar a não realização de uma viagem de férias, e vice-versa; um candidato a um emprego pode ficar indeciso entre um que oferece maior salário e outro que oferece mais segurança. O segundo tipo, aproximação-evitação, é, talvez, o mais frequente, pois envolve uma situação em que um objeto apresenta ao mesmo tempo propriedades positiva e negativamente reforçadoras. Raramente um objeto significativo é exclusivamente positivo ou exclusivamente negativo. Um prato saboroso de um bom restaurante é também uma ameaça de aumento de peso ou colesterol; uma criança pequena pode querer se aproximar do mar, mas também querer se afastar pelo medo que lhe causam as ondas; um rapaz pode se sentir tentado a cortejar uma garota, mas pensa evitá-la com medo da humilhação de uma recusa. A outra categoria é aquela que produz o maior grau de frustração. Quando sofremos duas ameaças simultâneas, o afastamento de uma nos faz cair mais perto da outra. É como diz o velho provérbio: “entre a cruz e o caldeirão”; ou o novo dito popular: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". O soldado que abandona o campo de batalha terá que enfrentar o descrédito perante os colegas e a côrte marcial; continuar com a dor de dentes ou enfrentar o dentista é o conflito que persegue muitas pessoas. A resposta mais comum à frustração costuma ser a agressão (Dollard e cols., 1939). O rato em extinção na caixa de Skinner manifesta respostas de agressão tais como morder e atacar a barra (agressão extrapunitiva), urinar ou gritar (agressão respondente). O bebê quando sente o atraso da mamadeira grita, esperneia, mexe vigorosamente com as mãos ficando com o rosto rubro e congestionado. Uma população, frustrada com as poucas oportunidades de progresso pessoal e social, reage de forma explosiva destruindo ônibus dos quais se serve, quando um *aumento de tarifas é estabelecido. Muitas vezes, entretanto, a direção da agressão (Miller, ) é conduzida para objetos deslocados, às vezes, até a própria pessoa. Muitos dos problemas psicossomáticos decorrem disso, como casos de acidentes coronarianos em que as evidências mostram o papel desempenhado pela raiva auto-dirigida na produção da hipertensão (Friedman e Rosenman, 1974). Frustrações muito intensas e generalizadas, decorrentes de muitas áreas importantes da vida de uma pessoa, podem fazê-la deprimir-se até o ponto do suicídio, quando toda a agressão é voltada em grau extremo para a destruição da própria vida. No caso específico do conflito, além de um aumento na frequência de respostas agressivas, podem ser observados também comportamentos que indicam bloqueio ou vacilação. Frequentemente, uma pessoa em situação de conflito parecerá paralisada ou indecisa, incapaz de tomar um rumo decidido de ação. Este tipo de consequência varia muito de acordo com o tipo de conflito existente. Conflitos de evitação-evitação produzem mais reações deste tipo do que os que envolvem alguma tendência à aproximação. Também nos casos de evitação, pode-se observar a presença da ansiedade que, tal qual uma espiral, aumenta com a vacilação e, por sua vez, aumenta também a vacilação. Albert Bandura eriqueceu a literatura sobre os processos que controlam o comportamento, com as inúmeras pesquisas que realizou sobre modelação. Bandura (1969) define modelação como uma aprendizagem que se produz pela observação do comportamento de um modelo. Distingue-se da imitação, a qual conceitua como a expressão comportamental de uma modelação. Segundo Bandura, seres humanos adquirem uma parcela muito maior do seu repertório comportamental por modelação do que por modelagem. Seu ponto de vista é de que seria praticamente impossível, por exemplo, aprender a conduzir um veículo se isto dependesse exclusivamente de um processo de ensaio-e-êrro para cada resposta da cadeia. Aprendemos através da observação de modelos reais - como nossos pais, amigos, professores, ídolos etc. - bem como pela observação de modelos simbólicos - como personagens do cinema ou teatro, bonecos animados, e até mesmo manuais de instruções sobre como manejar um aparelho, praticar um esporte ou desempenhar uma profissão. Aprendemos por modelação não apenas operantes, como jogar tênis ou tocar um instrumento, como também respondentes como gostar de algo (moda), ter medo (observe- se como é enorme o número de pessoas que têm medo de serpentes e que nunca tiveram qualquer tipo de contato com alguma) ou deixar de tê-lo, sentir raiva (linchamentos) etc. A modelação pode produzir efeitos diversos. Em primeiro lugar, ela permite a aquisição de novas respostas para o repertório individual. Em segundo, ela pode inibir ou desinibir respostas já existentes no repertório de um indivíduo como acontece, por exemplo, quando uma pessoa, ao avançar o sinal vermelho, dispara conduta semelhante em vários outros motoristas nos quais tal comportamento estava inibido. E em terceiro lugar, a modelação pode apenas facilitar a emissão de um comportamento como acontece em uma festa quando um casal começando a dançar faz com que outros sigam o seu exemplo. Um outro conceito importante proposto por Bandura (1977) é o conceito de auto-eficácia. Bandura fez uma distinção entre expectativas de resultado e expectativas de eficácia. As primeiras dizem respeito à crença que um indivíduo tem de que um determinado comportamento conduzirá a certos resultados. Já expectativas de auto-eficácia referem-se à convicção que um indivíduo tem de que tem a habilidade ou capacidade de apresentar o dito comportamento e, assim, alcançar aquele resultado. Na clínica pode se observar o quanto este conceito é relevante na compreensão de boa parte da imobilidade ou passividade que muitos pacientes apresentam: eles simplemente não acreditam que poderão conseguir o que desejam, apesar de saber o que exatemente deveriam fazer. Para construir este senso de auto-eficácia, o terapeuta deve, gradualmente, propor tarefas em que o paciente com certeze poderá desempenhar para que assim ele o recupere ou o construa. Uma das mais importantes contribuições recentes foi o desenvolvimento do modelo cognitivo por Beck e seus colaboradores (Beck e cols., 1977, 1985, 1990; Clark, 1986; ver capítulo 37: Terapia Cognitiva, neste livro). Segundo este modelo, o comportamento é em parte decorrente do modo como uma pessoa processa as informações sobre o ambiente. Dependendo do tipo de interpretação que fizer (pessimista, catastrófica etc.) suas emoções e seu comportamento variarão. O modo como interpreta depende dos esquemas (estruturas cognitivas que funcionam como regras de organização da ação) que estruturou durante seu desenvolvimento. Assim, um esquema como "se eu não for sempre competente isso significa que sou um fracasso" pode facilmente, pela grande possibilidade de erros eventuais, favorecer o desenvolvimento de um quadro depressivo. Conclusões A revelação destes processos implica em que o comportamento de um indivíduo não é, necessariamente, consistente e estável, mesmo em situações relativamente diferentes; mas sim que seu comportamento é função de condições ambientais específicas com as quais fica associado por mecanismos de aprendizagem. Se há estabilidade no comportamento, esta deve ser procurada na presença estável de certos estímulos específicos, permanentemente presentes no ambiente em que se comporta este indivíduo, e não em predisposições ou traços individuais. Da mesma forma, só que examinado por outra perspectiva, as diferenças individuais são menos evidências de “estruturas de personalidade” diferentes do que reações individuais específicas a associações S-R aprendidas. Pode-se dizer, em resumo, que: (a) a teoria comportamental é, antes de mais nada, uma disposição de lidar com os aspectos objetivos da conduta dos homens através de uma firme aderência a uma metodologia experimental rigorosa; (b) a unidade, estabilidade e continuidade do comportamento dos indivíduos é reflexo das consistência das contingências ambientais e, portanto, a relação de cada aspecto do comportamento deve ser feita com aspectos específicos do ambiente e não com variáveis internas; (c) uma vez que o comportamento dos indivíduos não tem necessariamente unidade e continuidade, não se pode falar concretamente em diferenças individuais mas apenas em diferenças situacionais e comportamentais; (d) as condições relevantes a relacionar serão os antecedentes, as respostas e suas consequências; (e) as relações entre estes termos vão expressar os princípios de aprendizagem e as leis gerais do comportamento. Muitos outros princípios do comportamento poderiam ser descritos. O objetivo aqui é apenas o de apresentar aqueles mais básicos para que o leitor possa ter uma idéia das condições ambientais que governam seu comportamento. Referências AZRIN, N.H. e LINDSLEY, O.R. - “The reinforcement of cooperation between children”, J.Abn. Soc. Psych., 1956, 52, 100-102. AZRIN, N.H. e HOLZ, W.C. - “Punishment, in W.K. Honing (ed.): Operant Behavior: Areas of research and application”, New York: Appleton-Century-Crofts, 1966. BAER, D.M. - “Laboratory control of thumbsucking by withdrawal and re-presentation of reinforcement”, J.Exp. Analys. of Beh., 1962, 5, 525-528. BANDURA, A - “Principles of behavior modification”, New York: Holt, Rinehart and Winston, 1969 (tradução brasileira: “Modificação do Comportamento”, Rio de Janeiro: Ed. Interamericana, 1979). BANDURA, A e WALTERS, R.H. - “Social learning and personality development”, New York: Holt, Rinehart and Winston, 1963. 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