Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 4 – CICLO RANKINE MODELAGEM MATEMÁTICA Uma meta importante em engenharia é a de vislumbrar sistemas que efetuem tipos de conversão de energia desejados. Este capítulo diz respeito a vários tipos de sistemas de geração de potência, cada qual produzindo uma potência líquida de saída a partir de um combustível fóssil, nuclear ou de energia solar. Neste capítulo serão descritos alguns dos arranjos práticos empregados na produção de potência e serão ilustrados como estas instalações de potência podem ser modeladas termodinamicamente. O objetivo desse capítulo é o de estudar instalações de potência a vapor, nas quais o fluido de trabalho é alternadamente vaporizado e condensado. 4.1 Modelando sistemas de potência vapor Os processos que ocorrem nos sistemas de geração de potência são tão complicados que necessitamos de idealizações para o desenvolvimento de modelos termodinâmicos tratáveis. Esta modelagem é um passo inicial importante no projeto de engenharia. Embora o estudo de modelos simplificados levem, em geral, somente a conclusões qualitativas sobre o desempenho dos dispositivos reais correspondentes, os modelos frequentemente permitem deduções sobre como variações nos principais parâmetros de operação afetam o desempenho real. Eles também fornecem cenários relativamente simples para a discussão acerca das funções e benefícios de algumas características destinadas a melhorar o desempenho global. A grande maioria das instalações elétricas de geração consiste em variações das instalações de potência a vapor nas quais a água é o fluido de trabalho. Os componentes básicos de uma instalação simplificada de potência a vapor movida a combustível fóssil são mostrados esquematicamente na Figura 4.1. De forma a facilitar a análise termodinâmica, a instalação como um todo pode ser desmembrada nos quatro subsistemas principais identificados pelas letras A até D no diagrama. O foco de nossas considerações neste capítulo é o subsistema A, onde a importante conversão de energia de calor para trabalho ocorre. Mas, de início, vamos considerar rapidamente os outros subsistemas. Figura 4.1 – Componentes de uma instalação de potência a vapor simples. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. A função do subsistema B é a de fornecer a energia necessária para vaporizar a água que passa através da caldeira. Em instalações movidas a combustível fóssil, isto é feito através da transferência de calor para o fluido de trabalho que passa através dos dutos e tubulões na caldeira a partir dos gases quentes produzidos pela combustão de um combustível fóssil. Em usinas nucleares, a origem da energia é uma reação nuclear controlada que ocorre em um prédio isolado que abriga o reator. Usa-se água pressurizada ou um metal líquido que refrigera o reator para transferir a energia liberada na reação nuclear para o fluido de trabalho em trocadores de calor especialmente projetados. As instalações de energia solar possuem receptores para concentrar e coletar a radiação solar para vaporizar o fluido de trabalho. Independente da fonte de energia, o vapor produzido na caldeira passa através de uma turbina, onde ele se expande até uma pressão mais baixa. O eixo da turbina é conectado a um gerador elétrico (subsistema D). O vapor que deixa a turbina passa através de um condensador, onde condensa no exterior de tubos transportando água de arrefecimento. O circuito de água de arrefecimento compreende o subsistema C. Para a instalação mostrada, a água de arrefecimento é enviada para uma torre de arrefecimento, onde a energia recebida no condensador é rejeitada para a atmosfera. A água de arrefecimento é então recirculada através do condensador. A preocupação com o meio ambiente e as considerações de segurança ditam o que é permitido nas interações entre os subsistemas B e C com as suas vizinhanças. Uma das dificuldades principais em se encontrar um local para uma instalação de potência a vapor é o acesso a quantidades suficientes de água de arrefecimento. Por esta razão e para minimizar os efeitos de poluição térmica, a maioria das instalações de potência agora utilizam torres de arrefecimento. Além da questão da água de arrefecimento, a segurança no processamento e na entrega do combustível, o controle de descargas poluentes e a remoção de rejeitos são questões que devem ser tratadas tanto em instalações movidas a combustível fóssil quanto nuclear, de forma a garantir a segurança e a operação com um nível aceitável de impacto ambiental. As instalações de energia solar são geralmente consideradas não poluentes e seguras, mas atualmente são muito caras para serem largamente utilizadas. Retornando agora ao subsistema A da Figura 4.1, observe que cada unidade de massa percorre periodicamente um ciclo termodinâmico quando o fluido de trabalho circula através da série de quatro componentes interconectados. Dessa forma, vários conceitos relativos a ciclos de potência termodinâmicos são importantes nessa discussão. Lembre-se que o princípio da conservação da energia requer que o trabalho líquido produzido por um ciclo de potência seja igual ao calor líquido adicionado. Uma dedução importante a partir da segunda lei é a de que a eficiência térmica, que indica o percentual no qual o calor adicionado é convertido em trabalho líquido disponível, deve ser menor que 100%. As discussões anteriores também indicam que uma melhora no desempenho termodinâmico resulta de uma redução nas irreversibilidades. Porém, a extensão na qual as irreversibilidades podem ser reduzidas em sistemas de geração de potência depende de fatores termodinâmicos, econômico e outros. 4.2 Analisando sistemas de potência a vapor – O ciclo de Rankine Os fundamentos necessários para a análise termodinâmica de sistemas de geração de potência incluem os princípios da conservação da massa e da conservação da energia, a segunda lei da termodinâmica e dados termodinâmicos. Estes princípios se aplicam a componentes individuais de uma instalação, como turbinas, bombas e trocadores de calor, e também ás mais complicadas instalações de potência completas. O objetivo dessa seção é o de apresentar o ciclo de Rankine, que é um ciclo termodinâmico que modela o subsistema denominado A na Figura 4.1. A apresentação se inicia pela análise termodinâmica deste subsistema. 4.2.1 Avaliando o trabalho e as transferências de calor principais O trabalho e as transferências de calor principais do subsistema A são apresentados na Figura 4.2. Nas discussões posteriores, estas transferências de energia são consideradas positivas nas direções das setas. A inevitável transferência de calor perdida que ocorre entre os componentes da instalação e suas vizinhanças é desprezada de modo a simplificar a análise. Variações na energia cinética e potencial são desprezadas. Cada componente é considerado em regime permanente. Utilizando os princípios da conservação de massa e da conservação da energia junto com estas idealizações, desenvolveremos expressões para as transferências de energia mostradas na Figura 4.2, começando pelo estado 1 e prosseguindo através de cada componente. Figura 4.2 – Trabalho e transferências de calor principais do subsistema A. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Turbina. O vapor na caldeira no estado 1, tendo uma pressão e temperatura elevadas, se expande através da turbina para produzir trabalho e então é descarregado no condensador no estado 2 com uma pressão relativamente baixa. Desprezando a transferência de calor com as vizinhanças, os balanços de massa e energia sob a forma de taxa para um volume de controle envolvendo a turbina simplificam-se no regime permanente a: 21 hhm Wt −= & & (4.1) onde m& indica a vazão mássica do fluido de trabalho, e mWt && é a taxa na qual o trabalho, por unidade de massa de vapor que passa através da turbina, é produzido. Como observado,as variações de energia cinética e potencial são desprezadas. Condensador. No condensador há transferência de calor do vapor para a água de arrefecimento escoando em uma corrente separada. O vapor é condensado e a temperatura da água de arrefecimento aumenta. Em regime permanente, os balanços de massa e energia sob a forma de taxa para um volume de controle envolvendo o lado onde ocorre a condensação no trocador de calor fornecem: 32 hhm Qsai −= & & (4.2) onde mQsai && é a taxa na qual a energia, por unidade de massa de fluido de trabalho passando através do condensador, é transferida por calor do fluido de trabalho para a água de arrefecimento. Esta transferência de energia é positiva na direção da seta na Figura 4.2. Bomba. O líquido condensado que deixa o condensador em 3 é bombeado do condensador para dentro da caldeira a uma pressão mais elevada. Tomando- se um volume de controle envolvendo a bomba e admitindo-se que não há transferência de calor alguma com relação às vizinhanças, os balanços de massa e de energia sob a forma de taxa fornecem: 34 hhm Wb −= & & (4.3) onde mWb && é a potência de entrada, por unidade de massa passando através da bomba. Esta transferência de energia é positiva na direção da seta na Figura 4.2. Caldeira. O fluido de trabalho completa um ciclo como o líquido que deixa a bomba em 4, chamado de água de alimentação da caldeira, é aquecido até a saturação e evaporado na caldeira. Tomando-se um volume de controle envolvendo os dutos e tubulões da caldeira que transporta a água de alimentação do estão 4 para o estado 1, os balanços de massa e de energia sob a forma de taxa fornecem: 41 hhm Qent −= & & (4.4) onde mQent && é a taxa de transferência de calor da fonte de energia para o fluido de trabalho, por unidade de massa passando através da caldeira. Parâmetros de desempenho. A eficiência térmica mede o percentual através do qual a energia fornecida ao fluido de trabalho passando através da caldeira é convertida em trabalho líquido disponível. Utilizando as quantidades e expressões apresentadas anteriormente, a eficiência térmica do ciclo de potência da Figura 4.2 é: ( ) ( ) 41 3421 hh hhhh mQ mWmW ent bt − −−− = − = && &&&& η (4.5a) O trabalho líquido disponível é igual ao calor líquido fornecido. Assim, a eficiência térmica pode ser expressa alternativamente como: ( ) ( )41 3211 hh hh mQ mQ mQ mQmQ ent sai ent saient − − −=−= − = && && && &&&& η (4.5b) A taxa de calor é a quantidade de energia adicionada ao ciclo por transferência de calor, usualmente em Btu, para produzir uma unidade de trabalho líquido disponível, usualmente em kW.h. Desta maneira, a taxa de calor, que é inversamente proporcional à eficiência térmica, possui unidade de Btu/kW.h. Outro parâmetro usado para descrever o desempenho de instalações de potência é a razão de trabalho reversa (back work ratio), ou bwr, definida como a razão entre o trabalho entregue à bomba e o trabalho desenvolvido pela turbina. Com as Equações 4.1 e 4.3, a razão de trabalho reversa para o ciclo de potência da Figura 4.2 é: ( ) ( )21 34 hh hh mW mWbwr b − − == && && (4.6) Os exemplos posteriores ilustram que a variação de entalpia específica para a expansão do vapor através da turbina é normalmente muito maior do que o aumento de entalpia para o líquido que passa através da bomba. Assim, a razão de trabalho reversa é caracteristicamente bem pequena para instalações de potência a vapor. Desde que os estados 1 a 4 sejam determinados, as Equações 4.1 a 4.6 podem ser aplicadas para a avaliação do desempenho termodinâmico de uma instalação simples a vapor. Uma vez que estas equações foram desenvolvidas a partir de balanços de massa e energia sob a forma de taxa, elas se aplicam tanto ao desempenho real, quando irreversibilidades estão presentes, quanto ao desempenho idealizado, na ausência desses efeitos. Poderia ser argumentado que as irreversibilidades dos vários componentes da instalação de potência podem afetar o desempenho global e este é o caso. Mesmo assim, é instrutivo considerar um ciclo ideal no qual as irreversibilidades estão ausentes, uma vez que este ciclo estabelece um limite superior para o desempenho do ciclo de Rankine. O ciclo ideal também fornece um cenário simples no qual podemos estudar vários aspectos do desempenho de instalações de potência a vapor. 4.2.2 Ciclo de Rankine ideal Se o fluido de trabalho passa através dos vários componentes do ciclo simples de potência a vapor sem irreversibilidades, as quedas de pressão devidas ao atrito estariam ausentes na caldeira e no condensador, e o fluido de trabalho escoaria através destes componentes a pressão constante. Também na ausência de irreversibilidades e troca de calor com as vizinhanças, os processos através da turbina e bomba seriam isoentrópicos. Um ciclo que segue estas idealizações é o ciclo de Rankine ideal mostrado na Figura 4.3. De acordo com a Figura 4.3, observamos que o fluido de trabalho sofre a seguinte série de processos internamente reversíveis: Figura 4.3 – Diagrama temperatura-entropia do ciclo de Rankine ideal. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Processo 1-2: Expansão isoentrópica do fluido de trabalho através da turbina de vapor saturado no estado 1 até a pressão do condensador. Processo 2-3: Transferência de calor do fluido de trabalho à medida que ele escoa a pressão constante através de condensador com líquido saturado no estado 3. Processo 3-4: Compressão isoentrópica na bomba até o estado 4 na região de líquido comprimido. Processo 4-1: Transferência de calor para o fluido de trabalho à medida que ele escoa a pressão constante através da caldeira para completar o ciclo. O ciclo de Rankine ideal também inclui a possibilidade de superaquecer o vapor, como no ciclo 1’-2’-3-4-1’. A importância do superaquecimento será discutida na seção 4.3. Devido ao fato de a bomba ser idealizada como operando sem irreversibilidades, pode ser utilizada uma expressão alternativa para a Equação 4.3 para a avaliação do trabalho, ou seja: ∫= 4 3int vdp m W rev b & & (4.7a) O subscrito “int rev” é um lembrete de que a Equação 4.7a é restrita a um processo internamente reversível através da bomba. Porém, tal designação não é necessária para a Equação 4.3 porque ela expressa os princípios da conservação de massa e de energia e, assim, não está restrita a processos que sejam internamente reversíveis. A avaliação da integral na Equação 4.7a requer uma relação entre o volume específico e a pressão para o processo. Como o volume específico do líquido normalmente varia muito pouco enquanto o líquido escoa da entrada até a saída da bomba, uma aproximação plausível para este valor pode ser obtida tomando o volume específico na entrada da bomba, ,3v como constante durante o processo. Então: ( )343 int ppv m W rev b −≈ & & (4.7b) 4.2.3 Efeitos das pressões da caldeira e do condensador sobre o ciclo de Rankine Uma vez que o ciclo de Rankine ideal consiste inteiramente em processos internamente reversíveis, pode-se obter uma expressão para a eficiência térmica em termos de temperaturas médias durante os processos de interação térmica. Vamos começar a desenvolver esta expressão observando que as áreas abaixo das linhas que representam os processos na Figura 4.3 podem ser interpretadas como transferência de calor por unidade de massa que escoa através dos respectivos componentes. Por exemplo, a área total 1- b-c-4-a-1 representa a transferência de calor para o fluido de trabalho por unidade de massa que passa através da caldeira. Em símbolos: 1-a-4-c-b-1 área 1 4int == ∫ Tdsm Q rev ent & & A integral pode ser escrita em termos de uma temperatura média de adiçãode calor, como se segue: ( )41 int ssT m Q ent rev ent −= & & em que a barra simboliza valor médio. Analogamente, a área 2-b-c-3-2 representa a transferência de calor do vapor condensando por unidade de massa que passa através do condensador: ( ) ( )4132 int 2-3-c-b-2 área ssTssT m Q saisai rev sai −==−= & & onde saiT simboliza a temperatura no lado do vapor d’água do condensador no ciclo de Rankine ideal mostrado na Figura 4.3. A eficiência térmica do ciclo de Rankine ideal pode ser escrita em função destas transferências de calor como: ( ) ( ) entsairevent revsai ideal T T mQ mQ −=−= 11 int int && && η (4.8) Pela Equação 4.8, concluímos que a eficiência térmica do ciclo ideal tende a aumentar à medida que a temperatura média na qual a energia é adicionada por transferência de calor aumenta e/ou a temperatura na qual a energia é rejeitada diminui. Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se mostrar que estas conclusões são aplicáveis a outros ciclos ideais considerados neste capítulo. A Equação 4.8 pode ser empregada no estudo dos efeitos de variações nas pressões da caldeira e do condensador sobre o desempenho. Embora estes resultados sejam obtidos com referência ao ciclo de Rankine ideal, eles também funcionam qualitativamente em instalações de potência a vapor reais. A Fig. 4.4a mostra dois ciclos ideais que possuem a mesma pressão no condensador, mas pressões diferentes na caldeira. Por inspeção, observa-se que a temperatura média de adição de calor é maior para o ciclo de alta pressão 1’-2’-3’-4’-1’ do que para o ciclo 1-2-3-4-1. Segue-se que um aumento na pressão da caldeira no ciclo ideal de Rankine tende a aumentar a eficiência térmica. A Figura 4.4b mostra dois ciclos com a mesma pressão na caldeira, mas pressões diferentes no condensador. Um dos condensadores opera a pressão atmosférica enquanto o outro opera a uma pressão menor do que a atmosférica. A temperatura de rejeição de calor para o ciclo 1-2-3-4-1 que condensa a pressão atmosférica é de 100 oC. A temperatura de rejeição de calor para o ciclo de pressão mais baixa 1-2”-3”-4”-1 é também mais baixa, de forma que este ciclo possui a maior eficiência térmica. Segue-se que uma diminuição da pressão no condensador tende a aumentar a eficiência térmica. Figura 4.4 – Efeitos da variação das pressões de operação sobre o ciclo de Rankine ideal. (a) Efeito da pressão da caldeira. (b) Efeito da pressão do condensador. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. A pressão mais baixa que pode ser obtida no condensador é a pressão de saturação correspondente à temperatura ambiente, uma vez que esta é a menor temperatura possível para rejeição de calor para as vizinhanças. O objetivo de manter-se a menor pressão de exaustão prática na turbina (condensador) é uma razão primordial para se incluir o condensador em uma instalação de potência. Água líquida a pressão atmosférica poderia ser levada a caldeira através de uma bomba, e o vapor d’água poderia ser descarregado diretamente para a atmosfera na saída da turbina. Porém, ao se incluir um condensador no qual o lado do vapor d’água é operado a uma pressão abaixo da atmosférica, a turbina passa a ter uma região de baixa pressão na qual descarrega, resultando em um aumento significativo de trabalho líquido e da eficiência térmica. A inclusão de um condensador também permite que o fluido de trabalho opere em um circuito fechado. Este arranjo permite a circulação contínua do fluido de trabalho, de forma que água pura, que é menos corrosiva do que água da torneira possa ser usada. Comparação com o ciclo de Carnot. A forma da Equação 4.8 é similar à expressão usada para determinar a eficiência térmica do ciclo de potência a vapor de Carnot. Porém, observando-se a Figura 4.5, é evidente que o ciclo de Rankine ideal 1-2-3-4-4’-‘ possui uma eficiência térmica menor do que o ciclo de Carnot 1-2-3’-4’-1 que possui a mesma temperatura máxima HT e a mesma temperatura mínima ,CT porque a temperatura média entre 4 e 4’ é menor do que .HT A despeito da grande eficiência térmica do ciclo de Carnot, este possui duas deficiências como modelo para o ciclo de potência a vapor simples. Primeiro, o calor que passa para o fluido de trabalho de uma instalação de potência a vapor é geralmente obtido a partir de produtos quentes do resfriamento da combustão a uma pressão aproximadamente constante. De forma a explorar completamente a energia liberada na combustão, os produtos quentes deveriam ser resfriados o máximo possível. A primeira parte do processo de aquecimento do ciclo de Rankine mostrado na Figura 4.5, processo 4-4’, é obtido pelo resfriamento dos produtos da combustão abaixo da temperatura máxima .HT Com o ciclo de Carnot, contudo, os produtos da combustão seriam resfriados no máximo até .HT Assim, uma pequena parte da energia liberada na combustão seria utilizada. A segunda deficiência do ciclo de potência a vapor de Carnot envolve o processo de bombeamento. Observe que o estado 3’ da Figura 4.5 é uma mistura de duas fases líquido-vapor. Importantes problemas de ordem prática são encontrados no desenvolvimento de bombas que trabalham com misturas de duas fases, como seria necessário para o ciclo de Carnot 1-2-3’-4’-1. É muito mais fácil condensar o vapor completamente e trabalhar somente com líquido na bomba, como é feito no ciclo de Rankine. O bombeamento de 3 para 4 e o aquecimento a pressão constante sem trabalho de 4 para 4’ são processos que podem ser alcançados na prática. Figura 4.5 – Ilustração usada para compara o ciclo de Rankine ideal com o ciclo de Carnot. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. 4.2.4 Irreversibilidades e perdas principais Irreversibilidades e perdas estão associadas a cada um dos subsistemas mostrados na Figura 4.1. Alguns destes efeitos possuem uma influência maior no desempenho do que outros. Vamos considerar as irreversibilidades e perdas experimentadas pelo fluido de trabalho quando este circula através do circuito fechado do ciclo de Rankine. Turbina. A principal irreversibilidade experimentada pelo fluido de trabalho está associada à expansão através da turbina. A transferência de calor através da turbina para as vizinhanças representa uma perda, mas, uma vez que ela é geralmente de importância secundária, esta perda é ignorada em discussões posteriores. Conforme ilustrado pelo processo 1-2 da Figura 4.6, uma expansão adiabática real através da turbina é acompanhada por um aumento na entropia. O trabalho desenvolvido por unidade de massa nesse processo é menor do que o para a expansão adiabática 1-2s correspondente. A eficiência isoentrópica de uma turbina tη permite levar em conta o efeito das irreversibilidades na turbina em termos das quantidades de trabalho real e isoentrópico. Numerando os estados como mostrado na Figura 4.6, a eficiência isoentrópica da turbina é: ( )( ) sst t t hh hh mW mW 21 21 − − == && && η (4.9) em que o numerador é o trabalho real desenvolvido por unidade de massa que passa através da turbina e o denominador é o trabalho para uma expansão isoentrópica do estado na entrada da turbina até a pressão de exaustão da turbina. As irreversibilidades na turbina reduzem significativamente a potência líquida disponível na saída das instalações. Figura 4.6 – Diagrama temperatura-entropia mostrando os efeitos das irreversibilidades na turbina e na bomba. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Bomba. O trabalho necessário fornecido à bomba vara vencer os efeitos de atrito também reduz a potência líquida disponível na saída da instalação. Na ausência de transferência de calor para as vizinhanças haveria um aumento da entropia na bomba. O processo 3-4 da Figura 4.6 ilustra o processo real de bombeamento. O trabalho fornecido para este processo é maior do quepara o processo isoentrópico 3-4s correspondente. A eficiência isoentrópica da bomba bη permite levar em conta o efeito das irreversibilidades na bomba em termos das quantidades de trabalho real e isoentrópico. Numerando os estados como na Figura 4.6, a eficiência isoentrópica da bomba é: ( ) ( ) 34 34 hh hh mW mW s b sb b − − == && && η (4.10) Nesta expressão, o trabalho na bomba para o processo isoentrópico aparece no numerador. O trabalho real na bomba, sendo a quantidade maior, é o denominador. Por ser o trabalho na bomba tão menor que o trabalho da turbina, as irreversibilidades na bomba tem um impacto muito menor no trabalho líquido do ciclo do que no caso da turbina. Outros desvios das idealizações. As irreversibilidades na bomba e na turbina aqui mencionadas são irreversibilidades internas experimentadas pelo fluido de trabalho quando ele escoa pelo circuito fechado do ciclo de Rankine. Porém, as fontes de irreversibilidades mais significativas para uma instalação de potência a vapor movida combustível fóssil como um todo estão associadas à combustão do combustível e à transferência de calor posterior dos produtos quentes da combustão para o fluido de trabalho do ciclo. Estes efeitos ocorrem na vizinhança do subsistema rotulado como A na Figura 4.1 e consequentemente são irreversibilidades externas para o ciclo de Rankine. Outro efeito que ocorre nas vizinhanças é a descarga de energia para a água de arrefecimento quando o fluido de trabalho condensa. Embora uma energia considerável seja levada pela água de arrefecimento, sua utilidade é limitada. Para condensadores nos quais o vapor d’água condensa próximo à temperatura ambiente, a água de arrefecimento experimenta um acréscimo de temperatura de apenas alguns graus acima da temperatura das vizinhanças ao passar através do condensador e, desta forma, possui utilidade limitada. Consequentemente, o significado desta perda é bem menor do que o sugerido pela magnitude da energia transferida para a água de arrefecimento. Além do já citado, existem várias outras fontes de desvios em relação às idealizações. Por exemplo, transferências de calor perdido das superfícies externas dos componentes da instalação possuem um efeito nocivo ao desempenho, já que estas perdas reduzem o percentual de conversão de calor fornecido em trabalho disponível na saída. Os efeitos de atrito resultando em quedas de pressão são fontes de irreversibilidade interna quando o fluido de trabalho escoa através da caldeira, do condensador e dos tubos conectando os vários componentes. Análises termodinâmicas detalhadas levariam em conta esses efeitos. Porém, para simplificar, eles são ignorados nas discussões posteriores. Assim, a Figura 4.6 não mostra quedas de pressão para o escoamento através da caldeira ou do condensador ou entre componentes da instalação. Outro efeito sobre o desempenho é sugerido pela disposição do estado 3 na Figura 4.6. Neste estado a temperatura do fluido de trabalho que sai do condensador seria menor do que a temperatura de saturação correspondente à pressão do condensador. Isto é desvantajoso porque seria necessária uma transferência de calor maior na caldeira para trazer a água até a saturação. 4.3 Melhorando o desempenho – Superaquecimento e reaquecimento As representações para o ciclo de potência a vapor consideradas até agora não descrevem fielmente as instalações de potência a vapor reais, uma vez que várias modificações são geralmente incorporadas de forma a aumentar o desempenho global. Nesta seção consideramos duas modificações no ciclo conhecidas como superaquecimento e reaquecimento. Os dois elementos são normalmente incorporados às instalações de potência a vapor. Começaremos a discussão observando que um aumento da pressão da caldeira ou uma diminuição da pressão no condensador pode resultar numa redução do título de vapor na saída da turbina. Isto pode ser visto comparando- se os estados 2’ e 2” nas Figuras 4.4a e 4.4b com o estado 2 correspondente em cada diagrama. Se o título da mistura passando através da turbina tornar- se muito pequeno, o impacto das gotículas de líquido nas pás da turbina pode causar a erosão destas, resultando em uma diminuição da eficiência da turbina e em uma necessidade maior de manutenção. Dessa forma, é prática comum manter um título de pelo menos 90% ( 9,02 ≥x ) na saída da turbina. As modificações no ciclo conhecidas como superaquecimento e reaquecimento permitem pressões de operação vantajosas na caldeira e no condensador e ainda eliminar o problema de título baixo na saída da turbina. Superaquecimento. Primeiro, vamos considerar o superaquecimento. Como não estamos restritos a ter vapor saturado na entrada da turbina, uma energia adicional pode ser somada por transferência de calor para o vapor d’água, trazendo-o para uma condição de vapor superaquecido na entrada da turbina. Isto é efetuado em um trocador de calor separado chamado de superaquecedor. A combinação da caldeira com o superaquecedor é conhecida como gerador de vapor. A Figura 8.3 mostra um ciclo de Rankine ideal com vapor superaquecido na entrada da turbina: o ciclo 1’-2’-3-4-1’. O ciclo com superaquecimento possui uma temperatura média de adição de calor maior do que o ciclo sem superaquecimento (ciclo 1-2-3-4-1) e, portanto, a eficiência térmica é maior. Além disso, o título no estado 2’ na saída da turbina é maior do que no estado 2, que seria a saída da turbina sem superaquecimento. Assim, o superaquecimento também tende a reduzir o problema de título baixo na saída da turbina. Com superaquecimento, o estafo na exaustão da turbina pode até cair na região de vapor superaquecido. Reaquecimento. Uma modificação adicional normalmente empregada em instalações de potência a vapor é o reaquecimento. Com reaquecimento, uma instalação de potência pode tirar vantagem do aumento de eficiência que resulta de pressões maiores na caldeira e ainda evitar um título baixo de vapor na exaustão da turbina. No ciclo de reaquecimento ideal mostrado na Figura 4.7, o vapor não se expando até a pressão do condensador em um único estágio. O vapor d’água se expande através de uma turbina no primeiro estágio (processo 1-2) até um valor de pressão entre as pressões do gerador de vapor e do condensador. O vapor d’água é então reaquecido no gerador de vapor (processo 2-3). De uma maneira ideal, não haveria queda de pressão quando o vapor é reaquecido. Figura 4.7 – Ciclo de reaquecimento ideal. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Após o reaquecimento, o vapor d’água se expande em uma turbina no segundo estágio até a pressão do condensador (processo 3-4). A vantagem principal do reaquecimento é aumentar o título do vapor na saída da turbina. Isto pode ser visto no diagrama sT − na Figura 8.7 através da comparação do estado 4 com o estado 4’, que é a saída da turbina sem reaquecimento. Quando calculamos a eficiência térmica de um ciclo de reaquecimento, é necessário levar em conta o trabalho produzido pelos dois estágios de turbina, bem como o acréscimo total de calor que ocorre nos processos de vaporização/superaquecimento e de reaquecimento. Ciclo supercrítico. A temperatura do vapor d’água que entra na turbina sofre restrições devidas a limitações metalúrgicas impostas pelos materiais usados na fabricação do superaquecedor, reaquecedor e turbina. Uma alta pressão no gerador de vapor também requer tubulações que possam suportar grandes tensões a temperaturas elevadas. Embora estes fatores limitem os ganhos que podem ser alcançados através do superaquecimento e do reaquecimento, a melhoria dos materiais e métodos de fabricação permitiram aumentos ao longo dos anos no limite máximo das temperaturas do ciclo e pressões no gerador de vapor, com aumentos correspondentes na eficiência térmica. Isso tem progredido de forma que as instalações de potência a vapor podem serprojetadas para operar com pressões no gerador de vapor que excedem a pressão crítica da água (22,1 MPa) e temperaturas de entrada da turbina que excedem 600 oC. A Figura 4.8 mostra um ciclo de reaquecimento ideal com um gerador de vapor supercrítico. Observe que nenhuma mudança de fase ocorre durante o processo de adição de calor de 6 até 1. Figura 4.8 – Ciclo de reaquecimento ideal supercrítico. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. 4.4 Melhorando o desempenho – Ciclo de potência a vapor regenerativo Outro método comumente usado para aumentar a eficiência térmica de instalações de potência a vapor é o aquecimento regenerativo da água de alimentação ou, simplesmente, regeneração. Este é o assunto dessa seção. Para introduzir o princípio básico do aquecimento regenerativo da água de alimentação, considere a Figura 4.3 mais uma vez. No ciclo 1-2-3-4-a-1, o fluido de trabalho entraria na caldeira como líquido comprimido no estado 4 e seria aquecido enquanto estivesse na fase líquida até o estado a. Com o aquecimento regenerativo da água de alimentação, o fluido de trabalho entraria na caldeira em um estado entre 4 e a. Como resultado, a temperatura média de adição de calor seria aumentada, tendendo a aumentar, dessa forma, a eficiência térmica. 4.4.1 Aquecedores de água de alimentação abertos Vamos considerar como a regeneração pode ser efetuada utilizando-se um aquecedor de água de alimentação aberto, um trocador de calor do tipo contato direto no qual correntes a diferentes temperaturas misturam-se para formar uma corrente a uma temperatura intermediária. Figura 4.9 – Ciclo de potência a vapor regenerativo com um aquecedor de água de alimentação aberto. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. A Figura 4.9 mostra o diagrama esquemático e o diagrama sT − correspondente para um ciclo de potência a vapor regenerativo que possui um aquecedor de água de alimentação aberto. Para este ciclo, o fluido de trabalho passa isoentropicamente através dos estágios da turbina e bomba, e o escoamento através do gerador de vapor, condensador e aquecedor de água de alimentação ocorre sem queda de pressão em qualquer um destes componentes. Vapor d’água entra na turbina de primeiro estágio no estado 1 e se expande até o estado 2, quando uma fração do escoamento total é extraída, ou sangrada, para um aquecedor de água de alimentação aberto operando na pressão de extração, .2p O restante do vapor se expande através da turbina de segunda estágio até o estado 3. Esta parcela do escoamento total é condensada para líquido saturado, estado 4, e então bombeada até a pressão de extração e introduzida no aquecedor de água de alimentação no estado 5. Uma única corrente misturada deixa o aquecedor de água de alimentação no estado 6. Para o caso mostrado na Figura 4.9, as vazões das correntes que entram no aquecedor de água de alimentação são escolhidas de forma que a corrente que sai do aquecedor de água de alimentação é um líquido saturado à pressão de extração. O líquido no estado 6 é então bombeado até a pressão do gerador de vapor e entra no gerador no estado 7. Finalmente, o fluido de trabalho é aquecido do estado 7 para o estado 1 no gerador de vapor. De acordo com o diagrama sT − do ciclo, note que a adição de calor ocorreria do estado 7 até o estado 1, em vez do estado a até o estado 1, como no caso sem regeneração. Dessa forma, a quantidade de energia que deve ser fornecida através da queima de combustível fóssil, ou por outra fonte, para vaporizar e superaquecer o vapor seria reduzida. Este é o resultado desejado. No entanto, somente uma parte do escoamento total se expande através da turbina de segundo estágio (processo 2-3), de modo que menos trabalho seria desenvolvido. Na prática, as condições de operação são escolhidas de tal maneira que a redução no calor adicionado supera com vantagem o decréscimo de trabalho líquido desenvolvido, resultando em uma maior eficiência térmica em instalações de potência regenerativas. Análise do ciclo. Considere a seguir a análise termodinâmica do ciclo regenerativo mostrado na Figura 4.9. Um passo inicial importante na análise de qualquer ciclo regenerativo a vapor é o cálculo das vazões através de cada um dos componentes. Tomando um único volume de controle envolvendo os dois estágios da turbina, o balanço de massa se reduz em regime permanente a: 132 mmm &&& =+ onde 1m& é a taxa na qual a massa entra na turbina de primeiro estágio no estado 1, 2m& é a taxa na qual a massa é extraída e sai no estado 2 e 3m& é a taxa na qual a massa sai da turbina de segundo estágio no estado 3. Dividindo por 1m& resulta em uma expressão tendo como base uma unidade de massa passando através da turbina de primeiro estágio: 1 1 3 1 2 =+ m m m m & & & & Chamando a fração do escoamento total extraída no estado 2 de y ( 12 mmy &&= ), a fração do escoamento total que passa através da turbina de segundo estágio é: y m m −= 1 1 3 & & (4.11) As frações do escoamento total em vários locais estão indicadas na Figura 4.9. A fração y pode ser determinada por meio da aplicação dos princípios de conservação de massa e de energia em um volume de controle em torno do aquecedor de água de alimentação. Supondo que não há transferência de calor entre o aquecedor de alimentação e suas vizinhanças e desprezando os efeitos da energia cinética e potencial, os balanços de massa e de energia reduzem-se, em regime permanente, a: ( ) 652 10 hhyyh −−+= Resolvendo para :y 52 56 hh hhy − − = (4.12) A Equação 4.12 permite determinar a fração y quando os estados 2, 5 e 6 estão fixados. Expressões para as transferências principais de calor e trabalho do ciclo regenerativo podem ser determinadas pela aplicação de balanços de massa e de energia em volumes de controle em torno dos componentes individuais. Começando com a turbina, o trabalho total é a soma do trabalho desenvolvido por cada estágio da turbina. Desprezando os efeitos de energia cinética e potencial e com a hipótese de inexistência de troca de calor com as vizinhanças, podemos expressar o trabalho total de turbina baseado em uma unidade de massa passando através da turbina de primeiro estágio como: ( ) ( )( )3221 1 1 hhyhh m Wt −−+−= & & (4.13) O trabalho total de bombeamento é a soma do trabalho necessário para operar cada bomba individualmente. Com base em uma unidade de massa passando através da turbina de primeiro estágio, o trabalho total de bombeamento é: ( ) ( )( )4567 1 1 hhyhh m Wb −−+−= & & (4.14) A energia adicionada por transferência de calor para o fluido de trabalho que passa através do gerador de vapor, por unidade de massa que se expande através da turbina de primeiro estágio, é: 71 1 hh m Qent −= & & (4.15) e a energia rejeitada por transferência de calor para a água de arrefecimento é: ( )( )43 1 1 hhy m Qsai −−= & & (4.16) 4.4.2 Aquecedores de água de alimentação fechados O aquecimento regenerativo da água de alimentação também pode ser realizado com aquecedores de água de alimentação fechados. Aquecedores fechados são recuperadores do tipo casca e tubo nos quais a temperatura da água de alimentação aumenta à medida que o vapor extraído condensa no exterior dos tubos que transportam a água de alimentação. Já que as duas correntes não se misturam, elas podem se encontrar a diferentes pressões. Os diagramas da Figura 4.10 mostram dois esquemas diferentes para remover o condensado de aquecedores de água de alimentação fechados. Na Figura 4.10a, esta tarefa é realizada por uma bomba cuja função é bombear o condensado para um ponto de pressão mais elevada no ciclo. Figura 4.10 – Exemplos de aquecedores de água de alimentação fechados. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Na Figura 4.10b, permite-se que o condensadopasse através de um purgador para dentro de um aquecedor de água de alimentação, operando a uma pressão mais baixa ou para dentro do condensador. Um purgador é um tipo de válvula que permite a passagem apenas de líquido para uma região de pressão mais baixa. Um ciclo de potência a vapor regenerativo que tem um aquecedor de água de alimentação fechado com o condensado purgado para o condensador é mostrado esquematicamente na Figura 4.11 Figura 4.11 – Ciclo de potência a vapor regenerativo com um aquecedor de água de alimentação aberto. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. Neste ciclo, o fluido de trabalho passa isoentropicamente através dos estágios de turbina e bombas, e não há quedas de pressão associadas ao escoamento através dos outros componentes. O diagrama sT − mostra os estados principais do ciclo. O escoamento total de vapor se expande através da turbina de primeiro estágio desde o estado 1 até o estado 2. Neste ponto, uma fração do escoamento é sangrado para o aquecedor de água de alimentação fechado, onde condensa. Líquido saturado á pressão de extração sai do aquecedor de água de alimentação no estado 7. O condensado é então purgado para o condensador, onde se reúne à fração do escoamento total passando pela turbina de segundo estágio. A expansão do estado 7 para o estado 8 através do purgador é irreversível, e por isso mostrada por uma linha tracejada no diagrama .sT − O escoamento total saindo do condensador como líquido saturado no estado 4 é bombeado até a pressão do gerador de vapor e entra no aquecedor de água de alimentação no estado 5. A temperatura da água de alimentação é aumentada através da passagem pelo aquecedor de água de alimentação. A água de alimentação então sai no estado 6. O ciclo é completado à medida que o fluido de trabalho é aquecido no gerador de vapor a pressão constante, do estado 6 até o estado 1. Muito embora o aquecedor fechado mostrado na figura opere sem queda de pressão em ambas as correntes, existe uma fonte de irreversibilidades devida à diferença de temperatura de uma corrente para a outra. Análise do ciclo. O diagrama esquemático mostrado na Figura 4.11 é identificado com as frações do escoamento total em vários locais. Isso geralmente ajuda na análise desses ciclos. A fração do escoamento total extraída, ,y pode ser determinada através da aplicação dos princípios de conservação de massa e de energia em um volume de controle em torno do aquecedor de água de alimentação. Supondo que não há transferência de calor entre o aquecedor de água de alimentação e suas vizinhanças e desprezando os efeitos de energia cinética e potencial, os balanços de massa e de energia reduzem-se, em regime permanente, a: ( ) ( )65720 hhhhy −+−= Resolvendo para :y 72 56 hh hhy − − = (4.17) O trabalho e as transferências de calor principais são calculados conforme discutido anteriormente. 4.4.3 Aquecedores de água de alimentação múltiplos A eficiência térmica do ciclo regenerativo pode ser aumentada pela incorporação de vários aquecedores de água de alimentação a pressões adequadamente escolhidas. O número de aquecedores de água de alimentação utilizados é baseado em considerações econômicas, já que aumentos incrementais na eficiência térmica alcançada com cada aquecedor adicional devem justificar o aumento de custo (aquecedor, tubulações, bombas, etc.). Os projetistas de instalações de potência utilizam programas de computador para simular o desempenho termodinâmico e econômico de diferentes projetos, de forma a ajudá-los a decidir sobre o número de aquecedores a ser utilizado, os tipos de aquecedores e as pressões nas quais eles devem operar. Figura 4.12 – Exemplo do arranjo de uma instalação de potência. Fonte: Moran, M. J. e Shapiro, H. N., 2002. A Fig. 4.12 mostra o arranjo de uma instalação de potência com três aquecedores de água de alimentação fechados e um aquecedor aberto. Instalações de potência com múltiplos aquecedores de água de alimentação geralmente possuem pelo menos um aquecedor de água de alimentação aberto operando a uma pressão maior do que a pressão atmosférica, de forma que oxigênio e outros gases dissolvidos possam ser retirados do ciclo. Este procedimento, conhecido como desaeração, é necessário para manter a pureza do fluido de trabalho de forma a minimizar a corrosão. Instalações de potência reais possuem muitas das mesmas características básicas mostradas na figura. Na análise de ciclos de potência a vapor regenerativos com múltiplos aquecedores de água de alimentação, é uma boa prática basear a análise em uma unidade de massa que entra pela turbina de primeiro estágio. Para tornar claro as quantidades de matéria escoando através dos vários componentes da instalação, as frações do escoamento total removidas em cada ponto de extração e a fração do escoamento total remanescente em cada pondo do ciclo representando um estado devem ser identificadas em um diagrama esquemático do ciclo. As frações extraídas são determinadas a partir de balanços de massa e energia em volumes de controle ao redor de cada um dos aquecedores de água de alimentação, começando com o aquecedor de mais alta pressão e fazendo o mesmo com cada aquecedor de pressão mais baixa de cada vez.
Compartilhar