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AÇÕES POSSESSÓRIAS

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AÇÕES POSSESSÓRIAS
– CONSIDERAÇÕES INICIAIS.
Posse: o conceito de posse, no direito positivo brasileiro, indiretamente nos é dado pelo art. 1.196 do Código Civil, ao considerar possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. O art. 1.208 do Código Civil prescreve que: “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”.
Posse direta: pode ser explicada como a posse daquele que a exerce diretamente sobre a coisa, exercendo os poderes do proprietário, sem nenhum obstáculo, tendo, pois, o contato físico com a coisa.
Posse indireta:  é a do possuidor que entrega a coisa a outrem, em virtude de uma relação jurídica existente entre eles, como no caso de contrato de locação, deposito, comodato e tutela, quando couber ao tutor guardar os bens do tutelado. Nesta, portanto, não há contato físico do possuidor com a coisa.
Posse nova: é a de menos de ano e dia. 
Posse velha: é a de ano e dia ou mais
Detenção: o art. 1.198 do Código Civil proclama: “Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”.
Esbulho: consiste no ato pelo qual o possuidor se vê privado da posse mediante violência, clandestinidade ou abuso de confiança. Acarreta, pois, a perda da posse contra a vontade do possuidor. Segundo MANUEL RODRIGUES, “há esbulho sempre que alguém for privado do exercício da retenção ou fruição do objeto possuído, ou da possibilidade de o continuar”
Turbação: é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. É, segundo a clássica definição de AUBRY e RAU, todo fato material ou todo ato jurídico que direta ou indiretamente constitui ou implica uma pretensão contrária à posse de outrem.
- PROTEÇÃO POSSESSÓRIA
A tutela da posse desenvolve-se por meio de três diferentes espécies de ações, chamadas de interditos possessórios: reintegração de posse, manutenção de posse e interdito proibitório.
A ação possessória adequada ao caso concreto depende da espécie de agressão cometida pelo sujeito que deve figurar no polo passivo da demanda. Ocorrendo o esbulho, entendido como a perda da posse, caberá a ação de reintegração de posse; ocorrendo a turbação, entendida como a perda parcial da posse (limitações em seu pleno exercício), caberá a manutenção de posse; ocorrendo a ameaça de efetiva ofensa à posse, caberá o interdito proibitório. 
-FUNGIBILIDADE
É certo que o juiz está adstrito ao pedido do autor – princípio da congruência (art. 460 do CPC) – e em razão disso qualquer concessão do que não tenha sido pedido gera a nulidade da sentença (extra/ultra petita). 
Ocorre, entretanto, que esse princípio tem exceções, sendo a fungibilidade uma delas.
Nem sempre é fácil a distinção entre as diferentes espécies de moléstia à posse, em especial entre o esbulho e a turbação, o que, entretanto, não gera problemas concretos em virtude da fungibilidade das tutelas possessórias prevista pelo art. 920 do CPC.
Art. 920. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.
O art. 920 do CPC consagra, portanto, a fungibilidade entre as tutelas possessórias, de forma que é licito ao juiz conceder uma tutela possessória diversa daquela expressamente pedida pelo autor. 
É importante destacar que a função das ações possessórias é sempre a mesma: a proteção da posse, somente variando a ação conforme a espécie de moléstia sofrida. 
Como se nota com facilidade, o relevante é a proteção possessória, ficando em segundo plano a circunstância do pedido do autor de amoldar ou não à efetiva situação de crise da situação de direito material possessória.
A doutrina também lembra que a situação possessória pode facilmente ser modificada na constância da demanda, de forma que no momento do julgamento se tenha uma espécie de agressão ao direito possessório diferente daquela existente no momento da sua propositura.
Nesse sentido vejamos o posicionamento adotado na jurisprudência:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. LITISPENDÊNCIA. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE ANTERIORMENTE AVIADA. IDENTIDADE DE PARTES E DE OBJETO. ESBULHO OCORRIDO NO CURSO DO INTERDITO PRIMEIRAMENTE MANEJADO. AJUIZAMENTO DE NOVO INTERDITO. INVIABILIDADE. LITISPENDÊNCIA E CARÊNCIA DE AÇÃO. FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS (ART. 920 DO CPC). QUALIFICAÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. IMPERATIVO LEGAL.
1. A ação possessória tem como atributo legalmente assegurado a fungibilidade, e, segundo insculpido no artigo 920 do CPC, a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obsta a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal adequada à situação de fato divisada, tornando viável que, no curso de pretensão de manutenção de posse, qualificado o esbulho, o postulante da proteção possessória denuncie o fato e reclame reintegração na posse do imóvel litigioso, tornando incabível e dispensável a formulação de novo interdito sob a forma de ação de reintegração de posse.
2. A tutela possessória é demandada com lastro em ofensa à posse juridicamente tutelável, daí porque, alinhavando o autor, ao demandar a proteção possessória, causa de pedir volvida àquele desfecho, as alterações de fato havidas no trânsito processual não obstam que a prestação almejada seja concedida de conformidade com os fatos descortinados, legitimando que, conquanto demandado pedido de proteção – interdito ou manutenção – seja concedida tutela reintegratória ante a fungibilidade que permeia as ações possessórias.
3. O ajuizamento de ação de reintegração de posse durante o curso de ação de manutenção de posse anteriormente movida envolvendo as mesmas partes, causa de pedir e, outrossim, destinadas à defesa da posse de mesmo imóvel, consubstancia duplicação de ações a ensejar a qualificação de litispendência, porquanto ambas estão destinadas e aptas à prolação de provimento judicial capaz de assegurar a proteção possessória vindicada diante da fungibilidade inerente às ações possessórias.
4. A litispendência traduz fenômeno processual destinado a conciliar o princípio da inafastabilidade da jurisdição com a segurança jurídica, prevenindo que sejam promovidas ações idênticas, resultando que, aferido que o objeto da ação por derradeiro formulada é mais restrito, mas está compreendido no objeto da lide primeiramente formulada, operando-se a continência quanto ao ponto de conjunção, deve ser afirmada a litispendência, colocando-se termo à lide reprisada, ante a inviabilidade de reunião das ações por estarem volvidas ao alcance de prestações identificadas.
5. Por força da fungibilidade inerente às ações possessórias, a existência de ação de manutenção de posse torna desnecessário e incabível o ajuizamento de ação de reintegração em face do mesmo réu ante a alteração da circunstância fática de agressão à posse alegada – esbulho superveniente –, tornando o postulante da proteção possessória carente de ação, por falta de interesse legítimo, quanto ao novo interdito por se afigurar desnecessário e desprovido de utilidade para obtenção da proteção almejada.
6. Apelação conhecida e desprovida. Unânime.” (Acórdão n.888796, 20140610025334APC, Relator: TEÓFILO CAETANO, Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 12/08/2015, Publicado no DJE: 27/08/2015. Pág.: 150)
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM CAUSA DE PEDIR DISTINTA DE POSSE. INVIABILIDADE. FUNGIBILIDADE DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS. LIMITES. INTERESSE DE AGIR. AUSÊNCIA NA MODALIDE ADEQUAÇÃO.
1. A ação de reintegração de posse consubstancia ação possessória, cuja causa de pedir e pedido devem, necessariamente, fundar-se na alegação de posse, repelindo-se causa petendi outra.
2. A chamadafungibilidade dos interditos possessórios depara-se com limites delineados no artigo 920 do Código de Processo Civil, que autoriza a proteção possessória, mesmo diante da propositura de uma ação em vez de outra, desde que os requisitos específicos para essa fungibilidade estejam demonstrados.
3. O caráter dúplice da ação possessória funda-se, em suma, na possibilidade de se obter tutela jurisdicional efetiva, independentemente de se beneficiar autor ou réu. Esse o motivo por que o artigo 922 do Código de Processo Civil autoriza pedido contraposto, mas não ajuizamento de ação possessória com causa de pedir distinta de posse, como na hipótese em estudo. 
4. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Inteligência da primeira parte do artigo 472 do Código de Processo Civil.
5. Consoante orientação doutrinária, caso o autor ajuíze a ação errada ou utilize-se de procedimento incorreto, o provimento jurisdicional não lhe será útil, razão pela qual a inadequação procedimental acarreta a inexistência de interesse processual.
6. Negou-se provimento ao apelo.” (Acórdão n.713605, 20130110714559APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, Revisor: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 18/09/2013, Publicado no DJE: 25/09/2013. Pág.: 98)
- AÇÃO DÚPLICE
É tradicional a lição doutrinária que aponta serem dúplices as ações cujo procedimento admite ao réu fazer pedido contra o autor na própria contestação. 
Em razão do art. 922 do CPC, que expressamente prevê a admissibilidade do pedido de proteção possessória do réu na própria contestação, existe ampla corrente doutrinária a defender a sua natureza dúplice.
O art. 922 do Código de Processo Civil está assim redigido:
Art. 922. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Na ação dúplice não existe qualquer necessidade de o réu formular expressamente pedido contra o autor, já que pela própria natureza do direito material debatido, a improcedência do pedido levará o réu à obtenção do bem da vida discutido.
Caráter dúplice da ação. Inexistência de pedido contraposto do réu. Posse não convalidada. “A ação possessória julgada improcedente não tem o condão de convalidar a posse do réu se este assim não requereu expressamente em sede de contestação. Caráter dúplice da ação possessória” (STJ, RMS 20.626/PR, Rel. Min. Paulo Furtado, 3ª Turma, jul. 15.10.2009D, Je 29.10.2009).
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. COISA JULGADA. PRESSUPOSTOS NÃO CONFIGURADOS. LEGITIMIDADE AD CAUSAM. TEORIA DA ASSERÇÃO. PEDIDO DE GRATUIDADE FORMULADO EM CONTRARRAZÕES. INADEQUAÇÃO. PROVA DOCUMENTAL PRODUZIDA COM A. APELAÇÃO. EXCEPCIONALIDADE. INTERDITOS POSSESSÓRIOS. CARÁTER DÚPLICE. TUTELA POSSESSÓRIA. PROVA INSUFICIENTE. IMPROCEDÊNCIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA.
I. Se entre duas demandas não há convergência quanto aos três elementos de identificação – partes, pedido e causa de pedir – descabe cogitar do óbice da coisa julgada.
II. À luz da teoria da asserção, tem legitimidade ativa para a ação possessória aquele que, na causa de pedir descrita na petição inicial, figura como possuidor do imóvel cuja posse é disputada.
III. Não se conhece de pedido de assistência judiciária gratuita deduzido na resposta ao recurso.
IV. A produção de prova documental em sede de apelação é considerada excepcional e está adstrita a dois requisitos: boa-fé e ausência de prejuízo para a parte contrária
V. Ante o caráter dúplice dos interditos possessórios, ao réu é permitido concentrar, na contestação, defesa e pedido de proteção possessória.
VI. Tendo em vista o acentuado caráter fático daposse, documentos desacompanhados de reforço probatório não se revelam hábeis para desvendar a real situação possessória do imóvel litigioso.
VII. Contexto probante dúbio ou inconclusivo não legitima a concessão da tutela possessória.
VIII. Outorga-se a tutela possessória apenas quanto à reintegração na área comprovadamente esbulhada.
IX. A litigância de má-fé não pode passar incólume aos olhos do julgador, porém sua apreciação não pode chegar ao ponto de desestimular a luta pelo direito por parte daquele que se sente lesado.
X. Recurso conhecido e parcialmente provido
(Acórdão n.858692, 20140610048779APC, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, Revisor: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento: 25/03/2015, Publicado no DJE: 09/04/2015. Pág.: 186)
- COMPETÊNCIA
Em regra, é da Justiça Comum Estadual a competência para o julgamento das ações possessórias, mas nada impede que, excepcionalmente, outra Justiça seja competente, como a Justiça do Trabalho, na hipótese de reintegração de posse de imóvel concedido em comodato em razão de contrato de trabalho rescindido, ou a Justiça Federal, quando participar do processo um dos entes federais previstos no art. 109, I, da CF.
No tocante à competência territorial para as ações possessórias, a norma aplicável dependerá de ser o bem móvel ou imóvel. 
Tratando-se de bem móvel, aplica-se o art. 94 do CPC, sendo competente o foro do domicílio do réu. Nesse caso, a regra é de competência relativa, admitindo-se a sua prorrogação no caso concreto. 
Tratando-se de bem imóvel, aplica-se o art. 95 do CPC, sendo competente o foro do local imóvel. 
Nesse caso, a regra é de competência absoluta, não se admitindo que a demanda tenha andamento em outro foro, salvo na hipótese de recuperação judicial em trâmite, que exercerá a vis actrativa.
Estando o imóvel situado em mais de um foro, qualquer um deles será competente para conhecer a demanda. Segundo o art. 107 do CPC, determinar-se-á nesse caso o foro competente por prevenção, o que significa dizer que, havendo mais de uma demanda possessória sobre o mesmo imóvel em foros diferentes, aplica-se o art. 219, caput, do CPC, determinando-se a prevenção do juízo que primeiro realizou a citação válida.
- LEGITIMAÇÃO
O possuidor é parte legítima à propositura das ações possessórias, sendo que na hipótese de posse direta (locação, usufruto, comodato etc.), a defesa da posse pode ser realizada em juízo tanto pelo possuidor direto como pelo indireto, que podem inclusive litigar em conjunto em litisconsórcio facultativo.
Segundo o art. 1.197 do CC, na hipótese de posse direta (locação, comodato, usufruto etc.), a legitimidade ativa é tanto do possuidor direito como do indireto14. O simples detentor da coisa, que a ocupa por mera permissão ou tolerância do possuidor, não tem legitimidade para propor ação possessória, o mesmo ocorrendo com o sujeito que conserva a posse da coisa sob ordens ou instruções do possuidor.
No polo passivo é parte legítima o sujeito responsável pelo ato de moléstia à posse.
Quando o ato de moléstia à posse é perpetrado por uma multidão de pessoas, como ocorre com os movimentos ditos sociais de sem-terras, a natural dificuldade – por vezes impossibilidade – de se individualizar todos os agressores à posse faz com que a demanda seja proposta contra réus incertos.
No tocante aos cônjuges, apesar do art. 95 do CPC reconhecer a natureza de direito real do direito possessório, o art. 10, § 2.º, do CPC, tem tratamento expresso a respeito do litisconsórcio entre eles nas ações possessórias. Segundo esse dispositivo legal, o litisconsórcio só será necessário nas hipóteses de composse ou de ato praticado por ambos.
- EXCEÇÃO DE DOMÍNIO
Segundo o art. 923 do CPC, na pendência de ação possessória, é vedado ao autor e ao réu dessa demanda o ingresso de ação petitória, na qual se discute a propriedade do bem cuja posse já se discute na ação possessória.
Sendo a posse um direito autônomo, distinto da propriedade, podendo ser inclusive oposto contra o próprio proprietário, a vedação legal imposta pelo art. 923 do CPC busca proteger o possuidor contra o proprietário que esbulha, turba ou ameaça molestar sua posse. 
No mesmo sentido é a previsão do art. 1.210, § 2.º, do CC, que prevê não obstar à reintegraçãoou manutenção a alegação em sede de defesa do direito de propriedade.
O dispositivo legal é salutar, sendo indispensável à criação de um sistema no qual realmente o direito à posse seja defendido como direito autônomo. Basta imaginar a hipótese do locador que, sabendo que o locatário saiu para viajar no final de semana, retoma de forma ilegal a posse do imóvel. Caso o locatário ingresse com ação possessória contra o locador, é natural que, sendo permitida a discussão da propriedade, a posse seja conferida ao locador. A vedação legal de discussão da propriedade nas ações possessórias é a única forma de proteger o legítimo possuidor molestado, inclusive contra o proprietário.
Ressalte-se, entretanto, que nas ações em que as partes disputam a posse com base na alegação de propriedade, ou seja, quando ambas as partes se valem do argumento de que são proprietárias para daí terem direito à posse, será não só permitida, mas como necessária, a discussão a respeito do direito de propriedade.
São os precedentes jurisprudenciais a respeito do tema:
Possessória fundada em alegação de domínio. “Infringe o art. 923 do CPC o acórdão que, quando ainda pendente apelação de sentença proferida em possessória fundada em alegação de domínio, confirma sentença que julga procedente a reivindicatória” (STF, RE nº 89.179-0/PA, Rel. Min. Cordeiro Guerra, 2ª Turma, jul. 03.08.1979, DJ 31.08.1979, p. 6.470; RT 548/254).
“Não cabe, em sede possessória, a discussão sobre o domínio, salvo se ambos os litigantes disputam a posse alegando propriedade ou quando duvidosas ambas as posses alegadas” (STJ, REsp 5.462/MS, Rel. Min. Athos Carneiro; 4ª Turma, jul. 20.08.1991, DJU 07.10.1991, p. 13.971).
“A proteção possessória independe da alegação de domínio e pode ser exercitada até mesmo contra o proprietário que não tem posse efetiva, mas apenas civil, oriunda de título. Na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do verbete sumular nº 487/STF, firmada na vigência do Código de 1916, cabe a exceção de domínio nas ações possessórias se com base nele a posse for disputada. Sem ter o Tribunal de segundo grau abordado a ilegitimidade passiva e sem ter o recorrente apontado, quanto ao tema, violação de lei federal, incidem na espécie os enunciados nºs 282 e 284 da súmula/STF” (STJ, REsp 200.353/CE, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4Turma, jul. 20.02.2003, DJU 17.03.2003, p. 232).
Usucapião. Propositura da ação na pendência de processo possessório. Inadmissibilidade.
“Na pendência do processo possessório, é vedado tanto ao autor como ao réu intentar a ação de reconhecimento de domínio, nesta compreendida a ação de usucapião.” (STJ, REsp 171.624/MG, Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, jul. 29.06.2004, DJ 18.10.2004).
- CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
O art. 292, § 2.º, do CPC, permite ao autor nessa situação a cumulação de pedidos de diferentes procedimentos desde que seja adotado o procedimento ordinário, mas essa regra é inaplicável para os procedimentos especiais, de aplicação obrigatória, não se permitindo ao autor preferir o rito ordinário ao rito especial.
Ainda que se possa discutir a real especialidade do procedimento das ações possessórias de posse nova, a mera previsão dele dentre os especiais previstos pelo CPC torna relevante a previsão do art. 921 do CPC, que permite ao autor que cumule com o pedido de proteção possessória os pedidos de: 
a) condenação em perdas e danos;
b) cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho;
c) desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento da posse do autor.
O pedido de condenação por perdas e danos deve estar amparado em fundamentação suficiente que demonstre as razões pelas quais o autor entende devidas tais verbas. A indenização não é consequência natural do acolhimento do pedido de proteção possessória, de forma que se exige do autor a narração da causa de pedir própria do pedido de indenização.
- PROCEDIMENTOS
Reintegração e manutenção de posse
A reintegração de posse e a manutenção de posse têm o mesmo procedimento previsto pelos arts. 926 a 931 do CPC, ainda que se reconheça a diferença de espécies de agressão à posse que fundamentam cada uma dessas ações. 
O procedimento especial possessório dos arts. 926 a 931, portanto, limita-se às ações possessórias de posse nova de bem imóveis, ou seja, demandas que tenham como objeto uma alegada ofensa à posse de bem imóvel que tenha decorrido dentro de ano e dia da propositura do processo. 
Como se notará com a descrição do dito procedimento especial, a grande especialidade é a previsão de medida liminar, até porque após esse momento inicial o procedimento passará a ser o ordinário (art. 931 do CPC).
Aduz o art. 927 do CPC, que incumbe ao autor provar:
a) sua posse;
b) a turbação ou esbulho praticado pelo réu;
c) a data do ato de agressão à posse;
d) continuação da posse turbada ou perda da posse esbulhada.
A grande especialidade do procedimento especial possessório é a previsão de liminar no art. 928, caput, do CPC.
Segundo esse dispositivo legal, estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá inaudita altera partes a medida liminar, consubstanciada na expedição de mandado de manutenção ou reintegração de posse, conforme o caso. 
Existe certa divergência doutrinária a respeito da possibilidade de o juiz conceder a medida liminar de ofício26 ou somente mediante pedido expresso do autor. 
O melhor entendimento é aquele que exige o pedido expresso do autor, priorizando o princípio dispositivo, até mesmo porque, tendo natureza de tutela de urgência satisfativa.
A liminar será concedida sempre que dois requisitos forem preenchidos no caso concreto, sendo dispensada no caso concreto a demonstração de periculum in mora:
i) demonstração de que o ato de agressão à posse deu-se há menos de ano e dia, e 
(ii) instrução da petição inicial que, em cognição sumária do juiz, permita a formação de convencimento de que há probabilidade do autor ter direito à tutela jurisdicional.
O art. 928, caput, do CPC, ao exigir a devida instrução da petição inicial para a concessão da liminar, aponta para a necessidade de juntada de prova documental ou documentada (como provas orais emprestadas) apta a formar o juízo de probabilidade exigido para a concessão das tutelas de urgência.
Ainda segundo o art. 928, caput, do CPC, não estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz poderá designar audiência de justificação prévia, com a devida “citação” do réu a comparecer a tal audiência. 
A designação dessa audiência independe de pedido expresso do autor, havendo inclusive decisão do Superior Tribunal de Justiça, que interpretando literalmente o dispositivo legal, entende ser dever do juiz a designação na hipótese de não conceder a liminar pleiteada.
Registre-se que a citação do réu nesse momento somente o integra à relação jurídica processual, ocorrendo concomitantemente a sua intimação para que compareça à audiência de justificação prévia. Significa dizer que o réu não é intimado para se defender, não sendo a audiência o momento adequado para contestar.
Realizada a audiência de justificação prévia, o juiz poderá ou não conceder a liminar requerida pelo autor.
- Interdito proibitório
A ação de interdito proibitório tem nítida natureza inibitória, voltando-se para evitar que a ameaça de agressão à posse se concretize.
O que se busca com tal demanda judicial é evitar a prática do ato ilícito consubstanciado no esbulho ou na turbação possessória.
Não existem grandes especialidades procedimentais no interdito proibitório, considerando que nessa espécie de demanda aplicam-se subsidiariamente os regramentos procedimentais das ações de reintegração e manutenção de posse (art. 933 do CPC). 
É natural que exista pedido de proteção liminar no interdito proibitório, considerando que a sua própria razão de ser é a existência de um perigo iminente de moléstia à posse. Caberá ao juiz concedê-lo – com ou sem justificação prévia, conforme o caso – desde que o autor consiga comprovar sumariamentea efetiva e real ameaça de que sua posse corre risco de ser esbulhada ou turbada.
Ratificando os argumentos acima destacados vejamos o posicionamento jurisprudencial:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERDITO PROIBITÓRIO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS. ATO ILÍCITO. NÃO COMPROVADO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.
1. A ação de interdito proibitório busca evitar a prática de ato ilícito consubstanciado no esbulho ou na turbação possessória.
2. In casu, o imóvel foi levado à hasta pública, sendo que o bem foi arrematado pelo agravado. Assim, não há injusta molestação do agravado em querer se apossar do imóvel, o que afasta a prática de ato ilícito, elemento essencial para a concessão da proteção possessória.
3. Precedentes: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITORIO. TUTELA ANTECIPADA. POSSE E JUSTO RECEIO DE MOLESTAÇÃO NÃO DEMONSTRADOS. LIMINAR INDEFERIDA. I. O deferimento da antecipação de tutela em sede de interdito proibitório demanda a prova simultânea da posse e do justo receio de sua molestação por ato ilícito do réu. II. Se o ambiente processual é de incerteza quanto aos fatos que envolvem o conflito de interesses, não se legitima a antecipação dos efeitos da tutela possessória. III. À falta de provas concludentes, deve-se aguardar o desenvolvimento da relação processual e a arregimentação de novos subsídios probatórios para a correta resolução do litígio possessório. IV. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão n.818451, 20140020102855AGI, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento: 10/09/2014, Publicado no DJE: 16/09/2014. Pág.: 119)
4.Recurso conhecido e improvido.
(Acórdão n.885501, 20150020138784AGI, Relator: ALFEU MACHADO, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 05/08/2015, Publicado no DJE: 17/08/2015. Pág.: 324)
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE VELHA. TUTELA ANTECIPADA GENÉRICA. REQUISITOS. 
1. Após o transcurso de ano e dia, a ação de reintegração ou manutenção de posse será processada pelo rito ordinário. O rito ordinário admite o pedido de antecipação de tutela, desde que preenchidos os requisitos do artigo 273 ou do §3.º do artigo 461 do Código de Processo Civil.
2. Comprovado que a turbação existe desde o ano de 2012, resta descaracterizada a urgência para o deferimento da medida antecipatória.
3. Negou-se provimento ao agravo de instrumento.
(Acórdão n.882178, 20150020026754AGI, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 15/07/2015, Publicado no DJE: 23/07/2015. Pág.: 109)
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. UTILIZAÇÃO DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS DE PROCESSO ANULADO. POSSIBILIDADE. POSSE VELHA. IRRELEVÂNCIA. DECISÃO MANTIDA.
1. O § 2º do artigo 113 do Código de Processo Civil prescreve que "Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente".
2. Assim, atos instrutórios (provas testemunhal, documental e pericial) podem ser utilizados porque produzidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa porque o decreto anulatório não os atingiu.
3. O fato de a posse do agravado ser velha não impede a concessão de antecipação dos efeitos da tutela, pois tal medida pode ser concedida com fundamento no artigo 273 do Código de Processo Civil, que traz a regra geral das tutelas de urgência.
 4. Agravo conhecido e improvido.
(Acórdão n.828102, 20140020162514AGI, Relator: MARIA IVATÔNIA, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 22/10/2014, Publicado no DJE: 31/10/2014. Pág.: 115)

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