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O Caso da Indústria Fonográfica Fonte - http://joaovillaverde.blogspot.com/2010/02/o-ocaso-da-industria- fonografica.html O século XX desenvolveu um modelo de negócios bem delineado em torno da música. A criação do LP, a partir dos anos 30, produziu um casamento sem igual com o rádio, que já exercia um poder de concentração social desde o finzinho da década de 1910 nos países mais avançados. Foi a partir dos anos 40 e 50 que o modelo da indústria fonográfica anglo- saxã se tornou hegemônico. Era preciso vender discos. Para isso, as gravadoras desenvolviam verdadeiros aparatos técnico-industriais-financeiros para alcançar o objetivo. Tinham grandes estúdios, técnicos e produtores, além de departamentos comerciais competentíssimos e relações envolventes com as rádios. Como se verificou, para vender discos era preciso tocar nas rádios. Foi criado o single, que, aqui no Brasil, ficou conhecido como "música de trabalho". O single era aquela música mais comercial que se destacava do conjunto de temas apresentados nos LPs - o termo abrasileirado "música de trabalho" já exemplifica a idéia-chave de que a música tocada em rádio podia gerar dinheiro justamente por ser comercialmente apelativa. Em diferentes momentos, surgiam as modas. Assim, pipocaram, ao longo do século passado, os "artistas de uma música só", alçados à fama pela indústria fonográfica para aproveitar uma moda passageira. As gravadoras eram verdadeiras chancelas do que era "bom" e do que era "ruim". Para ter um bom estúdio, um single tocando nas rádios, um disco sendo vendido em todos os lugares e um videoclipe na MTV, era preciso ter uma gravadora por trás. Para isso, era preciso se aliar à proposta da moda do momento ou instituir o novo, criando uma nova moda. Exemplos não faltam. Os Estados Unidos, coqueluche do modelo tradicional da indústria fonográfica, viram, nos dez anos entre 1981 e 1991, ao menos três grandes vertentes de moda surgirem, monopolizarem as rádios e tevês e decaírem, substituídos por uma nova moda. A passagem pode ser exemplificada pela explosão do hard-glam (entre 81 e 86), do thrash (entre 84 e 88) e finalmente do grunge (entre 89 e 92). Claro, essa regra de modas e costumes não é estática. E, muito menos, algo que deve ser entendido como necessariamente ruim. Não foi e não é. Amante de música que sou, já gastei posts e mais posts aqui no Blog tratando de artistas, brasileiros e internacionais, que só foram o que foram graças ao sistema da indústria fonográfica. Era impossível fugir do esquema para quem viveu a segunda metade do século XX. Podia ser rebelde até certo ponto, mas, regra infalível, invariavelmente voltava ao mainstream das gravadoras. Faz parte. Este modelo de monopólio das grandes gravadoras começou a entrar em decadência tão logo os anos 90 acabaram. O século XXI começou e, logo de início, já trazia consigo a disseminação da internet. As experiências dos anos 90, com o Napster, foram desenvolvidas anos-luz à frente em pouco tempo. Se, em 1997, o Napster causava burburinho, isso não era problema, uma vez que os artistas ainda vendiam milhões de CDs, tinham singles e clipes em toda parte e as gravadoras deitavam e rolavam. A partir dos anos 2000, no entanto, passamos a conviver com blogs e sites de altíssimo nível que traziam álbuns inteiros de gente nova e, principalmente, daquelas joias esquecidas pela indústria, que, de moda em moda, vai enterrando gênios do passado. Aí foi que a coisa virou. Não são apenas um ou outro site causando burburinho com o compartilhamento de músicas. Mas blogs, sites e sistemas de difusão musical, feitos anonimamente ou não, em diferentes países. A democratização da internet - por meio dos ganhos de escala dos computadores (olha aí outra indústria...) - permitiu que um número cada vez maior de pessoas passasse a trocar ideias, e porque não músicas?, entre si, formando cadeias de fãs interligados. O mais curioso, conforme a coisa foi ganhando musculatura, é ver blogs feitos em nomes de artistas e bandas dos anos 30 e 40, que mal gravaram sequer LPs, gerando debates entre milhares de pessoas que descobriram o material quase centenário por meio de um ou outro geek que disponibilizou na internet. As gravadoras não cederam facilmente, é claro. Sacaram que era preciso reduzir o preço do CD, vender música pela internet e mesmo relançar grandes discos do passado em edições de luxo. Este blogueiro, aliás, aproveitou e muito os relançamentos (estou, aliás, apaixonado por uma coleção de relíquias da Dolores Duran, lançado no ano passado). A verdade é que, ano a ano, a indústria fonográfica foi perdendo o monopólio. Este 2010 parece ser o momento em que a luta parece ter sido decidida a favor de um modelo mais aberto. Estamos todos, independentemente de onde vivemos, tateando este novo modelo, difuso e sem o "fator hierarquia", exercido pelas diferentes indústrias do século XX: cultural, fonográfica, midiática etc. Este, aliás, é o grande ponto desta quebra de paradigmas por que passamos nesta década que termina e que continuaremos a ver, de maneira ainda mais louca, na década de 2010. Pouco se pensa sobre isso, mas, ainda que os efeitos negativos do monopólio e do poder de chancela (de decidir o que ganha espaço e o que é excluído do sistema) sejam em muito superiores aos positivos, a indústria (seja ela do disco, da mídia ou qualquer outra) serve para hierarquizar e organizar informações e conteúdos. O que os americanos passam desde 2003-04 - e que nós começamos a ver nos últimos anos, a partir de 2008 mais especificamente - é uma espécie de anarquismo informacional, que dá espaço a todos e a tudo. Isso é ótimo e deve ser aprofundado. Mas, como qualquer fenômeno novo, coloca um elefante na sala do tradicionalismo acostumado a alguém dizendo o que é bonito e o que é feio. O definhamento da indústria leva esse modelo século XX embora.
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