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Hilário Cunha MTC 14211010236
Em toda a história do conhecimento ocidental, qualquer grande teórico na área das ciências humanas sempre dedicou ao menos algumas páginas se debruçando ao tema do trabalho. O tema é tão antigo quanto à origem do próprio modo de pensar (linguagem lógica), que, para alguns, ela, a linguagem, é a própria origem desta realidade e a realidade mesma. 	
Assim, dentro dessa realidade, ou dessa linguagem, temos que um grande sistematizador dela(s), Aristóteles, imprimiu no modo de pensar o trabalho sua sistematização, sua forma de categorias. E não haveria como ser diferente. Entretanto, não será viável aqui discorrer como ele pensará o trabalho no âmbito de sua ética, mas o que importa é frisar que para o autor, quem trabalhava era o escravo. Isso apenas informa que a questão do trabalho é muito antiga, e que a problemática sociológica e psicanalítica do trabalho doméstico tem uma origem muito distante da realidade apresentada no filme.
Apesar de uma modificação formal no conceito de trabalho, parece que não houve uma modificação do modo como ele é visto no Brasil. É que dos 515 anos do Brasil, 388 foram ocupados pela barbárie da escravidão. Isso significa que, especialmente no Brasil, o campo do trabalho foi contaminado com a noção de que o trabalho é a realização do escravo, parecendo tal ideia estar fortemente fixada no inconsciente coletivo. Este, que apesar de não derivar de experiências individuais, caso do inconsciente individual freudiano, necessita de reais experiências para revelar-se. E, no caso da herança da escravidão, a propositura de papéis desprezíveis aos egressos da escravidão, dentro do mercado de trabalho, propaga a deficiência econômica e, com isso, a social, fazendo com que esses egressos se calem diante do sistema econômico que faz seleção com base em racismo, o que acaba por alimentar um sentimento colonial de forma anacrônica, perene, sendo a própria emanação arquetípica de Jung quando se trata da herança da escravidão, contrariando Freud, visto que tais arquétipos são consideravelmente mais fundamentais e constituidores de parte relevante do inconsciente individual. É que informações de arquétipos impessoais podem sofrer retenção pelo inconsciente coletivo, o que possibilita a manifestação destes nos indivíduos. 
É por isso que a ideia de que havia o direito de escravizar pode explicar o por quê de os direitos dos operários se afirmarem apenas em 1930 (o pauperismo da classe operária é diretamente proporcional à circulação e acúmulo de capital. Sendo assim, a burguesia sentiu que a pauperização crescente da classe operária seria uma ameaça frente às instituições sociais, denominando-a então de “questão social”. Esta expressão, que posteriormente se denominará “exclusão social” para encobrir melhor a contradição entre trabalho e capital, é a representação do reconhecimento pelo Estado capitalista da precisão de enfrentamento de certos problemas sociais. No Brasil, por conta do seu lento desenvolvimento industrial, a “questão social” aparece apenas em 1930, pouco depois do fim da escravidão e a aparição do trabalho livre) e a doméstica ter seus direitos plenos, inclusive o FGTS, conforme o art. 7º, parágrafo único da Constituição Federal, apenas em 2015. Isso é apenas a ideia denunciada de maneira suave em filmes como “Que horas que ela volta?”, mostrando que as ideias que marcam as relações de trabalho pela falta de ética estão presentes atualmente. A herança da escravidão, aquela em que é possível ver seres humanos inferiores, que se faz luto apenas para grupos selecionados, representa um grave defeito ético no Brasil.
Assim, o filme mostra uma realidade social presente na sociedade brasileira, mostrando a relação do dominado e do dominador, em que a empregada doméstica conhece todos os detalhes da vida do filho dos empregadores, enquanto que o filho, que tem uma relação muito íntima e antiga com a empregada, não sabe quase nada a respeito da vida dela, sendo que a empregada tem um espaço próprio na casa. Essa relação de dominação também se manifesta num ambiente em que existe uma relação de trabalho em que há o câmbio do serviço pelo salário, sendo que para cada grupo na casa existem normas diferentes a respeitar, mas num contexto em que se considera falsamente que a doméstica é um membro da família. 
Além disso, num aspecto sociológico, é abordada com muita nitidez a questão da fronteira entre as normas no desconhecimento da filha da doméstica dessa fronteira, mostrando que tal pode não ser necessária. Nisso, há a quebra das normas por parte da filha, o que acaba por evidenciar diversas relações de poder entre os membros da casa, gerando inúmeras consequências. A questão do preconceito no filme também mostra uma contradição discursiva típica da classe média: a meritocracia. É que os empregadores acreditam que a filha da doméstica não poderá obter aprovação num vestibular por conta das condições econômicas e, talvez, culturais, sendo que o que está por trás dessas questões é, antes de tudo, o próprio ser filho de..., contradizendo o que tipicamente pregam. Entretanto, o filme passa a mensagem de que conhecendo melhor a vestibulanda, ocorre a eles que é possível que um filho(a) de doméstica possa desenvolver alguma intelectualidade. Sabidamente que isso não é possível de ser uma regra, pelo menos no Brasil, sendo mais correto dizer que é quase impossível, pois o(a) doméstico(a) surge, geralmente, de segregação econômica e cultural, inclusive sendo inculcada por retenção no inconsciente junguiano. Assim, a essência do “A existência precede a essência” dos existencialistas se torna algo absolutamente mais frágil pelo fato de que, primeiro, a liberdade do filho do doméstico(a) é da mesma natureza da liberdade formal de outrora, ainda mais amplificada em termos culturais, visto que agora uma essência de cultura está absolutamente dependente do acaso de variáveis incontroláveis e que, definitivamente, o filho de domestica não sabe que existem e, provavelmente, a doméstica, pela sua condição no mundo, também não sabe; segundo, pelo fato de que, a mercê do acaso, a probabilidade maior é ser arrastado pelas ideologias em que a própria doméstica já se encontra, (não no sentido marxiano, por ausência de crítica, sendo tal crítica a captação das categorias do movimento hegeliano), o que fará os filhos de domésticos atuarem como animais, perdendo então sua humanidade perante quem a detém de fato, considerando o kantismo que considera a especificidade humana: julgarão condutas pela busca de felicidade, internalizarão, na esteira da ética consequencialista de J.S. Mill, a busca pela felicidade como o bem maior, algo que deva ser buscado de qualquer jeito, o legítimo ter uma vida financeira confortável para o melhor comer, dormir e reproduzir possíveis, tendo o menor gasto de energia, sendo que o homem tem dignidade exatamente por não estar naturalmente vocacionado à busca da felicidade, pois é ser reflexivo, e, como tal, representa um obstáculo para aumentar o prazer e diminuir a dor, tendo a maior competência para buscar a felicidade, os animais, objetivo da vida destes.

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