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Varrendo a cidade:um estudo da invisibilidade social

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GT 09-TRABALHO, MOVIMENTOS SOCIAIS E CONFLITOS URBANOS
VARRENDO A CIDADE: a mulher gari em Ituiutaba-MG, um estudo de invisibilidade social
				
					SILVA, Maria Betânia Gomes.
Graduada em Serviço Social
Universidade Federal de Uberlândia.
Faculdade do Campus Pontal /FACIP 
Resumo
O presente artigo propõe analisar e refletir sobre o trabalho na limpeza urbana na cidade de Ituiutaba-MG e sua influência na saúde da mulher-Garí.Procurando identificar quais consequências que esse trabalho traz a essa mulher trabalhadora.Tendo em vista que é um trabalho terceirizado, com garantias mínimas de direitos sociais.
Palavras-chave: Trabalho, Terceirização, Mulher, Direitos sociais.
Introdução
Em Ituiutaba, Minas Gerais, há um número de mais ou menos 50 mulheres que exercem o trabalho diário de limpeza urbana, com carga horária de 6 horas diárias. Muitas trabalham no primeiro horário, que começa na madrugada, por volta das 5 da manhã.
Historicamente, a mulher sempre ganhou menos que o homem, mesmo exercendo a mesma função, nas mesmas condições de trabalho. Com o trabalho de gari, não é diferente. Quando um homem que trabalha em outros postos de coleta do lixo vem trabalhar no lugar de uma dessas mulheres,o salário desse homem permanece o de coletor do lixo, superior ao de gari.
O trabalho da mulher não é valorizado, e exemplos como esse fixam na sociedade a ideia de que aquele trabalho não tem valor por ser feito por uma mulher. A mulher vem de uma cultura na qual é vista como filha, dona-de-casa, mãe, esposa, mas nunca como profissional. No contexto histórico, esta mulher é vista como sexo frágil, que o homem tem que cuidar dela.
A exploração da mulher se dá não só pelo baixo custo de sua força de trabalho, mas também no ambiente doméstico. É essa mulher que cuida para que marido e filhos sejam bem cuidados por ela em casa, para que seja mantida a força de trabalho destes para servir o capital, sendo que ela também sai a luta todos os dias: trabalha,estuda e cuida do lar.Desde o início dos tempos a mulher sempre foi massacrada, injustiçada. Está sempre em desvantagem em relação ao homem, tanto em relação aos salários recebidos, como na sociedade.
A presença feminina no mundo do trabalho nos permite acrescentar que, se a consciência de classe é uma articulação complexa,comportando identidades e heterogeneidades, entre singularidade que vivem uma situação particular no processo produtivo e na vida social,na esfera entre o individuo e sua classe, quanto aquela que advém da relação entre classe e gênero, tornam-se ainda mais agudas na era contemporânea (Antunes,2002,pag.46).
	Em relação a esta mulher que trabalha, observa-se a esperança que cada uma delas tem em mudar o rumo de sua vida,pois através do trabalho ela busca a emancipação, tendo a motivação de dar uma vida melhor para os filhos e condições dignas de vida. 
Estas observações fizeram surgir inquietações sobre estas mulheres e mais propriamente sobre o modo de vida que elas tem que as conduz a uma necessidade de trabalhar, buscando sua autonomia, e conseqüentemente sua emancipação e empoderamento. 
Primórdios do capitalismo e trabalho feminino
O trabalho feminino no decorrer dos tempos vem mudando a conscientização da mulher em relação à busca por seu espaço, apesar de conciliar sua vida profissional e dona-de- casa, mãe e esposa. É importante ressaltar este tema instigante em relação ao trabalho feminino da gari em Ituiutaba- MG, por trazer à tona o trabalho precarizado como solução ao desemprego constante; porque estas mulheres precisam de uma renda para poder sobreviver e manter sua família. Ao escolher este sujeito feminino, temos que trazer à baila o processo de trabalho que insere a mulher no mercado, que inicia-se no século XIX. 
Durante o período da Revolução Industrial, a mulher ia para as fábricas com uma jornada diária de até 16 horas e recebendo bem menos que o homem, por ser mais rápida, e mais flexível aos poucos a mulher foi sendo incorporada na indústria e ser mais adaptável a determinados tipos de trabalho,porque pra trabalhar nas maquinas a força física não contava muito.
No modelo de produção capitalista eram comuns práticas abusivas na relação de trabalho, como baixos salários e jornadas de até 16 horas diárias, o que comprometia a saúde física e mental dos trabalhadores. A partir século XIX, com o surgimento da máquina a vapor, do comércio, o crescimento das cidades e o êxodo rural, vieram as transformações no mundo do trabalho que modificaram a sociedade como um todo. 
Neste período observaram-se os seguintes aspectos do capitalismo: produção em grande escala; concorrência desleal e lucro. As transformações neste período foram consideradas como intensas. A produção da mercadoria em grande escala não trouxe distribuição de riquezas, pelo contrário, o dono do maquinário produzia cada vez mais e com valor mais baixo. Além disso, o período foi marcado pela concorrência desleal com os artesãos não tendo outra saída a não ser aliarem-se aos donos dos maquinários para poderem sobreviver vendendo sua força de trabalho. Quanto ao lucro, este era cada vez maior, permitindo a compra de novos maquinários e contratação de mais mão-de-obra assalariada, fazendo surgir assim as indústrias e fábricas.
Com tanta desigualdade e miséria, o trabalhador não tinha nenhum direito garantido como nos dias atuais, como vínculos empregatícios legais, nem férias, aposentadoria, nenhum tipo de benefício.
O desemprego foi intenso com a chegada da máquina, trazendo revolta para os trabalhadores que ficaram desempregados. Sendo assim esses trabalhadores mudaram suas relações entre si. A produção crescente trouxe uma desqualificação de mão-de-obra porque o trabalhador não conseguia acompanhar o acelerado ritmo da produção, e a partir daí emerge um enorme exército de reserva, aumentando a miséria e o intenso desequilíbrio social. A mulher por sua vez teve que sair da casa para trabalhar para ajudar nas despesas e com isso levar as crianças para trabalharem também, as mulheres no universo do trabalho sempre foi mão-de-obra barata.
Desse incremento da força de trabalho, um contingente expressivo é composto por mulheres, o que caracteriza outro traço marcante das transformações em curso no interior da classe trabalhadora [...] (ANTUNES, 1993, P. 45)
O trabalho, durante o desenvolvimento do capitalismo no século XX, passa por diversas transformações, que não cabe discutir aqui. O modelo fordista e, depois, o modelo toyotista, preparam o terreno para as relações de trabalho flexibilizadas que temos atualmente. Em comum, todos os modelos, desde os primórdios, não resolvem, mas ampliam as desigualdades sociais.
O trabalho flexibilizado
O mundo moderno traz mudanças diferenciadas, tanto humanas como sociais, o sociólogo Zygmunt Bauman batiza essa nova era de modernidade líquida. Uma forma líquida diz respeito à uma sociedade onde o ser humano se molda às novas relações,menos rígidas,mais flexíveis,como os líquidos que se adequam conforme o ambiente.
“Derreter os sólidos” era sentido como derreter minério de ferro para moldar barras de aço.Realidades derretidas e agora fluídas pareciam prontas para serem recanalizadas e derramadas em novos moldes, onde ganhariam uma forma que nunca teriam adquirido se tivessem sido deixadas correndo nos próprios cursos que tinham cavado.(BAUMAN,2001, P. 164)
Nos anos 70, o trabalhador se torna eclético, o que vem causar mudanças significativas no mundo do trabalho. Antes, era tudo muito rígido, muito sólido e agora existe a possibilidade, de algo mais fluido, ou seja, o indivíduo passa de agente passivo para agente ativo. Isto é a chamada Modernidade Líquida, em que os indivíduos, tanto os homens quanto as mulheres, tem a sensação de serem livres, que de acordo com Bauman (2001), há mais oportunidades, desejos, realizações a serem perseguidas continuamente, pois não há um fim determinado.Sendo assim,vai se deixando para trás,a uniformidade, o domínio, o ranço do capitalismo pesado, que o fordismo implantara.
Apesar de o período trazer o fortalecimento dos indivíduos e da subjetividade, traz, também, novas inquietações em relação ao trabalho. Não podemos esquecer do movimento sindical e operário nesse período. A reestruturação do trabalho vem atingir as relações de trabalho, particularmente as mulheres. Com a reestruturação do trabalho, o movimento sindical sofreu grandes perdas, com a individualização das relações no mundo do trabalho, o risco de ficar sem emprego ficou ainda maior.
Os sindicatos operam um intenso caminho de institucionalização e de crescente distanciamento dos movimentos de classe. Distancia-se da ação, desenvolvida pelo sindicalismo classista e pelos movimentos sociais anticapitalistas, que visavam o controle social da produção, ação esta tão intensa em décadas anteriores, e subordinam-se à participação dentro da ordem (ANTUNES, 2002, p.43).
Toda essa mudança, segundo Antunes, na estrutura produtiva, nos sindicatos, no mundo do trabalho, só veio aumentar a exploração da força de trabalho feminina, em trabalhos antes exercidos somente por homens, exemplo a indústria microeletrônica, que a partir de 1990, aqui no Brasil, têm início a total desintegração do trabalho coletivo, através da terceirização do emprego.
E as terceiras tendem, cada vez mais, a precarizar as relações de trabalho, reduzir ou eliminar direitos sociais, rebaixar salários e estabelecer contratos temporários, o que afeta profundamente às bases de trabalho conquistadas no pós-guerra, ou seja, há má substancial perda de direitos trabalhistas conquistados a duras penas. (IAMAMOTO, 2001, P. 32). 
Alguns autores, entretanto, percebem essas transformações de outra maneira. Tal precarização do trabalho, para eles, seria uma forma de atenuar modificar e se adaptar a uma nova realidade do mundo do trabalho. As mudanças ocorridas socialmente, politicamente, economicamente e culturalmente, de certa forma trazem essa flexibilização do trabalho como forma de adaptação em momentos de crise que não se trata de acabar com os direitos trabalhistas, mas sim, modificar alguns direitos.
Flexibilização das condições de trabalho é o conjunto de regras que tem por objetivo instituir mecanismos tendentes a compartilhar mudanças de ordem econômica, tecnológica, política e social existentes na relação entre capital e trabalho. (MARTINS, 2002, P.25).
Martins (2002) acredita que o que esta sendo flexibilizado não são os direitos em si,mas somente as condições do trabalho. Isso é um caos quando se atravessa uma crise no Brasil, no qual o trabalhador para colocar comida na mesa se sujeita a todo tipo de trabalho.
Entende-se, aqui, que a precarização e flexibilização do trabalho nada mais são do que o fim dos direitos sociais,antes conquistados através de lutas travadas com os donos do capital por trabalhadores para que se conseguisse vários benefícios como carteira assinada, 13° salário, férias,fundo de garantia, seguro-desemprego e que com o passar dos tempos, estão se perdendo,ou seja, um grande golpe engendrado para destruição de garantias sociais historicamente conquistadas (SOUTO MAIOR, 2015).Então,vemos isso como um retrocesso na história do trabalhador.
O trabalho no mundo contemporâneo possui duas vertentes, que é a informalização da força de trabalho e de aumento dos níveis de precarização dos trabalhadores.
A flexibilização, definitivamente, não é solução para aumentar os índices de ocupação. Ao contrario, é uma imposição à força de trabalho para que sejam aceitos salários reais mais baixos e em piores condições. (Vasopollo, 2005,p.28)
Sendo assim, entendo a precariedade como mais uma forma de dominação em massa dos trabalhadores, mantendo insegurança no ar, faz com que estes trabalhadores se sujeitem a todo tipo de trabalho para se manterem e cuidarem de sua família, não tendo outra saída, fazem opção por esse tipo de trabalho ou outro do exército de reserva tomará seu lugar, fazendo com que os sindicatos se enfraqueçam também. 
O trabalho precisa se flexibilizar para acompanhar as demandas da economia, dizem os defensores da globalização, mas segundo Bauman (1999),a flexibilidade tem duas versões:a da procura(patrão) e da oferta(trabalhador).Neste sentido pode-se descrever que o objetivo da terceirização é a diminuição dos custos.Na busca de melhores resultados empresariais, os trabalhadores estão perdendo a vinculação jurídica com as empresas, principalmente pela intermediação que está ocorrendo, com aumento crescente das empresas prestadoras de serviços. Fica claro a quem essa flexibilização serve. Na Constituição de 1988, o Brasil legitima o que ficou acordado nessa convenção e concede às mulheres o direito de cobrar os direitos humanos podendo assim utilizar seus direitos e garantias fundamentais que lhes são assegurados.
Porém, o que resta evidente, é que na nossa sociedade ainda há o desenvolvimento humano preterido em função dos interesses econômicos, o que não deixa de demonstrar a contradição existente entre homens e mulheres.
As mulheres estão presentes em todos os espaços da vida cotidiana, como elemento que sustenta sua reivindicação de participação paritária à dos homens, nos espaços públicos, e sua efetiva inserção na produção social. Estes constituem elementos visíveis para ampliar sua consciência e sua organização no sentido de romper os obstáculos rumo à igualdade de fato (JONAS, 2003, p. 17). 
As mulheres passaram por um longo percurso até chegar aos dias de hoje, todas elas inclusive mulheres de outros países, de tradições mais rigorosas, têm reivindicado seus direitos superando, assim, o papel a elas reservados pela sociedade patriarcal.
Com relação ao trabalho fora de casa, as mulheres viram-se impelidas a trabalhar muito mais por necessidade econômica pessoal ou da família do que por busca realização profissional ou por ter consciência da importância de ser produtiva. Trabalhar fora de casa também passou a ser visto como um traço de “modernidade”, o que muda a representação do que a mulher faz dela mesma, e com consequência para a sociedade, vida familiar e social.
É claro que, uma vez situada no mercado de trabalho, a mulher tornou irreversível essa posição, solidificou-a. As lides domésticas e o campo, de onde saíra, deixaram de ser sua área de atuação exclusiva. A mão de obra feminina, desde então, tendo como marcos esses fatores sociais, se incorporou, com todo o estilo profissional, às fontes de produção. A essa altura dos acontecimentos, o preconceito social já havia sido banido pelas necessidades do mercado.
Porém, a mulher se insere no sistema de produção de uma forma inferior ao homem, isto é, tendo a consideração, não apenas social, mas também jurídica de que teria uma qualificação inferior, aptidão para o exercício do trabalho remunerado, justificando um valor menor pago a esse título, em relação ao homem.
As mulheres brasileiras trabalham cada vez mais, uma vez que o trabalho é um valioso recurso para modificar a situação político-cultural-econômica do Brasil. É nesse contexto que se pode pensar que as mulheres têm relações muito específicas com o trabalho. Hoje elas ingressam no mercado de trabalho com velocidade cada vez maior. E é nesse sentido que se busca dar destaque ao respeito ao trabalho da mulher gari, muitas vezes discriminado pela sociedade. Dessa forma, como que as mulheres garis vão ser valorizadas e merecedoras de todo nosso respeito se a sociedade, com seu preconceito, as veem a todo tempo como algo sujo, e menos dignas de uma vida melhor, somente pelo fato de serem garis?
A imagem social que essas mulheres passam através do seu trabalho exercido com o lixo que varrem, deveria ser algo que mostrasse a importância que esse trabalho representa para todos nós, no entanto é o contrário, são cada vez mais menosprezadas, desqualificadas, humilhadas por uma sociedade medíocre e vazia de valores.
A humilhação social é sofrimento ancestral e repetido. Para roceiros,mineiros ou operários, também para uma multidão de servidores, para os subempregados e para os desempregados, é sofrimento que o trabalhador vai amargar sozinho e, cedo ou tarde, vai também dividir com outros trabalhadores. (COSTA, 2004, p. 22).
É nesta conjuntura, que essa pesquisa seguiu, para poder valorizar essa mulher gari a partir de seu trabalho exercido, buscando que o poder público faça algo que venha beneficiá-las e a sociedade em si venha respeitá-la de forma que essa mulher não se envergonhe do seu trabalho, mas sim, sinta-se valorizada e seja vista como uma trabalhadora dinâmica e importante para todos nós, com políticas públicas voltadas pra elas
quem tenha se engajado naquelas ou nessas lutas e tenha se unido ombro a ombro aos seus protagonistas, quem os tenha muitas vezes visitado, para apoiá-los e para colaborar, quem tenha querido vê-los e ouvi-los de perto. (COSTA, 2004, p. 25).
No entanto, trata-se de um grupo exposto ao sofrimento e humilhação, que traz de certa forma um trauma a essas mulheres, trazendo consigo um sofrimento e um rebaixamento inenarrável. Nesse sentido menciona Costa (2004, p. 25) que são “gestos ou frases dos que penetram e não abandonam o corpo e a alma do rebaixado”. A obra de Costa nos remete a uma indagação: Como explicar a humilhação dessa classe de trabalhadoras-garis? E o autor assim explica:
Um susto? Medo? Pavor? Uma tristeza? Melancolia? Um ódio? Solidão? Isolamento? Vergonha? O sentimento de estar invisível? As expressões de angustia política podem variar: são lágrimas, a cegueira, o emudecimento, os olhos baixos ou que não para de piscar, o corpo endurecido, o corpo agitado, o protesto confuso, a ação violenta e até o crime... (COSTA, 2004, p. 30).
Esta é uma reflexão que deve ser feita a respeito do que essas mulheres garis passam no seu dia a dia. Pois, trata-se de uma incógnita, onde, para a sociedade está tudo normal, elas prestam o serviço, recebem pelo serviço prestado, e ponto, mas e para elas? É isso que sonharam para a vida delas? Quem é essa mulher-gari? Quais seus sonhos? Como é sua vida? Ninguém perde seu valoroso tempo para pensar nelas, para ouvi-las, pois são discriminadas e invisíveis! Até pensam... Se por acaso elas não vem varrer o lixo, e este lixo começa a se acumular. Aí sim, se preocupam e indagam: cadê elas, as garis? 
Que distancia é essa que separa a sociedade dessas mulheres garis? Fala-se tanto em igualdade; mas o que realmente impera desde os primórdios dos tempos é a desigualdade em todos os âmbitos; seja cultural, política, econômica ou social.
Igualdade não é identidade ou equação, eu e outros juntos como eu e o retrato de mim. Não a suspensão de diferenças, igualdade implica certamente a supressão de dominação. Conta quando nos reunimos no igual direito de agir e falar, no direito de governar a cidade e trabalho, ninguém no direito de governar ninguém (COSTA, 2004, p. 37).
Considerações Finais
Esta pesquisa foi realizada em Ituiutaba- MG, e foi apresentada no meu Trabalho de Conclusão de curso. E o que foi observado que a precarização em Ituiutaba-MG é vista como uma “solução” para o desemprego, o que nos leva à diminuição de direitos sociais e maior exploração da mulher trabalhadora.
Seguindo o princípio dos direitos fundamentais do ser humano, estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, bem como pelo CFESS – Conselho Federal de Serviço social, através da Resolução nº. 273/1993 restou claro que as trabalhadoras, mulheres garis, apesar de passarem muitas vezes por constrangimento, medo, angústias, preconceitos na sua profissão, ainda assim, gostam do que fazem e trabalham honestamente.
“O trabalho dignifica o ser humano”, é uma ideia que ouvimos no contato com essas mulheres. Através do trabalho, como foi possível observar, pela elaboração deste estudo, o homem e a mulher conquistaram vários direitos, passando do trabalho escravo, sem dignidade, sem proteção, para um trabalho assalariado, com direitos adquiridos, e, em busca de um valor: a justiça social.
A terceirização é um fenômeno que dinamiza o mercado de trabalho mas o que é importante deixar claro é que a terceirização do trabalho foi uma das formas encontradas pelas empresas para assim diminuírem seus gastos, e os trabalhadores em contrapartida para não ficarem desempregados se sujeitaram a este tipo de trabalho precarizado para poder se manter e manter sua família.O que fica claro nessa pesquisa é que apesar do trabalho das garis ser terceirizado elas tem os mesmos direitos trabalhistas que os demais trabalhadores, como 13°salário, férias e alguns outros, sem contar que o salário em termos de Ituiutaba-MG, é um salário razoável.
Diante das mudanças que ocorreram no mundo do trabalho desde a Revolução Industrial e, também, devido à terceirização do trabalho, procuramos neste estudo dar ênfase a uma forma de trabalho muito conhecida, a de gari, mas aqui se trabalhou com mulheres garis, levando em consideração não só o trabalho por elas desenvolvido, mas o fato de tratar-se de mulheres desenvolvendo um trabalho que na maioria das vezes era realizado por homens.
Elaborado o estudo, obteve informações diversificadas sobre o trabalho desenvolvido por estas mulheres, mas, o que chamou a atenção foram, sem dúvida, questões relacionadas à qualidade de vida destas mulheres e também como são vistas pela sociedade.
Trata-se de um trabalho realizado a céu aberto, sujeito às intempéries climáticas e que, por isso, trazem mais impactos à saúde. Assim pode-se confirmar pelas entrevistas realizadas que estas mulheres recebem da empresa equipamento de segurança necessário para a realização do trabalho, porém, nem sempre estes são utilizados de maneira correta, e, muita das vezes as mulheres gari nem os utilizam, por motivos diversos.
Além da preocupação com a qualidade de vida no trabalho, abordamos através do estudo questões relacionadas ao impacto social deste trabalho, ou seja, como as pessoas veem o trabalho realizado por estas mulheres. Então se pode confirmar que ainda há muito preconceito da sociedade.
Pelos relatos obtidos restou claro que a sociedade se preocupa muita das vezes com a limpeza urbana, ou seja, se está sujo, as mulheres garis fazem falta, mas quando elas estão ali prestando este serviço para a sociedade, percebem o nojo das pessoas que estão em volta. Mas também se pode observar que outras pessoas se preocupam, as agradam com lanches, água gelada, e, até oferecem almoço aos sábados.
Expuseram as mulheres gari que este é um trabalho melhor do que outros que elas já realizaram, apesar do preconceito das pessoas. Sentem-se felizes em poder trabalhar, e pedem por melhores condições de trabalho, como por exemplo, planos de saúde. 
	Assim, em decorrência do que foi visto em toda a pesquisa, conclui-se o estudo, e a hipótese da pesquisadora não foi confirmada, pois no que diz respeito à saúde das mulheres- garis não é porque elas tem dupla ou tripla jornada de trabalho, mas sim,por ser um trabalho exaustivo, e por varrer uma parte muito maior do que deveriam, como por exemplo, são 4,5 quilômetros divididos para somente duas garis varrerem, e também devido aos equipamentos de trabalho como a vassoura ser muito dura, é onde elas se revezam no trabalho, tendo dias que uma varre no outro cata o lixo. Dessa forma, de acordo com elas, o que as adoece é o trabalho pesado e não a jornada doméstica. 
	Várias reflexões vêm à tona nessa pesquisa e trazem uma nova visão aos demais pesquisadores, para que se aprofunde em mais pesquisas voltadas a essas garis e seu modo de trabalho.
Finalizada a pesquisa, sugerimos que pesquisadores abordem outros ângulos da qualidade de vida no trabalho de mulheres garis, tendo em vista, tratar-se de assunto importante e sem quantidade significativas de pesquisas a respeito.
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