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Promovendo Saúde na Contemporaneidade: 
desafios de pesquisa, ensino e extensão 
Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 
 
A FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DA MULHER1 
 
FRIGO, L.F2; BRAZ, M.M.3 
1 Trabalho de Pesquisa_ UNIFRA 
2 Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário Franciscano, pós-graduanda em Uroginecologia, Urologia e Saúde da 
Mulher pela CBES. 
3 Professora do curso de fisioterapia do Centro Universitário Franciscano, Doutora em Engenharia de Produção e Sistemas- 
Ergonomia pela UFSC. 
E-mail: letícia_frigo@hotmail.com; melissabraz@hotmail.com 
 
RESUMO 
 
O atendimento em Saúde da Mulher exige do fisioterapeuta uma atenção especial que 
ultrapassa o limite da especificidade, passando por um olhar mais integral. Objetivo: Conduzir uma 
revisão de literatura observando a atuação da fisioterapia na atenção integral à saúde da mulher. 
Métodos: Uma busca em bancos de dados (Lilacs, Bireme, PubMed, MedLine, Scielo e Google 
Schoolar) foi realizada utilizando-se as palavras-chave: Saúde, integralidade, Fisioterapia e saúde da 
mulher. Resultados: Compreende-se a integralidade na atenção saúde da mulher como a 
concretização de práticas que garantam o acesso das mulheres a ações resolutivas. A inserção do 
fisioterapeuta nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em construção, associado, 
principalmente, à formação do profissional. Conclusão: O Fisioterapeuta atuando na educação em 
saúde com equidade pode significar o caminho para o início das mudanças no quadro social. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A saúde é um direito humano fundamental, inscrito na Constituição brasileira, e deve ser 
entendida como o resultado do processo e das relações sociais que garantem maior ou menor 
qualidade de vida para uma população (PEDROSA, 2005). 
O conceito de saúde, nas últimas décadas, vem passando por transformações, 
principalmente no que diz respeito ao modelo de saúde adotado, evoluindo de um modelo de 
assistência curativa para um modelo promotor da saúde, preventivo e principalmente contando com a 
participação popular e a interdisciplinaridade dos diferentes profissionais da saúde (REGASON, et.al., 
2010). 
A qualidade de vida abrange as necessidades do ser humano em diversos aspectos, como a 
relação com o meio ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda. 
Representa um conjunto integrado de acesso a recursos sociais e de atendimento a necessidades 
pessoais e comunitárias. Esse enfoque exige que os sistemas de saúde trabalhem, obrigatoriamente, 
cumprindo os princípios da integralidade e articulando as ações de assistência à saúde (PEDROSA, 
2005; BRASIL, 2004B). 
O atendimento integral engloba atividades preventivas sem prejuízo aos serviços 
assistenciais. A integralidade configura-se de forma a se ter um sistema que seja integrado em todos 
os seus níveis de complexidade, uma rede de serviços que funcione de modo a dar condições de 
acesso e seja resolutiva para os problemas apresentados e para os fatores de risco que afetam a 
qualidade de vida da população. Inclui a articulação entre os serviços públicos e privados, bem como 
atividades preventivas e assistenciais (REIS E ANDRADE, 2008). 
A integralidade, além de um princípio constitucional defendido como prerrogativa da 
humanização do cuidado em saúde, busca a possibilidade de apreender as necessidades mais 
abrangentes do ser humano, valorizando a articulação entre atividades preventivas e assistenciais. A 
integralidade está presente no encontro, na conversa, na atitude do profissional da saúde que busca 
prudentemente reconhecer, para além das demandas explícitas, as necessidades dos cidadãos no 
que diz respeito à sua saúde. A integralidade está presente também na preocupação desse 
profissional com o uso das técnicas de prevenção, tentando não expandir o consumo de bens e 
serviços de saúde, nem dirigir a regulação dos corpos (GOMES E PINHEIRO, 2005; COELHO et. al., 
2009). 
 Em que pese a concordância de que a integralidade continua sendo um conceito em 
construção, realizou-se um exercício teórico de formulação de uma definição operatória de 
integralidade como modo de atuar democrático, do saber fazer integrado, em um cuidar que é mais 
 
 
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alicerçado numa relação de compromisso ético-político, de sinceridade, responsabilidade e confiança 
(GOMES E PINHEIRO, 2005). 
Na área da saúde da mulher, para que haja uma maior aproximação ao modelo integral, é 
necessária a transformação da tradicional abordagem fundamentada em aspectos ligados 
exclusivamente às questões anatômicas e fisiológicas, naquela direcionada às particularidades de 
gênero, às condições sociais e culturais, às necessidades individuais e comunitárias, à qualidade de 
vida (PEDROSA, 2005). 
 Compreende-se a integralidade na atenção saúde da mulher como a concretização de 
práticas que garantam o acesso das mulheres a ações resolutivas construídas seguindo as 
especificidades do ciclo de vida feminino e do contexto em que as necessidades são geradas. Nesse 
sentido, o cuidado deve ser permeado pela criação de vinculo com escuta sensível de suas 
demandas, valorizando-se a influência das relações de gênero, raça/cor, classe e geração no 
processo de saúde e de adoecimento das mulheres (COELHO, et. al., 2009). 
O conceito de Atenção Integral à Saúde da Mulher compreende as ações de saúde dirigidas 
ao atendimento global das necessidades prioritárias das mulheres e de extensa aplicação no sistema 
básico de assistência à saúde (NARDINI E GUARESCHI, 2008) 
 Historicamente, a atuação do fisioterapeuta é entendida como assistência no nível de atenção 
terciária; porém, sabe–se que quando inserido na atenção primária, pode ser de grande valia para 
ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e educação em saúde (SILVA E DA ROS, 
2007). 
Uma das principais dificuldades encontradas acerca da inserção do fisioterapeuta, não 
apenas na ESF, mas na saúde Pública, diz respeito à formação inicial e a criação da profissão, que 
apresentava um caráter reabilitador, com atuação na atenção terciária, enraizada devido à grande 
demanda inicial por reabilitação, inerente à história da criação do curso (REGASON et.al., 2010). 
A inserção do fisioterapeuta nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em 
construção, associado, principalmente, à criação da profissão, rotulando o fisioterapeuta como 
reabilitador, voltando-se apenas para uma pequena parte de seu objeto de trabalho, que é tratar a 
doença e suas seqüelas. Essa lógica de conceitualização, durante muito tempo, excluiu da rede 
básica os serviços de Fisioterapia, acarretando uma grande dificuldade de acesso da população a 
esse serviço e impedindo o profissional de atuar na atenção primária (REGASON et.al., 2010). 
O atendimento em Saúde da Mulher exige do profissional uma atenção especial que 
ultrapassa o limite da especificidade, passando por um olhar mais integral, com ênfase na prevenção 
dos agravos e na promoção da saúde integral da mulher. 
A atuação da Fisioterapia na saúde da mulher permite intervir sobre vários aspectos da 
função e do movimento humano, que sofrem mudanças e alterações durante o ciclo de vida da 
mulher, desde a adolescência até a fase adulta, passando pelo período gestacional, menopausa e 
terceira idade. 
 
2 MATERIAL E MÉTODO 
 
Para esta revisão de literatura, realizou-se um levantamento bibliográfico, sem data limite, 
utilizando livros, monografias, artigos de periódicos e Internet. Nesta última, foram pesquisados 
artigos pelas bases de dados Lilacs, Bireme, PubMed, MedLine, Scielo e Google Schoolar. A consulta 
foi sistemática, em fontes clássicas e atuais da literatura científica nacional e internacional. Paraa 
busca, utilizaram-se os termos “Saúde”, “Integralidade”, “Fisioterapia” e “Saúde da Mulher”. Foram 
incluídos os estudos relevantes para o objetivo em questão e excluídos aqueles que apresentavam 
informações que não se enquadravam no estudo ou que traziam dados e informações de origem 
duvidosa. Os resultados da busca foram organizados, apresentados e discutidos em diferentes itens, 
priorizando a elucidação do objetivo proposto. 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
3.1 Saúde e Qualidade de Vida 
 
Nos anos 80 surgiu o movimento de Reforma Sanitária Brasileira, crítico ao modelo de saúde 
considerado curativista, centralizador e assistencialista. A Constituição Federal de 1988 instituiu uma 
nova visão da saúde como direito social e dever do estado, contemplando princípios de assistência à 
saúde que garantem o acesso universal, equânime e integral a todos os brasileiros (ALMEIDA, 1996). 
 
 
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A saúde seria o resultado de um processo de produção sobre o qual intervêm práticas 
sociais, estando relacionado tanto a necessidades sociais quanto a práticas de intervenção e 
controle. A clínica e a saúde coletiva produzem sempre saúde e controle. O objeto sobre o qual se 
intervém indica o compromisso assumido pelas práticas sanitárias. No caso dos sistemas de saúde 
este objeto é representado pela doença ou por situações que a potencializem, quer digam respeito ao 
indivíduo ou ao meio. O objetivo ou a finalidade desses serviços é a produção de saúde (CAMPOS, 
2000). 
Com o crescimento e o desenvolvimento econômico ocorrido após a Segunda Guerra Mundial 
nos Estados Unidos, as pessoas passaram a ter acesso a diferentes bens materiais e, para descrever 
o efeito disso em suas vidas, surgiu o termo qualidade de vida. Neste sentido, entende-se saúde não 
como o avesso da doença, mas como a busca do equilíbrio do ser humano, devendo, portanto 
romper os estreitos limites de uma assistência fragmentada (REGASON, 2010; MORENO, 2009). 
Com o passar dos anos se com a evolução tecnológica das várias intervenções feitas no 
âmbito da saúde, tornou-se necessário não só a avaliação da efetividade dessas intervenções, mas 
também do seu impacto na qualidade de vida das pessoas. Tem-se então, atualmente, a qualidade 
de vida como um parâmetro para a avaliação das intervenções de saúde das pessoas. 
 Assim, apesar de muitos profissionais da saúde não estarem convencidos da relevância de 
mensurar a qualidade de vida na prática clínica diária, ela cada vez mais será um parâmetro 
fundamental para guiar, direcionar e justificar quais intervenções deverão ser realizadas em cada 
paciente e, principalmente, pelo sistema de saúde. A qualidade de vida é multidimensional e está 
diretamente associada ao contexto cultural em que o indivíduo está inserido (MORENO, 2009). 
O trabalho em saúde se humaniza quando busca combinar a defesa de uma vida mais longa 
com a construção de novos padrões de qualidade da vida para sujeitos concretos. A Humanização é 
uma mudança das estruturas, da forma de trabalhar e também das pessoas. A humanização da 
clínica e da saúde pública depende de uma reforma da tradição médica e epidemiológica. Uma 
reforma que consiga combinar a objetivação científica do processo saúde/doença/intervenção com 
novos modos de operar decorrentes da incorporação do sujeito e de sua história desde o momento 
do diagnóstico até o da intervenção (CAMPOS, 2005). 
A humanização depende ainda de mudanças das pessoas, da ênfase em valores ligados à 
defesa da vida, na possibilidade de ampliação do grau de desalienação e de transformar o trabalho 
em processo criativo e prazeroso. A reforma da atenção no sentido de facilitar a construção de 
vínculos entre equipes e usuários, bem como no de explicitar com clareza a responsabilidade 
sanitária são instrumentos poderosos para mudança (CAMPOS, 2005). 
 
3.2 Integralidade 
 
No Brasil, a integralidade fez parte das propostas de reforma sanitária desde o início da 
década de 80. Diretriz política, ideal ou objetivo, a integralidade torna-se um atributo relevante a ser 
levado em conta na avaliação da qualidade do cuidado, dos serviços e dos sistemas de saúde, em 
geral, naqueles direcionados para uma política de cuidados primários (CONILL, 2004). 
Mais do que isso, expressa uma das bandeiras de luta do chamado movimento sanitário. De 
certo modo, tem funcionado como uma imagem-objetivo, ou seja, como uma forma de indicar 
características desejáveis do sistema de saúde e das práticas que nele são exercidas, contrastando-
as com características vigentes ou predominantes (MATOS, 2004). 
A integralidade é prerrogativa da humanização do cuidado em saúde, busca a possibilidade 
de apreender as necessidades mais abrangentes do ser humano, valorizando a articulação entre 
atividades preventivas e assistenciais
 
(COELHO et.al., 2009). 
Na prática a integralidade se expressa exatamente na capacidade dos profissionais para 
responder ao sofrimento manifestado, que resultou na demanda espontânea, de um modo articulado 
à oferta relativa a ações ou procedimentos preventivos. Para os profissionais, isso significa incluir na 
sua rotina de trabalho condutas ou processos de busca sistemática daquelas necessidades mais 
silenciosas, posto que menos vinculadas à experiência individual do sofrimento. Para os serviços, 
isso significa criar dispositivos e adotar processos coletivos de trabalho que permitam oferecer, além 
das ações demandadas pela própria população a partir de experiências individuais de doença, ações 
voltadas para a prevenção
 
(MATOS, 2004). 
A integralidade está presente no encontro, na conversa, na atitude do médico que busca 
prudentemente reconhecer, além das demandas explícitas, as necessidades dos cidadãos no que diz 
respeito à sua saúde
 
(GOMES E PINHEIRO, 2005). 
 
 
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3.3 Atuação integral no cuidado à saúde da mulher 
 
Políticas destinadas a dar respostas a um determinado problema de saúde, ou responder aos 
que atingem certo grupo populacional, podem trazer as marcas da integralidade. Assim ocorreu com 
o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), em 1984, fruto da luta feminista que 
construiu, ao longo do tempo, conhecimento sobre as demandas das mulheres para além das 
especificidades reprodutivas, o que representou uma ruptura com a perspectiva biologizante materno-
infantil. 
Orientado por princípios que respeitam as especificidades do ciclo vital das mulheres, o 
referido Programa propõe-se a atender as necessidades mais amplas em saúde, valorizando o 
contexto sócio-histórico e cultural em que tais necessidades se apresentam. Ao longo de vinte anos, 
o PAISM passou por avanços e retrocessos, e, na atualidade, a Política Nacional de Atenção Integral 
à Saúde da Mulher (PNAISM) resgata os seus princípios, com ênfase na abordagem de gênero e na 
integralidade como norteadores das práticas de cuidado à saúde das mulheres (COELHO et. al., 
2009). 
Na atenção à saúde das mulheres, compreende-se a integralidade como a concretização de 
práticas de atenção que garantam o acesso das mulheres a ações resolutivas construídas segundo 
as especificidades do ciclo vital feminino e do contexto em que as necessidades são geradas. Nesse 
sentido, o cuidado deve ser permeado pelo acolhimento com escuta sensível de suas demandas, 
valorizando-se a influência das relações de gênero, raça/cor, classe e geração no processo de saúde 
e de adoecimento das mulheres
 
(BRASIL, 2004b). 
Contudo, investigações científicas com profissionais do campo da saúde da mulher vêm 
identificando obstáculos para a construção da integralidadedo cuidado. As equipes multiprofissionais, 
cuja formação se dá sob sujeição ideológica a referenciais de saber e poder, desenvolvem, 
sobretudo, ações de caráter biológico dirigidas à saúde sexual e reprodutiva, mantendo-se na 
obscuridade outros problemas vivenciados, o que reproduz desigualdades sociais diante da 
implementação das políticas públicas de saúde
 
(COELHO et al., 2009). 
A situação de saúde envolve diversos aspectos da vida, incluindo o meio ambiente em que se 
vive, as possibilidades de lazer, o acesso à alimentação, a renda e as condições de trabalho e 
moradia. No caso da mulher, todavia, outros aspectos particulares também devem ser considerados: 
a discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga com as responsabilidades em relação ao 
trabalho doméstico. Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza realçam ainda as 
desigualdades na situação de saúde
 
(BRASIL, 2004a). 
Se as mulheres vivem, em média, mais anos do que os homens, elas adoecem mais 
freqüentemente. Essa maior vulnerabilidade a doenças e riscos à saúde freqüentemente está mais 
relacionada à situação de discriminação e desigualdade do que a fatores biológicos. 
As desigualdades sociais, econômicas e culturais se revelam no processo de adoecer e 
morrer das populações e de cada pessoa em particular, de maneira diferenciada. De acordo com as 
estatísticas de saúde, as populações expostas a precárias condições de vida estão mais vulneráveis 
e vivem menos (BRASIL, 2004a). 
A população feminina ocupada no Brasil concentra-se nas classes de rendimento mais 
baixas. Da mesma maneira que diferentes populações estão expostas a variados tipos e graus de 
risco em função da organização social das relações de gênero, as mulheres também estão expostas 
a padrões distintos de sofrimento, adoecimento e morte. Partindo-se desse pressuposto, é 
imprescindível a incorporação da perspectiva de gênero na análise do perfil epidemiológico e no 
planejamento de ações de saúde que tenham como objetivo promover a melhoria das condições de 
vida, a igualdade e os direitos de cidadania da mulher (BRASIL, 2004b). 
A política voltada para a assistência à saúde da mulher foi formulada no Brasil no bojo das 
políticas nacionais de saúde na primeira metade da década de 1930, estando limitada, nesse período, 
às demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, atualizados nos anos 
de 1950 e 1970, mantiveram a visão estreita sobre a mulher, reproduzindo a visão e especificidade 
biológica, o seu papel social de reprodutora e mantenedora de indivíduos saudáveis e, portanto, de 
mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos 
(BRASIL, 2004 a; BRASIL, 2004b). 
No âmbito do movimento feminista, esses programas foram vigorosamente criticados pela 
perspectiva reducionista com que tratavam a mulher, uma vez que o acesso a cuidados de saúde se 
resumia ao período relacionado ao ciclo gravídico-puerperal, sem que fosse prevista a assistência na 
 
 
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maior parte da vida. Com forte atuação no campo da saúde, o movimento de mulheres contribuiu 
para introduzir, na agenda política, questões até então deixadas em segundo plano, por serem 
consideradas restritas ao espaço das relações privadas. Naquele momento, tratava-se de denunciar 
as desigualdades nas condições de vida e nas relações entre os gêneros: os problemas associados à 
sexualidade, à reprodução, à anticoncepção e às doenças sexualmente transmissíveis, além da 
sobrecarga de trabalho, incluindo as responsabilidades com o trabalho doméstico e a criação dos 
filhos.A partir da formação de grupos autônomos, o movimento feminista construiu sua base de 
organização política, levando suas propostas a outras entidades de classe, como sindicatos, 
associações de moradores e universidades (VOLKMER et. al., 2010). 
Uma das principais reivindicações era o direito da mulher ao controle de seu corpo: a 
permissão de um exercício da sexualidade livre da ameaça da gravidez não-desejada, a expressão 
de uma nova consciência feminina e cidadã que buscasse as transformações das concepções sobre 
os problemas relacionados ao gênero. 
Os grupos organizados de mulheres argumentavam que as desigualdades nas relações 
sociais de gênero se traduziam também em problemas de saúde que afetavam particularmente a 
população feminina. Por isso, fazia-se necessário denunciá-los, propondo ações políticas que 
promovessem mudanças na estrutura da sociedade e na qualidade de vida. Com base nesses 
argumentos, foi proposto que a perspectiva de mudança das relações sociais entre homens e 
mulheres servisse de base à elaboração, execução e avaliação das políticas de saúde da mulher. 
Estes grupos reivindicaram sua condição de sujeitos de direito, com necessidades que extrapolavam 
o momento da gestação e do parto, demandando ações que lhes proporcionassem melhoria das 
condições de saúde em todos os momentos e todas as dimensões da vida. Foram requeridas 
também ações que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais e as 
condições sociais, econômicas, culturais e afetivas em que estivessem inseridos (PEDROSA, 2005).
 
 
3.4 A Fisioterapia na atenção à Saúde da Mulher 
 
Na Fisioterapia o problema de clareza sobre o objeto de trabalho induz a indefinições do 
campo de atuação do profissional, parecendo estar voltado para uma pequena parcela do objeto: a 
doença e suas seqüelas. Este problema se reflete no perfil acadêmico do fisioterapeuta, onde muitos 
estão voltados apenas para o processo de reabilitação. A capacitação do profissional para a ação 
preventiva e educativa é de extrema importância para a comunidade em que atua, contribuindo para 
a melhora da qualidade de vida (SILVA E DA ROS, 2007). 
Uma das principais dificuldades encontradas com respeito à inserção do fisioterapeuta, não 
apenas no PSF, mas na saúde Pública, diz respeito à formação inicial e a criação da profissão, que 
apresentava um caráter reabilitador, com atuação na atenção terciária, enraizada devido à grande 
demanda inicial por reabilitação, inerente à história da criação do curso. 
A inserção do fisioterapeuta nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em 
construção, associado, principalmente à formação profissional, rotulando o fisioterapeuta como 
reabilitador, voltando-se apenas para uma pequena parte de seu objeto de trabalho, que é tratar a 
doença e suas seqüelas. Essa lógica de conceitualização, durante muito tempo, excluiu da rede 
básica os serviços de Fisioterapia, acarretando uma grande dificuldade de acesso da população a 
esse serviço e impedindo o profissional de atuar na atenção primária (REGASON et. al., 2010). 
Para inserir–se no contexto da formação e da atenção básica, a competência do 
fisioterapeuta precisa ir além da boa técnica; é preciso estar sensível às necessidades e às 
circunstâncias de vida das famílias envolvidas e dos colegas de trabalho e embora o próprio mercado 
de trabalho esteja mudando na direção de um trabalho integrador, isso não significa somente buscar 
equipes com profissionais de diversas áreas, integrados, acenando para uma perspectiva que 
atualmente está sendo chamada de interdisciplinaridade. Deve–se considerar que a intervenção não 
depende da atuação de somente um profissional, mas da flexibilidade dos atores sociais envolvidos 
(SILVA E DA ROS, 2007). 
Promover melhora da qualidade de vida para a mulher puérpera, gestante, climatérica, 
incentivar práticas saudáveis, esclarecer mitos, mediante a sistematização do cuidado interdisciplinar 
e multiprofissional, são propósitos do Fisioterapeuta para promover mudanças no comportamento das 
mulheres de forma lenta e gradual, mesmo em meio a sérios problemassocioeconômicos e culturais 
(REGASON et. al., 2010; VOLKMER, 2010). 
O Fisioterapeuta atua na educação em saúde com equidade que podem significar o caminho 
para o início das mudanças no quadro social. Devido às modificações sofridas durante o ciclo de vida 
 
 
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feminino, o fisioterapeuta atua realizando um trabalho integral de prevenção, orientação e reabilitação 
da saúde da mulher (REGASON et. al., 2010; VOLKMER, 2010). 
 
CONCLUSÃO 
 
A reforma sanitária brasileira proporcionou uma reflexão e uma mudança de papéis dos 
profissionais de saúde. O Fisioterapeuta, classicamente associado à atenção terciária, com um 
modelo de cuidado curativista e reabilitador, mediante a reforma, foi instigado a assumir um novo 
papel como profissional de saúde integral, capaz de produzir saúde nos três níveis de atenção, 
através de ações de promoção, educação e recuperação da saúde. 
Hoje o Fisioterapeuta atua na assistência à saúde da população com equidade e 
integralidade, o que pode significar o caminho para o início das mudanças no quadro social. 
 
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