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43Estudo cenario motivacao homicidio doloso RegiaoSul

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Prédio 43321, sala 210 C2 
Bairro Agronomia 
CEP 91501-970 
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Fone: +55 51 3308.7315 
Fax: +55 51 3308.6890 
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Projeto BRA/04/029 – Segurança Cidadã 
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e Secretaria Nacional de 
Segurança Pública do Ministério da Justiça e Cidadania– SENASP 
Pensando a Segurança Pública 4ª Edição (Convocação 001/2015) 
Carta de Acordo nº 33598 – SENASP/FAURGS 
 
 
 
 
Grupo 8 – Região Sul - PR: Curitiba; SC: Florianópolis; RS: Alvorada, 
Canoas, Porto Alegre e São Leopoldo 
 
 
Estudos dos cenários e motivações dos homicídios dolosos 
nos municípios da Região Sul incluídos no Pacto Nacional 
pela Redução dos Homicídios e mapeamento das propostas 
de políticas públicas para o aprimoramento da Política 
Nacional de Segurança Pública 
 
 
 
Relatório Final de Pesquisa 
 
 
Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania – GPVC, UFRGS 
 
 
Porto Alegre, novembro de 2016. 
 
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FICHA TÉCNICA 
EQUIPE DE PESQUISA 
 
A) Professores da UFRGS 
Alex Niche Teixeira (Departamento de Sociologia) 
Ênio Passiani (Departamento de Sociologia) 
José Vicente Tavares dos Santos (Departamento de Sociologia) 
Letícia Maria Schabbach (Departamento de Sociologia – Coordenadora da pesquisa) 
Lígia Mori Madeira (Departamento de Ciência Política) 
Melissa de Mattos Pimenta (Departamento de Sociologia) 
Rochele Fellini Fachineto (Departamento de Sociologia) 
B) Alunos de graduação e pós-graduação da UFRGS 
Cristiano Santos da Silva – Mestrado (PPG em Políticas Públicas/UFRGS) 
Eduardo Pazinato da Cunha – Doutorado (PPG em Políticas Públicas/UFRGS) 
Elisa Girotti Celmer – Doutorado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
Francisco de Paula Rocha Amorim – Doutorado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
Gabriel Guerra Câmara – Doutorado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
Gabriela Perin – Mestrado (PPG em Políticas Públicas/UFRGS) 
Júlia da Motta – Graduação (Políticas Públicas/UFRGS) 
Liciane Barbosa de Mello – Mestrado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
Natália Sanches Taffarel – Mestrado (PPG em Políticas Públicas/UFRGS) 
Paola Stuker – Doutorado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
Rafaela Demétrio Hilgert – Graduação (Políticas Públicas/UFRGS) 
Ráisa Lammel Canfield – Mestrado (PPG em Sociologia/UFRGS) 
C) Participantes externos à UFRGS 
Aline de Oliveira Kerber (Instituto Fidedigna – Porto Alegre) 
Fernanda Bestetti de Vasconcellos (Universidade Federal de Pelotas) 
Luiza Côrrea de Magalhães Dutra (Pontifícia Universidade Católica do RS) 
Paulo Ricardo Ost Frank (Polícia Civil do RS) 
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (Pontifícia Universidade Católica do RS) 
Sérgio Roberto de Abreu (Universidade Luterana do Brasil) 
Simone Schuck da Silva (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) 
 
 
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RESUMO 
Esta pesquisa está vinculada à quarta edição do Projeto “Pensando a Segurança Pública, 
Edição Especial Homicídios” da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da 
Justiça. Buscando produzir evidências empíricas que possam oferecer a compreensão das 
dinâmicas, cenários e motivações dos homicídios do país, o presente relatório analisa os 
homicídios na Região Sul do Brasil: nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do 
Sul. Através de levantamentos de dados quantitativos em fontes secundárias e, 
principalmente, de entrevistas semiestruturadas com profissionais da segurança pública e com 
representantes da sociedade civil, foi possível relacionar os índices quantitativos com as 
configurações específicas do fenômeno dos homicídios nos três estados do sul do país. 
Enquanto que os dados numéricos demonstraram um aumento constante dos homicídios nos 
municípios investigados, as narrativas dos entrevistados na pesquisa evidenciaram: a sensação 
de insegurança dos atores sociais; a constatação de que as causas mais gerais dos homicídios 
estão relacionadas com dimensões estruturais, dentre elas o papel do Estado e a questão do 
tráfico de drogas; além de aspectos situados no âmbito dos valores, especialmente aqueles que 
trazem à tona o papel da família e os modos de resolução de conflitos. Quanto às 
características de autores e vítimas das violências, há um perfil que se repete para ambos os 
sujeitos: são homens, jovens e moradores das regiões periféricas das cidades pesquisadas, em 
áreas que exibem as maiores incidências de mortes intencionais e onde o poder público têm 
dificuldades para enfrentar e prevenir os homicídios. Por fim, são apresentadas proposições 
para formulação de políticas públicas voltadas à prevenção da violência homicida. 
Palavras-chave: Homicídios. Cenários. Motivações. Região Sul. Brasil. 
 
ABSTRACT 
This research is linked to the fourth edition of the Project “Thinking Public Security: 
Homicides Special Edition” of National Secretary of public Security of the Justice Ministry. 
In order to provide the understanding of the dynamics, scenarios and motivations of the 
country’s homicides, the research contributes with data about homicides regarding three states 
of the Southern Brazil: Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul. It was used 
quantitative data on secondary sources but also, and mainly, semi structured interviews with 
public safety professional and civil society representatives. The numeric data shows a steady 
increase in homicide rates in the surveyed cities and the narratives of the informants shows: a) 
the sense of insecurity of social actors; b) the most general causes of homicides are related to 
structural dimensions, like State actions and the issue of drug trafficking, and some 
dimensions located within the values, witch bring to the light the role of the Family and 
resolution modes; c) about the characteristics of the involved, there is a similar profile both 
for victims and authors of lethal violence, whose, in general, are young men, and residents of 
peripheral areas of the cities, which are precisely the regions with highest rates of homicides 
in the surveyed cities; and, d) the law enforcement faces many difficulties to prevent these 
crimes. Finally, we present proposals for the development of public policies in the area. 
Keywords: Homicides; Criminality; Southern Brazil. 
 
 
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LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 – Mapa da região de abrangência da pesquisa .......................................................... 11 
Figura 2 – Mapa da Região Metropolitana de Porto Alegre e seus respectivos municípios ... 62 
Figura 3 – Mapa com a delimitação dos bairros de São Leopoldo ......................................... 64 
Figura 4 – Fatores explicativos dos homicídios ...................................................................... 69 
Figura 5 – Mapa de Canoas e divisão por bairros ................................................................... 83 
Figura 6 – Mapa de Curitiba e respectivos bairros ...............................................................101 
Figura 7 - Nuvem de palavras gerada a partir das entrevistas .............................................. 128 
Figura 8 - Nuvem de palavras gerada a partir das entrevistas – sem “homicídios”............... 129 
Figura 9 – Fatores de risco dos homicídios ............................................................................136 
Figura 10 – Características das vítimas e dos autores e suas configurações de homicídios ..145 
Figura 11 – Tipos de homicídios e formas mais comuns de relações entre os envolvidos.... 155 
 
 
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LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1 – Distribuição das ocorrências de homicídios consumados, por área de competência 
das Delegacias de Homicídio – Porto Alegre, 2015................................................................ 44 
Gráfico 2 – Taxa de homicídios por 100.000 habitantes nas seis cidades da Região Sul, 2000 a 
2014 ......................................................................................................................................... 65 
Gráfico 3 – Comparação entre a taxa de homicídios por 100.000 habitantes de Curitiba e do 
estado do Paraná, 2000 a 2014 ................................................................................................ 97 
Gráfico 4 - Populações em 2010 nos municípios pesquisados ............................................. 111 
Gráfico 5– PIB per capita em reais, 2010 ............................................................................ 112 
Gráfico 6 – Valor do rendimento médio mensal das pessoas de 10 ou mais anos de idade, 
2010 ....................................................................................................................................... 113 
Gráfico 7 – Evolução da taxa de mortalidade infantil, 2000 e 2010 ..................................... 114 
Gráfico 8 – IDHM 2010 dos seis municípios ....................................................................... 115 
Gráfico 9 – Valor per capita em reais dos recursos obtidos através do PRONASCI, 2007 a 
2012 ....................................................................................................................................... 117 
Gráfico 10 – Taxa de homicídios por 100.000 habitantes nas seis cidades da Região Sul... 119 
Gráfico 11 – Comparação entre a taxa de homicídios por 100.000 habitantes de Curitiba e do 
estado do Paraná .................................................................................................................... 120 
Gráfico 12 – Comparação entre a taxa de homicídios por 100.000 habitantes de Florianópolis 
e do estado de Santa Catarina ............................................................................................... 121 
Gráfico 13 – Comparação entre a taxa de homicídios por 100.000 habitantes das quatro 
cidades gaúchas e do estado do Rio Grande do Sul ............................................................. 122 
Gráfico 14 – Perfil das vítimas de homicídio ....................................................................... 124 
Gráfico15 – Circunstâncias dos homicídios ......................................................................... 125 
Gráfico16 – Local de ocorrência x sexo da vítima ............................................................... 126 
 
 
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LISTA DE QUADROS 
Quadro 1 - Nós de codificação no NVivo .............................................................................. 17 
Quadro 2 - Linha do tempo das atividades realizadas ............................................................ 18 
Quadro 3 – Componentes do Sistema Municipal de Segurança Pública em São Leopoldo, 
2014 ......................................................................................................................................... 63 
Quadro 4 – Lista dos entrevistados em São Leopoldo, 2016 .................................................. 66 
Quadro 5 - Componentes do Sistema Municipal de Segurança Pública em Curitiba, 2014.... 96 
Quadro 6 – Lista dos entrevistados em Curitiba, 2016 ........................................................... 98 
Quadro 7 - Componentes do Sistema Municipal de Segurança Pública nos seis municípios, 
2014 ....................................................................................................................................... 116 
 
 
 
 
 
 
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LISTA DE SIGLAS 
DATASUS – Departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. 
DEAM – Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher 
FAURGS - Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
GPVC – Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INFOSEG – Sistema Nacional de integração de Informações de Justiça e Segurança Pública 
IML – Instituto Médico Legal 
PIB – Produto Interno Bruto 
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública 
SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática 
SIM – Sistema de informação de Mortalidade 
SINESPJC - Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança e Justiça Criminal 
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
 
 
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Sumário 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 10 
1.1 Objetivo geral ..................................................................................................................................... 13 
1.2 Objetivos específicos ....................................................................................................................... 13 
2. METODOLOGIA ......................................................................................................................................... 14 
2.1. Os percursos da coleta de dados .................................................................................................... 14 
2.2 Instrumento de pesquisa ............................................................................................................... 19 
2.3 Dificuldades para o desenvolvimento da pesquisa.............................................................. 19 
3. O FENÔMENO SOCIOLÓGICO DOS HOMICÍDIOS .......................................................................... 25 
3.1 Aspectos gerais .................................................................................................................................. 27 
3.2 Propostas de tipologias de homicídio ....................................................................................... 35 
3.3. Principais indicadores da criminalidade ................................................................................ 36 
4 RESULTADOS POR MUNICÍPIO ............................................................................................................42 
4.1. Porto Alegre ....................................................................................................................................... 43 
4.2 São Leopoldo .................................................................................................................................... 60 
4.3 Alvorada ............................................................................................................................................... 78 
4.4. Canoas .................................................................................................................................................. 81 
4.5. Florianópolis ...................................................................................................................................... 90 
4.6. Curitiba ................................................................................................................................................ 95 
5. RESULTADOS RELATIVOS AO CONJUNTO DOS MUNICÍPIOS .............................................. 110 
5.1. Características sóciodemográficas dos municípios ......................................................... 110 
5.2. O Sistema Municipal de Segurança Pública nos seis municípios ................................ 115 
5.3 Homicídios na Região Sul do Brasil: um levantamento quantitativo ............................... 118 
5.4 Homicídios na Região Sul do Brasil: uma compreensão qualitativa ................................ 127 
6. PROPOSIÇÕES PARA FORMULAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE INICIATIVAS 
GOVERNAMENTAIS .................................................................................................................................. 167 
 
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 175 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 179 
ANEXO – Instrumentos de coleta de dados/roteiros de entrevistas ..................................... 185 
APÊNDICE – Quadro das entrevistas realizadas ............................................................................ 187 
 
 
 
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10 
 
1. INTRODUÇÃO 
Nos últimos anos o crescimento da criminalidade violenta tem gerado um significativo 
aumento nos índices de homicídios no Brasil. Os homicídios representam um fenômeno social 
complexo que envolve aspectos estruturais de ordens social, econômica e cultural que 
demandam compreensão científica. Reconhecendo, conforme Barkan (2011) e Barlow e 
Decker (2010), que é necessário conhecer as causas (gerais e específicas) da violência a fim 
de se reduzir a incidência do fenômeno, esta pesquisa buscou compreender as dinâmicas, os 
cenários e as motivações dos homicídios na Região Sul do Brasil. 
Este documento consiste em um relatório de pesquisa que investigou as percepções de 
representantes da sociedade civil e profissionais da segurança pública sobre as motivações dos 
homicídios na Região Sul do Brasil. O presente relatório refere-se ao Produto Final do Projeto 
de Pesquisa “Grupo 8 – Sul: Estudos dos cenários e motivações dos homicídios dolosos nos 
municípios da Região Sul incluídos no Pacto Nacional pela Redução dos Homicídios e 
mapeamento das propostas de políticas públicas para o aprimoramento da Política Nacional 
de Segurança Pública”. Nele são apresentados: os objetivos da pesquisa; contexto no qual a 
pesquisa foi realizada; percursos metodológicos de coleta e análise dos dados; apresentação 
dos resultados da pesquisa; proposições para formulações de políticas públicas; e, 
considerações finais. 
Esta pesquisa inseriu-se na área temática “dinâmicas, cenários e motivações dos 
homicídios na Região Sul do Brasil, e prevenção à violência” (Pacto Nacional pela Redução 
dos Homicídios) e está vinculada à quarta edição do Projeto “Pensando a Segurança Pública, 
Edição Especial Homicídios” (Edital de Convocação nº 001/2015 – Seleção de Projetos, 
lançado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça – SENASP e 
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD), através do qual a 
SENASP realiza a Pesquisa Nacional que visa aprofundar o conhecimento acerca dos cenários 
e motivações dos homicídios dolosos e realizar um mapeamento das propostas locais de 
políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência. 
O objetivo do relatório é descrever com detalhes o processo de pesquisa (objetivos 
iniciais, dinâmica do campo, modificações, dificuldades, novas questões, etc.), seu arcabouço 
conceitual e teórico, a contextualização do campo, os achados e as análises. 
Dentre os 80 municípios selecionados em nível nacional (com alta incidência de 
homicídios dolosos e/ou capitais federativas), a equipe responsável por realizar a pesquisa na 
 
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11 
 
Região Sul (Grupo 8 – Sul) desenvolveu investigação em seis municípios de três unidades 
federativas: no Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Alvorada); no 
Paraná (Curitiba); e em Santa Catarina (Florianópolis). O mapa a seguir oferece a disposição 
espacial da região de abrangência da pesquisa, com destaque para as cidades estudadas. 
Figura 1 – Mapa da região de abrangência da pesquisa 
Fonte: Pesquisa Pensando Homicídios, Grupo 8, Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-
UFRGS)/SENASP, 2016. 
Conforme a Carta de acordo firmada entre a SENASP e a FAURGS
1: “O objeto do 
presente acordo é o estabelecimento de parceria entre a SENASP e a FAURGS para a 
elaboração, por parte da última, de pesquisa referente ao tema Grupo 8 – Sul: Estudos dos 
cenários e motivações dos homicídios dolosos nos municípios da Região Sul incluídos no 
Pacto Nacional pela Redução dos Homicídios e mapeamento das propostas de políticas 
públicas para o aprimoramento da Política Nacional de Segurança Pública, ficando a mesma 
 
1
 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Carta de acordo nº 33.598. Brasília-DF, 16 
de dezembro de 2015, p. 1. 
 
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12 
 
responsável pela condução da pesquisa e elaboração dos produtos inicial, parcial e final 
relativos à área temática identificada, em obediência estrita ao solicitado no edital de 
convocação para seleção de projetos e em acordo com os anexos deste instrumento, na esteira 
das atividades previstas no Documento de Projeto BRA/04/029.” 
Atendendo a este acordo, o Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul apresenta o presente relatório que está organizado da seguinte 
forma. 
Após esta introdução, o segundo capítulo, que dizrespeito à metodologia do trabalho, 
apresenta uma descrição de como foi o processo da pesquisa, os procedimentos e 
instrumentos de coleta de dados e as dificuldades encontradas em seu desenvolvimento. 
O terceiro capítulo oferece uma fundamentação teórica sobre o fenômeno dos 
homicídios, a partir do conhecimento sociológico que abrange os seus aspectos gerais, as 
propostas de tipologias de homicídios e principais indicadores estruturais desta violência, bem 
como um levantamento teórico sobre representações sociais deste fenômeno. 
O quarto, quinto e sexto capítulos são os mais importantes deste relatório, pois 
apresentam os resultados da pesquisa no tocante à análise dos homicídios na Região Sul do 
Brasil, a partir de duas aproximações: uma caracterização através de dados quantitativos 
coletados em fontes de dados estatísticos e uma análise interpretativa das entrevistas 
realizadas com a sociedade civil e profissionais do Sistema de Justiça Criminal
2
 que atuam 
nos municípios de abrangência da pesquisa. Nesta análise são examinadas as sensações de 
segurança dos representantes da sociedade civil, as percepções destes e as dos profissionais do 
Sistema de Justiça Criminal sobre os fatores de riscos dos homicídios, as características dos 
envolvidos nestes crimes e suas possíveis relações, as regiões de maior incidência e as 
dificuldades encontradas pelo poder público na prevenção e enfrentamento dos casos de 
violências letais. 
 
2
 Nesta pesquisa Sistema de Justiça Criminal equivale à “administração de justiça criminal”, referida por Maia 
Neto (2002, p. 203), que é: “[...] todo aparato que envolve a política criminal e penitenciária, organismos e forças 
públicas que atuam na prevenção e repressão da delinquência, os vários meios de controle formal e informal do 
Estado, como a polícia ostensiva e judiciária, os promotores de Justiça, os magistrados, os agentes 
penitenciários, os legisladores, e os servidores ou funcionários públicos do Poder Executivo, Legislativo e 
Judiciário que trabalham na área. São, em outras palavras, os operadores do Direito.” 
 
 
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13 
 
Após este mapeamento dos cenários da violência letal nos espaços sociais 
pesquisados, o quinto capítulo apresenta as percepções dos interlocutores sobre a atuação das 
três instâncias de governo diante do fenômeno dos homicídios e oferece proposições para 
formulação de políticas públicas e aperfeiçoamento das inciativas governamentais. 
Para se chegar até este conhecimento, a pesquisa percorreu os seguintes objetivos. 
1.1 Objetivo geral 
 Promover conhecimento qualitativo sobre o fenômeno dos homicídios em seis 
municípios da Região Sul do Brasil: Curitiba (Paraná); Florianópolis (Santa 
Catarina); Alvorada, Canoas, Porto Alegre e São Leopoldo (Rio Grande do Sul). 
1.2 Objetivos específicos 
 Descrever e analisar as percepções dos atores individuais e coletivos relacionados com a 
área de Justiça e Segurança Pública e envolvidos com o tema da violência letal acerca, 
especialmente, das seguintes questões: 
- Quais são os territórios de maior ocorrência de homicídios no município? 
- Quais as principais dificuldades que limitam a capacidade de investigação e prevenção 
aos homicídios ocorridos no município? 
- Quais são os fatores de risco de homicídios na região? 
- Qual é o perfil dos envolvidos (vítimas e autores) destes crimes? 
 Compreender densamente detalhes, motivações e dinâmicas culturais específicas 
envolvidas nos atos homicidas; 
 Subsidiar o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. 
 
 
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14 
 
2. METODOLOGIA 
Este capítulo descreve os processos da pesquisa, os procedimentos e instrumentos de 
coletados de dados e, por fim, as dificuldades encontradas para o desenvolvimento do 
trabalho. 
2.1. Os percursos da coleta de dados 
Partindo-se de um grupo de seis municípios pré-definidos no Projeto BRA/04/029 – 
Segurança Cidadã, esta pesquisa valeu-se basicamente de três técnicas de coleta de dados e 
informações. A mais importante foi a de entrevistas semiestruturadas com profissionais do 
Sistema de Justiça Criminal e pessoas da sociedade civil. Complementarmente, foram 
utilizados pesquisa bibliográfica em artigos e livros sobre a temática dos homicídios e 
levantamento de dados estatísticos em fontes secundárias. 
O trabalho de campo na Região Sul iniciou em janeiro de 2016, com a consolidação do 
instrumento de pesquisa pela equipe nacional (Anexo A). Após a constituição de equipe 
responsável pelo agendamento das entrevistas (localizada na sala do Grupo de Pesquisa 
Violência e Cidadania, no Campus do Vale - UFRGS), foram sendo realizados os contatos via 
telefone ou e-mail, considerando-se as sugestões de nomes fornecidas por integrantes da 
equipe desta pesquisa, e, posteriormente, as indicações feitas pelos próprios entrevistados. 
Para tanto, usou-se a técnica da “bola de neve”, não probabilística, para a composição 
do conjunto de casos da pesquisa. A técnica de amostragem de bola de neve é utilizada 
quando os próprios entrevistados indicam pessoas que também podem fornecer informações 
importantes para a pesquisa. 
Foi utilizado enfoque qualitativo para a pesquisa, partindo do pressuposto de que ele é 
utilizado para estudos de ações tanto individuais como grupais, permitindo um procedimento 
mais adaptável a categorias não previstas (MARTINS, 2004). De acordo com Brumer et al. 
(2008), o estudo qualitativo também se propõe a examinar o fenômeno em profundidade com 
a utilização de procedimentos de coleta de dados tais como entrevistas e observações em 
diferentes modalidades, além de “permitir ao informante maior liberdade de manifestação e, 
ao pesquisador, identificar e compreender dimensões subjetivas da ação humana” (BRUMER 
et al., 2008, p. 137). 
Por outro lado, apostou-se na conciliação dos enfoques qualitativo (entrevistas) e 
quantitativo (levantamento de dados estatísticos). A integração desses enfoques deu-se pela 
 
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consideração da importância de se abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e 
compreensão do objeto de estudo. Enquanto os métodos quantitativos pressupõem uma 
população de objetos de estudo comparáveis, que fornece dados que são generalizáveis a sua 
população, os métodos qualitativos podem observar, diretamente, como cada indivíduo 
experimenta, concretamente, a realidade pesquisada (GOLDENBERG, 2004). 
De todo modo, os dados numéricos são apenas um ponto de partida em nossa 
investigação. Nosso interesse central está nas percepções dos informantes sobre o tema. Para 
compreender essas percepções dos atores entrevistados a respeito das motivações dos 
homicídios, contextos ligados à criminalidade e propostas existentes (ou não) de ações do 
Estado para amenizar o problema social, o método de coleta consistiu de entrevistas 
presenciais nos locais indicados pelos entrevistados, utilizando como instrumentode coleta de 
dados um roteiro semiestruturado de entrevistas (consolidado nacionalmente e variando 
conforme o segmento do entrevistado), gravadores digitais e cadernos de anotações. 
A entrevista semiestruturada permite um diálogo entre pesquisador e interlocutor 
seguido por um roteiro, ela mantém a presença consciente e ativa do pesquisador no processo 
de coleta de dados (TRIVIÑOS, 1987). Isso significa dizer que contamos com um roteiro de 
perguntas 
3
que orientou as entrevistas. Porém, estivemos ativos durante a coleta de dados para 
novos questionamentos que emergissem como interessantes para a compreensão do que 
buscávamos. 
Para a seleção das pessoas a serem entrevistadas levou-se em consideração os seguintes 
critérios: a) profissional vinculado ao Sistema de Justiça Criminal (juízes, promotores, 
delegados, policiais civis e policiais militares) ou representante da sociedade civil, com 
atuação, experiência ou vivência em relação ao problema dos homicídios (lideranças 
comunitárias, conselheiros tutelares, ONG’s, fundações e associações de bairro; b) em cada 
um dos segmentos procurou-se abarcar a diversidade em termos de atuação profissional 
específica e/ou tipo de inserção social. 
Estes critérios foram essenciais para uma compreensão abrangente do fenômeno 
pesquisado, uma vez que foi possível apreender percepções sobre as motivações dos 
homicídios de diferentes olhares e contextos dos informantes. Se os sujeitos que trabalham no 
 
3
 De acordo com as normas da Comissão de Ética da UFRGS, não podemos identificar as entrevistas das pessoas 
entrevistadas, o que é norma na pesquisa científica mundial. 
 
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Sistema de Justiça Criminal nos ofereceram uma perspectiva desde suas atuações 
profissionais, os representantes da sociedade civil nos abonaram percepções de quem vivencia 
o contexto criminal cotidianamente. 
As entrevistas foram realizadas inicialmente por duplas de um professor e um estudante 
graduando ou pós-graduando (dos Programas de Pós-graduação em Sociologia ou em 
Políticas Públicas, da UFRGS). Posteriormente, duplas de alunos pós-graduandos, desde que 
já tivessem participado de entrevistas anteriores, também ficaram encarregados de realizar as 
entrevistas. Todas as entrevistas foram gravadas. 
Em geral, as entrevistas foram realizadas no ambiente de trabalho dos entrevistados. As 
realizadas com os profissionais do Poder Judiciário e da Segurança Pública foram todas 
realizadas em suas respectivas instituições. Já com atores da sociedade civil, as entrevistas 
foram efetuadas em locais diversificados, a maioria delas nas sedes dos centros comunitários 
e ONG’s, mas também em residências dos líderes comunitários e em sala da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul – Campus do Vale. Neste caso, os líderes comunitários foram 
até a UFRGS acompanhados do pesquisador que os indicou. Com os jornalistas os contatos 
foram nas sedes dos jornais e em um café localizado no centro da cidade (Alvorada). 
Para a coleta de dados foram feitos deslocamentos para municípios da Região 
Metropolitana de Porto Alegre, em um mesmo dia (ida e volta) e buscou-se, quando possível, 
agendar mais de uma entrevista por dia. Já nas capitais de outros estados foram realizadas 
viagens com estadia, conforme o período necessário para completar o número de entrevistas 
Desse modo, a principal fonte de dados consistiu nas entrevistas, que nos permitiram 
apreender, a partir da fala dos atores as relações entre a realidade do local em que estão 
inseridos e as suas percepções sobre o fenômeno da criminalidade violenta em seus 
municípios. Desse modo, esta técnica nos possibilitou compreender de forma mais detalhada 
as crenças e valores que permeiam as percepções dos entrevistados acerca das circunstâncias e 
da motivação dos crimes letais. 
Por fim, a transcrição das entrevistas foi realizada por graduandos e pós-graduandos da 
equipe de pesquisa. 
Com as entrevistas transcritas, contou-se com o auxílio do programa informacional de 
análise de dados qualitativos NVivo. Através do recurso deste software, construímos 
categorias de análises das entrevistas (que o programa conceitua como “nós”). Em reunião de 
equipe definimos que os nós a serem “produzidos” no programa seriam equivalentes aos 
 
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assuntos do roteiro de pesquisa e em seus aspectos empíricos, de acordo com o quadro a 
seguir. 
Quadro 1 - Nós de codificação no NVivo 
Sensação de segurança dos atores sociais 
Fatores de risco e motivações 
Dimensões estruturais 
Dimensões individuais 
Exemplos de homicídios que se lembra 
Características dos envolvidos 
Vítimas 
Autores 
Regiões de maiores incidências 
Alvorada - RS 
Canoas - RS 
Curitiba - PR 
Florianópolis - SC 
Porto Alegre - RS 
São Leopoldo - RS 
Dificuldades de enfrentamento 
Percepções sobre ações dos poderes públicos 
Proposições 
Fonte: Pesquisa Pensando Homicídios, Grupo 8, Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-
UFRGS)/Senasp, 2016. 
 
 Com as passagens das entrevistas categorizadas conforme estes assuntos, analisamos 
os dados e escrevemos o presente relatório. Através do programa NVivo também foi possível 
construir diagramas de sequências de palavras, apresentados na seção dos resultados. 
Em síntese, a estratégia de trabalho organizada pela equipe abrangeu: 
a) Reuniões mensais ou quinzenais, com toda a equipe, para avaliar o andamento da 
pesquisa e organizar as atividades. 
b) Equipe de agendamento e contato (por telefone e e-mail) com atores-chave e possíveis 
entrevistados. 
c) Grupo responsável pela coleta de dados secundários - concluída em abril de 2016. 
d) Redação do Relatório Parcial – maio de 2016. 
e) Trabalho de campo (entrevistas e relatos de campo) – janeiro a julho de 2016. 
 
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f) Transcrição das entrevistas – concluída em julho de 2016. 
g) Tratamento e análise das entrevistas no NVIVO – junho e julho de 2016. 
h) Redação do Relatório Final – julho e agosto de 2016. 
 No próximo quadro tem-se um quadro sintético atividades realizadas na pesquisa. 
Quadro 2 - Linha do tempo das atividades realizadas 
Data Atividade 
08/12/2015 
Primeira reunião da equipe de trabalho, para organização da pesquisa quantitativa com 
dados secundários (IBGE, DATASUS, estatísticas policiais) e da pesquisa qualitativa. 
Foram mapeados os seguintes atores-chave: secretários de segurança, membros de 
Gabinetes de Gestão Integrada Municipal, Delegados ou policiais civis das delegacias 
de homicídio, Juízes de Varas de Júri, Promotores, Defensores Públicos, Advogados 
criminais, Conselhos Municipais de Segurança e Direitos Humanos, lideranças 
comunitárias, jornalistas. Serão 15 entrevistas em cada município. 
14/12/2015 Envio de sugestão de roteiro de questões à SENASP 
16/12/2015 Carta de Acordo Nº 33598 do PNUD 
22/12/2015 
Envio do instrumento de pesquisa consolidadoà SENASP, revisado e aprovado. 
Reunião do grupo responsável pelos dados quantitativos 
08/01/2016 
Início do trabalho de campo (atualmente em andamento), com a realização da 1ª 
entrevista 
12/01/2016 Reunião da equipe de pesquisa 
29/02/2016 Reunião da equipe de pesquisa 
08/03/2016 
Apresentação da pesquisa no Conselho Municipal de Justiça e Segurança de Porto 
Alegre 
06/04/2016 Reunião da equipe de pesquisa 
15/04/2016 Envio do Projeto consolidado (Produto Inicial) à SENASP 
25/04/2016 Reunião da equipe de pesquisa 
02/05/2016 Reunião da equipe de pesquisa para fechamento do Relatório Parcial. 
13/05/2016 Envio do Relatório Parcial (Produto Parcial) à SENASP 
20/05/2016 Reunião de Coordenação 
25/05/2016 R Reunião de equipe 
03/06/2016 Reunião de equipe 
13/06/2016 Reunião de Coordenação 
29/06/2016 Reunião da equipe operativa 
06/07/2016 Reunião de equipe 
Julho 2016 Finalização do trabalho de campo. Transcrição e análise das entrevistas. Elaboração do 
Relatório Final 
Agosto 2016 Elaboração e envio do Relatório Final (Produto Final). 
Fonte: Pesquisa Pensando Homicídios, Grupo 8, Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania (GPVC-
UFRGS)/Senasp, 2016. 
 
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19 
 
2.2 Instrumento de pesquisa 
O instrumento de pesquisa utilizado nas entrevistas foi o consolidado pela equipe 
nacional. Ele continha dois roteiros de entrevistas: um direcionado aos representantes da 
sociedade civil e outro aos profissionais que atuam no Sistema de Justiça Criminal. 
A seguir, na subseção deste capítulo, apresentamos as dificuldades identificadas na 
aplicação dos roteiros de entrevistas. 
Já os dados quantitativos foram coletados em fontes diversas e transferidos para 
planilha Excel. Após, foram elaborados indicadores demográficos, socioeconômicos e de 
incidência criminal. 
2.3 Dificuldades para o desenvolvimento da pesquisa 
Como toda pesquisa - ainda mais de grande proporção, envolvendo um tema delicado 
como os homicídios e entrevistas com informantes profissional ou vivencialmente envolvidos 
com esta temática – deparamo-nos com algumas dificuldades que importam serem descritas. 
Aqui, narramos dificuldades encontradas em três ordens: contatos e agendamentos das 
entrevistas; entrevistas; e, instrumento de pesquisa. 
a) Contatos e agendamento de entrevistas 
No que se refere aos agendamentos de entrevistas, foi acordado que elas fossem 
marcadas e depois se verificasse a disponibilidade de algum (ns) pesquisador (es) em realizá-
las na data agendada. Em geral, essa estratégia mostrou-se eficaz. No entanto, foi encontrada 
certa dificuldade nos momentos da realização dos contatos telefônicos; por esse motivo houve 
uma demora maior do que a prevista para a marcação definitiva das entrevistas. 
Em relação aos juízes de direito e aos promotores de justiça dos municípios 
pesquisados, foi relatado pelas pesquisadoras responsáveis pelo agendamento a dificuldade 
em não conseguirem falar diretamente com eles por telefone, o que dificultou o agendamento. 
Frequentemente era necessário que os responsáveis por marcar a entrevista ligassem quatro ou 
cinco vezes para o mesmo operador de direito a fim de que a entrevista fosse finalmente 
agendada. Em relação aos juízes do Rio Grande do Sul o contato era mais simples, pois além 
de membros da nossa equipe de pesquisa terem alguma proximidade com os entrevistados, é 
bastante fácil conseguir os telefones e endereços eletrônicos no site do Tribunal de Justiça do 
estado. Já com os promotores de justiça de Santa Catarina, a busca pelos contatos foi mais 
 
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complicada, devido à menor proximidade da equipe com os membros do Ministério Público e 
pelos poucos números de telefones encontrados no site da instituição, dificultando o contato 
direto com os entrevistados. 
Com relação às entidades civis e atores sociais, a maior dificuldade foi a de encontrar 
contatos com lideranças comunitários. Assim, contou-se com o auxílio de pessoas conhecidas 
de integrantes da equipe que atuam (ou atuaram) ou residem no município para a indicação 
dos contatos, ou através da indicação dos próprios entrevistados, já que na web é mais difícil 
acessar essas informações. Ainda neste aspecto, algumas pessoas indicadas não foram 
contatadas pelos seguintes motivos: não atendeu ao telefone, não retornou ligação ou não 
respondeu mensagem via e-mail, a informação de número de telefone ou de endereço 
eletrônico era inconsistente ou estava desatualizada. 
No que se refere às dificuldades específicas relacionadas a cada município, citam-se: 
- Em Porto Alegre tivemos boa receptividade nos agendamentos e também tivemos um campo 
amplo de atores dos dois segmentos e de diversas instituições. 
- Em Alvorada houve dificuldade em agendar entrevista com o Secretário municipal de 
Segurança Pública ou outro representante do executivo municipal. Para contatar o primeiro 
foram realizadas várias tentativas, conversamos com pessoas de setores diferentes até 
indicarem que a única maneira de conseguir um agendamento seria através de um ofício que 
deveria ser entregue em mãos na Secretaria de Segurança Pública de Alvorada. Ao contrário 
do que ocorreu com o restante dos municípios: ao contatarmos os secretários de segurança 
pública, primeiramente via telefone e após com a solicitação formalizada via e-mail e através 
do envio da carta de apresentação da pesquisa, os agendamentos eram marcados e as 
entrevistas realizadas. 
- Em Alvorada também houve problemas em entrevistar juiz de vara criminal e tribunal do 
júri porque até o momento havia apenas um juiz criminal respondendo por outros setores 
também. Os outros juízes haviam sido transferidos para outras cidades há pouco tempo. 
- Na cidade de Canoas a principal dificuldade foi contatar os atores da sociedade civil, 
obtivemos inicialmente indicações de moradores dos bairros mais afetados pela criminalidade, 
no entanto muitos números eram inexistentes ou então a pessoa não atendia a ligação. Várias 
tentativas foram feitas e resultaram frustradas, o que demandou um tempo mais prologando 
para finalizar as entrevistas nesse município. 
 
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- Em São Leopoldo houve dificuldades em contatar o conselho tutelar do município e os 
representantes das polícias civil e militar. Foi feito contato via telefone, mas muitas vezes o 
número de telefone não estava correto ou estava desatualizado, ou a pessoa não atendia. 
Quando efetuado o contato telefônico e enviado e-mail, não obtivemos respostas posteriores. 
- Em Curitiba houve dificuldade em agendar entrevista com representantes da Polícia Militar. 
- Em Florianópolis tivemos dificuldades em contatar agentes da sociedade civil, tanto em 
conseguir indicações, como na procura via fontes externas. O que se fez para suprir essa 
dificuldade foi, na segunda etapa de entrevistas, aproveitar os contatos sugeridos na primeira 
ida a campo, ocorrida dois meses antes da segunda. 
 Em quatro momentos ocorreude os pesquisadores irem até o município e não poderem 
realizar as entrevistas. A primeira foi na cidade de Curitiba, na qual foi feito um pré- 
agendamento que não pode ser efetuado quando os pesquisadores foram até a cidade para 
realizar a entrevista; em Canoas, quando os pesquisadores estavam chegando na cidade a 
pessoa que seria entrevistada cancelou a entrevista; em São Leopoldo um endereço não foi 
encontrado e não foi possível localizar o informante via telefone; e em Alvorada o juiz cuja 
entrevista já havia sido agendada não pôde atender os pesquisadores devido a outro 
compromisso no mesmo horário. 
b) Entrevistas 
Os entrevistados, em geral, consideraram muito importantes iniciativas como a 
pesquisa, uma vez que ajudam a compreender o cenário da violência e as possibilidades de 
enfrentamento da questão. Também demonstraram interesse em um retorno posterior sobre os 
seus resultados. 
Na maioria dos casos foram respondidas todas as questões inquiridas, à exceção das 
profissionais que atuam em órgãos de controle voltados às mulheres vítimas ou às mulheres 
presas, que não responderam às perguntas mais gerais sobre fatores de risco e políticas de 
segurança pública. Ademais, nas entrevistas com alguns líderes comunitários houve certa 
dificuldade em orientar a fala dos sujeitos para as questões específicas do instrumento de 
pesquisa, uma vez que aproveitavam o momento para tratar das necessidades locais ou 
denunciar problemas de segurança pública do local de moradia, ou, então, para destacar a sua 
pauta de reivindicações direcionadas aos órgãos públicos. 
Os atores institucionais e sociais contatados trouxeram referências importantes acerca 
dos territórios mais violentos de sua cidade, em termos de suas características sociais (como: 
 
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renda, desemprego, equipamentos públicos, vulnerabilidade social), presença de grupos 
criminais ou facções (como os “Balas na Cara”, os “Manos” originários da Região 
Metropolitana de Porto Alegre, dentre outros), crescimento populacional dos bairros, 
realidade socioeconômica do município (por exemplo, crise do setor calçadista e crescimento 
do desemprego em São Leopoldo-RS). 
Por outro lado, como se tratavam de representações sociais, e principalmente 
considerando a participação dos operadores do Sistema de Justiça Criminal, o principal fator 
citado como causa direta e indireta dos homicídios foi o tráfico de drogas; diretamente devido 
aos acertos de conta e às disputas por território; indiretamente porque o tráfico permite o 
acesso, por exemplo, às armas de fogo, potencializando a violência, bem como devido à 
dinâmica das relações estabelecidas entre líderes e comandos de territórios, dentro da lógica 
de afirmar o poder e exercer o controle social através do medo de retaliação violenta por parte 
dos desafetos e da comunidade. E esta dinâmica abrange não apenas os diretamente 
envolvidos nos negócios do tráfico (traficantes, subordinados e consumidores), mas também 
as relações sociais convergentes (famílias, grupo de pares e comunidade). 
Desta forma, as respostas giraram em torno do senso comum de que as regiões 
conflagradas são os locais preferenciais de atuação do crime organizado, em especial do 
tráfico de drogas, mas também do desmanche de veículos roubados e da venda de outros 
produtos ilegais. As percepções vinham reiteradamente alinhavadas com uma perspectiva 
punitivista, amplamente difundida, de que é preciso reprimir o consumo e o tráfico de drogas, 
penalizar e prender mais (inclusive o usuário), por mais tempo (sim, mas em condições 
humanas!), pois a (a sensação de) impunidade, de que “não dá nada, não”, faz com que esses 
jovens (que não têm nada a perder) matem mais (e morram mais).Ou seja, dificilmente as 
narrativas iam além do imaginário popular e do senso comum acerca da violência e da 
criminalidade. 
Para ir além dessa leitura bastante homogênea que destaca o tráfico como o principal 
problema relacionado com os homicídios, procurou-se ir mais a fundo em alguns temas, e 
assim explorar a complexidade das questões, aproveitando-se algumas brechas ou 
contradições no discurso dos entrevistados, reformulando ou complementando certas questões 
do instrumento. A título de exemplo, no tocante ao aprofundamento da temática do tráfico de 
drogas, foram sugeridas as seguintes questões adicionais: 
 
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 Pode-se afirmar que nesta cidade a totalidade dos homicídios está ligada ao tráfico de 
drogas? Se não, quais os outros fatores e circunstâncias relacionadas com as mortes? 
 Se a política de segurança pública focalizar prioritariamente o tráfico de drogas 
haverá, então, uma queda significativa dos homicídios em sua cidade? 
Os outros tipos de homicídios referidos pelos entrevistados foram: feminicídios e 
homicídios no âmbito doméstico, violência policial e mortes oriundas de desentendimentos 
interpessoais e latrocínios. Sobre eles os entrevistados ofereceram menos informações, 
mesmo quando contatados os profissionais diretamente envolvidos com esta temática. 
Quanto às políticas de segurança pública, de um modo geral quando perguntados sobre 
como o governo federal pode contribuir na redução de homicídios os entrevistados apontaram 
o envio de recursos, equipamentos e a capacitação/qualificação dos agentes, sobretudo 
policiais. Nas entrevistas com policiais foi constantemente citada a falta de equipamentos, de 
sua adequação ao trabalho, e de estrutura para a atuação. 
Também foi constatado que os entrevistados não souberam identificar claramente os 
projetos e ações (federais, estaduais ou municipais) voltados à diminuição dos homicídios na 
sua cidade, o que denota certa ineficácia na gestão da informação em segurança pública, 
dentre as diferentes esferas de governo. 
c) Instrumento de pesquisa 
O instrumento de pesquisa, apresentado no anexo deste Relatório, foi utilizado em todas 
as entrevistas, com o cuidado de se inquirir todas as questões. Todavia, desde o início do 
trabalho de campo houve uma série de dificuldades na formulação das perguntas e no 
andamento das entrevistas, conforme seguem. 
- A primeira pergunta já leva o entrevistado a refletir sobre causas, fatores e motivações dos 
homicídios, tornando as questões posteriores (especialmente a questão 6, sobre fatores de 
risco), bastante repetitivas. Assim, o entrevistador precisou ficar muito atento ao longo de 
toda a entrevista para não indagar sobre aspectos já informados (alguns entrevistados 
reclamaram da insistência e repetição das perguntas!), uma vez que as primeiras perguntas já 
antecipavam as respostas das questões posteriores. 
- Questão 4, item b (“Esses crimes tendem a ser planejados com antecedência ou não? ”) – Os 
entrevistados proferiram interpretações distintas sobre o que consideram como “crimes 
 
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planejados”, por vezes vinculando-os às “mortes por encomenda”, dentro de uma percepção 
mais restritiva de planejamento das ações criminais.- Falta esclarecimento sobre as questões 5 – Motivação e 6 – Fatores de risco, ou seja: quais 
as diferenças entre ambas as expressões? No nosso caso, buscando-se um entendimento 
comum entre os entrevistadores, estipulamos que “motivação” estaria relacionada com os 
aspectos individuais do cometimento do ato e “fatores de risco” com os aspectos mais gerais, 
contextuais. Algumas vezes os entrevistados demonstraram dificuldade em responder sobre os 
fatores relacionados ao crime, talvez porque se tratasse de pergunta analítica e distante de sua 
experiência profissional cotidiana. 
- A questão 7 pergunta sobre a atuação policial sem abranger os outros operadores do Sistema 
de Justiça Criminal. Assim, em muitos dos casos esta pergunta não se aplica. - Na questão 8, 
sobre as ações de prevenção e repressão aos homicídios, consideramos mais operacional 
perguntar no geral, sem mencionar os itens “a” e “b”. E, depois, inquirir sobre algum aspecto 
faltante (quanto à prevenção ou repressão). 
Por fim, elencamos algumas sugestões de questões adicionais que poderiam aprofundar 
os aspectos inquiridos: 
- Especificidades locais – Quais a especificidades das mortes em cada lugar? Pode-se 
identificar a presença de uma “cultura da violência”? Quais as características desta cultura? 
Quais os aspectos diferenciais do tráfico de drogas em cada município? 
- Opinião sobre a lei de drogas. 
- Se e como ocorre a integração entre as agências de controle e qual a participação de cada 
órgão neste processo? 
 Ainda, a equipe da pesquisa também considera que seria importante realizar 
entrevistas com autores de homicídio e familiares das vítimas, em uma agenda futura de 
pesquisa, para se aprender diretamente as motivações desses crimes e não “apenas” as 
percepções sobre tais. 
 
 
 
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3. O FENÔMENO SOCIOLÓGICO DOS HOMICÍDIOS 
Neste capítulo oferecemos um levantamento bibliográfico sobre o fenômeno dos 
homicídios, desde seus aspectos gerais, passando por propostas de tipologias de homicídios 
até um levantamento dos principais indicadores estruturais. Mas, antes disso, esclarecemos a 
perspectiva teórico-metodológica na qual se insere a análise contida neste Relatório, ao 
tratarmos das percepções dos indivíduos sobre as motivações dos homicídios. 
Como trabalhamos nesta pesquisa com as motivações dos homicídios a partir das 
percepções sociais dos entrevistados, torna-se necessário avaliar as suas narrativas a partir da 
categoria analítica das representações sociais. A socióloga Maria Stella Grossi Porto (2010) é 
referência no tema no país e defende que a teoria das representações sociais é um caminho 
fértil de análise, na medida em que, por seu intermédio, crenças e valores são apreendidos em 
sua condição de princípios orientadores de conduta. Conforme a autora, as representações 
sociais orientam não só condutas individuais, mas também de grupos e instituições públicas, 
como é o caso dos representantes da sociedade civil e dos profissionais do Sistema de Justiça 
Criminal, que constituem o grupo de entrevistados. 
O conhecimento via representações sociais pode ser denominado de segundo grau, na 
medida em que se chega ao conhecimento interrogando-se a realidade por meio do que se 
pensa sobre ela. Em vez de centrar a análise nos dados brutos da violência, interrogam-se os 
imaginários construídos sobre a violência. Mas longe de ser um dado, tem que ser construído 
como tal (PORTO, 2010). 
A escolha por essa abordagem ocorre porque, segundo Porto (2010, p. 14), “é nas e 
pelas representações sociais que o social se constitui como tal, por meio de condutas 
significativamente orientadas por um sistema de normas e valores enquanto representação de 
um dado ordenamento do social”. Desse modo, o conceito nos auxilia a compreender de que 
forma o objeto analisado é representado pelos atores, tendo em vista que “diferentes 
conteúdos valorativos e ideológicos são responsáveis por diferentes representações sociais da 
violência” (PORTO, 2010, p. 13). 
Em exemplo, o que percebemos em nossa pesquisa é que o discurso acerca da 
motivação dos homicídios corresponde principalmente ao tráfico de drogas. No entanto, 
questionando-se um pouco mais acerca desse tema, percebemos que há outras motivações 
envolvidas. Esse foi um dos indicativos de que precisávamos avaliar os discursos dos 
entrevistados a partir de suas representações sobre a realidade social. 
 
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Segundo Porto (2010), as representações sociais são contingentes e se constituem de 
acordo com o local social do sujeito. De uma forma geral, o livro demonstra que as 
representações sociais são resultadas da inserção social dos indivíduos, expressam visões de 
mundo que buscam explicar e dar sentido aos fenômenos. Em razão disso, acabam 
participando da constituição desses mesmos fenômenos e constituindo máximas orientadoras 
de conduta. Forma-se, enfim, uma conexão de sentido (solidariedade) entre os fenômenos em 
si e as suas representações sociais. Com isso, aquilo que os atores sociais nomeiam como 
violência varia segundo as representações que eles constroem sobre o fenômeno e segundo a 
natureza da sociedade na qual o fenômeno é definido. 
 Sobre esta perspectiva, Porto (2010) afirma que é preciso interrogar a realidade a partir 
do que se diz sobre ela. Em síntese, utilizar a categoria de representações sociais significa 
assumir que estas: 
a) Embora resultado da experiência individual são condicionadas pelo tipo de inserção social 
dos indivíduos que as produzem; 
b) Expressam visões de mundo objetivando explicar e dar sentido aos fenômenos dos quais se 
ocupam, ao mesmo tempo em que; 
c) Por sua condição de representação social, participam da constituição desses mesmos 
fenômenos; 
d) Apresentam-se, em sua função prática, como máximas orientadoras de conduta; 
e) Admitem a existência de uma conexão de sentido entre elas e os fenômenos aos quais se 
referem, não sendo, portanto, nem falsas nem verdadeiras, mas a matéria-prima do fazer 
sociológico. 
Nesse sentido, buscamos compreender o que está subentendido nas falas dos 
informantes e aprofundá-las no sentido de compreender as relações complexas que envolvem 
os ambientes onde eles operacionalizam as suas práticas discursivas e operacionais. Em 
relação às entrevistas realizadas na pesquisa, é possível entender a metodologia como um 
movimento de interrogação da realidade através do que se pensa sobre ela. Em vez de se 
centrar a análise nos dados brutos dos homicídios, interroga(m)-se o(s) imaginário(s) 
construído(s) sobre a violência. Assim, observa-se a reconstituição da própria relação do 
pesquisador com seu objeto de pesquisa, o qual não é (um) dado, mas construído como tal. A 
forma como os atores apresentam as suas percepções e posterior análise está contida na sessão 
 
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27 
 
“Homicídios na Região Sul do Brasil: uma compreensão qualitativa” examinada adiante nesse 
relatório. 
3.1 Aspectosgerais 
Nesta pesquisa, a definição de uma análise dos homicídios deve-se a vários motivos. 
Em primeiro lugar, trata-se do indicador mais utilizado internacionalmente para medir 
violência. Além de sua gravidade, há uma padronização jurídica em torno desses crimes 
(FOX; ZAWTIZ, 2002, p.1). A taxa de homicídio por 100.000 habitantes é o indicador 
privilegiado de estudos comparativos internacionais sobre o nível de violência de uma 
sociedade (OUIMET, 2011, p. 2). Altas taxas de homicídios têm inúmeras consequências 
adversas sobre a qualidade da vida social, incluindo o enfraquecimento dos vínculos sociais, a 
difusão de suspeita e medo e de uma sensação de insegurança nas comunidades. A reprovação 
societária ao homicídio faz com que ele seja mais investigado e julgado comparativamente 
aos outros crimes, aproximando as estimativas da realidade (EISNER, 2001, p. 634). 
Mesmo assim, existe um gap entre os casos de homicídios conhecidos pela polícia e os 
efetivamente esclarecidos, ou, ainda, os sentenciados. Na Inglaterra e País de Gales, por 
exemplo, a taxa de esclarecimento (proporção de inquéritos remetidos à justiça em relação ao 
total de ocorrências policiais) dos homicídios foi de 90% em 1997, um resultado bastante 
superior aos dos outros delitos (LEMGRUBER, 2001). Já no Brasil, pesquisa coordenada por 
Michel Misse (2009) identificou um percentual de 92,5% das ocorrências de homicídios 
remetidas, como inquéritos policiais, ao Ministério Público. Todavia, dos inquéritos remetidos 
(total de 2.928), apenas 111 (4%) foram posteriormente denunciados, enquanto que 82% 
foram devolvidos para a Polícia Civil para novas diligências. 
No Código Penal Brasileiro (CP), o homicídio está tipificado no artigo 121 (“matar 
alguém”), do capítulo 1 (Crimes contra a vida), do Título I (Dos crimes contra a pessoa). 
Nesta tipificação inserem-se (conforme o artigo 14 do CP) tanto os crimes consumados 
(quando nele se reúne todos os elementos de sua definição legal) quanto tentados (quando 
iniciada a execução, ela não se consuma por circunstância alheias à vontade do agente), bem 
como dos aspectos qualificadores. A pesquisa trata dos homicídios dolosos – consumados ou 
tentados, ou seja, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo, 
conforme prescreve o artigo 18 do CP. 
 
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O ato voluntário de matar outra pessoa é socialmente reprovado nas sociedades desde 
tempos imemoriais, embora sempre existissem casos de convalidação de acordo com o 
contexto histórico: em legítima defesa, nas guerras, no exercício da atuação policial sob certas 
condições legalmente previstas. Esta característica universal dos homicídios – que permite 
defini-los como um fato social normal na acepção durkheimiana – reduz o poder explicativo 
da hipótese da criminalização pelo sistema de justiça criminal de certos grupos e práticas 
sociais. 
No Brasil, as pesquisas e as informações sistemáticas sobre violência homicida em nível 
de país, estados e municípios já esclareceram muitas de suas características gerais. 
Considerando as 56.337 agressões intencionais fatais do ano de 2012, registradas na base 
nacional de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde
4
, 
verificamos que: 
a) Quanto ao meio utilizado – 40.077 (71%) foram provocadas por arma de fogo; 
b) Quanto às vítimas – 51.544 eram homens (91%) e 4.719 mulheres (8%). 
c) No tocante à idade, 30.072 das vítimas (53%) possuíam entre 15 e 29 anos. 
Dados aproximados a respeito dos perpetradores dos homicídios podem ser acessados 
nas estatísticas prisionais. Dos condenados por homicídio que estavam presos em dezembro 
de 2012, 97% eram de homens e 3% de mulheres. 7% do total de mulheres presas foram 
condenadas por homicídios, contra 14% dos presos homens (BRASIL, MINISTÉRIO DA 
JUSTIÇA, 2012). 
Como confirmam várias pesquisas nacionais e internacionais, as vítimas preferenciais 
dos homicídios são jovens solteiros, do sexo masculino, negros ou pardos, pobres e com baixa 
escolaridade e que habitam as periferias urbanas. Em relação aos agressores, sabe-se que eles 
possuem características muito semelhantes às de suas vítimas, quanto à idade, gênero e 
background socioeconômico
5
. 
 
4
 Disponível em: http://tubnet.datasus.gov.br. 
5
 Esta constatação não é nova e nem exclusiva do Brasil. Sutherland já destacara, na década de 1940, 
relativamente aos crimes contra a pessoa: “nos crimes de violência pessoal as vítimas e os agressores são 
geralmente do mesmo meio social, e têm as residências não muito afastadas. Os negros assassinam negros, os 
italianos assassinam italianos e os chineses assassinam chineses. Esses crimes de violência pessoal concentram-
se, em geral, contra pessoas com quem os ofensores têm relações pessoais. Eles se originam de conversa, 
relações românticas e transações de negócios, e são praticados contra amigos e conhecidos”. (SUTHERLAND, 
1949, p. 36). 
 
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29 
 
Perez (2007) acrescenta que a partir dos anos 2000 houve crescimento em torno de 50% 
nas taxas de mortalidade por homicídios e por armas de fogo, fazendo com que as armas de 
fogo, em 2000, ocupassem o primeiro lugar entre as causas de mortes na faixa etária entre 15 
e 24 anos entre os jovens provenientes de locais com baixos níveis de desenvolvimento 
socioeconômico e baixa escolaridade. 
Os jovens são particularmente afetados pelo individualismo exacerbado, pelo 
narcisismo do “culto da liberdade individual”, cujo estímulo a um comportamento de 
“vencedores” e “perdedores” ameaça romper os laços de sociabilidade: a obsessiva 
preocupação com o indivíduo e a segurança pessoal produz um novo “mal-estar da 
civilização” na sociedade contemporânea. Por outro lado, os jovens são particularmente 
afetados pelos seus grupos de pares (peer groups) que exercem profunda influência nos 
processos de construção social de identidades, contribuindo para o envolvimento em práticas 
com o objetivo de expressar e obter status de pertencimento em um grupo ou cultura juvenil. 
A pressão para experimentar drogas ou tomar parte em atos violentos/delituosos, por 
exemplo, é exercida com mais frequência e de forma mais contundente entre jovens do sexo 
masculino, podendo se deteriorar em violência letal entre jovens. Subjacentes às práticas de 
provocação estão as dinâmicas de construção e afirmação de identidades “masculinas”. A 
provocação coloca em questão autoimagens do que significa “ser homem/macho” e suscita 
comportamentos e/ou engajamento no sentido de afirmação da “masculinidade”. Sob pena de 
serem rotulados como “fracos”, “bichas”, “moles”, “cagões”, “caretas”, entre outros epítetos, 
adolescentes e jovens são, portanto, desafiados a responderem a uma ofensa, a 
compartilharem um cigarro de maconha ou a participarem de um assalto. Em alguns casos 
pode haver coação, podendo o adolescente ou jovem ser expulso do grupo ou mesmo da 
localidade. Em outros casos, a provocação não é apenas verbal, mas pode degenerar em 
agressão física. Nesses confrontos, a “masculinidade” de um e de outro é colocada em questão 
e a afirmação da identidade é feita por meio da violência (PIMENTA, 2014). 
Feltran(2008) fez uma análise semelhante ao realizar um estudo de caso de uma 
comunidade da periferia de São Paulo, o distrito de Sapopemba, na zona leste da capital. O 
autor buscou por em perspectiva a trajetória de vida das pessoas a partir do contexto histórico 
do desenvolvimento da comunidade. Ele mostra como a violência permeia a vivência dos 
jovens de comunidades de periferia e como a construção das subjetividades e identidades são 
construídas a partir do momento em que os jovens entram para o “mundo do crime”. Nessa 
 
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comunidade, o que chama atenção é que, dentre os jovens de 15 a 19 anos residentes no local 
(um total de 10% da população), “a taxa de homicídios entre estes adolescentes, de sexo 
masculino, era assustadora: 326,40/100mil, mais de dez vezes maior do que a taxa média da 
cidade de São Paulo (que já é das mais elevadas do mundo)” (FELTRAN, 2008, p.67). 
Para ilustrar essa realidade, o autor relata o contexto de vida de um dos seus informantes 
que, na época, havia cumprido medida socioeducativa. Seu estudo detalha as circunstâncias e 
motivações que levaram o jovem entrar no “mundo do crime”, tais como: desafetos 
familiares, pouca escolaridade, carências materiais, sedução por objetos de consumo como 
roupas de marca, dinheiro, bicicleta, carros, etc. Na fase inicial da vida no “mundo do crime” 
ficam latente as questões morais vinculadas às necessidades e anseios materiais e, no decorrer 
do processo de inserção, as questões colocadas acima, tais como a influência na formação de 
uma identidade “masculina”, “forte”, etc., vão se estruturando aos poucos. 
O jovem relaciona-se com a violência de modo ambivalente: ora como vítima, ora como 
agressor. A sua vida tem sido um processo de luta para conviver, ou superar a violência na era 
da mundialização (BAUMAN, 1998; NAFFAH NETO, 1997). A violência difusa pode ser 
explicada pela segregação social e espacial das populações, pelo aumento do desemprego e 
pelo recurso a soluções diretas resultantes do descrédito para com o aparelho policial e o 
sistema judiciário, como demonstram os linchamentos em periferias urbanas de cidades 
brasileiras (LIMA, 2002; SINGER, 2003; SINHORETO, 2002; MARTINS, 2015). 
Para além das características gerais acima apresentadas, percebem-se diferenças 
impactantes na incidência de homicídios entre as regiões, estados e municípios brasileiros. 
Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco apresentam queda regular das taxas de 
homicídio, enquanto em outros – como na Bahia – os homicídios vêm crescendo, ou 
permanecem no mesmo patamar, como no Rio Grande do Sul. Há várias interpretações sobre 
os movimentos discrepantes da violência letal entre os diversos espaços sociais. Dentre elas, 
citam-se as que procuram explicar o exemplar e persistente declínio dos homicídios no Estado 
de São Paulo
6
, que, entre outros aspectos, estaria relacionado com: 
 
6
 Conforme os trabalhos de: Mello e Schneider (2007), Ferreira, Lima e H. (2009) e Peres et al. (2012). 
 
 
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31 
 
a) As novas políticas de justiça criminal implementadas ao longo da década de 2000, tais 
como: aprovação de leis para aumentar a fiscalização sobre as armas, campanhas de 
desarmamento, etc.; 
b) As mudanças ocorridas no sistema de justiça e segurança pública, por exemplo, o 
aperfeiçoamento dos mecanismos de planejamento, gestão e controle e a participação das 
prefeituras municipais na agenda de segurança pública; 
c) O aumento da participação social em áreas de alto risco; 
d) A Lei Seca implantada em alguns municípios; 
e) A melhoria nos indicadores socioeconômicos, como melhor distribuição de renda e 
elevação da escolarização secundária; 
f) As mudanças na estrutura etária relativas à queda da participação dos jovens de 15 a 24 
anos na população paulista, sem desconsiderar a influência das políticas públicas; 
g) Os fatores socioeconômicos e demográficos, em especial a redução dos níveis de 
desemprego e da proporção de jovens na população. 
Kahn (2011) relativiza as hipóteses baseadas no fator demográfico e no controle de 
armas circulantes, pois elas se aplicariam às tendências observadas em todo o território 
nacional. Ao analisar o crescimento acentuado dos homicídios na década de 2000 no Nordeste 
(com exceção de Pernambuco) e no Sul do país, em contraste com o seu decréscimo no 
Sudeste, o autor apontou como fatores explicativos: A) no Nordeste, o crescimento rápido e 
acelerado da renda produziu efeitos diretos e indiretos, entre eles, a maior quantidade de 
crimes patrimoniais e o maior uso de arma de fogo, resultando em maior incidência de 
desfechos letais; B) Em contrapartida, no Sudeste, o crescimento estável de renda e a 
estabilidade do crime patrimonial, associados à redução das armas em circulação e às políticas 
de segurança específicas (voltadas ao controle de armas e/ou que priorizaram a redução dos 
homicídios como em Pernambuco) estariam relacionados com a redução dos homicídios. 
Andrade, Souza e Freire (2013) ressaltam que não foi identificada uma interiorização 
uniforme dos homicídios no Brasil, pois eles continuam a prevalecer nas cidades interioranas 
maiores, nos polos regionais ou nas franjas metropolitanas, ou, ainda, em cidades mais 
integradas à metrópole. Ou seja, o modo de vida metropolitano continua a gerar formas de 
sociabilidade que favorecem as práticas violentas, como salientam Souza e Fratari (2013, p. 
46). 
 
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32 
 
Nas metrópoles, o desemprego também parece estar relacionado com a incidência da 
violência. Foi o que constatou Guimarães (2011) ao realizar um estudo painel em dez regiões 
metropolitanas brasileiras no período 1992-2005. A autora identificou que os homicídios de 
jovens entre 15 a 29 anos prevalecem nas regiões metropolitanas mais ricas, porque nelas se 
presume a existência de maior lucratividade para o crime, como no caso do tráfico de drogas. 
No estudo, o desemprego aparece como principal fator correlacionado com a taxa de 
homicídios de jovens, conduzindo à conclusão de que este problema social poderia estar 
provocando, por várias razões, um aumento da participação de jovens sem emprego nas 
atividades criminosas (GUIMARÃES, 2011, p. 201). 
Do mesmo modo, Cerqueira, Lobão e Carvalho (2007) acrescentam que o crescimento 
populacional agregado ao crescente desemprego nas regiões metropolitanas gerou mudanças 
que desencadearam uma maior exclusão conjugada à desigualdade econômica. De acordo 
com os autores, as transformações decorrentes possibilitaram maior proliferação e uso 
indiscriminado de armas de fogo; aumento da percepção dos indivíduos em relação à 
impunidade e, consequentemente, baixa confiança no sistema de justiça criminal. Por sua vez, 
Beato e Zili (2012) reafirmam as proposições acima ao constatar que o crescimento rápido das 
metrópoles, acompanhado da falta de planejamento, acaba gerando ambientes propícios para a 
prática

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