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Direitos Sociais Reserva do Possível Surgiu em uma decisão proferida pelo TCF Alemão em 1972, em um caso relacionado a Universidades. Para exercer algumas profissões é necessária a formação universitária, por isso o não acesso a essas instituições inviabilizaria o livre exercício de profissões. Como não há previsão na Constituição Alemã de ensino gratuito, o Estado deveria arcar com bolsas de estudo. O TCF Alemão, apesar de concordar que o não acesso prejudicaria o livre exercício profissional, alegou que não há, na prática, como o Estado arcar com todas as bolsas, face à limitação do orçamento. O Estado só estaria obrigado a realizar o possível, dentro do seu orçamento. Guido Calabresi e Phillip Bobbit dizem que toda decisão alocativa de recursos é também uma decisão desalocativa. Essas escolhas trágicas, democraticamente, devem ser feitas pelo Legislativo e pelo Executivo. Entretanto, isso não significa que o Judiciário não possa agir. Em caso de desrespeito à CR/88, o Judiciário pode atuar. É cediço, porém, que a prioridade para alocação desses recursos é do Legislativo e do Executivo. A reserva do possível é matéria de defesa do Estado, cabendo a ele provar que não possui recursos para atender a demanda. Na prática, os Procuradores do Estado não demonstram, pela falta de dados específicos. O autor Ingo Sarlet aponta três dimensões para a reserva do possível: Possibilidade fática: Consiste na existência de recursos orçamentários para atender as pretensões individuais. Ao contrário dos direitos individuais, os direitos sociais têm caráter eminentemente positivo, exigindo do Estado prestações, demandando recursos orçamentários. O Principio da Isonomia exige que a análise para prestação por parte do Estado deva açambarcar todos os que se encontram na situação de carência do direito social (é fato que o Estado tem dinheiro para fazer casa para um desabrigado, mas, à luz do princípio da isonomia, para a promoção, deve ter lastro orçamentário para conseguir abarcar a todos). A via mais adequada, pois, para se exigir do Estado a prestação em relação ao direito social é a ação coletiva. Possibilidade jurídica: Envolve basicamente dois aspectos: Análise da existência de previsão orçamentária: deve estar prevista em Lei; porém, não pode ser um limite absoluto; Análise das competências federativas: qual ente federativo é responsável pela demanda. Razoabilidade da exigência e Proporcionalidade da prestação: O Estado analisa se é razoável deixar de atender uma prestação para atender outra. Mínimo Existencial Está intimamente relacionado à Reserva do Possível. Também utilizada pela primeira vez na Alemanha, porém no ano de 1953. No Direito Alemão, é deduzido de três princípios: da dignidade da pessoa humana, da liberdade material e do Estado Social. Ricardo Lobo Torres introduziu no direito brasileiro. Consiste no conjunto de bens e utilidades indispensáveis a uma vida humana digna. A Dignidade demanda três efeitos: promoção, proteção e abstenção. O mínimo existencial está ligado à promoção. Para o professor Ricardo Lobo Torres, não há um rol taxativo. Para a Prof.ª Ana Paula Barcellos, o mínimo existencial é: direito a saúde, educação básica (art. 208, I, CRFB/88, está previsto como regra, não cabe alegação de reserva de possível), assistência aos desamparados (os de extrema pobreza) e acesso à Justiça. O Mínimo existencial é um subgrupo menor dos direitos social. Como os direitos sociais têm um custo especialmente oneroso, busca-se um mínimo existencial para conferir maior efetividade a esses direitos. Posicionamento entre Reserva Legal e Mínimo Existencial Daniel Sarmento entende que o mínimo existencial não é absoluto devendo ser ponderado com a reserva do possível, direitos de terceiros (direitos daquelas pessoas que deixarão de serem atendidas com o deslocamento dos recursos). Ingo Sarlet sustenta que não se pode opor a reserva do possível ao mínimo existencial. Se o direito faz parte do mínimo existencial, mesmo que o estado deixe de atender outras demandas, deve ser suprido (RE 482.611/SC – Min. Celso de Mello). Vedação de retrocesso social A grande maioria dos direitos sociais é consagrada em normas abertas (necessitam de uma concretização por parte dos poderes públicos) para que o Estado eleja as prioridades para realização de acordo com o que deseja a maioria. Daí, a norma concretizadora passa a fazer parte do próprio direito social. Essa norma, por ser fundamental ao exercício do direito, passa a ser materialmente constitucional, assume status de norma constitucional; logo, não pode ser objeto de um retrocesso. Ou seja, a partir do momento em que ocorre a concretização de um direito social, essa não pode mais ser objeto de um retrocesso. Há dois posicionamentos em relação ao assunto: Zagrebelsky: a vedação de retrocesso impede reduzir o grau de concretização atingido por uma norma de direito social; José Carlos Vieira de Andrade: proíbe a revogação da concretização quando essa se revelar manifestamente arbitrária ou desarrazoada. A posição desse autor é no sentido de que a vedação no retrocesso não impede a redução, mas a revogação arbitrária ou desarrazoada.
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