Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 1 Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br Olá! A nossa aula de hoje é extremamente especial, pois tratará de um tema presente em quase todos os editais de concursos públicos da Fundação Carlos Chagas: atos administrativos. Entretanto, é importante esclarecer que o edital está fazendo referência apenas aos tópicos relativos a “conceito, requisitos e atributos; anulação, revogação e convalidação; discricionariedade e vinculação”. Nesses termos, não será necessário estudar todo o conteúdo teórico sobre atos administrativos. Ademais, aproveitaremos para estudar também o conteúdo referente a “serviços públicos”, mais precisamente os tópicos referentes ao “conceito; princípios; delegação: concessão, permissão e autorização”. No mais, fico aguardando eventuais dúvidas em nosso fórum. Bons estudos! Fabiano Pereira fabianopereira@pontodosconcursos.com.br "Direcione sua visão para o alto, quanto mais alto, melhor. Espere que as mais maravilhosas coisas aconteçam, não no futuro, mas imediatamente. Perceba que nada é bom demais para você. Não permita que absolutamente nada te impeça ou te atrase, de modo algum." (Eileen Caddy) CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 2 ATOS ADMINISTRATIVOS 1. Considerações iniciais ............................................................. 03 2. Conceito ................................................................................... 05 3. Elementos ou requisitos do ato administrativo ......................... 06 3.1. Competência ................................................................. 06 3.2. Finalidade ..................................................................... 08 3.3. Forma ........................................................................... 08 3.4. Motivo .......................................................................... 09 3.5. Objeto ........................................................................... 12 4. Atributos do ato administrativo ................................................ 13 4.1. Presunção de legitimidade ............................................ 13 4.2. Imperatividade ............................................................. 14 4.3. Autoexecutoriedade .................................................... 15 4.4. Tipicidade ..................................................................... 17 5. Atos vinculados e discricionários ............................................. 17 6. Desfazimento dos atos administrativos .................................... 18 7. Convalidação de atos administrativos ....................................... 23 8. Revisão de véspera de prova – “RVP”........................................ 25 9. Questões comentadas ............................................................... 28 10. Relação de questões comentadas ............................................ 60 11. Questões para fixação do conteúdo ......................................... 74 CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 3 1. Considerações iniciais Ao exercer a função administrativa com o objetivo de satisfazer as necessidades coletivas primárias, a Administração Pública utiliza-se de um mecanismo próprio, que lhe assegura um conjunto de prerrogativas necessárias ao alcance das finalidades estatais: o denominado regime jurídico-administrativo. É o regime jurídico-administrativo que garante à Administração Pública a possibilidade de relacionar-se com os particulares em condição de superioridade, podendo impor-lhes decisões administrativas independentemente da concordância ou da aquiescência, pois são necessárias ao alcance das finalidades estatais. Com o intuito de materializar as funções administrativas, ou seja, para realmente colocar em prática a vontade da lei, a Administração irá editar várias espécies de atos, cada um com uma finalidade específica, a exemplo de uma portaria, um decreto de nomeação de servidor, uma ordem de serviço, uma certidão negativa de débitos previdenciários, uma instrução normativa, uma circular, entre outros. Apesar de ser regra geral, é válido esclarecer que nem sempre os atos editados pela Administração serão regidos pelo direito público, pois, dependendo do fim visado legalmente, alguns atos podem ser praticados sob o amparo do direito privado. Diante disso, é possível concluir que a Administração Pública edita dois tipos de atos jurídicos: 1º) atos que são regidos pelo direito público e, consequentemente, denominados de atos administrativos; 2º) atos regidos pelo direito privado. Os atos administrativos editados pela Administração estão amparados pelo regime jurídico-administrativo, portanto, expressam a sua superioridade em face dos administrados. Por outro lado, nos atos regidos pelo direito privado a Administração apresenta-se em condições isonômicas frente ao particular, como acontece, por exemplo, na assinatura de um contrato de aluguel. Quando a Administração deseja celebrar um contrato de locação (ato regido pelo direito privado, mais precisamente pelo Direito Civil) com um particular (deseja alugar um imóvel para instalar uma unidade administrativa da Polícia Federal, por exemplo), essa relação bilateral é consequência de um “acordo de vontades” entre as partes. No referido contrato, as cláusulas não foram definidas e elaboradas exclusivamente pela Administração, existiu uma negociação anterior até que se chegasse a um consenso sobre o que seria melhor para as partes e, somente depois, o contrato foi assinado. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 4 Pergunta: Professor Fabiano, então é correto afirmar que, nos atos regidos pelo direito privado, a Administração jamais gozará de qualquer prerrogativa ou “privilégio”? Não. Tenha muito cuidado com a expressão “jamais”, “nunca”, “exclusivamente”, “somente”, entre outras, pois excluem a possibilidade de exceções, existentes às “milhares” no Direito. Como regra geral, entenda que, nos atos regidos pelo direito privado a Administração encontra-se em uma relação horizontal em face do particular, ou seja, uma relação isonômica, em igualdade de condições. Desse modo, não irá gozar de prerrogativas. Todavia, em situações excepcionais, tanto o direito privado como o Direito Administrativo (direito público) podem estabelecer prerrogativas (“privilégios”) à Administração, caso seja necessário ao alcance dointeresse público. Exemplo: Como estudaremos adiante, todos os atos regidos pela Administração, inclusive os regidos pelo direito privado, gozam do atributo denominado “presunção de legitimidade”. Sendo assim, da mesma forma que ocorre em relação aos atos administrativos, os atos regidos pelo direito privado também são presumivelmente editados em conformidade com o direito. Pergunta: Professor, quando você afirma que a Administração Pública pode editar atos regidos pelo direito público e pelo direito privado, você está incluindo no conceito de Administração também os poderes Legislativo e Judiciário? É claro que sim. Lembre-se de que a função administrativa é típica do Poder Executivo, mas não é exclusiva. Portanto, os poderes Legislativo e Judiciário também poderão exercê-la atipicamente. Atenção: Essas informações sobre os atos regidos pelo direito privado são muito importantes para responder algumas questões em prova. Contudo, o nosso foco de estudo neste capítulo são os atos administrativos, ou seja, aqueles regidos pelo direito público. Dificilmente você irá encontrar uma prova de Direito Administrativo que não exija conhecimentos sobre o tema, principalmente sobre os “requisitos” e “atributos” do ato administrativo. Tente assimilar todos os conceitos que serão apresentados, bem como todas as questões que serão disponibilizadas ao término da aula, pois serão essenciais para o seu sucesso no concurso do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro. Aproveitando a oportunidade, gostaria de convocá-lo para participar do fórum de dúvidas. Tenho constatado que poucos alunos estão participando efetivamente do fórum e isso dificulta a elaboração das próximas aulas, pois não consigo perceber a evolução do curso. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 5 Não consigo saber, por exemplo, se a linguagem está sendo acessível, se as questões de fixação do conteúdo estão sendo respondidas facilmente, enfim, preciso desse retorno. Caso você não queira se manifestar no fórum, envie o seu e-mail para fabianopereira@pontodosconcursos.com.br. No mais, vamos voltar para o “batente”! 2. Conceito São vários os conceitos de ato administrativo formulados pelos doutrinadores brasileiros, cada um com as suas peculiaridades. Entretanto, percebe-se nas provas da Fundação Carlos Chagas uma maior inclinação pelo antigo conceito elaborado pelo professor Hely Lopes Meirelles, que assim declara: “Ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria.” Analisando-se o conceito do saudoso professor, podemos concluir que o ato administrativo possui características bastante peculiares e, consequentemente, muito exigidas em provas da FCC: 1ª) É uma manifestação unilateral de vontade da Administração Pública: nesse caso, é suficiente esclarecer que a Administração não está obrigada a consultar o particular antes de editar um ato administrativo, ou seja, a edição do ato depende, em regra, somente da vontade da Administração (pense no caso da aplicação de uma multa de trânsito, por exemplo). 2ª) É necessário que o ato administrativo tenha sido editado por quem esteja na condição de Administração Pública: é importante destacar que, além dos órgãos e entidades que integram a Administração Pública direta e indireta, também podem editar atos administrativos entidades que estão fora da Administração, como acontece com as concessionárias e permissionárias de serviços públicos, desde que no exercício de prerrogativas públicas. 3ª) O ato administrativo visa sempre produzir efeitos no mundo jurídico: segundo o professor, ao editar um ato administrativo, a Administração visa adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou, ainda, impor obrigações aos administrados ou a si própria. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 6 Além das características que foram apresentadas acima, lembre-se ainda de que, ao editar um ato administrativo, a Administração Pública encontra-se em posição de superioridade em relação ao particular, pois está amparada pelo regime jurídico-administrativo. 3. Elementos ou requisitos do ato administrativo Os elementos ou requisitos do ato administrativo nada mais são que “componentes” necessários para que o ato seja considerado inicialmente válido, editado em conformidade com a lei. Não existe uma unanimidade doutrinária sobre a quantidade e as características de cada requisito ou elemento do ato administrativo. Portanto, como o nosso objetivo é ser aprovado em um concurso público, iremos adotar o posicionamento do professor Hely Lopes Meirelles, que entende serem cinco os elementos dos atos administrativos: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. 3.1. Competência O ato administrativo não “cai do céu”. É necessário que alguém o edite para que possa produzir efeitos jurídicos. Esse alguém é o agente público, que recebe essa competência expressamente do texto constitucional, através de lei (que é a regra geral) ou, ainda, segundo o professor José dos Santos Carvalho Filho, através de normas administrativas. Neste último caso, o ilustre professor informa que “em relação aos órgãos de menor hierarquia, pode a competência derivar de normas expressas de atos administrativos organizacionais. Nesses casos, serão tais atos editados por órgãos cuja competência decorre de lei. Em outras palavras, a competência primária do órgão provem da lei, e a competência dos segmentos internos dele, de natureza secundária, pode receber definição através dos atos organizacionais”. Sobre a competência, além de saber que se trata de um requisito sempre vinculado do ato, é importante que você entenda ainda quais são as principais características enumeradas pela doutrina, pois é muito comum encontrarmos questões em prova sobre o assunto. 1ª) É irrenunciável: já que prevista em lei, a competência é de exercício obrigatório pelo agente público sempre que o interesse público assim exigir. Não deve ser exercida ao livre arbítrio do agente, mas nos termos da lei, que irá definir os seus respectivos limites. 2ª) É inderrogável: os agentes públicos devem sempre exercer a competência nos termos fixados e estabelecidos pela lei, sendo-lhes vedado alterar, por vontade própria ou por atos administrativos, o alcance da competência legal. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 7 3ª) Pode ser considerada improrrogável: quando a agente público edita um ato que inicialmente não era de sua competência, isso não significa que, a partir de então, ele se torna o único competente legalmente para exercê-lo, pois, provavelmente, oato foi editado em razão de avocação ou delegação, ambos estudados anteriormente. 4ª) É intransferível: como a avocação e a delegação estão relacionadas exclusivamente com o exercício da competência, é válido destacar que a sua titularidade permanece com a autoridade responsável pela delegação, que poderá ainda continuar editando o ato delegado, por exemplo. 5ª) É imprescritível: o exercício de determinada competência pelo seu titular não prescreve em virtude do lapso temporal, independentemente do tempo transcorrido. A obrigação de exercer a competência subsiste sempre que forem preenchidos os requisitos previstos em lei. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A competência administrativa, sendo requisito de ordem pública, é intransferível e improrrogável pela vontade dos interessados. Pode, entretanto, ser delegada e avocada, desde que o permitam as normas reguladoras da Administração (FCC/Analista Judiciário TRT 9ª Região/2010). Além das características apresentadas, atente-se ainda para as regras básicas previstas na Lei 9.784/99 (Lei do processo administrativo federal), objeto frequente nas provas de concursos. 1ª) Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial; 2ª) Não pode ser objeto de delegação a edição de atos de caráter normativo; a decisão de recursos administrativos; as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade; 3ª) O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial; 4ª) O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante; 5ª) As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado; 6ª) Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 8 3.2. Finalidade Trata-se de requisito sempre vinculado (previsto em lei) que impõe a necessidade de respeito ao interesse público no momento da edição do ato administrativo. Tenho certeza de que você se recorda de que a finalidade do ato administrativo deve ser atingida tanto em sentido amplo quanto em sentido estrito para que este seja considerado válido. Em sentido amplo, significa que todos os atos praticados pela Administração devem atender ao interesse público. Em sentido estrito, significa que todo ato praticado pela Administração possui uma finalidade específica, prevista em lei. Apesar de a Administração ter por objetivo a satisfação do interesse público, é válido ressaltar que, em alguns casos, poderão ser editados atos com o objetivo de satisfazer o interesse particular, como acontece, por exemplo, na permissão de uso de um certo bem público (quando o Município, por exemplo, permite ao particular a possibilidade de utilizar uma loja do Mercado municipal para montar o seu estabelecimento comercial). Nesse caso, o interesse público também será atendido, mesmo que secundariamente. O que não se admite é que um ato administrativo seja editado exclusivamente para satisfazer o interesse particular. Sendo assim, o requisito denominado finalidade tem que responder à seguinte pergunta: para que foi editado o ato? Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Lembre-se sempre de que a finalidade é o efeito mediato (secundário) que o ato administrativo produz. 3.3. Forma A forma, que também é um requisito vinculado do ato administrativo, a exemplo dos requisitos da competência e finalidade, também pode ser compreendida em sentido estrito e em sentido amplo. Em sentido estrito, a forma pode ser entendida como o revestimento exterior do ato administrativo, o “modelo” do ato, o modo pelo qual ele se apresenta ao mundo jurídico. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O revestimento exterior do ato administrativo, necessário à sua perfeição, é requisito conhecido como forma (FCC/Técnico Judiciário TRT 8ª Região/2010). Em regra, o ato administrativo apresenta-se ao mundo jurídico por escrito. Entretanto, existe a possibilidade de determinados atos surgirem verbal, gestual, ou, ainda, virtualmente. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 9 Exemplo: Quando o guarda de trânsito emite “dois silvos breves” com o seu apito, ocorre a edição de um ato administrativo informal, pois ele está determinando que você pare o veículo para que seja fiscalizado. Da mesma forma, quando o semáforo de trânsito apresenta a cor vermelha, está sendo editado um ato administrativo informal determinando que você também pare o veículo. Ao contrário do princípio da liberdade das formas, que vigora no direito privado, segundo o qual os atos podem ser praticados por qualquer forma idônea para atingir o seu fim, vigora no Direito Administrativo, em regra, o princípio da solenidade das formas, segundo o qual, para a edição de um ato administrativo, devem ser respeitados procedimentos especiais e forma prevista em lei. O princípio da solenidade das formas está consagrado no § 1º, artigo 22, da Lei Federal 9.784/99, ao estabelecer que “os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável”. Sendo assim, em âmbito federal existe norma expressa que impõe a regra da forma escrita para o exercício das competências públicas, o que nos leva a entender que, em regra, os atos administrativos devem ser formais. Em sentido amplo, a forma pode ser entendida como a formalidade ou procedimento a ser observado para a produção do ato administrativo. Em outras palavras, entenda que a lei pode determinar expressamente outras exigências formais que não fazem parte do próprio ato administrativo, mas que lhe são anteriores ou posteriores (exigência de várias publicações do mesmo ato no Diário Oficial, por exemplo, para que possa produzir efeitos). Ao contrário do que ocorre em relação ao princípio da solenidade das formas, que impõe a necessidade da vontade administrativa se exteriorizar por escrito, em relação à formalidade ou procedimento, somente será exigida uma dada formalidade se a lei expressamente determinar. Inexistindo lei impondo uma exigência formal além da exteriorização escrita, não há que ser requerer qualquer procedimento complementar. Esse é o teor do caput do artigo 22 da Lei 9.784/99, ao declarar que “os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir”. 3.4. Motivo O motivo, que também é chamado de “causa”, é o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento para a edição do ato administrativo. O motivo se manifesta através de ações ou omissões dos agentes públicos, dos administrados ou, ainda, de necessidades da própria Administração, que justificamou impõem a edição de um ato administrativo. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 10 Para que um ato administrativo seja validamente editado, faz-se necessário que esteja presente o pressuposto de fato e de direito que autoriza ou determina a sua edição. a) Pressuposto de fato: É o acontecimento real, uma circunstância fática concreta, externa ao agente público e que ensejou a edição do ato. Exemplos: a circunstância fática concreta que enseja a edição de um ato administrativo de desapropriação para fins de reforma agrária é a improdutividade de um latifúndio rural; a circunstância fática concreta que enseja a edição do ato que concede a licença-maternidade a uma servidora é o nascimento do filho; a circunstância fática concreta que enseja a edição do ato concessivo da aposentadoria compulsória é o implemento da idade de setenta anos, etc. b) Pressuposto de direito: é o dispositivo legal em que se baseia a edição do ato. Em outras palavras, são os requisitos materiais estabelecidos na lei e que autorizam (nos atos discricionários) ou determinam (nos atos vinculados) a edição do ato. Exemplos: 1º) No ato de desapropriação para fins de reforma agrária, o pressuposto de direito para a edição do ato está no artigo 184 da CF/88, que assim declara: “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social”[...] . Foi o artigo 184 da CF/88 que fundamentou juridicamente a edição do ato. 2º) No ato concessivo de licença-maternidade, em âmbito federal, o pressuposto de direito que autoriza a edição do ato é o artigo 207 da lei 8.112/90, ao declarar que “será concedida licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração”. 3º) No ato concessivo da aposentadoria compulsória, o pressuposto de direito, em âmbito federal, é o artigo 186 da Lei 8.112/90, ao afirmar que “o servidor será aposentado compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de serviço”. 3.4.1. Motivo e motivação É necessário que você tenha muita atenção ao responder às questões de prova para não confundir motivo e motivação, que possuem significados diferentes. O motivo, conforme acabei de expor, pode ser entendido como o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento para a edição do ato administrativo. Por outro lado, a motivação nada mais é que exposição dos motivos, por escrito, no corpo do ato administrativo. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 11 Exemplo: Na concessão de licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias consecutivos, já sabemos que o nascimento do filho corresponderá ao pressuposto de fato e o artigo 186 da Lei 8.112/90 corresponderá ao pressuposto de direito (ambos formando o motivo). Entretanto, a motivação somente passará a existir a partir do momento que o agente público do setor de recursos humanos declarar expressamente, por escrito, o pressuposto de fato e de direito que justificará a edição do ato. Para responder às questões de prova: Motivação é a exposição ou indicação dos motivos, ou seja, demonstração por escrito dos fatos e fundamentos jurídicos do ato (FCC/Analista Judiciário TRT 22ª Região/2010). 3.4.2. Teoria dos motivos determinantes Segundo a teoria dos motivos determinantes, o motivo alegado pelo agente público, no momento da edição do ato, deve corresponder à realidade, tem que ser verdadeiro. Caso contrário, comprovando o interessado que o motivo informado não guarda qualquer relação com a edição do ato ou que sequer existiu, o ato deverá ser anulado pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. O professor Celso Antônio Bandeira de Mello, ao explicar a teoria dos motivos determinantes, afirma que “os motivos que determinam a vontade do agente, isto é, os fatos que serviram de suporte à sua decisão, integram a validade do ato. Sendo assim, a invocação de ´motivos de fato´ falsos, inexistentes ou incorretamente qualificados vicia o ato mesmo quando, conforme já se disse, a lei não haja estabelecido, antecipadamente, os motivos que ensejariam a prática do ato. Uma vez enunciados pelo agente os motivos em que se calçou, ainda quando a lei não haja expressamente imposto a obrigação de enunciá-los, o ato só será válido se estes realmente ocorreram e o justificavam”. Exemplo: Suponhamos que o Prefeito de um determinado Município tenha decidido exonerar o Secretário Municipal de Turismo, ocupante de cargo em comissão. Entretanto, por ser colega do Secretário e temer inimizades políticas, decidiu motivar o ato alegando a necessidade de reduzir a despesa com pessoal ativo (motivo) em virtude da queda no montante de recursos recebidos do Fundo de Participação dos Municípios. Porém, três meses após a exoneração do ex-Secretário de Turismo, imaginemos que o Prefeito tenha decidido nomear a sua irmã para ocupar o mesmo cargo, mas sem motivar o ato. Pergunta: No referido exemplo, ocorreu algum vício (irregularidade) na exoneração do Secretário Municipal de Turismo, já que o Prefeito sequer era obrigado a motivar o ato de exoneração? CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 12 Sim. Realmente o Prefeito não era obrigado a motivar o ato de exoneração, pois se trata de cargo de confiança (em comissão), de livre nomeação e exoneração. Contudo, já que decidiu motivar o ato, a motivação deveria corresponder à realidade, ser verdadeira e real, o que não aconteceu no caso. Como o motivo alegado (redução de despesas) foi determinante para a edição do ato de exoneração, mas, posteriormente, ficou provado que ele não existia, deverá ser anulado o ato por manifesta ilegalidade, seja pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Quando a Administração motiva o ato, mesmo que a lei não exija a motivação, ele só será válido, se os motivos forem verdadeiros (FCC/Analista Judiciário TRE AP/2011). 3.5. Objeto O quinto requisito do ato administrativo, que pode ser discricionário ou vinculado, é o objeto, entendido como a coisa ou a relação jurídica sobre a qual recai o ato. Trata-se do efeito jurídico imediato (primário) que o ato administrativo produz. Segundo a professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, o objeto é o efeito jurídico que o ato produz. O que o ato faz? Ele cria um direito? Ele extingue um direito? Ele transforma? Quer dizer, o objeto vem descrito na norma, ele corresponde ao próprio enunciado do ato. Para os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, o objeto do ato administrativo identifica-se com o seu próprio conteúdo, por meio do qual a Administração manifesta sua vontade, ou atesta simplesmente situações pré- existentes. Assim, continuam os professores, é objeto do ato de concessãode alvará a própria concessão do alvará; é objeto do ato de exoneração a própria exoneração; é objeto do ato de suspensão do servidor a própria suspensão (neste caso há liberdade de escolha do conteúdo específico – número de dias de suspensão – dentro dos limites legais de até noventa dias, conforme a valoração da gravidade da falta cometida); etc. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O objeto do ato administrativo é o efeito jurídico imediato que o ato produz (FCC/Analista Judiciário TRE AP/2011). CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 13 4. Atributos do ato administrativo Como consequência do regime jurídico-administrativo, que concede à Administração Pública um conjunto de prerrogativas necessárias ao alcance do interesse coletivo, os atos administrativos editados pelo Poder Público gozarão de determinadas qualidades (atributos) não existentes no âmbito do direito privado. Não existe um consenso doutrinário sobre a quantidade de atributos inerentes aos atos administrativos, mas, para responder às questões de provas, é necessário que estudemos a presunção de legitimidade ou veracidade, a imperatividade, a autoexecutoriedade e a tipicidade. 4.1. Presunção de legitimidade e veracidade Todo e qualquer ato administrativo é presumivelmente legítimo, ou seja, considera-se editado em conformidade com o direito (leis e princípios). Essa presunção é consequência da confiança depositada no agente público, pois se deve partir do pressuposto de que todos os parâmetros e requisitos legais foram respeitados pelo agente no momento da edição do ato. A presunção de legitimidade dos atos administrativos tem o objetivo de evitar que terceiros (em regra, particulares) criem obstáculos insensatos ou desprovidos de quaisquer fundamentos, que possam inviabilizar o exercício da atividade administrativa. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A presunção de legitimidade alcança todos os atos administrativos editados pela Administração, independentemente da espécie ou classificação. Não é correto afirmar que a presunção de legitimidade dos atos administrativos seja juris et de jure (absoluta), pois o terceiro que se sentir prejudicado pode provar a ilegalidade do ato para que não seja obrigado a cumpri-lo. Desse modo, deve ficar claro que a presunção de legitimidade será sempre juris tantum (relativa), pois é assegurado ao interessado recorrer à Administração, ou mesmo ao Poder Judiciário, para que não seja obrigado a submeter-se aos efeitos do ato (que considera ilegítimo ou ilegal). Enquanto o Poder Judiciário ou a própria Administração não reconhecerem a ilegitimidade do ato administrativo, todos os seus efeitos continuam sendo produzidos normalmente, e o interessado deverá cumpri- lo integralmente. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O atributo da presunção de legitimidade também tem sido cobrado em provas como “presunção de legalidade”, apesar de alguns autores discordarem desse entendimento. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 14 Quando se afirma que o ato administrativo é presumivelmente legitimo, está se afirmando que foi editado em conformidade com o direito, ou seja, respeitando-se as leis e princípios vigentes. Por outro lado, ao se afirmar que o ato administrativo é presumivelmente legal, restringe-se a presunção ao respeito à lei. Atenção: A professora Maria Sylvia Zanella di Pietro ainda afirma que, além de serem presumivelmente legítimos, os atos administrativos também são presumivelmente verdadeiros. Segundo a professora, a presunção de veracidade assegura que os fatos alegados pela Administração são presumivelmente verdadeiros, assim como ocorre em relação a certidões, atestados, declarações ou informações por ela fornecidos, todos dotados de fé pública. Por último, lembre-se sempre de que é do particular a obrigação de demonstrar e provar a ilegalidade ou possível violação ao ordenamento jurídico causada pela edição do ato. Enquanto isso não ocorrer, o ato continua produzindo todos os seus efeitos. Esse é o posicionamento do professor Hely Lopes Meirelles, ao afirmar que essa presunção “autoriza a imediata execução ou a operatividade dos atos administrativos, mesmo que argüidos de vícios ou defeitos que os levem à invalidade. Enquanto, porém, não sobrevier o pronunciamento de nulidade, os atos administrativos são tidos por válidos e operantes, quer para a Administração, quer para os particulares sujeitos ou beneficiários de seus efeitos”. Para responder às questões da FCC: Um dos atributos dos atos administrativos tem por fundamento a sujeição da Administração Pública ao princípio da legalidade, o que faz presumir que todos os seus atos tenham sido praticados em conformidade com a lei, já que cabe ao Poder Público a sua tutela. Nesse caso, trata-se do atributo da presunção de legitimidade (FCC/Técnico Judiciário TRF 1ª Região/FCC). 4.2. Imperatividade A imperatividade é o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente de sua concordância ou aquiescência. Ao contrário do que ocorre na presunção de legitimidade, que não necessita de previsão em lei, a imperatividade exige expressa autorização legal e não pode ser aplicada a todos os atos administrativos. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A imperatividade é um atributo que não existe em todos os atos administrativos (FCC/Técnico Judiciário TRT 22ª Região/2010). CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 15 É o atributo da imperatividade que permite à Administração, por exemplo, aplicar multas de trânsito, constituir obrigação tributária que vincule o particular ao pagamento de imposto de renda, entre outros. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O professor José dos Santos Carvalho Filho considera os termos coercibilidade e imperatividade expressões sinônimas, ao declarar que “significa que os atos administrativos são cogentes, obrigando a todos quantos se encontrem em seu círculo de incidência (ainda que o objetivo a ser por ele alcançado contrarie interesses privados), na verdade, o único alvo da Administração Pública é o interesse público”. Em virtude da unilateralidade, a Administração Pública não precisa consultar o particular, antes da edição do ato administrativo, para solicitar a sua concordância ou aquiescência, mesmo que o ato lhe cause prejuízos. A doutrina majoritária entende que a imperatividade decorre do poder extroverso do Estado, que pode ser definido como o poder que o Estado tem de constituir, unilateralmente, obrigações para terceiros, com extravasamento dos seus próprios limites. O poder extroverso pode ser encontrado, por exemplo, na cobrança e fiscalização dos impostos, no exercício do poder de polícia, na fiscalizaçãodo cumprimento de normas sanitárias, no controle do meio ambiente, entre outros. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente de sua concordância, denomina-se imperatividade (FCC/Analista Judiciário TRT 22ª Região/2010). 4.3. Autoexecutoriedade A autoexecutoriedade é o atributo que garante ao Poder Público a possibilidade de obrigar terceiros ao cumprimento dos atos administrativos editados, sem a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário. O referido atributo garante à Administração Pública a possibilidade de ir além do que simplesmente impor um dever ao particular (consequência da imperatividade), mas também utilizar força direta e material no sentido de garantir que o ato administrativo seja executado. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: O ato administrativo distingue-se dos atos de direito privado por, dentre outras razões, ser dotado de alguns atributos específicos, tais como autoexecutoriedade, que autoriza a execução de algumas medidas coercitivas legalmente previstas diretamente pela Administração (FCC/Procurador TCE SP/2011). CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 16 A autoexecutoriedade não está presente em todos os atos administrativos (atos negociais e enunciativos, por exemplo), ocorrendo somente em duas hipóteses: 1ª) Quando existir expressa previsão legal; 2ª) Em situações emergenciais em que apenas se garantirá a satisfação do interesse público com a utilização da força estatal. Exemplo: Imagine que a Administração Pública se depare com a existência de um imóvel particular em péssimas condições, prestes a desabar e que ainda é habitado por uma família de cinco pessoas. Nesse caso, a Administração não precisará recorrer ao Poder Judiciário para retirar obrigatoriamente as pessoas do local, utilizando a força se preciso for, pois está diante de uma situação emergencial, na qual a integridade física de várias pessoas está em risco. Também podem ser citados como exemplos de manifestação da autoexecutoriedade a destruição de medicamentos com prazo de validade vencido e que foram recolhidos em farmácias e a demolição de obras construídas em áreas de risco (zonas proibidas). Atenção: Conforme já informei, nem sempre os atos administrativos irão gozar de autoexecutoriedade e, para fins de concursos públicos, a multa (ato administrativo) é o exemplo mais cobrado em relação à ausência de autoexecutoriedade. Nesse caso, apesar de a aplicação da multa ser decorrente do atributo da imperatividade, se o particular não efetuar o seu pagamento a Administração somente poderá recebê-la se recorrer ao Poder Judiciário. Conforme nos informam os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, a única exceção ocorre na hipótese de multa administrativa aplicada por adimplemento irregular, pelo particular, de contrato administrativo em que tenha havido prestação de garantia. Nessa hipótese, a Administração pode executar diretamente a penalidade, independentemente do consentimento do contratado, subtraindo da garantia o valor da multa (Lei nº 8666/1993, artigo 80, inciso III). Por último, é necessário deixar bem claro que os atos praticados sob o amparo do atributo da autoexecutoriedade podem ser revistos pelo Poder Judiciário, sempre que provocado pelos interessados. Para tanto, basta que os interessados demonstrem que tais atos foram praticados de forma arbitrária, desproporcional, desarrazoada ou abusiva, por exemplo, para que o Poder Judiciário possa anulá-los retroativamente. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 17 4.4. Tipicidade Não existe consenso doutrinário sobre a possibilidade de incluir a tipicidade como um dos atributos do ato administrativo. Todavia, como a Fundação Carlos Chagas adora utilizar o livro da professora Maria Sylvia Zanella di Pietro como base para a elaboração de questões, é bom que o conheçamos. Segundo a ilustre professora, podemos entender a tipicidade como “o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados”. Como é possível observar, o princípio da tipicidade decorre da aplicação do princípio da legalidade. Segundo o entendimento da professora di Pietro, para cada finalidade que a administração pretende alcançar existe um ato definido em lei, logo, o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados. Resumidamente falando, a professora entende que, para cada finalidade que a Administração deseja alcançar, existe uma espécie distinta de ato administrativo e, portanto, é inadmissível que sejam editados atos administrativos inominados. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A tipicidade só existe com relação aos atos unilaterais; não existe nos contratos porque, com relação a eles, não há imposição de vontade da Administração, que depende sempre da aceitação do particular; nada impede que as partes convencionem um contrato inominado, desde que atenda melhor ao interesse público e particular (Maria Sylvia Zanella di Pietro). 5. ATOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS Nas palavras do professor Hely Lopes Meirelles, “atos vinculados ou regrados são aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização”, ao passo que “discricionários são os que a Administração pode praticar com liberdade de escolha de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência, de sua oportunidade e de seu modo de realização”. Em outro tópico da aula, afirmei que o ato administrativo possui cinco elementos ou requisitos básicos: competência, forma, finalidade, motivo e objeto. Sendo assim, sempre que a lei estabelecer e detalhar esses cinco elementos, não deixando margem para que o agente público possa defini-los no momento da edição do ato, este será vinculado. Lembre-se sempre de que no ato vinculado o agente público não possui alternativas ou opções no momento de editar o ato, pois a própria lei já definiu o único comportamento possível. Portanto, caso o agente público CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 18 desrespeite quaisquer dos requisitos ou elementos previstos pela lei, o ato deverá ser anulado pela Administração ou pelo Poder Judiciário. Exemplo: Suponhamos que determinada lei municipal estabeleça todos os requisitos que devem ser cumpridos pelo particular que tenha a intenção de construir um edifício. Nesse caso, se o particular apresentar toda a documentação necessária e cumprir todos os requisitos legais, a Administração não possui outra alternativa a não ser conceder a licença para o particular construir, por ser um direito subjetivo deste. Como a Administração não possuialternativas ou opções (conceder ou não a licença), já que a lei estabeleceu todos os requisitos necessários à edição do ato, este é denominado vinculado. Por outro lado, no ato discricionário a lei apenas estabelece e detalha os requisitos da competência, forma e finalidade, deixando ao critério da Administração decidir sobre o motivo e o objeto. Sendo assim, é válido ressaltar que os requisitos competência, forma e finalidade serão sempre vinculados (definidos em lei), independentemente de o ato ser discricionário ou vinculado. No ato discricionário a Administração possui alternativas ou opções, e, dentre elas, irá escolher a que seja mais oportuna e conveniente ao interesse público. Exemplo: Suponhamos que o servidor público federal “X” tenha procurado o Departamento de Recursos Humanos do órgão em que trabalha para solicitar o parcelamento do seu período de férias, pois deseja usufruir 15 dias em julho e 15 dias em janeiro. Pergunta: Nesse caso, poderá a Administração Pública recusar-se a deferir o pedido de parcelamento das férias efetuado pelo servidor? Sim. O § 3º do artigo 77 da lei 8.112/90 estabelece expressamente que “as férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde que assim requeridas pelo servidor e no interesse da administração pública”. Desse modo, como a Administração pode deferir, ou não, o pedido efetuado pelo servidor, o ato será discricionário. 6. Desfazimento dos atos administrativos Todo ato administrativo, após ter sido editado, deve necessariamente ser respeitado e cumprido, pois goza do atributo da presunção de legitimidade, que lhe assegura a produção de efeitos jurídicos até posterior manifestação da Administração Pública ou do Poder Judiciário em sentido contrário. Apesar disso, deve ficar claro que os atos administrativos não são eternos, já que podem ser desfeitos após a sua edição em virtude da constatação de ilegalidade (anulação), em razão de conveniência ou oportunidade da Administração (revogação) ou, simplesmente, em virtude de seu destinatário ter deixado de cumprir os requisitos previstos em lei (cassação). CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 19 6.1. Anulação Quando o ato administrativo é praticado em desacordo com o ordenamento jurídico vigente, é considerado ilegal. Assim, deve ser anulado pelo Poder Judiciário ou pela própria Administração, com efeitos retroativos. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Um ato ilegal (contrário ao ordenamento jurídico) deve ser sempre anulado, nunca revogado. Além disso, lembre-se ainda de que a anulação desse ato ilegal pode ser efetuada pelo Poder Judiciário (quando provocado) ou pela própria Administração (de ofício ou mediante provocação). Ademais, a anulação de um ato administrativo opera-se com efeitos retroativos (ex tunc), ou seja, o ato perde os seus efeitos desde o momento de sua edição (como se nunca tivesse existido), pois não origina direitos. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A anulação do ato administrativo é o desfazimento do ato administrativo por razões de ilegalidade (FCC/Analista Judiciário TRT 23ª Região/2011). Esse é o teor da súmula 473 do Supremo Tribunal Federal ao afirmar que a “Administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos”. Sendo assim, é necessário ficar bem claro que os atos ilegais não originam direitos para os seus destinatários. Entretanto, devem ser preservados os efeitos já produzidos em face de terceiros de boa-fé (que não têm nenhuma relação com o ato nulo). Exemplo: os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino citam o caso de um servidor cujo ingresso no serviço público decorre de um ato nulo (a nomeação ou a posse contém vício insanável). Imagine-se que esse servidor emita uma certidão negativa de tributos para João e, no dia seguinte, seja ele exonerado em decorrência da nulidade de seu vínculo com a Administração. Os efeitos dos atos praticados entre ele e a Administração devem ser desfeitos. Mas João, que obteve a certidão, é um terceiro, portanto, sua certidão é válida. Grave bem as informações abaixo sobre a anulação dos atos administrativos, pois, assim, você jamais errará uma questão da Fundação Carlos Chagas sobre o tema: 1ª) A anulação é consequência de uma ilegalidade, de um ato que foi editado contrariamente ao direito; 2ª) A anulação de um ato administrativo pode ser feita pelo Poder Judiciário, quando for provocado pelo interessado, ou pela própria CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 20 Administração, de ofício ou também mediante provocação do interessado; 3ª) A anulação possui efeitos retroativos (ex tunc) , ou seja, deixa de produzir efeitos jurídicos desde o momento de sua edição (como se nunca tivesse existido); 4ª) A anulação não desfaz os efeitos jurídicos já produzidos perante terceiros de boa-fé; 6.2. Revogação A revogação ocorre sempre que a Administração Pública decide retirar, parcial ou integramente do ordenamento jurídico, um ato administrativo válido, mas que deixou de atender ao interesse público em razão de não ser mais conveniente ou oportuno. Ao revogar um ato administrativo a Administração Pública está declarando que uma situação, até então oportuna e conveniente ao interesse público, não mais existe, o que justifica a extinção do ato. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Um ato ilegal jamais será revogado, mas sim anulado. Da mesma forma, se a questão de prova afirmar que um ato inconveniente ou inoportuno deve ser anulado, certamente estará incorreta, pois conveniência e oportunidade estão intimamente relacionadas com a revogação. A revogação de um ato administrativo é consequência direta do juízo de valor (mérito administrativo) emitido pela Administração Pública, que é a responsável por definir o que é bom ou ruim para coletividade, naquele momento. Assim, é vedado ao Poder Judiciário revogar ato administrativo editado pela Administração. Atenção: o Poder Judiciário, no exercício de suas funções atípicas, também pode editar atos administrativos (publicação de um edital de licitação, por exemplo). Sendo assim, caso interesse público superveniente justifique a revogação do edital licitatório em momento posterior, o próprio Poder Judiciário poderá fazê-lo. Neste caso, o edital estaria sendo revogado pelo próprio Poder Judiciário, pois ele foi o responsável pela edição do referido ato administrativo. O que não se admite é que o Poder Judiciário efetue a revogação de atos editados pela Administração Pública, pois estaria invadindo a seara do mérito administrativo. Nos mesmos moldes, quando o Poder Legislativo edita um ato administrativo no exercício de sua função atípica, também pode efetuar a sua revogação, sendo proibido ao Poder Judiciário manifestar-se em relação ao mérito desse ato. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 21 Ao contrário do que ocorre na anulação, que produz efeitos “ex tunc”, na revogação os efeitos serão sempre “ex nunc” (proativos). Isso significa dizer que a revogação somente produz efeitos prospectivos, ou seja, para frente, conservando-se todos os efeitos que já haviam sido produzidos. Exemplo: imagine que um determinado servidor público federal esteja em pleno gozo (no terceiro mês) de licença para tratar de interesses particulares, que foi deferida pela Administração pelo prazo de 02 anos (artigo 91 da Lei 8.112/90). Neste caso, mesmo restando ainda 21 (vinte e um) meses para o seu término, a Administração poderá revogá-la a qualquer momento, desde que presente o interesse público. Da mesma forma que agiu discricionariamente a Administração no momento de concessão de licença para tratar de assuntos particulares, nos termos do artigo 91 da Lei 8.112/90, será discricionária também a revogação da licença, caso assim justifique o interesse público. O ato de revogação possuirá efeitos “ex nunc” (para frente), ou seja, o servidor irá retornar ao trabalho somente após a edição do ato revocatório, sendo considerado como de efetivo gozo o período de três meses que usufruiu da licença. Pergunta: professor, o que preciso saber para não errar nenhuma questão de prova sobre revogação? Anote aí: 1º) Que a revogação é consequência da discricionariedade administrativa (conveniência e oportunidade); 2º) Que os atos inválidos ou ilegais jamais serão revogados, mas sim anulados; 3º) Que somente a Administração Pública pode revogar os seus próprio atos administrativos; 4º) Que a revogação produz efeitos ex nunc, enquanto na anulação os efeitos são ex tunc. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Distingue-se a anulação do ato administrativo da revogação do ato administrativo porque, dentre outros fundamentos, a anulação deve ser promovida em caso de vício de ilegalidade, enquanto a revogação pode se dar por critérios de oportunidade e conveniência (FCC/Auditor TCE RO/2010). Pergunta: professor Fabiano Pereira, é ilimitado o poder conferido à Administração para revogar os seus atos administrativos? Não! Existem alguns atos administrativos que não podem ser revogados, são eles: CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 22 1º) os atos já consumados, que exauriram seus efeitos: suponhamos que tenha sido editado um ato concessivo de férias a um servidor e que todo o período já tenha sido gozado. Ora, neste caso, não há como revogar o ato que concedeu férias ao servidor, pois todos os efeitos do ato já foram produzidos; 2º) os atos vinculados: se a lei é responsável pela definição de todos os requisitos do ato administrativo, não é possível que a Administração efetue a sua revogação com base na conveniência e oportunidade (condição necessária para a revogação); 3º) os atos que já geraram direitos adquiridos para os particulares: trata-se de garantia constitucional assegurada expressamente no inciso XXXVI do artigo 5º da CF/88; 4º) os atos que integram um procedimento, pois, neste caso, a cada ato praticado surge uma nova etapa, ocorrendo a preclusão de revogação da anterior. 5º) os denominados meros atos administrativos, pois, neste caso, os efeitos são estabelecidos diretamente na lei; Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Não podem ser revogados atos que exauriram os seus efeitos, pois a revogação supõe ato que ainda esteja produzindo efeitos, como ocorre na autorização para porte de armas (FCC/Analista Judiciário TRT 9ª Região/2010). 6.3. Cassação A cassação é o desfazimento de um ato válido em virtude do seu destinatário ter descumprido os requisitos necessários para a sua manutenção em vigor. Sendo assim, deve ficar bem claro que o particular, destinatário do ato, é o único responsável pela sua extinção. Exemplo: se a Administração concedeu uma licença para o particular construir um prédio de 03 (três) andares, mas este construiu um prédio com 05 (cinco) andares, desrespeitou os requisitos inicialmente estabelecidos e, portanto, o ato será cassado. 6.4. Outras formas de extinção do ato administrativo Além das hipóteses de desfazimento do ato administrativo estudadas até o momento, que dependem da manifestação expressa da Administração ou do Poder Judiciário, a doutrina majoritária ainda lista as seguintes: 1ª) extinção subjetiva: ocorre em virtude do desaparecimento do sujeito destinatário do ato. Por exemplo, se a Administração concedeu ao servidor uma licença para tratar de assuntos particulares, mas, durante o gozo da licença, ele faleceu, considera-se extinto o ato, por questões óbvias. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 23 2ª) extinção objetiva: ocorre em virtude do desaparecimento do próprio objeto do ato. Exemplo: se o particular possuía permissão para instalar uma banca de revista em uma praça, mas, posteriormente, a praça foi destruída para a construção de uma escola, o ato de permissão consequentemente será extinto. 3ª) extinção natural: ocorre após o transcurso normal do prazo inicialmente fixado para a produção dos efeitos do ato. Exemplo: se foi concedida licença-paternidade a um servidor, o ato será extinto naturalmente depois de 05 (cinco) dias (que é o prazo legal de gozo da licença). 4ª) caducidade: ocorre quando a edição de lei superveniente à edição do ato administrativo impede a continuidade de seus efeitos jurídicos. A professora Maria Sylvia Zanella di Pietro cita como exemplo o caso de um parque de diversões que possuía permissão para funcionar em uma região da cidade, mas que, em razão de nova lei de zoneamento, tornou-se incompatível. Neste caso, o ato anterior que permitia o funcionamento do parque naquela região (hoje proibida por lei) deverá ser extinto, pois ocorrerá a caducidade. 7. Convalidação de atos administrativos Segundo a professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, “convalidação é o ato administrativo através do qual é suprido o vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data em que este foi praticado”. Na verdade, a convalidação nada mais é que a “correção” do ato administrativo portador de defeito sanável de legalidade, com efeitos retroativos (ex tunc). Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: A convalidação consiste em instrumento de que se vale a Administração para aproveitar atos administrativos eivados de vícios sanáveis, confirmando-os no todo ou em parte (FCC/Outorga de Delegação TJ AP/2011) A lei 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal) estabelece expressamente que: Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração. Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 24 anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1º. No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2º. Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato. Inicialmente, é necessário esclarecer que a convalidação de um ato administrativo somente pode ocorrer em relação aos vícios sanáveis (aqueles encontrados nos requisitos “competência” e “forma”). Se o ato administrativo apresentar vícios insanáveis (a exemplo daqueles encontrados nos requisitos “finalidade”, “motivo” e “objeto”), deverá ser necessariamente anulado. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: (FCC/Assessor Jurídico TJ PI/2010) Apesar de não ser entendimento majoritário na doutrina, é importante destacar que o professor José dos Santos Carvalho Filho afirma que também é possível convalidar atos com vício no objeto ou conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo plúrimo. Nesse caso, como a vontade administrativa se preordena a mais de uma providencia administrativa no mesmo ato, é viável suprimir ou alterar alguma providência e aproveitar o ato quanto às demais, não atingidas por qualquer vício. Para responder às questões da Fundação Carlos Chagas: Em relação ao requisito “forma”, a convalidação é possível se ela não for essencial à validade do ato administrativo. O prazo que a Administração possui para anular os atos ilegais é de 05 (cinco) anos. Ultrapassado esse prazo, considera-se que o ato foi tacitamente (automaticamente) convalidado, salvo comprovada má-fé do beneficiário. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 25 SUPER R.V.P. 1. A Administração Pública edita dois tipos de atos jurídicos: a) atos que são regidos pelo Direito Público e, consequentemente, denominados de atos administrativos e b) atos regidos pelo Direito Privado; 2. Fique atento ao conceito de ato administrativo formulado pelo professor Hely Lopes Meirelles, pois ele é muito cobrado em questões de concursos: “ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria.” 3. São elementos ou requisitos do ato administrativo a competência, a finalidade, a forma, o motivo e o objeto. Os três primeiros são sempre vinculados e os dois últimos podem ser vinculados ou discricionários; 4. O motivo, que também é chamado de “causa”, é o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento para a edição do ato administrativo. O motivo se manifesta através de ações ou omissões dos agentes públicos, dos administrados ou, ainda, de necessidades da própria Administração, que justificam ou impõem a edição de um ato administrativo; 5º. Cuidado para não confundir as expressões “motivo” e “motivação”. O motivo pode ser entendido como o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento para a edição do ato administrativo. Por outro lado, a motivação nada mais é que exposição dos motivos, por escrito, no corpo do ato administrativo; 6. Segundo a teoria dos motivos determinantes, o motivo alegado pelo agente público no momento da edição do ato deve corresponder à realidade, tem que ser verdadeiro, pois, caso contrário, comprovando o interessado que o motivo informado não guarda qualquer relação com a edição do ato ou que simplesmente não existe, o ato deverá ser anulado pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário; 7. Não existe um consenso doutrinário sobre a quantidade de atributos inerentes aos atos administrativos, mas, para responder às questões de provas, lembre-se da presunção de legitimidade e veracidade, a imperatividade, a autoexecutoriedade e a tipicidade; 8. Todo e qualquer ato administrativo é presumivelmente legítimo, ou seja, considera-se editado em conformidade com a lei, alcançando todos os atos administrativos editados pela Administração, independentemente da espécie ou classificação; 9. A presunção de legitimidade será sempre juris tantum (relativa), pois é assegurado ao interessado recorrer à Administração, ou mesmo ao Poder Judiciário, para que não seja obrigado a submeter-se aos efeitos do ato, quando for manifestamente ilegal; CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 26 10. A imperatividade é o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente de sua concordância ou aquiescência. Ao contrário do que ocorre na presunção de legitimidade, que não necessita de previsão em lei, a imperatividade exige expressa autorização legal e não pode ser aplicada a todos os atos administrativos; 11. A autoexecutoriedade é o atributo que garante ao Poder Público a possibilidade de obrigar terceiros ao cumprimento dos atos administrativos editados, sem a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário; 12. Nem sempre os atos administrativos irão gozar de autoexecutoriedade e o exemplo mais comum em provas é o das multas. Nesse caso, apesar da aplicação de a multa ser decorrente do atributo da imperatividade, se o particular não efetuar o seu pagamento, a Administração somente poderá recebê-la se recorrer ao Poder Judiciário, não sendo possível gozar da autoexecutoriedade; 13. Não existe um consenso doutrinário sobre a possibilidade de incluir a tipicidade como um dos atributos do ato administrativo, mas, como as bancas examinadoras gostam muito de utilizar o livro da professora Maria Sylvia Zanella di Pietro como base para a elaboração de questões, é bom que você o conheça. Segundo a ilustre professora, podemos entender a tipicidade como “o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados”. 14. Para que você possa responder às questões de concursos públicos sem medo de ser feliz, lembre-se sempre de que um ato ilegal (contrário ao ordenamento jurídico) deve ser sempre anulado, nunca revogado. Além disso, lembre-se ainda de que a anulação desse ato ilegal pode ser efetuada pelo Poder Judiciário (quando provocado) ou pela própria Administração (de ofício ou mediante provocação); 15. A anulação de um ato administrativo opera-se com efeitos retroativos (ex tunc), ou seja, o ato perde os seus efeitos desde o momento de sua edição (como se nunca tivesse existido), pois não origina direitos; 16º) A revogação ocorre sempre que a Administração Pública decide retirar, parcial ou integramente do ordenamento jurídico, um ato administrativo válido e legal, mas que deixou de atender ao interesse público em razão de não ser mais conveniente ou oportuno. 17. O Poder Judiciário, no exercício de suas funções atípicas, também pode editar atos administrativos (publicação de um edital de licitação, por exemplo). Sendo assim, posteriormente, caso interesse público superveniente justifique a revogação do edital licitatório, o próprioPoder Judiciário poderá fazê-lo; 18. Ao contrário do que ocorre na anulação, que produz efeitos “ex tunc”, na revogação os efeitos serão sempre “ex nunc” (proativos). Isso significa dizer que a revogação somente produz efeitos prospectivos, ou seja, para frente, conservando-se todos os efeitos que já haviam sido produzidos; CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 27 19. Não podem ser revogados os atos já consumados, que exauriram seus efeitos; os atos vinculados; os atos que já geraram direitos adquiridos para os particulares; os atos que integram um procedimento e os denominados meros atos administrativos; 20. A cassação é o desfazimento de um ato válido em virtude do seu destinatário ter descumprido os requisitos necessários para a sua manutenção em vigor. Sendo assim, deve ficar bem claro que o particular, destinatário do ato, é o único responsável pela sua extinção; 21. A convalidação (correção) de um ato administrativo somente pode ocorrer em relação aos vícios sanáveis, pois, caso o ato apresente vícios insanáveis, deverá ser necessariamente anulado. 22. O vício de incompetência admite convalidação, que nesse caso recebe o nome de ratificação, desde que não se trate de competência outorgada com exclusividade; 23. Em relação ao requisito “forma”, a convalidação é possível se ela não for essencial à validade do ato administrativo; 25. O prazo que a Administração possui para anular os atos ilegais é de 05 (cinco) anos. Ultrapassado esse prazo, considera-se que o ato foi tacitamente (automaticamente) convalidado, salvo comprovada má-fé do beneficiário. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 28 QUESTÕES COMENTADAS - ATOS ADMINISTRATIVOS 01. (FCC/Analista Judiciário TRT 22ª Região/2010) No que diz respeito ao elemento motivo dos atos administrativos, é INCORRETO afirmar: a) O motivo, sempre está expresso na lei, não podendo ser deixado ao critério do administrador. b) No ato de punição do funcionário, o motivo é a infração que ele praticou. c) A ausência de motivo ou a indicação de motivo falso invalidam o ato administrativo. d) Motivação é a exposição ou indicação dos motivos, ou seja, demonstração por escrito dos fatos e fundamentos jurídicos do ato. e) Quando a Administração motiva o ato, mesmo que a lei não exija a motivação, ele só será válido se os motivos forem verdadeiros. Comentários a) Errado. Somente nos atos vinculados o requisito “motivo” estará expressamente previsto no texto legal. Nos atos discricionários, o elemento “motivo” fica a critério do agente público competente para editar o ato. b) Correto. Se determinado agente público não tivesse praticado infração funcional tipificada em lei, certamente não haveria motivo para editar o respectivo ato de punição. c) Correto. O professor Celso Antônio Bandeira de Mello, ao explicar a teoria dos motivos determinantes, afirma que “os motivos que determinam a vontade do agente, isto é, os fatos que serviram de suporte à sua decisão, integram a validade do ato. Sendo assim, a invocação de ´motivos de fato´ falsos, inexistentes ou incorretamente qualificados vicia o ato mesmo quando, conforme já se disse, a lei não haja estabelecido, antecipadamente, os motivos que ensejariam a prática do ato. Uma vez enunciados pelo agente os motivos em que se calçou, ainda quando a lei não haja expressamente imposto a obrigação de enunciá-los, o ato só será válido se estes realmente ocorreram e o justificavam”. d) Correto. Ao responder às questões da Fundação Carlos Chagas, tenha muita atenção para não confundir as expressões “motivo” e “motivação”, que possuem significados distintos. O motivo pode ser entendido como o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento para a edição do ato administrativo. Por outro lado, a motivação nada mais é que exposição dos motivos, por escrito, no corpo do ato administrativo. e) Correto. Trata-se de uma conseqüência da teoria dos motivos determinantes, muito cobrada em provas da Fundação Carlos Chagas. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 29 GABARITO: LETRA A. 02. (FCC/Analista Judiciário TRT 22ª Região/2010) O atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente de sua concordância, denomina-se a) imperatividade. b) presunção de legitimidade. c) autoexecutoriedade. d) exigibilidade. e) tipicidade. Comentários O professor José dos Santos Carvalho Filho afirma que a imperatividade, ou coercibilidade, “significa que os atos administrativos são cogentes, obrigando a todos quantos se encontrem em seu círculo de incidência (ainda que o objetivo a ser por ele alcançado contrarie interesses privados), na verdade, o único alvo da Administração Pública é o interesse público”. GABARITO: LETRA A. 03. (FCC/Técnico Judiciário TRT 8ª Região/2010) A competência administrativa, em regra, enquanto requisito do ato administrativo, a) decorre da lei. b) é prorrogável, pela vontade dos interessados. c) não pode ser avocada. d) é indelegável. e) é transferível. Comentários a) Correto. Tanto nos atos administrativos vinculados quanto nos atos administrativos discricionários, a competência sempre estará prevista expressamente no texto legal. b) Errado. O agente público não pode “prorrogar” a sua competência para praticar atos que, inicialmente, estavam fora da sua área de atuação. Se isso ocorrer, ficará caracterizado abuso de poder. c) Errado. O art. 15 da Lei 9.784/1999 dispõe que “será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior”. CURSO PREPARATÓRIO PARA O TRT/RJ – ANALISTA JUDICIÁRIO DIREITO ADMINISTRATIVO - PROF. FABIANO PEREIRA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Fabiano Pereira www.pontodosconcursos.com.br 30 d) Errado. Em regra, a competência legal pode ser delegada pelo agente ou órgão público, salvo se existir expressa vedação legal. e) Errado. A titularidade da competência fixada em lei não se transfere, ainda que se trate de delegação. Nesse caso, somente a execução de determinado ato fica sob a responsabilidade do agente delegado, pois o agente delegante pode incluir a ressalva de que também continuará editando o
Compartilhar