Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O MOVIMENTO ROMÂNTICO, O NEOGREGO E O NEOGÓTICO Unidade I O Movimento Romântico teve origem na Inglaterra, principalmente como manifestação literária; Na literatura, o Romantismo foi “a reação do sentimento contra a razão, da natureza contra o artificialismo, da simplicidade contra a ostentação, da fé contra o ceticismo”. HISTÓRICO Caspar Friedrich – “Wanderer above the sea of fog” (1818) Surgem, na poesia romântica, as figuras do “nobre selvagem”, do “nobre grego”, do “virtuoso romano” e do “piedoso cavalheiro medieval”. HISTÓRICO Daniel Maclise – “Udine” (1843) Edward Armitage – “Retribution” (1858) HISTÓRICO O súbito e descontrolado crescimento das cidades – e fábricas - verificado durante a Revolução Industrial provocou a destruição de áreas inteiras de antigas cidades, muitas delas de grande beleza. As pessoas que testemunharam tal perda, sensibilizadas pelo que vinha acontecendo, “se divorciaram de seu século e voltaram-se para um passado mais inspirador”. (N. Pevsner) HISTÓRICO Qualquer que seja seu objeto (arte, literatura, arquitetura), “a atitude romântica é de nostalgia, isto é, antagonismo ao presente, um presente que, para alguns, era principalmente a frivolidade rococó, para outros, o racionalismo sem imaginação, e para outros ainda, um feio industrialismo e comercialismo”. (R. Jordan) HISTÓRICO Ao lado disso, não podemos deixar de levar em conta que, neste momento, a maior clientela dos arquitetos vai ser justamente uma burguesia em ascensão – em grande parte ligada à indústria - que, além de não possuir uma educação erudita (sem falar na “falta de boas maneiras” sugerida por Pevsner...), era composta de “individualistas convictos”. HISTÓRICO Por conseguinte, quando um rico cliente, por qualquer motivo, gostasse de um determinado estilo arquitetônico, nada o impedia de realizar sua vontade e ter uma casa (ou fábrica, ou edifício de escritórios etc.) construído nesse estilo. HISTÓRICO Assim sendo, “infelizmente, para o futuro imediato da arquitetura”, inúmeros estilos possíveis haviam sido explorados – muitas vez só por diversão - por alguns admiradores “ociosos e sofisticados” do século XVIII, compondo verdadeiras “fantasias nostálgicas de um tempo e um espaço distantes”; Os ingleses, por exemplo, usam o termo “folly” para descrever algumas dessas “brincadeiras” arquitetônicas... Templo “arruinado” nos jardins do Castelo de Highclere (Inglaterra) HISTÓRICO “Ruínas góticas” (folly) em Hagley Park (1747), projeto de Sanderson Miller HISTÓRICO “Templo dórico” (folly) em Shugborough Park (1760), projeto de James Stuart “Nenhuma destas follies tinha qualquer mérito intrínseco; (...) transbordavam de sentimentalismo e de resto eram vãs. (...) tudo isto existia, por razões que talvez fossem válidas, mas que de certo eram mais literárias e românticas do que puramente de ordem arquitetônica”. (Jordan) HISTÓRICO Folly – Pagode chinês do Kew Gardens, em Londres (1762) projeto de Sir William Chambers HISTÓRICO Detalhes do parque do Chateau de Groussay (França) - 1815 Uma vez que o importante é a interpretação, “o mesmo tratamento é aplicável a todo tipo de forma do passado, (...) produzindo os respectivos revivals: o neogótico, e neobizantino, o neo-árabe, e assim por diante”; (Benevolo) Os autores ingleses chamam a este movimento, em sua forma mais ampla, de historicism (“historicismo”). HISTÓRICO “Iranistan”, casa do magnata americano P. T. Barnum (1848) HISTÓRICO Sezincote (S.P. Cockerell – 1809) HISTÓRICO Medical College of Virginia (EUA), construída em 1845 HISTÓRICO Palazzo della Assicurazioni Generali (Florença, 1871) É Importante registrar também que o movimento historicista, em países com uma marcante presença de antigas construções medievais (exemplo: França, Inglaterra, Alemanha) encontraria também fortes motivações ligadas ao sentimento de patriotismo e da busca pelas próprias raízes. HISTÓRICO O movimento historicista, contudo, apresenta algumas importantes contradições: 1. O conhecimento a respeito dos monumentos antigos acumulado após tantos anos de estudos permite que os arquitetos imitem um determinado estilo do passado com toda a fidelidade possível, garantindo assim uma certa “unidade de linguagem” arquitetônica. Contudo, nesse momento, os estilos disponíveis são tantos que, ao apresentaram-se “ao mesmo tempo na mente do arquiteto”, provocam uma descontinuidade total do conjunto das obras historicistas. HISTÓRICO 2. Como diz L. Benevolo, neste período “a margem de liberdade individual, num certo sentido, é reduzida a zero, e, em outro, aumentada desmesuradamente”. Ou seja, ao escolher fazer uso de um determinado estilo, “vale o critério da fidelidade histórica”; o arquiteto não possui uma margem muito grande para “assimilá-las a seu modo”, uma vez que os modelos a serem considerados são exemplos reais, amplamente reconhecidos pela experiência. Por outro lado, o projetista tem uma liberdade quase ilimitada, uma vez que pode escolher, dentre os inúmeros estilos disponíveis, aquele que irá usar. HISTÓRICO Contudo, ao forçar os arquitetos a adaptarem a linguagem de cada estilo - “até o ponto que foi possível” - às novas exigências construtivas e a estudar estes diferentes estilos de uma forma madura e objetiva, o historicismo também acabou refletindo “um caráter de abertura para o futuro”, que conduziria, mais tarde, ao movimento moderno. HISTÓRICO Bolsa de Amsterdam, projeto de H. P. Berlage (1903) O Movimento Romântico, portanto, surgiu quando esses diferentes estilos históricos passaram a ser dotados de “associações sentimentais”; Sir Joshua Reynolds (1786): “temos, naturalmente, uma veneração pela Antiguidade, e sempre que uma construção nos traz à lembrança costumes e modos de vida antigos, tais como os castelos de barões da antiga cavalaria, é certo que nos dá prazer”. HISTÓRICO Consequentemente, nas primeiras três décadas do século XIX, encontraremos “a mais alarmante situação social e estética na arquitetura”: os arquitetos acreditavam que qualquer coisa criada nos séculos anteriores à Revolução Industrial seria necessariamente melhor que qualquer obra que expressasse o caráter de sua própria era! HISTÓRICO Wray Castle (c.1840) Os clientes, por sua vez, agora também exigiam outras qualidades além das estéticas para aprovar um projeto; Neste caso, além de compreender as associações propostas pelos defensores do Movimento Romântico, os clientes também procuravam uma qualidade que eles, neste momento, já tinham condições de captar ou mesmo de conferir: a fidelidade da imitação. HISTÓRICO Wray Castle (c.1840) E graças ao aprimoramento dos métodos de conhecimento histórico (um dos fatos que caracterizou o século XIX), o “tratamento livre e fantasioso” dos estilos realmente desenvolveu-se na direção de uma “exatidão arqueológica”; HISTÓRICO Como diz Nikolaus Pevsner: o século XIX “é, de fato, o século do historicismo”, ou seja, “um “século doentio” em que arquitetos “se satisfizeram em ser contadores de histórias em vez de artistas”. Wray Castle (estufa) O ensino de arquitetura, por consequência, abandonou a teoria estética e concentrou-se na pesquisa histórica; Ou seja, os arquitetos procuravam munir- se de “um estoque bem sortido de detalhes históricos” para aplicar em seus projetos, sem tempo e/ou sem vontade de estudar a possibilidade de desenvolver um estilo próprio/original, que caracterizasse o século XIX. HISTÓRICO Luciano Patteta: “Pensemos na convicçãode que era possível escolher entre elementos extraídos das antiguidades, concentrar o melhor deles, iludindo-se de que esse “encontrar e aplicar” pudesse comparar-se às experiências criativas do passado, baseadas, ao invés, no “buscar ex novo e renovar sempre”.” HISTÓRICO Dessa forma, até mesmo arquitetos ilustres ou que tornaram-se conhecidos por sua preferência pelo estilo neoclássico, vez por outra, para atender a demandas de clientes, produziam obras no estilo gótico ou recriavam a “grandeza” dos castelos medievais. Sir John Sloane: Bank of England (1778-1833) Sir John Sloane: Galeria de Arte de Dulwich (1811) HISTÓRICO John Nash: Park Crescent John Nash: Cumberland Terrace HISTÓRICO John Nash: The Royal Pavillion em Brighton (1815-1818) HISTÓRICO John Nash: The Royal Pavillion em Brighton (1815-1818) HISTÓRICO John Nash: The Royal Pavillion em Brighton (1815-1818) HISTÓRICO John Nash: The Royal Pavillion em Brighton (1815-1818) HISTÓRICO HISTÓRICO Broadway Tower, construída em 1800 por Robert Adam The Grange, construído por Robert Adam em Hampshire (1804-1809) Resumindo: no começo do século XIX, o “baile de fantasias da arquitetura” vai estar em plena agitação: clássica, gótica, old-english etc.; Por volta de 1840, os álbuns de modelos para clientes e construtores incluíam vários outros estilos: Tudor, Renascença francesa, Renascença veneziana etc. HISTÓRICO Highcliffe Castle (1831-1836) Isso não quer dizer, contudo, que durante o século XIX todos esses estilos tenham sido utilizados (ou usados com a mesma frequência): as preferências normalmente variavam de acordo com a moda; Pevsner: “Um balanço da arquitetura entre 1820 e 1890 revela um ir e vir de estilos históricos”. HISTÓRICO Em certos casos, percebemos inclusive que alguns estilos associavam-se a determinadas funções (exemplo: prisões que assemelhavam-se a “castelos amuralhados”). HISTÓRICO Detalhe da “Old Prison” de Montana (EUA), de 1871 Allegheny Courthouse and Jail (Boston, EUA) Porém, enquanto os estilos disputavam a preferência de clientes e construtores, ninguém se dava conta de que “toda essa aplicação de detalhes permanecia na superfície”; (Pevsner) HISTÓRICO Ou seja, a arquitetura como atividade de projetar com o objetivo de atender a determinadas funções (isto é, pensada sob o seu aspecto funcional), permaneceu relegada a um segundo plano e também não suscitou maiores discussões. HISTÓRICO Não é de estranhar, portanto, que muita coisa construída nessa época acabou sofrendo grandes transformações ou até mesmo foi demolida, dando lugar a edificações mais funcionais e confortáveis, adaptadas aos “novos tempos”... Trentham Hall, demolido em 1912 Na verdade, o estilo gótico nunca desapareceu por completo, especialmente na Inglaterra; Temos exemplos que remontam aos últimos anos do reinado de Elizabeth I (Wollaton Hall, 1580) e também do reinado do rei Charles I (a biblioteca do St. John’s College, em Cambridge, 1624). NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Importantes arquitetos ingleses, tais como Sir Christopher Wren (1632-1723), recomendavam que em locais onde predominassem edifícios góticos, os novos projetos seguissem o mesmo estilo, uma vez que “desviar-se da velha forma poderia acarretar uma desagradável mistura que nenhuma pessoa de bom gosto poderia suportar”; Ao longo do século XVIII, conforme aponta L. Benevolo, as formas góticas acompanham, “com manifestações marginais, todo o ciclo do neoclassicismo” na Inglaterra. NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Destaque, no século XVIII, para as obras e ideias do arquiteto e dramaturgo Sir John Vanbrugh (1664-1726), a quem se deve “a penetração do gótico (...) na arquitetura residencial” inglesa, numa concepção curiosa que Pevnser denominou “gótico barroco”. Residência de campo de Vanbrugh em Blackheath (1717-1718), que imita um castelo medieval, incluindo uma torre arredondada. NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO O “Vanbrugh Castle” NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Para Vanbrugh, os antigos castelos medievais tinham um significado especial, o que o levou a defender veementemente a preservação das ruínas autênticas quando as encontrava, pois elas “provocavam reflexões vivas e agradáveis (...) sobre as pessoas que aí habitaram e sobre os memoráveis feitos que aí se realizaram” e também porque “com teixos e azevinhos da agreste vegetação” essas ruínas compunham “um dos mais agradáveis objetos que o melhor dos pintores de paisagens poderia criar”. NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Ruínas do castelo Dunluce (Irlanda) NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Ruínas do castelo Raglan (Gales, Inglaterra) NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Ao utilizar destes dois argumentos – o “associativo” e o “pitoresco” – Vanbrugh e seus contemporâneos do século XVIII criaram a base do ressurgimento romântico na arquitetura, no qual o estilo neogótico teria grande destaque. Fountains Abbey (Inglaterra) NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO Abadia de Whitby (Inglaterra) NEOGÓTICO: INTRODUÇÃO O NEOGÓTICO O ano de 1830, de acordo com Leonardo Benevolo, “assinala (...) o êxito do movimento neogótico na arquitetura”; A partir de 1840, o neogótico afirma-se como um “verdadeiro e próprio movimento”, com motivações precisas, reflexo do “gosto pelo exótico” do período; Porém, ao contrário do que ocorria em épocas passadas, o “novo” estilo (neogótico) não substituiu e nem se fundiu com o anterior (neoclássico), mas “permanecem um ao lado do outro como hipóteses parciais”. (Benevolo) Os “estilos medievais” associados ao espírito romântico, neste momento, são apreciados não como “um novo sistema de regras” que substituam as normas clássicas, mas sim como uma expressão do “predomínio do sentimento sobre a razão”. O NEOGÓTICO Castelo de Drachenburg (Alemanha – década de 1880) Na França, o estilo gótico é elogiado em diferentes obras literárias: a Encyclopédie moderne de 1824 louva o gótico, descrevendo-o como “o delírio de uma imaginação ardente que parece ter transformado sonhos em realidade”; em 1831, Victor Hugo lança o romance Notre- Dame de Paris, no qual exalta a arquitetura medieval e critica os monumentos clássicos etc. O NEOGÓTICO Outro importante fator que ajuda a explicar a popularização do neogótico na França foram as intervenções de restauro dos edifícios medievais que começam no período de Napoleão Bonaparte e que se tornam cada vez mais frequentes com o passar dos anos. O NEOGÓTICO Detalhe: durante a Revolução Francesa, vários prédios históricos são depredados pela população. A Bastilha, por exemplo, foi inteiramente demolida. Nesses trabalhos de restauração, os projetistas são forçados a analisar em profundidade a relação entre as antigas formas medievais e os problemas contemporâneos de construção; E assim, com base na experiência adquirida nessas obras, os arquitetos irão aplicar seus conhecimentos em novas edificações dos mais variados tipos e usos (dentro do estilo neogótico). O NEOGÓTICO Palais des Papes (Avignon, séc. XIII), avariado, saqueado e usado como prisão durante a Revolução Francesa. Encontra- se em processo de restauro desde o período napoleônico. Exemplos: em 1813, Napoleão manda restaurar o interior da Basílica de Saint-Denis para introduzir ali o túmulo de sua família; o mesmo arquiteto de Saint-Denis, J. A. Alavoine (1777-1834) restaura a Catedral de Sens (em 1817) e depois a Catedral de Rouen (em 1822). O NEOGÓTICO Necrópole Real em Saint-Denis Em 1845, têm início os trabalhosde restauro da célebre Catedral de Notre-Dame de Paris, projeto de Jean Baptiste Lassus e Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc. Desenho de Viollet-le-Duc retratando o saque e a destruição da sacristia de Notre Dame durante os conflitos políticos de 1831 O NEOGÓTICO Ao mesmo tempo, acadêmicos e autoridades começam a demonstrar preocupação com a conservação dos monumentos medievais que, após a Revolução Francesa, foram expropriados e entregues a particulares (que faziam deles o que bem entendiam); Por consequência, são criados órgãos como a Société Française d’Archéologie (em 1834) e a Comission des Monuments Historiques (em 1837) para zelar por esse rico e belo patrimônio. O NEOGÓTICO Cidade de Carcassone (século XIII), restaurada por Viollet-le-Duc (1852-1879) O NEOGÓTICO Cidade de Carcassone (França) O NEOGÓTICO Cidade de Carcassone (França) O NEOGÓTICO Consequentemente, após 1830 na França, testemunhamos a construção em estilo gótico de inúmeras casas particulares e edifícios religiosos (às vezes por exigência do próprio clero); Exemplo: só na década de 1850 foram construídas quase 100 igrejas neogóticas na França! O NEOGÓTICO Basílica de Sainte-Clotilde, em Paris (1827-1857) O NEOGÓTICO Eglise de Saint-Ambroise (1863-1868) Eglise Saint-Bernard de la Chapelle (1858-1862) Em função dessa “preferência”, surge também toda uma indústria de artigos sacros em estilo gótico: em 1840 é fundada a Societé catholique pour la fabrication (...) de tous les objets consacrés au culte catholique. Essa organização (e várias iguais a ela) inundam o mundo com uma infinidade de candelabros, estátuas, cálices etc.; Por sinal, os defensores do neogótico tiveram que defender o estilo contra o mau gosto de muitas dessas peças... O NEOGÓTICO Na Inglaterra, também verificamos o restauro de inúmeros edifícios medievais, todos mantendo o mesmo estilo (gótico): St. John’s College (em 1825), o castelo de Windsor (em 1826) etc. O NEOGÓTICO St. John’s College, em Cambridge, projeto de Sir George Gilbert Scott O NEOGÓTICO Capela do Castelo de Windsor Quando um incêndio destrói o antigo palácio de Westminster (sede do parlamento inglês) em 1834, um concurso é lançado para a sua reconstrução, com a condição expressa de que o projeto fosse feito “em estilo gótico ou elisabetano”. A proposta vencedora foi a do arquiteto Charles Barry (1795-1860). O NEOGÓTICO O NEOGÓTICO Westminster Palace (sede do Parlamento inglês) O NEOGÓTICO Westminster Palace (sede do Parlamento inglês) Porém, coube ao historiador, escritor e político Horace Walpole (1717-1797) o mérito de ter estabelecido o estilo gótico nas casas de campo inglesas; A sua villa de Strawberry Hill, “encantadora e excêntrica”, construída perto de Londres entre 1749 e 1776, tornou-se famosa entre os admiradores e arquitetos neogóticos em toda a Europa. O NEOGÓTICO Strawberry Hill O NEOGÓTICO Strawberry Hill O NEOGÓTICO Strawberry Hill (detalhes) Em Strawberry Hill, o cuidado com os detalhes era muito grande: Walpole insistia para que os interiores fossem o mais “corretos” possíveis, copiando, por exemplo, modelos de painéis murais e lareiras de gravuras ou mesmo de antigas construções medievais remanescentes. O NEOGÓTICO O NEOGÓTICO Strawberry Hill (Biblioteca) O NEOGÓTICO Strawberry Hill (detalhes) Destaque em Strawberry Hill para a “graciosa” galeria interior cujas abóbadas em leque e rendilhados dourados têm espelhos colocados como se fossem painéis. O NEOGÓTICO Strawberry Hill O NEOGÓTICO Strawberry Hill O NEOGÓTICO Resultado da mais recente intervenção de restauro (2012) em Strawberry Hill O NEOGÓTICO Quadro de Strawberry Hill (c.1755) por Johann Heinrich Muntz (1727-1798) A influência dos estilos medievais – com ênfase clara no neogótico - é percebida até mesmo nos projetos daqueles arquitetos ingleses “palladianos” (os que mais defendiam o estilo neoclássico na Inglaterra)! O NEOGÓTICO Castelo de Dalquharran (Escócia), projeto de reconstrução de Robert Adam (1790) Castelo de Culzean (Escócia), projeto de reconstrução de Robert Adam (1771); jardins e terraços projetados no século XIX O NEOGÓTICO Outro marcante exemplo do retorno das formas góticas às construções inglesas foi a casa de campo Fonthill Abbey, construída por James Wyatt (1746-1813) para o rico escritor William Beckford a partir de 1796. O NEOGÓTICO Fonthill Abbey Pevsner: “Aqui, a excentricidade de um milionário parece haver criado algo verdadeiramente romântico.” O NEOGÓTICO O NEOGÓTICO Fonthill Abbey hoje (após três desabamentos sucessivos da torre principal) Por volta de 1835, o arquiteto e escritor Augustus Welby Pugin (1812-1852) estabeleceu definitivamente a associação entre o cristianismo e o estilo gótico na Inglaterra e transferiu esta relação para a teoria e a prática arquitetônicas inglesas; A partir dele, construir segundo as formas da Idade Média era “um dever moral”. O NEOGÓTICO De acordo com Pugin, “uma vez que o arquiteto medieval era um trabalhador honesto e cristão fervoroso”, e que sua arquitetura era considerada uma “boa arquitetura”, um bom arquiteto contemporâneo consequentemente necessitaria ser também “um honesto trabalhador e bom cristão”. O NEOGÓTICO Vitral desenhado por Augustus Pugin O NEOGÓTICO Pugin: St. Alban’s Church (Macclesfield, 1838) Pugin: St. Chad’s Cathedral (Manchester, 1839-1841) O NEOGÓTICO Pugin: St. Barnabas Church (Nottingham, 1841-1844) Pugin: Church of Our Lady and St. Wilfred (1840-1841) Na Alemanha, o estilo neogótico também vai ser bastante difundido, especialmente após o início das obras para o término da Catedral de Colônia (em estilo gótico) em 1840; A catedral só foi concluída, de fato, em 1880. O NEOGÓTICO Catedral de Colônia (início em 1248) O NEOGÓTICO Prefeitura de Munique na Marienplatz (início em 1867) O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein do rei Ludwig II da Baviera (1869-1884) O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein (salão de música) O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein (sala de jantar) O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein (quarto de dormir) O NEOGÓTICO Castelo Neuschwanstein (quarto de dormir) A difusão do estilo neogótico, porém, não ocorre sem controvérsias; Na França, a École des Beaux-Arts, por exemplo, chega a proibir o estudo do gótico; Na Inglaterra, os neogóticos são chamados de “papistas” e “obscurantistas”. O NEOGÓTICO Em 1846, a Academia Francesa, apesar de aceitar a admiração histórica do estilo gótico e de reconhecer a necessidade de preservar seus monumentos, lança um manifesto condenando a imitação dos estilos medievais como uma atitude “arbitrária e artificiosa”: “será possível retroceder quatro séculos e dar como expressão monumental a uma sociedade que possui suas necessidades, seus costumes, seus hábitos próprios, uma arquitetura nascida da necessidade, costumes, hábitos da sociedade do século XII?”. O NEOGÓTICO Para a Academia, somente um “capricho” ou um “divertimento” poderia justificar a construção de uma igreja ou de um castelo gótico em pleno século XIX; Ela ainda afirma que um verdadeiro cristão, diante de um daqueles “plágios” góticos, jamais sentiria a mesma “comoção” provocada por um templo religioso gótico autêntico.O NEOGÓTICO Votivkirche Wien (1856-1879) Além disso, para a Academia, estava claro que o valor estético das edificações projetadas pelos neoclássicos era superior ao das construções neogóticas (afirmação com a qual o próprio Pevsner concorda...). O NEOGÓTICO Agências do Banque de France Em resposta a estas colocações, os principais defensores do neogótico, tais como Eugène E. Viollet-le-Duc e Jean- Baptiste Lassus, observam que a alternativa proposta pela Academia, ou seja, a linguagem clássica, também era um produto da imitação; E mais: que o estilo clássico, além de adotar modelos ainda mais antigos que o gótico, havia sido criado para um clima bastante diferente do clima francês e inglês, por exemplo. O NEOGÓTICO E. E. Viollet-le-Duc (1814-1879) Fugindo do discurso “romântico” ou sentimental, Viollet-le-Duc argumentou ainda que o estilo gótico nada tinha de “confuso ou misterioso”; pelo contrário: ele era apreciado “exatamente pela clareza do sistema de construção, pela economia das soluções, pela correspondência precisa entre os programas de distribuição”. Ou seja, por sua racionalidade. (Benevolo) O NEOGÓTICO Viollet-le-Duc, além disso, também fora um dos defensores do uso do ferro nas construções – desde que fosse usado “segundo suas características peculiares, e não como substituto dos materiais tradicionais” – e procurou usar este material em seus projetos de uma forma bastante inovadora (apesar da visível influência gótica de seu traçado). O NEOGÓTICO Dessa forma, ao associar o movimento neogótico com o racionalismo, Viollet-le-Duc provocou uma importante “reviravolta” neste movimento: ele estimulou não apenas um “salutar reexame” da herança artística do passado, como também uma análise menos preconceituosa dos processos construtivos “modernos”; O NEOGÓTICO E de fato, os livros publicados por Viollet-le-Duc tiveram grande influência na formação da geração seguinte de arquitetos, geração da qual, por exemplo, surgiram os “mestres” da Art Nouveau. E, por fim, outro importante argumento dos defensores do estilo neogótico: ao contrário da arquitetura clássica, o gótico, especialmente na França, Alemanha e Inglaterra, representava uma autêntica “arte nacional”; John Ruskin (Inglaterra): “Não tenho dúvidas de que o único estilo adequado às obras modernas nos países do norte seja o gótico setentrional do século XIII”. O NEOGÓTICO Basílica de Sainte-Clotilde (1827-1857) No final, os argumentos dos adeptos do gótico prevaleceram e tiveram, curiosamente, “um efeito mais benéfico sobre a arte e a arquitetura”, na medida em que os debates contribuíram para a renovação da cultura arquitetônica do período. O NEOGÓTICO Esclarecendo: a linguagem neogótica, muito mais recente do que a neoclássica (i.e., sem possuir uma tradição O NEOGÓTICO Ou seja, os arquitetos tiveram que “reconstruir” os princípios, razões e motivos que justificavam a adoção do neogótico em seus projetos (ao invés da aceitação tácita das formas clássicas que já estavam sendo usadas há bastante tempo). própria), exigiu dos arquitetos uma pesquisa mais elaborada de seus modelos; Museu de História Natural de Oxford (1855-1861) Porém, ao desenvolverem este trabalho, os arquitetos viram-se obrigados a refletir também sobre “as condições de partida da arquitetura e sobre as relações entre esta e as estruturas políticas, sociais e morais” de sua própria época. (Benevolo) O NEOGÓTICO O resultado prático dessa “releitura” dos antigos monumentos medievais é que “os edifícios neogóticos diferem dos góticos mais do que os neoclássicos dos clássicos”. O NEOGÓTICO Luciano Patteta: “...cada cópia, cada réplica de um monumento antigo (...) feita pelos arquitetos, estava distante do original, era algo completamente diferente do modelo, a tal ponto que se tornou, nitidamente, um protótipo do século XIX; apesar do grande cuidado no levantamento (ou exatamente por isso, talvez), no querer “retificar”, anular as irregularidades, corrigir os presumíveis erros, os arquitetos historicistas produziram sempre “simulacros” (traíram o modelo pela excessiva fidelidade!)”. O NEOGÓTICO Porém, enquanto de um lado havia o fato de que “a nova linguagem inspirada pelos estilos medievais”, conforme apontamos, não possuía um contato próximo e/ou recente com a técnica construtiva contemporânea, vivia-se, em paralelo, um período em que a “persistência das formas clássicas” não conseguia mais sustentar-se sem passar também por uma análise crítica; De fato, o “acordo tácito” existente entre a engenharia e o classicismo (que discutimos na aula sobre o movimento neoclássico) começava gradativamente a perder a sua força. (Benevolo) O NEOGÓTICO A partir desse momento, começa-se então a considerar o estilo como um mero revestimento decorativo “a ser aplicado de acordo com a oportunidade” às diferentes construções; E assim, na medida em que os estilos arquitetônicos dissociam-se cada vez mais dos novos métodos construtivos, “os caminhos do arquiteto e do engenheiro cada vez mais se afastam”. (Benevolo) O NEOGÓTICO L. Benevolo: “Por isso, o medievalismo assinala, por um lado, um maior isolamento dos artistas e é o produto de uma elite de inspiração literária, mas é, ao mesmo tempo, o terreno da cultura de onde sairão algumas das contribuições mais importantes do movimento moderno”. O NEOGÓTICO Bolsa de Amsterdam, projeto de H. P. Berlage (1903) O NEOGREGO Quanto ao revival clássico, os anos de 1820- 1840 caracterizam-se pelo “mais correto” estilo neogrego (ou seja, o momento em que a “fantasia deixou de ser utilizada no tratamento da Antiguidade” pela arquitetura); (Pevsner) Os resultados são “eficientes” e, nas mãos dos melhores arquitetos, de uma “dignidade nobre”; (Pevsner) Para alguns historiadores, o neogrego representa justamente a fase final do movimento neoclássico. O NEOGREGO Na Inglaterra, destaque para os arquitetos Sir Robert Smirke (1780-1867) e William Wilkins (1778-1839). Sir Robert Smirke William Wilkins O NEOGREGO Sir Robert Smirke: British Museum (1823-1853) O NEOGREGO Sir Robert Smirke: Teatro do Covent Garden (1827-1828) O NEOGREGO William Wilkins: Downing College em Cambridge O NEOGREGO William Wilkins: University College em Londres O NEOGREGO William Wilkins: National Gallery em Londres O NEOGREGO Saint Pancras Church (1819-1822), projeto dos irmãos William e Henry Inwood O NEOGREGO Saint Pancras Church (1819-1822) Em meados do século XIX, na Escócia, destaque para as “experiências de inspiração ateniense” do arquiteto Thomas Hamilton (1785-1858). O NEOGREGO Royal High School (Edinburgo) (1825-1829) O NEOGREGO Royal High School (Edinburgo, Escócia) – após ficar 40 anos fechado, será transformado em um hotel O NEOGREGO Royal High School (T. Hamilton) O NEOGREGO Royal High School O NEOGREGO The National Monument, situado no morro (Calton Hill) logo atrás da Royal High School, projeto de Charles Cockerell (1826) No continente europeu, o arquiteto “mais sensível, o maior e mais original representante” do estilo neogrego, é o prussiano Karl Friedrich Schinkel (1781- 1841). (Pevsner) O NEOGREGO Templo de Vesta (gravura de 1818) Schinkel, um “geômetra puro” nas palavras de R. Jordan, constantemente subordinava os elementos estilísticos, tais como as ordens clássicas, às suas concepções dominantes; O seu primeiro grande trabalho foi a Schauspielhaus (1819-1821), de Berlim,“cujos corpos enormes, próprios de uma sala de espetáculos, diminuíam a impressão de unidade”. O NEOGREGO O NEOGREGO Schauspielhaus (Berlin) O NEOGREGO Schauspielhaus (Berlin) O NEOGREGO Schauspielhaus (Berlin) Porém, foi no Altes Museum (1824-1828), também em Berlim, que Schinkel conseguiu “expressar o seu gênio e o seu purismo” numa colunata jônica “admiravelmente simples” que acompanha toda a fachada; Nas galerias de pintura e nas salas de esculturas deste museu, Schinkel antecipou a iluminação é as técnicas de exposição adotadas hoje pelos grandes museus modernos. O NEOGREGO O NEOGREGO Altes Museum (Berlim) O NEOGREGO Altes Museum (Berlim) O NEOGREGO Altes Museum (Berlim) O NEOGREGO Altes Museum (Berlim) O NEOGREGO Ainda na Alemanha, outro arquiteto que destacou-se no estilo neogrego foi Leo von Klenze (1784-1864), que teve maior atuação em Munique. Propylaen (portão) em Munique O NEOGREGO Propylaen (portão) em Munique O NEOGREGO Walhalla (1830-1842), de von Klenze, templo dedicado aos grandes personagens históricos da Alemanha O NEOGREGO Glypthotek (1830), de von Klenze, em Munique, museu de esculturas de Ludwig I A partir de agora, com o ressurgimento do grego, a América do Norte também passa a figurar do panorama da arquitetura ocidental; Nos EUA, o estilo neogótico é uma demonstração da estreita dependência dos modelos europeus que ainda se fazia presente na cultura americana; Porém, veremos que a partir deste ponto, a arquitetura americana irá adquirir algumas características próprias (nacionais), como por exemplo o grande avanço das técnicas construtivas, melhores instalações sanitárias e a evolução de uma série de equipamentos usados nas construções. O NEOGREGO Do ponto de vista ideológico, a adoção do estilo grego nos EUA testemunha a força do “humanismo liberal das classes cultas do início do século XIX”, o mesmo espírito que deu origem aos primeiros museus públicos, às galerias de arte, aos teatros nacionais e que reorganizou e ampliou o sistema educacional; O NEOGREGO Na América do Norte, o arquiteto William Strickland (1788-1854) pode ser considerado o maior expoente do neogrego; como diz Benevelo, um “equivalente” no Novo Mundo do alemão Karl F. Schinckel. Filho de carpinteiro, Strickland trabalhou inicialmente por dois anos como aprendiz do arquiteto Benjamin Latrobe (autor do projeto do Bank of Pennsylvania, construído entre 1798 e 1801). O NEOGREGO Em 1815, o seu projeto para o Second Bank foi aprovado, tornando-se um dos primeiros edifícios no estilo neogrego em solo americano e alavancando a carreira de Strickland como arquiteto. O NEOGREGO Second Bank of the EUA (1816-1824), na Filadélfia O NEOGREGO Musical Fund Society Hall (1824), na Filadélfia – projeto de remodelação de uma igreja elaborado por Strickland O NEOGREGO U.S. Naval Asylum (1826-1829), na Filadélfia O NEOGREGO Merchant’s Exchange (1832-1834) na Filadélfia O NEOGREGO Capitólio do Estado do Tenessee (1845-1847) REFERÊNCIAS: BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994. FABRIS, Annateresa. Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: EDUSP, 1987. GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004. JORDAN, Robert Furneaux. História da Arquitetura no Ocidente. São Paulo: Editorial Verbo, 1985. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Compartilhar