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Apostila Direito Penal 02 (2 semestre)

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DIREITO PENAL1
Cap.2 DAAPLICAÇÃO DA LEI PENAL TEMPO DO CRIME. LUGAR DO CRIME. CONTAGEM DO PRAZO. FATO TIPICO. DO CRIME. CONCEITOS. ELEMENTOSDOCRIME.FATOTÍPICO/CONDUTA-RESULTADO/NEXO CAUSAL/TIPICIDADE.
 
PRINCIPIO DA LEGALIDADE. 
	
	Esse princípio consagrado no artigo 1º do CP encontra-se atualmente descrito também no artigo 5º da CF, a saber: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem previa cominação legal” 
	A doutrina subdivide o principio da Legalidade em: 
A) Principio da Anterioridade, segundo o qual uma pessoa só pode ser punida se, à época do fato por ela praticado, já estava em vigor lei que descrevia o delito. É a irretroatividade da norma penal, salvo a exceção do artigo 2º do CP; 
B) Principio da Reserva Legal, ou seja, apenas a Lei em sentido formal pode descrever condutas criminosas. É proibido ao legislador utilizar-se de decretos, medidas provisórias ou outras formas legislativas para incriminar condutas.
	Somente haverá crime quando existir perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal. 
	As normas penas incriminadoras não são proibitivas, mas descritivas. 
 Portanto, quem pratica um crime não age contra a lei, mas de acordo com esta, pois os delitos encontram-se detalhadamente descritos em modelos legais, chamados “tipos penais”. 
 Cabe a lei a tarefa de definir e não proibir o crime, acarretando a qualquer pessoa o prévio e integral conhecimento das conseqüências penais da pratica de uma infração penal, impedindo qualquer invasão arbitraria em seu direito de liberdade. 
	Só há crime quando presente a exata correspondência entre o fato e a descrição legal, torna-se impossível sua existência sem lei que o descreva. 
	Conforme já mencionado, são princípios inerentes ao da Legalidade, a reserva legal e anterioridade da lei penal.
	O principio da Reserva Legal explica que somente a Lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades. 
 Nenhuma outra fonte subalterna pode gerar a norma penal, uma vez que a reserva da lei proposta pela Constituição é absoluta. 
 Medida provisória não é lei, porque não nasce no Poder Legislativo. 
 Tem força de lei, mas não é fruto de representação popular. Por essa razão, não pode, dispor sobre matéria penal, criar crimes e cominar penas. 
 Nesse sentido, o artigo 62 § 1º, I, b da Constituição o qual criou uma vedação material explicita, ao estatuir ser vedado a edição de medida provisória sobre matérias de direito penal e processo penal. 
 Questão controvertida é a possibilidade de medida provisória que trate de matéria penal em beneficio do agente.
 Este professor adota a posição de que há vedação expressa nesse sentido, e a medida provisória jamais se convalidará.
	No que se refere às leis delegadas, aquelas elaboradas pelo Presidente da República, mediante previa solicitação ao Congresso Nacional, não poderá elas veicular matéria penal, uma vez que a Constituição dispõe que não será objeto de delegação a matéria relativa a direitos individuais.
	A lei penal deve ser precisa, deve descrever a conduta criminosa com todos os seus elementos e circunstâncias, uma vez que, um fato só será considerado criminoso se houver plena correspondência entre ele e a norma que o descreve. 
 Portanto a conduta criminosa deverá ser descrita de forma detalhada e especifica, não comportando tipos genéricos, demasiadamente abrangentes. 
 De nada adiantaria exigir previa descrição legal da conduta na lei se fosse permitida a utilização de termos amplos, como, por exemplo: “qualquer conduta contraria aos interesses da comunidade”.
	No entanto, há algumas exceções. 
 A proibição de cláusulas gerais não alcança os crimes culposos, porque neles, por mais atento que possa ser o legislador, não há condições de pormenorizar todas as condutas humanas culposas que são causadoras do tipo penal. 
 Nos crimes culposos as previsões típicas são todas genéricas, limitando-se o legislador a prever: “se o crime é culposo, pena de tanto a tanto”. São os denominados tipos “abertos” admitidos por absoluta necessidade fática.
	Por fim cabe lembrar que no Estado Democrático de Direito, o simples respeito formal ao principio da legalidade não é suficiente. O que se quer é um conceito material de crime, segundo o qual somente possam ser consideradas pelo legislador como crimes, as condutas que efetivamente coloquem em risco a existência da coletividade. 
 Como explica o Professor Fernando Capez: “Suponhamos, por exemplo, fosse criado um tipo penal definindo como criminoso o ato de sorrir, nos seguintes moldes: “sorrir abertamente, em momentos de alegria, nervosismo ou felicidade – pena de seis meses a um ano de detenção”. Formalmente estariam preenchidas as garantias do principio da reserva legal, mas, seria um tipo manifestamente inconstitucional, porque materialmente a conduta incriminada não representa qualquer ameaça à sociedade.
	Já o principio da anterioridade da lei penal refere-se ao fato de que é necessário que a lei já esteja em vigor na data em que o fato é praticado. Um dos efeitos decorrentes da anterioridade da lei penal é a irretroatividade pela qual a lei penal é editada para o futuro e não para o passado. 
	As chamadas “normas penais em branco” não ferem o principio da reserva legal. 
 Normas penais em branco são aquelas que exigem complementação por outras normas, de igual nível (leis) ou de nível diverso (decretos, regulamentos). 
 No complemento de igual nível existe a chamada “norma penal em branco em sentido amplo”. Exemplo, o artigo 237 pune quem contrai casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta. Esses impedimentos estão previstos no artigo 1521, I a VII do novo Código Civil. 
	No complemento de nível diverso, existe “a norma penal em branco em sentido estrito”. Exemplo, o crime de trafico de drogas, previsto no artigo 33 da Lei 11.343/06, não esclarece o que se considera substância entorpecente, esclarecimento este que é feito por Portaria de um Departamento do Ministério da Saúde. 
 Não há violação ao principio da Reserva Legal, pois o tipo penal está descrito em Lei, apenas o complemento não.
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL BENÉFICA (artigo 2º do CP) 
	O artigo 2º do CP determina que “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. 
 A Constituição da República, em seu artigo 5º, XL, estabelece que a lei penal só retroagirá para beneficiar o acusado. 
	Assim, se uma pessoa comete um delito na vigência de determinada lei e, posteriormente, surge outra lei que deixa de considerar o fato como crime, deve-se considerar como se essa nova lei já estivesse em vigor na data do delito (retroatividade) e, dessa forma, não poderá o autor do crime ser punido. 
 O dispositivo vai mais além, quando determina que, mesmo já tendo havido condenação transitada em julgado em razão do crime, cessará a execução, ficando também afastados os efeitos penais da condenação. 
 Assim sendo, se no futuro o sujeito vier a cometer novo crime, não será considerado reincidente. 
	Já o parágrafo único do artigo 2º do CP dispõe que a lei posterior, que de qualquer modo favoreça o réu, aplica-se a fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 Neste caso, a lei posterior continua a considerar o fato como criminoso, mas traz algum beneficio ao réu, como, por exemplo, pena menor, facilidade para obtenção de livramento condicional. 
	Portanto, pela combinação dos artigos 1º e 2º do CP, podemos afirmar duas conclusões: 
A) a norma penal, em regra, não pode atingir fatos passados. Não pode retroagir; 
B) a norma penal mais benéfica, entretanto, retroage para atingir fatos passados. 
	Em relação à normapenal em branco, e as regras acima ditas, quando ocorre alteração no complemento, existem duas regras básicas: 
A) Quando o complemento da norma penal em branco também for lei, a sua alteração benéfica retroagirá. Por exemplo, no crime de contrair matrimonio conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta (artigo 237) o complemento está no artigo 1521, I a VII, do novo Código Civil. Caso haja alteração no Código Civil, de forma a se excluir uma das hipóteses de impedimento, aquele que se casou na vigência da lei anterior infringindo esse impedimento será beneficiado. 
B) Quando o complemento for norma infra-legal, não retroagirá, salvo se alterar a própria figura do Direito Penal. Por exemplo, o crime previsto no artigo 2º da Lei 1.521/51 (Crime contra a Economia Popular), que consiste na venda de produto acima do preço constante nas tabelas oficiais, a alteração posterior dos valores destas não exclui o crime; no crime de falsificação de moeda, aquele que falsificou cruzeiro não deixa de responder pelo delito por ter o Governo Federal alterado à moeda para o Real. Não houve alteração quanto ao objeto abstrato da proteção penal.
	No caso de norma complementar, editada em razão de situação temporária ou excepcional, caso sobrevenha novo complemento benéfico, este não retroagirá, nos termos do artigo 3º do CP.
	Já no trafico de drogas, entretanto, caso ocorra exclusão de determinada substância do rol dos entorpecentes constantes na Portaria da ANVISA, haverá retroatividade, deixando de haver trafico de drogas, pois nesse caso, a alteração foi da própria figura abstrata do tipo penal.
	Por fim, ressalto que a Lei Processual não se submete ao principio da retroatividade em beneficio do agente. 
 Nos termos do artigo 2º do CPP, a norma de caráter processual terá incidência imediata todos os processos em andamento, pouco importando se o crime foi cometido antes ou após sua entrada em vigor ou se a inovação é ou não mais benéfica. 
 Importa apenas que o processo esteja em andamento, caso em que a regra será aplicada, ainda que o crime lhe seja anterior e a situação do acusado, agravada. 
 Por norma processual devemos entender aquela cujos efeitos repercutem diretamente sobre o processo, não tendo relação com o direito de punir do Estado. 
 É o caso das regras que disciplinam a prisão provisória. Por outro lado, será de caráter penal toda norma que criar, ampliar, reduzir ou extinguir pretensão punitiva estatal, tornando mais intensa ou branda sua satisfação. 
 Normas que disciplinam novas causas extintivas da punibilidade têm conteúdo penal, pois estão extinguindo o direito de punir. 
 As que proíbem a concessão de anistia, graça ou indulto, ou aumentam o prazo prescricional, também possuem caráter penal, visto que fortalecem a pretensão punitiva do Estado. 
 Convém notar que, mesmo em caso de normas que parecem ser processuais e estão previstas na legislação processual, se a conseqüência for a extinção da punibilidade, a sua natureza será penal. 
 Por exemplo, a perempção que ocorre quando o querelante deixar o processo paralisado por 30 dias seguidos.
 Aparentemente, tudo indica tratar-se de regra processual: trata-se de prazo para dar andamento ao processo, no entanto, possui caráter penal, visto que o efeito da perempção é a extinção da punibilidade.
 
COMBINAÇÃO DE LEIS.
	Discute-se qual solução deve ser tomada quando uma nova lei é em parte benéfica e em parte prejudicial ao acusado. Duas correntes se formaram a respeito: 
A) Não se admite a combinação das leis, para se aplicar apenas as partes benéficas, pois nesse caso o juiz estaria criando uma terceira lei; 
B) Admite-se a combinação. Damásio E. de Jesus, afirma que o juiz não esta criando nova lei, mas movimentando-se dentro do campo legal em sua missão legitima. Se ele pode escolher uma ou outra lei para conhecer o mandamento constitucional da aplicação da lei mais benéfica, nada o proíbe de efetuar a combinação delas, com o que estaria seguindo o previsto na Constituição. 
 José Frederico Marques, que também adota essa ultima posição, argumenta: “dizer que o juiz esta fazendo lei nova, ultrapassando assim suas funções constitucionais, é argumento sem consistência, pois o julgador, em obediência a princípios de equidade consagrados na própria Constituição, esta apenas movimentando-se dentro dos quadros legais para uma tarefa de integração perfeitamente legitima. 
 A norma do caso concreto é construída em função de um principio constitucional, com o próprio material fornecido pelo legislador. 
 Se ele pode escolher, para aplicar o mandamento da Lei Magna, entre duas series de disposições legais, a que lhe pareça a mais benigna, não vemos por que se lhe vede a combinação de ambas, para assim aplicar, mais retamente, a Constituição”. 
VIGÊNCIA DA LEI.
	A lei começa a produzir efeitos a partir da data em que entra em vigor, passando a regular os fatos futuros, e excepcionalmente os passados.
	A lei valerá até que outra a revogue. Essa revogação pode ser expressa, quando a lei posterior expressamente declara a revogação da anterior, ou tácita, quando a lei posterior é incompatível com a anterior, ou quando regula integralmente a matéria tratada na lei anterior.
	Segundo a Súmula 711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
	As leis de pequena repercussão não possuem período de vacância, entrando em vigor na data de sua publicação. 
	Para as leis de maior complexidade, que, por essa razão possuam “vacatio legis” (período de adaptação à nova Lei), a entrada em vigor se dará no dia seguinte ao término desse prazo de vacância (art. 8º § 1º da Lei Complementar 107/2001).
	A revogação equivale à morte da lei. 
 Assim, uma lei regula, em regra, todas as situações ocorridas após o seu nascimento até o momento de sua morte. 
 O fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações ocorridas durante o seu período de vigência, denomina-se atividade. 
 A atividade da lei é a regra. 
 Quando a lei regula situações fora de seu período de vigência, ocorre a chamada extra-atividade, que é a exceção.
	A extra-atividade pode ocorrer com situações passadas ou futuras. 
 Quando a lei regula situações passadas, ou seja, ocorridas antes do inicio de sua vigência, denominando-se retroatividade. 
 Já quando se aplica mesmo após a cessação de sua vigência, a extra-atividade será chamada de ultra-atividade.
	No conflito intertemporal, ou seja, quando a infração penal é cometida sob a vigência de uma lei, e esta vem a ser posteriormente revogada por outra. 
 Nesse caso, se a lei revogada for mais benéfica, aplicar-se-á ultra - ativamente ao fato cometido à sua época. Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei revogadora, é esta que deverá ser aplicada retroativamente.
	Por outro lado, no caso de lei posterior poderão ocorrer às seguintes hipóteses. 
 	1) “Abolitio Criminis”. A lei posterior deixa de considerar um fato como criminoso. Trata-se de lei posterior que revoga o tipo penal incriminador, passando o fato a ser considerado atípico. Como o comportamento deixou de constituir infração penal, o Estado perde a pretensão de impor ao agente qualquer pena, razão pela qual ocorre a extinção da punibilidade, nos termos do artigo 107, III, do CP. Conseqüências da abolitio criminis: o inquérito policial ou o processo são imediatamente trancados e extintos, uma vez que não há mais razão de existir; se já houve sentença condenatória, cessam imediatamente a sua execução e todos os seus efeitos penais, principais e secundários; no entanto, os efeitos extrapenais permanecem. 
	2) “Novatio legis in mellius” (lei posterior que, de qualquer modo, traz um beneficio para o agente no caso concreto). Trata-se da lei mais benéficaseja anterior ou posterior ao fato. Quando posterior recebe a denominação deste item, significando nova lei em beneficio do agente, e, a norma penal retroage e aplica-se imediatamente aos processos em julgamento, aos crimes cuja persecução ainda não se iniciou e, também aos casos já encerrados por decisão transitada em julgado. 
	3) “Novatio legis in pejus” (lei posterior que, de qualquer modo, venha a agravar a situação do agente no caso concreto). Nesse caso a lei anterior é mais favorável ao réu. Pode ocorrer que a lei posterior crie um tipo incriminador, tornando típica a conduta considerada irrelevante penal pela lei anterior. É a “Novatio legis” incriminadora. A lei penal mais grave, não se aplica aos fatos ocorridos antes de sua vigência, seja quando cria figura penal até então inexistente, seja quando se limita a agravar às conseqüências jurídico penais do fato. Há, pois, uma proibição de retroatividade das normas penais mais severas de Direito Penal Material. 
	A competência para aplicação da “novatio legis in mellius”, se o processo estiver em primeira instância, a competência para aplicar a lei mais benéfica será do juiz de primeiro grau encarregado de prolatar a sentença. 
 Caso o processo esteja em grau de recurso, será competência do Tribunal encarregado do recurso. No caso de “novatio legis in mellius” após a sentença transitar em julgado, a competência será do juiz da execução. 
	Sempre que houver restrição do jus puniendi e ampliação dos direitos de liberdade do individuo, a lei há que ser tida como mais favorável. 
 No entanto, se o juiz ficar com a invencível dúvida acerca de qual lei deva ser aplicada, nada impede possa ouvir o réu, devidamente assistido por seu defensor, sobre o que lhe seria mais benéfico.
 
LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA (art. 3º do CP).
	Lei excepcional é aquela feita para vigorar em épocas especiais, como guerra, calamidades. 
 É aprovada para vigorar enquanto perdurar o período excepcional.
	Lei temporária é aquela criada para vigorar por determinado tempo, estabelecido previamente na própria lei.
 A lei traz no seu texto a data de cessação de sua vigência.
	Nessas hipóteses o artigo 3º do CP determina que, embora cessadas as circunstâncias que a determinaram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua duração (lei temporária), aplicam-se elas aos fatos praticados durante sua vigência. 
 São leis ultra-ativas, pois regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após sua revogação. 
 Assim, um fato praticado sob a vigência de uma lei temporária ou excepcional continuará sendo por ela regulado, mesmo após sua auto-revogação e ainda que prejudique o agente. Exemplo: durante um surto de varíola, cria-se um delito para aquele que omitir a notificação de varíola. 
 Erradicada essa doença, cessa a vigência da norma excepcional, entretanto, não se poderá falar em “abolitio criminis”, pois a lei transitória incriminadora continuara alcançando o autor do crime, mesmo depois de cessada a sua vigência. 
 São leis de curta duração que perderiam toda a sua força de intimidação se não tivessem a ultratividade. 
TEMPO DO CRIME (art. 4º do CP).
	O Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a qual “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” (art.4º do CP).
	Não se confunde tempo do crime com momento consumativo, que, nos termos do artigo 14, I, do CP, ocorre quando se reúnem todos os elementos de sua definição legal.
 A importância da definição do tempo do crime tem a ver, por exemplo, com a definição da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da menoridade do réu.
 Assim, suponha-se que uma pessoa com idade de 17 anos, 11 meses e 29 dias efetue disparo contra alguém, que morre apenas uma semana depois. 
 Ora, o homicídio só se consumou com a morte (quando o agente já possuía 18 anos), mas o agente não poderá ser punido criminalmente, pois, nos termos do artigo 4º, considera-se praticado o delito no momento da ação (quando o agente era menor de idade).
LUGAR DO CRIME (art. 6º do CP).
	Nos termos do art. 6º do CP, “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. 
 Adotou-se a teoria da “ubiqüidade”, segundo a qual o lugar do crime e tanto o da conduta quanto o do resultado. 
 O Código de Processo Penal, ao contrário, adotou como critério para a fixação da competência a que estabelece ser competente o foro da comarca no qual o crime se consumou (art. 70 do CPP). 
TERRITORIALIDADE. (art. 5º do CP).
	Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da norma penal a fatos cometidos no Brasil: 
A) Principio da territorialidade. A lei penal só tem aplicação no território do Estado que a editou, pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo;
B) Principio da territorialidade absoluta. Só a lei nacional é aplicável a fatos cometidos em seu território.
C) Principio da territorialidade temperada. A lei nacional se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção internacional. 
 É o principio adotado pelo art. 5º do CP: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”.
	Entende-se por território nacional todo o espaço que o Estado exerce sua soberania, o solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo (trata-se da dimensão estatal da altitude/Lei 7.565/86). 
 Mar territorial: é a faixa de mar exterior ao longo da costa, que se estende por 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro (Lei 8.617/93). 
 Nesse espaço territorial, o Brasil exerce sua soberania plena, excepcionada apenas pelo “direito de passagem inocente”, pelos quais navios mercantes ou militares de qualquer Estado podem passar livremente pelo mar territorial, embora sujeitos ao poder de policia do Estado costeiro. 
 Cabe mencionar a Zona Contígua, a qual compreende uma faixa que se estende das 12 as 24 milhas marítimas, na qual o Brasil poderá tomar medidas de fiscalização, a fim de evitar ou reprimir infrações as leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no seu território ou mar territorial. 
 Não esta compreendida no território nacional, mas, em área a este contígua. E também é de se mencionar a Zona Econômica Exclusiva, que compreende uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas, contadas das linhas de base que servem par medir a largura do mar territorial, onde o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, deste e seu subsolo e, ainda, no que se refere a outras atividades, visando à exploração e ao aproveitamento da zona para finalidade econômica. 
 Para efeito de aplicação da lei penal brasileira, no entanto, também não é considerada território nacional. 
 “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo ou em alto mar” (art. 5º, § 1º do CP).
 “É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente,e estas em porto ou mar territorial do Brasil” (art. 5º, § 2º do CP).
EXTRATERRITORIALIDADE (art. 7º do CP).
	E a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior. São princípios que se referem ao tema: 
A) Principio da Nacionalidade Ativa. Aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da infração. 
B) Principio da Nacionalidade Passiva. A lei nacional do autor do crime aplica-se quando este for praticado contra bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. 
C) Principio da Defesa Real (Proteção). Prevalece a lei referente a nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. 
D) Principio da Justiça Universal. Todo Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for à nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território. 
E) Principio da Representação. A lei nacional é aplicável aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não julgadas no local do crime.
	Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I- os crimes:
A) contra a vida ou liberdade do Presidente da República; (Principio da Defesa Real)
B) contra o patrimônio ou a fé publica da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Principio da Defesa Real)
C) contra a administração pública por quem esta a seu serviço; (Principio da Defesa Real)
D) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II- os crimes:
A) que, por tratado ou convenção o Brasil se obrigou a reprimir; (Principio da Justiça Universal)
B) praticado por brasileiro; (Principio da nacionalidade ativa)
C) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e ai não sejam julgados; (Principio da representação).
	Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
	Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
A) entrar o agente no território nacional;
B) ser o fato punível também no País em que foi praticado; 
C) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
D) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter ai cumprido pena;
E) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
 A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições anteriores: 
A) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
B) houve requisição do Ministro da Justiça.
 Percebe-se que:
No art. 7º, I, a, b e c, foi adotado o principio da Defesa Real;
No art. 7º, II, a, foi adotado o principio da Justiça Universal;
No art. 7º, II, b, adotou-se o principio da Nacionalidade Ativa;
No art. 7º, c, adotou-se o principio da Representação;
No art. 7º, § 3º, foi adotado o principio da Defesa Real.
	Dos dispositivos analisados, pode-se perceber que a extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei brasileira e aplicada a fatos ocorridos no exterior, sem que sejam exigidas condições) ou condicionada (quando a aplicação da lei brasileira a fatos ocorridos fora de nosso território depende de certos requisitos). 
 A extraterritorialidade é condicionada nas hipóteses do art. 7, II e § 3º do Código Penal.
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO. (art. 8º do CP). 
	“A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas (as penas), ou nela é computada quando idênticas”
 
EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. (art.9º do CP).
	De acordo com o art. 9º do CP, “a sentença estrangeira... pode ser homologada no Brasil para: I – obrigar o condenado a reparação do dano, a restituição e a outros efeitos civis; II – sujeitá-lo a medida de segurança”.
	Essa homologação compete ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos termos do art. 105, I, i, da Constituição da República, com redação dada pela EC nº 45/2004.
	Além disso, o parágrafo único do art. 9º determina que essa homologação depende “...de pedido da parte interessada, na hipótese de reparação do dano, e, para outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o pais de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça”.
 
CONTAGEM DE PRAZO (art. 10 do CP).
	A forma de contagem de prazos penais será regulada pelo artigo 10 do CP, que determina que o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. 
 Assim, se uma pena começa a ser cumprida ás 23: 30 horas de determinado dia, os 30 minutos restantes serão contados como sendo o primeiro dia do cumprimento da pena. 
	O prazo penal é diferente do prazo processual, pois, neste exclui-se o primeiro dia da contagem, conforme estabelece o artigo 798, § 1º do CPP. 
 Assim, se o réu é intimado da sentença no dia 10 de Abril, o prazo para recorrer começa a ser contado apenas no dia 11 de Abril, se for dia útil. 
	Os prazos penais são improrrogáveis. Assim, se o prazo termina em um sábado, domingo ou feriado, estará ele encerrado. 
 Ao contrário, os prazos processuais prorrogam-se até o primeiro dia útil subseqüente. 
 Os meses e os anos contam-se pelo calendário comum, pouco importando que o mês tenha 30 ou 31 dias, ou que o ano seja ou não bissexto.
FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA (art. 11 do CP).
	Se o montante final da pena, resultante das operações cabíveis nas diversas fases de sua fixação, não for um número inteiro, deverá o Juiz desprezar as frações de dia nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, e, na pena de multa, as frações de real, após a atualização feita pelo contador judicial.
	Assim, se uma pessoa for condenada a 20 dias de detenção, e o Juiz reduzir a pena em 2/3 (em razão de tentativa, por exemplo), o resultado final seria um dizimo (6,66). Dessa forma, o Juiz aplicará a pena de 6 dias de detenção, desprezando a fração de dia (0,6).
	Suponha-se que o Juiz fixe pena de 10 dias multa, e tenha de reduzi-la de 2/3, em face da tentativa. A pena final seria de 3 dias multa. 
 Após o transito em julgado da sentença condenatória, os autos irão para o contador para a devida atualização do valor.
 Caso o valor seja de R$ 55,14 o condenado deverá pagar apenas o valor de R$ 55,00, desprezando-se os 0,14 centavos, conforme determina o artigo 11 do CP.
LEGISLAÇÃO ESPECIAL (art. 12 do CP).
	O artigo 12 estabelece que as regras da Parte Geral do Código Penal “aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso”. 
 O dispositivo determina a aplicação subsidiaria das normas gerais do direito penal à legislação especial, desde que esta não trate o tema de forma diferente. 
 Por exemplo, o artigo 14, inciso II do CP que trata do instituto da tentativa, aplica-se aos crimes previstos em lei especial, mas é proibido nas contravenções penais, uma vez que, o artigo 4º da Lei das Contravenções Penais declara que não é punível a tentativa de contravenção.
FATO TÍPICO. DO CRIME. CONCEITOS.
	O Direito Penal tem um caráter dogmático, é o conceito de crime é jurídico. 
 Porém, o Código Penal vigente não possui uma definição de crime, que é relegada à elaboração da doutrina.
 Assim, tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos. 
 Atendendo-se ao aspecto externo, obtém-se uma definição formal; olhando-se o conteúdo do fato punível, existe a definição material ou substancial; e examinando-se as características do crime, chega-sea um conceito, também formal, mas analítico da infração penal.
CONCEITOS FORMAIS.
	Podemos citar os seguintes conceitos: “Crime é o fato humano contrario à lei” (Carmignani). “Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena”. (Manoel Pedro Pimentel). 
 Essas definições alcançam apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, o mais aparente, que é a contradição do fato a uma norma de direito, ou seja, sua ilegalidade como fato contrário à norma penal. 
 Considera-se infração penal tudo aquilo que o legislador descrever como tal, pouco importando o seu conteúdo. 
CONCEITOS MATERIAIS.
	Como as definições formais visam apenas ao aspecto externo do crime, é necessário indagar a razão que levou o legislador a prever a punição dos autores de certos fatos e não de outros, como reconhecer o critério utilizado para distinguir os ilícitos penais de outras condutas lesivas, obtendo-se um conceito material ou substancial de crime.
	A melhor orientação para obtenção de um conceito material de crime, como afirma Noronha, é aquela que tem em vista o bem protegido pela lei penal. 
 Tem o Estado que velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade coletivas diante dos conflitos inevitáveis entre os interesses dos indivíduos e entre estes e os do poder constituído. 
 Para isso, é necessário valorar os bens ou interesses individuais ou coletivos, protegendo-se, através da lei penal, aqueles que mais são atingidos quando da transgressão do ordenamento jurídico. 
 Essa proteção é efetuada através do estabelecimento e da aplicação da pena, passando esses bens a ser juridicamente protegido pela lei penal. “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (Magalhães Noronha). “Crime é qualquer fato do homem, lesivo de um interesse, que possa comprometer as condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade” (Giuseppi Bettiol). 
 Sob esse enfoque, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social. 
CONCEITOS ANALÍTICOS.
	O conceito formal de delito com referencia aos elementos que o compõem, de caráter analítico tem evoluído. Basileu Garcia conceitua o crime como a “ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível. 
 A punibilidade, mesmo considerada como a possibilidade de aplicar a pena, não é elemento do crime. 
	Conceituou-se o crime como a ação típica, antijurídica e culpável. 
 Essa definição é aceita tanto pelos autores que seguem a teoria causalista (naturalista, clássica, tradicional), como pelos adeptos da teoria finalista da ação. 
 Porém, a palavra culpabilidade para os causalistas consiste num vinculo subjetivo que liga a ação ao resultado, ou seja, no dolo ou na culpa. 
 Verificando-se a existência de um fato típico (composto de ação, resultado, nexo causal e tipicidade) e antijurídico, examinar-se-á o elemento subjetivo, e, assim, a culpabilidade. 
 Com o nascimento da teoria da ação finalista proposta por Hans Welzel, passou-se a entender que a ação ou conduta é uma atividade que sempre tem uma finalidade.
 Considerando-se que o crime é uma conduta humana voluntária, é evidente que tem ela uma finalidade. 
 Por isso no conceito analítico de crime, a conduta abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Se a conduta é um dos componentes do fato típico, deve-se definir o crime como “fato típico e antijurídico”. 
 A culpabilidade não contém o dolo ou a culpa em sentido estrito, mas significa apenas a “reprovabilidade” ou “censurabilidade de conduta”. 
 Lembre-se que o delito, conduta típica e ilícita, pode ensejar, como resposta final, tanto a pena como a medida de segurança. 
 “O crime é o fato humano típico e ilícito, em que a culpabilidade é o pressuposto da pena, e a periculosidade o pressuposto da medida de segurança” (Francisco Munoz Conde).
CARACTERÍSTICAS DO CRIME. ASPECTO FORMAL.
	Para a existência do crime, é necessária uma conduta humana positiva ou negativa. 
 É necessário que essa conduta seja típica, que esteja descrita na lei como infração penal. 
 Por fim, só haverá crime se o fato for antijurídico, contrário ao direito por não estar protegido pela causa que exclua sua injuridicidade. São características do crime, sob o ponto de vista analítico: a) a tipicidade; b) a antijuridicidade. 
	Fato típico é o comportamento humano (positivo e negativo) que provoca, em regra, um resultado o qual é previsto como infração penal. Assim, se A mata B em comportamento voluntário, pratica o fato descrito no artigo 121 do CP. 
	Fato antijurídico é aquele que contraria o ordenamento jurídico. 
 No Direito Penal, a antijuridicidade é a relação de contrariedade entre o fato típico praticado e o ordenamento jurídico. 
 Se em principio for injurídico o fato típico, não será contrario ao Direito quando estiver protegido pela própria lei penal. 
 Por exemplo, matar alguém é fato típico se o agente o fez dolosa ou culposamente, mas não será antijurídico se o agente praticar a conduta em estado de necessidade, em legítima defesa, pois, não há, nesses casos, crime.
	A culpabilidade, tido como componente do crime pelos doutrinadores causalistas, é concebida pela teoria finalista da ação como a reprovação da ordem jurídica em face de estar ligado o homem a um fato típico e antijurídico. 
 É a contradição entre a vontade do autor do crime e a vontade da norma. 
 Portanto, conceituada desta forma, a culpabilidade não é característica, aspecto ou elemento do crime, mas sim mera condição para se impor a pena pela “reprovabilidade da conduta”. 
 Para a maioria da doutrina, embora o juízo de reprovabilidade tenha como destinatário o agente, ele é construído a partir do fato concreto, que “é o suporte que exprime uma contradição entre a vontade do sujeito e a vontade da norma”. 
 “Não se encontra o juízo normativo, portanto, desligado do fato, a recair isoladamente sobre o sujeito” (David Teixeira de Azevedo), o que justifica o conceito tri-partido do crime (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade).
 
ELEMENTOS E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME.
	São requisitos especiais do crime os elementos, elementares, ou como se refere a lei no artigo 30 do CP, as circunstâncias elementares, ou seja, são o verbo que descreve a conduta, o objeto material, os sujeito ativo e passivo, inscritos na figura prevista na lei penal. 
 Inexistindo um elemento qualquer da descrição legal, não há crime. Por exemplo, no fato típico denominado furto (artigo 155 do CP), se a coisa subtraída não for “alheia”, inexistira tal delito, pois a descrição desse fato é “subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel”.
	Também são requisitos específicos do crime as circunstâncias do crime, determinados dados que, agregados à figura típica, tem função de aumentar ou diminuir a pena.
 Por exemplo, o homicídio praticado por asfixia contém uma circunstancia qualificadora, a qual iria aumentar a pena do agente. 
 Por outro lado, o fato de o agente ter praticado o crime sob a influencia de multidão em tumulto, se não o provocou, é circunstância atenuante de qualquer delito, ou seja, que ira proporcionar uma diminuição na pena efetiva do agente.
ILÍCITO PENAL E ILÍCITO CIVIL. 
	Não existe diferença de natureza ontológica entre ilícito penal e ilícito civil, uma vez que, ambos ferem o ordenamento jurídico. 
 Ocorre que, entendendo o legislador que determinados fatos antijurídicos não atingem bens jurídicos tão relevantes que devam ser protegidos pela lei penal, não os prevê como ilícito penal. 
	Estabelece o legislador, através das figuras penais, quais os ilícitos que devem ser reprimidos através de sanções penais, catalogando-oscomo ilícitos penais, enquanto os demais estarão sujeitos apenas às sanções civis (indenização, restituição, multa civil, etc.), administrativas (suspensão e demissão do funcionário), tributárias (multa tributária, acréscimos). 
 Estes são os ilícitos civis, administrativos, tributários etc. A distinção mostrada não impede que, além da sanção penal ao autor de um crime de furto, seja imposta a sanção civil (restituição ou indenização), ao de peculato a sanção administrativa (demissão do serviço público), ao de sonegação fiscal a pecuniária (multa).
O TIPO PENAL.
	Como o Estado, através do ordenamento jurídico, quer sancionar com penas as conseqüências intoleráveis para a vida em comunidade, tutelando os bens jurídicos fundamentais, poderia fazê-lo com uma norma que permitisse a aplicação de sanções penais a todos aqueles que praticassem um fato profundamente lesivo aos bens tutelados pela norma penal. 
 Nesses termos, porém, os destinatários da norma não poderiam saber quais as condutas que estariam proibidas nem o juiz poderia saber quais penas deveria impor. 
 Assim sendo, a lei deve especificar detalhadamente a matéria de suas proibições, os fatos que são proibidos sob ameaça de sanção penal, ou seja, o que é considerado crime.
 Isso acontece por meio dos tipos penais. 
 O termo “tipo” exprime a idéia de “modelo”, “esquema”, é uma figura conceitual. Tipo é, no dizer de Wezel, a descrição concreta da conduta proibida, ou seja, do conteúdo da norma penal.
	O tipo é descritivo porque composto de elementos objetivos, que são os mais importantes para individualizar uma conduta qualquer. 
 O elemento mais significativo é o verbo, que é precisamente a palavra que serve gramaticalmente para distinguir uma ação. 
 Não obstante, às vezes, além dos elementos objetivos, o tipo contém elementos subjetivos ou normativos.
FATO TÍPICO. (ELEMENTOS).
	O crime é um fato típico e antijurídico. 
 Para que se possa afirmar que o fato concreto tem tipicidade, é necessário que ele se contenha perfeitamente na descrição legal, ou seja, que haja perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal. 
 Deve-se verificar de que se compõe o fato típico. São elementos do fato típico: 
A) conduta (ação/omissão); 
B) o resultado; 
C) a relação de causalidade; 
D) a tipicidade. 
 Caso o fato concreto não apresente um desses elementos não é fato típico, e, portanto, não é crime, salvo, a possibilidade da tentativa, em que não ocorre o resultado. 
	Não há crime sem ação. 
 É sobre o conceito de ação, que se pode denominar conduta, que repousa a divergência mais expressiva entre os criminalistas. 
 Conforme o sentido que se dê a palavra ação, modifica-se o conceito estrutural de crime. 
	A estrutura do crime, bem como de seus requisitos, sofre profunda diferenciação de acordo com a teoria que se adote em relação à conduta, que é o primeiro elemento componente do fato típico. 
 Assim, uma vez adotada a Teoria Clássica (Causal/Naturalista) ou a Teoria Finalista da Ação, haverá grandes divergências acerca do significado dos temas que envolvem conduta, dolo, culpa e culpabilidade. 
 Embora haja entendimento quase que pacifico no sentido de que a Parte Geral do Código Penal (1984) adotou a Teoria Finalista da Ação, é necessária a análise de ambas as teorias.
A CONDUTA NA TEORIA CLÁSSICA. (CAUSAL – NATURALISTA)
	Essa teoria origina-se no tratado de Franz Von Liszt. A teoria foi concebida no século XIX, e perdurou até meados do século XX, sob forte influencia das ciências físicas e naturais e do positivismo jurídico, caracterizado pelo apego a letra expressa da Lei. 
 A sociedade, traumatizada pelos abusos cometidos durante o período anterior do Absolutismo Monárquico, que vigorou até o final do século XVIII, instalou o Estado Formal de Direito, no qual todos estavam submetidos não mais ao império de uma pessoa (Rei/Monarca), mas ao império da lei. 
 Todos eram iguais perante a Lei, na medida em que a Lei era igual para todos. Foi assim que nasceu a Teoria Naturalista ou Causal. 
 No Estado formal e positivista não havia campo para a interpretação das normas, as quais deviam ser cumpridas sem discussão quanto ao seu conteúdo. 
 A lei se cumpre não se discute, nem se interpreta. Vale o que está escrito. 
 Segundo esta teoria, a ação é considerada um puro fator de causalidade, uma simples produção de resultado, mediante o emprego de forças físicas. 
 A conduta é, portanto, tratada como uma simples exteriorização de movimento ou abstenção de comportamento, desprovida de qualquer finalidade. 
 De acordo com o Professor Fernando Capez, para os seguidores dessa teoria, é totalmente desnecessário, para a caracterização de um fato como típico, saber se o resultado foi produzido pela vontade do agente ou se decorreu de atuação culposa, interessando apenas indagar quem foi o causador material. 
 O único nexo que importa estabelecer é o natural (causa e efeito), desprezando-se o elemento volitivo (dolo) e normativo (culpa). 
 Pura aplicação das leis físicas de causa e efeito. 
 Colocar a mão no fogo queima. 
 Causar objetivamente o evento, segundo a lei física de causa e efeito, era o que importava. 
 A fotografia externa do evento, independentemente da vontade do agente, era tudo o que importava para o fato típico. Se, por exemplo, um sujeito estivesse conduzindo seu veiculo com absoluta prudência em via pública e, sem que pudesse esperar ou prever, um suicida se precipitasse sob as rodas de seu carro, vindo, em conseqüência, a falecer, para a teoria naturalista (ou clássica), o motorista, que não quis matar a vitima, nem teve culpa nessa morte, cometeu um homicídio. 
 A análise do dolo ou culpa fica para um momento posterior, na aferição da culpabilidade. 
	O dolo ou a culpa, somente serão analisados posteriormente, quando da analise da culpabilidade. 
 Assim, na ausência destes, o fato não será culpável e o agente não terá cometido crime, apesar de o fato ser considerado típico.
	Dessa forma, para a teoria clássica o crime é um fato típico, antijurídico e culpável (três requisitos). 
	O dolo e a culpa integram a culpabilidade. O dolo é normativo, pois tem como requisito a consciência da ilicitude. 
 Para essa teoria o crime tem a seguinte estrutura: 1) Fato típico, que tem os seguintes elementos: A) conduta (na qual não interessa a finalidade do agente); B) resultado; C) nexo causal; D) tipicidade.
2) Antijuridicidade. Cometido um fato típico presume-se ser ele antijurídico, salvo se ocorrer uma das causas excludentes de ilicitude previstas na lei.
3) Culpabilidade, composta pelos seguintes elementos:
a) imputabilidade;
b) exigibilidade de conduta diversa;
c) dolo e culpa. O dolo é normativo, possuindo os seguintes requisitos: I – consciência da conduta e do resultado; II – consciência do nexo de causalidade; III – consciência da antijuridicidade; IV – vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. 
	As criticas a esta teoria é que o conceito jurídico penal da conduta humana difere do conceito real. 
 Está se dividindo um fenômeno real, separando-se a ação voluntaria de seu conteúdo, o fim do agente ao praticar a ação, e ignorando-se que toda ação humana tem sempre um fim. 
 Por isso, essa teoria não consegue explicar a tipicidade quando o tipo penal contém elementos subjetivos (finalidade de ação, ânimo do agente) que fazem parte da própria descrição legal e onde a vontade final do autor do fato está ligada a sua ação. 
 Embora no principio de sua criação a Teoria Naturalista buscasse garantir o cidadão contra as arbitrariedades dos monarcas, o dogma naturalista e o ambiente positivista que a envolveu acabaram sendo empregados com desvirtuamento de seus fins pelos regimes totalitários, fazendocom que o Direito Penal fosse utilizado como função utilitária, atuando como mecanismos de prevenção social contra o crime.
 Nesses regimes era considerado justo tudo o que fosse útil ao povo independente do conteúdo ético ou moral da norma. 
 Não havia ambiente para se discutir o conteúdo das normas, de modo que o positivismo dogmático implicava aceitar sem maiores indagações o comando emergente do ordenamento legal imposto pelo Estado. 
CONDUTA NA TEORIA FINALISTA.
	O modelo incriminador não é mais visto como entidade formal abstrata que cumpre papel de simples descrição da conduta reprovável. 
 Mezger, em 1915, identificou alguns tipos penais que exigiam expressamente a finalidade do agente, quebrando o dogma de que a vontade e a finalidade se situam na culpabilidade. 
 A cena de um homem arrastando uma mulher pelos cabelos em direção a uma cabana não autoriza, por si só, a adequação da conduta ao tipo do estupro, pois, sem examinar a finalidade do agente não se sabe se ele esta cometendo o seqüestro com fim de obter o resgate, ou de torturar a vitima, ou de praticar um estupro. 
 É necessária a constatação do elemento subjetivo para a correta definição jurídica dos fatos. 
 Como então afirmar que o tipo só contém aspectos concretos, visíveis externamente, e que toda e qualquer análise da parte psicológica deve ficar relegada á culpabilidade? 
 Conclui-se que o tipo penal não continha apenas elementos de ordem objetiva, nem que o fato típico poderia depender de uma mera comparação entre o fato objetivo e a descrição legal. 
	No final da década de 1920 e inicio de 1930, começou a ser elaborado o conceito finalista da ação e cujo defensor mais ardoroso foi Hans Welzel. 
 Conclui-se que, o enquadramento legal dos fatos criminosos, não dependem apenas da causação do resultado, mas sim da forma como foi praticada a ação. 
	Portanto, apenas contemplando a cena objetiva de um medico tateando uma mulher despida seria impossível dizer, só com base nesse acontecimento, se este homem cometeu atentado violento ao pudor ou, exame clinico regular. 
 Para a existência do fato típico, é imprescindível identificar o elemento subjetivo do autor, consistente na finalidade de satisfazer a própria lasciva. 
 Do ponto de vista exterior, a ação objetiva é sempre a mesma, mas levando em conta a intenção e a finalidade do autor (aspectos subjetivos), a ação pode tanto constituir um exame medico regular quanto uma ação punível desonesta.
 Não se pode desconhecer que a finalidade, o dolo e a culpa estão na própria conduta. 
 Descobriu-se, assim, a finalidade, como elemento inseparável da conduta. 
 Sem o exame da vontade finalística não se sabe se o fato é típico ou não. 
 Não se pode mais aceitar a existência de crimes, ignorando a vontade como se as pessoas não fossem dotadas de razão e de livre-arbítrio e como se todos os resultados, em principio, fossem idênticos. 
 Não existe conduta relevante para o Direito Penal se não for animada pela vontade humana. 
 Por essa razão Welzel considerou que toda a ação humana é o exercício da atividade finalista. 
	Para a teoria finalista, atualmente adotada na Parte Geral do Código Penal (1984), não se pode dissociar a ação da vontade do agente, já que a conduta é precedida de um seu raciocínio que o leva a realizá-la ou não. 
 Conduta é o comportamento humano, voluntario e consciente (doloso ou culposo) “dirigido a uma finalidade”.
 Portanto, o dolo e a culpa fazem parte da conduta (que é o primeiro requisito do fato típico) e, quando ausentes, o fato é atípico.
	Nota-se que para a teoria finalista o dolo e a culpa, se deslocaram da culpabilidade (teoria clássica) para a conduta e, portanto, para o fato típico.
	O dolo passou a ser interpretado excluindo-se dele a consciência da ilicitude. 
 O dolo deixou de ser normativo e passou a ser natural, não contendo a consciência da ilicitude. 
 O dolo, para a teoria finalista, tem apenas os seguintes elementos: I – consciência da conduta; II – consciência do resultado; III – consciência do nexo causal; IV- vontade de realizar a conduta e de produzir o resultado.
	A culpabilidade deixa de abarcar o dolo e, por conseqüência, de ser requisito do crime, passando a ser “pressuposto de aplicação da pena”. 
	O crime, para a teoria finalista, é um fato típico e antijurídico (dois requisitos) e, tem a seguinte estrutura:
1) Fato típico, que possui os seguintes elementos: 
a) Conduta dolosa ou culposa. O dolo é natural, pois deixa de integrar a culpabilidade, passando a integrar o fato típico, tendo os seguintes elementos: a1) consciência da conduta e do resultado; a2) consciência do nexo causal; a3) vontade de realizar a conduta e provocar o resultado. O dolo deixou de compor a consciência da ilicitude, mas a potencial consciência da ilicitude passou a fazer parte da culpabilidade); b) Resultado; c) Nexo causal; d) Tipicidade;
2) Antijuridicidade. Igual a teoria clássica.
3) Culpabilidade, composta por:
a) imputabilidade;
b) exigibilidade de conduta diversa;
c) potencial consciência da ilicitude.
	No crime doloso, a finalidade da conduta é a vontade de concretizar um fato ilícito. 
 No que toca aos crimes culposos a teoria finalista aplica-se inteiramente. 
 No crime culposo, o fim da conduta não está dirigido ao resultado lesivo, mas o agente é autor de fato típico por não ter empregado em seu comportamento os cuidados necessários para evitar o evento. 
 No caso de alguém que dirige em excesso de velocidade e, em conseqüência, atropela e mata uma criança, é de se indagar: o resultado foi querido? 
 Ante a resposta negativa, coloca-se em duvida a teoria finalista: nesse caso, qual era a finalidade do agente? 
 A resposta é simples, A conduta do motorista era animada pela vontade, pois ninguém o estava obrigando a dirigir naquela velocidade. 
 Quanto à finalidade, esta é variada, uma vez que o agente poderia estar com pressa, ou simplesmente com vontade de divertir-se. 
 Desse modo, a conduta humana consciente e voluntária existiu (um sujeito dirigia em alta velocidade porque tinha vontade de fazê-lo e pretendia alcançar alguma finalidade, como chegar logo a seu destino ou satisfazer o prazer da velocidade). 
 Quanto ao resultado, como não coincidiu com a finalidade visada, não pode ser qualificado o crime como doloso. 
 Como houve quebra do dever de cuidado imposto a todas as pessoas, o agente responderá por homicídio culposo.
 No entanto, se não houver nenhum descuido, como se o agente estivesse em alta velocidade durante uma prova regular de automobilismo e uma criança entrasse correndo pela pista, não haveria crime ante a ausência de dolo e culpa.
 Por fim, ressalto que não existindo vontade, no caso da coação física (emprego de força bruta), dos reflexos (uma pessoa repentinamente levanta o braço em movimento reflexo, e atinge o nariz de quem o assustou), ou ainda nas hipóteses de caso fortuito ou força maior, não há que se falar em crime. 
 
TEORIA SOCIAL DA AÇÃO.
 É uma teoria pós-finalista, que incorpora conceitos de ambas as teorias anteriores. 
 Para seus seguidores, ação é a conduta humana socialmente relevante, dominada e dominável pela vontade.
 Conduta socialmente relevante é aquela socialmente danosa, porque atinge o meio em que as pessoas vivem. 
 Por esse motivo, se embora objetiva e subjetivamente típico, um comportamento não afronta o sentimento de justiça, o senso de normalidade, ou de adequação social do povo, não se pode considerá-lo relevante para o direito penal. 
 Só haverá fato típico segundo a relevância social da ação. A ação socialmente adequada está desde o inicio excluída do tipo porque se realiza dentro do âmbito da normalidade social. 
 A principalcritica feita a essa teoria reside na dificuldade de conceituar-se o que seja relevância social da conduta, pois tal ato exige um juízo de valor, um juízo ético.
 Portanto, é um critério impreciso, o qual influi na antijuridicidade, tornando indeterminada a tipicidade, o que traz insegurança jurídica no âmbito penal. 
CONDUTA.
	Conduta é a materialização da vontade humana, que pode ser executada por um único ato ou por vários atos. 
 O ato é apenas uma parte da conduta. Exemplo é possível matar a vitima através de um único ato (um disparo mortal) ou de vários atos (vários golpes no corpo da vítima).
 Se a conduta se reveste de um único ato, é chamada de unissubsistente, e, se composta de mais de um ato, de plurisusbsistente.
	Por definição, somente os seres humanos podem realizar conduta, pois apenas estes têm vontade e consciência. 
 Os animais irracionais não realizam conduta. 
	Nas hipóteses de caso fortuito e força maior, excluem-se o dolo e a culpa, não havendo, portanto, conduta. 
 Afasta-se a própria existência do crime.
	Por ser objeto de vontade livre e consciente de um ser humano, a conduta deve abranger: a) o objetivo pretendido pelo agente; b) os meios usados na execução; c) as conseqüências do delito. 
 A doutrina saliente não haver conduta, não havendo crime, quando não existe voluntariedade por parte do provocador do resultado.
	A voluntariedade não existe nas seguintes hipóteses: 
A) na coação física irresistível, em que o sujeito pratica um movimento em decorrência de força corporal exercida sobre ele. (forçar alguém a assinar um documento, a efetuar um disparo). Nesse caso, só responde pelo crime o coator. No caso de coação moral irresistível existe conduta, mas se exclui a culpabilidade; 
B) no reflexo, decorrente de reação automática de um nervo sensitivo; 
C) quando o sujeito está dormindo ou sob estado de hipnose.
	Quanto às forma de conduta, ela pode exteriorizar-se através de: 
A) ação – comportamento positivo: fazer, realizar algo. Nessa hipótese, a lei determina um não fazer e o agente comete o delito justamente por fazer o que a lei proíbe. 
B) Omissão – comportamento negativo: abstenção, um não fazer. A omissão pode dar origem a duas espécies de crimes: B1) os omissivos próprios ou puros, nos quais inexiste um dever jurídico de agir, ou seja, não há norma imponde dever de fazer. Só existira essa espécie de delito omissivo quando o próprio tipo penal descrever uma conduta omissiva. (crime de omissão de socorro). A simples omissão constitui crime, independentemente de qualquer resultado posterior.
B2) os omissivos impróprios ou comissivos por omissão, que são aqueles para os quais a lei impõe um dever de agir e, assim, o não agir constitui crime, na medida em que leva a produção de um resultado que o agir teria evitado. 
 A verificação deles decorre da norma do artigo 13 § 2º do CP, que trata da relevância causal da omissão. (mãe que deixa de alimentar seu ilho, provocando sua morte). 
 Para que o autor responda pelo crime, é necessário que tenha o dever de agir (dever jurídico de agir), ou seja, o dever de impedir o resultado, fundado na “teoria da ação esperada”, e, segundo outros, na obrigação de atender. 
 A lei penal previu expressamente quando a omissão é penalmente relevante e estabeleceu quais as hipóteses em que o omitente devia agir para evitar o resultado. 
 De acordo com o artigo 13 § 2º, o dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção e vigilância; b) de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco de ocorrência do resultado. 
	A primeira hipótese refere-se ao dever legal. 
 Deriva do dever de agir de uma norma jurídica que obriga alguém ao cuidado, proteção ou vigilância do bem jurídico. 
 O legislador quis abranger inclusive os deveres que estão implícitos na legislação e excluir aqueles que têm outros deveres que não os citados especificamente.
 Exemplos de dever legal são: os pais de alimentar e cuidar dos filhos; o do diretor do presídio e o dos carcereiros de zelarem e protegerem os presos, o dos policiais em serviço para assegurarem a segurança pública e das pessoas em particular. 
	Trata a alínea b, da aceitação pelo sujeito do dever de impedir o evento por ter assumido previamente essa responsabilidade. 
 Refere-se aquele que “de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado”, a lei abrange o dever originado de uma manifestação unilateral de vontade, ou de um contrato. 
 No primeiro caso, estará na posição de garantidor, o médico que presta serviço de urgência em um pronto socorro; também o daquele que se propõe a conduzir um bêbado para sua casa, pessoas que passam a ser garantidoras da não ocorrência de resultados lesivos ao ferido ou embriagado. 
 Exemplos do dever oriundo de contrato, são o guia que se obriga a conduzir o explorador por terrenos perigosos, o do guarda de segurança particular contratado para vigiar uma residência ou comercio. 
 A doutrina ressalta que em tais casos, o dever de agir deriva principalmente de uma situação de fato e não apenas do contrato. 
	Por ultimo a lei refere-se ao “comportamento anterior” do sujeito que criou o risco da ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo.
 Essa hipótese é denominada pela doutrina de “ingerência”, e gera muita controvérsia entre os doutrinadores. 
 Só tem relevância penal a omissão de providência com virtude de impedir o resultado, por quem podia e devia agir nesse sentido. 
 Assim, como no Direito Penal não se admite a culpa presumida, a imputação pelo resultado exige que se saiba qual a providência omitida pelo sujeito que poderia ter impedido o resultado, sem o que não se pode atribuir a ele a responsabilidade pelo fato. 
 Quando não há o dever de agir, menciona-se a expressão “participação negativa”, o que não caracteriza sequer o concurso em face da lei. 
 Presente o dever de agir, a omissão será atribuída penalmente ao garantidor desde que, no caso concreto, pudesse agir para evitar o resultado. 
 A possibilidade de agir deve ser entendida como a capacidade concreta para a execução de determinada ação com a finalidade de evitar o resultado. Pode agir quem: a) tem conhecimento da situação de fato; b) tem consciência da condição que o coloca na qualidade de garantidor; c) tem consciência que pode executar a ação; d) tem a possibilidade real física de executar a ação. 
 A possibilidade física somente existe quando a execução da ação teria evitado o resultado. 
 É preciso comprovar que a conduta devida teria impedido o resultado. 
 Em todo caso, no que se refere ao dever de agir, não haverá crime se o garantidor, embora não evitando o resultado, se esforçou seriamente para impedi-lo. 
 Nessa hipótese não haverá dolo ou culpa, mas simples caso fortuito. 
 Podendo o garantidor agir, a conduta deverá ser apreciada em seu elemento subjetivo: dolo ou culpa. 
 O dolo é a vontade dirigida a realização do tipo penal.
 Na hipótese da omissão, configura-se o dolo na vontade de não impedir o resultado. 
 É também possível a omissão por culpa em sentido estrito, respondendo por crime culposo o omitente, como por exemplo: 
a) erro de apreciação da situação típica, como o pai que, ouvindo gritos do filho, não o socorre, pensando que se trata de uma brincadeira, enquanto a criança se afoga; 
b) erro na execução da ação, como, em jogar substancia inflamável em lugar de água para apagar um incêndio, deixando de verificar a natureza do liquido usado; 
c) erro sobre a possibilidade de agir, como, quando o garantidor supõe que a vitima está afogando-se em lugar profundo do rio, onde seria impossível salvá-la, permitindo que ela morra em águas rasas. 
 Ocrime comissivo por omissão, por existir somente quando o sujeito tem o dever de agir, é um crime próprio.
 Não havendo o dever de agir, estabelecido pelo artigo 13 § 2º do CP, o sujeito poderá responder, conforme o caso, por crime de omissão de socorro (artigo 135 do CP). 
 
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR.
	Não há fato típico na ocorrência de resultado lesivo em decorrência de caso fortuito ou força maior.
	Fortuito é aquilo que se mostra imprevisível, quando não inevitável; é o que chega sem ser esperado e por força estranha à vontade do homem que não o pode impedir. 
 Não se pode atribuir o resultado lesivo decorrente da quebra do mecanismo de direção quando se desenrola a condução do veiculo em condições normais, do incêndio provocado pelo cigarro que é derrubado do cinzeiro por um golpe de ar inesperado. 
 Na mesma situação estão os casos de força maior.
 Exemplo desta é a coação física irresistível, como no caso do agente que por força física do coator, aperta o gatilho de uma arma, causando a morte de uma pessoa.
 
RESULTADO.
	Segundo um conceito naturalístico, resultado é a modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente. 
 Resultado é a conseqüência da conduta humana, ou seja, aquilo produzido por uma conduta dolosa ou culposa do homem. 
 É a morte da vitima no homicídio, a destruição, inutilização ou deterioração da coisa no dano. 
	No entanto, a lei prevê crimes em que não existe a modificação no mundo exterior, como na injuria oral, no ato obsceno, na violação de domicilio. 
 Mas, afirma-se no artigo 13 que a existência do crime depende do resultado. 
 Para harmonia do sistema, deve-se buscar um conceito jurídico ou normativo de resultado, evitando-se contradições entre os dispositivos legais, entre os artigos de lei que descrevem comportamentos que não provocam a mudança no mundo exterior e o artigo 13 do CP. 
 Desta forma, o resultado deve ser entendido como lesão ou perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. 
 Como todos os crimes ocasionam lesão ou, pelo menos, perigo ao bem jurídico tutelado, os dispositivos se complementam. 
NEXO CAUSAL (RELAÇÃO DE CAUSALIDADE)
	É a relação natural de causa e efeito existente entre a conduta do agente e o resultado dela decorrente.
	Nos crimes matérias somente existe a configuração do crime quando fica evidente que a conduta do agente provocou o resultado.
	Nos crimes formais e nos crimes de mera conduta não se exige o nexo causal, uma vez que esses crimes dispensam a ocorrência de qualquer resultado naturalístico e, assim, não há que se pensar em nexo de causalidade entre conduta e resultado.
	Os crimes materiais possuem quatro requisitos: a) conduta; b) resultado; c) nexo causal; d) tipicidade. 
 Já os crimes formais e de mera conduta exigem apenas dois requisitos: a) conduta; b) tipicidade.
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (artigo 13 do CP).
	Foi a teoria adotada pelo artigo 13, caput, do CP no que se refere ao nexo de causalidade. 
 É também c chamada de teoria da “conditio sine qua non”. 
 Para essa teoria, causa é toda circunstância antecedente, sem a qual o resultado não teria acontecido.
 Isso conduz a conclusão de que toda e qualquer contribuição para o resultado é considerada sua causa. 
 Todas as causas são igualmente contributivas para a produção do resultado. 
 Para se saber se algo é causa do resultado, basta excluí-lo da serie causal. 
 Se o delito, ainda assim, teria ocorrido, não é causa. Se não teria ocorrido, então é causa.
	É evidente que somente serão punidos pelo crime aqueles que tenham agido com dolo ou culpa em relação à provocação especifica de determinado resultado.
 
SUPERVINIÊNCIA CAUSAL (artigo 13 § 1º do CP).
	O artigo 13 § 1º do CP dispõe que a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado.
	Nessas hipóteses, pode-se dizer que existe uma concausa, ou seja, a conduta do agente, e, outra causa qualquer. 
 Concausa é toda causa que concorre paralelamente com outra, contribuindo para a produção do resultado. 
 Não há, entretanto, diferença pratica entre causas, concausas ou condições, pois tudo que contribui para um resultado é causa deste. 
	As concausas podem ser: 
A) DEPENDENTES. Aquelas que se encontram dentro da linha de desdobramento normal da conduta. Essas causas jamais rompem o nexo causal. Exemplo, uma facada provoca uma perfuração em um órgão vital da vítima, que provoca hemorragia aguda, que provoca a morte da vítima.
 
B) INDEPENDENTES. São aquelas que, por si só, produzem o resultado, ou seja, que não se incluem no desdobramento normal da conduta. São classificadas em: A) ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES. São as causas que têm origem totalmente diversa da conduta. A causa provocativa do resultado não se originou na conduta do agente. Podem ser: 
A1) Preexistente, quando anteriores á conduta. Exemplo, A quer matar B e o esfaqueia. Acontece que, anteriormente, C já tinha envenenado B, que morre em razão do envenenamento. A responde por tentativa de homicídio e C por homicídio consumado. O envenenamento feito por C é uma causa preexistente absolutamente independente em face da A.
A2) Concomitantes, quando se verificam ao mesmo tempo que a conduta. Exemplo, uma pessoa está envenenando a vítima quando entram bandidos no local e matam a vítima com disparos de arma de fogo. 
A3) Supervenientes, quando posteriores á conduta. Exemplo, após o envenenamento, cai um lustre na cabeça da vítima que morre por traumatismo craniano. 
 Em todas as hipóteses em que há causa absolutamente independente, rompe-se o nexo causal, já que o resultado decorre dessa causa independente e não da conduta do agente. 
 Nas duas últimas hipóteses, o agente (autor do envenenamento) responde apenas por tentativa de homicídio, pois, o fator que provocou a morte foi a causa absolutamente independente e não a sua conduta.
B) RELATIVAMENTE INDEPENDENTES. São aquelas que, por si só, produzem o resultado, mas que se originam na conduta do agente. Podem ser: 
B1) Preexistentes, quando anteriores à conduta. Nessa hipótese, o agente responde pelo crime, pois não se rompe o nexo causal. É a hipótese de alguém que, querendo matar a vítima, lhe desfere um golpe de faca, golpe este que, por si só, seria insuficiente para provocar a morte da uma pessoa comum. Acontece, porém, que por ser hemofílica (causa preexistente), a vítima acaba falecendo pela grande perda de sangue. 
B2) Concomitantes, quando se verificam no mesmo tempo que a conduta do agente. Não rompe o nexo causal e o agente responde pelo crime. É o que ocorre no exemplo em que, no exato instante em que o agente efetua um disparo contra a vítima, vem esta a sofrer um infarto (decorrência do susto e, por isso, ligada á conduta do sujeito). 
B3) Supervenientes, quando posteriores à conduta. Neste caso, rompe-se o nexo causal é o réu não responde pelo resultado, mas somente pelos atos até então praticados.
 Nesse caso, após a conduta do agente, ocorre uma causa relativamente independente que, por si só, produz o resultado. 
 A vítima é alvejada por um disparo no tórax, e é colocada em uma ambulância. 
 Durante o trajeto, a ambulância se envolve em uma colisão e a pessoa morre em razão dos novos ferimentos.
 Assim a causa da morte foi o acidente, a pessoa que efetuou o disparo não responde por homicídio consumado, mas apenas por tentativa. 
 Diz-se que a causa é apenas relativamente independente porque não fosse o disparo, a vítima não estaria na ambulância e não se teria ferido mortalmente no acidente durante o trajeto. 
 Causa superveniente relativamente independente é a que sobrevêm a ação ou omissão, mas que, por sua intervenção, faz com que esse determinado evento ocorra em circunstancia de tempo,ou de lugar, ou, de outras formas diversas das que teriam ocorrido se a serie causal antecedente prosseguisse em sua atuação normal. 
 A expressão por si só não quer dizer que a segunda causa seja independente da primeira. 
 Há o rompimento, para os efeitos legais, a cadeia de causalidade quando a conduta anterior embora criminosa não esteja na linha necessária do desdobramento objetivo causal dos fatos.
 Segundo a doutrina, as dúvidas são solucionadas quanto a responsabilidade do agente examinando-se a causa superveniente que mantém essa relação relativa com a causa anterior. 
 Se estiver ela fora do desdobramento físico necessário, normal, o agente não é punido pelo resultado. 
 Porém, se estiver ela dentro desse desdobramento físico, o agente é punido pelo resultado. 
 Exemplos da jurisprudência: a morte da vitima que, em resultado do choque do ônibus com um poste de iluminação, sai ilesa do veiculo e recebe a descarga elétrica que lhe causa morte; a morte da vitima em decorrência de cirurgia facial, que não tinha por objetivo afastar perigo de vida provocado pela lesão, mas tão só corrigir o defeito por esta causado; a morte da vitima ao descer do veiculo em movimento, embora tivesse o motorista aberto a porta antes do ponto de desembarque. 
 Nesses casos, embora haja dependência da segunda causa com a primeira, aquela “por si só” é condição do resultado, estando esta fora do desdobramento normal dos fatos. 
 Nessas hipóteses o autor da primeira causa responde pelos fatos anteriores, tentativa de homicídio, lesões corporais.
 Por outro lado, se a causa superviniente está na linha do desdobramento físico do resultado da primeira ação, o resultado é atribuído ao autor da primeira causa. 
 Exemplos: o ferido que levado ao hospital morre por choque anafilático ou colapso cardíaco provocado pela anestesia aplicada quando os médicos estão praticando uma cirurgia para salvá-lo; parada cardiorrespiratória, durante cirurgia ortopédica a que se submeteu a vitima para reparação de fratura decorrente de atropelamento; complicação resultante da cirurgia em vitima de inúmeros pontapés contra ele desferidos pelo réu; infecção em face de cirurgia a que foi submetida a vitima de varias facadas.
 Nesses casos, ao autor é atribuído o resultado final (morte), já que a segunda causa guarda relação, embora relativa, com a primeira, num desdobramento causal obrigatório.
Teoria da Imputação Objetiva.
	Esta teoria pode ser atribuída aos estudos de Karl Larenz (1927) e Richad Honig (1930), os quais partiram da premissa de que a equivalência dos antecedentes era muito rigorosa no estabelecimento do nexo causal, na medida em que se contentava com a mera relação física de causa e efeito. 
 Criada em um período de acentuado positivismo jurídico (1853), em que os juízes eram escravos e não interpretes da lei, e cumpriam-se cegamente sem se importar com o conteúdo, a “conditio sine qua non”, calcada em uma lei física (da causa e efeito), acabava por criar uma cadeia de causalidade tamanha que acabava por levar ao chamado “regresso ao infinito”. 
 Observa Günther Jakobs que a aplicação da teoria causal leva a conduta até Adão, Eva e a serpente do paraíso.
 A cadeia infinita de antecedente causal só não leva a responsabilização de todos, em face da ausência de nexo normativo (exclusão de dolo e culpa), imprescindível para a infração penal. 
 Desse modo, os pais só não respondem pelo crime cometido pelo filho, porque não atuaram com dolo ou culpa em relação ao resultado. 
 A parede de contenção do “jus puniendi” reside, portanto, exclusivamente na falta de imputação subjetiva.
 Isto quer dizer que somente não resultam absurdos da “conditio sine qua non”, em face da ausência de dolo e culpa. 
	O problema é que nem sempre se pode postular o socorro para o dolo e a culpa, ou seja, nem sempre neles podemos buscar escape solucionando a questão. 
 Foi a doutrina alemã que se apercebeu do perigo que era ficar dependendo apenas da inexistência do dolo e da culpa para livrar alguém da pecha de ser considerado autor de um fato típico. 
 A razão foi que, na Alemanha, antes da reforma penal de 1953, reconhecia-se a responsabilidade objetiva quando ao evento agravador, nos delitos qualificados pelo resultado, ou seja, o agente respondia ainda que não tivesse causado dolosa ou culposamente. 
 Bastava o nexo causal. 
 Assim, supondo que alguém desse um tapa no rosto da vitima, a qual, por ser portadora de um problema cardíaco por todos desconhecido, vem a falecer de susto. 
 Na Alemanha da primeira metade do século XX, o agressor responderia pela morte, mesmo sem ter atuado com dolo ou culpa em relação a mesma. 
 O dogma da causalidade precisava ser revisto. Depender só da ausência de dolo ou culpa já se mostrava insuficiente e perigoso.
	Nasceu a idéia de limitar o nexo causal, conferindo-lhe um conteúdo jurídico e não meramente naturalístico. 
 A meta principal foi a de reduzir o âmbito de abrangência da equivalência dos antecedentes.
	Na sua fase inicial a imputação objetiva criou as seguintes exigências para a existência do fato típico: 
A) nexo físico, naturalístico, entre a conduta e o resultado (único requisito para a conditio sine qua non); 
B) a conduta deve ser socialmente inadequada, não padronizada, proibida e, por conseguinte, criar um risco proibido para a ocorrência do resultado; 
C) o resultado deve estar dentro do âmbito do risco provocado pela conduta.
	Embora a conduta tenha provocado um risco do qual resultou a lesão ao bem jurídico, tal risco não será de nenhuma relevância para o direito quando for considerado tolerado ou permitido. 
 Somente quando o agente com seu comportamento, criar um risco fora do que a coletividade espera, aceita e de dispõe a tolerar, haverá fato típico. 
 O nexo de causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico, embora possa existir em uma analise meramente física, não será considerado pelo direito penal, como juridicamente relevante por não ter criado uma situação de risco proibido. 
 O problema não esta em criar o risco, pois todos nós vivemos em uma sociedade de riscos. 
 Quando se sai de casa, há um risco de ser atropelado ou assaltado. 
 Os riscos são normais e inerentes ao convívio da coletividade. 
	Só haverá imputação do resultado ao autor do fato se o resultado tiver sido provocado por uma conduta criadora de um risco juridicamente proibido ou se o agente, com seu comportamento, tiver aumentado a situação de risco proibido e, com isso, gerado o resultado. 
 Por outro lado, se a despeito de ter fisicamente contribuído para a produção do resultado, o autor tiver se conduzido de modo a ocasionar uma situação de risco tolerável ou permitido, o resultado não lhe poderá ser imputado. 	
	O risco permitido esta presente em todo contato social, inclusive naquelas situações em que houve boa fé, como adverte Jakobs, citando, o contato corporal, apertar das mãos que pode transmitir uma infecção, o trafego de veículos que pode produzir um acidente.
	Antes de se estabelecer até onde vai a imputação penal pelo resultado, é necessário extrair da sociedade quais são os seus anseios, sendo imprescindível estabelecer o papel social que cada um representa, firmando-se, a partir daí, as responsabilidades individuais. 
 Aquele que concorre para uma lesão, mas apenas cumprindo o papel social que dele se espera, não pode ser incluído na relação causal para fins de aplicação do direito penal. 
	Portanto, a finalidade da imputação objetiva do comportamento é a de considerar penalmente relevantes apenas aquelas condutas que se desviam do papel social que se espera de determinado agente. 
	Risco permitido é aquele que decorre do desempenho normal das condutas de cada um segundo seu papel social, ou seja, o risco derivado de um comportamento

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