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Cultura Religiosa LIVRO

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Cultura Religiosa
Cultura Religiosa
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2017
Douglas Moacir Flor
Paulo Augusto Seifert
Ronaldo Steffen
Thomas Heimann
Paulo Gerhard Pietzsch
Bruno Ronaldo Muller
Rafael Juliano Nerbas
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Geórgia Píppi
Prezado leitor,
A experiência de mais de 26 anos de docência tem mostrado o fascínio dessa disciplina. O começo sempre é difícil. Existe uma resistência 
natural do aluno em estudar os conteúdos. O pré-conceito fica claro quan-
do se define a disciplina como aula de religião. Outros ainda pensam em 
catequese. Mas não será esse o nosso objetivo. Vamos caminhar com cada 
um de vocês no sentido de construir uma reflexão madura sobre a vivência 
e o comportamento religioso das pessoas e a influência que a religião 
exerce sobre o nosso cotidiano.
Você irá encontrar neste livro um panorama das maiores religiões do 
mundo. Notará a pluralidade religiosa e terá uma ideia da riqueza de pen-
samento e valores das religiões estudadas. Também iremos estudar mais 
detalhadamente o cristianismo e a Reforma luterana, pois são movimentos 
que influenciaram diretamente a confessionalidade da Universidade Lutera-
na do Brasil. Por fim, sempre é hora de estudar ética. Particularmente a éti-
ca cristã e os valores que ela pode acrescentar na vida de cada um de nós.
A construção da disciplina é coletiva. Os textos têm a participação de 
professores de Cultura Religiosa. Nas aulas presenciais a troca é maior com 
uma interação entre alunos, mestres e doutores. Na Educação a Distância, 
o aprendizado depende muito da dedicação e do interesse do aluno em 
ler este livro e fazer as atividades propostas na net aula. O que esperamos 
é que você entenda que na vida profissional vai interagir com praticantes 
de muitas religiões aqui citadas. Entendê-los é sempre um primeiro passo 
para o sucesso na carreira.
Prof. Douglas Moacir Flor
Apresentação
 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa ....................................1
 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade: 
um Encontro Possível? .........................................................23
 3 As Religiões Orientais .........................................................48
 4 Judaísmo e Islamismo .........................................................74
 5 Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial .........................105
 6 Cristianismo – História e Expansão ....................................127
 7 A Mensagem Cristã – A Bíblia e Atualidade .......................151
 8 Lutero e as Reformas Religiosas do Sec. XVI.......................171
 9 A Diversidade Religiosa do Brasil ......................................197
 10 O Mundo dos Valores e a Ética Cristã ................................231
Sumário
Fenômeno e a 
Experiência Religiosa1 2 3
1 Mestre em Educação pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), bacharel 
em Teologia pela Escola Superior de Teologia do Seminário Concórdia (RS) e em 
Jornalismo pela Universidade Do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS). Professor da 
Disciplina de Cultura Religiosa na ULBRA. 
2 Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
(PUCRS) e bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia do Seminário 
Concórdia (RS) e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
UFRGS).
3 Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia do Seminário Concórdia (RS).
Douglas Moacir Flor1
Paulo Augusto Seifert2
Ronaldo Steffen3
Capítulo 1
2 Cultura Religiosa
Introdução
O título do capítulo nos traz duas afirmativas: Religião é um 
Fenômeno e está repleta de experiências, dos mais variados 
tipos. Vamos entrar em um mundo fascinante, apesar da con-
testação de alguns. É que a história da humanidade se funde 
com a história da religião. Tínhamos em um dos livros um 
título com “a experiência do sagrado”. Sagrado vem do latim 
sacratu, referindo-se a algo que merece veneração ou respei-
to religioso por ter associação com uma divindade ou com 
objetos considerados divinos. Mostra que mesmo não sendo 
religiosos, precisamos respeitar o que para outros grupos é 
importante, essencial.
Religião aqui é o nosso objeto de estudo, mesmo que al-
guns não consigam fazer as devidas associações. Mas a ver-
dade é que a nossa vida profissional vai se fundir com seres 
humanos carregados de “sentimentos” religiosos e será útil se 
entendermos como pensam, o que sentem e como agem essas 
pessoas. Vamos fazer uma análise com a devida isenção. Nós, 
que escrevemos este livro, somos professores e pesquisadores, 
mas também somos religiosos, pertencemos a uma denomina-
ção cristã. Isso não impede que passemos um conteúdo livre 
dos nossos próprios sentimentos. Lembro o que disse Jostein 
Gaarder quando escreveu “O livro das Religiões”:
Isto não quer dizer que um estudioso das religiões não 
possa ser religioso. O escritor italiano Umberto Eco, fa-
lando das relações entre os estudos de literatura compa-
rada e a própria literatura, faz a seguinte observação: “ 
Até os ginecologistas podem se apaixonar”. O impor-
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 3
tante é não deixar que durante a pesquisa as crenças e 
os sentimentos pessoais influenciem o material que está 
sendo estudado. Este distanciamento permite ao pes-
quisador divulgar informações sobre a religião que são 
valiosas tanto para o indivíduo com para a sociedade. 
(2004, p. 13)
Você já deve ter passado por alguma experiência Religiosa. 
Se não passou, alguém ao seu lado já deve ter contado algo 
que o levou a refletir sobre o assun to. Neste capítulo vamos 
ver que a experiência religiosa é mais rica do que se imagina 
e é universal. Assim, vamos fazer uma análise de alguns argu-
mentos que podem nos motivar a pesquisar o tema religião. 
O fato é que devemos nos despojar de qualquer preconceito 
que possa fazer parte da nossa bagagem de conhecimento, já 
que entendemos o que lemos a partir do que já sabemos e já 
vivenciamos.
1.1 A Experiência Religiosa
A religião tem estado presente no cotidia no através de diferen-
tes manifestações. Pode-se, sem entrar em detalhes por ora, 
mencionar algumas áreas, alguns eventos e algumas práti-
cas pessoais e sociais marcadas por ideias, ritos e símbolos 
consagrados ao campo religioso. Vamos utilizar aqui alguns 
pontos trabalha dos pelo colega Ronaldo Steffen, estudioso do 
assunto, professor de Cultura Religiosa, publica do no site da 
Universidade.
4 Cultura Religiosa
De uma forma bem simples, podemos repor tar o leitor a 
algumas práticas familiares ligadas à tradição religiosa como 
o casamento, batismo, morte e velamento. São cerimônias re-
ligiosas tão tradicionais, que muitas pessoas, sem que se deem 
conta, se envolvem. O que dizer de pessoas doentes ou com 
problemas mais sérios que bus cam ajuda divina como alterna-
tiva para a cura?
No esporte estamos acostumados, marcada mente no fu-
tebol, com a cena de uma oração con junta antes da entrada 
no campo. Numa decisão por pênalti, por exemplo, é comum 
a imagem de jogadores ajoelhados, rezandoou beijando sua 
santinha.
No campo musical não são raras as menções que se faz a 
personagens religiosos e até mesmo a sentimentos de ordem 
religiosa; no campo das artes somos conduzidos a milhares de 
imagens notadamente carregadas de simbolismo religioso dos 
mais diversos matizes. A literatura não tem deixado por menos 
e tem sido o mercado que mais cresce em termos de editoria 
nos últimos anos. O cinema tem sido pródigo nas temáticas 
de ordem religiosa. As novelas, fenômeno bra sileiro que ga-
nha o mundo, jamais têm deixado de lado alguma alusão, 
personagem e até mesmo a temática central ligados a fatos 
eminentemente religiosos.
A nossa alimentação está em grande parte determinada 
por elementos de ordem religiosa; o modo de expressar nossas 
ideias através da lin guagem é, igualmente, em grande parte 
determi nada por formas religiosas. O turismo religioso é hoje 
um grande vilão na arrecadação de divi sas para um municí-
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 5
pio. Na Europa, em cada cidade que visitamos, encontramos 
várias igrejas ou templos religiosos de rara beleza.
A educação é fortemente marcada pelos valores que ela 
prega, quase sem pre idênticos aos valores de ordem religiosa. 
A área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte foi e 
ainda é construída com suporte religioso. Nosso calendário, 
suas datas festivas e grandes eventos têm sua origem no meio 
eclesiástico. As diversas áreas do conhecimento humano, de 
uma ou de outra maneira, têm-se ocupado com a te mática 
religiosa, como a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, a An-
tropologia, a História, a Medi cina, a Física, a Arqueologia, a 
Geografia e assim por diante.
Apesar das diferentes atitudes de repulsa que caracterizam 
a negação dos elementos religiosos, as menções apontam 
para o fato do ser humano buscar ligar-se ao Transcendente 
como se mantivesse uma ligação umbilical da qual retira os 
elementos vitais para a sua existência.
A questão que se coloca é a de como compreender essas 
ligações. Qual é o fundamento capaz de sustentar uma ava-
liação compreensiva da junção ser humano - Transcendente? 
Há muitas possibilidades viáveis, tanto a partir das diferentes 
perspectivas e entendimentos religiosos quanto de escolas de 
reflexão filosófica.
Além disso, importa considerar a relação que há, ou pode 
haver, entre a religião e as manifestações importantes do es-
pírito humano. A título de introdução, consideremos como se 
relacionam religião e filosofia, religião e ciência, religião e 
moral, religião e teologia.
6 Cultura Religiosa
1.2 Religião e Filosofia
O que tem a filosofia a ver com a religião? Essa é uma per-
gunta importante e cuja resposta não é óbvia ou simples. Ao 
longo da história do pensamento humano, vemos cooperação 
e competição entre ambas. Em certo sentido, a cooperação 
e a competição pressupõem a mesma concepção: a de que 
compete à razão filosófica provar a veracidade das ideias reli-
giosas. Ou, dito de outra maneira, que compete à razão filo-
sófica determinar se religião e superstição são a mesma coisa 
ou se são coisas distintas e separáveis.
Posta a questão dessa maneira, temos duas respostas pos-
síveis: ou a filosofia apresenta provas de que a religião é ver-
dadeira ou a filosofia apresenta provas de que a religião não 
é verdadeira. Se for o primeiro caso, dizemos que há, entre 
ambas, cooperação; se for o segundo, que há competição. 
Quando se fala em provas, significa que qualquer pessoa ra-
cional deve concordar com o argumento, mesmo que não seja 
um argumento demonstrativo ao estilo da matemática, cujos 
cálculos, se bem feitos, dão um único resultado e o sujeito 
que não percebe ou não concorda com o resultado é incapaz 
(um exemplo simples: 3 x 3 = 9, não faria nenhum sentido 
alguém dizer: “Para você; para mim é 8”).
O argumento deveria ser cognitivamente convincente. 
Aquele que não concorda com a conclusão, ou não compre-
ende o argumento, ou está agindo de má-fé.
Onde, porém, buscar tais provas? Historicamente, elas têm 
sido buscadas no raciocínio abstrato, na análise e comparação 
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 7
de ideias, na experiência sensorial, no senso comum, nas ex-
plicações científicas, no sentimento moral. Podemos partir de 
elementos geralmente aceitos e, se for o caso, de verdades evi-
dentes ou necessárias (que não podem ser negadas). É possível 
aplicar as regras básicas do raciocínio lógico, seja dedutivo ou 
indutivo, alcançando-se uma conclusão. Tal como se faz nos 
raciocínios comuns ou nos científicos. Se o propósito é mostrar 
que a filosofia justifica a religião e prova a existência de Deus 
(ou da realidade última), temos os argumentos ontológicos, te-
leológicos, cosmológicos, morais. Se o propósito é mostrar que 
a filosofia refuta a religião e prova que Deus não existe, temos 
os argumentos do mal, os argumentos evidencialistas etc.
Exemplo do primeiro tipo: observamos que a natureza exibe 
ordem e finalidade como se fosse, por exemplo, uma grande 
máquina na qual as partes se ajustam umas às outras perfeita-
mente, de forma a fazer o todo funcionar. Na nossa experiên-
cia, sempre que há ordem e finalidade em algo, tal objeto foi 
pensado e realizado por uma mente inteligente. Logo, a ordem 
e finalidade que observamos no Universo indicam a existência 
de um criador inteligente. Esse se chama Deus. Logo, Deus 
existe. Exemplo do segundo tipo: observamos que há muitos e 
diversos males no Universo. Se Deus fosse bom, ele desejaria 
eliminar todo o mal; se fosse onipotente, ele o faria. Como o 
mal existe, Deus não é onipotente ou não é bom, ou ambos. 
Como a religião afirma que Deus é bom e onipotente, logo 
Deus não existe.
Mesmo aceitando que essa é a tarefa da filosofia, isso não 
quer dizer que o filósofo acredita que é assim que as pessoas 
aceitam ou recusam uma religião, com base em argumentos. 
8 Cultura Religiosa
As religiões seguem seu caminho independentemente disso, e 
a preocupação com argumentos justificadores é, quando mui-
to, secundária. Mas os argumentos mostrariam se as pessoas 
são racionais na sua crença. Por outro lado, pode ser que 
o pressuposto básico esteja errado e não compete à filosofia 
fundamentar ou provar a verdade das crenças religiosas bá-
sicas. A tarefa da filosofia, em relação à religião, seria mais 
modesta. Atualmente, muitos filósofos, tendo em vista o de-
senvolvimento histórico das explicações filosóficas, julgam que 
a filosofia pode ajudar a melhor compreender as ideias reli-
giosas e auxiliar as religiões a se livrarem de alguns elemen-
tos supersticiosos indevidamente acrescentados à fé básica, 
especialmente aqueles relacionados a confusões conceituais 
derivadas de um uso inadequado da linguagem ou à com-
preensão equivocada das teorias e hipóteses científicas, ou a 
preconceitos de natureza não religiosa. Essa abordagem vem 
mostrando-se mais produtiva do que as outras duas opções.
1.3 Religião e Ciência
E quanto à relação entre religião e ciência? Na maioria das 
vezes, quando isso é discutido, por ciência entendem-se as 
ciências naturais, como física, química, biologia. Há quem jul-
gue que certas teorias científicas estão em direta contradição 
com a crença religiosa. Um exemplo contemporâneo pode 
ser encontrado na discussão entre evolucionismo e a teoria 
do desígnio inteligente, ou criacionismo. Se olharmos para o 
passado, este era o juízo feito por alguns acerca da relação 
entre heliocentrismo e o relato bíblico cristão sobre a criação 
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 9
e o papel do ser humano nela. Críticos religiosos do heliocen-
trismo, à época, julgavam que a teoria geocêntrica era, essa 
sim, compatível com a crença cristã, enquanto sua alternativa, 
incompatível. Hoje, nem mesmo grupos fundamentalistas per-
cebemuma contradição, e muito menos as igrejas tradicionais 
ou os cientistas ateus ou agnósticos.
A situação com o evolucionismo é, sem dúvida, um pouco 
mais complicada. Pode-se, no entanto, dizer que isso se deve 
em boa parte às consequências filosóficas, morais, teológicas 
extraídas por alguns de seus defensores. Se esse tipo de argu-
mento for legítimo, há um conflito. Por outro lado, também pa-
rece que esse conflito é alimentado por uma interpretação lite-
ralista em demasia dos textos sagrados. Isso indica depender o 
conflito de certas concepções do alcance das teorias científicas 
(concepções essas que não são científicas no mesmo sentido 
em que o são as teorias) e de concepções hermenêuticas acer-
ca de como deve ser entendida a revelação.
Veremos um pouco mais dessa relação entre ciência e re-
ligião no próximo capítulo. Passamos agora a analisar a rela-
ção entre religião e moral.
1.4 Religião e Moral
Algo que chama a atenção de quem participa ou observa as 
religiões é a íntima conexão dessas com a moral. Muitos pro-
cedimentos e discursos religiosos (praticados no âmbito das 
religiões organizadas, especialmente) parecem consistir em 
10 Cultura Religiosa
admoestações para que as pessoas corrijam seu modo de vida 
e passem a agir de acordo com códigos morais mais estri-
tos, que não se restringem a proibir determinados atos, mas 
também exigem do crente ações positivas de auxílio aos do-
entes, aos necessitados, por exemplo. Mesmo que haja dife-
rença (embora não tão acentuada) entre os códigos morais 
professados por diferentes religiões, não há como afirmar que 
essa relação seja meramente circunstancial, como parece ser 
o caso da relação entre ciência (especialmente as chamadas 
ciências naturais) e moral. Como podemos explicar essa co-
nexão íntima?
Uma proposta de explicação procura reduzir a religião à 
moral. Isso significa dizer que o significado essencial da re-
ligião se encontra na moralidade. A religião consistiria em 
uma forma disfarçada ou mais eficiente de induzir as pessoas 
a um comportamento ético desejável. Alguns pensadores su-
geriram que há uma similaridade entre o papel das religiões 
e o ensinamento moral de uma criança. Assim como se faz 
necessário, por vezes, ensinar bons modos a uma criança na 
base de punições ou estórias fantasiosas, há pessoas (e são 
elas muitas) que precisam receber as ideias morais acompa-
nhadas de alguma estória cósmica ou divina. Caso contrário, 
não compreenderão e não se submeterão à norma moral. Mas 
uma vez que se tornam maduras e autônomas, percebem que 
a moral se mantém por si mesma. Podem, então, abandonar 
a religião.
Esse tipo de explicação pressupõe a falsidade das estórias 
e/ou ideias religiosas. Se aceita por alguém, essa pessoa dei-
xa de ser, em um sentido mais forte, religiosa. Esse resultado 
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 11
não quer dizer que a explicação esteja equivocada. Contudo, 
podem ser mencionadas outras objeções que mostrariam a 
inadequação de tal hipótese. Primeiro, não faz jus ao fenô-
meno religioso. Mesmo que a moral seja parte integrante das 
religiões, não é tida como única, nem como a principal. Ou-
tros elementos importantes são a estética, os ritos, os mistérios, 
a ação de Deus na história (no caso das religiões teístas). E, 
prestando atenção ao discurso religioso como tal, o que pare-
ce ser o mais importante está naquilo que se poderia chamar 
de “realidade última”, o verdadeiro por trás das aparências, 
o efetivamente real, o fundamento de tudo que existe (vamos 
chamar isso de “o elemento metafísico”). Por exemplo, no cris-
tianismo considera-se como o mais importante saber quem 
é Deus, quais seus atributos, qual sua relação conosco. Se o 
Deus cristão fosse apenas um princípio moral, ou o princípio 
do bem, o cristianismo perderia muito de seu sentido. Mesmo 
que alguém julgue ser o cristianismo, em última análise, falso, 
dizer que sua essência é a moralidade constitui uma simpli-
ficação grosseira; além disso, para dizer que o cristianismo 
é falso, é preciso supor a seriedade do elemento metafísico. 
Acrescente-se ainda que uma crítica feita constantemente por 
pessoas que consideram os relatos religiosos como fantasia, 
refere-se à crueldade e violência que as religiões exibem, ao 
terror mental que exercem sobre os crentes, a sua intolerância. 
Se tal crítica faz sentido, é justamente porque a conexão en-
tre moral e religião não pode ser adequadamente explicada 
como se a essência da religião fosse a moral.
Outra explicação, e favorecida pelos religiosos, está em 
que o elemento metafísico provê o fundamento da moral. A 
moral depende da religião e lhe dá o suporte real de que ela 
12 Cultura Religiosa
necessita. Como a moral não é descritiva, mas normativa, diz 
como devemos agir ou que hábitos virtuosos devemos cultivar, 
não seria ela capaz de responder à questão sobre sua pró-
pria validade. Se alguém pergunta por que deve ser moral, 
é preciso apontar para algo fora da moral, para a realidade, 
para as coisas como elas realmente são. Devemos ser morais 
porque assim é o mundo. Por exemplo, o cristão deve observar 
o decálogo porque Deus assim o quer, ou porque Deus criou 
o mundo de tal forma que a inobservância dos princípios e 
regras morais afeta e perverte toda a natureza.
Mas há outra alternativa para compreender a relação en-
tre moral e religião pela qual nenhuma delas serve de razão 
ou fundamento da outra, embora permaneçam intimamente 
ligadas. A religião não é uma forma mítica de impor regras 
morais, nem necessita a moral de um fundamento religioso; 
ambas são autônomas, sem que isso implique qualquer moral 
ser compatível com qualquer religião.
1.5 Religião e Teologia
Muitas vezes, os termos teologia e religião são considerados 
como sinônimos. Contudo, convém distingui-los para melhor 
compreender o fenômeno religioso. Teologia é um termo gre-
go e significa “conhecimento sobre Deus”. Hoje em dia é co-
mum a distinção entre teologia natural e teologia revelada. 
Teologia natural refere-se àquele conhecimento sobre Deus 
que se baseia na experiência comum quando, por exemplo, 
observamos o mundo ou quando consideramos nossos senti-
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 13
mentos internos e na racionalidade, enquanto teologia revela-
da, refere-se àquele conhecimento sobre Deus que se baseia 
em alguma manifestação direta da divindade. E no que isso 
difere de religião?
A diferenciação pode ser especialmente útil para aquelas 
religiões que têm um texto sagrado e/ou uma tradição consi-
derada normativa. Assim, religião consistiria no conjunto de 
verdades reveladas (p. ex., no cristianismo, que Deus é triúno, 
que Jesus é Deus encarnado) de forma clara e não simbólica, 
enquanto teologia significaria a reflexão organizada e sistema-
tizada da revelação. Além disso, haveria os ritos e modos de 
vida eclesial (de igreja, ou religião organizada). Assim, poder-
-se-ia manter um núcleo fixo e uma concepção progressiva da 
experiência e reflexão religiosas consideradas, então, como te-
ologia. A religião não muda, mas a teologia sim, especialmen-
te no que se refere a suas relações com a ciência e a cultura.
1.6 A Palavra Religião
Etimologicamente, o termo Religião surge na história da hu-
manidade através dos autores clássicos como Cícero, Lactân-
cio e Agostinho, respectivamente, nas palavras re-legere, que 
sig nifica reler; re-ligare, que significa religar e re-eligere, que 
significa reeleger. Todos os conceitos nos dão a ideia de voltar 
a uma situação anterior, ou seja, ligar novamente a criatura 
com o criador. É exatamente esta tentativa de religar com o 
Ser Superior, através de um conjunto de crenças, nor mas, ritos 
14 Cultura Religiosa
ou costumes, que dá origem às diver sas religiões o fenômeno 
religioso propriamentedito. (KUCHENBECKER, 2000)
Apesar de seguidamente ouvir-se que reli gião é coisa do 
passado, as menções acima indi cam uma direção contrária. 
Estão apontando para o fato de que o ser humano preocupa-
-se com o di vino, aqui entendido no sentido daquilo que ocu-
pa lugar de destaque ou o primeiro lugar na vida.
1.7 Conhecimento Religioso
Ainda tentando responder o que é religião, podemos dizer que 
religião é um batismo numa igreja cristã; é um ritual sagrado 
nas águas do Rio Ganges; é a adoração num templo budista; 
pode ser um muçulmano ajoelhado e orando para o Alá, ou 
os mesmos devotos do Islã peregrinan do a Meca. Pode ser um 
Judeu diante do Muro das lamentações em Jerusalém. São 
tantas as menções que seria impossível citar todas.
O que pretendemos fazer é ligar os fatos. As ciências da 
religião procuram responder o que as atividades citadas aci-
ma têm em comum. Nós procuramos, como pesquisadores, 
investigar os rituais de uma perspectiva externa. Buscamos se-
melhanças e diferenças. Queremos entender como se dá o 
processo historicamente e o que isso representa para socieda-
de hoje.
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 15
1.8 Por Que Estudar Religião?
Dependendo da experiência de cada um, as respostas serão 
diferentes. Talvez você seja um religioso e não precise de tan-
tas explicações, mas, com certeza, muitas pessoas não se liga-
ram para a importância do assunto.
Jostein Gaarder, em O Livro das Re ligiões, nos ajuda a 
responder a pergunta acima:
Um rápido olhar para o mundo ao redor mostra que a reli-
gião desempenha um papel bastante significativo na vida 
so cial e política de todas as partes do globo. Ouvimos 
falar de católicos e protestantes em conflito na Irlanda do 
Norte, cristão contra muçulmanos nos Balcãs, atrito entre 
muçulmanos e hinduístas na Índia, guerra entre hinduístas 
e budistas no Sri Lanka. Nos Estados Unidos e no Japão 
há seitas religiosas extremistas que já prati caram atos de 
terrorismo. Ao mesmo tem po, representantes de diver-
sas religiões promovem ajuda humanitária aos pobres e 
destituídos do terceiro mundo. É difícil adquirir uma com-
preensão adequada da política internacional sem que se 
esteja consciente do fator religião. (2004, p. 14)
Além disso, explica Gaarder, um conheci mento religioso 
também pode ser útil num mun do que se torna cada vez mais 
multicultural. Ain da mais quando falamos em globalização, 
apesar de que o termo deve ser usado com cuidado. Muitos 
de nós viajamos pelo Brasil ou mesmo ao exterior, entrando 
em contato com as diver sas culturas religiosas. Estes povos 
têm costumes diferentes que devem ser respeitados pelos seus 
16 Cultura Religiosa
visitantes. Se uma mulher estiver num país mu çulmano, por 
exemplo, terá que observar o tipo de roupa que usará nas 
ruas. É claro que não pre cisará andar com uma Burca, mas 
terá que cobrir seu corpo com roupas decentes.
Finalmente, acreditamos que o estudo das religiões pode 
ser importante para o desenvolvi mento pessoal do indivíduo. 
As religiões podem responder várias das perguntas existenciais 
que fazemos como: de onde viemos, o que somos e para onde 
iremos.
1.9 Tolerância Religiosa
Entramos em um debate chave do nosso estudo e para uma 
solução dos conflitos religiosos no mundo. Vivemos em um 
país onde a escolha religiosa é livre. Cada um tem o direito 
a escolher uma fé, uma crença, uma comunidade religiosa. 
Para compreender melhor o conceito de tolerância, usamos 
um texto de Gaarder:
Este é um dos pontos mais importantes na nossa cami-
nhada. Tolerância é o respeito pelas pessoas que pos-
suem diferentes pontos de vista em relação à religião. 
Não significa que precisa mos concordar com tudo o que 
as outras religiões praticam e seguir os mesmos rituais. 
Cada um tem o direito de seguir aquilo que é melhor 
para si, pode ter uma fé sólida. Mas a tolerância não 
é compatível com atitudes como zombar das opi niões 
alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A Tolerân-
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 17
cia não limita o direito de fazer propa ganda, mas exige 
que esta seja feita com respeito pela opinião dos outros. 
(2004, p. 14)
O respeito pela vida religiosa dos outros, pelas suas 
opiniões e pontos de vista é um pré-requisito para a nossa aula 
de Cultura Religiosa. Sem isso, é impossível começar, pois:
Com frequência, a intolerância é re sultado do conheci-
mento insuficiente de um assunto. Quem vê de fora uma 
religião, enxerga apenas as suas manifestações, e não 
o que elas significam para o indivíduo que a professa. 
(2004, p. 15)
1.10 Sincretismo Religioso
No Brasil é muito interessante falar sobre religião. Isso por-
que temos aqui uma pluralidade religiosa muito vasta. Além 
disso, encontra mos o que chamamos de Sincretismo Religio-
so. Isso acontece quando misturamos elementos de várias re-
ligiões numa só. Sincretismo é o ter mo que os historiadores 
denominam de fusão ou interpenetrações de religiões, ritos, 
crenças e personagens cultuais. Os cultos afro-brasileiros são 
um exemplo comprovado de sincretismo re ligioso. Queremos 
mostrar como isso acontece através da fala de um persona-
gem sertanejo do passado: Riobaldo Tatarana do Grande Ser-
tão: Veredas:
“Hem? Hem? O que mais penso, texto e explico: todo-
-o-mundo é louco. O senhor, eu, as pessoas todas. Por 
18 Cultura Religiosa
isso é que se carece principalmente de re ligião: para se 
desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. 
No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita reli-
gião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. 
Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, 
para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, 
ca tólico, embrenho a certo; aceito as preces de compa-
dre meu Que lemém, doutrina dele, de Car déque. Mas, 
quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é 
crente, metodista: a gente se acu sa de pecador, lê alto a 
Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quie-
ta, me suspende. Qualquer sombrinha me refres ca. Mas 
é só muito provisório. Eu queria rezar – o tempo todo. 
Mui ta gente não me aprova, acham que lei de Deus é 
privilégios, in variável. E eu! Bofe! Detesto! O que sou? – 
o que faço, que quero, muito curial. E em cara de todos 
faço, executado. Eu? – não tres malho!
Olhe: tem uma preta, Maria Leôncia, longe daqui não 
mora, as rezas dela afamam muita vir tude de poder. Pois 
a ela pago, todo mês – encomenda de rezar por mim 
um terço, todo santo dia, e, nos domingos, um rosário. 
Vale, se vale. Minha mulher não vê mal nisso. E estou, já 
mandei recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina 
Calanga, para vir aqui, ouvi de que reza também com 
grandes meremerências, vou efetuar com ela trato igual. 
Que ro punhado dessas, me defendo em Deus, reunidas 
de mim em volta... Chagas de Cristo! (1994)
JOÃO GUIMARÃES ROSA
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 19
Quem sabe você conhece alguém que se identifica com 
esta personagem. É comum a gente encontrar situações como 
essa. Nas aulas de Cultura Religiosa, quando perguntamos se 
nossos alunos têm alguma religião, muitos respondem: Sou 
Católico Apostólico Romano, não praticante. Isso significa que 
eles são católicos por tradição, mas não vão à igreja aos do-
mingos. Muitos são católicos, mas não deixam de ir ao terreiro 
ou ao Centro Espírita.
Recapitulando
Não vamos escrever um texto para convencer o nosso aluno 
que é importante ter uma religião. Nossa intenção é motivar 
a reflexão de cada um num assunto que irá frequentemente 
fazer parte das nossas conversas e relações. Todo profissional 
vai lidar com os mais variados tipos de pessoas. Muitas dessas 
agem pelos seus valores religiosos, por suas crenças. Portan-
to, é importante conhecer esses comportamentos e, acima de 
tudo, respeitara maneira como cada pessoa pensa. Conhecer 
as religiões nos ajuda a ampliar nossos próprios horizontes. 
Podemos tirar muitas coisas boas do comportamento alheio e 
aprender com essa diversidade religiosa.
Sem dúvida essas grandes religiões do mundo são de uma 
riqueza impressionante. Todas elas estão fundamentadas num 
período predominante de guerras e violência. Essas religiões 
surgem com a capacidade de grandes homens em buscar o 
caminho para a paz. Portanto, os valores de cada uma são 
interessantes para pensarmos o nosso mundo hoje. Existem ca-
20 Cultura Religiosa
minhos possíveis para um mundo melhor. Essas religiões mos-
tram isto. É claro que alguns povos ainda continuam na sua 
miséria, mas também movidos por alguns conceitos difíceis de 
serem mudados.
Referências
CATÃO, Francisco. O fenômeno religioso. São Paulo: Ed. 
Letras e Letras, 1995.
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro 
das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
KUCHENBECKER, Walter (org.). O Homem e o Sagra-
do. 5. ed. Canoas: Ed. da ULBRA, 1999.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 1994. 
Atividades
 1) A presente questão diz respeito ao Fenômeno Religioso. 
Sendo assim, assinale a única alternativa que é FALSA.
a) A Religião tem estado presente no cotidiano através de 
diferentes manifestações, como na música, por exem-
plo.
Capítulo 1 Fenômeno e a Experiência Religiosa 21
b) A nossa alimentação está, em grande parte, determi-
nada por elementos de ordem religiosa.
c) O turismo no mundo não tem nenhuma relação com 
a religião. Não existem cidades com referência religio-
sas para movimentar este mercado.
d) Na área da saúde, o trato com a dor, a vida e a morte 
foi e ainda é construído com o suporte religioso.
e) Nosso calendário, suas datas festivas e grandes even-
tos, tem sua origem no meio eclesiástico.
 2) A presente questão diz respeito à Religião e Filosofia. Leia 
com atenção os enunciados abaixo e assinale as alternati-
vas cujas afirmativas sejam VERDADEIRAS no seu conteú-
do.
a) A Filosofia pode ajudar a religião a melhor compreen-
der as ideias religiosas e auxiliar a religião a se livrar 
de alguns elementos supersticiosos.
b) Não existe nenhuma relação entre religião e filosofia. 
As matérias são totalmente desconexas e vão de en-
contro uma com a outra.
c) A religião isola a filosofia de suas discussões, pois a 
razão inviabiliza a fé. Seria impossível ser filósofo e 
religioso ao mesmo tempo.
d) Argumentos filosóficos são importantes para a reli-
gião, pois mostram se as pessoas são racionais na sua 
crença.
22 Cultura Religiosa
e) Em nenhum momento da história do pensamento hu-
mano houve qualquer tipo de competição entre reli-
gião e filosofia.
 3) O tema da presente questão trata de Tolerância Religiosa. 
Apenas uma das alternativas abaixo possui um enunciado 
VERDADEIRO.
a) Tolerância é o respeito pelas pessoas que possuem di-
ferentes pontos de vista em relação à religião.
b) Em um mundo com tanta diversidade religiosa é im-
possível ter tolerância, pois todas as religiões concor-
rem entre si.
c) Tolerância não é interessante às religiões porque limita 
o direito de fazer propaganda, ponto crucial para o 
crescimento de uma comunidade.
d) Nos tornamos intolerantes à medida que vamos co-
nhecendo mais a história das grandes religiões e a for-
ma como elas se constituem.
e) No Brasil, nossa constituição diz que todos devem ser 
católicos. Por isso, é impossível ser tolerante àqueles 
que não respeitam as leis.
 4) A tolerância religiosa é um dos pontos cruciais para esta-
belecer a paz entre as religiões. Justifique essa afirmativa.
 5) Defina Sincretismo Religioso com alguns exemplos do seu 
dia a dia.
????????
Capítulo ?
Religião e Ciência, 
Saúde e Espiritualidade: 
um Encontro Possível?1
Religião e Ciência, Saúde e 
Espiritualidade...
1 Doutor em Teologia. Coordenador do Curso de Teologia da ULBRA. Professor de 
Teologia na área da Psicologia e Aconselhamento Pastoral. Professor do Curso de 
Pós-Graduação em Gestão de Pessoas. Membro do Grupo de Pesquisa em Acon-
selhamento e Psicologia Pastoral da Faculdade EST. Pastor da Igreja Evangélica 
Luterana do Brasil – IELB. Psicólogo clínico.
Thomas Heimann1
Capítulo 2
24 Cultura Religiosa
Introdução
Uma das áreas mais frutíferas em termos de pesquisas na atu-
alidade tem sido a relação interdisciplinar entre fé e saúde, 
medicina e espiritualidade, que colocam lado a lado o campo 
da religião e o campo da ciência. Mesmo que essa relação 
entre saúde e espiritualidade seja muito antiga – em inúmeras 
culturas a doença e a cura eram experiências que ficavam ao 
encargo dos sacerdotes, dos pajés e dos xamãs –, nos dias de 
hoje muito se tem discutido acerca das interfaces e também 
limites de cada uma das duas áreas. Apesar de haver inúmeras 
correntes que veem aí oposição total, uma tensão constante 
ou uma crítica mútua, outras correntes procuram caminhar no 
sentido de propor uma perspectiva convergente, dialógica e 
até integralista de ambas as áreas, sem desrespeitar as especi-
ficidades de cada uma delas.
Neste capítulo vamos tentar demonstrar que há um cami-
nho possível de entendimento e diálogo, que só tem a contri-
buir para uma compreensão mais profunda e profícua desse 
tema, que pode conduzir a um melhor cuidado dos indivíduos, 
numa perspectiva integral e holística do ser humano.
2.1 Ciência e religião: palco histórico de 
batalhas
Conforme afirma Harrison, os conceitos “ciência e “religião” 
são ambos produtos da modernidade. O termo Religião re-
cebeu seu sentido atual no século XVII, ao passo que o termo 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 25
ciência apenas durante o século XIX. Um entendimento dos 
processos históricos e sociais que levaram à formação das ca-
tegorias duais de “ciência” e religião” é vital para qualquer 
avaliação de suas relações contemporâneas. Harrison quer di-
zer com isso que a relação que havia entre “ciência e religião” 
antes do século XIX não deve ser vista na perspectiva das atuais 
categorias da ciência moderna, tal como afirma:
Tão inextricavelmente conectados eram os conceitos 
duais de Deus e natureza que é enganoso tentar identi-
ficar vários tipos de relacionamentos entre ciência e re-
ligião no século XVII e XVIII. “Ciência” e “religião” não 
eram entidades independentes que podiam sustentar 
alguma relação positiva ou negativa entre si, e tentar 
identificar tais conexões é projetar para o passado um 
conjunto de preocupações que são tipicamente de nossa 
própria época. (2007)
Mesmo que houvesse uma certa indiferenciação entre ciên-
cia e religião, o que pode ser afirmado é que a Religião, por 
um longo período da história, deteve o controle quase total e 
absoluto de toda a produção de conhecimento. Ao longo dos 
séculos a Igreja abrigou em seus mosteiros e conventos inúme-
ros cientistas e pesquisadores. Não que a igreja fosse a única 
fomentadora ou guardiã do conhecimento, mas era normal-
mente através dela que o conhecimento produzido era filtrado 
e transmitido à sociedade. Havia, assim, um claro cerceamen-
to de tudo aquilo que pudesse colocar em risco as convicções, 
crenças e dogmas da religião dominante.
26 Cultura Religiosa
Com relação a esse assunto Azevedo (2013), numa con-
cepção um pouco diferenciada de Harrison, afirma:
Foi no grosso caldo da cultura hebraico-cristã, preva-
lente nos séculos XVI e XVII, que a ciência moderna foi 
concebida. Descartes (1596-1650), um dos promotores 
do pensamento científico moderno, permitia que sua fé 
se fizesse presente em seus escritos científicos, declaran-
do sua crença em Deus e na inspiração divina para seu 
trabalho (DESCARTES, 2009). Soberana em seupoder, 
a igreja católica romana incluía sob seu domínio os 
ensinamentos de ciência. Pressentindo o poder prediti-
vo das hipóteses científicas, a igreja relutou em acatar 
“profecias científicas”. Embora viesse mais tarde a reco-
nhecer-se equivocada, tanto na condenação de Galileu 
(1564-1642) como na resistência à teoria darwiniana 
da evolução (HESS, 2003; HEWLETT, 2003), esses fa-
tos tornaram-se de conhecimento geral e profundamente 
estudados. Todavia, no caso Galileu, mais importante 
que a troca de lugar da terra com o sol foi a mudança 
de paradigma na forma de produção do conhecimento. 
Para estudiosos do tema, Galileu passou da observação 
à elaboração de modelos teóricos. Explicar com modelos 
era privativo da igreja, e não dos pesquisadores. Assim, 
não foi a “mudança da teoria da natureza” que gerou o 
conflito com Galileu, mas a mudança “na natureza da 
teoria” (BARBOUR, 2004). Atualmente, os próprios teó-
logos trabalham com a elaboração de modelos teóricos 
na interface ciência e religião. (MURPHY, 2003) 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 27
Um elemento importante apontado por Harrison é de que 
nessa análise da relação normativa entre ciência e religião 
precisa-se admitir a pluralidade das ciências, ou seja, há di-
ferentes ciências e cada uma possui sua própria história, mé-
todos e hipóteses, sendo que cada uma estabeleceu um rela-
cionamento diferente com a religião dominante. Um exemplo 
disso seriam as ciências biológicas, que marcaram um movi-
mento de rompimento entre as duas áreas, tal como afirma o 
autor:
A transformação da história natural na “biologia” cien-
tífica foi uma parte vital desse processo. Uma vez que 
a história natural tinha sido tradicionalmente dominada 
pelo clero, as novas disciplinas científicas de biologia e 
geologia gradualmente alcançaram independência da 
influência clerical enquanto, ao mesmo tempo, legitima-
ram um novo conjunto de autoridades não eclesiásticas. 
(HARRISON, 2007)
Nesse sentido, como continua o autor, o século XIX viu o 
bastão de autoridade passar daqueles que possuíam cargos 
religiosos para a nova geração de cientistas. Ao citar uma fra-
se do historiador A. W. Benn, Harisson (2007) diz que “uma 
grande parte da reverência uma vez dada aos padres e às suas 
histórias de um universo não visível, foi transferida ao astrôno-
mo, ao geólogo, ao físico, ao engenheiro”.
Saltando para os tempos modernos, verificamos que há, 
atualmente, várias tipologias que procuram estabelecer mode-
los de interação entre ciência e religião. Uma das mais utili-
zadas é a do físico Ian Barbour (2003), que estabelece quatro 
28 Cultura Religiosa
modelos de relação. O primeiro é de conflito, marcada pela 
discordância explícita entre literalistas bíblicos e ateus, que 
agem como se fossem inimigos, atacando-se mutuamente. O 
segundo é a de independência, que admite a existência e 
ação mútua de cada área, desde que cada uma mantenha 
a devida distância da outra. Cada uma deve saber que cum-
pre papeis diferentes para o ser humano, não devendo uma 
interferir na outra. Alguns chamam esse modelo de interação 
de magistérios não interferentes. O terceiro modelo de intera-
ção é de diálogo. Esse diálogo pode ocorrer nos interstícios, 
brechas ou lacunas de cada uma das áreas (p. ex., qual é o 
sentido da vida ou da morte) ou por conceitos que podem 
ser comuns a ambas (questões como a saúde e bem-estar 
existencial). O quarto modelo é o da integração, que busca 
uma parceria entre as duas áreas, uma admitindo que a outra 
pode contribuir na compreensão do universo e do ser humano. 
Aprofundaremos esses modelos em nossa aula virtual.
Já Augustus Nicodemus Lopes, teólogo e ex-chanceler da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, estabelece uma outra 
tipologia relacional entre ciência e religião, propondo cinco 
modelos, a saber: a) conflito: ligado ao cientificismo, afirma 
que a ciência moderna destruiu os pressupostos da teologia 
tradicional; pelo lado da religião esse modelo está associado 
a um anti-intelectualismo, que enxerga na ciência uma alter-
nativa inferior de explicação do mundo; b) adaptação: nesse 
modelo a razão é a única que pode determinar a realidade; 
os elementos transcendentes da Bíblia são reduzidos a mitos e 
lendas para se encaixar nas mudanças do pensamento cien-
tífico; c) a nova síntese: implica uma transformação radical 
da ciência e teologia, numa síntese em que ambas se fundem 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 29
num só objeto (p. ex., Nova Era); pode gerar uma pseudociên-
cia e uma heterodoxia pseudoteológica; d) compartimenta-
lismo: ciência e religião são vistas como dois campos total-
mente distintos, que não possuem nada em comum, por isso o 
conflito entre eles é desnecessário e até impossível, sendo um 
erro de análise interpretativo; e) complementarismo: mode-
lo que entende que as diferentes percepções da ciência e da 
religião aplicam-se ao mesmo mundo e aos mesmos eventos, 
mas cada uma em um nível de compreensão distinto, que são 
complementares e não excludentes.
Independente de qual seja o modelo mais vigente, o que 
podemos perceber das atuais relações entre Ciência e Religião, 
- como, por exemplo, o embate polêmico entre criacionismo e 
evolucionismo -, é que elas são duas “instituições” que pare-
cem estar numa constante disputa de força e poder, na qual a 
escolha por uma atitude de oposição, antagonismo e exclusão 
mútuas não traz qualquer vencedor, levando os dois lados a 
perder. É preciso abrir espaço para um diálogo respeitoso que 
abandone prepotências, arrogâncias e fundamentalismos que 
só alimentam a intolerância entre as duas áreas.
Partindo para a perspectiva de uma aproximação entre o 
campo científico da saúde e a dimensão da espiritualidade, 
ênfase deste capítulo, o artigo de Horta et al. (2016) sinaliza, 
porém, para um auspicioso caminho de reconciliação, ao afir-
mar:
A partir de Einstein, reduziram-se, um a um, os impedi-
mentos de cercania para ciência e religião, a ponto de 
João Paulo II afirmar que religião sem ciência não é boa 
30 Cultura Religiosa
religião, bem como ciência sem religião não é boa ciên-
cia. Uma posição convergente com a do sumo pontífice 
foi, recentemente, tomada pela Organização Mundial 
da Saúde (1998), ao ter acrescentado a dimensão de 
bem-estar espiritual ao seu conhecido conceito multidis-
ciplinar de saúde, que, como se sabe, só entendia uma 
condição de saúde se existisse a presença de bem-estar 
nas dimensões físicas, psíquicas e sociais. A valorização 
acrescentada, considerando o lado espiritual/religioso, 
é, sem dúvida, o selo decisivo e universalizado do entre-
laçamento de ciência e religião.
Para os autores supracitados, defender o pensamento de 
que a religiosidade de uma pessoa influencia não apenas seu 
espírito, mas também seu corpo, sua mente e sua interação 
relacional com os outros, já causa bem menos estranheza nos 
dias de hoje, mesmo que tal concepção ainda permaneça ge-
rando desconfiança e inquietação em alguns nichos acadêmi-
cos. Eliane Azevedo (2013, p. 474) ainda traz um elemento 
a mais nessa perspectiva positiva da parceria entre ciência e 
religião ao afirmar:
Mesmo equipada com os mais potentes meios de obser-
vação, a ciência moderna não consegue responder a se-
culares questionamentos da humanidade: qual o sentido 
dos fenômenos descritos pela ciência; qual o propósito 
da vida tão estudada pelos cientistas. A ciência descobre 
causas, controla efeitos e prevê eventos. Desvendou o 
código da vida e tornou-se capaz de manipula-lo. O mé-
todo científico conferiu-lhe esse poder. Mas os propósitos 
para as coisas e o sentido para a vida persistem sem res-
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 31
postas cientificamente evidenciáveis. A secular sabedoriada humanidade continua afirmando que respostas dessa 
natureza somente são encontradas em outro tipo de co-
nhecimento - o das religiões.
Passamos agora a analisar um pouco mais uma das tan-
tas faces da relação entre ciência e religião, que é a área da 
saúde, por ser este um fenômeno do qual todos nós podemos 
nos considerar inclusos e partícipes, por seu caráter existencial.
2.2 Medicina e religião: as origens mítico-
-religiosas da ciência médica
Quando se trata da saúde humana é possível verificar que tan-
to a religião/espiritualidade quanto a ciência só têm a ganhar 
quando se dispõem a dialogar a respeito do conhecimento 
oriundo de cada uma delas.
Olhando para as origens dos povos e civilizações percebe-
-se que há uma íntima associação entre a religião e a medi-
cina. As duas áreas estavam simbioticamente ligadas na sua 
origem, sendo as funções de médico e religioso, curandeiro 
e sacerdote, desempenhadas invariavelmente pelo mesmo in-
divíduo. Mais do que a tipologia da integração, poderíamos 
afirmar que havia um modelo de fusão entre as duas áreas.
Para o médico Alex Botsaris (2001, p. 57), a medicina, 
antes de ser ciência, é um produto da cultura humana. Como 
a arte de curar, ela está presente desde as civilizações mais 
rudimentares, no momento em que surgiu a necessidade de 
32 Cultura Religiosa
alguém assumir a tarefa de curar as pessoas, auxiliando-as a 
lidar com a dor, com a incapacidade física, bem como fren-
te à angústia, suscitadas pela doença e morte. Dessa forma 
criaram-se os primeiros “sistemas médicos” que, nas culturas 
mais antigas, estavam ligados aos sacerdotes e líderes religio-
sos, como xamãs, pajés, druidas, feiticeiros e curandeiros, que 
exerciam tanto as funções de religioso como as de médico ou 
curandeiro.
Maffei (1978), ao definir medicina, aponta para as mes-
mas origens antropológico-culturais, afirmando:
A medicina é considerada uma arte e uma ciência ao 
mesmo tempo, sendo considerada um ramo da Biologia. 
Se indagarmos: Como e quando apareceu a medicina?, 
verificaremos que a Medicina nasceu com o homem; de 
fato, desde o seu aparecimento sobre a Terra, o homem 
foi vítima ou testemunha do sofrimento e, por isso, sem-
pre procurou observar as doenças que o afligiam e dar-
-lhes os remédios.
A partir destas duas afirmações, começamos a verificar 
como a relação entre a prática médica e a dimensão religio-
sa-espiritual é marcada pela indiferenciação na sua origem. 
Landmann aponta para algumas destas relações fazendo re-
ferência a um dos mais antigos deuses egípcios, Imhotept, o 
deus médico, bem como a Esculápio, o deus da medicina, um 
dos mais populares do panteão grego. No Antigo Testamen-
to, texto sagrado tanto para judeus como para cristãos, Deus 
também assume o poder de curar, como diz o livro de Êxodo 
“Eu sou o Deus que te cura” (Êxodo 16.26). Portanto, para 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 33
Landmann (1984, p. 14-15), todo o carisma, a divindade e a 
santidade dos médicos têm seu nascedouro numa concepção 
religiosa ou mágica, independentemente de sua origem judai-
ca, cristã, muçulmana ou mesmo pagã.
Surge, então, uma pergunta de fundo histórico: a quem 
pertence o domínio dos processos que controlam a saúde e a 
doença? Ela é fruto de alguma área específica? Historicamen-
te falando parece ser difícil estabelecer a quem pertencia a 
cura das doenças. O templo de Epidauro,1 por exemplo, ficou 
famoso na história por dedicar aos doentes tanto cuidados 
corporais quanto espirituais, inclusive com o que se pode cha-
mar dos primeiros registros clínicos dos pacientes, isto é, notas 
sobre o histórico e a evolução do tratamento de cada doente. 
Ali, portanto, parece iniciar-se uma transição entre a simples 
teurgia2 - uma magia baseada na relação com os espíritos 
celestes - e a medicina com elementos um pouco mais obje-
tivos e científicos. Como bem diz Alex Botsaris (2001, p. 57), 
a junção de líder religioso e médico vem da relação da morte 
com a saúde e da atribuição divina dos poderes de cura, como 
demonstram os relatos acima descritos.
Outro passo importante que aponta para a relação entre 
ciência e religião, medicina e espiritualidade, está ligado ao 
1 O templo de Epidauro, cidade da Grécia antiga do séc. V a.C., era dedicado a 
Asclépio (o Esculápio dos romanos), um herói homérico, filho do deus Apolo com 
uma mortal, que tornou-se o semideus da medicina.
2 O Termo “Teurgia” é derivado de duas palavras gregas, “Theou” e “ergon” que 
literalmente significam “trabalho de Deus”. Diferentes formas de Teurgia foram pra-
ticadas na antiguidade, envolvendo cânticos, ritos, preces e outras formas de liga-
ção com as forças divinas, sagradas e sobrenaturais que operavam diretamente na 
cura dos indivíduos.
34 Cultura Religiosa
nascimento dos hospitais. Para Campos (1995, p. 16-7), a 
filosofia cristã de amor ao próximo contribuiu significativamen-
te para a criação dos hospitais, sendo que o primeiro deles, 
uma entidade assistencial, foi criado em 360 da Era Cristã, em 
Óstia, Itália, com a finalidade básica de restaurar a saúde e 
prestar assistência aos doentes.
Nomes importantes nesta nova etapa da criação de hospi-
tais cristãos são os dos imperadores Constantino e Justiniano. 
Constantino por ter decretado, em 335 d.C., o fechamento 
de instituições médicas de origem pagã grega, estimulando a 
criação de hospitais cristãos. Justiniano, por sua vez, colabo-
rou decisivamente para a construção do grande hospital de 
São Basílio, em Cesaréia, em 369 d.C. Por volta do ano 500 
da Era Cristã, a maioria das grandes cidades do Império Ro-
mano já possuía hospitais cristãos. A criação da enfermagem, 
inspirada pela religião, passou a ser constituída de pessoas 
carinhosas e dedicadas, porém os ensinamentos médicos de 
Hipócrates e outros estudiosos foram sendo abandonados por 
suas origens pagãs, fazendo retornar o misticismo e a teurgia.3
Já entre os séculos V e XI a Medicina estava sendo conduzi-
da quase como um monopólio da Igreja Cristã e seus pratican-
tes eram, de fato, os religiosos (FILHO, 1993, p. 99-100). Na 
Idade Média, a influência da Igreja permaneceu no estabeleci-
mento e manutenção de hospitais, porém esses se mantinham, 
fundamentalmente, como instituições eclesiásticas e não mé-
dicas. Com as Cruzadas um novo impulso de desenvolvimento 
3 Enciclopédia Mirador Internacional. Volume IV, p. 5856.
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 35
atingiu os hospitais, motivadas também pelas doenças e pestes 
que dizimavam milhares de pessoas nessa época.4
Já no século XI, o Concílio de Clermont proibiu os cléri-
gos de exercerem a Medicina e de participarem de cirurgias 
e intervenções médicas que envolvessem derramamento de 
sangue. Tal proibição se deu pelo receio de que os monges 
estivessem por demais afastados de seus votos religiosos por 
razão de seus deveres médicos. Colocou-se aí um ponto final 
à prática religiosa médica que se arrastara por mais de seis 
séculos. (FILHO, 1993, p. 101)
Na época do Renascimento (séculos XV e XVI) a medicina 
teve um grande avanço, apesar da Igreja continuar condenan-
do grande parte das pesquisas científicas que envolviam o ser 
humano, até mesmo cadáveres. Porém, na busca de compre-
enderem melhor o funcionamento do corpo humano, os médi-
cos da época começaram a tentar explicar as doenças através 
de estudos científicos e testes de laboratório.
Segundo Paiva (2000, p. 13), há certo consenso de que a 
descoberta de técnicas experimentais de pesquisa no século 
XVII encaminhou uma aproximação aos fenômenos do mun-
do físico, distinguindo-as definitivamente da visão religiosa e 
teológica. A descoberta de William Harvey, do sistema circu-
latório do sangue, por exemplo, auxiliou muito no desenvolvi-
mento da anatomia e fisiologiahumanas. Com essa e outras 
descobertas, aos poucos a desapropriação da religião como 
4 Enciclopédia Mirador Internacional. Volume IV, p. 5856.
36 Cultura Religiosa
lugar de cura e cuidado físico ficou mais clara, passando a ser 
quase uma exclusividade da ciência médica.
2.3 Mediações da saúde e religião na 
atualidade
Mesmo na atualidade é possível arrolar diversos exemplos 
em que a medicina e religião estão intimamente associadas. 
Como aponta Botsaris (2001, p. 58), em grupos socialmente 
desassistidos, que não têm acesso ao sistema de saúde, indi-
víduos oriundos de grupos religiosos assumem a função de 
doutores e curadores. Entre esses podem ser citados os raizei-
ros, as rezadeiras ou benzedeiras, os médiuns no espiritismo 
e na umbanda, os pais e mães de santo do candomblé, além 
de podermos também inserir pastores pentecostais e neopen-
tecostais, além de movimentos carismáticos católicos, que me-
diam o tratamento de males e doenças em cultos de cura e 
libertação.
De outro lado, para Botsaris, sempre que um médico está 
atendendo um paciente estabelece-se um contexto mágico que 
transcende a questão científica. O paciente despe-se, literal e 
emocionalmente, diante do médico, solicitando, mesmo que 
de forma inconsciente, o auxílio de uma força “sobrenatural” 
para vencer o obstáculo da doença. Diz ainda Botsaris acerca 
do ato médico sobre o paciente:
Nesse momento, entra-se num universo paralelo extre-
mamente amplo. É como se cada xamã, pajé ou druida, 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 37
enfim, todo o contexto simbólico da atividade médica, 
associado ao conhecimento científico e tecnológico, es-
tivesse presente no instante da consulta, sintetizados na 
figura do médico. (...) A atuação do médico, e mesmo 
a própria evolução científica e tecnológica do sistema, 
depende deste arcabouço conceitual e simbólico. (2001, 
p. 58)
Não há como deixar de ressaltar, porém, como bem apon-
ta Gadamer (2006, p. 40), que o médico faz questão de se 
afastar da figura de curandeiro de tantas culturas, revestido 
pelo segredo das forças mágicas. Ele faz questão de dizer que 
é um homem da ciência, isto é, ele conhece o motivo pelo 
qual uma determinada técnica de cura tem êxito, bem como 
ele entende a relação de causa e efeito. Isso não significa que 
os seus pacientes se satisfaçam com essa explicação, ou seja, 
a esperança de cura quase mágica associada ao poder do 
conhecimento que o médico detém sempre poderá estar cir-
culando na relação médico-paciente, mesmo que os médicos 
procurem evitá-la a qualquer custo.
Finalmente, numa perspectiva dos benefícios da espiritu-
alidade para a saúde integral do ser humano, Rossano Dal 
Farra (2010, p. 589) refere-se a um conjunto de estudos que 
tem demonstrado o impacto da espiritualidade sobre diver-
sos parâmetros de saúde que podem ser inclusive mensurados 
de forma metodologicamente eficiente. Diversas publicações 
científicas têm mostrado evidências “de que o envolvimento 
religioso está favoravelmente associado a indicadores de bem-
-estar psicológico, incluindo a satisfação na vida, a felicidade, 
menor frequência de depressão e de utilização de drogas de 
38 Cultura Religiosa
abuso” etc. Também relata que, na década de 1990, institui-
ções como Association of American Medical Colleges, Natio-
nal Institute for Healthcare Research e Robert Wood Johnson 
Foundation financiaram centenas de programas vinculados à 
relação entre fé e saúde.
Nesse sentido elementos da fé e espiritualidade represen-
tam um ponto importante a ser considerado nas questões de 
saúde coletiva, como podemos observar nos dados analisados 
por Jeff Levin, do National Institute for Healthcare Research, 
dos Estados Unidos, que resumem os resultados obtidos nas 
pesquisas sobre espiritualidade e fé em relação à saúde em 
um amplo conjunto de aspectos, conforme descreve Dal Farra 
(2010, p. 591-2):
Princípio 1 — A afiliação religiosa e a participação como 
membro de uma congregação religiosa beneficiam a 
saúde ao promover comportamentos e estilos de vida 
saudáveis. Princípio 2 — A frequência regular a uma 
congregação religiosa beneficia a saúde ao oferecer 
um apoio que ameniza os efeitos do estresse e do isola-
mento. Princípio 3 — A participação no culto e na pre-
ce beneficia a saúde graças aos efeitos fisiológicos das 
emoções positivas. Princípio 4 — As crenças religiosas 
beneficiam a saúde pela sua semelhança com as crenças 
e com estilos de personalidade que promovem a saúde. 
Princípio 5 — A fé, pura e simples, beneficia a saúde 
ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e 
expectativas positivas.
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 39
[...] Pesquisa realizada com pacientes terminais demons-
trou que o conforto espiritual não apenas aumenta a es-
perança de vida dos pacientes como diminui os índices 
de depressão, de ideias suicidas e de desejo de morte 
breve.
Posto esse breve apanhado na relação entre religião e ci-
ência, medicina e espiritualidade, poder-se-ia afirmar, como 
diz Paiva (2000, p. 91), que “religião e ciência podem, por-
tanto, conviver, e se alguma vez houve empecilho religioso à 
ciência, isso ocorreu devido à falta de esclarecimento”. Para 
exemplificar essa temática, vamos passar agora a analisar um 
dos tantos fenômenos religiosos que podem ser interpretados 
de uma forma interdisciplinar apontando, justamente, para os 
diversos tipos de relações existentes entre religião e ciência, 
medicina e espiritualidade.
2.4 Doença mental ou possessão? Uma 
interpretação de práticas de libertação espiritual 
e exorcismo numa ótica multidisciplinar
Quem de nós já não ouviu falar de filmes como O exorcis-
ta (1973) ou, mais recentemente, O exorcismo de Emily Rose 
(2005)? Ou, ainda, quem de nós já não ouviu falar de cultos 
de libertação, sessões de descarrego ou então de pessoas que 
afirmaram estar “com um encosto” ou nas quais “baixou o 
santo”? Transe religioso, mundo dos espíritos ou apenas trans-
tornos mentais?
40 Cultura Religiosa
Todos esses exemplos apontam para um fenômeno que va-
mos chamar aqui, genericamente, de possessão. Esse é um 
tema controverso e estamos cientes de que há diversas formas 
de nominar e significar o fenômeno, dependendo do viés reli-
gioso ou científico de cada grupo, que constrói a sua própria 
nomenclatura e interpretação do fato.
Desde o início da história humana há indícios de que so-
frimento e doença eram considerados frutos de uma força ex-
terna maligna, que atuava negativamente sobre os corpos e 
as mentes das pessoas. As curas eram ministradas por meio 
da expulsão dessa força maligna do corpo do indivíduo, em 
práticas que denominaríamos hoje de exorcismos, mas que já 
eram realizadas por inúmeras tribos ao longo da história.
Portanto, a ideia do mal, de espíritos ruins ou de “pouca 
luz”, de demônios que atuam no plano físico e atormentam os 
seres humanos não é privilégio do mundo cristão, embora a 
sociedade ocidental seja muito influenciada pelo cristianismo 
e sua ideia do mal.
De um modo geral, o que se entende por possessão? Va-
mos analisar algumas das diferentes perspectivas interpretati-
vas. Para o cristianismo, demônios são espíritos ou poderes es-
pirituais contrários a Deus e cujas fileiras são compostas pelos 
chamados anjos caídos, que acompanharam Lúcifer na rebe-
lião contra Deus. Há muitos textos bíblicos que mostram Jesus 
Cristo e também os seus discípulos expulsando demônios.
Caracterizando de modo geral uma possessão, um ser hu-
mano que está “possuído” por uma dessas entidades espiritu-
ais maléficas parece perder sua identidade pessoal, bem como 
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 41
sua liberdade de pensamento e até de ação, ficando aliena-
do de si mesmo. Normalmente,uma possessão demoníaca 
é acompanhada de um comportamento violento e destrutivo 
contra os outros, contra o ambiente, contra Deus, assim como 
uma agressividade dirigida contra si mesmo.
Uma segunda interpretação é chamada de desmitologi-
zante, baseada na parapsicologia, que procura diferenciar 
fenômenos verdadeiros daqueles que podem ser fraudes e 
truques. Para essa linha, que ainda é vista como uma pseudo-
ciência, os fenômenos verídicos podem ser produtos de uma 
mente perturbada, fruto de uma psicorragia, isto é, uma ener-
gia mental que foge ao controle voluntário humano, gerando 
fenômenos paranormais que se fazem presentes no indivíduo 
e no ambiente em que ele se encontra, tais como tiptologia, 
telecinesia, xenoglosia, glossolalia, clarividência etc.
Numa perspectiva da interpretação médica/psiquiátrica/
psicológica as possessões são consideradas, normalmente, 
como casos de transtornos mentais. A psiquiatria, ao descrever 
as psicoses e as esquizofrenias, elenca uma série de sintomas 
que se aproximam dos relatados nas possessões espirituais 
como delírios, alucinações visuais, auditivas, táteis, entre ou-
tras. Podemos ainda citar crises histéricas, dissociações de per-
sonalidade e até mesmo crises de epilepsia e convulsões que, 
muitas vezes, foram e ainda são confundidas e interpretadas 
por alguns religiosos como possessões. O psiquiatra Rogério 
Zimpel (2004, p. 79) afirma que os transtornos dissociativos 
talvez sejam o grupo de perturbações mentais que mais se con-
fundam com os fenômenos espirituais, englobando o transtor-
no de personalidade múltipla (ou dissociativo de identidade) e 
42 Cultura Religiosa
ainda o transtorno de despersonalização. É importante afirmar 
que ainda existe pouca literatura psiquiátrica e psicológica que 
trabalhe simultaneamente com os dois paradigmas, a saber, o 
psíquico/científico e o espiritual/religioso.
Numa última interpretação desses fenômenos, dada pela 
sociologia e psicologia social, as possessões são vistas como 
comportamentos de protesto por parte de pessoas oprimidas 
que não têm condições de buscar ajuda de cunho profissional, 
como médicos psiquiatras, psicólogos e outros terapeutas. Tais 
indivíduos encontram em igrejas um lugar de livre expressão 
de sua condição de opressão. A igreja e o culto servem como 
espaço terapêutico para elas. Portanto, os sintomas da posses-
são nada mais seriam do que uma descarga externa de muita 
opressão, violência e repressão, cuja expressão livre é favo-
recida pelo ambiente sugestivo do culto. São os “demônios 
internos” de um indivíduo, o conjunto de muitas frustrações 
reprimidas que é colocado para fora, numa catarse individual 
ou coletiva.
Tratar de temas como esse exige sempre prudência, sem 
abrir mão de um olhar crítico e interdisciplinar, respeitando-se 
sempre os diversos pontos de vista e interpretações trazidos 
pelos diferentes grupos científicos e/ou religiosos. Aqueles 
que têm interesse no assunto devem sempre levar em con-
sideração que a verdade religiosa é uma questão subjetiva, 
que implica fé e que transcende uma análise lógica e racional 
dos fatos. Não há, portanto, nesse tema, espaço para dog-
matizações ou fundamentalismos, mas sim a necessidade de 
um espírito sempre investigativo em busca da(s) verdade(s) 
subjacentes(s).
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 43
Recapitulando
Buscamos, nesse capítulo, traçar um breve panorama histó-
rico dos diferentes tipos de relação existentes entre religião e 
ciência, fé e saúde, medicina e espiritualidade. Vimos que, nas 
origens da humanidade, não havia distinção funcional entre 
as duas áreas, sendo que as funções médica e religiosa eram 
exercidas quase sempre pela mesma pessoa. Os conflitos entre 
religião e ciência, tal como conhecemos hoje, são produto da 
modernidade. Ian Barbour e Augustus Nicodemus são autores 
que propuseram tipologias com diferentes modelos de relação 
entre ciência e religião, que vão desde o conflito aberto até 
a integração. É possível perceber, porém, que há indícios de 
uma aproximação gradativa no campo da pesquisa médica 
no sentido de ver na fé, na espiritualidade e na religiosida-
de elementos positivos para a saúde integral do ser humano. 
Também abordamos, mesmo que brevemente, o fenômeno da 
possessão, vendo-o como um dos exemplos para uma análise 
multi e interdisciplinar de um fenômeno que possui interfaces 
tanto na religião quanto na ciência.
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na América Latina. Organizador Ingo Wulfhorst. São Leo-
poldo; Genebra: Federação Luterana Mundial, 2004, p. 
77-86.
Atividades
 1) Assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as fal-
sas.
( ) Ciência e religião, medicina e espiritualidade sempre 
estiveram em lados opostos, vivendo como inimigas 
íntimas ou completas desconhecidas, desde a antigui-
dade.
46 Cultura Religiosa
( ) Ian Barbour, físico e Augustus Nicodemus, teólogo, 
propuseram diferentes tipologias relacionais entre ci-
ência e religião, as quais variam do conflito aberto a 
modelos complementares ou integracionistas.
( ) A criação dos hospitais no Ocidente teve forte influên-
cia do Cristianismo.
 2) Relacione as duas colunas com os modelos de relação 
entre ciência e religião e suas respectivas características:
a) Conflito ( ) Ambas se tornam parceiras 
na interpretação do mundo.
b) Independência ( ) Pode gerar uma pseudociên-
cia e uma pseudoteologia.
c) Integração ( ) Associado a visão dos magis-
térios não interferentes.
d) Nova síntese ( ) Ligado ao cientificismo e ao 
anti-intelectualismo.
 3) Complete as lacunas com os conceitos corretos.
Um dos mais conhecidos locais de cuidado e cura que já 
desenvolvia uma visão holísticae integral, desde a antiguida-
de, era o ________________________.
Para o cristianismo, ________ são espíritos ou poderes es-
pirituais contrários a Deus e cujas fileiras são compostas pelos 
chamados anjos caídos, que acompanharam Lúcifer na rebe-
lião contra Deus.
Capítulo 2 Religião e Ciência, Saúde e Espiritualidade... 47
 4) Identifique três benefícios da fé e espiritualidade na saúde 
e bem-estar do ser humano.
 5) Por que o fenômeno da possessão não deve ser analisado 
apenas sob a ótica religiosa?
??????????
Capítulo ?
As Religiões Orientais1
1 Mestre em Educação pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), bacharel 
em Teologia pela Escola Superior de Teologia do Seminário Concórdia (RS) e em 
Jornalismo pela Universidade Do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Professor da 
Disciplina de Cultura Religiosa na ULBRA.
Douglas Moacir Flor1
Capítulo 3
Capítulo 3 As Religiões Orientais 49
Introdução
Escrever sobre religiões orientais sempre é um desafio. É uma 
cultura muito antiga, diferente da nossa, onde as tradições 
orais foram transmitidas por milhares de anos. Por outro lado, 
é uma cultura riquíssima em histórias de vida e que influencia-
ram muito a nossa cultura ocidental.
O que notamos é que estas religiões orientais nos trans-
mitem um sentimento de paz, de tranquilidade, fruto da me-
ditação, da concentração, da busca de paz interior. A História 
nos mostra que a origem de tudo isso está nas guerras, por 
mais contraditório que nos pareça. Cansados da violência da 
guerra, as pessoas começaram a buscar outro estilo de vida e 
apostaram na “não violência”.
Vamos encontrar, neste capítulo, quatro grandes religiões: 
Hinduísmo, Budismo, Confucionismo e Taoísmo. De cada uma 
podemos tirar lições de vida, valores religiosos transmitidos por 
séculos e vividos com intensidade por seguidores que buscavam 
sentido para a vida entre as religiões e as filosofias de vida.
3.1 Hinduísmo
3.1.1 História
Voltamos no tempo para o ano de 1500 a.C. e seguimos até 
o ano 200 a.C.1 Os Arianos (“nobres”) começaram a subjugar 
1 a.C. Antes de Cristo. O tempo era contado em ordem decrescente.
50 Cultura Religiosa
o vale do rio Indo. As crenças dessas pessoas tinham ligação 
com outras religiões indo-europeias, como a grega, romana 
e germânica. Sabemos disso pelos chamados hinos védicos 
(da palavra veda, que significa “conhecimento”), que eram re-
citados por sacerdotes durante os sacrifícios aos seus muitos 
deuses. É o chamado período védico do hinduísmo.
Achados arqueológicos no vale do rio Indo indicam que 
houve uma civilização avançada na Índia, anterior à chegada 
dos indo-europeus e é certo que essa civilização também con-
tribuiu para o hinduísmo moderno.
A época conhecida como período védico tardio, de 1000 
a.C. até 500 a.C., marcou uma virada no desenvolvimento re-
ligioso da Índia. Importância especial tiveram os Upanishads, 
que até hoje são os textos hinduístas mais lidos. Foram escritos 
sob a forma de conversas entre mestre e discípulo, e introdu-
zem a noção de Brahman, a força espiritual essencial em que 
se baseia todo o Universo. Todos os seres vivos nascem do 
Brahman, vivem no Brahman e, ao morrerem, retornam ao 
Brahman.
Hoje
O hinduísmo é uma religião da Índia, mas tem muitos 
adeptos também no Nepal, em Bangladesh e no Sri Lanka. 
Depois de muitos anos de domínio colonial britânico, em 
1947, a Índia tornou-se uma república independente: um Es-
tado secular (não religioso), com uma constituição que garan-
tia direitos para todas as denominações religiosas e proibia 
qualquer forma de discriminação baseada em religião, raça, 
casta ou sexo.
Capítulo 3 As Religiões Orientais 51
Em 1947, a tensão entre hinduístas e muçulmanos, em ra-
zão da independência da Índia, resultou na criação do Pa-
quistão como um Estado muçulmano separado, dividido em 
duas partes distintas: o Paquistão do Leste e o Paquistão do 
Oeste. Depois da guerra de 1971 entre a Índia e o Paquistão, 
o Paquistão do Leste tornou-se um Estado independente com 
o nome de Bangladesh.
Segundo Piazza (1991, p. 247):
O Hinduísmo não pode ser considerado uma religião no 
sentido que tenha um fundador determinado, dogmas 
específicos e liturgias estruturadas. É, na verdade, uma 
atitude do povo Indiano perante os problemas existen-
ciais, a qual, segundo as circunstâncias, pode assumir as 
mais diversas formas.
3.1.2 Ensinamentos
Deuses
O hinduísmo é conhecido como uma religião politeísta, 
com um número considerável de deuses, que também são 
chamados de deuses do lar. Quase todas as aldeias têm a sua 
própria divindade local. Entre as principais divindades encon-
tramos três:
Brahman – Conhecido como o Deus criador, Senhor da 
Sabedoria, cultuado pelos sacerdotes. Todos nascem dele.
Vishnu – o Deus mantenedor da criação.
52 Cultura Religiosa
Shiva – Cultuado pelos camponeses, é um deus renovador, 
senhor da vida e da morte, o deus da meditação e dos iogues, 
e em geral, é retratado como um asceta. É ele quem traz a 
doença e a morte, mas também o que cura.
As deusas
No Livro das Religiões encontramos a citação de uma série 
de deusas. Segundo Gaarder (1989, p. 48):
Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deu-
sas não passa da expressão de uma grande e poderosa 
divindade feminina, a “Rainha do Universo” ou “Deusa-
-Mãe”. Sua manifestação mais conhecida é Kali, a deusa 
negra, adorada sobretudo no Leste da Índia, e a quem 
se sacrificam animais. O alto status de Kali no mundo 
dos deuses é evidente pelas imagens que a mostram 
pisoteando o corpo de Shiva.
A importância das deusas na religião indiana é visível pela 
escolha da “Mãe Índia” (Bhárata Mata ou Bharthamata) como 
a divindade nacional do moderno Estado da Índia. Na cidade 
de Varanasi há um templo especial que lhe é dedicado. Ali, em 
vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa 
da Índia.
3.1.3 Carma e reencarnação
Termos muito conhecidos hoje no Espiritismo, a doutrina do 
Carma e da reencarnação são tão antigas quanto o hinduís-
mo. A crença é de que o ser humano tem uma alma imortal 
que não lhe pertence. Depois da morte, a alma volta a apare-
Capítulo 3 As Religiões Orientais 53
cer (renasce) numa nova criatura vivente. Pode renascer numa 
casta mais alta ou mais baixa, ou pode passar a habitar um 
animal.
Segundo Gaarder (1989, p. 48):
Há uma ordem inexorável nesse ciclo que vai de uma 
existência a outra. O impulso por trás dela, e que a man-
tém sempre em movimento, é o carma (“ato” ou “ação”) 
do ser humano. O ato ou ação não se refere apenas a 
ações físicas, mas inclui pensamentos, palavras e senti-
mentos.
A ideia de que todas as ações têm consequências, que 
podem surgir depois da morte, não é, de modo algum, 
peculiar do hinduísmo. A originalidade da ideia está no 
entendimento de que todas as ações de uma vida, e so-
mente elas, podem formar a base para a próxima vida. 
Assim, o carma não é uma punição pelas más ações ou 
uma recompensa pelas boas. O carma é uma constante 
impessoal, como se fosse uma lei natural do ato de existir.
O sistema de castas
Desde os tempos antigos, a sociedade hinduísta está ali-
cerçada sobre quatro classes sociais (a palavra empregada é 
varna, que significa “cor”):
 Â sacerdotes (brâmanes);
 Â guerreiros;
 Â agricultores, comerciantes e artesãos;
54 Cultura Religiosa
 Â servos.
Assim, à medida que a sociedade indiana se desenvolveu, 
as pessoas foram sendo divididas em novas castas. No início 
do século XX havia em torno de 3 mil castas.
Não se sabe ao certo como surgiu o sistema de castas. 
O certo é que as castas, em geral, se associam a profissões 
especiais. Uma aldeia indiana pode conter de 20 a 30 castas, 
e com frequência cada uma ocupa um agrupamento especial 
de casas.

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