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História Antiga II

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A luta de classes
Charles Parain em seu trabalho quis caracterizar formas de vida social da Grécia arcaica a Roma. Para isso, procurou definir uma fisionomia própria desse período estabelecendo traços fundamentais.
Os marxistas vêem o mundo antigo como uma sociedade de classes, definida por um modo de produção escravagista, onde havia uma oposição entre escravos e proprietários. Tal visão se apresenta tão resumida e fixa para um contexto histórico onde há uma gama de relações. 
Vernant afirma que os marxistas devem considerar a escravidão dialeticamente e por perspectivas diferentes, e não somente na forma como os homens produzem.
Marx analisa a sociedade capitalista a partir das contradições existentes do conflito: capitalistas x proletários. Essas contradições estabelecem que a classe operária busca construir uma nova forma de sociedade a partir de novas formas de produção, proporcionando o avanço das forças de produtivas. Se transportarmos esses esquemas para o mundo antigo, percebemos que eles não se aplicam à sua realidade, pois, as contradições no mundo antigo vão além do aspecto econômico. O próprio Marx dá indicações de que essas contradições estariam no “antagonismo entre duas formas de posse do solo”�. Essas duas formas de posse do solo seriam: “uma propriedade fundiária do Estado, no princípio comum, e uma propriedade fundiária privada, obtida originalmente por intermédio da primeira”�. O fim do equilíbrio entre essas duas formas de posse do solo gera condições para o desenvolvimento da escravatura e da economia monetária.
Os problemas de “classe” na Grécia antiga estão ligados à posse do solo. Há uma clara oposição entre campo e cidade. A cidade constitui-se num primeiro momento como local de habitação, onde reside o eupatrida (cidadão grego), que exerce o poder acumulando em suas mãos cargos políticos e a funções militares. A cidade é constituída como local de exercício do poder. O campo permanece como local da produção agrícola.
Num segundo momento a cidade será palco para o surgimento de atividades industriais e comerciais, que estão separadas da agricultura. O surgimento da produção manufatureira separada da economia doméstica e a construção da economia mercantil nascem em condições próprias da cidade. O excedente da produção agora está voltado para práticas comerciais, que se desenvolve às margens da cidade. Nesse contexto o meteco é o principal responsável por essas contradições do mundo grego. Ora o meteco é quem movimenta o comércio, ele é o estrangeiro no mundo grego, nem é cidadão e nem escravo.
Essas atividades produtivas desenvolvidas especialmente pelo meteco (estrangeiro), rompem com o modelo de produção estabelecido na comunidade grega e é a principal responsável pela dissolução desse modelo. 
Erb nos apresenta o papel importante de oposição que representou no mundo grego uma economia chamada oikomomia (economia agrária, familiar, que é a base onde se constitui a cidade) e uma economia cremástica (que será responsável pelo crescimento da cidade). A economia cremástica se impõe pela necessidade de abastecimento de alimentos, devido principalmente por causa das guerras. Nesse momento histórico, a Grécia convive com dois tipos de economia distintos: uma economia agrária voltada mais para o consumo interno; e uma economia voltada para fora, vendendo ou trocando o excedente da produção para obter sempre mais lucro, um comércio feito através de trocas pelo mar; é a economia que é movimentada especialmente pelo meteco e que se torna o principal ponto de contradição do mundo grego, rompendo com um modelo estabelecido e exercendo influência até mesmo nas decisões políticas.
Um aspecto que merece atenção é a política no mundo grego. A política pode-se dizer, é o principal fator que estabelece as relações sociais na Grécia antiga e não as relações de produção como pensa Marx. O exercício político estava concentrado nas mãos do cidadão (eupatrida), que acumulava também as funções militares. O meteco apesar de ser o principal responsável pelo desenvolvimento da economia cremástica não participa da política por não ser considerado cidadão grego. O escravo, apesar de não ser estrangeiro, também não exercia a política, pois era considerado como “um instrumento animado”�. O meteco por sua vez, apoiado na importância que o comércio adquiriu na Grécia antiga, procura influenciar nas decisões políticas buscando favorecimento para as suas práticas comerciais.
É a partir dessa visão acima expressa que entendemos o que diz Claude Mossé acerca dos confrontos entre diversas categorias sociais que ocorrem no espaço da polis. Esses confrontos não estão vinculados do lugar que o indivíduo ocupa na produção, mas estão intimamente ligados ao aspecto econômico (interesses materiais) e ao lugar que o indivíduo ocupa na vida política. O que diferencia o cidadão do meteco não é o status econômico, mas o exercício político. O cidadão, por sua atuação política, obtinha também privilégios no campo econômico. Como já foi dito acima, o meteco será o principal fator de contradição e de tentar romper com a forma como é exercida a política.
Outro aspecto que considero importante salientar é a oposição entre escravos e senhores. Essa oposição não parece ser a principal contradição do mundo grego. Os escravos não se caracterizam com um grupo social hegemônico, entre eles há muitas barreiras e sentimentos diferentes. O olhar dos gregos dizia: “a humanidade do homem não é separável de seu caráter social; o homem é social enquanto ser político, como cidadão”. Os escravos não eram considerados cidadãos e nem exerciam a prática política. Ora, toda essa estrutura da pólis grega impede os escravos de constituírem enquanto classe social ativa.
A oposição escravos x senhores não se estabelece como uma forma de modificar a estrutura social da polis grega, mas sim uma tentativa de romper com a condição servil. Também não convém imaginarmos que esses conflitos aconteceram de forma organizada, na maioria foram ações individuais.
Analisar o mundo grego antigo a partir de uma única perspectiva é desconsiderar a complexidade de uma sociedade e os diversos atores sociais que dela fazem parte. Tomar o aspecto econômico para caracterizar o mundo grego, como faz Marx, é deixar de reconhecer a importância do exercício político, o valor da posse da terra, o papel do escravo dentro dessa sociedade e a importância do meteco como elemento de contradição e articulador de uma economia cremástica.
Bibliografia
VERNANT, Jean-Pierre, Mito e Sociedade na Grécia Antiga, José Olympio Editora, 2 ed. Tradução de Myriam Campello.
SOUZA, Sérgio, aulas de História Antiga II, UFAC.
Universidade Federal do Acre
Departamento de História
Curso: História Noturna
A Luta de Classes
Aluno: Ulysses Castro da Silva
Rio Branco – Acre
Agosto - 2002
Trabalho apresentado como exigência da disciplina de História Antiga II, ministrada pelo prof. Sérgio Souza.
� VERNANT, Jean-Pierre, Mito e Sociedade na Grécia Antiga, José Olympio Editora, 2 ed., p. 10.
� OP.CIT. p. 10.
� OP.CIT. p. 22.

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