Buscar

CONSTITUCIONAL I - CADERNO PROVA 02 - DIRLEY DA CUNHA JR.

Prévia do material em texto

Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
CONTINUAÇÃO PODER CONSTITUINTE – SEGUNDA UNIDADE 
Características do Poder Constituinte 
Poder Constituinte Originário 
1. Poder inicial: único capaz, ao exercer a potência, dar início a uma nova 
ordem estatal, inaugurando uma nova forma de organização estatal, 
por meio da Constituição. Primeira manifestação de poder de uma 
organização política. Ao mesmo tempo poder inicial e final, por romper 
com a Constituição anterior, ou seja, é um poder constituinte e poder 
desconstituinte; 
2. Autônomo: capacidade de livremente estabelecer os novos termos da 
Constituição; 
3. Ilimitado/Absoluto: pode tudo. A Constituição pode vir de qualquer 
jeito, qualquer tipo, pois ele não é mera competência e sim potência. 
Não há nada no direito que limite o poder originário, mas na política 
pode-se falar em limitações. É na política que o Poder Constituinte 
Originário pode ser forjado. Nesse sentido, pode-se falar da limitação 
do Direito Internacional, sofrendo represálias, mas internamente nada 
pode pará-lo. Poderá sofrer sanções internacionais, mas não quer 
dizer que sofrerá limitações, pois o Poder Constituinte Originário é 
fruto da soberania do Estado. 
4. Incondicionado: não existe, no direito, procedimentos que possam 
condicionar o modo de expressão do Poder Constituinte Originário. Há 
duas formas de ruptura: com revolução ou sem revolução. A ruptura 
significa a quebra da continuidade constitucional do país. 
5. Permanente: nunca deixa de existir, pois é a expressão da nossa 
vontade coletiva. Há momentos em que ele é ativado e momentos de 
hibernação política. 
Poder Constituinte Derivado 
1. Poder secundário: finalidade de dar continuidade ao Poder Originário, 
continuidade à Constituição, por meio de Emendas Constitucionais, e 
formação das Constituições locais e emendá-las. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
2. Dependente: depende do que a Constituição lhe deixa fazer. A 
Constituição que indica as suas competências, autorizando os 
espaços de atuação do Poder Constituinte Derivado. 
3. Limitado: sofre restrições estabelecidas pela Constituição. Exemplo: 
cláusulas pétreas. 
4. Condicionado: tem previsão no direito e só pode se manifestar de 
acordo com o que a Constituição lhe concede; 
5. Temporário: usado esporadicamente, se necessário for. Só tem 
existência no momento em que atua. 
Limitações 
Há quatro limitações: temporais, circunstanciais, materiais/substanciais e 
formais. Vale lembrar que apenas o Poder Constituinte Derivado que sofre 
limitações. 
Temporais: proíbem o Poder Constituinte Derivado de alterar a 
Constituição durante determinado período de tempo. O Brasil adotou as 
limitações temporais apenas na Constituição de 1824. 
Circunstanciais: previstas no art. 60, parágrafo primeiro. Proíbem as 
alterações na Constituição durante a vigência de determinadas circunstâncias 
anormais. Não é o fator tempo, mas as circunstâncias. Exemplo: intervenção 
federal, estado de defesa e estado de sítio. O estado de defesa e estado de sítio 
são estados de exceção. Muitas vezes suspendem direitos e garantias 
fundamentais. O estado de sítio é decretado quando as medidas do estado de 
defesa forem insuficientes. 
Materiais/Substanciais: limitações que proíbem a mudança na 
Constituição que venha a abolir determinadas matérias previstos explícita ou 
implicitamente na Constituição. São as cláusulas pétreas. Elas podem ser 
explícitas ou implícitas e não podem ser abolidas por emendas ou remorfas. 
Cláusulas pétreas explícitas: expressamente prevista na Constituição no 
art 60, §4º. Forma federativa de Estado; voto universal, secreto, direto e 
periódico; separação de poderes; direito e garantias fundamentais. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Cláusulas pétreas implícitas: embora não expressamente, essas 
cláusulas também seriam protegidas pelas emendas constitucionais. Exemplo: 
titularidade do Poder Constituinte Originário; competência para se promover a 
reforma da Constituição; rigidez da Constituição. 
Vale lembrar que não se pode dizer que as cláusulas pétreas atribuem à 
Constituição um caráter imutável, pois há a possibilidade de uma emenda criar 
novas cláusulas pétreas, mas jamais reduzi-las. 
Formais: impõem a observância escrita das formalidades necessárias 
para se alterar a Constituição, não podendo a alteração da Constituição violar 
essas formalidades. 
Alteração da Constituição 
Pode ser alterada de duas maneiras: mutação constitucional e reforma 
constitucional. 
Mutação Constitucional: alteração informal da Constituição por meio da 
interpretação constitucional dos tribunais, que modificam o sentido da 
Constituição, sem alterar a sua redação. O texto continua o mesmo, mas o seu 
sentido é alterado. Exemplo: garantia do estado de inocência. O cumprimento da 
pena só poderia ser feito após o trânsito em julgado, contudo, o STF mudou o 
sentido pela sua interpretação, dizendo que é possível o cumprimento da pena 
quando a sentença passar para segundo grau, mesmo antes do trânsito em 
julgado. Exemplo 2: união estável entre homem e mulher. O STF deu novo 
sentido, garantindo a união estável entre pessoas. 
Reforma Constitucional: exercício do Poder Constituinte Derivado 
Reformador. Alteração formal da Constituição pelo exercício do P.C. 
Reformador, pelo Congresso Nacional, por meio das Emendas à Constituição. 
Processo Legislativo de Emendas Constitucionais 
Conjunto de formalidade que são previstas para a aprovação, pelo 
Congresso Nacional, do exercício do Poder Constituinte Reformador, de 
emendas à Constituição. 
Envolve três fases: 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Primeira fase (apresentação da PEC): Quem tem o poder constitucional 
de iniciativa para apresentar a PEC? 
- 1/3 dos deputados federais (513), ou seja, 171 deputados; 
- 1/3 dos senadores (81), ou seja, 27 senadores; 
- Presidente da República; 
- Mais da metade das Assembleias Legislativas dos Estados e DF (ou 
seja, 14, no mínimo), tendo que cada uma delas se manifestar pela maioria 
simples dos deputados das Assembleias Legislativas. 
Vale lembrar que deputados e senadores podem apresentar projetos de 
lei por si só, mas não projetos de emenda à Constituição. 
Segunda fase (discussão e votação da PEC): Duas casas do 
Congresso Nacional, em sessões separadas e sucessivas, podendo iniciar na 
Câmara ou no Senado. Ocorrerá duas vezes emc ada casa, ou seja, dois turnos 
em cada casa. Só passará para a outra casa se aprovado os dois turnos na 
primeira casa, com um coro mínimo de 3/5. Ou seja, são quatro turnos com coro 
mínimo de 3/5, precisando da aprovação, portanto, de 308 deputados e 49 
senadores no mínimo. Se não for aprovada na primeira casa, será arquivada 
sem passar pela segunda. 
Terceira fase (promulgação da Emenda Consitucional): Ocorre pelas 
mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal reunidas, resultando na 
publicação no Diário Oficial da União. Vale ressaltar que a mesa do Congresso 
Nacional difere das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A 
mesa do Congresso Nacional tem composição híbrida de deputados e 
senadores. 
Direito constitucional intertemporal 
Está dentro do Poder Constituinte, pois é uma parte muito específica do 
direito constitucional, na qual se estuda a sucessão no tempo de diversas 
constituições e os reflexos e consequência jurídica dessa sucessão decorrente. 
O que ocorre com a Constituição anterior em razão da nova? A anterior éLeonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
revogada. Mas o que ocorre com a legislação infra-constitucional (todas aquelas 
legislações hierarquicamente abaixo da Constituição)? 
Há três fenômenos: 
- Recepção Constitucional 
- Repristinação Constitucional 
- Desconstitucionalização 
 
 
Recepção Constitucional: O conjunto de leis irá precisar de um novo 
fundamento. Conseguirá esse novo fundamento se o seu conteúdo material se 
compatibilizar com a nova Constituição. Quando há essa compatibilização, há a 
recepção constitucional. Quando as leis forem incompatíveis, há a revogação da 
lei anterior à nova Constituição. Logo, consiste no fenômeno segundo o qual se 
abriga como válidas as leis anteriores que materialmente se compatibilizarem 
com a nova Constituição. 
A nova Constituição não causa a destruição completa do direito pré-
existente. Se houver incompatibilidade formal, não será problema, pois poderá 
ser solucionado, enquanto que a material não. Ou seja, a incompatibilidade 
formal é irrelevante para a recepção constitucional. 
Repristinação Constitucional: Repristinação quer dizer a restauração 
de uma lei que havia sido revogada, pela revogação da lei revogadora. No Brasil 
não é automática, é vedada, mas pode ocorrer desde que haja previsão 
expressa. 
 
 
 
 
 
Ocorrem com a sucessão das 
Constituições. Vale lembrar que 
os EUA não tiveram esses 
fenômenos, pois a sua 
Constituição é a mesma de 
sempre. 
 
L1 L2* L3 
 
 
 
oD 
 
Revogada Revogadora Revogadora 
*L2 é revogada por L3 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
O simples fato da Lei 3 revogar a Lei 2 não restaura a Lei 1, mas, desde 
que expressa, poderá fazer isso. Ou seja, não é a regra, mas pode ocorrer. No 
silêncio da Lei 3, não implicará na repristinação da Lei 1. 
Isso pode ocorrer com a Constituição. Ou seja, em termos constitucionais, 
a repristinação seria o restabelecimento do direito infraconstitucional já revogado 
por Constituição passada em razão da revogação deste documento 
constitucional pela nova Constituição, com a qual aquele direito revogado 
materialmente se concilia. 
Desconstitucionalização: Também não é automática, ocorre com a 
expressa previsão. É a recepção como norma legal da norma constitucional da 
Constituição anterior revogada. Ou seja, tira o status constitucional da norma e 
a recebe em um patamar inferior, como norma legal, pois a Constituição anterior 
é toda revogada. 
Teoria da norma constitucional 
Considerações gerais e conceituais 
Por muito tempo se questionou se as normas constitucionais são 
impositivas ou meramente retóricas. Não há mais espaço para qualquer dúvida, 
elas são efetivamente jurídicas, portanto não simplesmente recomendam, mas 
são impositivas, impondo obrigações e deveres. Se distinguem das normas 
legais pela supremacia. 
 
 
 
 
 
 
 
Espécies de Normas Constitucionais 
Constituição e normas 
constitucionais 
Legislação e normas 
legais 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Antigamente os princípios serviam meramente de forma subsidiária na 
aplicação do Direito, servindo de meio de integração da ordem jurídica na 
hipótese de eventual lacuna. Contudo, corroborando com o 
neoconstitucionalismo, os princípios assumiram força normativa e hoje, no 
Brasil, a normatividade dos princípios já é uma realidade compartilhada por todos 
os constitucionalistas. Nesse cenário, há as normas constitucionais que se 
manifestam por meio de princípios (norma que veicula o valor, imponto o respeito 
a esse valor) e as que se manifestam por meio de regras. 
Critérios para distinção 
Quantitativo de grau 
1. Grau de abstração e generalidade: Enquanto os princípios são 
dotados de elevado grau, as regras têm um reduzido grau de 
abstração e generalidade. Normas que veiculam valores são 
princípios, pois valores são muito abstratos e gerais. As regras 
descrevem situações fáticas definidas e precisas de conteúdo 
fechado, apesar de terem certo grau de abstração e generalidade. 
Dessa forma, as regras são editadas para ser aplicadas a uma 
situação jurídica determinada, portanto, específicas, enquanto que os 
princípios são gerais, pois admitem uma série indefinida de aplicações 
e sua aplicação depende de cada situação. 
2. Grau de determinação da norma: Princípios são normas de 
conteúdo jurídico indeterminado (precisa ser complementado, 
especificado), enquanto as regras têm conteúdo jurídico determinado. 
Os princípios sempre desafiarão complementos, necessitarão de 
integrações. São gerados pela evolução da sociedade; poderão ser 
interpretados de outra forma com o passar do tempo. Além disso, 
afirma-se que as regras são concreções ou aplicações dos princípios 
e, por isso, jamais existirá antinomia entre princípios e regras. 
3. Grau de fundamentalidade: Princípios são considerados as normas 
fundamentais que asseguram a coerência do sistema jurídico. As 
regras se sujeitam aos princípios. Há prevalência, hegemonia material 
e axiológica dos princípios sobre as regras, mas não formal, pois estão 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
no mesmo grau hierárquico. Interpreta-se as regras a partir dos 
princípios. 
4. Grau ou função normogenética: Quais princípios ou regras servem 
de estabilização do sistema jurídico. Cabe aos princípios essa função, 
pois são eles a origem desse sistema. Os princípios revelam-se como 
fundamentos das regras, inspirando a sua criação. Eles irradiam sobre 
todo o sistema jurídico, dando-lhe racionalidade e coerência, e 
fornecendo a inteligência necessária para sua interpretação e 
aplicação. 
Vale lembrar que os princípios, por se revelarem como normas jurídicas 
impositivas de otimização, ainda que eventualmente colidentes, coexistem, pois 
permitem o balanceamento de valores e interesses de acordo com sua 
importância para o caso concreto, ou seja, podem ser objeto de ponderação, de 
harmonização ou concordância. Já as regras sequer podem coexistir quando 
conflitantes, pois as regras antinômicas excluem-se. 
Qualitativos 
Robert Alexy apresenta critérios qualitativos que julga mais importante 
que os quantitativos. Ou seja, Alexy diz que a distinção entre regras e princípios 
não é de grau, mas sim uma distinção qualitativa. 
Se distinguem em face do seu próprio conteúdo, ou que eles 
qualitativamente desempenham. Os princípios correspondem àquelas normas 
que determinam que algo seja realizado na maior medida possível de acordo 
com as condições fáticas e jurídicas existentes. Alexy defende que os princípios, 
apesar de buscarem a máxima realização do que eles ordenam, esse máximo 
nem sempre pode acontecer. Depende das condições políticas, sociais, 
jurídicas, etc. Portanto, os princípios são mandamentos de otimização e por isso 
podem ser realizados em diversos níveis de realização, dependendo das 
condições de fato e de direito, embora almejem sempre o máximo. 
Por seu turno, as regras são normas que prescrevem uma obrigação, 
proibição ou faculdade, que deve ser realizada na exata medida de suas 
prescrições, ou seja, não podem ter uma concretização menor ou maior. É a 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
máxima do “tudo ou nada”: ou a regra é realizada na exatamedida, ou não é 
realizada. 
Além disso, Alexy afirma que se diferenciam nos distintos modos de se 
resolver as colisões entre princípios e os conflitos entre regras. 
Conflito entre regras: Duas formas: primeiro, pela dimensão da validade. 
Ou seja, se não for possível introduzir uma cláusula de exceção em uma das 
regras, o conflito somente pode ser solucionado com a declaração de invalidade 
de uma das regras e sua posterior supressão do sistema jurídico; segundo, se 
possível, pela inserção de uma exceção em uma das regras em conflito. 
Analisemos um exemplo que Alexy menciona: ele cita duas regras em conflito, 
uma que proíbe sair da sala de aula antes que o sinal toque e outra que exige 
sair da sala de aula se soar o alarme de incêndio. Se o alarme de incêndio soar 
antes do toque do sinal de finalização da aula, haverá um conflito concreto. 
Nessa situação, o conflito se resolve exatamente com a incidência da cláusula 
de exceção introduzida na primeira regra, para o caso de o alarme de incêndio 
soar antes de tocar o sinal de finalização da aula. 
Colisão entre princípios: Aqui não é possível introduzir uma cláusula de 
exceção, tampouco declará-lo invalido. Nesse contexto, se resolve a partir de 
uma relação de precedência condicionada, ou seja, na dimensão do peso e 
importância dos interesses em confronto, na qual um deles terá precedência em 
face do outro, sob determinadas condições. Neste caso, o princípio que não 
precedeu, ante as condições postas, cederá diante da aplicação do que 
precedeu, mas não será expulso do ordenamento jurídico, apenas afastado 
daquele caso concreto. 
Interpretação Constitucional 
Relacionada à interpretação jurídica. Por esta entende-se a atividade de 
revelar/atribuir o sentido e o alcance das disposições normativas, com a 
finalidade de aplica-las a situações concretas, pois interpretar é determinar o 
conteúdo e significado dos textos visando solucionar o caso concreto. Ou seja, 
interpreta o direito interpretando textos jurídicos para resolver o problema, 
aplicando o texto. Vai além de mera compreensão. Cuida-se de uma atividade 
prática, por meio da qual o intérprete identifica os sentidos, os significados e o 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
alcance dos textos jurídicos, com a finalidade de resolver um problema prático 
com a incidência e aplicação do texto. Interpretação Constitucional é uma 
interpretação jurídica, com a diferença de que aqui a interpretação é da 
Constituição e irá subordinar a interpretação do direito. 
Método de interpretação constitucional 
Não há apenas um método de interpretação constitucional, podendo-se 
afirmar que, atualmente, a interpretação das normas constitucionais obtém-se a 
partir de um conjunto de métodos, desenvolvidos pela doutrina e pela 
jurisprudência com base em critérios ou premissas – filosóficas, metodológicas, 
epistemológicas – distintos, porém, em geral, reciprocamente complementares. 
Jurídico ou hermenêutico clássico: Mais antigo; 1º método pela teoria 
clássica. 1ª metade do século XIX, na escola histórica do direito, tendo Savigny 
como precursor. Savigny dizia que em toda interpretação jurídica, o intérprete 
tem que se basear em diversos elementos de interpretação tradicionais ou 
clássicos da hermenêutica jurídica, que remontam à Escola Histórica do Direito 
de Savigny, de 1840, quais sejam: 
I. Elemento literal: A partir da análise de sua redação 
II. Elemento histórico: A partir do que pensou o elaborador 
(interpretação retroativa) 
III. Elemento sistemático: Procura articular os diversos preceitos. Para 
interpretar um preceito, necessário olhar para todo o restante. 
IV. Elemento teleológico: Leva-se em conta os fins sociais. 
Tópico-problemático: Segunda metade do século XX, em um âmago 
neoconstitucional, teve como idealizador Theodor Viehweg, em 1953, com a sua 
obra Tópica e Jurisprudência. Leva em consideração o emprego da tópica na 
interpretação constitucional, voltado à solução de problemas. A tópica, por sua 
vez, seria uma técnica de pensar o problema, ou seja, uma técnica mental que 
se orienta para solução de um problema. Os preceitos de uma Constituição são 
abertos e, como são abertos, é muito difícil realizar operações subsuntivas. 
Dessa forma, a interpretação deve acontecer de forma inversa dos métodos 
tradicionais, ou seja, partir do problema (caso concreto) para a norma, devendo 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
a interpretação partir da discussão do problema concreto que se pretende 
resolver para, só ao final, se identificar a norma adequada. 
Hermenêutico-concretizador: Idealizado por Hesse. Não nega o método 
anterior, mas sugere outro caminho: caberá ao intérprete da Constituição uma 
responsabilidade maior, mas a interpretação da Constituição não pode começar 
do problema, mas sim do próprio texto. 
Dá ao intérprete criatividade, pois o conteúdo é vago e aberto, onde o 
intérprete vai fechá-lo a partir da pré-compreensão do preceito para a solução 
do problema. Ou seja, parte da ideia de que a leitura do texto constitucional deve 
se iniciar pela pré-compreensão do seu sentido através de uma atividade criativa 
do intérprete. Com isso, a interpretação deve ser vinculada à norma a ser 
concretizada, à pré-compreensão do intérprete e ao problema concreto a ser 
resolvido. Nesse sentido, não pode haver método de interpretação autônomo, 
separado desses fatores e o procedimento de concretização deve ser 
determinado pelo objeto da interpretação, pela Constituição e pelo problema 
respectivo. 
Houve críticas quanto à pré-compreensão que pode ser feita de forma 
arbitrária. Hesse respondeu que será por meio de parâmetros, na medida em 
que o seu trabalho de determinar o próprio conteúdo da norma deve estar 
vinculado à realidade histórico-concreta do momento e condicionado pela 
consciência jurídica geral, consagrados pela comunidade e os princípios 
fundamentais desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência. 
Científico-espiritual: Idealizado por Rudolf Smend. Defendeu que a 
interpretação da Constituição deve ter um propósito integrativo, partindo da ideia 
de que a Constituição é um instrumento de integração social. O intérprete não 
pode ser desumano. 
Normativo-estruturante: Idealizado por Friedrich Muller. Não se 
confunde texto com norma e não se interpreta a norma. Texto é o objeto da 
interpretação e a norma é o resultado da interpretação. Ou seja, o texto é apenas 
a “ponta do iceberg”, mas a norma não compreende apenas o texto, pois abrange 
também um “pedaço da realidade social”, sendo esta talvez a parte mais 
significativa que o intérprete-aplicador deve levar em conta para realizar o direito. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Princípios de interpretação constitucional 
Vão servir de vetores para iluminar a interpretação do intérprete. Não são 
normas, mas orientações. 
Unidade da Constituição: Toda Constituição deve ser compreendida 
como uma unidade de uma pluralidade de normas, sem distinção hierárquica 
entre suas normas. Todas decorrem da mesma fonte e têm o mesmo 
fundamento de validade: o Poder Constituinte Originário. Nesse contexto, não 
se pode isolar um preceito dos demais, mas dialogar com eles para interpretar a 
Constituição, evitando contradições. 
Efeito integrador: A Constituição jamais pode ser entendida como 
instrumento de desagregação social, mas sim destinado a assegurar uma 
coesão sócio-política, enquanto condiçãoindispensável à preservação de 
qualquer sistema jurídico. 
Máxima Efetividade: Orienta o intérprete a atribuir às normas 
constitucionais o sentido que maior efetividade lhe dê, visando otimizar ou 
maximizar a norma para dela extrair todas as suas potencialidades. 
Concordância prática ou harmonização: Orienta diante da colisão entre 
direitos e garantias. Ou seja, orienta o intérprete a encontrar a melhor solução 
que, longe de importar em sacrifícios totais, promovam a conciliação desses 
bens. 
TEXTO JURÍDICO 
PROGRAMA 
NORMATIVO 
(TEXTO) 
DOMÍNIO 
NORMATIVO 
(REALIDADE) 
NORMA (SENTIDO) 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Justeza ou conformidade funcional: Tem por finalidade o freio ao 
intérprete. Ou seja, impedir que ele modifique o sistema de repartição e divisão 
das funções constitucionais, para evitar que a interpretação constitucional 
chegue a resultados que perturbem o esquema organizatório-funcional nela 
estabelecido, como é o caso da separação dos poderes. Este princípio tem 
particular importância no controle de constitucionalidade. 
Presunção de constitucionalidade: A rigor, este princípio aplica-se mais 
ao controle de constitucionalidade do que de interpretação constitucional. Nesse 
sentido, as leis e os atos gozam de uma presunção de que eles são compatíveis 
com a Constituição. Contudo, este princípio é relativo, podendo ser afastado 
quando resultar inequívoca a desconformidade da norma legal com a 
Constituição. 
Interpretação da lei ou do ato normativo conforme a Constituição: 
Este princípio também consiste num princípio de controle de constitucionalidade, 
mas ganha relevância no âmbito da interpretação constitucional quando a norma 
legal se apresenta com mais de um sentido ou significado, devendo, nesse caso, 
dar-se preferência à interpretação que lhe empreste aquele sentido que 
possibilite a sua conformidade com a Constituição. Nesse sentido, se houver 
interpretações diversas, umas em consonância com a Constituição, outras 
divergindo dela, estas deverão ser excluídas, enquanto aquelas devem ser 
preferidas. Se houver interpretações diversas todas em consonância com a 
Constituição, deve-se adotar aquela que seja a melhor orientada para a 
Constituição, ou seja, que melhor realize a Constituição. 
Controle de constitucionalidade 
Conceito 
Controle = atividade de fiscalizar. Nesse sentido, o controle de 
constitucionalidade é o ato de fiscalização da constitucionalidade das leis e todos 
os atos normativos produzidos pelo sistema jurídico. 
Este controle de constitucionalidade tem um propósito: verificar se as leis 
ou os atos normativos em geral são compatíveis com a Constituição. Neste caso, 
segue-se o princípio da presunção de constitucionalidade, na qual presume-se 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
que toda lei criada é constitucional. Contudo, se o controle de constitucionalidade 
detectar alguma divergência da norma com a Constituição, será declarada a sua 
inconstitucionalidade e esta lei será expulsa do ordenamento jurídico, 
retroagindo, em regra, no momento em que foi produzida, extinguindo, assim, 
todos os seus efeitos desde o momento em que a lei foi criada. Ou seja, todo o 
efeito que a lei causou, via de regra, será extinguido. Portanto, é a partir do 
controle de constitucionalidade que se vê a importância de defender a 
supremacia da Constituição e a sua força normativa. 
Neste cenário, há então duas definições de caráter distintos para o 
controle de constitucionalidade. A primeira definição é a estruturante e a segunda 
é uma definição formal. 
Definição estruturante: O controle de constitucionalidade consiste em 
um sistema de defesa das Constituições rígidas, ou seja, um sistema que 
garante a supremacia da Constituição; “sistema imunológico” das Constituições 
rígidas. 
Definição funcional: Atividade de fiscalização das leis e dos atos 
normativos, que funciona a partir de órgãos. 
Dito isto, é importante dizer que há situações excepcionais em que o 
Direito Constitucional propicia uma anulabilidade da lei ou ato normativo, em 
caso de inconstitucionalidade, ao invés de propor a sua nulidade. A diferença é 
que na nulidade, extingue-se todos os efeitos produzidos por ela desde o 
momento de sua criação, o que caracteriza a regra. Por seu turno, a 
anulabilidade quer dizer uma nulidade relativa. Ou seja, só será nula a partir do 
momento em que foi declarada a sua inconstitucionalidade, não retroagindo, 
portanto. Dessa forma, só poderá propor a anulabilidade da lei ou ato normativo, 
ou seja, só poderá propor a exceção da regra, em nome da segurança jurídica 
ou um fato social relevante. Por exemplo: Em 2016 foi posta uma lei que diminuía 
a alíquota do Imposto de Renda de 27,5% para 10%, apenas. Contudo, em 2017 
foi declarada a inconstitucionalidade dessa lei. Portanto, o governo irá propor a 
anulabilidade desta norma, pois se retroagisse, todos que pagaram 10% iriam 
ter que pagar todo o restante. 
Pressupostos 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Apesar da importância do controle de constitucionalidade, nem todos os 
países o possuem. Mas como saber se o país tem ou não? A partir de seus 
pressupostos. São três: 
• Presença de Constituição formal e escrita 
• Constituição Rígida (apenas da rigidez há a supremacia da 
Constituição) 
• Previsão do(s) órgão(s) de controle, os quais fazem parte de uma 
justiça constitucional (órgãos de jurisdição/justiça constitucional) 
É importante salientar que esses pressupostos são acumulativos, 
portanto, para haver o controle de constitucionalidade, é necessário que tenha 
os três. 
Os “guardiões” da Constituição brasileira são todos os juízes e tribunais, 
inclusive o STF. 
Modelos 
Cada país possui seu próprio modelo, pois o controle de 
constitucionalidade é modelado a partir das singularidades das Constituições. 
Apesar da pluralidade, dois modelos se destacam, pois predominam na 
generalidade, servindo de modelo para os diversos países. São eles: 
1. Modelo Americano 
2. Modelo Europeu 
Além de servirem de parâmetro aos países americanos e europeus, esses 
dois modelos serviram também para países fora desses continentes, como é o 
caso do Japão, Índia, países da África, etc. Vale lembrar também que Chile, 
Paraguai e Uruguai adotam um modelo europeu e não americano. 
O Brasil tem o seu controle de constitucionalidade baseado nos dois 
modelos, por isso é chamado de sistema híbrido. 
Modelo americano: Teve sua origem nos EUA, surgindo a partir de uma 
decisão judicial da Suprema Corte de 1803, no caso concreto de Marbury vs. 
Madison. Neste caso, dentre os nove juízes da Suprema Corte, destacou-se o 
juiz John Marshall. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Modelo Europeu: Surgiu mais de um século depois, tendo origem na 
Áustria, por meio de previsão explícita na Constituição da Áustria de 1920, por 
via de Hans Kelsen. Kelsen foi convidado a confeccionar o anteprojeto da 
Constituição austríaca e aceitou o convite. Nesse cenário, ele colocou um 
modelo de controle de constitucionalidade explícito no anteprojeto 
completamente diferente do modelo americano. 
Para explicar melhor a grande diferença entre os dois modelos, é bom 
começar dizendo que eles foram criados para responder a três perguntas: 
I. Quais os órgãos de controle? (Quem?) 
II. Como é exercido o controle por esses órgãos? (Como?) 
III. Quais os efeitos e consequências? (Efeitos?) 
Nesse sentido, cada modelo responde de forma diferente. 
Ao questionamentoI: 
Modelo americano: Todos os juízes e tribunais; portanto é um controle 
difuso, na medida em que é realizado por vários órgãos, pois envolve TODOS 
os juízes e tribunais. 
Modelo europeu: Somente um órgão; portanto é um controle concentrado. 
Apenas um tribunal é responsável pelo controle de constitucionalidade, que é o 
chamado Tribunal Constitucional, o qual é específico para essas causas e, 
portanto, não integra o poder judiciário. Dessa forma, os juízes integrantes desse 
tribunal específico são temporários e ocupam mandatos e não são concursados. 
Ao questionamento II: 
Há duas formas de exercer o controle de constitucionalidade: julgando 
casos concretos, que diz respeito a uma questão incidental; e abstratamente, 
com o pedido de inconstitucionalidade da lei, por meio de uma ação especial, o 
qual diz respeito a uma questão principal. 
Modelo americano: Controle concreto e incidental. 
Modelo europeu: Controle abstrato e principal, por via de ação direta. 
Ao questionamento III: 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
Modelo americano: “Ex tunc” e inter partes, pois só vai incidir no caso 
concreto, para as partes envolventes. Ou seja, uma decisão de um juiz ou 
tribunal para a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo só irá conceder 
os benefícios da decisão às partes relacionadas no processo e não ao geral. 
Dessa forma, se outra pessoa se sentir lesionado com essa mesma lei, ele terá 
que abrir o seu próprio processo, pois não poderá se beneficiar com a decisão 
daquele outro. 
Modelo europeu: “Ex tunc” e “era omnes”, ou seja, a decisão do tribunal 
tem força para todos. Ou seja, diferente do modelo americano, se o tribunal 
decidir por uma inconstitucionalidade de uma norma, extinguirá todos os seus 
efeitos, via de regra, desde o momento de sua criação, para todos aqueles que 
foram afetados por essa lei. 
No Brasil, apesar de ter um controle de constitucionalidade híbrido, o 
efeito europeu sempre irá prevalecer, pois é o geral. 
O controle de constitucionalidade no Brasil 
O Brasil, como dito, tem um controle de constitucionalidade híbrido, no 
qual abrange tanto o modelo americano, quanto o modelo europeu, o que 
caracteriza um modelo mais completo. Como já dito, as características do 
modelo americano é um controle difuso, concreto e incidental, por juízes ou 
tribunais. Já o controle europeu é um controle concentrado, abstrato e principal, 
por via de ação direta, cuja competência é do STF na garantia da Constituição 
Federal, mas também dos TJ’s de cada estado na garantia das suas 
Constituições Estaduais, julgando ações diretas. Existem quatro tipos: ADI, 
ADO, ADC e ADPF. 
ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade): É declarada para a 
inconstitucionalidade de qualquer lei federal ou estadual. Ou seja, finalidade de 
suprimir. 
ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão): É 
declarada quando há a omissão do Estado com a não elaboração de uma lei. Ou 
seja, tem a finalidade de suprir. 
Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 
 
 
ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade): É declarada para a 
confirmação da lei. Ou seja, para que haja a ADC é necessário que a lei esteja 
sob questionamento. 
ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental): É 
declarada quando há uma lei ou ato normativo que viole somente os 
considerados preceitos fundamentais, que são aqueles dotados de relevância 
imprescindível para a democracia. Assim como a ADI, também tem a finalidade 
de suprimir. Contudo, a diferença entre os dois é que a ADPF foi criada como 
natureza subsidiária da ADI, ou seja, só se pode declarar a ADPF quando não 
se consegue declarar a ADI. 
E quando não se pode declarar ADI? Quando a norma é de natureza 
municipal, ou diz respeito às leis anteriores à Constituição, neste caso, federal, 
estadual ou municipal. Mas e se a lei inconstitucional for municipal, mas não 
ferir a preceitos fundamentais? Neste caso, entra a dualidade do controle de 
constitucionalidade brasileiro, invocando o modelo americano que tratará do 
caso concreto. Neste caso, cria-se uma jurisprudência que pode tornar-se uma 
súmula vinculante. 
Dito isto, essas ações só podem ser propostas por dez figuras expressas 
no artigo 103 da Constituição Federal: 
I. O Presidente da República; 
II. A Mesa do Senado Federal; 
III. A Mesa da Câmara dos Deputados 
IV. A Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do 
Distrito Federal; 
V. O Governador de Estado ou do Distrito Federal; 
VI. O Procurador-Geral da República; 
VII. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; 
VIII. Partido político com representação no Congresso Nacional; 
IX. Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; 
X. O Supremo Tribunal Federal.

Outros materiais

Perguntas Recentes