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Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 CONTINUAÇÃO PODER CONSTITUINTE – SEGUNDA UNIDADE Características do Poder Constituinte Poder Constituinte Originário 1. Poder inicial: único capaz, ao exercer a potência, dar início a uma nova ordem estatal, inaugurando uma nova forma de organização estatal, por meio da Constituição. Primeira manifestação de poder de uma organização política. Ao mesmo tempo poder inicial e final, por romper com a Constituição anterior, ou seja, é um poder constituinte e poder desconstituinte; 2. Autônomo: capacidade de livremente estabelecer os novos termos da Constituição; 3. Ilimitado/Absoluto: pode tudo. A Constituição pode vir de qualquer jeito, qualquer tipo, pois ele não é mera competência e sim potência. Não há nada no direito que limite o poder originário, mas na política pode-se falar em limitações. É na política que o Poder Constituinte Originário pode ser forjado. Nesse sentido, pode-se falar da limitação do Direito Internacional, sofrendo represálias, mas internamente nada pode pará-lo. Poderá sofrer sanções internacionais, mas não quer dizer que sofrerá limitações, pois o Poder Constituinte Originário é fruto da soberania do Estado. 4. Incondicionado: não existe, no direito, procedimentos que possam condicionar o modo de expressão do Poder Constituinte Originário. Há duas formas de ruptura: com revolução ou sem revolução. A ruptura significa a quebra da continuidade constitucional do país. 5. Permanente: nunca deixa de existir, pois é a expressão da nossa vontade coletiva. Há momentos em que ele é ativado e momentos de hibernação política. Poder Constituinte Derivado 1. Poder secundário: finalidade de dar continuidade ao Poder Originário, continuidade à Constituição, por meio de Emendas Constitucionais, e formação das Constituições locais e emendá-las. Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 2. Dependente: depende do que a Constituição lhe deixa fazer. A Constituição que indica as suas competências, autorizando os espaços de atuação do Poder Constituinte Derivado. 3. Limitado: sofre restrições estabelecidas pela Constituição. Exemplo: cláusulas pétreas. 4. Condicionado: tem previsão no direito e só pode se manifestar de acordo com o que a Constituição lhe concede; 5. Temporário: usado esporadicamente, se necessário for. Só tem existência no momento em que atua. Limitações Há quatro limitações: temporais, circunstanciais, materiais/substanciais e formais. Vale lembrar que apenas o Poder Constituinte Derivado que sofre limitações. Temporais: proíbem o Poder Constituinte Derivado de alterar a Constituição durante determinado período de tempo. O Brasil adotou as limitações temporais apenas na Constituição de 1824. Circunstanciais: previstas no art. 60, parágrafo primeiro. Proíbem as alterações na Constituição durante a vigência de determinadas circunstâncias anormais. Não é o fator tempo, mas as circunstâncias. Exemplo: intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio. O estado de defesa e estado de sítio são estados de exceção. Muitas vezes suspendem direitos e garantias fundamentais. O estado de sítio é decretado quando as medidas do estado de defesa forem insuficientes. Materiais/Substanciais: limitações que proíbem a mudança na Constituição que venha a abolir determinadas matérias previstos explícita ou implicitamente na Constituição. São as cláusulas pétreas. Elas podem ser explícitas ou implícitas e não podem ser abolidas por emendas ou remorfas. Cláusulas pétreas explícitas: expressamente prevista na Constituição no art 60, §4º. Forma federativa de Estado; voto universal, secreto, direto e periódico; separação de poderes; direito e garantias fundamentais. Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Cláusulas pétreas implícitas: embora não expressamente, essas cláusulas também seriam protegidas pelas emendas constitucionais. Exemplo: titularidade do Poder Constituinte Originário; competência para se promover a reforma da Constituição; rigidez da Constituição. Vale lembrar que não se pode dizer que as cláusulas pétreas atribuem à Constituição um caráter imutável, pois há a possibilidade de uma emenda criar novas cláusulas pétreas, mas jamais reduzi-las. Formais: impõem a observância escrita das formalidades necessárias para se alterar a Constituição, não podendo a alteração da Constituição violar essas formalidades. Alteração da Constituição Pode ser alterada de duas maneiras: mutação constitucional e reforma constitucional. Mutação Constitucional: alteração informal da Constituição por meio da interpretação constitucional dos tribunais, que modificam o sentido da Constituição, sem alterar a sua redação. O texto continua o mesmo, mas o seu sentido é alterado. Exemplo: garantia do estado de inocência. O cumprimento da pena só poderia ser feito após o trânsito em julgado, contudo, o STF mudou o sentido pela sua interpretação, dizendo que é possível o cumprimento da pena quando a sentença passar para segundo grau, mesmo antes do trânsito em julgado. Exemplo 2: união estável entre homem e mulher. O STF deu novo sentido, garantindo a união estável entre pessoas. Reforma Constitucional: exercício do Poder Constituinte Derivado Reformador. Alteração formal da Constituição pelo exercício do P.C. Reformador, pelo Congresso Nacional, por meio das Emendas à Constituição. Processo Legislativo de Emendas Constitucionais Conjunto de formalidade que são previstas para a aprovação, pelo Congresso Nacional, do exercício do Poder Constituinte Reformador, de emendas à Constituição. Envolve três fases: Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Primeira fase (apresentação da PEC): Quem tem o poder constitucional de iniciativa para apresentar a PEC? - 1/3 dos deputados federais (513), ou seja, 171 deputados; - 1/3 dos senadores (81), ou seja, 27 senadores; - Presidente da República; - Mais da metade das Assembleias Legislativas dos Estados e DF (ou seja, 14, no mínimo), tendo que cada uma delas se manifestar pela maioria simples dos deputados das Assembleias Legislativas. Vale lembrar que deputados e senadores podem apresentar projetos de lei por si só, mas não projetos de emenda à Constituição. Segunda fase (discussão e votação da PEC): Duas casas do Congresso Nacional, em sessões separadas e sucessivas, podendo iniciar na Câmara ou no Senado. Ocorrerá duas vezes emc ada casa, ou seja, dois turnos em cada casa. Só passará para a outra casa se aprovado os dois turnos na primeira casa, com um coro mínimo de 3/5. Ou seja, são quatro turnos com coro mínimo de 3/5, precisando da aprovação, portanto, de 308 deputados e 49 senadores no mínimo. Se não for aprovada na primeira casa, será arquivada sem passar pela segunda. Terceira fase (promulgação da Emenda Consitucional): Ocorre pelas mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal reunidas, resultando na publicação no Diário Oficial da União. Vale ressaltar que a mesa do Congresso Nacional difere das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A mesa do Congresso Nacional tem composição híbrida de deputados e senadores. Direito constitucional intertemporal Está dentro do Poder Constituinte, pois é uma parte muito específica do direito constitucional, na qual se estuda a sucessão no tempo de diversas constituições e os reflexos e consequência jurídica dessa sucessão decorrente. O que ocorre com a Constituição anterior em razão da nova? A anterior éLeonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 revogada. Mas o que ocorre com a legislação infra-constitucional (todas aquelas legislações hierarquicamente abaixo da Constituição)? Há três fenômenos: - Recepção Constitucional - Repristinação Constitucional - Desconstitucionalização Recepção Constitucional: O conjunto de leis irá precisar de um novo fundamento. Conseguirá esse novo fundamento se o seu conteúdo material se compatibilizar com a nova Constituição. Quando há essa compatibilização, há a recepção constitucional. Quando as leis forem incompatíveis, há a revogação da lei anterior à nova Constituição. Logo, consiste no fenômeno segundo o qual se abriga como válidas as leis anteriores que materialmente se compatibilizarem com a nova Constituição. A nova Constituição não causa a destruição completa do direito pré- existente. Se houver incompatibilidade formal, não será problema, pois poderá ser solucionado, enquanto que a material não. Ou seja, a incompatibilidade formal é irrelevante para a recepção constitucional. Repristinação Constitucional: Repristinação quer dizer a restauração de uma lei que havia sido revogada, pela revogação da lei revogadora. No Brasil não é automática, é vedada, mas pode ocorrer desde que haja previsão expressa. Ocorrem com a sucessão das Constituições. Vale lembrar que os EUA não tiveram esses fenômenos, pois a sua Constituição é a mesma de sempre. L1 L2* L3 oD Revogada Revogadora Revogadora *L2 é revogada por L3 Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 O simples fato da Lei 3 revogar a Lei 2 não restaura a Lei 1, mas, desde que expressa, poderá fazer isso. Ou seja, não é a regra, mas pode ocorrer. No silêncio da Lei 3, não implicará na repristinação da Lei 1. Isso pode ocorrer com a Constituição. Ou seja, em termos constitucionais, a repristinação seria o restabelecimento do direito infraconstitucional já revogado por Constituição passada em razão da revogação deste documento constitucional pela nova Constituição, com a qual aquele direito revogado materialmente se concilia. Desconstitucionalização: Também não é automática, ocorre com a expressa previsão. É a recepção como norma legal da norma constitucional da Constituição anterior revogada. Ou seja, tira o status constitucional da norma e a recebe em um patamar inferior, como norma legal, pois a Constituição anterior é toda revogada. Teoria da norma constitucional Considerações gerais e conceituais Por muito tempo se questionou se as normas constitucionais são impositivas ou meramente retóricas. Não há mais espaço para qualquer dúvida, elas são efetivamente jurídicas, portanto não simplesmente recomendam, mas são impositivas, impondo obrigações e deveres. Se distinguem das normas legais pela supremacia. Espécies de Normas Constitucionais Constituição e normas constitucionais Legislação e normas legais Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Antigamente os princípios serviam meramente de forma subsidiária na aplicação do Direito, servindo de meio de integração da ordem jurídica na hipótese de eventual lacuna. Contudo, corroborando com o neoconstitucionalismo, os princípios assumiram força normativa e hoje, no Brasil, a normatividade dos princípios já é uma realidade compartilhada por todos os constitucionalistas. Nesse cenário, há as normas constitucionais que se manifestam por meio de princípios (norma que veicula o valor, imponto o respeito a esse valor) e as que se manifestam por meio de regras. Critérios para distinção Quantitativo de grau 1. Grau de abstração e generalidade: Enquanto os princípios são dotados de elevado grau, as regras têm um reduzido grau de abstração e generalidade. Normas que veiculam valores são princípios, pois valores são muito abstratos e gerais. As regras descrevem situações fáticas definidas e precisas de conteúdo fechado, apesar de terem certo grau de abstração e generalidade. Dessa forma, as regras são editadas para ser aplicadas a uma situação jurídica determinada, portanto, específicas, enquanto que os princípios são gerais, pois admitem uma série indefinida de aplicações e sua aplicação depende de cada situação. 2. Grau de determinação da norma: Princípios são normas de conteúdo jurídico indeterminado (precisa ser complementado, especificado), enquanto as regras têm conteúdo jurídico determinado. Os princípios sempre desafiarão complementos, necessitarão de integrações. São gerados pela evolução da sociedade; poderão ser interpretados de outra forma com o passar do tempo. Além disso, afirma-se que as regras são concreções ou aplicações dos princípios e, por isso, jamais existirá antinomia entre princípios e regras. 3. Grau de fundamentalidade: Princípios são considerados as normas fundamentais que asseguram a coerência do sistema jurídico. As regras se sujeitam aos princípios. Há prevalência, hegemonia material e axiológica dos princípios sobre as regras, mas não formal, pois estão Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 no mesmo grau hierárquico. Interpreta-se as regras a partir dos princípios. 4. Grau ou função normogenética: Quais princípios ou regras servem de estabilização do sistema jurídico. Cabe aos princípios essa função, pois são eles a origem desse sistema. Os princípios revelam-se como fundamentos das regras, inspirando a sua criação. Eles irradiam sobre todo o sistema jurídico, dando-lhe racionalidade e coerência, e fornecendo a inteligência necessária para sua interpretação e aplicação. Vale lembrar que os princípios, por se revelarem como normas jurídicas impositivas de otimização, ainda que eventualmente colidentes, coexistem, pois permitem o balanceamento de valores e interesses de acordo com sua importância para o caso concreto, ou seja, podem ser objeto de ponderação, de harmonização ou concordância. Já as regras sequer podem coexistir quando conflitantes, pois as regras antinômicas excluem-se. Qualitativos Robert Alexy apresenta critérios qualitativos que julga mais importante que os quantitativos. Ou seja, Alexy diz que a distinção entre regras e princípios não é de grau, mas sim uma distinção qualitativa. Se distinguem em face do seu próprio conteúdo, ou que eles qualitativamente desempenham. Os princípios correspondem àquelas normas que determinam que algo seja realizado na maior medida possível de acordo com as condições fáticas e jurídicas existentes. Alexy defende que os princípios, apesar de buscarem a máxima realização do que eles ordenam, esse máximo nem sempre pode acontecer. Depende das condições políticas, sociais, jurídicas, etc. Portanto, os princípios são mandamentos de otimização e por isso podem ser realizados em diversos níveis de realização, dependendo das condições de fato e de direito, embora almejem sempre o máximo. Por seu turno, as regras são normas que prescrevem uma obrigação, proibição ou faculdade, que deve ser realizada na exata medida de suas prescrições, ou seja, não podem ter uma concretização menor ou maior. É a Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 máxima do “tudo ou nada”: ou a regra é realizada na exatamedida, ou não é realizada. Além disso, Alexy afirma que se diferenciam nos distintos modos de se resolver as colisões entre princípios e os conflitos entre regras. Conflito entre regras: Duas formas: primeiro, pela dimensão da validade. Ou seja, se não for possível introduzir uma cláusula de exceção em uma das regras, o conflito somente pode ser solucionado com a declaração de invalidade de uma das regras e sua posterior supressão do sistema jurídico; segundo, se possível, pela inserção de uma exceção em uma das regras em conflito. Analisemos um exemplo que Alexy menciona: ele cita duas regras em conflito, uma que proíbe sair da sala de aula antes que o sinal toque e outra que exige sair da sala de aula se soar o alarme de incêndio. Se o alarme de incêndio soar antes do toque do sinal de finalização da aula, haverá um conflito concreto. Nessa situação, o conflito se resolve exatamente com a incidência da cláusula de exceção introduzida na primeira regra, para o caso de o alarme de incêndio soar antes de tocar o sinal de finalização da aula. Colisão entre princípios: Aqui não é possível introduzir uma cláusula de exceção, tampouco declará-lo invalido. Nesse contexto, se resolve a partir de uma relação de precedência condicionada, ou seja, na dimensão do peso e importância dos interesses em confronto, na qual um deles terá precedência em face do outro, sob determinadas condições. Neste caso, o princípio que não precedeu, ante as condições postas, cederá diante da aplicação do que precedeu, mas não será expulso do ordenamento jurídico, apenas afastado daquele caso concreto. Interpretação Constitucional Relacionada à interpretação jurídica. Por esta entende-se a atividade de revelar/atribuir o sentido e o alcance das disposições normativas, com a finalidade de aplica-las a situações concretas, pois interpretar é determinar o conteúdo e significado dos textos visando solucionar o caso concreto. Ou seja, interpreta o direito interpretando textos jurídicos para resolver o problema, aplicando o texto. Vai além de mera compreensão. Cuida-se de uma atividade prática, por meio da qual o intérprete identifica os sentidos, os significados e o Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 alcance dos textos jurídicos, com a finalidade de resolver um problema prático com a incidência e aplicação do texto. Interpretação Constitucional é uma interpretação jurídica, com a diferença de que aqui a interpretação é da Constituição e irá subordinar a interpretação do direito. Método de interpretação constitucional Não há apenas um método de interpretação constitucional, podendo-se afirmar que, atualmente, a interpretação das normas constitucionais obtém-se a partir de um conjunto de métodos, desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência com base em critérios ou premissas – filosóficas, metodológicas, epistemológicas – distintos, porém, em geral, reciprocamente complementares. Jurídico ou hermenêutico clássico: Mais antigo; 1º método pela teoria clássica. 1ª metade do século XIX, na escola histórica do direito, tendo Savigny como precursor. Savigny dizia que em toda interpretação jurídica, o intérprete tem que se basear em diversos elementos de interpretação tradicionais ou clássicos da hermenêutica jurídica, que remontam à Escola Histórica do Direito de Savigny, de 1840, quais sejam: I. Elemento literal: A partir da análise de sua redação II. Elemento histórico: A partir do que pensou o elaborador (interpretação retroativa) III. Elemento sistemático: Procura articular os diversos preceitos. Para interpretar um preceito, necessário olhar para todo o restante. IV. Elemento teleológico: Leva-se em conta os fins sociais. Tópico-problemático: Segunda metade do século XX, em um âmago neoconstitucional, teve como idealizador Theodor Viehweg, em 1953, com a sua obra Tópica e Jurisprudência. Leva em consideração o emprego da tópica na interpretação constitucional, voltado à solução de problemas. A tópica, por sua vez, seria uma técnica de pensar o problema, ou seja, uma técnica mental que se orienta para solução de um problema. Os preceitos de uma Constituição são abertos e, como são abertos, é muito difícil realizar operações subsuntivas. Dessa forma, a interpretação deve acontecer de forma inversa dos métodos tradicionais, ou seja, partir do problema (caso concreto) para a norma, devendo Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 a interpretação partir da discussão do problema concreto que se pretende resolver para, só ao final, se identificar a norma adequada. Hermenêutico-concretizador: Idealizado por Hesse. Não nega o método anterior, mas sugere outro caminho: caberá ao intérprete da Constituição uma responsabilidade maior, mas a interpretação da Constituição não pode começar do problema, mas sim do próprio texto. Dá ao intérprete criatividade, pois o conteúdo é vago e aberto, onde o intérprete vai fechá-lo a partir da pré-compreensão do preceito para a solução do problema. Ou seja, parte da ideia de que a leitura do texto constitucional deve se iniciar pela pré-compreensão do seu sentido através de uma atividade criativa do intérprete. Com isso, a interpretação deve ser vinculada à norma a ser concretizada, à pré-compreensão do intérprete e ao problema concreto a ser resolvido. Nesse sentido, não pode haver método de interpretação autônomo, separado desses fatores e o procedimento de concretização deve ser determinado pelo objeto da interpretação, pela Constituição e pelo problema respectivo. Houve críticas quanto à pré-compreensão que pode ser feita de forma arbitrária. Hesse respondeu que será por meio de parâmetros, na medida em que o seu trabalho de determinar o próprio conteúdo da norma deve estar vinculado à realidade histórico-concreta do momento e condicionado pela consciência jurídica geral, consagrados pela comunidade e os princípios fundamentais desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência. Científico-espiritual: Idealizado por Rudolf Smend. Defendeu que a interpretação da Constituição deve ter um propósito integrativo, partindo da ideia de que a Constituição é um instrumento de integração social. O intérprete não pode ser desumano. Normativo-estruturante: Idealizado por Friedrich Muller. Não se confunde texto com norma e não se interpreta a norma. Texto é o objeto da interpretação e a norma é o resultado da interpretação. Ou seja, o texto é apenas a “ponta do iceberg”, mas a norma não compreende apenas o texto, pois abrange também um “pedaço da realidade social”, sendo esta talvez a parte mais significativa que o intérprete-aplicador deve levar em conta para realizar o direito. Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Princípios de interpretação constitucional Vão servir de vetores para iluminar a interpretação do intérprete. Não são normas, mas orientações. Unidade da Constituição: Toda Constituição deve ser compreendida como uma unidade de uma pluralidade de normas, sem distinção hierárquica entre suas normas. Todas decorrem da mesma fonte e têm o mesmo fundamento de validade: o Poder Constituinte Originário. Nesse contexto, não se pode isolar um preceito dos demais, mas dialogar com eles para interpretar a Constituição, evitando contradições. Efeito integrador: A Constituição jamais pode ser entendida como instrumento de desagregação social, mas sim destinado a assegurar uma coesão sócio-política, enquanto condiçãoindispensável à preservação de qualquer sistema jurídico. Máxima Efetividade: Orienta o intérprete a atribuir às normas constitucionais o sentido que maior efetividade lhe dê, visando otimizar ou maximizar a norma para dela extrair todas as suas potencialidades. Concordância prática ou harmonização: Orienta diante da colisão entre direitos e garantias. Ou seja, orienta o intérprete a encontrar a melhor solução que, longe de importar em sacrifícios totais, promovam a conciliação desses bens. TEXTO JURÍDICO PROGRAMA NORMATIVO (TEXTO) DOMÍNIO NORMATIVO (REALIDADE) NORMA (SENTIDO) Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Justeza ou conformidade funcional: Tem por finalidade o freio ao intérprete. Ou seja, impedir que ele modifique o sistema de repartição e divisão das funções constitucionais, para evitar que a interpretação constitucional chegue a resultados que perturbem o esquema organizatório-funcional nela estabelecido, como é o caso da separação dos poderes. Este princípio tem particular importância no controle de constitucionalidade. Presunção de constitucionalidade: A rigor, este princípio aplica-se mais ao controle de constitucionalidade do que de interpretação constitucional. Nesse sentido, as leis e os atos gozam de uma presunção de que eles são compatíveis com a Constituição. Contudo, este princípio é relativo, podendo ser afastado quando resultar inequívoca a desconformidade da norma legal com a Constituição. Interpretação da lei ou do ato normativo conforme a Constituição: Este princípio também consiste num princípio de controle de constitucionalidade, mas ganha relevância no âmbito da interpretação constitucional quando a norma legal se apresenta com mais de um sentido ou significado, devendo, nesse caso, dar-se preferência à interpretação que lhe empreste aquele sentido que possibilite a sua conformidade com a Constituição. Nesse sentido, se houver interpretações diversas, umas em consonância com a Constituição, outras divergindo dela, estas deverão ser excluídas, enquanto aquelas devem ser preferidas. Se houver interpretações diversas todas em consonância com a Constituição, deve-se adotar aquela que seja a melhor orientada para a Constituição, ou seja, que melhor realize a Constituição. Controle de constitucionalidade Conceito Controle = atividade de fiscalizar. Nesse sentido, o controle de constitucionalidade é o ato de fiscalização da constitucionalidade das leis e todos os atos normativos produzidos pelo sistema jurídico. Este controle de constitucionalidade tem um propósito: verificar se as leis ou os atos normativos em geral são compatíveis com a Constituição. Neste caso, segue-se o princípio da presunção de constitucionalidade, na qual presume-se Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 que toda lei criada é constitucional. Contudo, se o controle de constitucionalidade detectar alguma divergência da norma com a Constituição, será declarada a sua inconstitucionalidade e esta lei será expulsa do ordenamento jurídico, retroagindo, em regra, no momento em que foi produzida, extinguindo, assim, todos os seus efeitos desde o momento em que a lei foi criada. Ou seja, todo o efeito que a lei causou, via de regra, será extinguido. Portanto, é a partir do controle de constitucionalidade que se vê a importância de defender a supremacia da Constituição e a sua força normativa. Neste cenário, há então duas definições de caráter distintos para o controle de constitucionalidade. A primeira definição é a estruturante e a segunda é uma definição formal. Definição estruturante: O controle de constitucionalidade consiste em um sistema de defesa das Constituições rígidas, ou seja, um sistema que garante a supremacia da Constituição; “sistema imunológico” das Constituições rígidas. Definição funcional: Atividade de fiscalização das leis e dos atos normativos, que funciona a partir de órgãos. Dito isto, é importante dizer que há situações excepcionais em que o Direito Constitucional propicia uma anulabilidade da lei ou ato normativo, em caso de inconstitucionalidade, ao invés de propor a sua nulidade. A diferença é que na nulidade, extingue-se todos os efeitos produzidos por ela desde o momento de sua criação, o que caracteriza a regra. Por seu turno, a anulabilidade quer dizer uma nulidade relativa. Ou seja, só será nula a partir do momento em que foi declarada a sua inconstitucionalidade, não retroagindo, portanto. Dessa forma, só poderá propor a anulabilidade da lei ou ato normativo, ou seja, só poderá propor a exceção da regra, em nome da segurança jurídica ou um fato social relevante. Por exemplo: Em 2016 foi posta uma lei que diminuía a alíquota do Imposto de Renda de 27,5% para 10%, apenas. Contudo, em 2017 foi declarada a inconstitucionalidade dessa lei. Portanto, o governo irá propor a anulabilidade desta norma, pois se retroagisse, todos que pagaram 10% iriam ter que pagar todo o restante. Pressupostos Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Apesar da importância do controle de constitucionalidade, nem todos os países o possuem. Mas como saber se o país tem ou não? A partir de seus pressupostos. São três: • Presença de Constituição formal e escrita • Constituição Rígida (apenas da rigidez há a supremacia da Constituição) • Previsão do(s) órgão(s) de controle, os quais fazem parte de uma justiça constitucional (órgãos de jurisdição/justiça constitucional) É importante salientar que esses pressupostos são acumulativos, portanto, para haver o controle de constitucionalidade, é necessário que tenha os três. Os “guardiões” da Constituição brasileira são todos os juízes e tribunais, inclusive o STF. Modelos Cada país possui seu próprio modelo, pois o controle de constitucionalidade é modelado a partir das singularidades das Constituições. Apesar da pluralidade, dois modelos se destacam, pois predominam na generalidade, servindo de modelo para os diversos países. São eles: 1. Modelo Americano 2. Modelo Europeu Além de servirem de parâmetro aos países americanos e europeus, esses dois modelos serviram também para países fora desses continentes, como é o caso do Japão, Índia, países da África, etc. Vale lembrar também que Chile, Paraguai e Uruguai adotam um modelo europeu e não americano. O Brasil tem o seu controle de constitucionalidade baseado nos dois modelos, por isso é chamado de sistema híbrido. Modelo americano: Teve sua origem nos EUA, surgindo a partir de uma decisão judicial da Suprema Corte de 1803, no caso concreto de Marbury vs. Madison. Neste caso, dentre os nove juízes da Suprema Corte, destacou-se o juiz John Marshall. Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Modelo Europeu: Surgiu mais de um século depois, tendo origem na Áustria, por meio de previsão explícita na Constituição da Áustria de 1920, por via de Hans Kelsen. Kelsen foi convidado a confeccionar o anteprojeto da Constituição austríaca e aceitou o convite. Nesse cenário, ele colocou um modelo de controle de constitucionalidade explícito no anteprojeto completamente diferente do modelo americano. Para explicar melhor a grande diferença entre os dois modelos, é bom começar dizendo que eles foram criados para responder a três perguntas: I. Quais os órgãos de controle? (Quem?) II. Como é exercido o controle por esses órgãos? (Como?) III. Quais os efeitos e consequências? (Efeitos?) Nesse sentido, cada modelo responde de forma diferente. Ao questionamentoI: Modelo americano: Todos os juízes e tribunais; portanto é um controle difuso, na medida em que é realizado por vários órgãos, pois envolve TODOS os juízes e tribunais. Modelo europeu: Somente um órgão; portanto é um controle concentrado. Apenas um tribunal é responsável pelo controle de constitucionalidade, que é o chamado Tribunal Constitucional, o qual é específico para essas causas e, portanto, não integra o poder judiciário. Dessa forma, os juízes integrantes desse tribunal específico são temporários e ocupam mandatos e não são concursados. Ao questionamento II: Há duas formas de exercer o controle de constitucionalidade: julgando casos concretos, que diz respeito a uma questão incidental; e abstratamente, com o pedido de inconstitucionalidade da lei, por meio de uma ação especial, o qual diz respeito a uma questão principal. Modelo americano: Controle concreto e incidental. Modelo europeu: Controle abstrato e principal, por via de ação direta. Ao questionamento III: Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 Modelo americano: “Ex tunc” e inter partes, pois só vai incidir no caso concreto, para as partes envolventes. Ou seja, uma decisão de um juiz ou tribunal para a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo só irá conceder os benefícios da decisão às partes relacionadas no processo e não ao geral. Dessa forma, se outra pessoa se sentir lesionado com essa mesma lei, ele terá que abrir o seu próprio processo, pois não poderá se beneficiar com a decisão daquele outro. Modelo europeu: “Ex tunc” e “era omnes”, ou seja, a decisão do tribunal tem força para todos. Ou seja, diferente do modelo americano, se o tribunal decidir por uma inconstitucionalidade de uma norma, extinguirá todos os seus efeitos, via de regra, desde o momento de sua criação, para todos aqueles que foram afetados por essa lei. No Brasil, apesar de ter um controle de constitucionalidade híbrido, o efeito europeu sempre irá prevalecer, pois é o geral. O controle de constitucionalidade no Brasil O Brasil, como dito, tem um controle de constitucionalidade híbrido, no qual abrange tanto o modelo americano, quanto o modelo europeu, o que caracteriza um modelo mais completo. Como já dito, as características do modelo americano é um controle difuso, concreto e incidental, por juízes ou tribunais. Já o controle europeu é um controle concentrado, abstrato e principal, por via de ação direta, cuja competência é do STF na garantia da Constituição Federal, mas também dos TJ’s de cada estado na garantia das suas Constituições Estaduais, julgando ações diretas. Existem quatro tipos: ADI, ADO, ADC e ADPF. ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade): É declarada para a inconstitucionalidade de qualquer lei federal ou estadual. Ou seja, finalidade de suprimir. ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão): É declarada quando há a omissão do Estado com a não elaboração de uma lei. Ou seja, tem a finalidade de suprir. Leonardo David – 2º semestre – Direito Constitucional I – T2A – 2017.2 ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade): É declarada para a confirmação da lei. Ou seja, para que haja a ADC é necessário que a lei esteja sob questionamento. ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental): É declarada quando há uma lei ou ato normativo que viole somente os considerados preceitos fundamentais, que são aqueles dotados de relevância imprescindível para a democracia. Assim como a ADI, também tem a finalidade de suprimir. Contudo, a diferença entre os dois é que a ADPF foi criada como natureza subsidiária da ADI, ou seja, só se pode declarar a ADPF quando não se consegue declarar a ADI. E quando não se pode declarar ADI? Quando a norma é de natureza municipal, ou diz respeito às leis anteriores à Constituição, neste caso, federal, estadual ou municipal. Mas e se a lei inconstitucional for municipal, mas não ferir a preceitos fundamentais? Neste caso, entra a dualidade do controle de constitucionalidade brasileiro, invocando o modelo americano que tratará do caso concreto. Neste caso, cria-se uma jurisprudência que pode tornar-se uma súmula vinculante. Dito isto, essas ações só podem ser propostas por dez figuras expressas no artigo 103 da Constituição Federal: I. O Presidente da República; II. A Mesa do Senado Federal; III. A Mesa da Câmara dos Deputados IV. A Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V. O Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI. O Procurador-Geral da República; VII. O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII. Partido político com representação no Congresso Nacional; IX. Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; X. O Supremo Tribunal Federal.
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