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Crio artigo 04.pdf 31 Crioterapia Autoras: Joyce Vieira Estima de Oliveira Sílvia Helena Rebelato Vigatto Laura Marchiori Zaguette Marcela Tofoli Voltarelli Ana Maria Ficher Professoras Orientadoras: Ms. Giovana de Cássia Rosim* Gisela Naif Caluri Centro Universitário Anhanguera - Câmpus Leme Resumo Introdução A crioterapia é um método utilizado há mais de cem anos e consiste na aplicação do frio (gelo, água gelada ou equipamentos de resfriamento) para o tratamento de lesões agudas. É comumente utilizada por fisioterapeutas no auxílio do tratamento de diversas patologias. Basicamente, o frio limita hemorragias e a formação de edemas por meio da vasoconstrição, além de ser capaz de proporcionar analgesia e reduzir o espasmo e a espasticidade dos músculos por meios discutidos neste presente artigo. Os objetivos dos autores foram revisar a literatura concernente ao assunto e chamar a atenção para as diferentes formas de aplicação da crioterapia em reabilitação, além de discutir seus efeitos, indicações e contra- indicações. Para isso, foi realizada pesquisa em bases de dados computacionais e pesquisa pessoal para selecionar a literatura relevante contendo as palavras-chave crioterapia, gelo, frio, aplicação e terapia. Com esse artigo de revisão, os autores proporcionaram um melhor entendimento dos efeitos e dos mecanismos de ação do frio perante os tecidos biológicos, além de discutirem as formas de aplicação da crioterapia. Também puderam constatar ser esta uma técnica eficiente e de fácil manuseio, podendo ser utilizada tanto no auxílio dos tratamentos fisioterapêuticos quanto nas lesões do dia-a-dia, desde que se tenha pleno conhecimento da interação do frio com os tecidos biológicos. Caso contrário, a aplicação errônea da crioterapia, principalmente quando distúrbios vasculares estão envolvidos, pode acarretar sérios prejuízos a saúde do paciente. Palavras-chave: Crioterapia; gelo; frio; fisioterapia. * Bolsista FUNADESP A crioterapia consiste na aplicação do frio (gelo, água gelada ou equipamentos de resfriamento) para o tratamento de lesões agudas. Os músculos produzem calor e quando são expostos ao frio, surge a necessidade de aumentar a produção de calor e, subseqüentemente, o tono muscular é aumentado. A crioterapia alivia o espasmo e a espasticidade muscular, combina-se eficazmente com a reeducação muscular que utiliza técnicas de facilitação neuromusculares proprioceptivas. Além disso, diminui o risco de hemorragia e a formação de edemas por meio da vasoconstrição e, proporciona uma analgesia local, reduzindo a dor do paciente.1,2,3 Embora a exposição de uma determinada área ao frio provoque a vasoconstrição esperada, esta é seguida de uma vasodilatação significativa e por ondas subseqüentes de diminuição e aumento do fluxo sanguíneo local.4 O efeito analgésico do gelo começa em torno de 15 minutos depois de iniciada a aplicação, podendo durar até 30 minutos após esta ser encerrada.5 O estímulo breve do gelo sobre o músculo provoca a contração muscular, podendo nas crianças de tenra idade, substituir o estímulo elétrico no tratamento das paresias.2,5 32 Objetivo Este trabalho visa mostrar as diferentes formas de aplicação da crioterapia, seus efeitos, suas indicações e contra-indicações, mostrando que esta é uma técnica de fácil manuseio, podendo ser utilizada tanto como tratamento fisioterápico, quanto em lesões do dia-a-dia. Nosso maior objetivo é informar a utilização correta da crioterapia, de uma forma simplificada. Metodologia Para apresentarmos os benefícios e métodos da crioterapia neste artigo foi realizada pesquisa em bases de dados computacionais e pesquisa pessoal, destacando as palavras-chave crioterapia, gelo, frio, aplicação e terapia. Métodos de tratamento Os métodos mais utilizados na crioterapia são:3,4,6 Bolsas Frias - a temperatura de armazenamento deve ser de aproximadamente - 5ºC por pelo menos 2 horas antes do uso. As bolsas frias se mantêm a uma temperatura baixa o suficiente por 15 a 20 min. Se um tratamento mais prolongado for necessário, devemos substituir por uma outra bolsa. Panqueca Fria - para se preparar uma panqueca fria devemos molhar uma toalha em água fria e adicionar, dentro dela, gelo moído e dobramos em forma de uma panqueca. Massagem com Gelo - é feita geralmente sobre uma área pequena, sobre um músculo ou um tendão. A água é congelada em copo de papel para facilitar o manuseio do gelo pelo terapeuta. Outra alternativa seria colocar um palito no copo com água e teria assim o formato de um “pirulito”. O gelo é aplicado sobre a pele em movimentos circulatórios ou no sentido de “vai-e-vem”. Durante a massagem com gelo o paciente experimentará provavelmente quatro sensações distintas incluindo frio intenso, queimadura, dor e então analgesia. Spray de Vapor Frio - este spray é usado nas lesões de atletismo, para o tratamento de dor miofascial, movimento restrito e espasmo muscular. Pacote de Gelo - devemos moer o gelo e, após colocarmos dentro de sacos plásticos, retiramos o ar e fechamos em seguida. O pacote poderá ser fixado ao local da aplicação por faixas ou ataduras de crepe. Banho de Imersão - utiliza-se um balde com água e cubos de gelo. Imerge-se a região a ser tratada durante 5 a 10 minutos, alternando- se as imersões até 30 minutos. Banho de Contraste - consiste numa alternância entre o calor e o frio, onde os objetivos são vasomotores, isso é, alterações circulatórias que o frio e o calor promovem nos tecidos. É realizado em dois recipientes, um deles contendo uma mistura de gelo e água, e o outro com água quente numa temperatura que varia de 40ºC a 45ºC. A água quente deve ser iniciada com duração de 5 min. para promover uma vasodilatação. Em seguida deve ser usado o frio que provocará uma queda imediata da temperatura subcutânea e profunda. Devemos terminar a técnica utilizando o frio com duração de 3 min. com o objetivo de resfriar os tecidos e reduzir as necessidades metabólicas dos mesmos (FIGURAS 1 E 2). 33 Gelo, Compressão e Elevação - essa técnica é usada universalmente nos cuidados imediatos das lesões agudas no esporte. Além dos efeitos da crioterapia temos os efeitos da elevação e compressão. A compressão é feita por faixa elástica ou por aparelhos como o Polar Care®. A compressão atua aumentando a pressão externa dos vasos, ajudando no controle da formação do edema. A elevação atua diminuindo a pressão hidrostática capilar, baixa a pressão de filtração capilar, diminuindo o edema (FIGURA 3). Polar Care® - aparelho usado na crioterapia, que além do resfriamento proporciona uma compressão local (FIGURA 4). Conclusão A crioterapia é indicada no tratamento de entorses da região lombar (precoces); doenças cervicais dolorosas; ombro doloroso (bursite); músculo pré-distendido; relaxamento do espasmo muscular e hemorragias. Suas contra- indicações são quando há distúrbios da sensibilidade; insuficiência circulatória; hipersensibilidade ao gelo; doença vascular periférica e vaso espasmos. Devemos tomar cuidado com doenças cardíacas; hipertensão; áreas sob gordura subcutânea espessa; perto de nervos superficiais e com doenças respiratórias. Este é um método eficiente em casos de lesões e dores agudas, sendo uma técnica de fácil manuseio, podendo ser utilizada tanto no auxílio dos tratamentos fisioterapêuticos quanto nas lesões do dia-a-dia. Porém se não houver o entendimento necessário, pode-se agravar o quadro clínico do paciente, principalmente quando distúrbios vasculares estão envolvidos. Referências Bibliográficas 1 SHESTACK, R. (1987) Fisioterapia Prática. São Paulo-SP: Editora Manole, p.50 - 2. 2 UMPHRED, D. A. (1994) Fisioterapia Neurológica. São Paulo: Editora Manole, p.758 - 9. 3 LOW, J.; REED, A. (2001) Eletroterapia Explicada. São Paulo: Editora Manole, p.277 - 98. 4 KITCHEN, S.; BAZIN, S. (1998) Eletroterapia de Clayton. São Paulo: Editora Manole, p.130 - 5. 5 LUCENA, C. (1991) Hiper e Hipo Termoterapia. Curitiba-PR: Editora Lovise, p.108 - 12. 6 PINHEIRO, F. B. (2002) Crioterapia. Disponível em: <http://www. fbpfisioterapia.hpg.ig.com.br>. Acesso em: 16 de agosto de 2002. 2 crioterapia_31-33 Criotens + artigo 03.pdf PESQUISA Research DOI:10.4034/RBCS.2010.14.01.03 Volume 14 Número 1 Páginas 27-36 2010 ISSN 1415-2177 Revista Brasileira de Ciências da Saúde O Uso da Tens, Crioterapia e Criotens na Resolução da Dor The Use of Tens, cryotherapy and Criotens in the Resolution of Pain RAFAELA SOARES FARIAS1 RHAYSSA SANTOS MELO2 YARGO FARIAS MACHADO2 FÁBIO MARTINS DE LIMA3 PALLOMA RODRIGUES ANDRADE4 Fisioterapeuta, mestranda em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Graduanda em Fisioterapia pelo UNIPE - João Pessoa. Docente do UNIPÊ. Professora Adjunta do departamento de Fisioterapia da UFPB. 1 2 3 4 RESUMO Objetivo: avaliar o efeito da Crioterapia, TENS e Criotens na resolução da dor. Material E Métodos: Trata-se de um estudo observacional de caráter descritivo do tipo série de casos, no qual foram selecionadas dez voluntárias adultas, jovens, saudáveis e sem nenhuma patologia que comprometesse a sensibilidade dolorosa. Utilizou-se a Crioterapia na forma de panqueca fria, um aparelho de TENS no modo convencional, eletrodos auto-adesivos, uma Escala Visual Analógica (EVA) e um adipômetro adaptado para quantificar o limiar doloroso. Resultados: Observou-se que a Crioterapia (t = 6,47 dml; p< 0,0005), a TENS (t = 9,47; p< 0,0005) e a Criotens (t =10,8 dml; p<0,0005) se mostraram eficazes no aumento do limiar da dor em pessoas saudáveis. Utilizou-se o Teste corrigido de Friedmam (Q*) para testar a variabilidade da eficácia entre as três técnicas (Crioterapia, TENS e Criotens) e os dados não revelaram diferenças significativas entre elas para o limiar da dor em pessoas saudáveis (Q* = 0,45; p > 0,80). Conclusão: Assim, não foi observado superioridade da Criotens em relação à Crioterapia e a TENS, no limiar doloroso e as três técnicas são igualmente eficazes no alívio da dor em pessoas saudáveis. DESCRITORES Crioterapia. TENS. Analgesia. SUMMARY Objective: the aim of the present study was to evaluate the effect of the Cryotherapy, TENS and criotens in the increase of the painful threshold. Material and Methods: The design of this study was a series of cases. Ten healthy volunteers were selected for the study, without any pathology that could compromise the painful sensibility. Cryotherapy was used in the form of cold pancake, TENS was appliance in the conventional way, with the aid of self-adhesive, electrodes, one Visual Analogical Scale (EVA) and an adipometer adapted to quantify the painful threshold. Results: Cryotherapy (t=6,47 dml; p<0,0005), TENS (t=9,47; p<0,0005)and criotens (t=10,8; p<0,0005) were efficient in the increase of the threshold of the pain in healthy persons. There was used the corrected Test of Friedman (Q*) to test the variability of the efficient between three techniques (cryotherapy, TENS and criotens) and the data did not reveal significant differences between them for the threshold of the pain in healthy persons (Q* = 0,45;p>0,80). Conclusion: Superiority of the criotens was not observed regarding the cryotherapy and TENS in the painful threshold and the three evaluated techniques are equally efficient in the relief of the pain in healthy persons. DESCRIPTORS Cryotherapy. TENS. Analgesia http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs FARIAS et al. 28 R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 Na Fisioterapia existem muitos recursos des-tinados ao combate dos processos dolo-rosos. Entre estes, podemos destacar a crio- terapia e a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). O mecanismo de ação de ambas as técnicas, bem como a sua fisiologia são bastante discutidos na literatura e existem autores que defendem o uso de uma modalidade em relação a outra, não existindo consenso sobre qual deles resulta em melhores efeitos analgésicos (AGNE, 2005; HERBERT, SIZÍNIO, XAVIER, 2003). Os estudiosos relatam que entre as muitas teorias propostas para explicar a analgesia induzida pelo frio, a crioterapia atua provocando um resfriamento local que produz um retardo na freqüência de transmissão do impulso e uma diminuição da sensibilidade dolorosa para o sistema nervoso central (PINHEIRO, 2000; BLEAKEY, MCDONOUGHT, 2004; LIANZA, 2007). Em geral recomenda-se uma média de 15 a 30 minutos de exposição à crioterapia não devendo ultrapassar 1 hora de aplicação (KNIGHT, 2000). Entre as modalidades de crioterapia mais comu- mente utilizadas, destaca-se a panqueca fria. Esta consiste em gelo triturado que facilmente se adapta as regiões do corpo, envolto por uma toalha úmida a ser aplicada diretamente sobre o local da dor (KNIGHT, 2000; SANDOVAL, MAZZARI, OLIVEIRA, 2005). A TENS por sua vez consiste na aplicação de corrente elétrica de baixa freqüência. O mecanismo de ação dessas correntes carece de maiores estudos que comprovem o seu efeito, contudo, sabe-se que neurofi- siologicamente irá estimular as fibras A beta (â) e A alfa (á) mielinizadas que irão “competir” com as fibras nociceptivas finas (KITCHEN, 2003). Nessa disputa, os impulsos transmitidos pelas fibras mielinizadas maiores conseguem atingir a medula em primeiro lugar e assim de acordo com a teoria das comportas da dor de MELZACK, WALL (1965), ativam os neurônios da substância gelatinosa (lâminas II e III) do corno posterior, na substância cinzenta da medula espinal. Estas, por sua vez, inibem as informações conduzidas pelas fibras nociceptivas, que são de calibre fino (ORANGE, 2003; REZENDE, 2004). Diante do exposto, é comum observarmos na prática clínica a utilização simultânea da associação entre a crioterapia e a TENS. A criotens é uma técnica que vem sendo utilizada atualmente através da aplicação concomitante da TENS e da crioterapia e o seu principal objetivo é tentar potencializar o efeito analgésico das duas técnicas através da sua associação. O mecanismo de ação desta técnica ainda não é conhecido e apesar de não existirem estudos na literatura que comprovem a superioridade desta nova técnica em relação a utilização isolada da crioterapia e TENS, os pacientes relatam maior potencial analgésico da criotens em relação a crioterapia e a TENS isoladamente. Por essa razão são necessárias reflexões sobre a fisiopatologia envolvida no processo de analgesia das duas técnicas associadas. Sabe-se que o gelo provoca entre tantos outros efeitos, um retardo na condução das fibras nervosas, enquanto que a base neurofisio- lógica da TENS diz respeito, principalmente, a modulação sensitiva da dor. Dessa forma, surge a per- gunta: é possível obter o alívio dos sintomas dolorosos por meio da associação de ambas as técnicas? Diante desse questionamento o objetivo desta pesquisa é comparar o efeito analgésico da TENS, crioterapia e criotens em pessoas saudáveis. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional, descritivo do tipo série de casos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba – CEP/SES-PB, com base na Resolução 196/96 do conselho Nacional de Saúde. Todas as voluntárias participaram da pesquisa de forma livre e esclarecida, após concordarem com um termo de consentimento (apêndice-1) conforme determinação da resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96. Participaram do estudo 13 voluntárias saudáveis do sexo feminino com idades que variaram entre 16-20 anos (x=18,4, DP= ±1,35 anos). Destas, 3 não fizeram parte da análise dos resultados finais pois foram selecionadas para participar do estudo piloto. Como critérios de inclusão todas as voluntárias precisavam ser do sexo feminino e assintomáticas para dor no local a ser testado. Como critérios de exclusão, apresentar sintomas dolorosos. Foi realizado estudo piloto para calibração dos 3 avaliadores e os mesmos tiveram funções atribuídas a saber: 1. aferição do limiar da dor na prega cutânea tricipital com o adipômetro e sorteio da ordem de aplicação das técnicas; 2. aplicação das técnicas (crioterapia, TENS e criotens); 3. tratamento estatístico dos resultados. Esta pesquisa foi realizada no laboratório de eletroterapia, no departamento de fisioterapia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPE, no período de setembro a outubro de 2007. Como instrumentos foram utilizados: um adipômetro para avaliação quantitativa do limiar O Uso da Tens, Crioterapia e Criotens na Resolução da Dor R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 29 doloroso na prega cutânea tricipital, Escala Visual Analó- gica (EVA), aparelho de TENS, eletrodos auto-adesivos, gelo e toalha. O adipômetro consiste em um aparelho muito utilizado por nutricionistas para avaliar a gordura subcutânea através de medidas das dobras cutâneas. Sua escala é dividida em décimos de milímetros (dmm). Contudo nesta pesquisa, este aparelho teve sua função adaptada com a finalidade de provocar uma sensação dolorosa por estímulo mecânico pontual nas voluntárias e a partir do deslocamento do ponteiro, quantificar em unidades de dml o limiar doloroso (Figura 1). No presente estudo sabe-se que o ideal seria utilizar um algômetro, aparelho validado para estudo da dor e que a quantifica através de uma pressão pontual aplicada na região a ser testada. No entanto, durante a execução desta pesquisa não houve disponibilidade para se utilizar este aparelho e no intuito de utilizar algum outro que quantificasse a dor de forma semelhante, optou-se por adaptar o adipômetro para esta finalidade. Este é capaz de fornecer uma pressão mecânica pontual no local da prega cutânea tricipital testada, além de possuir uma escala que possibilita a mensuração quantitativa do estímulo mecânico. No momento em que a voluntária chegava ao laboratório, um avaliador cego pré-calibrado, realizava a aferição do limiar doloroso inicial na região da prega cutânea tricipital, antes da aplicação da técnica (figura 2). Este procedimento foi realizado da seguinte maneira: a voluntária era posicionada em sedestação e o avaliador entregava uma EVA para a mesma, orientando que ela relatasse o momento em que percebesse uma dor nível 2 (leve) de acordo com a referida escala, durante aplicação do adipômetro. No momento em que isso acontecia, o avaliador interrompia a pressão e registrava o valor expresso no adipômetro para aquele limiar de dor. Este valor corresponderia ao limiar inicial para uma dor leve de acordo com a EVA. Em seguida, o mesmo avaliador realizava o sorteio das técnicas para estabelecer a ordem de aplicação a ser aplicada por outro avaliador. Em seguida aplicava-se as 3 técnicas por um outro avaliador pré- calibrado, no mesmo dia e sempre respeitando um intervalo de 15 minutos entre as modalidades, bem como a ordem de sorteio. Imediatamente após a aplicação de cada modalidade era realizada a aferição do limiar doloroso final pelo avaliador calibrado para esta função. Justifica-se o fato de estabelecer uma dor leve Figura 1- Adipômetro. Figura 2 - Mensuração da prega cutânea Tricipital. FARIAS et al. 30 R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 (nível 2) a fim de se ter um parâmetro das alterações no limiar doloroso para esse nível de dor antes e depois da aplicação das técnicas. Em outras palavras, significa dizer que diante da possível eficácia das modalidades terapêuticas em promover aumento do limiar doloroso, os pacientes conseguiriam suportar uma pressão maior com o adipômetro antes de relatarem uma dor leve (nível 2). A crioterapia foi utilizada na forma de panqueca fria durante vinte minutos na região da prega cutânea tricipital. O gelo foi triturado e colocado em uma toalha úmida. Antes da aplicação da crioterapia foi realizado o teste do cubo do gelo. O aparelho de TENS foi da marca carci, analógico e pré-ajustado no modo convencional com ajuste dos seguintes parâmetros: freqüência 100 Hz, duração de pulso de 75µs e a intensidade da estimulação perma- neceu nos limites sensitivos. Os eletrodos utilizados foram do tipo autoadesivo, da marca com-patch 50 mm/ 2.0 round, posicionados longitudinalmente sobre a região da prega tricipital. A duração da aplicação da TENS foi de vinte minutos. O criotens foi feito associando-se as duas técnicas simultaneamente. Os eletrodos da TENS eram posicionados na região da prega e em seguida o gelo, na forma de panqueca fria era adicionado acima dos eletrodos (Figura 3). A corrente foi ligada no momento em que o gelo foi colocado sobre os eletrodos de forma que as duas técnicas foram utilizadas simultaneamente. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente com base no teste t pareado que analisa a eficácia das técnicas e o teste corrigido de friedmam (Q*) que avalia a variabilidade da eficácia entre as técnicas. OS gráficos foram feitos pelo programa estatístico SPSS 17.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS Resultados referentes a crioterapia Conforme observado na Tabela 1, a x da prega cutânea antes da aplicação da Crioterapia foi de 14,2 décimos de milímetro (dml) e o DP foi de 5,07 dml. A x Figura 3 - Aplicação do Criotens. Tabela 1. Prega Cutânea antes e após a aplicação da Crioterapia. Voluntária Prega cutânea antes Prega cutânea depois Diferença entre as pregas Voluntária 1 11 dml 09 dml 02 dml Voluntária 2 19 dml 15 dml 04 dml Voluntária 3 10 dml 08 dml 02 dml Voluntária 4 15 dml 14 dml 01 dml Voluntária 5 11 dml 10 dml 01 dml Voluntária 6 09 dml 05 dml 04 dml Voluntária 7 25 dml 23 dml 02 dml Voluntária 8 11 dml 09 ml 02 dml Voluntária 09 13 dml 09 dml 04 dml Voluntária 10 18 dml 16 dml 02 dml X ± DP 14,2 ±5,07 11,8 ± 5,22 2,4 ±1,17 R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 31 O Uso da Tens, Crioterapia e Criotens na Resolução da Dor média da prega cutânea após a aplicação da técnica foi de 11,8 dml e o DP, 5,22 dml. A x da diferença entre as pregas antes e após a Crioterapia, foi de 2,4 dml e o DP, 1,17 dmm. Tendo em vista que a medida da prega cutânea pode ser interpretada como o nível de pressão aplicada, observa-se que houve uma alteração significativa no li- miar da dor, representado por um aumento no limiar dolo- roso após utilizar a Crioterapia (t = 6,47 dml; p< 0,0005). De acordo com Knight (2000), Pinheiro (2000), e Xavier et al. (2003), após a aplicação da crioterapia ocorre uma diminuição na transmissão da freqüência da transmissão dos impulsos com conseqüente diminuição da sensibilidade dolorosa. Isso, por sua vez, gera um aumento do limiar da dor. Bleakley et al. (2004) explica que o gelo atua minimizando os efeitos negativos do processo inflamatório, como o edema e também é responsável por produzir um alívio da dor que surge após uma lesão tecidual ou trauma. Este autor sugere tempos de aplicações da Crioterapia que variam de 20 a 45 minutos. A pressão mecânica aplicada pelo adipômetro induz um processo álgico e o efeito da Crioterapia neste estudo está de acordo com o que diz este autor, pois após o término da aplicação as voluntárias conseguiram suportar uma pressão mecânica maior. O aumento no limiar da dor pode ser observado a partir dos valores obtidos na prega cutânea após a aplicação da Crioterapia. Os valores da prega registra- dos pelo adipômetro diminuíram após a aplicação da crioterapia, o que significa que quanto maior a pressão aplicada pelo adipômetro, menor será o valor registrado para a prega cutânea. Conseqüentemente, quanto maior a pressão, maior será o limiar da dor, ou maior a dor suportada pela voluntária antes de se relatar uma dor leve (nível 2). Assim, pode-se inferir, a partir dos dados coletados, que neste trabalho a Crioterapia foi respon- sável por produzir um aumento no limiar da dor em todas as voluntárias. Com relação ao tempo de aplicação, os resul- tados obtidos são justificados pelo que diz a literatura. Andrews et al. (2000) explica que após uma aplicação de vinte minutos da crioterapia a transmissão nervosa pode ser reduzida em até 29,4% e Hopkins et al. (2001) salienta que após vinte minutos o gelo produz um grande efeito na função sensorial do sistema nervoso periférico através da redução da condutibilidade nervosa. Esta alteração no limiar da dor pode ser mais bem visualizada no Gráfico 1. Resultados referentes a TENS Com base na Tabela 2, a x da prega cutânea antes da aplicação da TENS foi de 14,8 dml e o DP, 4,78 dml. Após a aplicação, a média foi de 12,7 dml e o DP foi de 4,32 dml. Por fim a diferença média das pregas foi de 2,1 dml e o DP, 0,73 dml. Esta técnica também foi eficaz no aumento do limar doloroso (t = 9,47; p< 0,0005). Gráfico 1. Valores médios e ± erro padrão da média da prega cutânea antes e após a crioterapia (p<0,0005). 32 R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 FARIAS et al. Tabela 2. Prega Cutânea antes e após a aplicação da TENS Voluntária Prega cutânea antes Prega Cutânea depois Diferença entre as pregas cutâneas Voluntária 1 14 dml 11 dml 03 dml Voluntária 2 17 dml 15 dml 02 dml Voluntária 3 11 dml 09 dml 02 dml Voluntária 4 18 dml 15 dml 03 dml Voluntária 5 11 dml 10 dml 01 dml Voluntária 6 10 dml 08 dml 02 dml Voluntária 7 25 dml 22 dml 03 dml Voluntária 8 10 dml 09 dml 01 dml Voluntária 9 14 dml 12 dml 02 dml Voluntária 10 18 dml 16 dml 02 dml X ± DP 14,8 ± 4,78 12,7 ±4,32 2,1 ± 0,73 Tabela 3. Prega Cutânea antes e após a aplicação da Criotens. Voluntária Prega cutânea antes Prega cutânea depois Diferença entre as pregas cutâneas Voluntária 1 11 dml 08 dml 02 dml Voluntária 2 13 dml 10 dml 03 dml Voluntária 3 09 dml 08 dml 01 dml Voluntária 4 18 dml 15 dml 03 dml Voluntária 5 11 dml 08 dml 03 dml Voluntária 6 10 dml 08 dml 02 dml Voluntária 7 24 dml 21 dml 03 dml Voluntária 8 11 dml 09 dml 02 dml Voluntária 9 14 dml 12 dml 02 dml Voluntária 10 17 dml 14 dml 03 dml X ± DP 13,8 ± 4,64 dml 11,3 ± 4,3 dml 2,4 ± 0,48 dml O Uso da Tens, Crioterapia e Criotens na Resolução da Dor R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 33 De acordo com Andrews et al. (2000), Bonfá (2000), Kitchen (2003) e O’ Sullivan (2004), a neurofisio- logia da TENS convencional está baseada na teoria das comportas de Melzack e Wall (1965). Nesse modo de estimulação, irá ocorrer uma analgesia segmentar localizada no dermátomo decorrente da interferência da mensagem dolorosa. Esta analgesia também pode ser interpretada como um aumento no limiar da dor e a TENS conven- cional é responsável por este efeito uma vez que vai interferir na transimissão das sensações dolorosas para os níveis supra-espinais (ORANGE et al., 2003; RESENDE et al., 2004). A alteração no limiar da dor foi igualmente com- provada nesta pesquisa, pois todas as voluntárias apre- sentaram um aumento no limiar da dor a partir de uma diminuição da prega cutânea, após a aplicação da TENS. Os valores médios da prega cutânea antes e após a aplicação da TENS podem ser visualizados no Gráfico 2. Resultados referentes a Criotens De acordo com a Tabela 3, a x da prega cutânea antes da Criotens foi de 13,8 dml e o DP foi de 4,64 dml. A x da prega após a Criotens foi 11,3 dml e o DP, 4,3 dml. A média da diferença entre as pregas foi de 2,4 dml e teve como DP 0,48 dml. Houve um acréscimo no limiar doloroso com a Criotens (t =10,8 dml; p<0,0005) e constata-se que esta técnica também foi eficaz na alteração do limiar da dor. Michlovitz et al. (1998) afirma que a Crioterapia, TENS e a Criotens se mostraram eficazes na produção de analgesia, contudo, nenhuma das técnicas se mostrou melhor que as demais e assim a superioridade da Criotens não foi comprovada por este autor. Balisa et al. (2005) observou em seu estudo que tanto a TENS como a Crioterapia promoveram analgesia em ratos quando utilizadas isoladamente, mas ao associar os dois recursos (Criotens) teve-se uma reversão da analgesia. Em outro estudo, Felício et al. (2005), relatou que as três modalidades promoveram melhora sinto- matológica, entretanto, com base na sua pesquisa, a associação da TENS com a Crioterapia (Criotens) foi responsável por promover os maiores efeitos analgé- sicos. Os estudos presentes na literatura sobre a Criotens são escassos e os poucos estudos são contro- versos sem padronização metodológica, não existindo consenso sobre o efeito da associação da Crioterapia a TENS. Contudo, o resultado desta pesquisa ratifica a pesquisa de Micholovitz et al. (2005) onde é mostrado que não há diferença significativa entre as três moda- lidades. Um detalhe importante é que diante das poucas pesquisas, o estudo de Micholovitz et al. (1988) e o presente estudo foram realizados em situações mais semelhantes, a saber: foi utilizada uma amostra maior (30 voluntários e 10 voluntárias, respectivamente) e ambos foram realizados em pessoas saudáveis. Este fato torna ambas as pesquisas mais homogêneas em relação às demais, pois Felício et al. (2005) realizou seu estudo com apenas um paciente do sexo masculino e Balisa et al (2005), utilizou ratos da raça fisher com um N=4. No Gráfico 3 pode ser observado a alteração na média das pregas cutâneas antes e após a Criotens. O que significa que esta técnica foi eficaz na alteração do limiar da dor em pessoas saudáveis. Comparação das técnicas Diante dos mecanismos diferentes de analgesia, Felício (2005) afirma que existe uma grande discussão a respeito da possível potencialização ou anulação do efeito da TENS pela crioterapia quando ambos são utilizados de forma concomitante nos processos dolorosos. Sabe-se que a TENS precisa da integridade sensorial para conduzir os impulsos sensitivos ao passo que a crioterapia provoca um retardo nessa condução nervosa. Este estudo mostrou que o efeito analgésico da Criotens é mantido, mesmo diante dos questionamentos sobre o seu mecanismo de ação. Contudo não foi observada a sua superioridade em relação à Crioterapia e a TENS. Dessa forma, as três técnicas se mostraram igualmente eficazes na alteração do limiar da dor. A fim de observar a variabilidade da eficácia entre Crioterapia, TENS e Criotens, foi utilizado o teste corrigido de Friedmam (Q*). Este teste foi feito com base nos valores das médias e Desvio Padrão das três modalidades (Tabela 4) e os dados não revelaram diferenças significativas entre a Crioterapia, TENS e Criotens para o limiar da dor. Com isso, constata-se que todas as três modalidades terapêuticas são igualmente eficazes na alteração do limiar doloroso em pessoas saudáveis (Q* = 0,45; p > 0,80). FARIAS et al. 34 R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 Tabela 4. Média e Desvio Padrão da diferença do deslocamento do adipômetro das Técnicas. Técnica X ± DP Crioterapia 2,4 ± 1,17 TENS 2,1 ± 0,73 Criotens 2,4 ± 0,7 Gráfico 3. Valores médios e ± erro padrão da média da Prega cutânea antes e após a Criotens (p < 0,0005) Gráfico 2. Valores médios e ± erro padrão da média da prega cutânea antes e após a TENS. O Uso da Tens, Crioterapia e Criotens na Resolução da Dor R bras ci Saúde 14(1):27-36, 2010 35 O uso da Criotens não contribuiu negativamente para alterações no limiar da dor, ao contrário, o seu efeito analgésico foi mantido. E com base na forma como a Criotens foi aplicada nesta pesquisa (a crioterapia a e TENS foram utilizadas juntas), sugere-se que o gelo pode atuar reduzindo a velocidade de condução nervosa, mas não a extingue completamente. Este fato é corroborado pelo autor Andrews et al. (2000) que diz que após vinte minutos de aplicação da crioterapia a condução nervosa é reduzida em menos de 30% e assim, nada impede que a TENS possa também atuar provocando a modulação da dor (analgesia) de acordo com a Teoria das comportas de Melzack e Wall. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que o objetivo proposto neste trabalho foi atingido, pois efetivamente se analisou e comparou quantitativamente a alteração do limiar da dor antes e após a aplicação da Crioterapia, da TENS e da Criotens. No entanto, ao avaliar os problemas meto- dológicos desta pesquisa, principalmente no que diz respeito ao instrumento utilizado na produção e na medição da dor nas participantes, propõe-se que outros estudos devem ser desenvolvidos a fim de dar continui- dade ao estudo da Criotens na analgesia. Sugere-se que possam ser desenvolvidos estudos em diferentes patologias e que outros aparelhos como eletroneuromiógrafos e algômetro, possam ser utilizados para aprimorar ainda mais o estudo da dor. REFERÊNCIAS 1. AGNE JE. Eletroterapia Teoria e Prática. 1 ed. Rio Grande do Sul: Orium, 2005. 2. ANDREWS, HARRELSON, WILK. Reabilitação Física das lesões desportivas. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000. 3. BALISA RA. O uso da Criotens em Ratos. In: Anais do Congresso Norte Nordeste de Ortopedia e Traumatologia. 16-18/08/2008, João Pessoa, SBOT, 2008, p. 20-23. 4. BLEAKLEY C, MCDONOUGHT S. The use of Ice in the treatment of acute soft-tissue Injury. Am J Sports Med, 32(1). 2004. 5. 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CORRESPONDÊNCIA Rafaela Soares Farias Rua Francisco Claudino Pereira, 111, ap.802 - Manaíra 58038-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Email rafaelafarias_@hotmail.com Crioterapia artigo 01.pdf 372 Rev Bras Med Esporte – Vol. 14, No 4 – Jul/Ago, 2008 Análise Biomecânica dos Efeitos da Crioterapia no Tratamento da Lesão Muscular Aguda Biomechanical Analysis of the Cryotherapy Effects in the Treatment of Acute Muscular Injury Artigo originAl RESUMO A crioterapia é amplamente utilizada por atletas profissionais e amadores no tratamento agudo de lesões musculares. Este trabalho teve como objetivo analisar as propriedades mecânicas do músculo gastrocnêmio lesionado por impacto direto e tratado com crioterapia. Para tanto, foram utilizadas 24 ratas Wistar, divididas em três grupos experimentais: grupo controle (C): animais mantidos em gaiolas-padrão por seis dias; grupo lesionado (L): animais submetidos à lesão por mecanismo de impacto no gastrocnêmio, sem tratamento e mantidos em gaiolas-padrão por seis dias; grupo lesionado e tratado com crioterapia (LC): animais submetidos à lesão, tratados com uma sessão de crioterapia, imediatamente após a lesão e mantidos em gaiolas-padrão por seis dias. Após essas etapas, os animais foram submetidos à eutanásia para que fossem realizados os ensaios mecânicos de tração dos músculos gastrocnêmios direitos, na máquina universal de ensaios (EMIC®). A partir dos gráficos carga versus alongamento de cada ensaio, foram calculadas as seguintes propriedades mecânicas: carga no limite máximo (CLM), alongamento no limite máximo (ALM) e rigidez (R). No ALM, o grupo C apresentou diferença estatística (p < 0,05) somente quando comparado com o L. Quando analisadas carga máxima e rigidez, houve diferença estatística (p < 0,05) nos três grupos. Assim, enquanto os músculos lesionados sem tratamento apresentaram diminuição de todas as propriedades mecânicas analisadas, os tratados com crioterapia mostraram melhora das propriedades, porém, sem alcançar o grupo controle. Dessa forma, podemos concluir que a sessão de crioterapia por imersão imediata após a lesão promoveu melhora das propriedades mecânicas analisadas. Palavras-chave: lesões de tecidos moles, músculo esquelético, crioterapia, ratos. ABSTRACT Cryotherapy is widespread used in the acute treatment of muscle injuries of professional and unprofessional athletes. The purpose of this study was the investigation of mechanical properties of gastrocnemius muscle submitted to a impact mechanism of injury and treated with cryoterapy. Therefore, twenty four female Wistar rats were divided into three groups: Control (C): animals housed in standard cages for six days; Lesion (L): animals submitted to a direct impact mechanism of injury in the gastrocnemius muscle, without any treatment and kept into standard cages during six days; Lesion e cryotherapy (LC): animals submitted to the contusion, treated with a single session of cryotherapy immediately after lesion and housed in standard cages during six days. After those protocols, the rats were killed and their right gastrocnemius muscle were dissected and submitted to a mechanical test of traction in a universal assays machine (EMIC®). From the load versus elongation curves, the following mechanical properties were obtained: Maximum limit load (MLL), maximum limit elongation (MLE) and stiffness (St). There was a statistically difference between all groups in MLL and St. However, in the MLE there was statistically difference only between groups C and L (p<0,05). The results showed that the muscle contusion without treatment led to exasperation of all analyzed mechanical properties. Conversely, cryotherapy improved the muscle properties, although they had not reached the control group values. It can be concluded that the cryotherapy applied immediately after muscle contusion improved the muscle mechanical properties. Keywords: soft tissue injuries, muscles, skeletal, cryotherapy, rats. João Paulo Chieregato Matheus1 Juliana Goulart Prata Oliveira Milani1 Liana Barbaresco Gomide1 José Batista Volpon1 Antônio Carlos Shimano1 1. Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP. Endereço para correspondência: Juliana Goulart Prata de Oliveira Laboratório de Bioengenharia Avenida Bandeirantes, 3900 Rua Pedreira de Freitas, casa 1 Campus da USP - Ribeirão Preto, SP CEP 14049-900 Telefone: (16) 3633-3063 E-mail: juliana.gpo@gmail.com; jugular@terra.com.br Submetido em 26/11/2007 Versão final recebida em 09/02/2008 Aceito em 22/02/2008 INTRODUÇÃO A crioterapia é uma modalidade terapêutica freqüentemente utili- zada no tratamento de lesões musculoesqueléticas agudas(1-6). Traumas moderados e graves nos tecidos moles estão presentes na maior parte das lesões causadas por esportes recreacionais e competitivos(7-8). O tecido muscular esquelético é o mais afetado nesses tipos de traumas e a maior incidência de lesões musculares em humanos é decorrente, prin- cipalmente, de contusões produzidas por mecanismo de impacto(9). A lesão muscular é caracterizada por uma série de fatores, tais como desorganização das miofibrilas, ruptura de mitocôndria e retículo sar- coplasmático, interrupção da continuidade do sarcolema, autodigestão e necrose celular(10-11), além de disfunção microvascular progressiva e inflamação local(6). Apesar de o insulto primário não poder ser influenciado terapeu- ticamente, o crescimento secundário da lesão pode ser amenizado com certas intervenções, tais como frio local(2), imobilização tempo- REVISTA RBME 4 04 08 08 L5.indd 372 8/11/08 10:57:14 AM 373Rev Bras Med Esporte – Vol. 14, No 4 – Jul/Ago, 2008 rária, administração de drogas analgésicas e antiinflamatórias(8,12). Há evidências de que a crioterapia produz efeitos analgésicos e promove a restauração estrutural e funcional, o que favorece o processo de rea- bilitação(2). Dessa forma, a crioterapia local pode facilitar a recuperação de tais lesões, sendo que a vasoconstrição induzida pelo frio reduz a formação de edemas(5), bem como a intensidade do dano celular local, por meio da redução do quadro hemorrágico(4) e das demandas metabólicas no tecido lesado(1). Embora freqüentemente utilizada em programas de fisiotera- pia(13), os efeitos da crioterapia no tratamento de lesões musculares agudas não estão totalmente elucidados(14). Análises referentes ao estudo das propriedades mecânicas musculares são relevantes, pois os músculos esqueléticos são dotados de propriedades que influen- ciam seu comportamento frente à imposição de cargas, o que pode determinar a ocorrência ou agravamento de uma lesão(15). Sendo assim, o conhecimento das características de resistência de alguns materiais é importante na medicina ortopédica e esportiva, pois os materiais biológicos, tais como músculo, osso, tendão e cartilagem, muitas vezes, necessitam de otimização de suas resistências para evi- tar rupturas(16). Considerando a escassez de pesquisas referentes a esse assunto, cuja análise seja direcionada ao estudo de propriedades mecânicas musculares por meio de ensaios mecânicos, este trabalho propôs inves- tigar os efeitos de uma única sessão de crioterapia, aplicada imediata- mente após lesão por mecanismo de impacto direto, nas propriedades mecânicas do músculo gastrocnêmio de ratas, após uma semana de trauma. MÉTODOS Animais Para o desenvolvimento deste estudo, foram utilizadas 24 ratas fêmeas, Rattus norvegicus albinus, variedade Wistar, provenientes do Biotério Central da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto, da Uni- versidade de São Paulo (USP). Durante os protocolos experimentais, os animais foram mantidos em gaiolas coletivas, em número máximo de três por gaiola, no Biotério do Laboratório de Bioengenharia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. As ratas foram manti- das à temperatura ambiente controlada de 25ºC, fotoperíodo de 12h claro/12h escuro, recebendo água e alimentação padrão ad libitum. Todos os procedimentos aos quais os animais foram submetidos estão de acordo com o International Guiding Principles for Biomedical Research Involving Animals(17). Grupos experimentais Os animais foram distribuídos aleatoriamente em três grupos ex- perimentais: Grupo controle (C): composto por oito animais mantidos em gaiolas-padrão por seis dias. Grupo lesionado (L): formado por oito animais submetidos à lesão por mecanismo de impacto no músculo gastrocnêmio direito, sem tratamento e mantidos em gaiolas-padrão durante seis dias. Grupo lesionado e tratado com crioterapia (LC): constituído de oito animais com o músculo gastrocnêmio direito lesionado, tratados com uma sessão de crioterapia, imediatamente após a lesão, e manti- dos em gaiolas-padrão por seis dias. Protocolo de lesão experimental aguda Para realização do protocolo de lesão experimental, foi utilizado um aparelho proposto inicialmente por Stratton et al.(18) e confeccionado por Oliveira(19), com o intuito de provocar lesão por impacto direto em ratos. O equipamento consiste de duas hastes metálicas, com diâmetro de 10mm, estabilizadas por uma barra superior perpendicular. Essas hastes são fixadas a uma base plástica, na qual é acoplada uma base metálica retangular de 12,25cm2, que serviu para posicionamento do membro pélvico do animal e apoio à queda livre da carga(19-20). Para realização da lesão por mecanismo de impacto direto, os animais foram anestesiados com associação de cloridrato de queta- mina (80mg/kg) e cloridrato de xilazina (15mg/kg), na dose de 0,6ml da mistura para cada 100 gramas de massa corporal(21). Em seguida, o terço médio do gastrocnêmio do membro pélvico direito dos animais foi tricotomizado e posicionado sobre a base metálica do equipamento, estando o animal em decúbito ventral, com extensão de articulações de quadril, joelho e 90º de dorsoflexão de tornozelo(19-20). Para dirigir a queda livre do peso e possibilitar que a contusão ocorresse sempre na mesma região, a carga liberada foi conduzida por um guia de acrílico transparente e por um fio, fixado sobre o peso e lançado centralmente, por meio de uma roldana acoplada à barra superior do equipamento(20). Conforme metodologia descrita em outros trabalhos, foi estabele- cida uma carga de 200 gramas, liberada de 30 centímetros de altura, diretamente sobre o músculo gastrocnêmio das ratas, de modo a produzir uma força de impacto no sítio da lesão de, aproximadamente, 294 newtons(19-20,22). Os animais foram submetidos a um trauma único e separados, conforme seu grupo experimental. Protocolo de crioterapia Imediatamente após a produção da lesão muscular aguda, os ani- mais do grupo LC, ainda sob efeito da anestesia, foram submetidos a uma sessão única de crioterapia. Para tanto, a técnica de crioterapia foi executada por meio de imersão completa do membro pélvico lesionado em água, com temperatura média de seis graus Celsius, por 30 minutos. Como os animais estavam anestesiados, não houve dificul- dade na manutenção da posição, que foi realizada manualmente, sem necessidade de quaisquer aparatos. Durante a aplicação da crioterapia, a temperatura foi acompanhada com o auxílio de um termômetro; assim que observadas alterações na temperatura preconizada, ela foi mantida com a colocação ou retirada de cubos de gelo. Preparação do músculo gastrocnêmio Passados seis dias do início do experimento, os animais foram submetidos à eutanásia, por administração intraperitonial de dose excessiva do anestésico tiopental sódico, a fim de possibilitar a retirada do músculo gastrocnêmio do membro pélvico direito. Para tanto, foi realizada a remoção da pele e de algumas partes moles, seguida da desarticulação do tornozelo e quadril. Para fixação da peça à maquina de ensaios, foram preservadas origem e inserção ósseas. Após a disse- cação, as peças foram colocadas em solução de lactato de Ringer até o momento da realização dos ensaios, que ocorreu em tempo máximo de 30 minutos(21). Ensaio mecânico de tração Para realização do ensaio mecânico de tração longitudinal do mús- culo gastrocnêmio, foi utilizada uma máquina universal de ensaios (marca EMIC®, modelo DL10000), do Laboratório de Bioengenharia, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Esta máquina foi equipada com uma célula de carga de 50kgf e interface direta a um microcomputador, com o software Tesc®, responsável pelo comando do equipamento e plotagem do gráfico carga versus alongamento de cada ensaio. REVISTA RBME 4 04 08 08 L5.indd 373 8/11/08 10:57:15 AM 374 Rev Bras Med Esporte – Vol. 14, No 4 – Jul/Ago, 2008 No momento do ensaio, o músculo gastrocnêmio do membro pélvico direito foi acoplado à máquina e, conforme metodologia es- tabelecida pelo laboratório, foi aplicada uma pré-carga de 200 gramas, durante o tempo de acomodação de 30 segundos, com o intuito de provocar acomodação do sistema. Após a pré-carga, o ensaio pros- seguiu com velocidade preestabelecida de 10mm/minuto e a carga aplicada foi registrada pelo software em intervalos regulares de alon- gamento, até a ruptura muscular. Os dados referentes à curva de cada ensaio foram transcritos para o programa Microsoft Excel 2000, no qual foram construídos os gráficos carga versus alongamento, nos quais identificamos duas fases: elástica (em que carga e alongamento são proporcionais e, se retirada a carga, o material volta às condições iniciais) e plástica (na qual carga e alon- gamento perdem a proporcionalidade e a deformação do material é irreversível, ou seja, há perda de sua integridade estrutural). A partir dos gráficos foram determinadas e analisadas as seguintes propriedades mecânicas: - Carga no limite máximo (CLM): registro máximo de carga imposta, antes da ruptura muscular. É representada em newtons (N). - Alongamento no limite máximo: alongamento máximo atingi- do pelo músculo, antes de sua ruptura. É representado em metros (x 10-3m). - Rigidez (R): propriedade obtida na fase elástica, sendo determina- da pela tangente da reta traçada nesta fase. É expressa em newtons/ metro (N/m). Análise estatística A análise estatística foi realizada por meio do programa Instat v. 3.00, da Graphpad Software. Foi realizado o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Para análise simultânea dos grupos, foi utiliza- do o teste ANOVA e, para comparação entre os grupos, o teste de Turkey-Kramer, ambos com níveis de significância preestabelecidos de 5% (p < 0,05). RESULTADOS Foram submetidos ao ensaio mecânico 24 músculos, sendo os valores expressos em médias e desvios-padrão para cada uma das propriedades dos três grupos analisados. Carga no limite máximo (CLM) Os grupos C, L e LC apresentaram, respectivamente, carga no limite máximo de 31,53 ± 2,95N; 17,99 ± 2,65N e 25,88 ± 2,34N (gráfico 1). Foi observada diferença estatística entre os três grupos: C e L (p < 0,001); C e LC (p < 0,01); L e LC (p < 0,001). Alongamento no limite máximo (ALM) No que se refere à propriedade de ALM, os grupos C, L e LC apre- sentaram, respectivamente, os seguintes valores: 12,04 ± 1,61 x 10-3m; 9,19 ± 2,20 x 10-3m e 10,07 ± 0,69 x 10-3m (gráfico 2). Foi observada diferença estatística significativa, apenas entre os grupos C e L (p < 0,01). Gráfico 1. Representação gráfica das médias e desvios padrão da propriedade me- cânica de carga no limite máximo (CLM). Gráfico 2. Representação gráfica das médias e desvios padrão da propriedade me- cânica de alongamento no limite máximo (ALM). Gráfico 3. Representação gráfica das médias e desvios padrão da propriedade me- cânica de rigidez (R). Rigidez (R) Quanto à rigidez (R), os grupos C, L e LC apresentaram, respectiva- mente, os seguintes valores: 3,75 ± 0,30 x 103N/m; 2,19 ± 0,38 x 103N/m e 3,16 ± 0,33 x 103N/m (gráfico 3). Houve diferença estatística significativa entre os três grupos: C e L (p < 0,001); C e LC (p < 0,01); L e LC (p < 0,001). DISCUSSÃO Os achados deste trabalho mostraram que, enquanto os músculos lesionados sem intervenção apresentaram diminuição de todas as propriedades mecânicas analisadas, o tratamento com uma sessão de crioterapia acarretou efeitos biomecânicos positivos após seis dias, apesar de os animais submetidos ao tratamento não terem atingido os valores do grupo controle. A aplicação de crioterapia no tecido muscular tem sido utilizada para obtenção de objetivos terapêuticos específicos(13). Porém, havia uma lacuna na literatura científica no que se refere aos efeitos dessa terapia em propriedades mecânicas do tecido muscular. Dessa forma, a análise do ensaio mecânico de tração é interessante, pois simula cargas impostas à estrutura musculoesquelética em funcionamento, que é acometida por constante atuação de forças, principalmente tensão. REVISTA RBME 4 04 08 08 L5.indd 374 8/11/08 10:57:16 AM 375Rev Bras Med Esporte – Vol. 14, No 4 – Jul/Ago, 2008 Assim, a relevância dos resultados deste estudo está no forne- cimento de importantes informações adicionais, que suportam as observações clínicas de que a crioterapia empregada no tratamento agudo da lesão muscular favorece a melhora da qualidade do tecido muscular esquelético. Em nosso estudo, por meio da comparação entre os grupos C e L, observamos que a lesão acarretou piora de todas as propriedades analisadas, o que é coerente com as observações clínicas e achados científicos que demonstram, por meio de diferentes tipos de análises, que a lesão muscular traumática induz alterações patológicas que ocasionam deterioração estrutural e funcional(7-8). Quanto aos efeitos do tratamento da lesão aguda com crioterapia, foram observadas diferenças estatísticas significativas entre L e LC nas propriedades de CLM e rigidez. Porém, por meio da comparação entre C e LC, podemos observar que a sessão única crioterapia não foi capaz de recuperar as propriedades aos valores basais. É importante ressaltar que reduções na rigidez, encontradas no grupo lesionado, devem ser levadas em consideração no processo de reabilitação, a fim de evitarmos complicações resultantes de sobrecar- ga muscular(23). Além disto, Jarvinen et al.(24) relatam que essa é uma importante propriedade a ser estudada, pois sua redução indica que o músculo está alongando mais na presença de cargas menores, o que o torna mais suscetível a lesões. Quanto às implicações da piora da propriedade de CLM dos grupos L e LC em relação ao controle, ressaltamos que músculos com essa pro- priedade reduzida, possivelmente, estão mais suscetíveis à ruptura, pois suportaram menores cargas. Em adendo, a diminuição da capacidade de alongamento antes da ruptura, avaliada por meio da propriedade de ALM, foi registrada apenas na comparação entre C e L. Apesar de LC ter apresentado valor absoluto dessa propriedade superior ao grupo L, não foi constatada diferença estatística significativa. Schaser et al.(6) demonstraram, em ratos, que a crioterapia prolonga- da (seis horas) pós-lesão muscular, reduz a disfunção microvascular pós- traumática, inflamação e enfraquecimento estrutural. Considerando que o enfraquecimento estrutural é vinculado à piora de propriedades mecânicas, nosso trabalho demonstrou que mesmo uma sessão mais curta, aplicada no tratamento agudo de uma contusão, pode exercer influência positiva na estrutura do tecido muscular. Provavelmente, estão entre os fatores que contribuíram para a melhora das propriedades do grupo tratado com gelo: a redução da demanda de oxigênio e atividade metabólica celular, decorrentes da aplicação do frio, diretamente relacionadas à limitação da hipóxia se- cundária, decorrente da perfusão inadequada e conseqüente dano celular associado ao edema(6). Neste estudo, optamos pelo ensaio de tração, no qual a estrutura anatômica é fixada junto à máquina, preservando as características fisiológicas quanto à origem e inserção musculares. Isto é importante, pois a análise do tecido biológico como estrutura inteira reflete melhor a solicitação mecânica fisiológica. Optamos por trabalhar com ratos, por serem de fácil manuseio, baixo custo e apresentarem estrutura musculoesquelética semelhante à do ser humano. Em adendo, a escolha do gastrocnêmio foi pertinente, pois é um músculo que trabalha sob condições de atividade física extrema, ten- do risco aumentado para lesões ou rupturas(24). No entanto, os resultados obtidos neste estudo não podem ser totalmente extrapolados para seres humanos, devendo ser utilizados para nortear novas pesquisas. Dessa forma, podemos concluir que a sessão de crioterapia por imersão, imediatamente após a lesão, promoveu melhora das proprie- dades mecânicas analisadas, sendo benéfica na fase de atendimento inicial em trauma agudo. Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo. 1. Olson JE, Stravino VD. A review of cryotherapy. Phys Ther 1972;52:840-53. 2. Cohn BT, Draeger RI, Jackson DW. The effects of cold therapy in the postoperative management of pain in patients undergoing anterior cruciate ligament reconstruction. Am J Sports Med 1989;17:344-9. 3. Grana WA. Physical agents in musculoskeletal problems: heat and cold therapy modalities. Instr Course Lect 1993;42:439-42. 4. Ernst E, Fialka V. Ice freezes pain? A review of the clinical effectiveness of analgesic cold therapy. J Pain Symptom Manage 1994;9:56-9. 5. Deal DN, Tipton J, Rosencrance E, Curl WW, Smith TL. Ice reduces edema. A study of microvascular permeability in rats. 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Para essa revisão foi realizado a análise de trabalhos com abordagem descritiva-analítica sobre a interferência da crioterapia na força muscular, em um total de 15 estudos reunidos. Após análise dos estudos extraídos de diversas fontes científicas, verificou-se que houve controvérsias nos resultados encontrados nas pesquisas, em relação ao aumento ou redução da força muscular sendo necessária a realização de novos estudos que venham elucidar os efeitos fisiológicos do gelo sobre a força muscular. Palavras-chave: Crioterapia; Força Muscular; Torque. Abstract The objective of this study was to verify the behavior of muscle strength before cryotherapy use through a literature review. To write this review it was performed the analysis of works with descriptive-analytical approach about the interference of cryotherapy in the muscle strength, and the total of the studies collected was 15. After analysis of collected studies of scientific sources it was verified that there were controversies in the researches found about the muscle strength increased or reduction. It is necessary to conduct new studies that will elucidate physiological effects of ice on the muscle strength. Key words: Cryotherapy; muscle strength; torque. Introdução A crioterapia é a aplicação do frio com fins terapêuticos, através da aplicação da água em uma temperatura menor que 4°C. Essa técnica retira calor dos tecidos submetidos ao estímulo, gerando um intercâmbio de temperatura, principalmente pelos mecanismos físicos de condução e/ou convecção. Desta forma, gera-se um estado de hipotermia local para favorecer a diminuição da atividade metabólica celular, e consequentemente a Gilvaney Gomes Pereira 1 Ana Paula Almeida Rocha 1 Danilo George Dias Santos 1 Edil Alves Andrade 1 Leandro Santana Aguiar Queiroz 1 Vanessa Neves Faria 1 1 Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC Vitória da Conquista – Bahia – Brasil E-mail: gilfisioweb@gmail.com 228 Pereira GG et al. R e v .S a ú d e .C o m 2 0 1 3 ; 9 (3 ): 2 2 7 -2 3 3 . vasoconstricção e redução do fluxo sanguineo, redução de mediadores inflamatórios e diminuição do consumo de oxigênio1,2. As principais formas de aplicação da crioterapia, são as compressas frias com bolsas de gelo ou sílica gel, massagem com gelo, banhos de imersão ou pela aplicação de spray que promovem o resfriamento local dos tecidos moles1,2,3. Os efeitos decorrentes do resfriamento, variam de acordo temperatura escolhida, duração do tratamento e dimensão da área a ser tratada. Esses efeitos terapêuticos, englobam a redução da inflamação e edema, analgesia, diminuição do espasmo muscular, melhora da amplitude de movimento articular, relaxamento das fibras musculares e interferência na geração de força muscular2. No sistema músculo esquelético, os efeitos da força muscular após a aplicação da crioterapia, ainda são controversos entre as pesquisas existentes e se agravam, devido aos poucos estudos sobre sua ação. Os efeitos fisiológicos no desempenho muscular (força, resistência e fadiga muscular) decorrentes da utilização do frio, merecem uma atenção maior, principalmente no que se refere ao aumento ou diminuição na capacidade do músculo gerar torque após ser resfriado4,5. Alguns autores6,7,8,9,10,11 relatam que a aplicação da crioterapia, antes da realização de exercícios de força, não influencia no desempenho muscular e que portanto, pode ser utilizada antes da execução de atividades musculares vigorosas sem que haja risco de lesão. Por outro lado, outros trabalhos3,5,12,13,14,15,16,17,18 observaram que a crioterapia influencia a capacidade de gerar força, podendo diminuir ou ampliar o desempenho muscular. Assim, visto que a crioterapia é freqüentemente utilizada em programas fisioterapêuticos de reabilitação, a determinação do efeito da aplicação do frio sobre o desempenho muscular mostra-se bastante relevante, pois tal efeito tem implicações importantíssimas no risco de lesões durante ou após o tratamento. Em virtude desses fatos, torna-se necessário um planejamento em relação à utilização de frio antes ou após a cinesioterapia (treino de força e propriocepção) e a realização de atividades funcionais após o gelo. O presente artigo teve como objetivo verificar o comportamento da força muscular após o uso da crioterapia por meio de uma revisão bibliográfica. Métodos Trata-se de uma revisão de literatura, na qual foram consultados livros e periódicos da Biblioteca da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) - Campus de Vitória da Conquista, e realizada a busca de artigos científicos nos bancos de dados da Bireme, Scielo, Lilacs e Medline. A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. As palavras-chave utilizadas na busca foram: Crioterapia, Força Muscular e Torque. Os critérios de inclusão para os estudos encontrados foram abordagem da utilização da Crioterapia e seus efeitos sobre a força muscular. Estudos que 229 R e v .S a ú d e .C o m 2 0 1 3 ; 9 (3 ): 2 2 7 -2 3 3 . Influência da crioterapia na força muscular explicavam efeitos fisiológicos da crioterapia e estudos sobre a fisiologia da contração e força muscular também foram utilizados como referência para este trabalho. Foram excluídos estudos que abordavam uso da crioterapia em patologias específicas. Assim foi realizada uma análise sobre a utilização e influência da crioterapia no comportamento da força muscular, com um total de 15 trabalhos da literatura especializada que correlacionava os critérios de inclusão. Resultados e Discussões A crioterapia é um recurso utilizado com frequência no processo de reabilitação de afecções agudas, por sua eficácia no combate da dor e edema. Novos ensaios sobre a crioterapia têm enfatizado a sua influência no sistema músculo esquelético, porém as alterações fisiológicas atribuídas ao ganho ou redução de força muscular ainda não estão esclarecidas, embora diversos pesquisadores buscam a relação entre essa técnica e o tratamento da força muscular3. A literatura apresenta inúmeras modificações fisiológicas no sistema músculo esquelético ao submeter um indivíduo ao tratamento crioterápico. Dentre essas alterações a diminuição da condução dos estímulos nervosos vem sendo a mais discutida quando se refere à redução da força isométrica. Tais alterações interferem na condução dos impulsos nervosos para as fibras musculares tipo I e II, responsáveis pela contração muscular, e consequentemente proporciona a inibição do motoneurônio gama, reduzindo assim, o arco reflexo miotático2, 4, 5, 9, 13, 16, 19. Segundo Silva et al13, esse mecanismo é mediado pela redução da sensibilidade do cálcio ao complexo actina-miosina e dos processos metabólicos ocorrentes na musculatura. Para Pereira et al5, o resfriamento interfere nas ligações entre as pontes cruzadas de actina e miosina formadoras das fibras musculares, gerando diminuição da força isométrica. Alguns autores defendem que a queda da força de contração atribuída ao efeito do frio é devido à combinação da diminuição da condução nervosa e da redução da sensibilidade do fuso muscular, inibindo o mecanismo reflexo de estiramento e reflexo tendinoso1, 2, 4. Conforme Starkey4, a redução da capacidade de realizar contrações musculares rápidas após o resfriamento tecidual, pode estar presente em decorrência do aumento da viscosidade do fluido sanguíneo nas fibras superficiais da musculatura. Hatzel e Kaminski12 após realização de testes de força muscular do tornozelo, mediante a aplicação do gelo pré e pós movimentação articular, constatou que a força concêntrica do movimento efetuado pela articulação do tornozelo pode ser afetado imediatamente após a imersão em gelo, apresentando uma redução em seu desempenho de força. Outro trabalho13 reforça a hipótese de redução de torque concêntrico, observado na musculatura flexora do joelho após 30 minutos de aplicação de frio. Pereira e colaboradores5 apontam a diminuição da força muscular isométrica máxima de dorsiflexores, em comparação à medição pré e pós 30 minutos do resfriamento local. Corroborando com esses dados um ensaio 230 Pereira GG et al. R e v .S a ú d e .C o m 2 0 1 3 ; 9 (3 ): 2 2 7 -2 3 3 . sobre resfriamento muscular em indivíduos jovens e sedentários, encontrou decréscimo da força muscular do quadríceps, imediatamente após a aplicação do gelo na região durante 15 minutos14. No seu trabalho, Ruiz15 reforça o estudo anterior, observando a força concêntrica e excêntrica após utilização da crioterapia por 25 minutos na musculatura do quadríceps dos indivíduos assistidos. Teve como resultado, a redução da força concêntrica e excêntrica imediatamente após aplicação da crioterapia. O mesmo estudo relata ainda que, essa diminuição de força, se caracteriza de curta duração, não alcançando 20 minutos. Em contra partida, os mecanismos fisiológicos envolvidos no aumento da força estão ligados à vasodilatação, com aumento do fluxo sanguíneo, maior oferta de oxigênio e nutrientes para as fibras musculares, assim como a liberação de catecolaminas contribuindo para uma maior produção de força muscular11, 13, 14. Duarte e Macedo16 relatam que o resfriamento prolongado provoca uma vasoconstricção seguida de uma vasodilatação local. Esse mecanismo de defesa da musculatura gera um maior fluxo sanguíneo na região resfriada, proporcionando um maior aporte sanguíneo e consequentemente uma maior oferta de oxigênio e nutrientes para a musculatura. Isso contribui para uma maior produção de energia, afetando a capacidade do músculo de gerar tensão, melhorando a contração muscular e favorecendo o ganho de força. A resposta do sistema simpático é outro aspecto que reforça o ganho de força muscular através da crioterapia, como afirma Low e Reed20. Segundo o autor há um aumento da liberação de catecolaminas proporcionado pelo estresse provocado pela baixa da temperatura local, contribuindo para o mecanismo de aumento do torque durante a contração muscular. Segundo autores16,17 o gelo afeta o momento máximo da força, observado na contração do quadríceps posteriormente à utilização de 20 minutos de crioterapia. Os autores relatam que nos primeiros minutos após o resfriamento há uma redução da força, porém seus valores vão aumentando gradualmente aproximadamente 45 minutos após a aplicação do gelo. Os achados de Castro3 demonstram indicativos de aumento na força de preensão manual em 6,46% após 20 minutos de utilização da bolsa de gelo na face anterior do antebraço. Sanya e Bello17 aventam que a aplicação da crioterapia aumenta a força muscular isométrica e amplia sua resistência. Seus resultados foram colhidos após protocolo de medição de força antes, imediatamente após e 10 minutos após uso da crioterapia na musculatura do quadríceps de sessenta voluntários disponíveis em sua pesquisa. As investigações de Becher et al18, abrangendo articulações de indivíduos portadores de sinovite e inflamação articular por patologias degenerativas, seguem a mesma linha de Sanya e Bello17, apontando um aumento da força isométrica posteriormente ao resfriamento da região observada, e que o aumento da temperatura intra articular, com processo inflamatório, leva a efeitos negativos em sua produção de torque. Alguns ensaios não encontraram alteração da força muscular após terapia com gelo. Os autores6,7,8,9,10,11 não observaram influencia significativa da crioterapia no desempenho muscular, não havendo perda nem ganho de força muscular nos resultados obtidos em suas pesquisas. 231 R e v .S a ú d e .C o m 2 0 1 3 ; 9 (3 ): 2 2 7 -2 3 3 . Influência da crioterapia na força muscular Rubley9, em seu estudo, mensurou a contração isométrica voluntária máxima no movimento de oponência dos dedos indicador e polegar das mãos e sua sensibilidade à pressão, em 15 voluntários sob protocolo de imersão de 15 minutos em gelo e medição da força antes e após imersão. O autor obteve como resposta a redução de sensibilidade, a diminuição de resposta a estímulos e a produção de força e propriocepção desses segmentos não foram afetados pelo resfriamento dos tecidos. Todavia apresentou pouca influência sobre o controle motor dos dígitos, reforçando a idéia que o uso do gelo não é contra indicado antes de exercícios de reabilitação para o estabelecimento do controle motor de pacientes. Foi observada também a influência do frio em imersão total do corpo sobre a força muscular em mergulhadores franceses através de estudos realizados por Coulange e colaboradores6. Conforme protocolo, foi realizada a imersão total do corpo por 6 horas em água na temperatura entre 10°C a 18° C, sendo constatado que o resfriamento por imersão total do corpo não afeta a produção de força muscular, observados no movimento de extensão dos membros inferiores. Van Lunem et al10 após realizar aplicações de gelo por 20 minutos em 35 voluntários constatou que a crioterapia não resulta em aumento do pico de torque muscular. Borgmeyer et al7 sugere a utilização da massagem com gelo para redução da dor e não como alternativa na melhoria do torque ou força muscular. Essa conclusão foi obtida após aplicação por 10 minutos da massagem com gelo no ventre muscular do bíceps braquial direito dos indivíduos observados e medição de força isométrica máxima após 20 minutos do resfriamento. Para Thornley et al8 a força isométrica máxima não é significativamente afetada pela diminuição da temperatura, porém foi observado uma redução da resistência muscular por meio do resfriamento local, medido através da extensão do joelho durante testes realizados posteriormente à aplicação da crioterapia. Uma pesquisa comparativa voltada ao tratamento de osteoartrite de joelho, afirmou que o ganho de força muscular não sofre influência da termoterapia, seja ela no resfriamento ou aquecimento do componente articular11. Alguns fatores podem ter interferido nas respostas comparativas dos artigos citados anteriormente, como a diferença de protocolos aplicados, agentes crioterápicos distintos e tamanho da amostra observada. Bem como as repostas fisiológicas sobre as diferenças na espessura do tecido adiposo local, profundidade da musculatura resfriada, quantidade de pelos na superfície de aplicação, tempo de aplicação, tamanho da área tratada e diferença de temperatura entre a área tratada e a fonte térmica13,16. Outro fator que pode interferir é o reaquecimento diferenciado entre os tecidos articulares e musculares. Estudos afirmam que a musculatura tende a reaquecer em menor tempo posterior a aplicação da crioterapia, enquanto as estruturas articulares tendem a se manter resfriadas por mais tempo, perdurando o efeito do resfriamento2,16. Conclusões 232 Pereira GG et al. R e v .S a ú d e .C o m 2 0 1 3 ; 9 (3 ): 2 2 7 -2 3 3 . Referências extraídas em distintas fontes científicas, nacionais e internacionais, contribuíram com este trabalho, que se reveste de grande importância no processo de investigação do tema proposto. Os estudos analisados demonstraram controvérsias quanto aos resultados encontrados. Alguns autores consultados não encontraram alteração da força muscular após terapia com gelo. Nos trabalhos onde foram encontrada diminuição de força após resfriamento muscular estariam envolvidos mecanismos como redução da velocidade de condução nervosa e da sensibilidade do fuso muscular, interferência nas ligações das pontes cruzadas e aumento da viscosidade do fluido sanguíneo. Em contra partida, os mecanismos fisiológicos envolvidos no aumento da força estão ligados à vasodilatação, com aumento do fluxo sanguíneo, maior oferta de oxigênio e nutrientes para as fibras musculares, assim como a liberação de catecolaminas contribuindo para uma maior produção de força muscular. Assim, sugerimos a realização de novos estudos que venham esclarecer os efeitos fisiológicos do gelo sobre a força muscular, contribuindo para a elaboração de protocolos de tratamento mais seguros e eficientes, baseados na resposta muscular ao frio. Referências 1. Agne, JE. Eletrotermoterapia: teoria a prática. Santa Maria-RS: Orium; 2005. 2. Knight KL. Crioterapia no tratamento das lesões esportivas. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2000. 3. Castro FOB. Influência da aplicação da bolsa de gelo na
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