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Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Aula 3 – Microbiologia Médica Doenças Sexualmente transmissíveis Sífilis Sobre o agente etiológico: No quadro abaixo são mostradas as duas espécies de treponemas que causam doenças humanas. * Bejel, Bouba e Pinta são doenças também causadas por Treponema, porém não são doenças venéreas. E são diagnosticadas por manifestações clínicas típicas em áreas endêmicas. O Treponema pallidum subespécie pallidum é o agente etiológico da doença venérea sífilis. Morfologia: ▪ Espiroquetas delgadas e altamente espiraladas com extremidades pontudas e retas. ▪ Apresenta três flagelos periplasmáticos que se inserem em cada extremidade da bactéria (filamentos axiais). Também chamados de endoflagelos são feixes de fibrilas que se originam nas extremidades das células, sob uma bainha externa e fazem uma espiral em torno da célula. Permitem mobilidade por impulsionar a célula em um movimento de espiral. Treponema pallidum ▪ Apresenta multiplicação muito lenta in vitro (tempo de duplicação de 30h). ▪ São anaeróbias e dependentes das células hospedeiras. ▪ As espiroquetas são delgadas demais para serem visualizadas pela coloração de Gram ou de Giemsa na microscopia de luz. São visualizadas por microscopia de campo escuro ou por coloração com anticorpos antitreponêmicos marcados com corantes fluorescentes. ▪ Apesar de não corar-se pela técnica de Gram, apresenta uma estrutura semelhante a bactérias Gram negativas (presença de LPS). Fatores de Virulência: ▪ Proteínas da membrana externa promovem aderência às células hospedeiras (adesinas). ▪ Apresenta também hialuronidase, enzima que quebra ác. hialurônico – substância presente no tecido conjuntivo. Isso facilita a infiltração perivascular. ▪ Apresenta cobertura com fibronectina que lhe permite escapar do sistema imune. Para aderir e invadir, a bactéria perde a camada de fibronectina permitindo o reconhecimento do sistema imune, gerando assim uma reação inflamatória. ▪ A destruição tecidual resulta principalmente da resposta imune hospedeira à infecção. Epidemiologia: ▪ Seres humanos são os únicos hospedeiros naturais deste micróbio. ▪ A sífilis venérea é transmitida por contato sexual ou congenitamente. Pacientes em risco incluem adolescentes e adultos sexualmente ativos e crianças nascidas de mães com a doença ativa. ▪ A sífilis venérea ocorre no mundo inteiro e não é uma doença sazonal. Patogenia: ▪ A doença é causada principalmente pelo sistema imune, dependendo do tempo de infecção, local e características do sistema imune do hospedeiro. ▪ Lipoproteínas da espiroqueta ativam o sistema imune inato e proteínas de superfície ativam a produção de citocinas, via receptores toll-like de macrófagos e outros fagócitos. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista ▪ Citocinas então iniciam o processo inflamatório. Este tipo de bactéria gera uma reação inflamatória exacerbada. Manifestação Clínica: Sífilis Primária ▪ Cancro sifilítico se inicia onde a espiroqueta é inoculada. A lesão se inicia com uma pápula que evolui a uma úlcera indolor com bordas elevadas. ▪ Há grande proliferação de espiroquetas no cancro e pode ser disseminado via linfático ou sanguíneo. ▪ Disseminação através de sistema linfático e sangue. Levando a linfadenopatia regional indolor, uma a duas semanas após o aparecimento do cancro. ▪ A úlcera pode cicatrizar espontaneamente dentro de dois meses, dando uma falsa impressão de cura. Porém o patógeno permanece na circulação e pode se instalar em outros locais do corpo. ▪ Há hipótese de que a ativação do sistema imune é por via Th1 com predomínio de T CD4 + e diminuição de T CD8 + . ▪ Reação inflamatória no cancro trata-se de uma hipersensibilidade tardia, pois há demora na ativação do sistema imune adquirido. Consegue eliminar uma boa parte dos microrganismos, porém estes ainda conseguem cair na corrente sanguínea. ▪ No local de inoculação, há rápido aumento das bactérias localizadas na área perivascular, que nos primeiros dias já se disseminam para o tecido conjuntivo. De 13 a 14 dias depois há uma reação tardia diminuindo a quantidade de microrganismos e no local há inchaço e formação de necrose no tecido devido à inflamação, formando assim o cancro. Cancro duro Características: Surgimento de úlcera (cancro) com borda rígida, sem secreções, indolor e afebril. Em mulheres, normalmente se formam mais internamente e por serem assintomáticas, só são descobertas durante um exame ginecológico. Nos homens, os cancros surgem facilmente no pênis exigindo a ida ao médico imediata. Sífilis Secundária ▪ Paciente apresenta dor de garganta, cefaleia, febre, mialgia (dores musculares), anorexia, linfadenopatia e erupções mucocutâneas generalizadas. ▪ Esses exantemas (erupções) podem variar, se apresentando como máculas, pápulas ou pústulas e são especialmente visíveis nas regiões palmar e plantar. E podem desaparecer lentamente ao longo de um período de semana a meses. ▪ Assim como no cancro primário, a erupção secundária é altamente infecciosa por contato direto, pois são ricas em bactérias proliferativas. Na sífilis secundária, há uma disseminação sanguínea da bactéria, a bactéria então se aloja nas mucosas e epiderme, gerando uma hipersensibilidade tardia no local, o que causa as máculas e pápulas espalhadas pelo corpo. Nessa fase, o contato direto com as pústulas havendo qualquer micro lesão na pele do outro individuo pode levar a transmissão. Os sintomas desaparecem espontaneamente dentro de semanas e o paciente entra em um estágio de latência da doença podendo evoluir para cura ou manter-se assintomática, não sendo assim transmissível, exceto pela via materno-fetal. Alguns casos podem ainda progredir para o estágio terciário ou tardio da sífilis. Características: máculas e pápulas por todo o corpo planas e límpidas (sem secreção). Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Sífilis Tardia (terciária) ▪ Em até 25% dos casos não tratados a doença sai do período de latência e entra no estágio tardio. Esse estágio surge após anos em estado latente da doença. ▪ Os sintomas desse estágio se devem a reações imunes às espiroquetas ainda sobreviventes. ▪ A inflamação crônica e difusa característica da sífilis terciária pode causar uma destruição devastadora de qualquer órgão ou tecido. ▪ Lesões granulomatosas (gomosas) podem ser encontradas em diversos órgãos, mais comumente pele, mucosas e ossos. ▪ A nomenclatura da sífilis tardia varia de acordo com o órgão afetado: ▫ Neurossífilis: demência, convulsões, perda de coordenação, cegueira e surdez. ▫ Sífilis Cardiovascular: Aortite. * Essa bactéria tem preferencia pelos tecidos nervoso, cardíaco e articulares. ▪ A baixa eficiência da hipersensibilidade tardia pode ser dada pela mudança antigênica do treponema. Este pode ter renovado seus antígenos dificultando o reconhecimento pelo sistema imune. Sífilis Congênita ▪ Transmissão materno-fetal via placenta (vertical). ▪ A infecção fetal pode causar danos graves: Doença fetal Grave Prejuízo do desenvolvimento neurológico Má formação em múltiplos órgãos Morte fetal ▪ Esse tipo de infecção é mais comum quando a gestação ocorre durante o período de latência da doença. A gestação durante os estágios primário ou secundário mais comumente produz um natimorto. A maioria dascrianças infectadas nasce sem envidências clínicas da doença, mas logo apresenta rinite e exantemas maculopapular descamativo disseminado. Em crianças não tratadas que sobrevivem a fase inicial da doença se observa: Má formação de dentes e ossos Cegueira Surdez Sífilis Cardiovascular *Em alguns casos, quando a carga bacteriana que passa para a criança é muito alta, ela pode já nascer cega, surda ou não desenvolver dentes. Diagnóstico: ▪ Microscopia: exige a coleta de material das ulceras. Ou seja, não serve para casos em que está apenas no sangue, sem expressão de ulceras. O método mais utilizado é o de anticorpos marcadores fluorescentes. ▪ Cultura: Esse método não está disponível, pois o treponema não cresce em meio de cultura artificial. Ele exige cultura em células ou em animais. ▪ Sorologia: Testes que realizam a procura de anticorpos contra Treponemas pallidum no soro do paciente. Δ Testes Antitreponêmicos: Adiciona-se proteínas semelhantes às proteínas do Treponema pallidum a amostra de soro do paciente. Se o paciente tiver a bactéria, ele apresentará anticorpos contra ela que reagirão às proteínas. Por utilizar proteínas semelhantes, este é um teste sensível, porém menos específico, podendo obter um falso positivo. Porém é um teste mais barato, fornecendo uma triagem de pacientes assintomáticos que apresentam maiores chances de apresentar sífilis. Posteriormente pode ser realizado um teste treponêmico, que é mais acurado, para ter certeza de o paciente é portador da bactéria. Em casos sintomáticos, o positivo Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista neste teste associado às manifestações clínicas são o suficiente para dar inicio ao tratamento. Δ Testes Treponêmicos: Adiciona-se pedaços proteicos de Treponema pallidum criados em cultura de célula ou em animais, ao soro do paciente e avalia se há reação antigênica ao antígeno. Por utilizar pedaços da própria bactéria é um teste sensível e muito mais específico. Entretanto devido a cultura da bactéria ser mais cara, tendo assim custo elevado, este teste é utilizado somente para posterior confirmação. Obs.: Testes sorológicos podem ser classificados quanto a sua: Especificidade capacidade de encontrar um antígeno específico. Sensibilidade Capacidade de reconhecer uma quantidade mínima de anticorpo no soro, ou seja, quando menor a concentração mínima ao qual ele reconhece, mais sensível é o teste. Tratamento: ▪ A penicilina benzatina, uma formulação de ação prolongada que permanece ativa no corpo por cerca de duas semanas, é o antibiótico normalmente utilizado no tratamento da sífilis. No caso de gestantes, o tratamento da mãe com antibióticos durante os dois primeiros trimestres previne a transmissão congênita. Prevenção: ▪ Práticas e técnicas de sexo seguro. ▪ Contato adequado e tratamento dos parceiros sexuais de pacientes que tiveram infecção documentada. ▪ Controle da doença teve aumento complicado pelo aumento da prostituição entre usuários de droga. ▪ Essa bactéria não sobrevive no meio ambiente, portanto a transmissão não pode ocorrer através de objetos. Somente por contato direto. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Gonorréia ▪ Conhecida a séculos e mesmo com antibiótico terapia efetiva, ainda é a IST mais comum no EUA. ▪ Presume-se que uma mulher tem 50% de chance de ser infectada numa incursão sexual com um parceiro infectado, enquanto o homem tem 20% de chance. ▪ É causado pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, diplococo Gram-negativo aérobio. ▪ O único reservatório destas bactérias é o homem. ▪ A entrada mais comum no corpo humano é pela mucosa vaginal ou pela mucosa uretral-peniana, mas outras práticas sexuais podem resultar no depósito de microrganismos na garganta ou na mucosa retal. ▪ Não possui cápsula, o que o diferencia da Neisseria meningitidis, que possui cápsula polissacarídica e é responsável pela meningite. ▪ É microrganismo sensível ao ambiente, pois precisa de um ambiente úmido e nutrido para sobreviver. Fora do hospedeiro sofre ressecamento e não sobrevive. Sendo assim, o contato íntimo é necessário para a transmissão. Ocorre sempre de forma direta, normalmente, por contato sexual. ▪ Existe diferença de sintomatologia entre homens e mulheres. A maioria das mulheres são assintomáticas. O que faz destas o principal reservatório de infecção. ▪ Pode ser transmitido verticalmente, da mãe para o filho, durante o parto. Fatores de Virulência: ▪ Fimbrias: auxilia na adesão ao epitélio mucoso humano. ▪ Proteínas Opa: Auxilia na adesão à células epiteliais. ▪ Proteína PorB: Porina de superfície que auxilia na invasão da Bactéria a célula humana. Além disso, nos neutrófilos interfere com a degranulação de lisossomos nos fagossomos, que levaria a bactéria a morte intracelular. Logo, protege a bactéria da resposta inflamatória do hospedeiro. ▪ Lipooligossacarídeo (LOS): atividade de endotoxina. É muito semelhante à LPS, porém menor. ▪ Proteína Rmp: inibe a atividade bactericida do soro por inibir o sistema complemento. ▪ Protease de IgA: liberada pela célula bacteriana para destruir IgA1, anticorpo da mucosa. Gonococos abrigados no interior de neutrófilos. Patogênese: ▪ Os gonococos aderem às mucosas epiteliais não ciliadas, penetram as células, se multiplicam e passam para o espaço subepitelial, onde a infecção se estabelece. ▪ Os mecanismos de adesão destas bactérias a mucosa previne que estas sejam levadas pelas secreções vaginais ou uretrais. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista ▪ Os gonococos liberam sinalizações que faz com que a célula epitelial humana o englobe e permita a sua multiplicação em vacúolos intracelulares, protegidos do sistema imune. ▪ Esses vacúolos movem-se pela célula e fundem-se com a membrana basal, descarregando o seu conteúdo bacteriano no tecido conjuntivo subepitelial. ▪ A Neisseria gonorrhoeae não produz exotoxinas reconhecidas. Os danos no hospedeiro e as manifestações clínicas observadas são basicamente devido a reações do sistema imune. O LOS dos gonococos estimulam a liberação de TNF-, que estimula a reação inflamatória. Reação Inflamatória 1º) Adesão por fimbrias, por uma ligação mais fraca. 2º) LOS associada a ptns de transporte, fornecem uma ligação mais forte, que promove a adesão às células e liberação de citocinas. As ptns de transporte das membranas humanas se ligam na superfície de várias células principalmente fagócitos (macrófagos) e então há liberação de citocinas. Gerando reação inflamatória. *Pode haver adesão a fagócitos sem que haja reconhecimento, não gerando reação inflamatória, mas isso é raro, devido ao grande número de receptores toll-like presentes na superfície dos fagócitos. Além disso, as ptns PorB impedem que haja destruição da bactérias fagocitadas. Sendo assim, estas se acumulam no citoplasma e lá se multiplicam. Patogenia Masculina Bactéria se liga ao epitélio via fimbrias e proteína Opa. Por intermédio da ptn porB, se liga a receptores celulares que promovem a endocitose da bactéria pelas células epiteliais. A bactéria se multiplica internamente às células epiteliais e é liberado no subepitélio. Onde há grande vascularização. Na corrente sanguínea e no tecido conjuntivo, onde se ligam às células de defesa, preferencialmente macrófagos, gerando grave reação inflamatória. Essa reaçãoinflamatória no tecido submucoso causa edema doloroso, que dificulta a micção, e formação de exsudato, a conhecida secreção purulenta que é liberada nesses quadros. Devido a seus sintomas claramente evidentes, de incomodo ao urinar e descarga de material purulento pela uretra, homens sintomáticos normalmente buscam diagnóstico e tratamento. Patogenia Feminina A bactéria se liga ao epitélio do colo uterino via fimbrias e ptn Opa. O sítio primário de infecção é o cérvix (colo uterino), pois a bactéria infecta as células do epitélio colunar do endocérvix. Ocorre deposição de C3b na superfície da bactéria (camada de lipídio A reveste a superfície da bactéria). A bactéria então inativa C3b por uma substância que mimetiza o fator H + LOS + PorB, inibindo a ação do C3b, mas o mantendo ligado a superfície. C3b + PorB + Fimbria se ligam a receptores CR-3, presentes somente no epitélio feminino, que promove ligação sem induzir inflamação. Não se sabe ao certo porque essa ligação ao receptores CR-3 não induz inflamação, mas permite a célula englobar a bactéria. Esta se multiplica e passa ao tecido subepitelial não gerando reconhecimento pelo sistema imune e não gerando reação inflamatória. As bactérias assim se multiplicam e não há sintomas clínicos observados. Isso ocorre na maioria das mulheres. Algumas mulheres apresentam reação inflamatória e apresentam secreção purulenta. A bactéria ao ligar-se ao CR-3 também libera fosfolipase D, que estimula o aumento da expressão de CR-3, para facilitar a invasão do endotélio. Ocorre invasão do endo e ecto-cervical com subsequente internalização bacteriana. Período menstrual gera infecção ascendente. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista As células do trato vaginal apresentam maior concentração de CR-3, e essa concentração vai diminuindo no epitélio ao aproximar-se da tuba uterina. Sendo assim, quanto mais próxima a tuba uterina, menor quantidade de receptores CR-3 é encontrada. Porém existe grande quantidade de receptores para leutropina (hormônio feminino). Essa bactéria possui um contra-recceptor chamado L-12 (semelhante à HCG) que facilmente se liga a receptores de leutropina. Isso permite que a infecção suba o trato para o sistema reprodutor. Ao subir do sistema reprodutor, a infecção torna-se invariavelmente sintomática. Porém quando chega a esse quadro, muitas vezes já há perda quase total do tecido. Evolução da infecção ▪ A infecção é em geral localizada, mas em alguns casos bactérias isoladas podem invadir a correntes sanguínea e dessa forma, se espalhar para outras partes do corpo. ▪ Os sintomas desenvolvem-se dentro de 2 a 7 dias de infecção e são caracterizados no homem pelo corrimento uretral e dor a micção (Uretrite gonoccócica), e na mulher nos casos sintomáticos, por corrimento vaginal (Vaginite gonoccócica). ▪ Pelo menos 50% de todas as mulheres infectadas apresentam apenas sintomas leves ou são completamente assintomáticas. ▪ Em consequência disso, elas não procuram tratamento e continuam infectando outras pessoas. A infecção assintomática, no entanto, não representa a evolução mais comum da infecção no homem. ▪ As mulheres podem não estar alertas ao seu quadro infeccioso até o ponto em que as complicações surjam. Tais como: ▫ Doença Inflamatória Pélvica (DIP) ▫ Dor pélvica crônica ▫ Infertilidade resultante das lesões nas tubas uterinas. Em 10 a 20% das mulheres não tratadas, a infecção dissemina-se para o trato genital superior causando DIP e danos na tuba uterina. Infecções Não convencionais ▪ A oftalmite neonatal é caracterizada por uma secreção espessa. Ocorre nos casos de transmissão vertical da bactéria durante o parto. ▪ A infecção gonoccócica da garganta pode resultar em um dor de garganta e a infecção retal também resulta em secreção purulenta retal, que pode ser usada como amostra para exame. Diagnóstico: ▪ Microscopia (Coloração de Gram) ▪ Cultura ▪ Corrimentos uretrais, vaginais e de outras áreas são usados para microscopia e cultura. ▪ Embora um corrimento purulento seja característico de uma infecção gonoccócica local, não é possível distinguir com exatidão num exame clínico entre o corrimento por Gonorréia e o corrimento por outas patologias, como a clamídia. ▪ O achado de diplococos Gram-negativos em um esfregaço de corrimento uretral de um paciente do sexo masculino sintomático é um teste altamente sensível e específico para o diagnóstico em homens sintomáticos com Gonorréia. ▪ A cultura é essencial na investigação de infecção em mulheres, em casos de homens assintomáticos e para amostras colhidas de sítios que não sejam a uretra. Isso porque diplococos Gram-negativos observados na microscopia não são suficientes para um resultado conclusivo, pois a vagina e outros locais de recolhimento apresentam uma microbiota vasta, e pode haver confusão com outras bactérias. ▪ Amostras de homens sintomáticos também devem ser coletadas para cultura no intuito de confirmar o diagnóstico e verificar a sensibilidade aos antimicrobianos principalmente. Isso para uma seleção favorável do antibiótico de menor espectro ao qual a cepa é sensível. ▪ Detecção de antígeno (Sorologia) Inviável, pois são menos sensíveis que a cultura e a coloração de Gram. ▪ Testes Baseados em ác. Nucléicos São sensíveis, específicos e rápidos. O problema é que estes testes não permitem a monitorização da resistência a antibióticos dos patógenos. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Tratamento: ▪ Atualmente o tratamento para a gonorréia consiste em uma combinação de antibióticos e acompanhamento de revisão para o caso de surgimento de uma resistência. Prevenção: ▪ Práticas e técnicas de sexo seguro. ▪ Tratar parceiros sexuais de pacientes que tiveram infecção documentada, para evitar a reinfecção. HPV HPV (Human Papiloma Vírus) tem como agente etiológico um vírus que causa o surgimento de verrugas genitais (condiloma). A infecção por HPV constitui a principal causa de procura aos serviços de saúde de DSTs no Brasil. Apenas alguns sorotipos de papiloma vírus são correlacionados com o condiloma (verrugas genitais). Tem-se dado grande importância a este vírus, pois descobriu-se que existem dois sorotipos capazes de causar câncer. Sobre o papiloma vírus: ▪ Pertence a família papovaviridae. ▪ São vírus não envelopados. Ou seja, ao multiplicar-se dentro da célula humana, estoura a célula para ser liberado no meio. ▪ Apresenta simetria Icosaédrica. ▪ Apresenta dupla hélice de DNA circular. ▪ Gênero Papilomavírus. ▪ Apresenta mais de 200 subtipos (genótipos diferentes). ▪ 40 subtipos com predileção para epitélio e mucosa anogenital. ▪ São classificados em alto ou baixo risco de acordo com a probabilidade de se encontrar ou não tumores. Pelos 13 subtipos são considerados oncogênicos, principalmente dois deles. ▪ Dentre os subtipos de alto risco, os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo de útero. ▪ Já os subtipos 6 e 11, encontrados em 90% dos condilomas genitais e papilomas laríngeos, são considerados não oncogênicos (causadores dos condilomas). ▪ 291 milhões de mulheres no mundo infectadas pelo HPV, sendo 32% portadoras dos subtipos 16, 18 ou ambos. ▪ Incidência Anual de Aproximadamente 500 mil casos de câncer de colo de útero. Concluindo que é um desfecho raro, Porém na presença de infecção por HPV, esse riscoaumenta. ▪ Entretanto ainda não é fator suficiente para desenvolver câncer de colo de útero. Como fator de predisposição, ele interfere, porém outros fatores influenciam no processo como condições físicas, rotina, tratamento, fatores genéticos e outros. ▪ Fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual influenciam os mecanismos ainda incertos que determinam progressão ou a persistência da infecção pelo HPV e também a progressão do câncer. ▪ A idade também interfere: a maioria das infecções em mulheres menores de 30 anos regride espontaneamente. Nos casos de mulheres acima de 30 anos, a persistência é mais frequente. ▪ Outros fatores de risco para a formação de câncer de colo de útero são: Tabagismo. Inicio precoce da vida sexual. Números elevados de parceiros sexuais e de gestações. Uso de pílulas anticoncepcionais. Imunossupressão (HIV ou uso de drogas imunossupressoras). ▪ É considerado uma DST, mas existem outros meios de transmissão além da relação sexual, tais como: transmissão vertical, fômites (toalhas, roupas intimas, etc). ▪ Isso porque o vírus sobrevive ao meio ambiente. ▪ E assim, observa-se assim HPV em indivíduos que ainda não tiveram contato sexual. Patogenia HPV adentra o epitélio através de microlesões. Infecta células da camada basal dos epitélios e se replica até cerca de 50 a 100 cópias por célula da camada basal. Ao se dividirem, algumas das células da camada basal permanecem na camada basal e outras continuam o processo de diferenciação nas camadas superiores. As que vão se multiplicando vão replicando também o vírus que injeta seu material genético junto ao humano. Gerando assim muitos vírus na sua multiplicação e sendo liberados nas suas camadas mais superficiais pelas “células-filhas” da multiplicação basal. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista As células diferenciadas contém pouca ou nenhuma maquinaria de replicação, o que proporcionaria a ausência de replicação viral nas células totalmente diferenciadas das camadas mais superficiais. Por esse motivo, o vírus expressa determinadas proteínas nas fases iniciais da infeção, ou seja, nas camadas basal e parabasal (espinhosa). Verrugas são causadas pela extensa multiplicação de células no local de infecção por um subtipo de papiloma vírus. O Vírus necessita que a célula apresente um certo grau de diferenciação, pois o promotor para a transcrição do RNAm da ptn formadora do capsídeo viral é dependente desse fator. Os processo de transformação maligna induzida por HPV resulta na superexpressão dos oncogenes virais E6 e E7. Estes se encontram principalmente nos tipos 16 e 18. E6 e E7 codificam ptns capazes de interagir e inativar alvos celulares responsáveis pela progressão do ciclo celular e manutenção do DNA. *No DNA desses vírus há genes iniciais da replicação viral (E- early) e os tardios, do final da replicação do vírus (L- late). E7 se liga a ptn moduladora Rb e E6 estimula a degradação da ptn p53 (fator de supressão tumoral; sua alteração é critério para desenvolvimento de tumores). Manifestações Clínicas: ▪ As lesões clínicas caracterizam-se, na maior parte das vezes, por proliferações epiteliais benignas na pele e em mucosas, denominadas verrugas (condilomas). ▪ As lesões subclínicas são diagnosticadas quando há presença de alterações epiteliais microscópicas. A persistência de infecção subclínica pode gerar latência, ou seja, permanência da infecção a longo prazo, apresentando episódios de replicação viral, sem ocorrência de alterações celulares. ▪ Resposta imune erradicativa da persistência intracelular viral: linfócito TCD4, TCD8 e célula NK. ▪ ASCUS (Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance - Células escamosas atípicas de significado incerto) tem uma baixa probabilidade de ser pré-cancerosa. ▪ Estima-se que somente cerca de 5% das pessoas infectadas com HPV desenvolverá alguma forma de manifestação. ▪ A infecção pode ser manifestada de duas formas: Clínica e subclínica. ▪ As lesões clínicas se apresentam como verrugas ou lesões exofíticas. São denominadas tecnicamente como condilomas acuminados e popularmente chamados de “cristas de galo”. Tem aspecto de couve-flor e tamanho variável. Nas mulheres podem aparecer no colo do útero, vagina, vulva, região pubiana, perianal e ânus. Em homens, pode surgir no pênis (normalmente na glande), bolsa escrotal, região pubiana, perianal e ânus. Essas lesões podem aparecer na boca e na garganta em ambos os sexos. ▪ As infecções subclínicas podem ser encontradas nos mesmos locais e não apresentam nenhum sintoma ou sinal. O desenvolvimento de qualquer tipo de lesão clínica ou subclínica em outras regiões é raro. Epidemiologia ▪ Estudos no mundo todo comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. ▪ Essa percentagem pode ser ainda maior em homens. Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada com o vírus. ▪ A transmissão ocorre por contato sexual, por transmissão vertical (contato do bebê com o canal do parto infectado) ou por fômites (balcões, mobílias, toalhas e roupas íntimas). Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Diagnóstico Pode ser clínico, histopatológico ou molecular. ▪ Diagnóstico Clínico: Baseia-se na identificação das lesões clínicas e subclínicas. ▪ Histopatologico: Normalmente em esfregaços de exame Papanicolau. Visualização de uma grande quantidade de queratinócitos com núcleo excêntrico e picnótico (condensação da cromatina nuclear), rodeado por um halo perinuclear transparente (coilocitose) que se denominam células coilocitóticas ou coilocitócitos. ▪ Molecular: Identificação do DNA viral por meio de captura híbrida ou PCR. Tratamento ▪ As verrugas regridem espontaneamente, porém pode levar de meses a anos. Sendo assim, indicados a remoção para evitar a disseminação para outras partes do corpo ou para outras pessoas. ▪ O tratamento das lesões clinicas e subclínicas causadas pelo HPV é complexo, não existe o melhor tratamento. Cada paciente deverá ser avaliado e vários fatores serão considerados, como: Sexo Idade Magnitude das lesões Taxa de recidiva do tratamento ▪ O tratamento pode ser realizado por agentes tópicos como podofilina 25% e podofilotoxina 5%, ácido tricloracético – TCA (50 a 90%), crioterapia, laser, eletrocirurgia e excisão da lesão. Por imunoterapia (interferonas e imiquimod), mas sem muita eficácia e remoção cirúrgica. Prevenção Vacina Atualmente estão disponíveis duas vacinas contra o HPV: Quadrivalente (utilizada na campanha de vacinação pública): proteção contra os tipos virais 6, 11, 16 e 18. Esquema de 0-2-6 meses, indicada para meninas, meninos, mulheres e homens de 9 a 26 anos de idade. Bivalente: Proteção contra os tipos virais 16 e 18. Esquema de 0-1-6 meses, indicada para meninas e mulheres a partir dos 9 anos e sem limite de idade para sua aplicação. Prevenção e Controle Educação e aconselhamento das pessoas sobre o risco e os caminhos para adotar um comportamento sexual seguro. Identificação dos portadores (Exame Papanicolau). Tratamento Avaliação do tratamento e aconselhamento dos parceiros sexuais. Vacinação. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Aula 3 – Microbiologia Médica Doenças Sexualmente TransmissíveisTricomoníase Agente Etiológico: Trichomonas vaginalis. Características morfológicas: ▪ Protozoário parasita exclusivo do aparelho genitourinário. É encontrado na uretra e na vagina das mulheres e na uretra e glândula prostática dos homens. ▪ Apresenta corpo globoso. ▪ Apresenta quatro flagelos livres e um flagelo interno a membrana formando uma membrana ondulante, responsáveis por sua mobilidade. ▪ Existe apenas sobre sua forma trofozoíta (ativo). ▪ Apresenta microtúbulos que correm pelo protozoário que funcionam como um citoesqueleto, chamado axóstilo (reunião de microtúbulos). ▪ Apresenta membrana fina, que perde água com facilidade, sendo assim frágil e não resistente ao meio externo. ▪ Movimento do protozoário do tipo Amebóide. ▪ Habitat: Vagina, vulva, uretra, vesículas seminais e próstata. ▪ Quando adere ao epitélio (mucosa) é capaz de emitir pseudópodes que criam um microambiente sob o parasita que gera proliferação bacteriana podendo gerar uma reação inflamatória na mucosa. ▪ Transmissão: Horizontal principalmente por contato sexual. Homens primariamente são portadores assintomáticos, servindo de reservatório para transmissão. A maioria das mulheres ou é assintomática ou possui quadro inflamatório gerador de corrimentos. Também pode ser transmitido através de fômites: objetos de uso íntimo, toalhas, roupas íntimas, etc. (Desde que mantida a umidade, devido a fragilidade do protozoário). Crianças também podem ser infectadas durante a passagem pelo canal de parto (< 5%). ▪ Condições de Implantação: Alteração do pH: ▪ Antes da puberdade, há um menor pH vaginal e uma maior população de Bacilos de Dörderlein. Isso impede que o trofozoíto consiga aderir-se a mucosa vaginal. *Bacilos de Döderlein são bacilos normais da vagina, protetores, que se alimentam de glicogênio, produzidos pelas células vaginais estimuladas pelos hormônios femininos. Esses bacilos produzem ácido lático, o que mantém o pH da vagina ácido para evitar a proliferação de bactérias causadoras de doenças. Pós-menarca, esses bacilos diminuem, pois a microbiota da vagina muda. ▪ Diabetes (glicogênio); ▪ Uso de susbtâncias que afetam a flora; ▪ Descamação excessiva das células epiteliais, etc. Tipos de Microbiota Vaginal: ▪ Grau I: Presença de Bacilos de Dörderlein, ácido lático, glicogênio. Geralmente puberdade, pH 3,8 – 4,5. Raro apresentar Trichomonas. Normalmente ocorre em casos de abuso infantil. ▪ Grau II: Bacilos de Dörderlein diminuem. pH > 4,5. Presença de Trichomonas vaginalis. ▪ Grau III: Sem bacilos. pH próximo a 6. Presença de Trichomonas. *Tricomoníase na mulher pode ser assintomático ou sintomático em graus variados. Barreiras para Implantação: 1. pH vaginal ácido (3,8 a 4,5) mantido pela flora principalmente os bacilos de Dörderlein (10 7 a 10 8 bacilos/ml) que secretam ácido lático e H2O2. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista 2. Produção contínua de muco que dificulta a aderência. 3. Presença de anticorpos naturais e polimorfonucleares de forma constitutiva na secreção vaginal. ▪ Citoaderência nas células Epiteliais Ação Local: 1. Citotoxicidade celular (adesinas, lectinas, proteases, etc) não foi evidenciado ligação direta com as lesões. 2. Processo inflamatório. 3. Aumento da produção de muco. 4. Odor fétido produzido pelos metabólitos do parasita (poliaminas principalmente Putrescina) e reação inflamatória; produção de amônia solúvel e nitrogênio. ▪ Manifestações Clínicas: ▪ Presença de áreas de pequenas erosões e intumescimentos no colo uterino. ▪ Presença de reação inflamatória de intensidade variável. ▪ Pontilhado hiperêmico. ▪ Piora logo antes e depois da menstruação, devido alterações do pH. ▪ Secreção abundante de Aspecto bolhoso (Leucorréia): constituída de muco, céls epiteliais descamadas, leucócitos, parasitas, bactérias diversas. Dependendo do microrganismo pode variar cheiro, cor e aspecto. Pode ser irritante para a pele, podendo levar a eritema e edema de vulva e períneo, com prurido. Na mucosa, liberação de corrimento composto por bactérias mortas, produtos inflamatórios e substâncias produzidas por bactérias, incluindo gases, o que dá a secreção o aspecto bolhoso, com odor fétido. ▪ Diagnóstico diferencial com candidíase (apresenta placas brancas que não há na Tricomoníase), Gonorréia e outras DSTs, processos irritativos e tumores. Levando em consideração a clínica, o diagnóstico é difícil em muitos casos. *Obs.: O corrimento é diferente do corrimento encontrado na candidíase que tem aspecto muito semelhante, porém cremoso. ▪ Associação com outras infecções principalmente HIV e HPV: A Tricomoníase é fator facilitador para HIV e HPV. ▪ HIV Microulcerações Processo inflamatório cm presença de TCD4+. ▪ HPV Falta de uso de preservativos. Número elevado de parceiros sexuais. Diagnóstico Laboratorial da Tricomoníase vaginal Swab descartável para coleta vaginal de secreção. O material coletado pode ser examinado por: 1. Exame direto com auxílio de solução salina. 2. Material sobre lâmina dentro de frasco com fixador para exame Papanicolau. 3. Dentro de tubo existe material para conservação alternativamente pode ser enviado para cultivo. Deixar cultivo para que o parasita prolifere para posterior observação. 4. Teste de Schiller - cobrir a mucosa com iodo 2% que gera áreas normais (positivo) ou inflamadas (Negativo); Teste de Whiff, PCR, Determinação de pH, Elisa (não mais utilizado), etc. Exames devem ser feitos imediatamente após Coleta de material. *Acondicionamento do material coletado para preservação em líquido com meio nutritivo onde pode ser conservado para observação em até 24h. Rio, 2 de maio de 2016. PHI – Luiza Batista Epidemiologia: ▪ Apresenta distribuição mundial. Incidência em Mulheres 8,2% Incidência em Homens 1,9% ▪ Reflete alta incidência, principalmente feminina. Isso se deve ao fato de os homens serem em maioria assintomáticos e não procurarem diagnóstico. Melhor diagnóstico em mulheres. ▪ Resistente ao meio ambiente em condições de umidade mínima. ▪ Costumes e preconceitos sexuais: problemas de infecção masculina ser normalmente assintomática. ▪ Pode fagocitar linfócitos infectados pelo HIV ou partículas virais isoladas que permanecem viáveis por 48h. Profilaxia: ▪ Tratamento conjunto de parceiros sexuais. ▪ Tratamento de mães e filhos quando roupas são lavas em conjunto. ▪ Cuidados com fômites mantidos umedecidos. Parasitos sobrevivem até 24h em local úmido. ▪ Uso de preservativos. Tratamento O tratamento mais comum para tricomoníase, inclusive durante a gravidez, é tomar uma dose alta de metronidazol ou tinidazol. O medicamento ministrado por via oral é muito mais eficaz para tricomoníase que a inserção de um creme ou gel no órgão sexual.
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