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164 Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças V. 1, N. 1, 2013 | ISSN 2317-5001 http://ojs.fsg.br/index.php/rccgf A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE PARA AS EMPRESAS: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO DE CONTADORES COM EMPRESÁRIOS NA CIDADE DE PELOTAS/RS Guilherme Betemps gbetemps@gmail.com - UFPEL – FAT Alexandre Braga axvb@hotmail.com - UFPEL - FAT Resumo: Este trabalho investigou a importância da contabilidade para as empresas em um estudo sobre a relação de contadores com os empresários da cidade de Pelotas/RS, apresentando o contexto atual encontrado pelos contadores no que tange a realização da contabilidade das empresas, através da aplicação de um questionário para os contadores terceirizados, a fim de identificar as dificuldades encontradas por eles no relacionamento com as empresas dos diferentes tipos de enquadramento fiscal. Com isso foi perceptível que, quanto menor for o porte das empresas, maior será o número de problemas encontrados no relacionamento entre os contadores e as organizações. Por fim, foram sugeridas mudanças a fim de aperfeiçoar esse relacionamento. Palavras-chave: contabilidade; tributação; relacionamento. Abstract: This study investigated the importance of accounting for companies in a study on the relationship of accountants with entrepreneurs in the city of Pelotas/RS, showing the current context encountered by accountants regarding the achievement of corporate accounting through the application of a questionnaire for outsourced accountants in order to identify the difficulties encountered by them in their relationship with companies of different types of tax environment. With it was noticeable that the smaller the company size, the greater the number of problems found in the relationship between accountants and organizations. Finally, changes were suggested in order to improve this relationship. Key-words: accounting, taxation; relationship. 1 INTRODUÇÃO Uma das grandes preocupações dos empresários que investem o seu capital no Brasil é com a alta carga tributária e com a qual todos que praticam atividades econômicas no território brasileiro terão de arcar. Segundo uma pesquisa divulgada pela OEDC (2010) (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em 2010 o Brasil ocupou a 14ª posição no ranking das maiores cargas tributárias do mundo, quando arrecadou R$ 1,291 trilhão em tributos (35,04% do total do PIB nacional). Além dos altos impostos, ainda Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 165 segundo a OEDC, entre os 20 primeiros países do ranking das maiores cargas tributárias, o Brasil é o pior no que tange aos benefícios fornecidos à população, dado esse que é obtido através de uma combinação entre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e a própria carga tributária. Muito provavelmente associado a esses dados, podemos verificar um alto índice de mortalidade das empresas nacionais. Segundo o Sebrae (2011), 58% das micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo encerram as suas atividades em até 5 anos. Obviamente que, além da carga tributária, podemos associar outros fatores gerenciais e econômicos determinantes para o insucesso dos empreendimentos, como a falta de qualificação dos empresários e (ou) de seus funcionários, crises setoriais, mudanças mercadológicas, etc. Porém os tributos afetam indistintamente todas as empresas, tornando-as, muitas vezes, inviáveis financeiramente. Outro fator importante a ser observado são os custos que as empresas arcam graças à complexidade do sistema tributário. Segundo o IBPT (2011), entre o período de 05 de outubro de 1988 e 05 de outubro de 2010, foram editadas aproximadamente 249 mil normas em relação à matéria tributária. Diante da realidade apresentada, faz-se necessária uma boa contabilidade para a sobrevivência e o aperfeiçoamento das empresas. Porém, para que seja alcançada a sua boa qualidade, a contabilidade tem que, praticamente, ser dividida em duas: a contabilidade fiscal e a gerencial. A primeira, obviamente, terá de atender os quesitos impostos nas leis, além de se utilizar dos enquadramentos menos onerosos para as organizações. Já no segundo caso, a contabilidade representa um ¨[...] grande instrumento que auxilia a administração a tomar decisões” (IUDÍCIBUS; MARION, 2008, p. 1). Mas, da forma como é expressa na lei, a montagem das demonstrações contábeis não são as mais adequadas para uma análise gerencial, o que justifica a divisão da contabilidade em duas partes, já que “é imprescindível a preparação das peças contábeis para uma análise mais realista” (MARION; 2009, p. 10). Ainda, fundamentalmente para se fazer uma boa contabilidade, é preciso encontrar dados fidedignos com a realidade, o que, principalmente para os escritórios de contabilidade, que serão os objetos de análise deste trabalho, a verificação das informações passadas a esses é de difícil realização, uma vez que se encontram geograficamente distantes dos seus clientes. Com isso, é de suma importância, tanto para a empresa cliente, quanto para o escritório contábil, os mesmos possuírem uma relação de parceria a ponto que a empresa Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 166 consiga recolher e repassar as informações da forma correta para os contadores, e, em contrapartida, os escritórios auxiliarem as empresas no recolhimento dos dados econômicos a fim de possibilitar a realização de uma boa contabilidade. 2 ELISÃO, ELUSÃO E EVASÃO FISCAL A partir do novo discurso por parte das empresas da necessidade de reduzir custos, o planejamento tributário toma grande importância no que tange a diminuição do ônus com os tributos. Porém, muitos gestores ainda carecem de informações que, juntamente com o departamento contábil, podem escolher os melhores caminhos para a redução dos tributos. A partir disso, serão discutidos alguns conceitos que visam diferenciar algumas destas maneiras, as quais, inclusive, podem ser ilegais e trazerem prejuízos futuros às organizações. Mas antes de abordar tais conceitos, se faz necessário deixar claro que, dentre as doutrinas existentes, ocorrem muitas discordâncias entre elas e que, no presente trabalho, serão apresentados os conceitos mais aceitos e usados pelos profissionais da área. Para começar a análise dos conceitos, observamos que, segundo Dos Santos apud Oliveira (2008, p. 21), “(...) nas práticas evasivas há a ocorrência do fato gerador tributário, gerou-se a obrigação de pagamento. No entanto, por meio de um ardil, o contribuinte furta ou tenta se furtar de sua obrigação legal”. Ou seja, na evasão tributária, o contribuinte procura a economia nos tributos de forma ilícita pois a partir das suas ações já ocorreu o fato gerador, e que, a partir dessa ocorrência, legalmente as únicas ações por parte do contribuinte poderiam ser, no máximo, para visar a alteração dos prazos de pagamento. Já a elusão fiscal, pode ser considerada como: (...) o fenômeno pelo qual o contribuinte, mediante a organização planejada de atos lícitos, mas desprovidos de “causa” (simulados ou com fraude à lei), tenta evitar a subsunção de ato ou negócio jurídico ao conceito normativo do fato típico e a respectiva imputação da obrigação tributária. Em modo mais amplo, elusão tributária consiste em usar de negócios jurídicos atípicos ou indiretos desprovidos de “causa” ou organizados com simulação ou fraude à lei, com a finalidade de evitar a incidência de norma tributária impositiva, enquadrar-se em regime fiscalmente mais favorável ou obteralguma vantagem fiscal específica. (NISHIOKA 2010, p. 28). Um bom exemplo para melhor compreender a elusão fiscal seriam fusões entre empresas superavitárias e empresas deficitárias, com apenas o intuito por parte da superavitária de obter vantagens em relação ao pagamento de impostos. Assim, embora o Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 167 negócio jurídico seja legal, se configura um abuso de direito para alcançar um determinado objetivo que não o do negócio em si. E por último, podemos conceituar a elisão fiscal, segundo Fabretti e Fabretti (2009, p.143), como “a economia tributária resultante da adoção da alternativa legal menos onerosa ou de lacuna na lei (...). Logo, a elisão é legitima e lícita, pois é alcançada por escolha feita de acordo com o ordenamento jurídico”. Portanto a mesma se diferencia da evasão através da legalidade dos atos e da elusão através do não uso da fraude à lei ou abuso de direito. Ainda em relação à elisão fiscal, a mesma deve ser diferenciada do planejamento tributário, afinal, nem todos os atos considerados elisão podem ser considerados parte do planejamento tributário. Além da legalidade, ”somente poderia ser considerado como planejamento tributário aqueles atos realizados antes da incidência do tributo, ou seja, antes da ocorrência do fato gerador.” (LUKIC, 2012, p.30). E, em uma visão mais moderna, ainda segundo Lukic (2012, p.30), para ser considerado planejamento tributário, o ato “não basta ser lícito, é preciso ser eficaz perante o Fisco”. 3 MÉTODO DE PESQUISA Para a realização da pesquisa foi adotado como universo para a análise os prestadores de serviços contábeis pessoas jurídicas situados na cidade de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul, registrados no Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade da Cidade de Pelotas e Região (SINCOPEL), que, segundo a própria entidade possui 50 associados nesta categoria. Para que seja realizada uma avaliação formativa, ou seja, para que se possa fazer um diagnóstico e propor melhorias, foi realizado um questionário, devidamente pré- testado que, segundo Vergara, (2011, p. 52) “caracteriza-se por uma série de questões apresentadas ao respondente, por escrito, de forma impressa ou digital”, sendo que as perguntas serão fechadas de múltipla escolha, nas quais “(...) são fornecidas as respostas ao entrevistado, sendo que apenas uma alternativa de resposta é possível” (MORESI, 2003, p. 65). Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 168 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Antes mesmo de começar a analisar as opiniões dos prestadores de serviços contábeis à cerca da importância dada à contabilidade pelos seus clientes dos diversos tipos de enquadramento fiscal, é importante visualizar a proporcionalidade da forma de tributação dos clientes dos respondentes da presente pesquisa. Nesse quesito, os valores médios encontrados foram de 67,43% optantes pelo Simples Nacional, 24,82% pelo Lucro Presumido e 7,75% pelo Lucro Real. Foram feitas perguntas aos contadores para avaliar de que forma eles enxergam a expectativa dos seus clientes em relação ao serviço prestado a eles. Através das repostas obtidas, também foi possível avaliar a opinião dos contadores referente à forma com que eles acreditam que são utilizadas as informações contábeis pelos seus clientes. Gráfico 1: Expectativa das empresas em relação ao serviço contábil Fonte: dados da pesquisa Em que: A. Apenas atender o fisco. B. Atender o fisco e possuir outras informações contábeis, mas os clientes não as solicitam já que os mesmos, talvez, não vejam utilidade para as mesmas. C. Atender o fisco e receber informações contábeis apenas para visualizarem a atual situação econômica das suas empresas. D. Atender o fisco e receber informações contábeis que auxiliem na tomada de decisão das suas empresas. E. Não possuo clientes optantes por esse regime de tributação. F. Outra resposta. Nessa pergunta é evidente, na visão dos contadores, a maior proporção das empresas optantes pelo Lucro Real que utilizam as informações contábeis para o Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 169 gerenciamento das organizações. Porém, é importante retomar ao que Santos e Oliveira (2008, p.5) observam que para esse tipo de empresa, a realização da contabilidade “(...) envolve maior complexidade na execução das rotinas contábeis e tributárias, para a completa escrituração das atividades e posterior apuração do lucro real”. Tal afirmativa nos possibilita concluir que, possivelmente, pela forma mais detalhada e qualificada como é realizada a contabilidade dessas empresas, faz com que elas utilizem essas informações de forma gerencial proporcionalmente mais do que as empresas optantes pelos outros enquadramentos fiscais. Em relação às respostas referentes aos clientes optantes pelo Simples Nacional não se consegue observar um comportamento uniforme da visão dos contadores dessas empresas. Mas ainda é possível observar que, dentre os três tipos de clientes, esse se destaca por ter o maior número de empresas que utilizam a contabilidade apenas para atender o fisco. E em relação aos clientes optantes pelo Lucro Presumido existe também uma pequena tendência à utilização das informações contábeis para fins gerenciais, já que aproximadamente em 60% das repostas, os contadores acreditam que os seus clientes optantes por esse regime utilizam as informações contábeis para a obtenção do diagnóstico financeiro da empresa. Para complementar esse aspecto, também foram feitas perguntas a fim de diagnosticar a visão do contador sobre a importância da contabilidade para as empresas e, de maneira geral, a forma com que eles enxergam que os seus clientes veem a influência da contabilidade em suas organizações. No gráfico abaixo é feito um comparativo das respostas das duas questões, ambas possuíam as mesmas alternativas de resposta. Gráfico 2: Importância da contabilidade Fonte: Dados da pesquisa Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 170 Em que: A. De maneira geral, a contabilidade é utilizada apenas para atender o fisco. B. A contabilidade, além de atender o fisco, contribui apenas na forma de diagnosticar a situação financeira das empresas. C. A contabilidade, além de atender o fisco, é de vital importância para as organizações, uma vez que ela fornece informações importantes para a tomada de decisão, além de diagnosticar a situação financeira das empresas. D. A contabilidade, além de fornecer informações importantes para a tomada de decisão no que tange ao gerenciamento e controle e atender o fisco, pode possibilitar a redução dos custos tributários através de planejamento tributário. F. Outra resposta Diante das respostas obtidas nesta questão, é de fácil percepção que, na sua maioria, os contadores entendem que a contabilidade, além de atender o fisco, é fonte de informação para o gerenciamento e controle, além de reduzir custos através de um planejamento tributário, que, como explica Lukic (2012, p.30), ”somente poderia ser considerado como planejamento tributário aqueles atos realizados antes da incidência do tributo, ou seja, antes da ocorrência do fato gerador.” Já, de maneiraantagônica na primeira questão, os contadores entendem que, na sua maioria, as empresas que são suas clientes enxergam a contabilidade como fonte de informação apenas para atender o fisco. Fato que possivelmente está interligado com as questões anteriores, visto que a grande maioria das empresas que são clientes dos pesquisados optam pelo Simples Nacional (67,43%). Conforme o Gráfico 1, esses clientes tem expectativas mais básicas do serviço contábil em comparação aos demais, o que faz com que, de maneira geral, os contadores entendam que a maioria dos seus clientes atribuem pouca importância a contabilidade para o andamento das organizações. Ainda em relação ao antagonismo das respostas é possível prever o aparecimento de conflitos entre os prestadores de serviços contábeis e os seus clientes. Uma vez que de um lado a contabilidade é extremamente valorizada, do outro, aproximadamente 65% delas utilizam-na no máximo para diagnosticar a situação financeira das empresas, ainda que existam algumas organizações que valorizem a contabilidade. Nas situações em que a contabilidade é feita internamente, ou seja, quando um contador é contratado para trabalhar em uma empresa, o processo de sugestão é natural e geralmente bem recebido, uma vez que o contador é funcionário da empresa. Porém, para diagnosticar essa situação nos casos em que a contabilidade é terceirizada, foi perguntado aos respondentes como é a receptividade dos seus clientes dos diversos tipos de tributação em relação às possíveis sugestões nos processos internos das empresas para facilitar a obtenção de informações para a realização da contabilidade. Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 171 Gráfico 3: Receptividade das sugestões Fonte: dados da pesquisa Em que: A. Não estão abertas a sugestões. B. Estão abertas a sugestões, porém dificilmente as colocam em prática. C. Estão abertas a sugestões e tentam colocá-las em prática, porém demoram a começar os processos de mudança. D. Estão abertas a sugestões e tentam coloca-las em prática rapidamente. E. Não possuo clientes optantes por esse regime de tributação. F. Outra resposta. Primeiramente, um dos fatores que chama a atenção é o fato de que poucos respondentes visualizam que seus clientes não estão abertos a sugestões, independente da forma de tributação escolhida. Já ao analisarmos apenas as empresas optantes pelo Simples Nacional, na sua grande maioria, embora abertas às possíveis sugestões, os contadores entendem que eles não as colocam em prática ou demoram a começar tais processos de mudança, já que 81% das repostas válidas para esse regime de tributação encontram-se nas respostas “B” e “C”. Outro ponto importante para análise é que, apenas entre as empresas optantes pelo Lucro Real, segundo os contadores, além da receptividade de sugestões, é predominante também a colocação das mesmas em prática de forma rápida, qualificando e agilizando a obtenção de informações para a realização da contabilidade. Fato esse que pode ser explicado pela maior complexidade da realização da contabilidade dessas empresas, já que, como nos explica Oliveira (2011, p. 170), essas empresas são tributadas pelo lucro que é “[...] realmente apurado pela contabilidade, com base na completa escrituração contábil fiscal, com a estrita e rigorosa observância dos princípios contábeis e demais normas fiscais e comerciais”. Por isso, Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 172 para essas empresas organizar-se internamente, para repassar as informações necessárias para a realização da contabilidade de forma eficiente, se torna muito importante. O Brasil, além de ter uma das mais altas cargas tributárias mundiais, oferece pouca estrutura para as empresas trabalharem, principalmente no que diz respeito à parte de transporte. Por isso, de acordo com Birnfeld e Birnfeld (2008, p.20), “a finalidade da arrecadação de qualquer imposto é uma só: encher os cofres públicos”. Por isso, tais tributos são vistos pelas organizações mais como um custo do que como um investimento. Assim, diante das situações expostas, faz-se entender que a redução da carga tributária através da elisão fiscal, que, retomando a forma com que Fabretti e Fabretti (2009, p.143) a conceituam, pode ser entendida como “a economia tributária resultante da adoção da alternativa legal menos onerosa ou de lacuna na lei”, é de extrema importância para a sobrevivência das empresas diante das exigências impostas a elas. Em face da importância percebida na redução dos impostos, os contadores foram questionados a cerca de qual a parcela dos seus diferentes tipos de clientes procuram-lhes para buscar alternativas para a redução das suas cargas tributárias. Gráfico 4: Proporção das empresas que buscam a economia tributária Fonte: Dados da pesquisa Em que: A. Entre 0% e 25%. B. Entre 25,1% e 50% C. Entre 50,1% e 75% D. Entre 75,1% e 100% E. Não possuo clientes optantes por este regime. Diante do que foi respondido, é possível observar que as empresas tributadas pelo Simples Nacional tendem a buscar menos a redução dos impostos, o que pode ser explicado pelo fato de que existem menos alternativas para as mesmas, pois o cálculo dos Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 173 seus tributos, como foi visto anteriormente, é feito apenas de acordo com o faturamento e a atividade exercida. Já os clientes optantes pelas outras formas de tributação acabam proporcionalmente buscando mais os contadores para encontrar alternativas para a redução das suas cargas tributárias, porém ainda é possível observar que, mesmo sendo um fator muito importante para as suas organizações e possuindo formas de economizar em impostos, ainda assim alguns contadores respondentes visualizam pouca procura por parte dos seus clientes em relação a esse assunto. Conforme o que foi explicitado no referencial teórico deste trabalho, para a realização de uma boa contabilidade, é necessário que o fluxo de informação que chega até os contadores seja eficiente. Por isso, os respondentes foram questionados a cerca da forma com que as empresas disponibilizam essas informações a fim de identificar possíveis problemas encontrados nesse processo de troca de dados. Para responder estas perguntas foi definido aos contadores participantes da pesquisa que adotassem o conceito de boa contabilidade como aquela que atende o fisco de maneira legal e menos onerosa para o contribuinte, além de ser um ¨(...) grande instrumento que auxilia a administração a tomar decisões operacionais e estratégicas” (IUDÍCIBUS; MARION, 2008, p. 1). A presença dessa observação se justifica porque as perguntas foram desenvolvidas adotando tal conceito e, principalmente porque o conceito de boa contabilidade poderia variar dependendo do que pensa cada respondente, tornando assim as questões inválidas. Gráfico 5: Como ocorre o acesso às informações Fonte: Dados da pesquisa Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 174 Em que: A. Algumas informações são de difícil acesso porque as empresas buscam torná-las sigilosas. B. Algumas informações são de difícil acesso por causa da falta de organização das empresas, as quais, muitas vezes não conseguem obtê-las de forma precisa. C. Embora as empresas disponibilizem todasas informações o mesmo se dá de forma demorada, já que, na sua generalidade, as empresas optantes por este enquadramento podem ser menos organizadas e, por isso, acabam retardando a disponibilidade das mesmas. D. Fácil acesso. As empresas, de forma geral, disponibilizam todas as informações e de forma rápida. E. Não possuo clientes optantes por esse regime de tributação. F. Outra resposta. Na visão dos contadores existem duas tendências muito claras em relação a esse aspecto. Primeiramente, no que se refere às empresas do Simples Nacional, existe uma grande dificuldade de conseguir as informações com exatidão e rapidez devido à falta de organização interna das mesmas, já que, dos respondentes que possuíam esse tipo de cliente, aproximadamente 70% responderam as alternativas “B” e “C”. Isso se deve ao fato que, diante dos pré-requisitos para o enquadramento fiscal no Simples Nacional vistos no referencial teórico, as empresas desse grupo são de menor porte do que as dos demais grupos visto que, além de outros pontos, as mesmas são obrigatoriamente Microempresas ou Empresas de Pequeno Porte. Outro ponto a ser destacado é em relação a maior facilidade de acesso às informações quando solicitadas para as empresas do Lucro Real, pois 43% dos respondentes que possuem clientes do Lucro Real entendem que, quando solicitadas às empresas optantes por esse enquadramento fiscal, o acesso à informação é fácil. Já em relação a outro aspecto, pelo fato dos contadores terceirizados não trabalharem nos locais onde são exercidas as atividades econômicas das empresas, muitas vezes, não possuem meios de se certificarem da possível existência de informações que não são repassadas a eles e que são importantes para a realização de uma boa contabilidade. Por isso, foi perguntado aos participantes da pesquisa qual a parcela dos seus clientes que possivelmente tentam omitir algumas dessas informações que são importantes para a realização dos seus trabalhos. Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 175 Gráfico 6: Omissão de informações Fonte: dados da pesquisa Em que: A. Entre 0% e 25%. B. Entre 25,1% e 50% C. Entre 50,1% e 75% D. Entre 75,1% e 100% E. Não possuo clientes optantes por este regime. De maneira geral, poucos respondentes identificam que seus clientes omitem dados importantes para a realização de uma boa contabilidade, principalmente quando se trata dos optantes pelo Lucro Real. Portanto, ao analisarmos os gráficos 5 e 6, é possível identificar que, os problemas encontrados pelos contadores na busca por informações está muito mais ligado a falta de organização interna dos seus clientes de menor porte do que com omissão intencional de dados importantes. 5 CONCLUSÃO Diante do contexto empresarial, especialmente no Brasil, onde os locais no mercado são extremamente disputados e, muitas vezes, também ocorre que o desenvolvimento das organizações é barrado pela alta carga tributária, a contabilidade ganha grande importância em relação à sobrevivência das empresas diante das dificuldades encontradas. Além disso, muitas das empresas possuem como hábito terceirizar a realização da contabilidade, o que, dependendo do tipo de relação que se estabelece entre o contador e os seus clientes, pode acarretar em maiores dificuldades para a realização de uma contabilidade que seja positiva para o desenvolvimento econômico das organizações. Em frente a esse contexto, entendeu-se necessário diagnosticar de que forma se dá essa relação a fim de encontrar possíveis dificuldades constatadas na visão dos contadores, Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 176 com o intuito de buscar potenciais soluções para as mesmas. Para isso, foram aplicados questionários para os contadores da cidade de Pelotas para avaliar quatro pontos dessa relação: a importância dada à contabilidade, a forma como são recebidas as sugestões dos contadores para as empresas, a busca por parte das empresas pela redução da carga tributária através da elisão fiscal e a qualidade das informações necessárias para a realização de uma boa contabilidade recebidas pelos contadores terceirizados. De forma generalista, com as respostas dos participantes, fez-se entender que a relação entre as partes ainda tem que evoluir muito em vários aspectos, porém também se diagnosticou que tal relação, quando dada com as empresas optantes pelo Lucro Real, está mais próxima ao que é visto na literatura como ideal. Outro ponto essencial nas respostas obtidas é que existe divergência entre o que os contadores entendem em relação à importância da contabilidade e o que os mesmos acreditam que seja a visão dos seus clientes. Na sua grande maioria, os contadores acreditam que a contabilidade deve ser utilizada para atender o fisco, gerar informações para auxiliar na gestão das empresas e para reduzir os custos tributários. Já quando questionados sobre qual seria a opinião dos seus clientes, a maioria acredita que estes entendem que a contabilidade possui como função apenas atender o fisco. Possivelmente, tal divergência de opiniões e a pouca importância dada à contabilidade por parte dos empresários, acarretam todas as demais dificuldades encontradas pelos contadores na realização de uma boa contabilidade. Assim, diante dos diagnósticos encontrados, constata-se que a pesquisa cumpriu com os objetivos traçados para a mesma, uma vez que foi possível evidenciar, em determinados aspectos, como é a relação entre os contadores e as empresas, além de sugerir mudanças para o aperfeiçoamento desta ligação que é tão importante para ambos os elementos. Portanto, em face do que foi exposto, sugere-se aos empresários que os mesmos comecem a valorizar mais os dados contábeis como fonte de informação que auxiliem na gestão das empresas e que, a relação entre eles e os contadores, seja de maior união e contribuição mútua do que foi diagnosticado nas respostas obtidas. Também se sugere que a presente pesquisa seja ampliada, sendo possível estudar os demais aspectos da relação entre as empresas e os contadores terceirizados a fim de buscar ainda mais o aperfeiçoamento desse vínculo. Revista Contabilidade, Ciência da Gestão e Finanças v. 1, n. 1, p. 164-177, 2013 177 6 REFERÊNCIAS BINFELD, L; BINFELD, H; Noções de direito tributário. Pelotas: Delfos, 2008. OLIVEIRA, L. Manual de contabilidade tributária: textos e testes com respostas. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2011. FABRETTI, C; FABRETTI; D. Direito tributário para os cursos de administração e ciências contábeis. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2009. FEDERAÇÃO DAS INDÙSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - FIESP. Carga extra na indústria brasileira parte 1 – Custos do sistema tributário. São Paulo: 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO (IBPT), 2011. Disponível em: < http://ibpt.com.br/home/publicacao.list.php?publicacaotipo_id=2>. Acesso em: 11 de ago. 2011. IUDÍCIBUS, S; MARION, J. 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Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
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