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Inicial OBRIGAÇÃO DE FAZER MATRICULA EM CRECHE

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA __a VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE FORTALEZA- CEARÁ 
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
	A Defensoria Pública do Estado do Ceará, no exercício da CURADORIA ESPECIAL, uma de suas funções institucionais, na qualidade de Representante Processual, espécie de gênero legitimação extraordinária, vem, em defesa de ANA ESMERALDA ANDRADE DOS SANTOS PORTELA brasileira, nascido em 20/10/2000, atualmente acolhido na Unidade de Acolhimento “Recanto da Luz”, este localizado na Rua Sabino Monte, 3583 – São João do Tauape CEP 60.120-230,  vem à presença de V. Exa., com fulcro nos artigos 319 e seguintes do NCPC, arts. 3o, 4o, 6o, 87, 98 e 142 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) C/C com o art. 3o, incisos VI e VII da Lei Complementar Estadual nº 06/97, propor MEDIDA PROTETIVA DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL, em face de seus genitores, Sr. José Willame Firmino Melo brasileiro, pescador, estado civil, RG e CPF ignorados, endereço residencial e endereço de e-mail também ignorados e Sra. Priscila dos Santos Melo, brasileira, RG, CPF e endereço de e-mail ignorados, residente e domiciliada na Rua Radialista José Lima Verde,445, bairro: Barra do Ceará, CEP 60331-460, e pelos fatos e fundamentos que passa a expor: 
em face do MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o nº 42498733/0001-48, na pessoa de seu procurador, com sede na Travessa do Ouvidor, nº 04, sala 1406, Centro, Rio de Janeiro, RJ, pelos motivos de fatos e fundamentos seguintes.
I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Inicialmente, afirma, sob as penas da lei, nos exatos termos do inciso LXXIV, do artigo 5º, da Constituição da República, e na forma do artigo 4º, da Lei nº 1.060/50, ser pessoa hipossuficiente, sem condições de arcar com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento próprio e de sua família, razão pela qual é titular do direito público subjetivo à assistência jurídica integral e gratuita, no contexto da qual se insere a GRATUIDADE DE JUSTIÇA, que desde logo requer, indicando a Defensoria Pública para patrocinar os seus interesses.
II – DOS FATOS
A criança em tela conta com 9 meses de idade, não estando matriculada em creche da rede pública municipal ou da rede conveniada, conforme determina o art. 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Por sua vez, a genitora não consegue trabalhar regularmente, tendo em vista que não tem com quem contar para cuidar de seu filho. Portanto, procurou órgão de atuação da Defensoria Pública a fim de buscar a prestação jurisdicional para a matrícula da criança em creche da rede pública ou conveniada, tendo em vista o longo tempo de espera pela vaga, questionando ainda a modalidade de seleção, a saber, sorteio público realizado nas Coordenadorias Regionais de Educação.
Assim, foi expedido o ofício nº @, cuja cópia se encontra anexa, requerendo a imediata matrícula em creche e garantia do direito à educação na rede pública de ensino em instituição situada em local próximo à residência da família, em atendimento à norma estatutária prevista no artigo 53, inciso V, da Lei nº 8069/90 ou na rede privada às expensas do Poder Público.
Cumpre ressaltar que, em que pese ter sido expedido o mencionado ofício, o Município não efetivou a matrícula da criança em creche, tendo sido informado que a criança ocupa atualmente a 27ª posição na lista de espera da creche municipal Vidigal, posto que não existiria vaga imediata, consoante se verifica do teor do documento em anexo, fato que deu ensejo à propositura da presente demanda.
III – DO DIREITO
III. 1 – DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE:
Inicialmente, há de se ressaltar que o conhecimento e julgamento da presente demanda incumbe ao Juízo da Infância e da Juventude, uma vez que fundada em interesse individual da criança, nos termos da previsão legal dos artigos 148, inciso IV; 209; e 212, todos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Dispõem os referidos dispositivos legais, in verbis:
“Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
(...)
IV – conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209.”
“Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.”
“Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.”
	Trata-se, portanto, de competência absoluta em razão da matéria. Ressalte-se, ainda, que a norma em comento faz expressa remissão às ações previstas no Capítulo VII, dentre as quais se incluem as que se referem ao não oferecimento ou oferta irregular do ensino obrigatório (art. 208, I, da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente).
	Outro não é o entendimento da doutrina, podendo ser citada a seguinte lição de Válter Kenji Ishida, em sua obra Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e Jurisprudência, assim exposta:
“Compete também à Vara da Infância e da Juventude para tratar de ações ligadas a interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos vinculados à Infância e Juventude. Trata-se in casu de competência absoluta por força do disposto no art. 209 da mesma lei, excetuando-se a Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais superiores. Individual é o interesse vinculado a determinada pessoa. Individual homogêneo é aquele interesse divisível de uma pessoa mas que atinge também de forma igual outras pessoas. É a hipótese de mandado de segurança impetrado por criança que não obtém vaga na rede pública em razão da idade.” �
	A propósito, pede-se vênia para transcrever a seguinte decisão pretoriana análoga:
“Juízo da Infância e da Juventude. Competência. A competência da Justiça da Infância e da Juventude está definida pelo art. 148, do ECA, a ela cumprindo conhecer de quaisquer ações civis fundadas em interesses afetos à criança e ao adolescente (inciso IV), independentemente de serem públicos ou privados os seus efeitos. A ela compete, portanto, conhecer de ação mandamental visando à proteção de adolescente, contra ato dito abusivo de direção do colégio, mesmo particular, impeditivo do exercício do direito à educação. Provimento do recurso.” �
III. 2 – DO DIREITO FUNDAMENTAL DO ACESSO À EDUCAÇÃO e DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA
	O direito à educação fundamental, tal sua importância, foi erigido pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, como um dos direitos sociais básicos, a teor do que dispõe o art. 6º, in verbis:
“Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
	E, das diretrizes traçadas pela Magna Carta, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e também pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, como logo se verá, colhe-se que a educação básica é direito subjetivo público e dever prioritário do Estado, importando na obrigação de desenvolvimento de ações governamentais integradas e conjuntas com o objetivo de propiciar a todos, e com padrão de qualidade, o pleno desenvolvimento da personalidade, e, especialmente em relação às crianças e aos adolescentes, com observância nesse mister de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
	De fato, a Carta Magna, assim trata a questão da educação, em especial da inserção do menor em creche pública:
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparopara o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivada mediante a garantia de:
I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiverem acesso na idade própria;
(...)
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero à seis anos de idade;
§ 1º. O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º. O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.” (Grifou-se)
“Art. 211 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 2º. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão no ensino fundamental e médio.”
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Grifou-se)
Conforme estabelece o inciso IV, do artigo 208, da CRFB/88, o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 06 (seis) anos de idade, sendo este um direito gratuito de assistência dos trabalhadores urbanos e rurais, na forma do art. 7º, inciso XXV, da Carta Magna.
Na mesma esteira se encontra o artigo 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que preceitua ser dever do Estado assegurar à criança na idade supramencionada o atendimento em creche e pré-escola.
A par da previsão constitucional e legal, a doutrina moderna nacional erigiu a educação como um dos direitos integrantes de um núcleo ainda menor situado no grupo dos direitos sociais, sendo, portanto, intangíveis. Significa dizer que a educação por integrar o rol do mínimo existencial não pode ser alvo de limitações orçamentárias, o que impõe a garantia ampla e irrestrita de acesso de todos os cidadãos a tal direito. 
Diante da relevância da formação intelectual e social do cidadão, de forma a propiciar a possibilidade de uma vida digna, a Administração Pública deve, por determinação constitucional, garantir à criança e ao adolescente o acesso amplo e irrestrito à educação básica, a qual não poderá sofrer qualquer tipo de limitação por atos da Administração Pública, que deve propiciar o acesso e a frequência em creche e pré-escola a todos aqueles que se enquadrarem nos requisitos dispostos na Carta Magna e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Desta forma, não merecem prosperar as alegações repetidamente utilizadas pelo administrador público negligente de conveniência e oportunidade, sendo certo que, sendo um direito fundamental da criança, não sofre incidência da reserva do possível.
Neste sentido, transcreve-se a ementa de acórdão recente proferido pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do ARE 639337/SP, relator Min. Celso de Mello, publicado no Informativo nº 632, bem como parte do brilhante voto do Ministro do STJ Herman Benjamin, relator do Recurso Especial nº 440.502 (2002/0069996-6):
“EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE. ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA. SENTENÇA QUE OBRIGA O MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA RESIDÊNCIA OU DO ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA. PLENA LEGITIMIDADE DESSA DETERMINAÇÃO JUDICIAL. INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO AO POSTULADO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. OBRIGAÇÃO ESTATAL DE RESPEITAR OS DIREITOS DAS CRIANÇAS. EDUCAÇÃO INFANTIL. DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006). COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO. DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º). AGRAVO IMPROVIDO. 
- A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). 
- Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das "crianças até 5 (cinco) anos de idade" (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal.
- A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental.
- Os Municípios – que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, §  2º) – não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social.
- Embora inquestionável que resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas, sempre que os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório, vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. A questão pertinente à "reserva do possível". Doutrina.” 
“VOTO: Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade deixa de integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que sua possibilidade é, preambular e obrigatoriamente, fixada pela Constituição e pela lei. Ao comentar esse dispositivo, Ingo Sarlet bem nota que alegar-se, neste contexto, eventual indeterminação ou incompletude das normas constitucionais beira as raias do absurdo (A Eficáçia dos Direitos Fundamentais, 6ª ed., Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2006, p.354). Em tal contexto, seriam impertinentes os argumentos relativos à reserva do possível e à incompetência dos tribunais para examinar o direito ao ensino público gratuito, pois as regras sobre as competências na esfera do ensino, já estão inequivocamenta contidas na própria Constituição”. � (Grifou-se)
Segundo a redação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394/96, a educação escolar é composta pela Educação Básica, a qual é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; e Educação Superior. 
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem por fim o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, sendo oferecida em creches e pré-escolas.�
Segundo prevê o art. 30 da mencionada Lei de Diretrizese Bases:
“Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II – pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.” .�
Logo, verifica-se que a legislação que disciplina as diretrizes e bases da educação nacional, informa que a educação infantil tem como finalidade primordial o desenvolvimento da criança nos seus aspectos pessoal e social, dissociando-se, portanto, de critérios de aprovação.
Portanto, a vexata quaestio diz respeito à aferição da base constitucional e legal do direito fundamental do acesso à educação, fato que impede o Poder Executivo de editar normas administrativas que, de alguma forma, limitem o referido direito. 
III. 3 – DA ILEGALIDADE DA PORTARIA MUNICIPAL E/SUBG/CP Nº 26, DE 14 DE OUTUBRO DE 2011
Referendado o fundamento constitucional do direito social à educação, passamos à análise do ato administrativo consubstanciado na Portaria E/SUBG/CP Nº 26, DE 14 DE OUTUBRO DE 2011, expedida pela Secretaria Municipal de Educação, que fixa normas para efetivação da matrícula de Educação Infantil, modalidade creche, nas Creches Municipais, Unidades Escolares e nos Espaços de Desenvolvimento Infantil do Sistema Público Municipal de Ensino e dá outras providências.
Segundo a referida Portaria, as matrículas da Educação Infantil, modalidade creche, na Rede Pública do Sistema Municipal de Ensino, para o ano de 2012, obedecerão ao disposto na Resolução SME nº 1165, de 14 de outubro de 2011 e na Portaria E/SUBE/CED nº 08, de 14 de outubro de 2011, e as suas determinações.
De acordo com o art. 4º, da Portaria E/SUBG/CP Nº 26, DE 14 DE OUTUBRO DE 2011, in verbis: 
“Art. 4º. As matrículas nas classes de Educação Infantil, modalidade creche, serão realizadas em 3 momentos, conforme relacionado a seguir:
I – inscrições abertas para todas as crianças de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e 11 (onze) meses, a serem realizadas nas Creches Públicas Municipais, nas Unidades Escolares e nos Espaços de Desenvolvimento Infantil, de acordo com a preferência do responsável;
II – sorteio público, realizado nas Coordenadorias Regionais de Educação, conforme cronograma estabelecido no Anexo único desta Portaria, utilizando aplicativo desenvolvido pela GTIL – 2, para o que serão considerados os critérios abaixo relacionados:
crianças cuja família seja beneficiária do cartão carioca;
crianças com deficiência;
crianças cuja família esteja inscrita no programa bolsa família;
crianças que estejam relacionadas na lista de espera da creche, elaborada em 2011;
crianças ou familiares vítimas de violência doméstica;
crianças ou alguém do núcleo familiar acometidos por doenças crônicas;
crianças com alguém do núcleo familiar que faz uso abusivo de drogas;
crianças com alguém do núcleo familiar que seja presidiário ou ex-presidiário;
ter irmão (ã) gêmeo (a) que esta também sendo inscrito (a);
ser filho de mãe adolescente;
III – efetivação da matrícula nas Creches Públicas Municipais, nos Espaços de Desenvolvimento Infantil e nas Unidades Escolares.”
Verifica-se que as normas elaboradas pelo Poder Executivo Municipal em muito se afastam da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da própria Constituição da República.
Assim, o administrador pretende, por meio do ato acima transcrito, a vinculação do acesso à Educação Infantil, modalidade creche, ao sorteio público, bem como a diversos critérios sem razoabilidade, em flagrante ofensa aos princípios constantes da LDB e estabelecidos em seu art. 3º.
Ao prever os critérios citados acima e indicar o sorteio público como seleção das vagas ofertadas, o administrador que tem como função constitucional simplesmente garantir o acesso irrestrito à educação, afasta-se da finalidade constitucional e legal de desenvolvimento da capacidade de aprendizagem da criança. 
A regra acima descrita mostra-se eivada da mais absoluta ilegalidade, diante dos critérios por ela impostos. Assim, a imposição estabelecida em contrariedade à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional carece de qualquer eficácia.
Condicionar os genitores a participarem de um sorteio público para conseguirem a matrícula de seus filhos para uma das vagas ofertadas em creches da rede pública ou conveniadas, submeter os mesmos a filas de espera, sem qualquer previsibilidade ou adotar critérios de preferência que excluem a possibilidade de obtenção de vaga, demonstra a total falta de razoabilidade do Réu. Se o Município tem como dever constitucional garantir o acesso à educação deve propiciar o alcance de todos aos meios necessários para tal desiderato, afastando, por conseguinte, a adoção de medidas desproporcionais, e, portanto, desvinculadas do fim maior da Administração Pública.
Não se admite separar o fim do Direito. Nessa senda, vale a pena nos louvarmos dos dizeres de Rudolf Von Ihering:
“O fim é o criador de todo o Direito, não há norma jurídica que não deva sua origem a um fim, a um propósito, isto é, a um motivo prático.”
Decerto que o Autor possui 9 meses de idade, e, portanto, se enquadra no único critério estabelecido pelo art. 30, da Lei nº 9.394/1996, qual seja, critério etário. Assim, o indeferimento de sua matrícula em creche próxima a sua residência demonstra o total descaso do Poder Público Municipal que, ciente da demanda da população por vagas em creches, não apresenta alternativas aos genitores que precisam da matrícula como verdadeira condição para possibilitar sua inserção e/ou permanência no mercado de trabalho.
A doutrina, outrossim, é pacífica em ponderar a predominância da razoabilidade e proporcionalidade no âmbito da Administração Pública, conforme infere-se da lição do Mestre Hely Lopes Meirelles, que manifesta-se nos seguintes termos, verbis:
“Sem dúvida, pode ser chamado de princípio da proibição de excesso, que, em última análise, objetiva aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais.”�
Dessa forma, não existindo base que sustente a norma atacada, os seus efeitos também devem ser afastados, notadamente a seleção através de sorteio público, pelo que se afigura justo o acolhimento do pedido de matrícula do Autor em Creche integrante da rede municipal ou da rede conveniada ou, ainda, em Creche particular às expensas do Município.
IV – DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
A verossimilhança da alegação restou amplamente demonstrada nos itens anteriores desta peça, bem assim nos documentos acostados à mesma, notadamente no documento expedido pela Secretaria Municipal de Educação atestando o indeferimento da matrícula da criança em creche da rede pública ou conveniada, bem como das Leis que regem a matéria.
O indeferimento de matrícula da criança em creche da rede pública ou conveniada próxima à residência de sua família revela-se ato abusivo de direito, porquanto o direito de acesso à educação adequada é constitucionalmente assegurado.
De outra parte, mostra-se patente o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, considerando que a tranquilidade financeira e emocional do(a) Representante Legal da criança que necessita da vaga em creche reflete diretamente nos cuidados com esta última.
Diga-se, por oportuno, que a concessão da medida antecipatória pleiteada não acarretará qualquer dano ao Réu, pelo que não se admite qualquer argumentação no sentido da existência de óbices à antecipação de tutela. 
V – DOS PEDIDOS
Restando amplamente demonstrada a nulidade da seleção por sorteio público e seus conseqüentes critérios constantes da Portaria E/SUBG/CP Nº 26, DE 14 DE OUTUBRO DE 2011, expedida pela Secretaria Municipal de Educação, bem como o caráter ilegal e abusivo decorrente da mesma, consubstanciado no indeferimento da matrícula do(a) Autor(a) em creche da rede pública ou conveniada, vem requerer à VossaExcelência:
Seja reconhecido o direito à Gratuidade de Justiça, nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição da República;
Seja concedida a antecipação de tutela, initio litis e inaudita altera pars, para determinar a matrícula do Autor em creche integrante da rede pública ou conveniada do Município do Rio de Janeiro, em especial na Creche Municipal do Vidigal, situada próxima à residência de sua família, sob pena de multa diária fixada em valor não inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais), por descumprimento da decisão;
Seja determinada a intimação pessoal de todos os atos processuais e a contagem dos prazos processuais em dobro para os Defensores Públicos, na forma da Lei Complementar nº 80/94.
Seja o Réu citado, na pessoa de seu Procurador, para, se entender necessário, apresentar contestação no prazo legal;
Seja julgado PROCEDENTE o pedido, no sentido de declarar a ilegalidade da Portaria E/SUBG/CP Nº 26, DE 14 DE OUTUBRO DE 2011, bem como determinar a matrícula do Autor em creche integrante da rede pública ou conveniada do Município do Rio de Janeiro, em especial na Creche Municipal do Vidigal, situada próxima a residência de sua família, sob pena de multa diária fixada em valor não inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais), por descumprimento da decisão;
Ad argumentandum tantum, caso não seja acolhida a tese da ilegalidade acima pugnada, o que se admite apenas para sequenciar raciocínio, requer que V. Ex.ª determine a matrícula do Autor em creche integrante da rede pública ou conveniada do Município do Rio de Janeiro, ou em creche particular mais próxima da residência do Autor às expensas do Réu, de acordo com a conveniência da representante legal, como forma de dar efetividade ao direito constitucional à educação.
Seja intimado o ilustre Membro do Ministério Público com atribuição para intervir na causa; 
Seja o Réu condenado ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, em favor do Centro de Estudos Jurídicos da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente documental suplementar, depoimento pessoal do representante legal do Réu, sob pena de confissão, e testemunhal, e por tudo o mais que se fizer necessário à cabal demonstração dos fatos articulados na presente inicial.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). 
Termos em que pede deferimento. 
Rio de Janeiro, @
�	 ISHIDA, Válter Kenji. “Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e Jurisprudência”. Editora Atlas, São Paulo, 2010, p. 300.
�	 TJRJ – Processo 448/93 – Campos dos Goytacazes – Des. Rel. Adolphino A. Ribeiro.
�	 Voto do Ministro do STJ Herman Benjamin, relator do Recurso Especial nº 440.502 - 2002/0069996-6.
�	 Conforme estabelecido no art. 208, inciso IV, da CF/88, com a redação determinada pela Emenda Constitucional n. 53, de 19 de dezembro de 2006, onde se lê “seis anos de idade”, leia-se “cinco anos de idade”.
�	 Leia-se “cinco anos”, vide nota de rodapé n. 01.
�	 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26.ª edição, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 86.
Av. Pinto Bandeira, nº 1.111, Luciano Cavalcante, Fortaleza-CE
�CEP 60.811-170, Fone: (85) 3101-3434

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