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Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada VERTEDORES Conceito: é um entalhe feito no alto de uma parede por onde a água escoa livremente (apresentando, portanto a superfície sujeita a pressão atmosférica). Emprego: são utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água, canais, nascentes (Q ≤ 300 L/s). Partes componentes: H = Carga hidráulica P = Altura do vertedor Classificação: Vários são os critérios para a classificação dos vertedores. a) Quanto à forma: retangular, triangular, trapezoidal, circular, etc. b) Quanto à espessura da parede (e): Parede delgada: a espessura (e) não é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente (e < 2/3 H). Parede espessa: a espessura é suficiente para que sobre ela se estabeleça o paralelismo entre as linhas de corrente (e ≥ 2/3 H). c) Quanto ao comprimento da soleira (L): L = B Vertedor sem contração lateral B = Largura da seção transversal do curso d’água L = Largura da soleira Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada L < B Vertedor com contração lateral: neste caso a lâmina se deprime. Os vertedores com duas contrações laterais são os mais utilizados na prática. Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada d) Quanto à inclinação da face de montante: - Vertical: - Inclinado: e) Quanto à relação entre o nível da água a jusante (P’) e a altura do vertedor (P): - P > P’ Vertedor Livre: O lençol cai livremente à jusante do vertedor, onde atua a pressão atmosférica. Esta é a situação que tem sido mais estudada e deve por isso ser observada quando da instalação do vertedor. - P < P’ Vertedor Afogado Situação que deve ser evitada na prática, pois existem poucos estudos sobre ela. Quando ocorrer significa que a vazão é demasiada grande para o tamanho do vertedor. Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada EQUAÇÃO GERAL DA VAZÃO PARA VERTEDORES DE PAREDE DELGADA Considere-se um vertedor de parede delgada e seção geométrica qualquer (retangular, semicircular, triangular etc), desde que regular, ou seja, aquela que pode ser dividida em duas partes iguais. Para a dedução da equação geral, as seguintes hipóteses são feitas: 1 - Pressão efetiva na cauda é nula. 2 - P suficientemente grande para se desprezar a velocidade de aproximação (V0). 3 - Distribuição hidrostática das pressões nas seções (0) e (1). 4 - Escoamento ideal entre as seções (0) e (1), isto é, ausência de atrito entre as referidas seções e incompressibilidade do fluido. 5 - Seção (1) localizada ligeiramente à jusante da crista, onde a pressão efetiva é nula. 6 - Escoamento permanente. Sendo o escoamento permanente e considerando a seção (1) localizada ligeiramente a jusante da crista do vertedor (onde a pressão é nula) e aplicando a equação de Bernoullientre as seções (0) e (1), para a linha de corrente genérica AB, com referência em A, vem: (distribuição parabólica) (1) Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada A vazão teórica que escoa através da área elementar dA é dada por: dA = x . dy (2) (1) Em (2): sendo x = f(y) A vazão que escoa pela metade do vertedor é dada por: E por todo o vertedor: (3) Na equação (3) deve ser introduzido um coeficiente (CQ) determinado experimentalmente, o qual inclui o efeito dos fenômenos desprezados inicialmente. Para um escoamento real sobre um vertedor de parede delgada, operando em condições de descarga livre, a expressão geral para a vazão é dada por: (4) VERTEDOR RETANGULAR DE PAREDE DELGADA 1) Sem contração Lateral x = f(y) = L/2 (5) Levando (5) em (4): = (A) Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada Fazendo: H - y = u e -dy = Du Quando (B) (B) em (A): (6) Para vertedor retangular de parede delgada, sem contração lateral e com descarga livre. O valor de CQ foi estudado por vários pesquisadores como: Bazin, Rehbock, Francis, etc sendo encontrado em função de H e de P (ver apêndice). 2) Com contração lateral (Correção de Francis) Quando o vertedor possui contração lateral é necessário fazer correção no valor de L, ou seja: Francis adotou um Cq = 0,62 e obteve a equação simplificada: Q = 1,838 L H3/2 devendo o L ser corrigido caso exista uma ou duas contrações laterais. Nestes casos o valor de L’ é usado na fórmula (6) no lugar de L, sendo CQ o mesmo para os casos de vertedores sem contração lateral. Na falta de maiores informações pode-se tomar CQ = 0,60, valor este dado por Poncelet, ficando a fórmula para vertedores com duas contrações laterais escrita como: Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada Q = 1,77 L H3/2 Não sendo necessária a correção das contrações laterais. Q = vazão (m³/s); L = Largura da soleira (m) e H = carga hidráulica (m). VERTEDOR TRIANGULAR (Isósceles) Só é utilizado o de parede delgada. (8) (8) em (4 - Eq. Geral), fica: (A) Fazendo: (H-y)1/2 = u e elevando ao quadrado ( )² H - y = u² e H- u² = y dy = -2u du -dy = 2u Du Trocando os limites da integração, vem: Para y = 0, u = H1/2 Para y = H, u = 0 (B) em (A): Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada CQ poderá ser encontrado em tabelas, em função de θ, H e P (como por ex. Hidráulica General, Vol !, GilbertoSotelo Ávila). Na falta de maiores informações pode-se adotar como valor médio CQ = 0,60. Se θ = 90°, tgθ/2 =1, a fórmula acima se simplifica para: Q = 1,40 H5/2 Fórmula de Thompson (θ = 90°) Q = vazão (m³/s); H = carga hidráulica (m). OBS: Para pequenas vazões o vertedor triangular é mais preciso que o retangular (aumenta o valor de H a ser lido quando comparado com o retangular). Para maiores vazões o triangular passa a ser menos preciso pois qualquer erro na leitura de H é afetado pelo expoente 5/2. VERTEDOR TRAPEZOIDAL (Cipolletti) Não gosa do interesse apresentado pelos outros dois (retangular e triangular). Pode ser usado para medição da vazão em canais, sendo o vertedor de CIPOLLETTI o mais empregado. Esse vertedor apresenta taludes 1:4 (1 na horizontal para 4 na vertical) para compensar o efeito da contração lateral da lâmina ao escoar por sobre a crista. A vazão pode ser calculada como a soma das vazões que passam pelo vertedor retangular e pelos vertedores triangulares, ou seja: Vertedor Cipolletti (Talude 1 : 4) A experiência mostra que CQ = 0,63, ficando a fórmula acima simplifacada: Q = 1,86 L H3/2 Vertedor Cipolletti Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada VERTEDOR RETANGULAR DE PAREDE ESPESSA A espessura da parede (e) é suficiente para que se estabeleça o paralelismo entre os filetes ou seja: as linhas de corrente sejam paralelas ( o que confere uma distribuição hidrostática das pressões). PRINCÍPIO DE BÉLANGER: a altura h sobre a soleira se estabelece de maneira a produzir uma vazão máxima. Aplicando Bernoulli entre (0) e (1) para a linha de corrente AB, tem-se: Bélanger observou que quando o escoamento se estabelece sobre a soleira, h = 2/3 H (B). Levando-se em consideração o coeficiente CQ corretivo da vazão, tem-se: Experiências realizadas levam à conclusão de que CQ = 0,91, podendo a expressão anterior ser escrita como: Q = 1,55 L H3/2 Vertedor retangular de parede espessa Felipe Marques D.Sc. Hidráulica Aplicada Observações: 1) o ideal é calibrar o vertedor no local (quando sua instalação é definitiva) para obtenção do coeficiente de vazão CQ. 2) O vertedor de parede delgada é empregado exclusivamente como medidor de vazão e o de parede espessa faz parte, geralmente, de uma estrutura hidráulica (vertedor de barragem por ex.) podendo também ser usado como medidor de vazão. INSTALAÇÃO DO VERTEDOR E MEDIDA DA CARGA HIDRÁULICA H É suficiente atentar para as deduções das fórmulas que a determinação da altura da lâmina H não é feita sobre a crista do vertedor e sim a uma distância a montante de mesmo suficiente para evitar a curvatura da superfície líquida. Os seguintes cuidados devem ser tomados na instalação e na medida de H: - escolher um trecho do canal retilíneo a montante e com pelo menos 20H de comprimento; na prática, pelo menos 3 metros. - a distância da soleira ao fundo deverá ser superior a 3H (+- 0,50m) e da face à margem, superior a 2H (+- 30cm). P = 3H permite tomar - Deve ser instalado na posição vertical, devendo estar a soleira na posição horizontal. - Não permitir que haja qualquer escoamento lateral ou por baixo do vertedor - A ventilação sob a cauda deve ser mantida para assegurar escoamento livre. - O valor de H deve ser medido a uma distância da soleira de 10H (1,5m). A maneira correta de medir H é ilustrada nas figuras a seguir: Vertedor Móvel Vertedor Fixo - No vertedor móvel o topo da estaca tangencia o nível da água. - No vertedor fixo o topo da estaca está em nível com a crista do vertedor.
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