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DOLTO TRAB. COM CASOS

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FRANÇOISE DOLTO
Françoise Dolto
1908 - 1988
Uma infância infeliz?
Falecimento da irmã
O episódio que ocorreu com um irmão menor. 
“Uma mãe que "a odiava", um pai pouco firme em sua função de frear a mãe em seu desvario, eis a fórmula que poderia ter fabricado, de acordo com alguns psicanalistas, uma psicose!” KUPFER, 2006
O desejo de se tornar  "uma médica de educação".
Entre a pediatria, a psicanálise e a educação.
Dolto e a Psicanálise
Dolto lançada na psicanálise através do seu psicanalista (René Laforgue), mas o que ela queria era permanecer como pediatra, uma pediatra que compreende-se a psicologia das crianças.
Foi pioneira e especialista em psicanálise com crianças.
A psicanálise surgiu num primeiro momento como instrumento poderia ajudar no processo da leitura do corpo das crianças em trabalho como pediatra, e o corpo que preocupava como médica não desapareceu deu lugar a um corpo erógeno (libidinal) para Dolto o corpo fala.
Sua teoria ofereceu um novo lugar às crianças, um lugar próprio. "Ouvindo as crianças, em lugar de falar delas”. Em sua prática, Dolto trata a criança como uma pessoa autônoma e responsável, orienta-se através da interrogação face ao desejo da criança e permanece atenta às diferentes posições da criança, nos momentos de tensões conflitivas em que ela se encontra (Manonni, 1986)
Para Dolto: A infância tem papel fundamental para o seu desenvolvimento como indivíduo. Considera que antes mesmo que a criança possua uma verdadeira "linguagem", o ser humano é por essência comunicante, ele comunica já à sua maneira pelo corpo. 
Conceitos Fundamentais
Françoise Dolto, grande médica e psicanalista, esclareceu a importância de sabermos diferenciar os conceitos centrais: imagem inconsciente do corpo e esquema corporal e sua importância nos tempos atuais para a educação. 
	A primeira sessão foi com a mãe e a menina. Bernadette estava com cinco anos e meio, apresentava aparência de retardo mental, falava com a voz monocórdica, gritando como se fosse surda, a mão e a perna esquerda tinham os movimentos comprometidos, caminhava arrastando a perna e o braço ficava dobrado, com a mão sobre o antebraço. Bernadette sofria de anorexia mental, em que a recusa em comer era extrema, e quando era forçada a fazê-lo, os alimentos eram parcialmente vomitados. 
“Caso Bernadette" 1996
	Na primeira sessão a sós com Bernadette, a menina faz um desenho abstrato, diz que é um pinheiro, que chama de pinheirar. Uma constatação que a analista faz, é de que essa é uma das formas da chamada linguagem esquizofrênica, em que os substantivos ganham a dinâmica e a ação dos verbos.
	Dolto faz um apanhado geral sobre a vida de Bernadette. Questiona mais sobre o sintoma de anorexia, os membros da família, e sobre as pessoas com quem Bernadette se relaciona.
	Após a primeira entrevista, Dolto expõe que diante da organicidade da anorexia, que ocorria desde o nascimento, a analista não acreditara que a psicanálise pudesse ter serventia. A mãe de Bernadette, insistiu para que Dolto realizasse pelo menos algumas sessões.
	A intervenção da analista não foi só no sentido de colocar Bernadette a falar sobre seu desenho, fatos do dia a dia são incluídos na sessão. A mãe da menina precisaria se ausentar, por motivo de viagem. A analista comentou isto com Bernadette, que se mostrou encantada com a idéia da ausência da mãe. Ao mesmo tempo em que parecia querer o pai só para si, apresentou tamanha crise de angústia que não conseguia comer nada sem vomitar imediatamente, depois que a mãe foi viajar . O pai lhe deu a idéia de escrever uma carta para a mãe, e logo ela conseguiu comer. Assim ele procedia a cada vez que Bernadette manifestava angústia ao comer.
	Nas sessões que se seguiram, Bernadette concluiu que quando sua mãe não estava, ela comia melhor. No retorno da mãe, a menina diz que ela não quer que a filha coma, que é má, mas que não foi ela própria que disse isso, e sim 'a macaca'. Nas sessões posteriores, a menina relata que agora a macaca é uma menina, que é muito má, e por gostar tanto de Bernadette, quer entrar nela, assim tenta se aproveitar do momento em que ela come, para ser comida junto com as outras coisas, e caso Bernadete a coma, transformar-se-á em macaca. Todos os seus desenhos passam a ser maus ou feios, na escola torna-se malvada e se mostra mais inadaptada do que no ano anterior.
	Dolto tem a idéia, de inserir um outro recurso na análise de Bernadette: a boneca-flor. Essa idéia surge através da percepção que a psicanalista faz, em sua clínica com adultos e crianças, de que o interesse depositado em flores e a identificação com uma flor sempre acompanham o quadro clínico de narcisismo. Quando, então, a mãe de Bernadette relatou que a menina não tinha mais interesse em suas bonecas e animais, Dolto expôs que talvez ela tivesse interesse em uma boneca flor, a menina gostou da idéia. Dolto passa as instruções para a mãe confeccionar a boneca: ela deveria ser totalmente revestida de tecido verde, que não tivesse rosto, mas sim uma margarida artificial no lugar da cabeça, as roupas deveriam evocar tanto o feminino quanto o masculino, ou seja, calças e saia, tecidos rosa e azul. Novamente entra em cena o trabalho dos pais no atendimento a Bernadette.
“Caso Dominique“ 1981
		Dominique possui 14 anos e é o segundo de três filhos. Sua mãe busca atendimento à Dolto, relatando que o garoto nunca havia criado problemas até o nascimento de sua irmã caçula, Sylvie, fazendo assim receber menos atenção e manifestando reações enciumadas, tornando-se um menino instável, agressivo e diferente. Após iniciar a análise, numa conversa, Dolto levanta a hipótese de o que Dominique lhe falava ali poderia ter relação com sua irmã, e logo o questiona sobre para tirar sua dúvida a limpo. Ele se espanta pelo fato da mulher ''adivinhar'' seu enigma, e ela o conforta dizendo que juntos eles serão capazes de compreender tudo aquilo melhor. Em outro relato, Dolto relaciona o que lhe é contado à um acontecimento do passado do garoto, agora tendo relação ao irmão mais velho, Paul-Marie. 
		Posteriormente em certo momento, Dolto conversa com Paul, e é através dele que descobre o fato de Dominique e Sylvie dormirem com a mãe, coisa que o mais velho não gosta. Ao conversar mais uma vez com Dominique, agora expondo parte do relato de seu irmão, sobre a mãe gostar muito de aquecer-se tendo-os em sua cama, o garoto fugiu do foco da conversa e Dolto interpretava agora o que Dominique lhe falava para o aspecto sexual, explicando sobre o sexo dos homens e a mudança no órgão genital, considerando o que ele sente enquanto brinca com ele. É após essa conversa que Dominique relata não querer mais dormir com a mãe, pois se sente esquisito, e isso não seria mais coisa para sua idade. Cuidadosamente e de forma simples, Dolto fala sobre a proibição do incesto. 
		É após tudo isso que Dolto percebe uma sexualidade infantil na mãe, e a possibilidade do incesto é a maior causa dos problemas de Dominique. Essa intervenção no ato de dormir com a mãe é essencial para a melhora do garoto, uma vez que como já levantado e concluído por Dolto, as perturbações de Dominique poderiam ser o centro da possibilidade de incesto. Dolto ofertou do uso de recursos como desenhos, conversação e modelagens, sendo eles de extrema importância para ajuda na descoberta de conteúdos essenciais para a análise.
Imagem inconsciente do corpo
 
Dolto enfatiza que sua ideia de imagem inconsciente do corpo não se refere à imagem especular; refere-se à uma questão de identidade. Todavia, a autora trata a construção das imagens do corpo como pré-especulares. O espelho que, para Dolto, é uma assunção do sujeito em seu narcisismo. Entretanto, é preciso que o estádio seja para o sujeito um efeito de corpo próprio-integração; que ele reconheça este corpo como sendo o seu e, sobretudo, seja uma mais-valia de suas pulsões, a natureza de seu afeto (Dolto, 2001).
O sujeito, em sua origem, é fonte autônoma de desejo, portanto
vai ganhando um corpo imerso em linguagem e se apoiando em seus vínculos mais imediatos, que são substanciais.
Para a autora a imagem do corpo é um vestígio das representações precoces do sujeito, sobretudo do momento em que estas foram elaboradas. É importante destacar ainda que a imagem do corpo diferencia-se do esquema corporal
. 
 
[...] a imagem do corpo não é a imagem que é desenhada ali, ou representada na modelagem; ela está por ser revelada pelo diálogo analítico com a criança. É por isso que, ao contrário do que se acredita em geral, o analista não poderia interpretar de imediato o material gráfico, plástico, que lhe é trazido pela criança; é esta que, associado sobre seu trabalho, acaba por fornecer os elementos de uma interpretação psicanalítica de seus sintomas. (DOLTO, 2010, p. 9).
Esquema Corporal 
Se o esquema corporal é, em princípio, o mesmo para todos os indivíduos ( aproximadamente de mesma idade, sob um mesmo clima) da espécie humana, a imagem do corpo, em contrapartida é peculiar a cada um: está ligada ao sujeito e a sua história. Ela é específica de uma libido em situação, de um tipo de situação libidinal. Daí resulta o esquema corporal é, em parte, inconsciente, mas também pré-consciente e consciente, enquanto que a imagem do corpo eminentemente inconsciente [...]. (DOLTO, 2010, p. 14)
 
Então, podemos dizer que o esquema corporal segue uma lógica material, que é determinada por fatores genéticos comuns, ou seja, que todos nós temos. Então, golpes orgânicos precoce, traumas, medos podem provocar perturbações do esquema corporal, e estas, podem ocasionar modificações passageiras ou duráveis. É frequente que o esquema corporal com problemas e a imagem sã do corpo coabitem em um mesmo sujeito, ou seja, uma pessoa pode ter uma imagem do corpo perfeitamente boa (sã), mas o seu esquema corporal tem problemas, está enfermo. O esquema corporal especifica o indivíduo enquanto representante da espécie, em qualquer lugar, época ou as condições nas quais ele vive. Então, o esquema corporal será o interprete ativo ou passivo da imagem do corpo. O esquema corporal se estrutura pela aprendizagem e pela experiência
Consequências teóricas
Dolto propõe a hipótese de que a criança adoece do inconsciente dos pais.
Não é apenas com a criança isolada que ela trabalha. A interrogação inicial é com a dinâmica familiar. Por vezes, nada pode ser feito enquanto a criança é tomada como objeto por um ou outro dos pais.
 Françoise Dolto não atua com a criança separadamente. Realiza as entrevistas preliminares com os pais, na presença da criança.
Depois da entrevista com os pais, Dolto oferece a eles uma breve opinião, porém não da mesma maneira que eles encaram a situação, a primeira dessas interpretações anula toda a responsabilidade da criança, a segunda atribui-lhe toda a responsabilidade“.
Dolto propõe que após a devolutiva aos pais, solicite-se que a criança fique a sós com o analista. Ela também sugere que, ao se trabalhar com a criança, devemos usar o método do brinquedo, da conversação e do desenho, pois o método da associação livre não é possível. Sobre o desenho a autora defende que através deles entramos "no âmago das representações imaginativas do paciente, da sua afetividade, do seu comportamento interior e do seu simbolismo" (Dolto, 1988, p.132).
Dolto não ofertava brinquedos à criança.
Segundo Dolto, não convém realizarmos uma interpretação direta do desenho, ele servirá mais para orientar as conversações. 
Essa relação entre a criança e o psicanalista é possibilitada pela situação da transferência.
 Através da transferência, o analista pode estudar os mecanismos inconscientes do sujeito, seu comportamento frente ao psicanalista, participando daquilo que ele, o paciente, tem em relação à outra pessoa.
A transferência também ocorre na relação com os pais.
A influência de Dolto na postura dos cuidadores de creches foi imensa a partir dos anos 50. Ao dar valor às palavras dirigidas aos bebês, levando-os a conversar com os bebês diariamente. essa prática de falar ao menos 5 minutos diariamente com os bebês parece ter diminuída em 50% a mortalidade infantil nas creches em uma região francesa.
Instituições que trabalham com a teoria de Françoise Dolto 
La Maison Verte – Paris – criada por Dolto.
Casa da Arvore – Rio de Janeiro.
La Maison Verte, traduzida para o português como 
A Casa Verde, foi criada por Françoise Dolto em Paris no ano de 1979 para crianças de 0 a 3 anos.
É um lugar de boas-vindas e escuta crianças acompanhadas por seus pais ou por aqueles que costumam cuidar e com quem eles se sentem em confiança.
A prevenção de problemas relacionais futuros que, segundo ela, teriam suas origem em “microneuroses” impostas desde o início da vida.
La Maison Verte 
Dolto, preocupada com a enorme quantidade de crianças que, a partir do início da vida escolar, eram encaminhadas ao psicanalista com problemas já estruturados, ela criou a Maison Verte.
A hipótese era que deveríamos poder evitar, durante os primeiros meses de vida, sofrimentos inúteis provindos de tensões, de angústias inter-relacionais da criança infante (quer dizer, que ainda não fala) com seus pais.
Essas angústias, pensávamos, vêm dos não-ditos, dos mal-entendidos, do jogo das intersubjetividades enraizadas na história de cada um. (Dolto, 1988, p. 323).
O objetivo principal é auxiliá-las, e a seus pais, no processo de integração social e de separação do ambiente familiar, maternal, inserindo palavras onde há rupturas e provações.
A introdução de uma palavra justa, descritiva da angústia, teria, sobre elas, um efeito libertador.
Esse modelo, hoje conhecido como estrutura Dolto, multiplicou-se por toda a França e por diversos outros países, tornando-se modelo de referência na abordagem das questões da primeira infância.
- “se as coisas pudessem ter sido faladas a tempo, a saber, no momento dos traumatismos, dos choques, dos sofrimentos familiares dos quais criança é parte integrante, e dos quais ela guarda um traço – pela perda de confiança em si mesma, e por uma hesitação em sua identidade –, teria sido possível evitar a grande patologia que aparece após dois anos de escolaridade e, para a qual, os professores aconselham os pais a consultarem os centros de atendimento.” (La Maison Verte, 1986).
A ÉTICA DE FRANÇOISE DOLTO NAS FAVELAS
O projeto “Casa da Árvore” é um espaço de acolhimento a crianças e suas famílias que habitam nas favelas da cidade do Rio de Janeiro. Tendo por inspiração o modelo da Maison Verte, desenvolvido por Françoise Dolto, procura-se não só analisar as semelhanças mas discutir a singularidade e o contexto cultural no qual este projeto se encontra inserido.
Casa da árvore – Rio de Janeiro 
Foi passado por triagem em grupo, grupo de crianças, grupo de pais, foram aos poucos abandonando nossas origens kleinianas, influenciando por outros pensadores como Mannoni, Dolto, Winnicott, Lacan, Diatkine. No intuito de ampliar o alcance do trabalho, iniciando uma cooperação com psicólogos da prefeitura que atuavam em postos e centros de saúde nas regiões mais carentes do município.A Casa da Árvore surgiu como uma resposta a muitas dessas questões. Baseada na Maison Verte de Françoise Dolto, amplia o campo da intervenção psicanalítica, agindo em um espaço social, disseminando uma nova ética para os que lidam com crianças pequenas.
Essa escolha diz, muito claramente, da intenção de uma intervenção no campo social. Escolhemos um segmento da população já isolado geográfica e socialmente, que se caracteriza por ter um poder aquisitivo baixo, baixo nível de escolaridade, e mais do que tudo, se encontra submetido a níveis de violência absurdos, com códigos de lei e conduta bastante específicos.n Essa escolha foi feita por acreditar que são as favelas os espaços de nossa cidade onde há maior carência de palavras, maior desamparo por parte do poder público, maior índice de violência
Cifali, M. (Org.) (1989). Seguindo
os passos de Françoise Dolto (Beatriz Sidou, trad.). Campinas: Papirus.
 Dolto, F. (1989). Inconsciente e Destinos (Dulce Duque Estrada, trad., pp.47-130). Rio de Janeiro: Jorge Zahar (Trabalho original publicado em 1988).
Dolto, F. (1996). No jogo do desejo (Vera Ribeiro, trad., pp.52-209). São Paulo: Ática (Trabalho original publicado em 1981). 
 Dolto, F. (2001). A Imagem Inconsciente do Corpo (Noemi Moritz Kon, trad.). São Paulo: Perspectiva (Trabalho original publicado em 1984).
Dolto, F. (2005). A causa das crianças (Ivo Storniolo, trad.). Aparecida: Idéias & Letras (Trabalho original publicado em 1987). 
DOLTO, Françoise. A imagem inconsciente do corpo (tradução Noemi Moritz e Marize Levy), São Paulo: Perspectiva, 2010.
Freud, S. (2006). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vera Ribeiro, trad., Vol. 07, pp.163-189). Rio de Janeiro: Imago (Trabalho original publicado em 1905).
MANIER, A E MANIER C. Auto-Retrato de uma Psicanlista 1934-1988. Tradução: Dulce Duque Estrada. Jorge Zahar Editor, RJ,1990. Françoise Dolto (1908-1988). Dispónivel em: <https://pt.scribd.com/doc/23156118/FRANCOISE-DOLTO-1>. Acessado em 03/11/2017.
MILMAN, Lulli. Casa da árvore. A ética de Françoise Dolto nas favelas. REVISTA DE PSICANÁLISE. Editora Pulsional. Edição 181 – ano XVII – n° 181 de março de 2005. p. 46-53
Referências bibliográficas;

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