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308-P02 1 º D E A B R I L D E 1 9 8 4 ________________________________________________________________________________________________________________ Caso LACC # 308-P02 é a versão traduzida para Português do caso # 383-007 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um gerenciamento eficaz ou ineficaz. Copyright 2009 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. K E N N E T H E . G O O D P A S T E R Alguns caminhos para a análise ética em administração Um administrador confronta-se inevitavelmente com questões éticas, sejam quais forem a sua posição na estrutura corporativa e o tamanho e a complexidade da organização. Por vezes, as exigências de um julgamento e uma ação responsáveis são óbvias; por exemplo, quando as decisões envolvem danos ou prejuízos evidentes, significativos e evitáveis a pessoas de dentro ou de fora da organização. Mas com freqüência as demandas de um bom julgamento não são tão óbvias. (É só pensar no emaranhado de problemas em torno da ação afirmativa e na controvérsia da discriminação inversa, ou então na discussão sobre as operações de negócios na África do Sul.) O que um administrador constantemente busca e necessita é um modo mais ou menos ordenado de raciocinar sobre as implicações morais de uma decisão sobre políticas—uma perspectiva e uma linguagem para ponderar sobre as alternativas disponíveis a partir de um ponto de vista ético. Este texto irá esboçar apenas as linhas mais gerais de tal perspectiva e linguagem, aproveitando os recursos da ética como disciplina filosófica. Um desenvolvimento mais amplo desses tópicos pode ser encontrado em outro texto.1 O duplo papel do administrador Janus, um dos principais deuses da mitologia romana, era o deus do início das coisas. Sua imagem, que aparece freqüentemente nos pórticos das cidades, tem duas faces em uma mesma cabeça.2 Uma face está virada para a parte de dentro da cidade, a outra para a parte de fora. Essa imagem de Janus é conveniente para representar o duplo papel do gerente geral numa corporação moderna. Chester I. Barnard, em seu estudo clássico The Functions of the Executive (As funções de um executivo), escreve: 1 Veja o material do curso de Aspectos Éticos da Política Corporativa, especialmente: “Estruturas Éticas para a Administração”, HBS Caso 384–105, e “Relativismo em Ética”, Caso 381–097. 2 New Collegiate Dictionary Webster’s (Springfield, Mass.: G. & C. Merriam Company, 1977), p. 619, ilustração da imagem de Janus. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 308-P02 Alguns caminhos para a análise ética em administração 2 A sobrevivência de uma cooperação depende de duas classes de processos inter- relacionadas e interdependentes: (a) aqueles relacionados ao sistema de cooperação como um todo em relação ao ambiente; e (b) aqueles relacionados à geração ou distribuição de satisfações entre indivíduos. A instabilidade e as falhas na cooperação advêm, separadamente, de deficiências em cada uma dessas classes de processos, e ainda de deficiências na combinação deles. As funções do executivo são as que procuram assegurar a adaptação efetiva desses processos.3 Seja a tarefa de formulação ou de implementação de políticas, Barnard argumenta que o executivo ou o administrador deve dar atenção constante a estes dois aspectos da vida corporativa: o olhar para fora e o olhar para dentro. Além do enorme valor das ponderações de Barnard para todo o campo de política de negócios, elas também fornecem um caminho para o campo da ética relacionada a essas políticas. O estudo de ética é o estudo da ação humana e sua adequação moral. Já que a ação do executivo tem um aspecto duplo, espera-se que suas responsabilidades também o tenham. Transações e o ponto de vista moral Muitas pessoas têm oferecido definições elaboradas sobre o objeto da ética, mas as mais úteis para o nosso propósito foram dadas pelo filósofo Alan Gewirth. A ética ou moralidade, ele observa, diz respeito às ações interpessoais, isto é, às ações que afetam outras pessoas além dos agentes. Irei referir-me a tais ações como transações, e às pessoas afetadas por elas como receptores. Devo dizer também que tanto o agente quanto seus receptores participam das transações, embora o primeiro o faça ativamente, e os segundos, passivamente, por sofrerem ou serem afetados pelas ações do agente.4 Gewirth segue seu raciocínio indicando que há diversos tipos e graus de “uma pessoa afetar outra”, embora as transações moralmente relevantes sejam aquelas em que aquilo que é afetado é a liberdade e o bem-estar do receptor, e por conseguinte sua capacidade para agir.... Tais modos de afetar alguém em transações podem ser percebidos mais facilmente em suas formas negativas: quando uma pessoa coage outra, impedindo assim que ela participe adequada ou salutarmente na transação.5 Se juntarmos as observações de Gewirth sobre o objeto da ética ou moralidade com as de Barnard sobre o duplo papel do executivo, teremos os contornos iniciais de uma estrutura de análise como a que segue abaixo. 3 Chester I. Barnard, The Functions of the Executive, 13 ed. (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1968), p. 60–61. 4 Alan Gewirth, Reason and Morality (Chicago: University of Chicago Press, 1978), p. 129. 5 Ibid. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Alguns caminhos para a análise ética em administração 308-P02 3 Figura A Relevância ética das funções ou dos papéis do gerente geral Nessa figura, A e B representam duas classes abrangentes de transações que são igualmente centrais para as funções do administrador e também importantes eticamente por si mesmas. As transações A estão relacionadas principalmente com a gestão dos relacionamentos da organização com os ambientes social e natural mais amplos em que ela opera. Alguns exemplos de questões éticas que se inserem nessa categoria são segurança de produtos, proteção do meio ambiente, honestidade em publicidade e marketing, responsabilidades para com investidores e fornecedores e várias outras formas de impacto corporativo local, nacional e internacional. As transações B estão relacionadas principalmente com a gestão do ambiente interno da organização, inclusive com relações interpessoais, autoridade, incentivos e estrutura. Alguns exemplos de questões éticas que estão nessa categoria são a saúde e a segurança do trabalhador; justiça na contratação, na demissão e na promoção; liberdades civis para os funcionários; e pressões organizacionais mais sutis que afetam o ambiente moral geral, a cultura da corporação ou o caráter dos indivíduos à medida que sobem na hierarquia da empresa. Nas transações A, o administrador enxerga a corporação como um agente moral dentro de uma sociedade mais ampla, enquanto que, nas transações B, ele a vê em si mesmacomo um ambiente moral a ser gerido com vistas à liberdade e ao bem-estar de seus membros. Ambos os tipos de transação envolvem questões de formulação de políticas e também de sua implementação. Figura B Relacionando a política de negócios, a ética e o duplo papel do administrador A partir do ponto de vista da história da ética ou da filosofia moral, a figura acima representa o reconhecimento do fato (moderno) de que a corporação é, por um lado, um microcosmo da comunidade dentro da qual ela opera, e, por outro, um macrocosmo do cidadão individual que vive e trabalha naquela comunidade mais ampla. À medida que a corporação se assemelhe a uma comunidade mais ampla, surgem certas questões éticas que são análogas àquelas da filosofia política clássica: legitimidade da autoridade; direitos e deveres associados à entrada, saída, participação, promoção e crescimento; liberdades civis; ambiente moral. Enquanto a corporação se assemelha a Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 308-P02 Alguns caminhos para a análise ética em administração 4 uma “pessoa” individual dentro da comunidade, por outro lado, surgem questões éticas análogas àquelas das questões clássicas de responsabilidade pessoal: deveres e obrigações para evitar danos, respeitar às leis, promover a justiça e o bem comum, cuidar dos menos favorecidos. Haverá diferenças em cada categoria, é claro, já que as respectivas analogias são imperfeitas, mas as semelhanças são fortes o suficiente para ajudar a ordenar a agenda ética da política de negócios. O administrador, então, encontra-se no limite de duas grandes áreas de julgamento e ação que demandam não apenas a inteligência econômica, mas também a consciência ética. E, assim como aquela requer um balanço saudável de habilidade analítica e intuição, o mesmo acontece com a outra. O raciocínio moral, a despeito das aspirações de alguns dos grandes pensadores do passado, não é mais redutível a um processo de decisão mecânica do que o raciocínio econômico ou administrativo. A ética, embora não seja avessa à ciência, não é uma ciência. A alternativa, no entanto, não deve ser tomada por anárquica: “Gosto não se discute”. O julgamento ético talvez não manifeste o mesmo tipo de objetividade que costumamos esperar das ciências naturais, mas poucos chegariam a pensar que a razão não tem lugar na ética. A história do pensamento filosófico e teológico sobre ética revela, em meio a muita discordância, uma convicção compartilhada de que o julgamento moral pode e deve ser fundamentado no que alguns chamam de ponto de vista moral; e que tal ponto de vista governa e disciplina o raciocínio que é considerado bom ou mau, e também o argumento, os princípios e as intuições razoáveis ou descabidas. Para muitos, o ponto de vista moral tem sido compreendido em termos religiosos como o ponto de vista que reflete a vontade de Deus para a humanidade. Para outros, o ponto de vista moral é entendido em termos mais naturais, e sua autoridade independe da crença religiosa. Mas se a questão da fonte última for deixada de lado, descobre-se um consenso significativo sobre seu caráter geral. O ponto de vista moral é visto como um posicionamento mental e emocional, a partir do qual todas as pessoas têm dignidade ou valor especial, a partir do qual a Regra de Ouro tira a sua força, a partir do qual palavras como dever e obrigação derivam seu sentido. Numa seção posterior, faremos uma lista dos tipos principais de raciocínio que têm sido associados a esse ponto de vista. Antes, no entanto, precisamos localizar esse raciocínio moral dentro do território mais amplo da ética filosófica. Ética normativa Os filósofos contemporâneos desmembram o campo da ética em três partes: ética descritiva, normativa e metaética (Figura C). A ética descritiva não é, estritamente falando, uma atividade filosófica. É mais apropriadamente classificada entre as Ciências Sociais, já que sua meta é uma descrição empírica ou neutra dos valores de indivíduos e grupos. Quando se diz, por exemplo, que um executivo ou uma organização aprova o suborno, está se fazendo uma afirmação de ética descritiva que pode ser fundamentada ou refutada com evidência factual. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Alguns caminhos para a análise ética em administração 308-P02 5 Figura C Ramos do pensamento ético A ética normativa, por outro lado, não tem por meta as afirmações neutras sobre as características éticas de indivíduos ou grupos. A pesquisa em ética normativa busca desenvolver e defender o julgamento do que é certo e errado, bom e mau, virtude e vício. Por essa razão, examinaremos a ética normativa mais detalhadamente abaixo. Dizer que um executivo ou uma empresa aprova o suborno e que isso é errado ou ruim acrescenta uma afirmação de ética normativa à descrição. Se ela for aprovada ou refutada, deve-se ter em mãos critérios e parâmetros do que é “errado” ou “ruim”. A metaética não se ocupa de descrever valores nem de apresentar critérios de certo e errado, mas examina questões sobre o sentido e a capacidade de prova dos julgamentos éticos. A metaética está, portanto, um nível de abstração acima da ética normativa. Dessa perspectiva, podem-se explorar as diferenças entre os julgamentos científicos, religiosos e éticos; a relação da legalidade com a moralidade; as implicações de diferenças culturais na objetividade ética, e assim por diante. É importante manter separadas as questões de ética descritiva, normativa e metaética, já que muita confusão pode acontecer caso elas se misturem. Para dar seguimento a nosso exemplo, considere a seguinte afirmação: “Para os norte-americanos, o suborno é errado, mas, para outros, não é”. Numa primeira leitura, trata-se simplesmente de uma observação de ética descritiva: “Os norte- americanos, de fato, geralmente desaprovam o suborno, enquanto que o povo da sociedade X não o desaprova”. Numa segunda leitura, no entanto, a afirmação torna-se normativa: “Os norte- americanos estão errados ao pagar suborno, mas as pessoas na sociedade X não estão”. Ainda numa terceira leitura, a implicação da frase pode ser metaética: “Não há nada de objetivo sobre o que é certo ou errado, há apenas costumes sociais”. A menos que se distinga claramente qual dessas três interpretações se pretende usar no momento, pouco pode ser feito em relação à discussão dos sentidos da frase. Com foco agora na ética normativa, que é o tipo de indagação mais relevante aos nossos interesses, dois subníveis têm de ser definidos. O primeiro e mais familiar é o que chamaremos de nível do senso comum moral. Tanto em nossa vida pessoal quanto na profissional ou corporativa, a maioria de nós opera com um conjunto mais ou menos bem definido de valores, princípios ou regras éticas práticas que nos orienta na hora de tomar uma decisão. Muito raramente esses valores ou Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 308-P02 Alguns caminhos para a análise ética em administração 6 regras são divulgados explicitamente numa lista, mas, se fossem, a lista provavelmente teria itens como: • Evite prejudicar os outros • Respeite o direito dos outros • Não minta nem trapaceie• Mantenha promessas e contratos • Obedeça à lei • Previna danos a outros • Ajude os necessitados • Seja justo • Reforce esses imperativos em outras pessoas Em muitas situações de decisão, tal repertório de juízos morais de senso comum é suficiente. Funciona como uma estrutura ética informal e normativa que pode exigir muito de nós, mas que estamos preparados para praticar tanto para o bem dos outros quanto para nosso próprio bem interior.6 Mas surgem problemas—às vezes hipotéticos, às vezes práticos. E, quando isso acontece, parece que somos forçados a enfrentar um segundo nível de pensamento ético normativo. Os problemas vêm de duas fontes principais: (1) conflitos internos ou dúvidas sobre itens da nossa própria lista de senso comum; (2) conflitos interpessoais em que se descobre que a lista dos outros é diferente (mais longa, mais curta ou com pesos diferentes). Como posso manter essa promessa e ainda evitar danos a outros? O que significa ser justo? Se alguém não der valor à honestidade (e no caso não dá), como ou por que eu devo dar? Que prioridade há entre os itens da lista? Somos levados por tais questões a um nível de pensamento ético normativo que está além do senso comum moral, o qual os filósofos chamam de pensamento crítico. Nesse nível, a busca é por critérios que justifiquem a inclusão ou exclusão de normas do senso comum, que iluminem sua aplicabilidade em certas circunstâncias e que resolvam os conflitos entre elas. Caminhos para o pensamento crítico em ética Uma revisão completa das muitas maneiras pelas quais os filósofos, do passado e do presente, procuraram organizar o que estamos chamando de pensamento ético crítico está além do escopo deste trabalho. No entanto, é possível resumir brevemente três das perspectivas normativas mais importantes que foram propostas. Elas fornecerão alguns caminhos para a análise ética no sentido em que os casos freqüentemente as exemplificam ou até mesmo as seguem. Utilitarismo Uma das perspectivas mais influentes da ética normativa, pelo menos no período moderno, é o utilitarismo. Há diversas variações e refinamentos, mas a mensagem utilitarista básica é 6 Para uma discussão mais completa do que aqui se chama de senso comum moral e das diferenças de peso entre as regras, ver Bernard Gert, The Moral Rules: A New Rational Foundation for Morality (Nova York: Harper & Row, 1973). Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Alguns caminhos para a análise ética em administração 308-P02 7 que o senso comum moral deve ser governado por uma única meta dominante: maximizar a utilidade líquida esperada (ou a felicidade, o prazer, a preferência ou o bem-estar) para todas as partes afetadas por uma decisão ou ação. O pensamento crítico, de acordo com os utilitaristas, consiste em testar nossas regras éticas em face dos custos e dos benefícios sociais. É dessa maneira que atingimos a mais alta concordância entre nossas decisões e o ponto de vista moral. Adotar uma ética puramente utilitarista dá margem a muitas questões e problemas: como medir a utilidade ou a felicidade? Para quem estamos medindo isso (para nós mesmos apenas, para nosso grupo, nossa sociedade, todas as sociedades)? E o que dizer da tirania da maioria nesse cálculo? Os defensores dessa perspectiva admitem tais problemas, mas insistem que eles podem ser resolvidos. “Pelo menos”, argumentam, “a abordagem utilitarista fundamenta o pensamento ético em algo que se assemelha ao método científico, empírico”. No contexto da administração, o raciocínio utilitarista freqüentemente se manifesta como um compromisso para com as virtudes sociais do sistema de mercado, tanto de dentro quanto fora da empresa. Argumenta-se que o bem maior para o maior número de pessoas resulta de se tomar uma decisão competitiva, e que as forças do mercado são responsáveis para que se minimize o dano social. Contratualismo A segunda abordagem mais influente do pensamento crítico em ética é o contratualismo. Há, novamente, variações, mas a idéia central é que o senso comum moral deve ser governado não pela maximização da utilidade, mas pela eqüidade. E aquilo que é justo é explicado como uma condição que prevalece quando todos os indivíduos recebem o mesmo respeito como participantes das estruturas sociais. A idéia de um contrato social tem apelo nessa perspectiva porque enfatiza os direitos dos indivíduos ao veto de uma maneira que o utilitarismo não faz. O contratualismo em suas diversas formas tem sido, de fato, criticado. Surgem dúvidas sobre a clareza e a suficiência de seu compromisso básico com a igualdade, sobre a praticidade de seu foco nos direitos e sobre o que alguns enxergam como uma ênfase excessiva na tolerância e nas liberdades dos indivíduos. Em ambientes de administração, o raciocínio contratual manifesta-se na preocupação com as implicações das políticas corporativas sobre os direitos do consumidor, dos funcionários e sobre o tratamento justo das minorias. Esses argumentos fundamentados nos direitos são com freqüência diretamente opostos aos argumentos utilitaristas sobre tais questões. Pluralismo A terceira abordagem ao pensamento crítico em ética é talvez a menos unificada e sistemática, embora seja muito adotada. Vamos nos referir a ela como pluralismo. A idéia central nessa perspectiva é o dever. Para os pluralistas, o pensamento crítico sobre o primeiro nível de deveres sugerido por nosso próprio senso comum moral não leva a um único árbitro externo (como a utilidade ou a eqüidade), mas a um exame mais reflexivo sobre o dever em si mesmo. Deve-se tentar enxugar a própria lista de deveres básicos, subordinando uns a outros, e confiando por fim na própria faculdade de percepção moral (ou intuição, ou consciência) para solucionar casos difíceis. Os pluralistas enfocam a eqüidade ou iniqüidade das ações como qualidades morais que são distintas de preocupações exteriores tais como conseqüências ou direitos. Fidelidade e honestidade são obrigações não porque levam a um maior bem-estar, nem porque os outros têm direito de esperá-las, mas simplesmente porque são deveres básicos. Não se orientar por tais deveres é o mesmo que ser corrupto, mal-intencionado, é faltar com a integridade moral. Aqueles que não aprovam o pluralismo apontam para os problemas de como assegurar os acordos interpessoais sobre deveres básicos (o que eles são e como medi-los), e argumentam que essa perspectiva não nos leva muito além do senso comum moral (que é a razão primeira do pensamento crítico). Os defensores admitem essas dificuldades, mas insistem que nossas convicções sobre os Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 308-P02 Alguns caminhos para a análise ética em administração 8 deveres básicos e as obrigações são mais confiáveis do que nossas convicções sobre os caminhos que tentam a todo custo sistematizá-los. O raciocínio pluralista na administração evidencia-se nos apelos a princípios. As obrigações básicas—como honestidade, integridade e consistência—são citadas. Os direitos são vistos como atalhos para os deveres correspondentes, fazendo com que se respeitem os outros, e o raciocínio utilitarista é identificado com conveniência. Argumenta-se que algumas ações são simplesmente erradas independentemente das conseqüências. Essas três abordagens estão resumidas na figura abaixo.Figura D Três caminhos para o pensamento crítico Caminho Tipo Senso comum Moral da gestão Utilitarismo Baseado em metas Qual ação ou medida maximiza os benefícios/custos? Contratualismo Baseado em direitos Qual ação ou medida respeita os direitos com maior eqüidade? Pluralismo Baseado em deveres Qual ação ou medida respeita o dever mais importante? Cada um desses três “ismos” poderia ser mais explorado, tanto conceitualmente quanto historicamente. Para nossos propósitos, porém, é o suficiente enxergá-los como esforços concentrados para o pensamento crítico em assuntos de ética. Cada um representa uma perspectiva relevante a partir da qual questões morais específicas podem ser abordadas, se não resolvidas. Todas têm em comum uma preocupação séria com a melhoria da clareza e da consistência do julgamento ético. O debate em torno da aceitação ou não da eutanásia dá margem a um exemplo particularmente forte de como as três abordagens podem entrar em cena ao mesmo tempo. Tanto os defensores quanto os detratores da eutanásia argumentam com base na utilidade (ou não) social, com base nos direitos (dos vivos e dos que estão à beira da morte) e com base nos deveres (de aliviar a dor ou de não matar). Talvez muito freqüentemente, aqueles que sustentam tais argumentos deixam de ver o conjunto das implicações da abordagem crítica que adotam, ou então falham na hora de levar em conta que outros estão partindo de pontos de vista diferentes. Chegando aos casos Quais são algumas das implicações disso de que tratamos no contexto da análise de casos? Será que o estudo dos problemas de gestão relacionados à ética pode se beneficiar de tais categorias? Se essas questões forem interpretadas como requerimentos para os procedimentos de decisão, as respostas serão frustrantes. Mas a orientação analítica está presente e pode ser atingida. O conjunto de perguntas a seguir oferece uma maneira de estruturar o estudo e a discussão: 1. Há questões de ética envolvidas nesse caso? Centralmente ou perifericamente? É necessária uma decisão? Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 Alguns caminhos para a análise ética em administração 308-P02 9 2. Se há questões de ética envolvidas, sobre qual dos dois papéis genéricos do administrador elas recaem (transações A ou B)? Ou ambos estão envolvidos? Como? Quais são, precisamente, as questões de ética em cada categoria? 3. A partir da perspectiva da ética descritiva, quais parecem ser os pressupostos críticos e valores éticos exibidos pelas pessoas ou organizações no caso? 4. A partir do ponto de vista de maximizar a utilidade para as pessoas afetadas, qual é o melhor modo de agir? Quais fatos no caso sustentam essa conclusão? 5. A partir do ponto de vista da justiça ou da preocupação com os direitos individuais, qual é o melhor modo de agir? De novo, quais fatos sustentam essa conclusão? 6. A partir do ponto de vista de definir prioridades dentre os deveres e as obrigações, o que deve ser feito? Por quê? 7. As três abordagens convergem ou divergem no modo de agir? 8. Se elas divergem, qual abordagem deve dominar? 9. Há considerações eticamente relevantes no caso que não sejam captadas por alguma das três abordagens? Quais são? 10. Qual é a decisão ou plano de ação? Essas perguntas não são exaustivas, mas uma análise fundamentada nelas provavelmente irá realçar o tipo de aprendizado que uma discussão de casos traz. O resultado pode ser uma convergência de opiniões ou não; quando isso não acontece, deve-se procurar explicações. De qualquer modo, o ponto de vista moral terá sido buscado e trazido para a perspectiva administrativa. A liderança saudável exige nem menos nem mais do que isso. Bibliografia selecionada Brandt, Richard B. A Theory of the Good and the Right. Londres: Oxford University Press, 1979. Dworkin, Ronald. Taking Rights Seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1978. Frankena, William K. Ethics. 2a ed., Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1973. Fried, Charles. Right and Wrong. Cambridge: Harvard University Press, 1978. Hare, R. M. Moral Thinking. Londres: Oxford University Press, 1981. Rawls, John. A Theory of Justice. Cambridge: Harvard University Press, 1971. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by jose antonio de barros, Estacio de Sa University until September 2014. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860
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