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O CASO ALFRADIQUE Juíza de direito comete Plágio * JOÃO C. GALVÃO JR ** “... contra o dogmatismo, nas idéias; a opressão, na política; os recalques, em qualquer terreno”. Roberto Lyra Filho No dia 30 de junho de 2006 a obra: Criminologia Dialética – Das Imperfeições do Direito Criminal – Da Permanente Contestação Crítica Construtiva, Rio: NPL, 2004. v.1, de autoria de João Galvão Jr. foi plagiada da p. 89 a 98 por uma juíza de direito. Os juízes, que deveriam defender os direitos, e neste caso constitucional, garantindo a integridade de uma produção intelectual, infelizmente, cometem atitudes que não são compatíveis com seus cargos. A juíza de direito do Estado do Rio de Janeiro “Dr.” Eliane Alfradique, além de já ter passado algum “tempinho” na cadeia, volta depois de alguns anos com “toda corda”, agora literalmente copiando a Coleção Brasileira de Criminologia, vol.1. Seria a hora de nos perguntarmos o que leva um juiz de Direito a tomar esta atitude? As noções das coisas somente podem ser bem compreendidas quando buscadas na história, na política, psicanálise, criminologia, filosofia, religião, ideologia, ou seja: quando se faz um estudo multidisciplinar, usando-se o método dialético, e não somente jurídico, para que possamos entender o próprio funcionamento de todo um sistema de justiça, misturando-se na prática como missão,1 com uma relação promiscua de poder e suas ligações com o cristianismo.2 Numa primeira leitura Histórica, poderíamos pesquisar a formação e a matriz ibérica luso-brasileiro do judiciário. Numa segunda abordagem Religiosa, poderíamos registrar que estes aspectos estão também ligados a uma crise cultural cristã ou uma intervenção religiosa: reflexo direto de uma cultura jurídica fundada numa moral cristã em plena decadência. A questão da sacralidade intrínseca do poder soberano, a dimensão teológica da autoridade. Às duas primeiras, soma-se uma terceira: Crise de Investidura, uma intervenção simbólica do poder, pois no momento que são “declarados” ou investidos num mandato simbólico, ficam obrigados a uma série regulamentada de desempenhos, rituais e comportamentos sociais, recalcando os desejos mais profundos; os atos oficiais de interpelação têm que ser sustentados por incessantes chamados à ordem, uma vez assumida a nova identidade social, a identidade do travesti estatal. Desta forma, precisam a qualquer custo, viver para o resto de suas vidas ficando do “lado certo” de uma fronteira socialmente consagrada pela Lei – a lei assassina já denunciada por Sérgio Verani. Uma quarta abordagem nos levaria a própria análise do Poder; o poder que funda estas “relações”, expressando-se através do fascismo,3 correspondente a um sentimento prussiano, presente em atitudes advindas de todos os servidores públicos que (des)servem o povo e na maioria esmagadora, amam este poder, desejando este poder que os explora e os domina erótica e sadicamente. Poderíamos falar que estas pessoas sofrem de uma doença do poder, ou seja: assumem uma liderança totalitária, manifestando psicopatologias, oprimindo as massas e conseqüentemente querendo matar ou encarcerar todos. Representando o desejo/ necessidade sádico da punição, no estudo psicanalítico-criminógeno destes agentes; o gozo destas pessoas investidas de poder estatal. Instrumentos político-jurídicos de poder, como forma de materialização da vingança e conseqüentemente de um sadismo erótico anal; a vingança como objeto anal destes agentes; sadismo 1 Diferentemente quando realiza-se a política como arte, como fez Maquiavel, responsável pela secularização da política. 2 NIETZSCHE denuncia este atraso para com o mundo na obra O Anticristo – Maldição do Cristianismo, Rio: Integral, 1996; sobre o atual escândalo de vários casos de abuso sexual que vem assombrando a Igreja Católica ver o excelente texto A Sedução do Catolicismo de SLAVOJ ŽIŽEK (“Mais”, Folha de São Paulo, 04/ 09/ 05). 3 FOUCAULT, M. Introdução à Vida não Fascista, Prefácio In DELEUZE, G. & GUATTARI, Anti- Oedipus: Capitalism and Schizophrenia, New York: Viking Press, 1977. erótico anal entendido como instinto da agressão ou de destruição. O poder funcionando no sentido de intensificar e ampliar o corpo e suas sensações; descobrir até que ponto a autoridade simbólica em estado de emergência é transgressora, exibe uma obscena superproximidade do sujeito: ou seja, exige destas pessoas o gozo sádico que se realiza na punição ou na vingança pública estatal. A luta destas pessoas frente a crise de investidura para assumir estas posições nestas instituições. Uma crise do poder simbólico que é sexualizada, como a própria “matéria” da sexualidade. Ou seja: a função simbólica de autoridade, vivenciada como profundamente sexualizante, como uma exigência de cultivar o gozo. Também, a experimentação desta sexualização como feminizadora, exemplo histórico do “Caso Schreber” (Freud), juiz de Direito, que na nomeação iminente, nesta crise de investidura, de uma investidura simbólica, começa a desenvolver sintomas. Uma quinta abordagem nos levaria ao Sentimento de Culpa, como o mais importante e sério problema nestas relações jurídicas. O pensamento de vingança ligado com a renúncia; todos renunciam porque se sentem culpados; a lógica da culpa, mantendo realizadas estas pessoas nesse processo: o processo de renúncia, que faz com que o sistema de justiça seja uma vingança que quer a todo custo ocultar-se sob a palavra “justiça”. Todas estas pessoas renunciam seus desejos porque se sentem culpados; um sentimento de culpa que nasce de valores construídos artificialmente, e que a renúncia destes desejos geram este mal-estar, “considerado sob o ponto de vista moral e religioso”.4 A vingança então, seria o supremo alívio, o narcótico a todos os que sofrem desta doença do poder, que renunciaram porque se sentiram culpados e agora querem acabar com a vida dos outros, punindo, com uma sede de vingança insaciável os subalternos. Numa sexta leitura, Psicanalítica (e Criminológica), faríamos uma leitura dos discursos psicopatológicos, demonstrando a importância do conceito e estudo das psicopatologias presentes no atual sistema de Justiça Criminal Brasileiro, a partir de uma abordagem criminológica crítica e psicanalítica, partindo do conceito de Neurose Obsessiva do psicanalista Prof. Dr. Manoel Tosta Berlinck. Nesta leitura psicanalítica, acabaríamos estudando a questão da procrastinação dos atos processuais até o último instante como forma de retenção de fezes explosivas (no sentido Kleineano) e conseqüentemente seu prazer sádico anal, prejudicando os 4 NIETZSCHE, F. A Genealogia da Moral, Colecção de Filosofia e Ensaios, Lisboa, s/ data, p. 129. cidadãos que procuram a justiça oficial; a importância do controle esfincteriano: fazendo uma leitura no plano simbólico destas pessoas investidas do poder estatal; o prazer recalcado existente nos intestinos e na região do canal anal de juizes, promotores e policiais. Conseqüentemente, o medo mórbido, a fobia à homossexualidade (e não a homossexualidade), produzindo psicopatologias nestas pessoas. Em momentos como esse, de acentuado antagonismo social, o que há de podre na lei é revelado por um excesso jurídico, onde juízes de direito cometem plágio, como se a força performativa pertinente, em algum nível, a todas as instituições e aos fatos sociais que elas patrocinam,começasse a vazar da privada para fora de seu espaço “normalmente” circunscrito e a dissolver a capacidade da instituição de fornecer um contexto crível de realidade significativa. Nestes momentos, ficamos no limiar de um universo psicótico em que a autoridade se tornou fascista – ou nunca deixou de ser? –, se tornou incapaz de esquecer e incapaz primordialmente de recalcar a dimensão pulsional da função simbólica, que se expande e transborda do vaso num Estado geral de podridão e decadência. Bibliografia ABRAHAM, Karl. Contribuições à Teoria do Caráter Anal, In BERLINCK, Manoel Tosta (Org.). Obsessiva Neurose, S. Paulo: Escuta, 2005. BERLINCK, M. T. (Org.). Obsessiva Neurose, S. Paulo: Escuta, 2005. BIRMAN, J. Mal-estar na Atualidade: a Psicanálise e as Novas Formas de Subjetivação, Rio: Civilização Brasileira, 2003. CERQUEIRA FILHO, G. Autoritarismo Afetivo: a “Prússia” como Sentimento, S. Paulo: Escuta, 2005. FOUCAULT, M. Introdução à Vida não Fascista, Prefácio In Deleuze, G. & Guattari, Anti-Oedipus: Capitalism and Schizophrenia, NY: Viking Press, 1977. FREUD, Sigmund. Obras Completas, S. Paulo: Imago, 1974. JONES, Ernest. Traços do Caráter Anal-Erótico, In BERLINCK, Manoel Tosta (Org.). Obsessiva Neurose, São Paulo: Escuta, 2005. NEDER, Gizlene. & CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Criminologia e Poder Político: sobre Direitos, História e Ideologia, Rio: Lumen Juris e NPL, 2006, vol. 2. NEDER, Gizlene. Discurso Jurídico e Ordem Burguesa no Brasil, Porto Alegre: S. A. Fabris, 1995. ______ Iluminismo Jurídico-Penal Luso-Brasileiro – Obediência e Submissão, Rio: Freitas Bastos e ICC, 2000. NIETZSCHE, F. A Genealogia da Moral, Colecção de Filosofia e Ensaios, Lisboa, s/ data. ______ O Anticristo – Maldição do Cristianismo, Rio: Integral, 1996. SANTNER, E. L. A Alemanha de Schreber: uma História Secreta da Modernidade, Rio: JZE, 1997. VERANI, Sérgio. Assassinatos em Nome da Lei, Rio: Aldebarã, 1996. ŽIŽEK, Slavoj. O Mais Sublime dos Histéricos – Hegel com Lacan (Les Plus Sublime Des Hysteriques – Hegel passe), Rio: JZE, 1991. * MANIFESTO. Baseado na nossa pesquisa “Aspectos da Crise” para a disciplina Subjetividade e Identidade Política no Programa de Mestrado em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense – UFF, no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, 2005. 2. ** O autor é coordenador do Núcleo de Pesquisa Lyriana – NPL www.nplyriana.adv.br
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