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RECUPERAÇÃO JUDICIAL

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL
LYZIA S. MENNA BARRETO FERREIRA
DEFINIÇÃO
Medida genérica de tentativa de solução das crises – art. 47, Lei /2005.
“Série de atos praticados sob supervisão judicial e destinados a reestruturar e manter em funcionamento a empresa em dificuldades econômico-financeiras temporárias” (Eduardo Goulart Pimenta).
 “Somatório de providências de ordem econômico- financeira, econômico-produtiva, organizacional e jurídica, por meio das quais a capacidade produtiva de uma empresa possa, da melhor forma, ser reestruturada e aproveitada, alcançando uma rentabilidade autossustentável, superando, com isto, a situação de crise econômico-financeira em que se encontra seu titular – o empresário -, permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego e a composição dos interesses dos credores” (Sérgio Campinho). 
A recuperação judicial se revela em um conjunto de atos, cuja prática depende de concessão judicial, com o objetivo de superar as crises de empresas viáveis.Tem natureza contratual, sendo precedida de um acordo homologado pelo Juízo competente.
ELEMENTOS
a) Série de atos: são necessários diversos atos para a concessão da recuperação, tais como mudanças nas relações com os credores (novação das obrigações), alteração do padrão para a gestão interna da atividade, entre outros.
b) Consentimento dos credores: a recuperação judicial depende do consentimento dos credores (não de todos, mas da maioria) – art. 45 e 58, Lei /2005. O conjunto de credores é tratado como uma comunhão.
c) Concessão Judicial: o procedimento exige como pressuposto, além do exercício do direito de ação e do cumprimento de certos requisitos legais, a concessão pelo Judiciário. Faz o controle formal da recuperação.
d) Superação da crise: permitir que a empresa continue em funcionamento, de modo a não prejudicar os seus interesses.
e) Manutenção de empresas viáveis: haverá uma ponderação pelos credores: sobre o ônus de manutenção da atividade ou de seu encerramento. A viabilidade significa que a recuperação irá reestabelecer o curso normal da atividade empresarial.
Alguns indicadores da viabilidade da empresa podem ser: a importância social, mão de obra e tecnologia empregadas, volume do ativo e passivo, idade da empresa, porte econômico (Fábio Ulhoa Coelho).
OBJETIVOS
Objetivo geral: superação ou a prevenção das crises das empresas.
Objetivos específicos:
1. Manutenção da fonte produtora: manutenção da empresa em funcionamento. Pretende-se salvar a empresa e não o sujeito.
2. Manutenção do emprego dos trabalhadores: primeiro, tentar-se manter a empresa, para só depois tentar manter todos os trabalhadores.
3. Preservação do interesse dos credores: primeiro tenta-se manter a empresa, depois os trabalhos e por fim os interesses individuais dos credores.
PRINCÍPIOS
A recuperação judicial deve obediência a uma série de princípios, que deverão pautar-se na Lei , bem como na própria atuação do Poder Judiciário nos processos de recuperação.
Elenise Peruzzo dos Santos: igualdade entre os credores, a celeridade, a publicidade, a preservação da empresa, a viabilidade e a maximização do valor dos ativos do falido.
Waldo Fazzio Júnior: viabilidade da empresa, a relevância dos interesses dos credores, a publicidade dos procedimentos, a par conditio creditorum, a maximização de ativos e a preservação da empresa
Jorge Lobo: conservação e função social da empresa, da dignidade da pessoa humana e valorização do trabalho e da segurança jurídica e da efetividade do direito.
Podemos elencar como princípios fundamentais da recuperação judicial: 
a função social da empresa, 
a preservação da empresa e 
a dignidade da pessoa humana.
REQUISITOS
	
	Conforme disposições gerais do art. 1º, a recuperação judicial aplica-se aos empresários e sociedades empresárias em geraL
No art. 2º, exclui alguns agentes econômicos dos efeitos da recuperação judicial, que são:Empresas públicas e sociedades de economia mista, as instituições financeiras, as cooperativas de crédito, as administradoras de consórcio, as entidades de previdência complementar, as sociedades operadoras de planos de assistência à saúde, as seguradoras, as sociedades de capitalização e outras legalmente equiparadas às anteriores.
Requisitos específicos:
Os requisitos específicos e cumulativos para a concessão do benefício da recuperação judicial estão dispostos no art. 48, que são:
Exercício regular da atividades a mais de 2 anos.
Não ser falido.
Não ter obtido outra recuperação judicial há menos de 5 anos, ou 8 anos se ME ou EPP.
Não ter sido condenado por crime falimentar.
Exercício Regular da Atividade há mais de 2 anos
Deve ser comprovado mediante certidão expedida pela junta comercial, que poderá ser elidida por prova em CONTRÁRIO
O empresário deve estar no exercício regular da atividade, ou seja, a empresa deve estar em funcionamento.
Sem exercício de atividade não há empresa, se não há empresa, não há o que preservar
NÃO SER FALIDO É também essencial que o devedor não seja falido ou, se for falido, que já tenha suas obrigações extintas.
NÃO TER OBTIDO OUTRA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Não ter obtido outra recuperação judicial nos últimos 5 anos, ou nos últimos 8 anos, se foi concedida com base em um plano especial de recuperação para ME ou EPP. Não se pode permitir que o empresário use reiteradamente da recuperação para superar suas crises.Ela não pode servir como forma de transferência permanente dos riscos da sua atividade para os seus credores.
AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO POR CRIME FALIMENTAR
Tal requisito é exigido para o pedido de recuperação, logo, a condenação posterior não pode impedir seu regular processamento.
A ideia é permitir o acesso à recuperação apenas para os devedores de boa-fé, isto é, apenas sujeitos de idoneidade presumida poderão requerê-la. Esse impedimento, só existe a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória.
 Legitimidade Ativa
A legitimidade ativa para requerer a recuperação judicial é do próprio empresário que não se encontre nas exclusões.
Caso seja um empresário individual – decisão do próprio empresário, que uma vez verificando o cumprimento dos requisitos, poderá requerer a recuperação judicial.
Caso seja uma sociedade empresária – decisão dos administradores. Requerimento depende de prévia manifestação da vontade da sociedade pelos sócios ou acionistas
Além do próprio devedor, tem legitimidade para requerer a recuperação judicial (art. 48, § único):
Herdeiros, cônjuge e inventariante – legitimidade assegurada em relação ao espólio do empresário individual.
	Sócio remanescente 
CRÉDITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Regra geral: art. 49.Sujeitam-se à recuperação judicial todos os créditos existentes à data do pedido, ainda que não vencidos.
 
 
	Os créditos que não podem ser cobrados através da recuperação judicial (inexigíveis) são aqueles trazidos pelo art. 5º, a saber:
As obrigações a título gratuito – a crise é incompatível com obrigações que não proporcionem lucro.
Despesas judiciais e extrajudiciais para tomar parte na ação – os custos com despesas para processamento serão arcados pelo credor, não sendo ressarcidos. Ex. contratação de advogado, contador, protesto, etc.
Outros créditos que não se sujeitarão à recuperação judicial, por expressa disposição legal:
a) Créditos fiscais – não se submetem aos efeitos da recuperação judicial, não havendo nem suspensão das execuções fiscais em curso (art. 6º, §7º c/c art. 187 do CTN), ressalvada a hipótese de parcelamento especial. Justificativa: princípio da legalidade e indisponibilidade do interesse público.
b) Créditos de proprietários – a lei excluiu alguns credores, referidos no art. 49, §3º, pela sua falta de interesse em eventual negociação
REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL:
A exordial da recuperação judicial deve atender a todos os requisitos formais e estruturais impostos pela legislação processual.
São requisitos formais: Forma escrita; Uso do vernáculo;Assinatura de advogado.
São
requisitos estruturais :
Indicação do juízo competente.
Qualificação das partes – autor é o devedor; réus* são os credores.
Causa de pedir – os fundamentos de fato e de direito.
Fundamentos de fato: viabilidade da empresa e o afastamento da ruína econômica da atividade.
Fundamentos de direito: criação do estado jurídico de recuperação judicial, como forma de superar a crise.
Pedido – o que se pretende (providência imediata) é a sentença constitutiva do estado de recuperação judicial e a conseqüente recuperação econômica da empresa e de forma mediata a solução da crise empresarial.
Valor da causa – estimativa
Provas - as provas em sua maioria são documentais e deverão instruir a inicial.
Requerimento de citação do réu – apenas para ciência da existência de uma proposta de acordo e não de uma ação.
 INSTRUÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL
A petição inicial, além de ser instruída com todos os documentos gerais para qualquer ação (procuração, custas etc.), deve ser instruída com os documentos constantes no art. 51.
 Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:  
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
        a) balanço patrimonial;
        b) demonstração de resultados acumulados;
    c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
        d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;
 
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
       
 V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;
 VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
     
   VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
  
	IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.
Efeitos do despacho de processamento, independentemente de previsão específica (art. 52):
Suspensão da prescrição temporária (art. 6º)Condicionamento do pedido de desistência à concordância dos credores (art. 52, § 4º)Credores passam a ter direito a se manifestar no processo – constituição do comitê de credores.Inicia-se o procedimento de verificação de créditos.
Intimação do Ministério Público e demais comunicações (art. 52, V):
É de se ressaltar ainda que o Ministério Público é chamado a intervir no processo somente com o processamento do pedido de recuperação.Além da intimação do Parquet, deverá ser ordenada a comunicação da recuperação judicial do devedor à Fazenda Pública Federal e às Fazendas Públicas dos Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento
Publicidade
	Feita através da publicação de edital na imprensa oficial (art. 52, §1º).
	Juiz determina à junta comercial que proceda à anotação do deferimento do processamento da recuperação no registro do empresário. 
	Seu nome passa a ser acrescido da expressão em recuperação 
Despacho de Processamento – fase de deliberação (o juiz não está aprovando o plano, mas o processamento da recuperação).
É no despacho de processamento que se nomeia o administrador judicial.
O despacho provoca também a suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor pelo prazo de 180 dias
O despacho do juiz será publicado em um edital 
O despacho do juiz será publicado em um edital (art. 52, §1º), que deverá conter (1º edital): Pedido do autor;
	Os termos da decisão que deferiu o processamento;
	A relação de credores
os credores terão o prazo de 15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações de crédito, contados do edital (art. 7º, §1º).
Passados os 15 dias, novo prazo: 45 dias para uma nova relação de credores (art. 7º, §2º)
Conteúdo do plano (art. 53, I, II e III):
Meios de recuperação (art. 50 – rol exemplificativo)
Demonstração da viabilidade econômica da empresaLaudo econômico e financeiroApós recebimento do plano o juiz determinará a publicação de edital (art. 53, § único).
Edital (2º edital) tem a finalidade de avisar aos credores sobre o recebimento do plano, além de fixar prazo para objeções (art. 55, caput c/c art. 191).
O quórum de deliberação do plano .
Aprovado o plano, a assembléia geral de credores poderá indicar membros para formar o Comitê de credores, o qual terá as atribuições do art. 27. O juiz dará a decisão concessiva, preenchidos os requisitos do art. 
 Alteração do Plano – o plano pode ser alterado, mas depende da autorização do devedor (art. 56, §3º). Entretanto, não se permitem alterações que reduzam os direitos dos credores ausentes à assembleia (art. 56, §4º).
A aprovação do plano pode ser suprida pelo juiz e concedida a Recuperação, desde que cumpridos os seguintes requisitos previstos no art. 58, §1º.Diz-se que é o caso de aprovação alternativa do plano de recuperação judicial.
Caso o plano seja aprovado ou modificado, será apresentado em juízo, onde deverão ser juntadas pelo devedor as certidões negativas de débitos tributários (art. 57). 
A recuperação está condicionada à quitação dos tributos.A doutrina entende que o juiz pode fixar prazo para apresentação das certidões.Apresentado o plano aprovado e as CNDs: concessão da recuperação judicial
Concedida a recuperação judicial do devedor, este permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram as obrigações previstas no plano.Não há previsão legal sobre o prazo de duração da recuperação judicial, devendo esta se estender, pelo prazo previsto no plano.
CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO EM FALÊNCIA
Pode ocorrer a decretação de falência, no processo de recuperação judicial, nos seguintes casos (art. 73):Deliberação da assembleia geral de credores, pelo voto favorável de credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia geral (art. 73, I, C/c art. 42)Não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo improrrogável de 60 dias, contados do despacho de processamento (art. 73, II, c/c art. 53, caput)
Rejeição do plano de recuperação pela assembleia geral de credores (art. 73, III c/c art. 56, §4º)
Descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano durante o período de recuperação, que poderá chegar a 2 anos a partir de sua concessão (art. 73, IV c/c art. 61, §1º).
24 DECISÃO CONCESSIVA DA RECUPERAÇÃO
a
) A decisão concessiva implica em novação (art. 59) – extingue a dívida anterior para criar uma nova.
b) A decisão concessiva é um título executivo judicial (art. 59, §1º).
 c) Da decisão concessiva cabe agravo de instrumento que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo membro do MP (art. 59, §2º).
 Convocação Assembleia Geral dos Credores Aprovação 
Plano de Recuperação(devedor – 60 dias)Impugnação(credores)Convocação Assembleia Geral dos CredoresAprovação(3 classes
de credoresart. 41)Alteração – anuência expressa do devedor (art. 56, §3º)Rejeição(falência – art. 56, §4º)NãoAprovação do plano pelo juiz(apresentação de certidões – arts. 57, 61 e 63)

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