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Curso Auxiliar Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos Leitura: texto e progressão temática Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 2 Leitura: texto e progressão temática O que é progressão temática? Conforme vimos no módulo anterior, os textos possuem vários elementos coesivos que permitem um conjunto de relações entre palavras, orações, parágrafos e outros elementos do texto. Para garantir uma possível unidade de sentido do texto, é preciso que grande parte de seus elementos esteja interligada de alguma forma, configurando o que podemos chamar de tessitura do texto. A progressão temática, neste sentido, é elemento essencial para a construção dessa tessitura. Progressão implica uma sucessão ininterrupta e constante dos diversos estágios de um processo. No caso dos textos, a progressão do tema torna-se essencial para o processo de informações novas que são apresentadas e outras que são retomadas. Vejamos com a progressão temática funciona no gênero receitai: Pudim de leite condensado Rendimento: 20 porções Tempo de Preparo: 40min Ingredientes: 1 lata de leite condensado 1 lata de leite de vaca 4 ovos inteiros Calda: 1 xícara de chá de açúcar, 1/3 de xícara de chá de água. Modo de Fazer: Bata tudo no liquidificador Coloque em forma untada com açúcar queimado e leve ao banho-maria por aproximadamente 40 minutos Para a calda basta derreter o açúcar numa frigideira, quando virar caramelo coloque a água e mexa bem até ficar homogêneo. No texto da receita “Pudim de leite condensado”, podemos ver a progressão e organização da tessitura textual através dos subtítulos em destaque: Ingredientes, Calda e Modo de Fazer. O leitor percebe, então, que há uma progressão: (i) em primeiro lugar, os ingredientes, ou seja, as substâncias que entram na preparação da receita em foco; (ii) em segundo lugar, os ingredientes específicos da calda do pudim; (iii) em terceiro lugar, o modo de fazer o pudim e a calda. O leitor que conhece o gênero “receita”, provavelmente, acharia “estranho” se ele encontrasse como primeiro passo o modo de fazer. O enunciado “Bata tudo no liquificador”, por exemplo, não seria bem compreendido. O que significa o “tudo”? O pronome “tudo” é um pronome indefinido, por isso ele precisa funcionar como uma anáfora, ou seja, um termo coesivo que retoma informações anteriores. No caso da receita de pudim, o pronome “tudo” retoma, para que o texto possa progredir, os ingredientes: 1 lata de leite condensado, 1 lata de leite de vaca, 4 ovos. O texto do modo de fazer retoma também os ingredientes da calda, como podemos perceber na tabela a seguir: Calda Modo de Fazer Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 3 1 xícara de chá de açúcar, 1/3 de xícara de chá de água. Para a calda basta derreter o açúcar numa frigideira, quando virar caramelo coloque a água e mexa bem até ficar homogêneo. O trecho selecionado da receita aponta claramente para o processo de progressão do texto, pois o modo de fazer retoma elementos apresentados anteriormente. Ao retomar por expressões nominais definidas “a calda”, “o açúcar” e “a água”; o texto aponta para uma progressão do texto e da compreensão da própria receita. Não é “uma” calda qualquer, mas “a” calda explicitada e explicada na seção “Calda”. Enfim, o leitor proficiente precisa, ao ler os textos, perceber como cada autor e cada gênero (receita, notícia, conto, carta, e-mail, letra de canção) organizam a progressão dos temas. Compare como a progressão temática acontece em duas letras de canção: Teresinha de Jesus Gênero: Letra de canção Autor: Tradição oral popular Teresinha Gênero: Letra de canção Autor: Chico Buarque (1977-1978) Terezinha de Jesus deu uma queda Foi ao chão Acudiram três cavalheiros Todos de chapéu na mão O primeiro foi seu pai O segundo seu irmão O terceiro foi aquele Que a Tereza deu a mão Quanta laranja madura Quanto limão pelo chão Quanto sangue derramado Dentro do meu coração Terezinha levantou-se Levantou-se lá do chão E sorrindo disse ao noivo Eu te dou meu coração Dá laranja quero um gomo Do limão quero um pedaço Da morena mais bonita Quero um beijo e um abraço O primeiro me chegou como quem vem do florista Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não O segundo me chegou como quem chega do bar Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar Indagou o meu passado e cheirou minha comida Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não O terceiro me chegou como quem chega do nada Ele não me trouxe nada também nada perguntou Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer Se deitou na minha cama e me chama de mulher Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração Pensar no conceito de “progressão temática” implica entendermos a questão de uma linearidade prevista pelo autor. Provavelmente, você não começou a leitura das duas letras de canção pelos versos: “Quero um beijo e um abraço” e “Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração”. Enfim, conforme Marcuschi (1998, p.05), “produzimos uma palavra após a outra em sequências ordenadas e não aleatórias, ligamos os elementos sob certas condições e seqüenciamos frases”. Para construir um determinado sentido, o leitor inicia sua leitura pelos versos iniciais: “Terezinha de Jesus deu uma queda” e “ O primeiro me chegou como vem do florista...”. Na letra da canção “Teresinha”, por exemplo, a primeira estrofe apresenta um referente nominal “três cavalheiros”. Para que o texto tenha uma sequencia coerente, a segunda estrofe retoma em cada verso o referente anterior: “o primeiro foi seu pai”, “o segundo seu irmão”, “o terceiro foi aquele...”. O texto aposta aqui em um princípio de listagem, ou seja, o texto progride através de uma justaposição de itens comparáveis numa sequencia. Em um primeiro momento, o leitor ou ouvinte entra em contato com a expressão “três cavalheiros”, ou seja, três homens de sentimentos e ações nobres. Em um segundo movimento do texto, os numerais ordinais (primeiro, segundo, terceiro) retomam implicitamente o termo “cavalheiro”, introduzindo outras informações sobre a identidade de cada um dos homens. Vejamos o esquema a seguir: Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 4 Acudiram três cavalheiros O primeiro foi seu pai O segundo seu irmão O terceiro foi aquele Que a Tereza deu a mão Na terceira estrofe, o texto progride com várias informações sobre as ações de Terezinha: levantar, sorrir, falar, etc. Neste momento, o leitor percebe que há uma informação nova que complementa o esquema apresentado anteriormente. O pronome demonstrativo “aquele”, referindo-se a algo já mencionado (cavalheiro), recebe agora um novo tema: o terceiro cavalheiro é o noivo da Terezinha. Tais estratégias são responsáveis de forma clara para que o texto caminhe e progrida no jogo entre “novos” e “velhos” elementos e informações. Vejamos como fica o esquema, ao consideramos as três estrofes: Na música “Terezinha”, de composição de Chico Buarque, percebemos a voz de uma mulher (Teresinha) que comenta sobre seu encontro com três homens. A compreensão do texto exige que o leitor recupere o intertexto,ou seja, há uma relação de intertextualidade implícita entre as duas letras de canção. A letra da canção encontra-se organizada em três estrofes; cada uma explorando um “cavalheiro”. A cantiga popular “Teresinha de Jesus” torna- se assim essencial para que o ouvinte da canção observe a forma com que o texto encontra-se organizado: Três cavalheiros Primeiro cavalheiro Pai Segundo cavalheiro Irmão Terceiro cavalheiro Aquele que a Tereza deu a mão Três cavalheiros Primeiro cavalheiro Pai Segundo cavalheiro Irmão Terceiro cavalheiro Aquele que a Tereza deu a mão Noivo de Terezinha Três cavalheiros (informação implícita) O primeiro (ele) Trouxe um bicho de pelúcia O segundo (ele) Trouxe um litro de aguardente O terceiro Ele não me trouxe nada Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 5 A letra da canção “Terezinha” organiza-se em um modo narrativo. Percebemos na letra um eu lírico (Terezinha) que quer transmitir certa representação de sua experiência do mundo para alguém (o ouvinte da música, o leitor da letra, etc.). O modo narrativo, segundo Charaudeau (2008), nos leva a descobrir um mundo “que é construído no desenrolar de uma sucessão de ações que se influenciam umas às outras e se transformam num encadeamento progressivo” (p.156). Terezinha nos conta uma sucessão de ações que envolvem ela (como protagonista) e outros personagens (o primeiro, o segundo e o terceiro “cavalheiro”). O compositor (Chico Buarque) organiza a letra da canção de forma específica para que possamos compreender o encadeamento progressivo de um conjunto de ações narrado pela voz de uma mulher. O interessante é perceber um paralelismo e as repetições que ocorrem em cada estrofe, conferindo a narrativa uma progressão circular, ou seja, o leitor entra em contato em cada estrofe com uma pequena narrativa que tem um estado inicial, um estado de atualização e um estado final de êxito ou de fracasso. Vejamos o esquema a seguir: Terezinha 1ª Estrofe 2ª Estrofe 3ª Estrofe Estado inicial O primeiro me chegou como quem vem do florista O segundo me chegou como quem chega do bar O terceiro me chegou como quem chega do nada Estado de atualização Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar Indagou o meu passado e cheirou minha comida Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração Ele não me trouxe nada também nada perguntou Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer Se deitou na minha cama e me chama de mulher Estado final Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração (-) fracasso, decepção (-) fracasso, decepção (+) êxito, felicidade Note que a letra da canção encontra-se organizada em um modo narrativo em que a sucessão de ações torna-se essencial para a compreensão do texto. O estado inicial de cada estrofe abre a possibilidade de um processo: a chegada de alguém, de um homem vindo de algum lugar (do florista, do bar, do nada...). Como as sequencias sucedem-se de maneira linear e consecutivas, o que acontece em uma estrofe tem consequência nas outras. Assim como nos contos, percebemos um conjunto de sequencias narrativas que se sucedem até o desfecho na terceira estrofe. O estado de atualização retoma o estado inicial e amplia o conjunto de ações. Na letra da canção, a protagonista narra nas duas estrofes iniciais: os presentes que recebe (bicho de pelúcia, broche de ametista, litro de aguardente); o tipo de conversa que ela mantém com os homens (contação de viagens, indagação sobre o passado); as formas como era designada por eles (“rainha”, “perdida”), etc. A terceira estrofe se constrói justamente em diálogo com as anteriores, uma vez que o terceiro “cavalheiro” não trouxe nenhum presente (ele não me trouxe nada), nem conversou (também nada perguntou). As expressões “me chamava de...” no passado demonstra que eles não lhe chamam mais desta forma, uma vez que a relação amorosa não teve êxito. Já com o “terceiro” percebe-se que o verbo encontra-se no presente “me chama de mulher”, revelando que aquela ação ainda é atual. O estado final, representado pelos versos finais de cada estrofe, demonstra a realização do processo, que se fecha por obtenção (êxito) ou não (fracasso) do estado inicial (Charaudeau, 2008). Nas duas primeiras estrofes, o estado final aponta para o fracasso da relação amorosa: Terezinha assustada disse “não”. O “não” representa aqui o desfecho do estado inicial para os dois primeiros cavalheiros. Na terceira estrofe, o diálogo com essa situação conflituosa pode ser vista no verso “antes que eu dissesse não”. Nos dois primeiros casos, temos um relato do fato Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 6 (me chamava de), já no terceiro encontramos um comentário do fato: me chama de mulher. Em seguida, o leitor ou ouvinte percebe que o estado final da terceira estrofe e, consequentemente, da canção é positiva: “o terceiro cavalheiro se instala como dono do coração de Terezinha”. Manutenção temática Segundo Koch e Elias (2006), sequenciação temática é essencial para que o leitor perceba a coerência texutal. Para garantir a manutenção temática, os autores podem recorrer a diversas estratégias, como a utilização de palavras do mesmo campo lexical. Ao ler um jornal, por exemplo, temos clareza das diferenças de temas pelos próprios assuntos que são organizados em cadernos ou seções específicas. Desta forma, o léxico (vocabulário) que um jornalista esportivo utiliza é diferente do jornalista científico. Ao ler palavras como “time”, “campeonato”, “empate” e “torcida”, o leitor provavelmente levante hipóteses que lerá um texto sobre esportes. Veja os dois textos a seguir: Jornalismo esportivoii Jornalismo científicoiii Campo Lexical Roma vence e assume ponta do Italiano; Milan empata Embalada no Campeonato Italiano, a Roma derrotou a Atalanta por 2 a 1, neste domingo, diante de sua torcida, e assumiu a liderança da tabela. O time da capital superou a Inter de Milão, que empatou no sábado, e manteve o Milan em terceiro. O time de Leonardo arrancou um empate suado com o Catania por 2 a 2, em casa. Faltando apenas cinco rodadas para o fim do campeonato, a Roma soma 68 pontos, um a mais que a Inter. O Milan, que tinha a chance de encostar no rival, tem 64 e agora tem poucas chances de chegar ao título. Parafuso emperrado complica trabalho em caminhada espacial Astronautas em uma caminhada espacial tiveram de apelar para um martelo e um pé-de-cabra para prender um novo tanque cheio de amônia à Estação Espacial Internacional (ISS) neste domingo, conseguindo introduzir um parafuso emperrado no lugar após duas horas de trabalho frustrante. A ação, a uma altitude de 346 km, desenrolou-se no 40º aniversário do lançamento da Apollo 13. Na segunda caminhada espacial em três dias, Rick Mastracchio e Clayton Anderson bateram e puxaram e empurraram, sem sucesso, o parafuso emperrado. Eles então soltaram todos os parafusos bons e sacudiram o tanque de 771 kg, no caso de ele estar desalinhado. Depois de inserir o tanque num ângulo diferente, o parafuso problemático deslizou para o lugar certo. No jornalismo esportivo, ojornalista traz um conjunto de palavras que indicam que ele fala de esportes, ou seja, palavras que remetem ao conjunto dos exercícios físicos praticados com método, individualmente ou em equipes. No jornalismo científico, o jornalista traz um conjunto de palavras que indicam que ele fala de temas relativos à ciência. Em suma: fala-se de um conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão com métodos, teoria e linguagens próprias. Como há vários campos na ciência, um artigo sobre física quântica certamente terá um léxico diferente do que um de fonética ou fonologia. Os termos “ângulo”, “altitude”, “armônia”, “astronautas” não apontam para temas diferentes de “esportes”. Tais palavras fazem mais sentido em um texto sobre divulgação científica, ou seja, na construção temática dos textos o léxico tem um papel fundamental. Ao lermos um “cardápio”, “uma bula de remédio” ou “um mapa” certamente criamos hipóteses sobre o vocabulário que faz parte de um determinado campo semântico: comidas, lugares, localizações espaciais, produtos químicos, etc. Koch e Elias (2006) afirmam que tais termos ativam na memória do leitor determinados esquemas, fazendo com que o texto seja interpretado de determinada maneira. Vejamos um esquema cognitivo possível de ser ativado nos leitores: Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 7 Para um texto progredir, ele também precisa repetir e integrar informações novas. Com as informações que já são dadas, podemos compreender o tópico ou tema, ou seja, “aquilo que se toma como base da comunicação, aquilo de que se fala” (Koch e Elias, 2006, p.161). As informações novas, introduzidas no texto pela primeira vez, podem ser chamadas de comentário. Notícia sobre Carnaval (1) Notícia sobre Festa Junina (2) Conheça o destino das fantasias e alegorias das escolas de samba de Florianópolis Escolas têm até sábado para retirar os carros alegóricos de estacionamento no Centro Acabou o Carnaval. É hora de guardar as fantasias e recolher os confetes e as serpentinas. Mas o que fazer com tudo isso? As escolas de samba de Florianópolis já têm destino certo para todo o material utilizado na confecção das roupas e dos carros, que começam a ser levados para os barracões nesta quarta-feira. (...) Da pobreza para o luxo Nascida de um programa para erradicar invasões, Ceilândia cresceu e hoje, aos 39 anos, tornou-se a menina-dos-olhos do setor imobiliário do DF (...) O espírito festeiro da região também tem lugar na cidade. O São João, comemorado com entusiasmo e muito forró pelos nordestinos, agita as noites de Ceilândia nos meses de junho e julho. A satélite torna- se, então, palco da atuação de diversas quadrilhas, com direito a sanfoneiros e até os tradicionais casamentos na roça. Com isso a cultura do Nordeste permanece presente no coração de todas as gerações de ceilandenses. A progressão do tema nos dois exemplos demonstra que os textos trabalham com um encadeamento de tópicos e comentários. O título da notícia 1 apresenta o tema do enunciado: destino das fantasias e alegorias das escolas de samba. O subtítulo da notícia 1 tem o papel de retomar o tópico, mas trazer novas informações com seus comentários: Escolas (tema) + têm até sábado para retirar os carros (comentário). No texto da notícia 1, vemos movimento semelhante para fazer o tema do texto progredir: As escolas de samba (tema) + já têm destino certo para todo o material utilizado na confecção das roupas e dos carros (comentário). Festas brasileiras Carnaval Escola de Samba Alegoria Fantasia Festa Junina Quadrilha Forró Casamento matuto Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 8 O movimento de repetição e introdução de informações novas pode ser observado também na segunda notícia. O tema “O São João” recebe novas informações (comentários), do tipo: é “comemorado com entusiamo e muito forró”, “agita as noites de Ceilândia”. Em determinados momentos, o tema do enunciado é a cidade satélite de Ceilândia (DF), como na oração: A cidade satélite (tema) + torna-se, então, palco da atuação de diversas quadrilhas, com direito a sanfoneiros e até os tradicionais casamentos na roça (comentário). Tipos de progressão Há vários tipos de progressão, uma vez que os textos podem ser organizar tematicamente de maneiras diversas,variando conforme o gênero (notícia, carta, charge, conto, novela, propaganda, etc.) e os modos de organização textual (modo narrativo, modo descritivo, modo argumentativo, modo descritivo, modo imperativo, etc.). Destacaremos aqui três tipos de progressão: Progressão temática linear Alguns textos se organizam através de uma progressão temática linear. Nestes casos, o comentário de um enunciado passa a ser tópico do enunciado seguinte, e assim sucessivamente (Koch e Elias, 2006). O leitor precisa, então, perceber os movimentos de tópico/comentário para perceber a coerência do texto verbal, além dos mecanismos coesivos. Vejamos um exemplo: O uso de balõesiv O uso de balões e fogos de artifício durante São João no Brasil está relacionado com o tradicional uso da fogueira junina e seus efeitos visuais. Este costume foi trazido pelos portugueses para o Brasil, e ele se mantém em ambos lados do Atlântico, sendo que é na cidade do Porto, Portugal onde mais se evidência. Fogos de artifício manuseados por pessoas privadas e espetáculos pirotécnicos organizados por associações ou municipalidades tornaram-se uma parte essencial da festa no Nordeste, em outras partes do Brasil e em Portugal. Os fogos de artifício, segundo a tradição popular, servem para despertar São João Batista. Em Portugal, pequenos papeis sao atados no balão com desejos e pedidos escritos neles. Compare, agora, como o movimento tópico (cor vermelha) e comentário (cor azul) funciona internamente para promover a sequenciação das informações: retoma-se algo e acrescenta-se algo novo. O uso de balõesv O uso de balões e fogos de artifício durante São João no Brasil está relacionado com o tradicional uso da fogueira junina e seus efeitos visuais. Este costume foi trazido pelos portugueses para o Brasil, e ele se mantém em ambos lados do Atlântico, sendo que é na cidade do Porto, Portugal onde mais se evidência. Fogos de artifício manuseados por pessoas privadas e espetáculos pirotécnicos organizados por associações ou municipalidades tornaram-se uma parte essencial da festa no Nordeste, em outras partes do Brasil e em Portugal. Os fogos de artifício, segundo a tradição popular, servem para despertar São João Batista. Em Portugal, pequenos papeis são atados no balão com desejos e pedidos escritos neles. Poderíamos também exemplificar através de esquemasvi que mostrem a progressão temática linear: 1. Progressão temática linear 2. Progressão temática com tema constante 3. Progressão com temas derivados Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 9 Progressão temática com tema constante Outros textos costumam se organizar através da manutenção do tema ao longo dos parágrafos. Neste caso, a um mesmo tema, o autor acrescenta novas informações, ou seja, novos comentários (Koch e Elias, 2006). Textos expositivos e argumentativos costumam utilizar essa forma de organização seqüencial. Vejamos outro exemplo: Escola de Sambavii Escola de samba é um tipo de agremiação de cunho popular, que se caracteriza pelo canto e dança do samba, quase sempre com intuitocompetitivo. Sendo um tipo de associação originário da cidade do Rio de Janeiro, as escolas de samba se apresentam em espetáculos públicos, em forma de cortejo, onde representam um enredo, ao som de um samba-enredo, acompanhado por uma bateria; seus componentes - que podem ser algumas centenas ou até milhares - usam fantasias alusivas ao tema proposto, sendo que a maioria destes desfila a pé e uma minoria desfila sobre "carros", onde também são colocadas esculturas de papel machê, além de outros adereços. As escolas de samba mais conhecidas são as da cidade do Rio de Janeiro e sua região metropolitana, que desfilam no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, e as de São Paulo, que desfilam no Sambódromo paulistano. Estas escolas realizam um espetáculo considerado suntuoso, que atrai turistas de várias partes do mundo. Porém, há escolas de samba em quase todos os estados brasileiros e em muitos países do mundo. São consideradas uma das principais, se não a principal vitrine do carnaval brasileiro, e atualmente vêm ganhando cada vez mais um aspecto cênico, com alguns componentes executando dramatizações teatrais, e coreografias. A expressiva maioria das escolas de samba, principalmente as do Rio de Janeiro, possui em sua denominação a expressão "Grêmio Recreativo Escola de Samba" (representada pela sigla GRES) antes do seu nome propriamente dito. Em São Paulo é também comum a sua derivação "Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba". Há exceções, como a Sociedade Rosas de Ouro e a tradicional Agremiação Recreativa e Escola de Samba Vizinha Faladeira. Diferentemente do texto anterior sobre o uso de balões, percebemos aqui no verbete sobre “Escola de Samba” uma organização temática com tema constante. Os enunciados retomam o tema principal “escola de samba” e acrescentam-lhes novas informações, fazendo com que o texto progrida com coerência. Vejamos o quema a seguir: o comentário transforma-se em tópico Em Portugal, pequenos papeis são atados no balão com desejos e pedidos escritos neles. o comentário transforma-se em tópico Este costume foi trazido pelos portugueses para o Brasil, e ele se mantém em ambos lados do Atlântico, sendo que é na cidade do Porto, Portugal onde mais se evidência. O uso de balões O uso de balões e fogos de artifício está relacionado com o tradicional uso da fogueira junina e seus efeitos visuais. Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 10 Progressão temática com tema derivado Outra possibilidade de organização da progressão textual é a progressão por temas derivados. Neste caso, o autor parte de um tema maior (América Latina, Globalização, Danças européias, Culturas africanas, etc.) e extrai temas parciais, ou seja, derivados. Vejamos um verbete sobre o frevo: Frevo: ritmo e dança Surgido na cidade do Recife no fim do século XIX, o frevo caracteriza-se pelo ritmo extremamente acelerado. Muito executado durante o carnaval, eram comuns conflitos entre blocos de frevo, em que capoeiristas saíam à frente dos seus blocos para intimidar blocos rivais e proteger seu estandarte. Pode-se afirmar que o frevo é uma criação de compositores de música ligeira, feita para o carnaval. Os músicos pensavam em dar ao povo mais animação nos folguedos. No decorrer do tempo, a música ganhou características próprias companhadas por um bailado inconfundível de passos soltos e acrobáticos. Existem vários tipos de frevo: Frevo-de-rua é frevo tocado por orquestra instrumental, sem adição de nenhuma voz cancionando. Nos anos de 1930, com a popularização do ritmo pelas gravações em disco e sua transmissão pelos programas do rádio, convencionou-se a definir o frevo como "frevo de rua", quando puramente instrumental. O frevo-canção é derivado da ária (composição musical escrita para um cantor solista), tem uma introdução orquestral e andamento melódico, típico dos frevos-de-rua. É seqüenciado por uma introdução forte de frevo, seguida de uma canção, concluindo novamente com frevo.São vários os seus intérpretes, sendo os mais conhecidos Alceu Valença e Claudionor Germano. Entre os compositores de frevo-canção destacam- se Capiba, Nelson Ferreira, J. Michilles, Alceu Valença. Frevo-de-bloco é um frevo executado por orquestra de pau e cordas (geralmente composta por violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, violinos, além de instrumento de sopro e percussão). É chamado pelos compositores mais tradicionais de "marcha-de-bloco". O frevo-de-bloco é a música das agremiações tradicionalmente denominadas “blocos carnavalescos mistos”. Seu aparecimento no carnaval de Pernambuco faz alusão a um dado histórico e sociológico: o início da efetiva participação da mulher, principalmente da classe média, na folia de rua do Recife, nas primeiras décadas do século XX. Escola de Samba é um tipo de agremiação de tipo popular se apresenta em espetáculos públicos realizam um espetáculo considerado suntuoso existe em quase todos os estados brasileiros e em muitos países do mundo Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 11 No verbete, o “frevo” é o hipertema ou tema “guarda-chuva”, pois ele abriga e organiza os outros temas derivados. O esquema, neste caso, é bem diferente: Vale frisar que existem também outras formas de organização, pois os textos são múltiplos e podem se organizar de diversas maneiras com o intuito de produzir diferentes efeitos de sentido. Cabe ao leitor procurar perceber como o texto progride de determinada forma, percebendo as diferenças entre eles. Destacamos alguns pontos do módulo: Derivados Hipertema Frevo Frevo de rua Frevo canção Frevo de bloco 1. A progressão sequencial ou tópica realiza-se por diversos tipos de encadeamentos. Como leitor proficiente, você precisa perceber os movimentos discursivos de tais encadeamentos. 2. Para que você perceba a coerência textual, a progressão tópica precisa ser compreendida. 3. No ato de ler e refletir sobre o texto, observe atentamente: (i) as formas de organização dos tópicos (grife com cores diferentes, faça esquemas gráficos, etc.), (ii) os temas e comentários; (iii) os elementos coesivos (pronomes, conjunções, expressões nominais) que ligam e retomam os temas e comentários. Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 12 Atividades Por que o Budismo encanta o Ocidente? Frei Betto O budismo faz tanto sucesso no Ocidente porque possui características que correspondem às tendências da pósmodernidade neoliberal. Num mundo em que muitas religiões se sustentam em estruturas autoritárias e apresentam desvios fundamentalistas, o budismo apresenta-se como uma nãoreligião, uma filosofia de vida que não possui hierarquias, estruturas nem códigos canônicos. No budismo não há a idéia de Deus, nem de pecado. Centrado no indivíduo e baseado na prática da yoga e da meditação, o budismo não exige compromissos sociais de seus adeptos, nem submissão a uma comunidade ou crença em verdades reveladas. Há, contudo, muitos budistas engajados em lutas sociais e políticas. Nessa cultura do elixir da eterna juventude, em que o envelhecimento e morte são encarados, não como destinos, mas como fatalidades, o budismo oferece a crença na reencarnação. Acreditar que será possível viver outras vidas além dessa é sempre consolo e esperança para quem se deixa seduzir pelaidéia da imortalidade e não se sente plenamente realizado nessa existência. Outro aspecto do budismo que o torna tão palatável no Ocidente é a sua adequação a qualquer tendência religiosa. Pode-se ser católico ou protestante e abraçar o budismo como disciplina mental e espiritual, sem conflitos.Mesclar diferentes tradições religiosas é uma tendência crescente para quem respira a ideologia pós-moderna do individualismo exacerbado, segundo a qual cada um de nós pode ser seu próprio papa ou pastor, sem necessidade de referências objetivas. Como método espiritual, o budismo é de grande riqueza, pois nos ensina a lidar, sem angústia, com o sofrimento; a limpar a mente de inquietações; a adotar atitudes éticas; a esvaziar o coração de vaidades e ambições desmedidas; a ir ao encontro do mais íntimo de nós mesmos, lá onde habita aquele Outro que funda a nossa verdadeira identidade. 01 - Considerando a pergunta presente no título do texto – Por que o Budismo encanta o Ocidente? – pode-se dizer que o texto: (A) evita respondê-la de forma direta; (B) indica várias razões que a respondem; (C) não a responde por tratar-se de tema polêmico; (D) mostra somente probabilidades de respostas; (E) em lugar de respondê-la, propõe outras perguntas. 02 -– “Há, contudo, muitos budistas engajados em lutas sociais e políticas”; uma conjunção adversativa, como a que está sublinhada nesse segmento do texto, opõe idéias. As idéias opostas nesse caso são: (A) budistas X não-budistas; (B) engajados X indiferentes; (C) individualismo X lutas sociais; (D) lutas sociais X lutas políticas; (E) pacifismo X conflitos sociais e políticos Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 Leitura e Interpretação de Textos 13 03 - A alternativa em que o valor semântico do conectivo destacado está corretamente indicado é: (A) “O budismo faz tanto sucesso no Ocidente porque possui características...” – conseqüência; (B) “a ideologia pós-moderna do individualismo exacerbado segundo a qual cada um de nós...” – posterioridade; (C) “o budismo é de grande riqueza, pois nos ensina a lidar...” – conclusão; (D) “se sustentam em estruturas autoritárias e apresentam desvios...” – alternância; (E) “são encarados não como destinos, mas como fatalidades” – conformidade. Referências Bibliográficas CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008. FÁVERO, Leonor. Coesão e Coerência Textuais. Ática, 1991. KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1993. KOCH, Ingedore. A coesão textual. 19. ed. São Paulo: Contexto, 2004. i Receita disponível em http://tudogostoso.uol.com.br/receita/3687-pudim-de-leite-condensado.html ii Exemplo retirado de http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,roma-vence-e-assume-ponta-do-italiano- milan-empata,536881,0.htm iii Texto disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,parafuso-emperrado-complica-trabalho-em- caminhada-espacial,536889,0.htm iv Verbete disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_junina v Verbete disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_junina vi Esses esquemas também são baseados na obra de Koch e Elias (2006). vii Verbete disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_samba Confira o gabarito das questões: 1. B 2. C 3. B
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