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Processos de Conformação Mecânica – Aula 06 Conformação de chapas Prof. Leandro E. Falqueto E-mail: leandro.falqueto@hotmail.com 1. Introdução • A fabricação de peças a partir de chapas finas, em uma ou mais etapas, é denominada estampagem ou conformação de chapas. • Nesse processo é possível obter várias formas do produto final. • Normalmente se parte de um elemento primário (blank) com geometria específica (desenho) para facilitar e garantir a completa execução. • O blank ideal é aquele que não gera refugos após a conformação e pode ter qualquer forma. 2. Operações para conformação de chapas 2.1. Corte • Corte é uma operação utilizada, normalmente, para preparação do blank. • Nesta etapa, a chapa é posicionada na matriz, fixada por um dispositivo fixador e, em seguida, sofre ação de um punção para realizar o corte por cisalhamento. – A matriz de corte deve possuir o furo do desenho do blank e suas arestas devem apresentar cantos vivos para facilitar o cisalhamento. • A folga entre a matriz e o punção varia em função da espessura da chapa, mas a tensão de cisalhamento também influência nesse parâmetro. – Quando a folga é muito grande, a chapa tende a dobrar-se sobre a matriz e estirar-se até romper. – Desse modo, o esforço de corte eleva-se consideravelmente, já que a ruptura ocorrerá por esforços trativos com σ = 2τ. – Por outro lado, se a folga for muito pequena, existe grandes chances de ocorrer quebra da matriz. − Para evitar problemas dessa natureza, recomenda-se que a folga seja ajustada entre 0,1 e 0,2 vezes a espessura da chapa. Folga excessiva Folga insuficiente Folga adequada • Podem ser fabricados blanks do tipo vazado ou não vazado, como apresentado abaixo. • A fabricação de blanks não vazados é feita em uma única etapa. – Após a fixação da chapa na matriz, esta é cisalhada por um punção com formato do blank. – O projeto da pré-forma deve ser muito bem realizado, de forma a evitar refugos. • Já a fabricação dos blanks vazados, é feita em duas etapas. – O furo central produzido na primeira etapa. – E, após o deslocamento da chapa para a matriz correta, é realizado o corte do perímetro exterior numa segunda etapa. • Por isso, na produção de blanks vazados, deve haver sincronismo entre as etapas de produção. Vídeo • Os esforços para o corte de blanks podem ser estimado facilmente, considerando que a tensão de cisalhamento (τ) tem valor aproximadamente igual à metade da tensão normal de ruptura do material (σR). • Se a folga entre a matriz e o punção estiver corretamente especificada, o esforço de corte (P) pode ser estimado. • c é o comprimento ou perímetro de corte. • e é a espessura da chapa. 2.2. Dobramento • O dobramento é uma operação unitária para produzir curvaturas regulares em chapas, transformando segmentos retos em curvos. • Nesta operação podem ser utilizados os processos de calandragem, dobramento wiper ou dobramento wrap. Vídeo 2.2.1. Calandragem • É o dobramento feito entre três rolos, sendo dois fixos e um móvel. • O raio de curvatura é dado em função da distância entre os rolos inferiores e o posicionamento do rolo superior, que exerce a carga necessária à flexão. Vídeo 2.2.2. Dobramento Wiper (alisamento) • A chapa é fixada ao bloco de modelar pelo fixador (f) e o rolete modelador, em contato com a chapa, impõe à mesma a curvatura do bloco modelador. – O raio de curvatura do bloco é normalmente variável e a carga (P) do rolete pode ser contínua ou intermitente (martelamento). • Este processo é utilizado para produção de segmentos curvos, onde são exigidos raios com curvatura variável. 2.2.3. Dobramento Wrap (embrulho) • É normalmente utilizado para formação de bobinas de chapa oriundas do processo de laminação. • Neste caso, a chapa é fixada ao cilindro por um fixador interno (f) e, a medida que o cilindro gira, a bobina vai sendo formada. • O tracionamento é indispensável para evitar o enrugamento na parte interior da chapa. 2.2.4. Efeito mola no dobramento • Durante o dobramento de uma placa, regiões distintas surgem na seção longitudinal: – Duas regiões deformada plasticamente (bordas da placa); – Outra deformada elasticamente (região central da placa). • É possível notar pela figura que a deformação acima da linha neutra (LN) é causada por tensões trativas e, abaixo de LN, por tensões compressivas. • A região deformada elasticamente tenderia a recuperar totalmente a deformação, mas é impedida pela região deformada plasticamente. – Em outras palavras, o gradiente de deformação plástica é atenuado pela recuperação elástica, produzindo uma recuperação parcial do dobramento. – Esse efeito é conhecido como efeito mola. • O efeito mola (R), numa chapa que foi dobrada, pode ser definido pela razão entre os ângulos de dobramento final (αF) e inicial (α0). 2.3. Estiramento • O estiramento é utilizado para fabricação de peças com curvatura de raio variada ou peças de dupla curvatura, como perfis aerodinâmicos. • Nesse processo, a placa é presa pelas extremidades e o bloco de modelar (molde) é acionado para cima, gerando tensões unicamente trativas ao longo da seção longitudinal. – Desse modo a placa é estirada. • Como a placa é deformada por tensões trativas e por apresentar gradientes mais uniformes, o efeito mola é praticamente inexistente nesse processo. 2.4. Embutimento • O embutimento é empregado para transformar chapas planas em peças tridimensionais de formas variadas. – Por exemplo: copos, cápsulas, componentes de tancagem, componentes de carrocerias de automóveis e embalagens metálicas (latas) em geral. • Nesse processo, o blank é fixado por um anel, que exerce uma certa pressão sobre a chapa, evitando, também, a formação de rugas. Vídeo 2.4.1. Deformações e tensões durante o embutimento • Nesse processo, a peça é produzida por meio de dobramentos e estiramentos sucessivos, que geram esforços trativos e compressivos em todos os seus elementos de volume, nas três direções principais. • A região do centro do blank é acomodado em torno do perfil do punção e tem sua espessura reduzida. • Todo o material do blank é deformado radialmente (“puxado”) para o interior da matriz. – Enquanto isso ocorre, a circunferência externa deve decrescer continuamente, o que indica a presença de um esforço circunferencial compressivo na orla do blank. – Com isso, o material dessa região deveria sofrer um enrugamento, porém, o anel compressor impede que isso aconteça, fazendo com que haja um aumento de espessura nessa região. • A medida que o punção desce, o material é tracionado para o interior da matriz. • Ao ultrapassar o raio da matriz, ele sofre um dobramento e tem sua espessura reduzida ao entrar na matriz. σN= Tensão Normal σC = Tensão compressiva σR = Tensão radial 2.4.2. Esforços no embutimento • A força necessária para produzir um copo por embutimento é dada pela soma da: – Força ideal de deformação: • A força ideal de deformação aumenta continuamente com o curso, pois a deformação é crescente, causando encruamento do material. – Força de atrito: • A pressão no anel de fixação é a maior responsável pela força de atrito. • Esta componente atinge rapidamente um máximo e diminui com o aumento do curso, pois a área do blank sob o anel decresce continuamente. – Força necessária para produzir a uniformização de espessura (caso exista) • Quando for necessária uma força para uniformizar a espessura, ela será solicitada no fim do processo, depois da parede do copo ter atingidoa espessura máxima. 2.4.3. Expansão de copo • Uma vez que a redução máxima do embutimento é da ordem de 50%, é necessário empregar operações sucessivas de estampagem caso se queira produzir peças altas e delgadas. • A operação empregada para transformar uma peça estampada em outra de diâmetro menor e altura maior é conhecida por expansão de copo. • Existem dois métodos básicos de expansão de copo: – Expansão direta ou regular; – Expansão indireta ou invertida. • Expansão direta: – A superfície externa original do copo permanece sendo a superfície externa da peça expandida. – Pode-se utilizar essa expansão com o auxílio de um anel de fixação, mas, nesse caso, o material é dobrado duas vezes e apresenta alto encruamento. – A fim de reduzir o encruamento do caso anterior, pode-se utilizar uma matriz cônica. – Embora o metal ainda sofra a mesma quantidade de dobramentos, o ângulo é inferior a 90 °. – Esse método implica, também, em menores cargas de punção. – A desvantagem está na fabricação do copo do primeiro estágio, que não é simples. • Expansão indireta ou inversa: – O copo é estampado de maneira inversa, de modo que a sua superfície externa venha a ser a superfície interna da nova peça. – Nesse caso, o dobramento ocorre sempre na mesma direção, o que propicia menor encruamento que o processo direto. 3. Outros processos de conformação de chapas 3.1. Repuxamento • O repuxamento é o processo mais simples dentre os processos de conformação de chapas empregados para fabricação de peças de simetria circular. • Antenas parabólicas, calotas, fundos de cilindros de gases ou tanques de pressão são alguns dos produtos que podem ser fabricados pelo repuxamento. • Apesar de existir um equipamento específico, é normal a utilização de um torno para substituí-lo. • O repuxamento é caracterizado por baixa produtividade. • Nesse processo, o blank é fixado em um bloco de modelar giratório. • Após a fixação, uma ferramenta é pressionada sobre a placa e essa se molda gradativamente ao girar. Vídeo 3.2. Processo Guerin • Esse processo é uma boa alternativa quando se necessita de uniformidade de pressão. • Nele, as ferramentas tradicionais (punção e matriz) são substituídas por uma almofada de borracha e um bloco de modelar. • Quando o material é colocado sobre o molde e sofre a ação do punção, a almofada exerce sobre ele uma pressão quase- hidrostática, aproximadamente uniforme. 3.3. Conformação por explosão • Nesse processo, a conformação das chapas é produzida por ondas de choque transmitidas por meio de um fluido. • O bloco modelador e a chapa são imersos em um tanque com fluido (normalmente água) junto a um explosivo. • Ao acionar o explosivo, este transmite uma onda de choque à placa que se molda e ganha a forma do bloco modelador. • A grande vantagem deste processo é a uniformidade de tensões de conformação agindo como um punção sem atrito. • Ou seja, durante a conformação, todos os pontos da placa estarão sujeitos a uma mesma pressão. – A variação de pressão hidrostática com a altura são negligenciáveis, considerando-se o alto valor da distorção produzido pela explosão. 4. Estampabilidade e limites de conformação • As chapas empregadas nesses processos são caracterizadas pela sua capacidade de dobrar-se e estirar-se em direções diferentes. • Essa matériaprima (principalmente a ferrosa) é fabricada por laminação a quente, logo, ela não exibe anisotropia após a fabricação. • Como a anisotropia é uma condição desejável, pelo menos um passe com deformação a frio, com redução de 1 a 2 %, é feito para o ajuste dimensional do laminado, gerando, também, um pequeno grau de anisotropia. • Esse grau pode ser medido através do fator R, dado pela razão entre a espessura e a largura de uma placa. • R mede, na verdade, a anisotropia normal ao plano da chapa. – Um alto valor de R significa que a chapa oferece uma grande resistência para se deformar na direção da espessura. • w0 é a largura da chapa inicial. • w é a largura da chapa final. • h0 é a altura da chapa inicial. • h é a altura da chapa final. • Como R mede o grau de anisotropia em apenas uma direção, fica evidente que este não é um fator adequado para se avaliar o grau de anisotropia de uma chapa laminada em relação às diferentes direções do plano de laminação. • Assim, para se avaliar a anisotropia plana de um laminado, deve ser utilizado um outro parâmetro, Ṝ, que é a média dos parâmetros R tomados ao longo de direções que formam ângulos de 0, 45 e 90° em relação à direção de laminação da chapa. • O efeito da anisotropia pode ser visualizado através de um mapa de escoamento. – No estado plano de tensão, o escoamento anisotrópico acarreta distorções na elipse de escoamento de um material ideal, considerado isotrópico (R=1). 4.1. Ensaios de embutimento • Os ensaios de embutimento têm por objetivo avaliar a estampabilidade de chapas e/ou tiras metálicas. • Eles relacionam características mecânicas e estruturais da peça com as máximas deformações possíveis de serem realizadas sem que ocorra a ruptura. • Existem diversos tipos de ensaios para esse tipo de avaliação. • Um exemplo é o ensaio de Erichsen: – Consiste na deformação de um blank preso em uma matriz com um punção de geometria esférica. – Mede-se a máxima penetração do punção para a qual não tenha ocorrido ruptura do blank. Vídeo
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