Buscar

Chiara 01

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO: O SISTEMA 
INTEGRADO DE ASSISTÊNCIA AO 
TRAUMA (SISTEMA INTEGRATO PER 
L’ASSISTENZA AO TRAUMA – SIAT)
O trauma, nos países ocidentais, é a terceira causa 
de morte, depois das doenças cardiovasculares e 
dos cânceres. Na população abaixo de 45 anos de 
idade é a primeira causa de morte. Acomete princi-
palmente a população economicamente ativa, por 
isso traz conseqüências sociais de elevado custo. Se 
ocorrer sobrevivência após o trauma, este pode le-
var a seqüelas defi nitivas e irreversíveis, que tam-
bém trazem conseqüências nefastas, seja no pla-
no humano ou econômico, para o paciente e seus 
familiares.1,2,3,4
Na Itália, os pacientes vítimas de trauma são le-
vados para o hospital mais próximo do evento, in-
diferentemente dos recursos disponíveis, ocorren-
do, assim, a necessidade de transferência imediata 
para hospitais mais preparados. Esse fato acarreta 
atraso no tratamento defi nitivo do paciente.
Distribuição temporal dos óbitos em trauma
A mortalidade no trauma ocorre em três picos su-
cessivos de incidência.5,6,7
1. O primeiro pico ocorre imediatamente após o 
trauma, muitas vezes na cena do acidente. De-
correm de lesões não compatíveis com a vida.
2. O segundo pico de morte é constatado após 
2-4 horas do evento. Deve-se à evolução de le-
sões que determinam alterações relacionadas à 
insufi ciência respiratória (p. ex., pneumotórax) 
e a evento hemorrágico em evolução (p. ex., 
ruptura de órgãos parenquimatosos, como o 
fígado e baço, fraturas múltiplas de ossos etc.), 
ou mesmo lesões expansivas intra-craniana (p. 
1
Composição e acionamento 
da equipe de trauma
ex., hematoma extradural, subdural etc.). O re-
conhecimento e o tratamento imediato destes 
problemas associados a uma efi ciente organi-
zação no atendimento de emergência podem 
melhorar a sobrevida desses pacientes e reduzir 
signifi cativamente os óbitos (defi nidos com a 
designação “mortes evitáveis”).
3. O terceiro pico de morte ocorre dias ou sema-
nas após o trauma e é devido a complicações 
das lesões iniciais que se diagnosticam durante 
a internação.
Uma boa organização do sistema de atendimen-
to ao traumatizado, in loco ou intra-hospitalar, de-
termina uma redução signifi cativa da mortalidade.
Diversos estudos confi rmam que o percentual 
de “mortes evitáveis” por trauma é signifi cativa-
mente maior quando não existe uma estrutura de-
partamental adequada para o tratamento e quando 
não há profi ciência e competência específi ca para 
atuar nos problemas relacionados aos pacientes 
traumatizados.8-14 Dois estudos italianos da década 
de 199015,16, conduzidos com metodologia análoga em 
duas áreas urbanas diferentes, evidenciaram a pre-
sença de um número elevado (37% a 42%) de mor-
tes por trauma potencialmente evitáveis. A maior 
parte dessas mortes ocorreu depois da chegada ao 
hospital, por erros na primeira fase de atendimento 
e falhas na estruturação de diagnóstico.
Organização para a fase aguda
Esses aspectos já foram discutidos e resolvidos 
em países como Estados Unidos, Canadá e alguns 
países europeus nas décadas de 1980 e 1990, com 
a instituição de um sistema integrado pré-hospi-
talar e intra-hospitalar de assistência às vítimas de 
traumatismo, denominado Trauma System ou SIAT 
(Sistema Integrado de Assistência ao Trauma Gra-
ve). Os SIATs são centrados na estrutura hospitalar 
2
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
especifi camente dirigida à cura de vítimas de 
trauma que foram defi nidos como “Centros de 
Trauma” ou “Trauma Centers”.17-20 Um SIAT é 
identifi cado como uma área territorial geogra-
fi camente defi nida, coincidente com a área de 
competência de uma central operativa territo-
rial, e com os seus respectivos departamentos 
de emergência (DE) de referência. Dentro de 
um SIAT existe um sistema de gestão integrado 
dos pacientes vítimas de traumas graves, cons-
tituindo uma rede hospitalar conectada a um 
Centro de Trauma. 17-20 Os Centros de Trauma 
se diferenciam pelo número e tipos de especia-
lidades disponíveis 24 horas por dia. Um Cen-
tro de Trauma se caracteriza pela presença de 
uma equipe de trauma, isto é, de uma unidade 
funcional multidisciplinar onde o atendimen-
to à vítima de trauma grave se dê de maneira 
coordenada.
Todos os traumas que ocorrem em uma área 
e que têm critérios indicativos de trauma maior 
(triagem pré-hospitalar) devem ser encaminha-
dos a um “Centro de Trauma”, de acordo com o 
tipo de lesão e a necessidade de especialidades 
específi cas, respeitando assim o princípio de 
centralização primária, isto é, o transporte ime-
diato ao local de maior probabilidade de cura 
defi nitiva. Os traumas considerados menores, 
que não satisfazem os critérios pré-hospitalar 
de gravidade ou aqueles com grave instabili-
dade cardiorrespiratória que estão fora de uma 
área defi nida como SIAT, podem ser encami-
nhados ao hospital mais próximo, dotado de 
um pronto socorro, segundo os princípios de 
um modelo inclusivo.21 Uma vez obtida a esta-
bilização do paciente, pode-se transferí-lo para 
um Centro de Trauma de referência, desde que 
se respeite uma centralização secundária.
Em diversos países a instituição dos Trau-
ma Centers e Trauma Systems tem aumentado 
a chance de cura de pacientes afetados por 
traumas graves, com uma redução sensível de 
“mortes evitáveis”. 
A EQUIPE DE TRAUMA
O atendimento inicial de um paciente vítima 
de um trauma grave requer, devido a multi-
plicidade e simultaneidade de problemas, a 
abordagem de diversos médicos, de diversas 
especialidades, cada qual agindo de modo es-
pecífi co, coordenado e integrado na resolução 
dos problemas.
A composição de uma equipe de trauma, no 
âmbito de um DE, necessita da presença de to-
dos os profi ssionais potencialmente úteis para 
salvar a vida do paciente, para o atendimento 
de emergência, para o diagnóstico inicial na sala 
de reanimação, para as eventuais intervenções 
cirúrgicas de emergência e para o diagnóstico e 
o tratamento defi nitivo das lesões.
Posteriormente, podem também ser envol-
vidos vários outros especialistas, em função dos 
procedimentos de cura defi nitiva que devem 
ser efetuados em um segundo tempo. A equipe 
deve ser coordenada por um líder que repre-
senta a fi gura presente de maior experiên cia 
no atendimento ao trauma grave. A fi gura do 
líder deve ter razoável experiência em trauma 
e pode ser um especialista das seguintes áreas: 
cirurgião do trauma, cirurgião geral, anestesis-
ta e clínico familiarizado com trauma (médico 
de urgência).
O líder da equipe é responsável (a) pela 
ativação e composição da equipe na iminên-
cia de chegada de um paciente, (b) pela pre-
paração da sala de reanimação com todos os 
equipamentos necessários, (c) pela troca de 
informação com a equipe pré-hospitalar, (d) 
pela escolha das prioridades de diagnóstico e 
tratamento com comunicação das estratégias 
aos outros componentes da equipe, (e) pela 
execução e supervisão da avaliação primária, 
secundária e das manobras de reanimação, (f) 
pelo entrosamento dos especialistas e da coor-
denação dos vários procedimentos até a recu-
peração defi nitiva do paciente, (g) pela preci-
são na documentação clínica, (h) pelo conforto 
e pela informação ao paciente, se consciente, 
aos familiares e aos meios de comunicação. 
A seguir, são pontuados os membros de 
uma equipe de trauma, de um DE destinados à 
cura defi nitiva do trauma grave.
1. Médico experiente em via aérea: no que 
diz respeito à equipe de trauma, o médico 
experiente em via aérea (MVA) é, preferen-
cialmente, um anestesista ou um médico de 
urgência (MURG). Ele se posiciona à cabeça 
do paciente (Figura 1) e, além de manusear 
a via aérea, faz a proteção da coluna cervi-
cal, providencia uma via aérea defi nitiva, se 
necessário, efetua a toracocentesepara a 
descompressão de pneumotórax hipertensi-
vo, faz a cateterização de veia central, se ne-
cessário, posiciona a sonda gástrica (SG) e 
3
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
Figura 1 Composição da equipe de trauma na sala de emergência
AUX, técnico de enfermagem; CT, cirurgião do trauma; ENF, enfermeiro; MVA, médico especialista das vias aéreas; NEURO, neurocirur-
gião; ORTO, ortopedista; RAD, radiologista; MF, médico que registra os procedimentos; TEC.RAD., técnico em radiologia
RAD NEURO
ORTO
MVA
AUX1
AUX2
CT
ENF1
ENF2
MF
TEC.RAD.
LÍDER DE 
EQUIPE
executa a ultra-sonografi a (extended focused 
abdominal sonography for trauma – E-FAST). 
Se o médico da via aérea é o anestesista, a 
ele compete a condução do caso durante um 
possível ato operatório. Caso contrário, é 
necessário o envolvimento imediato de um 
anestesista.
2. Cirurgião do trauma: na Itália não existe 
esta fi gura profi ssional específi ca. O cirur-
gião do trauma é representado pela fi gura 
do cirurgião geral (CT). Ele assume a função 
de realizar os procedimentos de emergên-
cia durante o atendimento inicial do trauma 
grave. Posiciona-se em um dos lados do pa-
ciente (Figura 1) e assume, quando necessá-
rio, a função de providenciar uma via aérea 
ou uma via de infusão, além de realizar as 
drenagens torácicas, toraconcenteses, tora-
4
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
cotomia de reanimação, controle dos sítios 
de sangramento externo, lavado peritonial 
diagnóstico, redução e imobilização das fra-
turas e o posicionamento do cateter vesical. 
Faz ainda o E-FAST se for mais experien-
te do que o médico das vias aéreas, neste 
procedimento. O cirurgião da equipe é, ob-
viamente, o médico responsável pelas inter-
venções cirúrgicas de emergência-urgência, 
dentro de sua competência.
3. Enfermeiro do trauma 1: o enfermeiro 
(ENF1) auxilia o médico que assume as vias 
aéreas, o qual, por sua vez, pode delegar 
alguns procedimentos a ele (p. ex., posicio-
namento da sonda gástrica) para acelerar o 
atendimento.
4. Enfermeiro do trauma 2: o enfermeiro 2 
(ENF2) assiste ao cirurgião do trauma em 
todos os procedimentos efetuados, faz al-
guns deles, se delegado pelo cirurgião (p. 
ex., cateterização vesical, punção de acesso 
venoso periférico, tamponamento de feridas 
exsangüinantes, imobilização).
5. Técnico em radiologia: é indispensável a 
presença de um técnico em radiologia (TEC-
RAD) na sala de reanimação. Ele tem a res-
ponsabilidade de preparar o equipamento 
de ultra-som e realizar as radiografi as du-
rante o primeiro atendimento, de acordo 
com orientação do líder da equipe.
6. Técnicos em enfermagem: um ou dois 
auxiliares (AUX) devem procurar e dispor 
o material necessário para o atendimento, 
seja na sala de reanimação, seja fora dela. 
Enviar os pedidos de sangue, guardar os 
objetos pessoais do paciente, auxiliar os 
médicos e enfermeiros nos procedimentos, 
ajudar nos procedimentos de transferên-
cia, acompanhar os familiares até um local 
adequado de espera e fornecer suporte psi-
cológico.
7. Médico que registra o procedimento: 
trata-se especifi camente de um médico em 
formação (MF). Tem a função não só de dar 
suporte a um dos médicos da equipe, como, 
também, de adquirir profi ciência nos vários 
procedimentos. Tem também a importante 
tarefa de coletar e registrar, manual ou digi-
talmente, todos os dados pertinentes duran-
te o atendimento primário e secundário, os 
dados da anamnese, os dados dos parâme-
tros clínicos mensurados e os procedimen-
tos efetuados. Na sua ausência, este papel é 
desempenhado pelo médico das vias aéreas 
ou pelo cirurgião.
O líder da equipe de trauma não deve estar 
diretamente envolvido com os procedimentos. 
Deve ter a responsabilidade exclusiva de super-
visionar o atendimento. Caso haja limitação na 
equipe de trauma, a fi gura do líder deverá ser 
representada pelo médico das vias aéreas ou 
o cirurgião do trauma. É necessário que este-
jam disponíveis outras três fi guras médicas (de 
preferência presentes em regime de plantão no 
departamento de emergência) indispensáveis 
ao atendimento primário e secundário da víti-
ma de trauma grave:
1. Radiologista: o radiologista (RAD) pode ser 
a primeira pessoa presente na sala de reani-
mação e se responsabilizar pela realização 
do E-FAST, que tem valor diagnóstico im-
portante e, juntamente com o líder da equi-
pe, defi nir a conduta adequada para cada 
caso, a fi m de equilibrar o paciente.
2. Ortopedista: a presença do ortopedista 
(ORTO) na sala de reanimação é necessária 
na primeira fase do atendimento, logo após 
a chegada do paciente. Sendo assim, nos 
casos graves de fratura de pelve, ele pode 
defi nir pela estabilização pélvica imediata e 
reduzir o sangramento retro-peritonial. Ade-
mais, o ortopedista pode realizar a redução 
e imobilização de fraturas de extremidades 
ou indicar os exames específi cos necessários 
para a defi nição diagnóstica.
3. Neurocirurgião: nos casos em que há piora 
do estado de consciência, ou aparecimento 
de sinais de lateralização, ou presença de 
paratetraplegia, a consulta com o neuroci-
rurgião deve ser imediata. É fundamental 
que, uma vez controlada a via aérea e a cir-
culação nos pacientes com suspeita de lesão 
do sistema nervoso central, o neurocirurgião 
(NEURO) avalie o paciente e decida, junta-
mente com o líder da equipe, o procedimen-
to propedêutico e terapêutico necessário.
Outros especialistas, que podem ser necessá-
rios em algumas situações particulares na equi-
pe de trauma, são representados pelo cirurgião 
torácico, cirurgião vascular, cirurgião cardíaco, 
ginecologista/obstetra, cirurgião plástico, cirur-
gião buco-maxilo-facial, otorrinolaringologista, 
oftalmologista, pediatra e o radiologista inter-
5
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
vencionista. A disponibilidade de tais especia-
listas deve ser assegurada no mesmo hospital, 
ou de outra forma, por meio de protocolos pre-
estabelecidos entre instituições.
Como descrito, essa deve ser a composi-
ção de uma equipe de trauma de um DE com 
a fi nalidade de promover a cura defi nitiva de 
todas as lesões causadas pelo evento trauma. 
Nos hospitais menores, mas também sujeitos 
a receber igualmente as vítimas de traumatis-
mos graves (como ocorre no âmbito do sistema 
inclusivo), é necessário pelo menos a presença 
de uma fi gura indicada nos primeiros seis pon-
tos, a fi m de fornecer em cada caso a possibi-
lidade de estabilização das funções vitais antes 
de uma eventual transferência.
TRIAGEM PARA ACIONAR A 
EQUIPE DE TRAUMA
Na maioria dos centros a ativação da equipe 
de trauma é realizada mediante um procedi-
mento diferenciado em dois níveis para reduzir 
ao máximo a supertriagem (ativação da equi-
pe de trauma por motivos desnecessários), e 
igualmente prevenir a subestimação da triagem 
(falta de ativação da equipe de trauma em pa-
ciente com lesões graves):
(a) Presença de alterações dos parâmetros vi-
tais ou de lesões anatômicas graves comunica-
das a central de operações (na Itália - COEU). 
Nestes casos ocorre a ativação do código verme-
lho de triagem e é oportuno que se ative a equi-
pe de trauma completa e que o paciente seja 
avaliado diretamente na sala de reanimação.
(b) Presença dos indicadores de impacto 
violento ou de condições clínicas de risco 
aumentado. Em tais casos se ativa o código 
amarelo. Dependendo da interpretação das 
informações da cena do acidente pelo líder da 
equipe, o paciente pode ser avaliado pela equi-
pe de trauma completa na sala de reanimação, 
ou pode ser encaminhado a um pronto socorro 
geral para avaliação por um médico de urgên-
cia, que decidirá por ativar ou não a equipe de 
trauma e transferência do pacientepara a sala 
de reanimação. 
A seguir são indicados os parâmetros clínicos 
para ativação dos códigos vermelho e amarelo:
Código vermelho:
1. Parâmetros vitais
 ECG < 14 ou deterioração neurológica
 PAS < 90 (pelo menos uma medida no pré-
hospitalar)
 FR < 10 ou > 29 ou mecânica ventilatória 
que necessite intubação pré-hospitalar
2. Anatomia da lesão
 Ferimento penetrante de crânio, cervical, to-
rácico, abdome, extremidades proximais ao 
cotovelo e joelho
 Combinação de traumas ou queimaduras de 
2o ou 3o graus
 Suspeita clínica de instabilidade da pelve
 Suspeita de fratura de dois ou mais ossos 
longos proximais (fêmur ou úmero)
 Paralisia de um ou mais membros
 Amputação completa ou incompleta proxi-
mal ao punho ou ao tornozelo
Código amarelo*:
3. Impacto violento
 Ejeção do veículo
 Velocidade do veículo superior a 60 km/h
 Deformação externa superior a 50 cm
 Intrusão da lataria superior a 30 cm
 Capotamento do veículo
 Morte de um ocupante do mesmo veículo
 Colisão de automóvel, atropelamento de 
pedestre ou de ciclista com velocidade su-
perior a 10 km/h
 Colisão de automóvel, atropelamento de pe-
destre ou de ciclista com projeção à distân-
cia ou amputação traumática
 Queda de motocicleta em velocidade supe-
rior a 40 km/h
 Queda de motocicleta com projeção à dis-
tância, ou impacto secundário, ou amputa-
ção traumática
 Queda de altura superior a 6 m
 Remoção de ferragens com tempo superior 
a 20 min
4. Condições clínicas de risco aumentado:
 Idade < 12 anos ou > 70 anos
 Gravidez confi rmada ou presumida
 Doenças crônicas graves
 Terapia com anticoagulante
*O código amarelo está associado a um percentual 
de supertriagem em torno de 70%. Todavia, alguns 
indicadores de trauma violento como ejeção, morte 
de ocupante, intrusão de lataria, colisão, atrope-
lamento de pedestre ou ciclista, correspondem a 
lesões graves ou mortais mesmo que a aparência 
inicial seja de estabilidade.
6
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
PROCEDIMENTO DE 
ACIONAMENTO 
Uma chamada telefônica do COEU deve ser 
feita para um pronto socorro (esse telefonema 
deve ser direcionado para um enfermeiro co-
ordenador da área de emergência) aberto 24 
horas e que tenha disponíveis as informações 
relativas à disponibilidade de recursos da ins-
tituição: leitos para pacientes críticos, equipe 
de trauma, sala de reanimação, sala cirúrgica, 
leito de terapia intensiva (Tabela 1). A disponi-
bilidade de recursos deve ser automaticamen-
te confi rmada, tanto dos serviços disponíveis, 
quanto da jornada de trabalho (p. ex., troca de 
plantões) e se ocorreram alterações.
Em caso de chamada telefônica, o enfermeiro 
coordenador comunica ao líder de equipe, que 
toma a decisão de aceitar ou não o paciente, de 
acordo com os recursos disponíveis e a avalia-
ção dos critérios de triagem para estabelecer o 
percurso do paciente. No caso de aceitação do 
paciente e de ativação de equipe de trauma, os 
diversos componentes da equipe serão avisa-
dos e irão imediatamente para a sala de rea-
nimação. Os dados pré-hospitalares relativos 
ao paciente serão reportados pelo enfermeiro 
coordenador, já anotados em impresso próprio 
(Tabela 2). Este impresso estará disponível na 
sala de reanimação, de maneira que toda a 
equipe tenha acesso rápido para consulta. 
Tabela 1 Disponibilidade dos recursos de área crítica
Ocupado Disponível Previsão
Equipe de Trauma
Sala de Emergência
Sala cirúrgica 1
Sala cirúrgica 2
Sala cirúrgica neuro 
Terapia intensiva neuro (leitos)
Terapia intensiva geral (leitos)
Terapia semi-intensiva (leitos)
Tabela 2 Formulário de ativação da equipe de trauma
LIDER DE EQUIPE DE SERVIÇO: _____________________________________________________________________
Chamada: h __________ /min __________ 
Tempo previsto para chegada __________ min Transporte: helicóptero � ambulância �
Mecanismo _______________________________________________________________________________________
Idade aparente _________ Sexo: M � F �
Sinais Vitais: PA _______ / ______ FC _______ (periféricos pres ___ aus ___ ) ____ Freq. Resp. ______ RCP �
 MV ausente d � e �
 MV reduzido d � e �
 Consciência A V D I ECG _________
Terapias: Via aérea: cânula � TOT � TNT � CRICO �
 Toracocentese descompressiva d � e �
 Via venosa; periférica 1 � periférica 2 � central � intra-óssea �
 Infusões: __________________ ml
OBSERVAÇÕES ____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Chegada h _________ min _________ Local: _________
7
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
Enquanto se espera a chegada do paciente, a 
sala de reanimação é revisada. Oportunamente, 
o laboratório, a agência transfusional, o centro 
cirúrgico e outros profi ssionais são alertados 
(Algoritmo 1). De fato, se na admissão do pa-
ciente na sala de reanimação, tudo estiver ade-
quadamente preparado, se obtém uma sensível 
redução no tempo de atendimento primário. 
Algoritmo 1 Procedimentos para a ativação da equipe de trauma
sim
não
sim
sim sim
Enfermeira coordenadora 
Disponibilidade de leitos para paciente crítico
Bloco cirúrgico
Equipe de trauma e neurocirurgião
Triagem 
pré-hospitalar
CHAMADA a Central de 
Operações
O 
paciente tem 
lesões graves
Ativação da 
equipe de trauma
Ativação da equipe
de trauma
Continuar a 
avaliação no
pronto socorro
Líder de equipe: verifi ca as informações 
pré-hospitalares
Avaliação no
pronto socorro
Triagem
intra-hospitalar
Paciente 
com risco 
devido a lesão 
grave
Código 
amarelo
Código 
vermelho
não
não
não
8
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
Se os pacientes com traumas graves foram 
triados incorretamente no atendimento pré-
hospitalar, a triagem intra-hospitalar deve se-
guir os mesmos passos antes de determinar o 
código correto e assim desencadear o percurso 
adequado para o paciente.
ACEITAÇÃO DO PACIENTE, 
PERCURSO E PROCEDIMENTO 
NA SALA DE REANIMAÇÃO
A seguir são indicados os procedimentos re-
alizados na primeira fase do atendimento do 
trauma grave no que diz respeito à atuação da 
equipe de trauma segundo uma abordagem 
transversal, isto é, com os diversos elementos 
da equipe agindo simultaneamente para acele-
rar ao máximo a avaliação inicial. 
1. Os profi ssionais do pré-hospitalar acompa-
nham o paciente até a área interna da sala 
de reanimação e informam ao líder da equi-
pe de acordo com o sexo, idade, mecanismo 
de trauma, lesões anatômicas, sinais clínicos, 
terapia pré-hospitalar e evolução do pacien-
te durante o transporte. A fi cha de registro 
que acompanha o paciente deve ser deixada 
com o líder da equipe para posterior anexa-
ção nos registros do trauma (Algoritmo 2). A 
equipe que está na sala de reanimação deve 
estar devidamente paramentada com todos 
os equipamentos de proteção individual 
para receber o paciente (capotes descartá-
veis, gorro, máscara, luvas, propés).
2. O paciente é colocado no leito da sala de 
reanimação utilizando-se a prancha do pré-
hospitalar. Inicia-sea avaliação primária do 
paciente que termina com o rolamento em 
bloco para verifi cação do dorso. Durante o 
rolamento se retira a prancha do pré-hos-
pitalar, deixando o paciente na prancha da 
sala de reanimação, ainda sob imobiliza-
ção (preferencialmente o paciente é deixado 
sobre um colchonete de 4 cm para melhor 
conforto). Feito isto, iniciam-se os procedi-
mentos diagnósticos do exame primário na 
sala de reanimação e o exame secundário.
 Durante a avaliação primária, o ENF1 au-
xiliará o MVA com a via aérea, proteção 
cervical, avaliação e suporte ventilatório (in-
clusive toracocentese descompressiva com 
agulha ou pleurocath®), posicionamento de 
sonda gástrica e avaliação neurológica su-
mária. 
 O ENF2 libera o tórax das vestimentas e ini-
cia o monitoramento (ECG, oxímetro, pres-
são arterial não invasiva). E ainda auxilia o 
CT na avaliação da circulação, no controle da 
hemorragia externa, na punção de acessos 
venosos (periférico, femoral, safena, intra-
ósseo), inicia a infusão de líquidos, ajuda na 
toracotomia de emergência e solicita os he-
moderivados. Um AUX providencia o mate-
rial necessário para as duas equipes e ajuda 
na exposição de vestimentas.
 O rolamento em bloco é de responsabilidade 
do MVA que comanda a rotação da cabeça. 
Dois ENF e um AUX fazem a rotação do 
tronco e membros inferiores, enquanto o 
CT faz a avaliação do dorso e a exploração 
do períneo e do reto, complementando a re-
moção das vestimentas. Ao término da ava-
liação, o CT e o ENF2 posicionam o cateter 
vesical (sem esvaziar o coletor urinário e ve-
rifi cando o aspecto macroscópico da urina) 
e cobre o paciente com uma manta térmica. 
O líder da equipe coordena os procedimen-
tos durante a avaliação primária.
 Terminada a avaliação primária, os dois ENF 
substituem, se necessário, o material de imo-
bilização pré-hospitalar pelo do DE.
3. A seguir, o MVA e o ENF1 continuam no 
controle da via aérea e da respiração e as-
sumem o controle da circulação, regulando 
a infusão e transfusões. Neste meio tempo, 
o técnico em radiologia faz os exames es-
senciais (tórax AP e pelve AP) e o RAD (ou 
MVA, ou CT) faz o E-FAST (abdome, cavi-
dades pleurais e pericárdio). 
4. O CT e ENF2 fazem a avaliação secundá-
ria com a revisão dos dados de anamnese 
seguindo o esquema AMPLE do ATLS®. O 
exame objetivo da cabeça aos pés com a 
medicação e imobilização é realizado. Um 
AUX fi ca disponível para o envio dos pe-
didos, para repor material, receber os he-
moderivados e transporte. No fi m desses 
procedimentos, o MF (ou o CT) preenche a 
fi cha de atendimento com as informações 
do atendimento primário e secundário.
5. O CT, auxiliado pelo ENF2, faz a eventual 
paracentese (após a prévia cateterização gás-
trico e vesical), a drenagem torácica e a rea-
valiação da hemostasia das feridas. Ao mes-
mo tempo, o MVA pode auxiliar no controle 
da circulação posicionando eventualmente 
9
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
Algoritmo 2 Procedimento e percurso na sala de reanimação
Posicionamento do paciente na sala de reanimação 
utilizando a prancha do pré-hospitalar
CT, ENF2, AUX
– Avaliação da circulação, controle do sangramento, 
acessos venosos, toracotomia de emergência, prova 
cruzada, solicitação de sangue
MVA, ENF1, AUX
– Via aérea, ECG
– Proteção cervical
– Suporte respiratório, toracocentese descompressiva
– Sondagem gástrica
MVA, ENF1, ENF2, AUX, CT
– Rolamento em bloco
– Completa remoção de vestimentas
CT, ENF2
– Cateter vesical
– Manta térmica
– Substituição dos equipamentos de imobilização
TECRAD, RAD (ou MVA, CT)
– Rx tórax, Rx pelve
– E-FAST
Passagem do 
caso para o líder de equipe 
pelo pré-hospitalar
MVA, ENF1
– Assumem a avaliação da circulação, 
acessos central e arterial (monitoramento 
da resposta, infusão e transfusão)
CT, ENF2
– Exame da cabeça aos pés
– Drenagem torácia
– Paracentese
– Medicações e imobilização
– Compilar a cartela de trauma
MEDFORM (ou CT, MVA)
– Completar a documentação clínica
Líder da equipe
 – Seqüência diagnóstica
 – Prioridades de tratamento, destino para o paciente
– Reportar aos familiares
10
Capítulo 1 - Composição e acionamento da equipe de trauma
1
um cateter em veia central ou arterial. O 
líder da equipe supervisiona e coordena to-
dos os procedimentos.
 O MF (ou o CT ou o MVA) completa o pre-
enchimento da fi cha de atendimento com as 
hipóteses diagnósticas e os procedimentos.
6. O líder da equipe aventa as hipóteses diag-
nósticas, a seqüência de tratamento e o des-
tino do paciente, além de controlar a docu-
mentação e informa aos familiares.
Bibliografi a
 1. Committee on Trauma and Committee on 
Shock, Division of Medical Sciences, Natio nal 
Academy of Sciences/National Research Coun-
cil (US). Accidental death and disability: the 
neglected disease of modern society. Washing-
ton: National Academy of Sciences; 1966.
 2. Trunkey DD, Blaisdell FW: Epidemiology of 
trauma. Sci Am 1988;4:1-7.
 3. Taggi F, Pitidis A. Dall’epidemiologia degli inci-
denti stradali alla valutazione di effi cienza delle 
azioni di prevenzione. I dati socio-sanitari della 
Sicurezza Stradale, primo rapporto del progetto 
DATIS, Istituto Superiore di Sanità – Ministero 
dei Lavori Pubblici, Roma, 2000.
 4. Chiara O, Cimbanassi S. Organized Trauma 
Care: does volume matter and do trauma cen-
ters save lives? Curr Opinion Critical Care 2003; 
9:510-514.
 5. Peng R, Chang C, Gilmore D, Bongard F. Epide-
miology of immediate and early trauma deaths 
at an urban level I trauma center. Am Surg 
1998;64:950-954.
 6. Meislin H. The modal distribution of time to 
death is a function of patient demographics 
and regional resources. J Trauma 1997;43: 
433-439.
 7. Sauaia A, Moore F, Moore EE, et al. Epidemiol-
ogy of trauma deaths: a reassessment. J/ Trauma 
1995;38:185-193.
 8. Kreis DJ, Plasencia G, Augenstein D, et al. Pre-
ventable trauma deaths: Dade County, Florida. 
J Trauma 1986;26:649-653.
 9. Cayten CG, Stahe WN, Agarwal N, Murphy 
JG. Analysis of preventable deaths by injury 
among 13500 trauma admissions. Ann Surg 
1991;214:510-521.
 10. Yates DW, Woodford M, Hollis S. Preliminary 
analysis of the care of injured patients in 33 
British Hospitals: fi rst report of the United 
Kingdom major trauma outcome study. BMJ 
1992;305:737-740.
 11. Gorman DF, Teanby DN, Sinha MP, et al. Pre-
ventable death among major trauma patients in 
Mersey region, northways and the Isle of Man. 
Injury 1996:189-192.
 12. Shackford SR, Hollingsworth-Fridlund P, McAr -
dle M, Eastman AB. Assuring quality in a Trau ma 
System. The medical audit Committee: Com-
position, Cost and Results. J Trauma 1987;27: 
866-873.
 13. Shackford SR, Hollingsworth-Fridlung P, Coop-
er GF, et al. The effect of regionalization upon 
the quality of trauma care as assessed by con-
current audit before and after institution of a 
trauma system: a preliminary report. J Trauma 
1986;26:812-820.
 14. Cales RH. Trauma mortality in Orange County: 
the effect of implementation of a regional trau-
ma system. Ann Emerg Med 1984;13:1-10.
 15. Chiara O, Scott JD, Cimbanassi S, et al. Trauma 
deaths in an Italian urban area: an audit of pre-
hospital and in-hospital trauma care. Injury 
2002;33:553-562.
 16. Stocchetti N, Pagliarini G, Gennari M, et al. 
Trauma care in Italy: evidence of in-hospital 
preventable deaths. J Trauma 1994;36:401-405.
 17. American College of Surgeons Committee on 
Trauma. Resources for Optimal Care of the In-
jured Patient: 1999. Chicago, ACS Publication, 
1998.
 18. MacKenzie EJ, Hoyt DB, Sacra JC, et al. Nation-
al inventory of hospital trauma centers. JAMA 
2003;289:1515-1522.
 19. Mullins RJ. A historical perspective of trauma 
system development in the United States. JTrauma 1999;47:S8-S14.
 20. Mann NC, Mullins RJ, MacKenzie EJ, et al. Sys-
tematic review of published evidence regarding 
trauma system effectiveness. J Trauma 1999; 
47:S25-S33. 
 21. Moore EE. Trauma systems, trauma centers and 
trauma surgeons: Opportunity in managed 
competition. J Trauma 1995;39:1-11.

Continue navegando