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INTRODUÇÃO As fraturas complexas da pelve representam de 3%-8% das lesões esqueléticas no paciente com trauma grave1. Em 80% dos casos são causadas por acidente de trânsito e nos 20% restantes por que- da de altura. As fraturas do anel pélvico represen- tam um indicador de impacto de alta energia e são comumente associadas a lesões em outros sítios. O traumatizado com uma fratura de pelve requer uma avaliação adequada, segundo os princípios de atendimento para o trauma grave2. A pelve é uma estrutura osteoligamentar de conexão entre a co- luna e os membros inferiores. É constituída pela união do sacro com os dois ossos inominados, os quais são constituídos pela fusão de três distintos núcleos de ossifi cação: ílio, ísquio e púbis. A es- trutura é reforçada pela presença dos ligamentos sacro-ilíacos, posteriormente; ligamentos sacro- espinhosos e sacro-tuberosos, inferiormente; além da sínfese púbica, anteriormente. A integridade dos componentes osteoligamen- tares é crucial para a estabilidade do anel pélvi- co. Esses ligamentos estão em contato direto com a rede vascular hipogástrica. O trauma da pelve pode lesar esses ligamentos, causando hemorragia retroperitoneal. A lesão do anel pélvico, com instabilidade bio- mecânica por ruptura dos ligamentos, está freqüen- temente associada à instabilidade hemodinâmica. O achado de instabilidade no anel pélvico, num paciente com comprometimento hemodinâmico, pode signifi car a presença de hemorragia de ori- gem retroperitoneal, o que deve orientar os proce- dimentos diagnósticos e terapêuticos. CLASSIFICAÇÃO São duas as classifi cações de fratura de pelve atual- mente utilizadas: a classifi cação segundo Tile, empre- 99 Trauma de pelve gada especialmente pelos ortopedistas para defi nir a necessidade de estabilização defi nitiva; e a clas- sifi cação de Young e Burgess3,4, baseada nos vetores de força aplicados à pelve, utilizada, sobretudo, no ambiente de pronto socorro, para estabelecer a se- qüência de prioridades diagnósticas e terapêuticas (Tabelas 1 e 2). As fraturas por compressão ântero-posterior (CAP ou Tile B1) são causadas freqüentemente por acidentes com veículo automotor e são devidas ao impacto anterior. As lesões com mecanismo de compressão lateral (CL ou Tile B2) ocorrem devi- do a atropelamento de pedestres ou acidentes com veículo automotor, com impacto lateral. As fraturas com vetor vertical ou vertical shear (VS ou Tile C) são conseqüência, na maioria das vezes, de que- das de grandes alturas ou por acidente com veículo automotor, nos quais a vítima se encontra com os membros inferiores em extensão no momento do impacto. As fraturas CAP II e III, CL II e III e VS são con- sideradas instáveis, e como tal, são associadas a possível hemorragia retroperitoneal. DIAGNÓSTICO O objetivo principal durante a avaliação da fase inicial de um paciente com trauma complexo da pelve é o controle da hemorragia, além do reco- nhecimento das lesões extrapélvicas associadas e potencialmente letais. Na sala de emergência, as avaliações primária e secundária devem ser condu- zidas segundo a seqüência ABCDE, ao término da qual é determinada a estabilidade hemodinâmica do paciente. O exame objetivo da pelve tem como fi nalidade reconhecer os sinais diretos e indiretos de fratura do anel pélvico que inclui assimetria e rotação dos membros inferiores e diástase da sín- fese púbica no momento do exame. A presença de 100 Capítulo 8 - Trauma de pelve 8 hematoma perineal, no escroto e na vulva, e a elevação da próstata ao toque retal podem in- dicar lesão uretral. A fratura exposta da pelve pode ser diag- nosticada através da presença de sangue na exploração digital do reto ou da vagina. A existência de défi cit neurológico pode ser indicativa de lesão do plexo lombosacral. Na presença de instabilidade pélvica é oportuno posicionar um pelvic binder (se não foi realizado previamente) de maneira a conter a pelve e permitir a realização do rolamento lateral do doente para a investigação do dorso. Durante o rolamento é possível verifi car me- lhor a junção sacro-ilíaca, além de hematomas no fl anco e glúteo. O cateter vesical é posicionado após a ex- clusão de sinais suspeitos de lesão uretral. Na presença de tais sinais e em caso de difi culda- de de introdução do cateter, deve-se recorrer à propedêutica específi ca para o diagnóstico da integridade da uretra5. Deve-se, ainda, realizar os exames de primeiro nível, que são funda- mentais para o manejo das lesões pélvicas: E- FAST e raios-X de pelve. a) E-FAST: é realizado no caso de instabilidade hemodinâmica para diferenciar um sangra- mento originário de lesões em órgãos intra- peritoneais das hemorragias provocadas por fratura pélvica. No paciente hemodinamicamente instável e com fratura de pelve, o hemoperitôneo cau- sado por lesão intra-abdominal requer trata- mento cirúrgico de urgência. O hemoperitôneo é diagnosticado em duas ou mais janelas eco- gráfi cas, que evidenciam líquido com espessu- ra superior a 1 cm. Em tais casos está indicada a laparotomia de urgência, mantendo o pelvic binder posicionado e não estendendo a incisão até o púbis. Quando não se dispõe de ecografi a ou esta não é confi ável, realiza-se o lavado pe- ritoneal diagnóstico (LPD) com técnica aberta supra-umbilical. O LPD é considerado positivo para lesão intraperitoneal e indicativo de trata- mento cirúrgico de urgência, se for aspirado 10 mL ou mais de sangue. b) Radiografi a de pelve: a realização da radio- grafi a de pelve na sala de emergência, em projeção ântero-posterior, fornece inúmeras informações indispensáveis para o correto tra- tamento: Tabela 1 Classifi cação de Tile TIPO A (lesões estáveis) A1: avulsão do osso inominado A2: fratura estável da asa do ilíaco ou fratura do anel com mínimo deslocamento A3: fratura transversal do sacro e do cóccix TIPO B (lesões parcialmente instáveis, instabilida- de rotacional) B1: fratura “livro aberto” (CAP segundo Young) B2: fratura “livro fechado” (CL segundo Young) B3: fratura bilateral do tipo B TIPO C (lesões altamente instáveis, instabilidade rotacional e vertical) C1: unilateral (VS segundo Young) C2: bilateral com um lado do tipo B (VS + CL segundo Young) C3: bilateral de vetor vertical COMPRESSÃO LATERAL (CL) Tipo I: vetor lateral posterior. Fratura do sacro e do púbis homolateral. Estável. Tipo II: vetor lateral anterior. Lesão da estrutura osteoligamentar posterior. Instabilidade rotacional. Tipo III: destruição completa dos componentes ligamentares sacro-espinhosos e sacro-tuberosos, diástase da junção sacro-ilíaca e rotação da hemipelve contralateral. Instabilidade rotacional e vertical. COMPRESSÃO ÂNTERO-POSTERIOR (CAP) Tipo I: diástase da sínfi se púbica < 2,5 cm e integridade dos ligamentos posteriores. Estável. Tipo II: diástase da sínfi se púbica > 2,5 cm com lesão do ligamento sacro-espinhoso e sacro-tuberoso e abertura anterior da junção sacro-ilíaca. Instabilidade rotacional. Tipo III: destruição completa dos componentes ligamentares anteriores e posteriores. Instabilidade rotacio- nal e vertical. VERTICAL SHEAR (VS) Destruição dos ligamentos anteriores e posteriores com desinserção e elevação de uma hemipelve em relação ao sacro. Instabilidade rotacional e vertical. Tabela 2 Classifi cação de Young e Burgess 101 Capítulo 8 - Trauma de pelve 8 indica, além da direção do vetor de força, o padrão da fratura e o risco de potencial lesão genitourinária associada; indica, em função do padrão da fratura, o grau de instabilidade biomecânica e o risco de instabilidade hemodinâmica por hemor- ragia retroperitoneal; indica, em função do tipo de fratura, as ma- nobras mais adequadas para obter a redu- ção da instabilidade biomecânicae, con- seqüentemente, diminuir a hemorragia retroperitoneal. A CAP, caracterizada por linha de fratura vertical dos ramos púbicos, é facilmente iden- tifi cável pela radiografi a de pelve de screening e pelo aspecto geral do alargamento do anel pélvico, sendo associada a um signifi cativo au- mento do volume retroperitoneal. A diástase do púbis maior que 2,5 cm sugere lesão de es- truturas ligamentares sacro-ilíacas. Na CL, caracterizada por linha de fratura horizontal dos ramos púbicos, a radiografi a de- monstra a redução do anel pélvico com uma hemipelve rodada medialmente. A sobreposi- ção dos ramos isqueo-púbicos fraturados pode estar associada a lesão urogenital5. O volume retroperitoneal está reduzido. Na VS ocorre uma destruição completa da junção sacro-ilíaca com deslocamento, no sentido crânio-caudal, de uma hemipelve em relação à outra. A identifi cação radiológica é basea da na observação do desalinhamento de uma crista ilíaca em relação à outra, poden- do estar associadas às fraturas dos processos transversos das últimas vértebras lombares. O volume retroperitoneal é maior devido ao au- mento do espaço vertical. ESTABILIZAÇÃO PÉLVICA DE URGÊNCIA Na presença de fratura complexa da pelve ocorre hemorragia de origem venosa ou arterial, cons- tituindo um risco à vida do paciente. O padrão de fratura instável causa o aumento do volume pélvico (CAP II-III e VS) e favorece a criação de um espaço virtual, no qual o sangramento pode ser incontrolável. As manobras de estabilização do anel pélvico, na sala de emergência, propi- ciam a redução do volume da pelve, o realinha- mento dos segmentos fraturados e o tampona- mento do sangramento ósseo6,7 (Tabela 3). Tais manobras devem ser efetuadas na sala de emergência com a fi nalidade de controlar a circulação, não devendo ser postergadas. A manobra de redução pélvica deve ser realizada com prudência, pois pode trazer risco se hou- ver a redução excessiva do volume pélvico an- tes do conhecimento da morfologia da fratura, além de, eventualmente, promover o desloca- mento de fragmentos ósseos e provocar danos secundários. Se a pelve não foi imobilizada na admissão do paciente (ou no pré-hospitalar), a manobra de redução deve ser realizada, pre- ferencialmente, por um ortopedista, após ter identifi cado a fratura na radiografi a de pelve. Lesão CAP. Na presença de uma abertura signifi cativa da sínfese (> 2,5 cm) a rotação in- terna dos membros inferiores, obtida através da aposição dos joelhos ou do uso do pelvic bin- der, é sufi ciente para reduzir a diástase, se as estruturas ligamentares posteriores estiverem parcialmente íntegras (CAP I-II). Se a junção sacro-ilíaca está completamente aberta (CAP III) é melhor posicionar um clampe em C ou o pelvic binder com suporte pneumático posterior Tipo de fratura Manobra de redução Pelvic binder ou FEA Clampe em C ou pelvic binder com compressão posterior ou FEP Risco de sangramento CAP I-II Compressão EIAS Sim + joelhos atados Não Moderado CAP III Compressão LL Não Sim Elevado CL Nenhuma Somente contenção Não Moderado VS Tração da elevação + compressão LL dos glúteos Não Sim Elevado EIAS, espinha ilíaca ântero-superior; LL látero-lateral. Tabela 3 Estabilização na urgência de fraturas complexas da pelve 102 Capítulo 8 - Trauma de pelve 8 para favorecer a redução do volume pélvico posteriormente. O clampe em C pode ser po- sicionado na sala de reanimação. A sua aplica- ção deve ser feita na porção posterior da asa do ilíaco, sendo a integridade deste osso essencial para o seu posicionamento. Este dispositivo não é universalmente aceito, pelo potencial de complicação proveniente da sua aplicação, re- presentado pelas lesões iatrogênicas das estru- turas neuro-vasculares glúteas e das lesões de raízes nervosas devido à excessiva compressão na presença de fratura do sacro. A estabilização de urgência da CAP pode também ser realizada com a aplicação de fi xa- dores externos anteriores (FEA) nos tipos I-II e fi xadores externos posteriores (FEP) no tipo III. Estes fi xadores contribuem para o controle da hemorragia, podendo representar a escolha terapêutica defi nitiva, sobretudo, na presença de lesões associadas, que contra-indicam pro- cedimentos ortopédicos mais complexos. Lesão CL. A redução do volume pélvico é contra-indicada nas fraturas CL, haja vista que, neste caso, o volume pélvico já está reduzido devido ao mecanismo de lesão e o ulterior fe- chamento pode provocar lesão visceral, espe- cialmente no trato genitourinário. Isto ocorre devido à sobreposição de fragmentos ósseos. Neste tipo de fratura é indicado o posiciona- mento de uma faixa pélvica sem tensão, so- mente com a intenção de conter e imobilizar, para evitar o deslocamento de fragmentos, du- rante a manipulação do paciente. Lesão VS. Deve-se efetuar o fechamento do anel pélvico com urgência, reduzindo e ali- nhando a hemipelve deslocada. Este resultado é obtido aplicando-se uma tração transesque- lética supracondiliana femoral ou proximal ao tubérculo tibial do membro inferior homolate- ral à hemipelve deslocada (na emergência po- de-se simplesmente tracionar manualmente). O pelvic binder pode também ser aplicado juntamente com saco de areia, coxim ou dispo- sitivo pneumático, em correspondência a arti- culação sacro-ilíaca, obtendo de tal modo uma compressão posterior (na presença de descon- tinuidade sacro-ilíaca, somente o fechamento anterior pode provocar o aumento da fratura posterior e, conseqüentemente, sangramento). Dessa maneira, graças à disposição anatômica da pelve, obtém-se o tamponamento de san- gramento de origem venosa. Alternativamente ao pelvic binder, após a redução vertical, pode ser posicionado um fi xador externo posterior (FEP) ou clampe em C na região da articulação sacro- ilíaca, com a limitação já previamente descrita. PROTOCOLO DIAGNÓSTICO TERAPÊUTICO O diagnóstico e o tratamento nos pacientes com trauma complexo da pelve estão subordi- nados ao grau de instabilidade biomecânica da fratura pélvica e do comprometimento hemo- dinâmico do paciente (Algoritmo 1). Depois de iniciada a avaliação, segundo a seqüência AB- CDE, a colocação da faixa de contenção pélvica e a realização de radiografi a ântero-posterior do tórax e da pelve, faz-se a identifi cação do padrão de fratura. Nos casos de CAP tipo II-III e VS, antes de realizar qualquer outra medida, é indicada a redução da pelve com pelvic binder ou o posicionamento do clampe em C. Tal pre- caução não é indicada na presença de fratura que não aumenta o volume do anel pélvico, representada pela compressão lateral. Poste- riormente realiza-se o E-FAST para a avaliação de um provável hemoperitôneo em função do qual se estabelece o seguinte percurso: 1. Hemoperitôneo por lesão intra-abdominal. Deve ser realizada a laparotomia exploradora, man- tendo o pelvic binder, para efetuar a reparação dos órgãos abdominais. Durante o peroperá torio, verifi cada a presença de hematoma retroperi- toneal e instabilidade persistente, é indicado o packing dos espaços pré-sacral e paravesical com a colocação de compressas8. As compressas serão removidas ou trocadas após 48 horas do trauma. Ao fi m da laparoto- mia, se o padrão de fratura requerer fi xação, é indicada a aplicação de FEA ou FEP. Se com tais manobras não se consegue a estabilidade hemodinâmica, é útil realizar uma tomografi a com contraste para diagnosticar sangramen- to ativo arterial, que pode ser embolizado por angiografi a. Neste caso, são utilizadas espirais metálicas ou partículas de material sintético. 2. Ecografi a negativa ou hemoperitôneo não signifi - cativo para sangramento intra-abdominal. É opor- tuno procurar obter o máximo de estabilização hemodinâmicacom as manobras de redução e realizar uma TC com contraste. Este exame pode evidenciar, eventualmente, extravasamento de contraste, indicativo de sangramento ativo, 103 Capítulo 8 - Trauma de pelve 8 determinando se de origem arterial ou venosa. Se o extravasamento de sangue for de origem arterial (20%-30% dos casos) é indicado a an- gioembolização seguida de posicionamento de FEA ou FEP em função do tipo de fratura. Nos casos de sangramento venoso (70%-80% dos casos) realiza-se somente o posicionamento de fi xadores para obter a redução do volume pélvi- co e o tamponamento do sangramento. A TC com contraste permite também a verifi - cação de sangramento ativo oriundo de órgãos intra-abdominais, passíveis de angioemboliza- ção. Não obstante a correta aplicação dos pro- cedimentos citados, se o paciente permanece hemodinamicamente instável ou mesmo em condição gravíssima, deve ser considerada a possibilidade do packing pélvico extraperitoneal (assim como na impossibilidade de obter TC ou Não Sim Algoritmo 1 Protocolo diagnóstico terapêutico nas lesões complexas da pelve FEA fi xação externa anterior; FEP fi xação externa posterior; LPD lavado peritoneal diagnóstico. Sim Sim Sim Não Não Reanimação segundo ABCDE Rx em AP de tórax e pelve com evidência de fratura instável Parar – Pelvic binder para compressão anterior na CAP II – Pelvic binder para contenção na CL – Clampe em C ou Pelvic binder com dispositivo para compressão posterior nas CAP III e VS Laparotomia exploradora e packing pélvico, se hematoma retroperitoneal FEA ou FEP, se indicados TC com contraste e angiografi a Packing pélvico extraperitoneal TC com contraste Angiografi a FEA ou FEP, se indicados Sangramento arterial? Instabilidade hemodinâmica persistente E-FAST ou LPD positivo? Paciente agônico? Não 104 Capítulo 8 - Trauma de pelve 8 angiografi a). Tal manobra é realizada median- te uma incisão infra-umbilical ou suprapúbica transversal9, acessando o espaço subfascial de Retzius e posicionando três compressas late- ralmente à bexiga para reduzir o sangramento da região hipogástrica. O protocolo descrito10 prevê a realização de uma tomografi a antes da angiografi a. A razão de tal abordagem consiste no fato de que o sangramento pélvico ocorre somente em 20%- 30% dos casos devido à lesão arterial, nos quais o uso indiscriminado da angiografi a signifi cará um número elevado de exames inúteis. A an- giografi a antes da tomografi a encontra uma justifi cativa somente no caso de não disponibi- lidade imediata da TC ou logística desfavorável à realização do exame. Tratamento de lesões associadas e das fraturas expostas Na presença de uma lesão genitourinária, fre- qüente nos casos de fratura com CL, o mo- mento do tratamento varia em função do tipo da lesão e da estabilidade hemodinâmica. a) As lesões da porção extraperitoneal da be- xiga podem ser manejadas com o simples posicionamento de cateter vesical, manten- do-o por pelo menos 21 dias. b) A lesão da porção intraperitoneal da bexiga requer a indicação de intervenção para re- paração. Esta última ocorre no contexto de uma eventual laparotomia por instabilidade hemodinâmica ou mesmo posteriormente ao tratamento de outras prioridades. c) As lesões uretrais podem ser incompletas algumas vezes e, neste caso, a passagem de um cateter promove a cicatrização espontâ- nea. Na maior parte dos casos requer uma cistostomia suprapúbica de emergência, com posterior reparação endoscópica ou ci- rúrgica, assim que vencida a fase aguda. No caso de fratura pélvica com lesão do perí- neo é oportuno associar a manobra de redução ao tamponamento das feridas, a fi m de reduzir o sangramento, além de ser realizada a deriva- ção do trânsito intestinal, através de colosto- mia com a lavagem distal e proximal do cólon, para reduzir a possibilidade de contaminação da região. A colostomia deve ser confeccionada no cólon transverso, longe de possíveis hema- tomas retroperitoneais, e o mais alto possível para não interferir na reconstrução do trânsito. Osteossíntese defi nitiva A estabilização defi nitiva, mediante redução e osteossíntese interna da fratura de pelve, quando indicada, deve ser realizada a longo prazo, uma vez resolvidos todos os outros pro- blemas. Se possível, deve ser realizada por vol- ta de 1 semana após o trauma, especialmente nas formas mais complexas de fratura, que re- querem uma abordagem anterior ou seqüen- cial anterior e posterior, para evitar a excessiva consolidação dos focos de fratura, o que resul- ta num resultado pior no pós-operatório. Na possibilidade de sangramento peroperatório deve-se fazer angioembolização profi lática no sítio cirúrgico. Bibliografi a 1. Giannoudis PV, Pape HC. Damage control or- thopaedics in unstable pelvic ring injuries. In- jury 2004; 35:671-677. 2. Rommens PM. Pelvic ring injuries: a chal- lenge for the trauma surgeon. Acta Chir Belg 1996;96:78-84. 3. Young JWR, Burgess AR. Radiological manage- ment of pelvic ring fractures. Baltimore. 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