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INTRODUÇÃO As lesões complexas das extremidades são fre- qüentes nos pacientes com trauma grave e podem causar vários problemas no atendimento conco- mitante das lesões esqueléticas, vasculares, nervo- sas e de partes moles. As lesões proximais são as mais perigosas para a sobrevivência por causa da freqüente associação a lesões do tronco e devido a hemorragia, nos casos de lesões vasculares, além do risco de isquemia para o restante do membro. As zonas de maior risco são: na extremidade supe- rior, a fossa axilar e a fossa antecubital; nos mem- bros inferiores, a região inguinal, o canal de Hunter e a fossa poplítea. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA A avaliação primária do paciente com trauma de extremidades segue a seqüência ABCDE, anterior- mente exposta. Cabe ao ortopedista, avisado pre- viamente da chegada do paciente, após o trauma e como integrante da equipe, a avaliação e o tra- tamento das lesões. Durante as manobras de rea- nimação, particular atenção deve ser dispensada ao estancamento da hemorragia, que pode ser abun- dante nos cotos de fratura ou devido a eventual lesão associada. A hemorragia deve ser contida por compressão manual direta, no ponto de sangra- mento, evitando a utilização às cegas de clampes vasculares e reservando o uso de torniquete ape- nas para os cotos de amputação. Em tais casos, o dispositivo deve ser insufl ado a uma pressão não superior a 250 mmHg. Se o torniquete for aplica- do na cena do acidente, deve ser mantido no lugar, durante a primeira fase de reanimação. Quando a reparação da volemia for conseguida, a ponto de permitir que o paciente suporte o efeito hipotensivo da emissão dos produtos da isquemia, na circula- ção sistêmica, o torniquete poderá ser removido. 125 Trauma complexo das extremidades AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA A coleta atenta de dados da anamnese pode for- necer elementos sugestivos para eventuais lesões esqueléticas, mesmo na ausência de sinais diretos de trauma (p. ex., fratura tíbio-társica ou acetabu- lar, em caso de precipitação, e, lesão da cintura es- capular, para as lesões dos membros superiores em hiperextensão). � O paciente deve ser inspecionado, observando- se a existência de abrasão, equimose, hematoma, solução de continuidade da pele, deformidade e assimetria dos membros. Deve ser avaliada a adequação da imobilização efetuada no local do trauma. Cada segmento esquelético, potencial- mente lesado, deve ser mantido alinhado com o uso de talas. No caso de luxação ou fratura-luxa- ção, com resistência ao alinhamento, a articula- ção é imobilizada na posição na qual o membro se encontra, após uma tentativa de redução. De- ve-se ter em mente que uma luxação pode com- prometer seriamente a vascularização, por isso, a redução do membro deve ser realizada o mais rápido possível. � Devem ser observados os sinais de potencial comprometimento vascular (palidez, cianose e en- chimento capilar). Como regra geral, em cada pa- ciente com trauma de extremidade deve ser suspei- tada a lesão vásculo-nervosa, até a exclusão desta, através das avaliações clínica e complementar. � Os pulsos centrais e periféricos são pesquisados antes e depois de eventuais manobras de redução e imobilização. O pulso periférico pode estar pre- sente mesmo após lesão vascular signifi cativa (p. ex., lesão da artéria poplítea, após luxação posterior do joelho). Nos casos de ausência ou hiposfi gmia dos pulsos é necessário assegurar que a perfusão sistêmica esteja adequada. Na presença de normo- volemia, a hipoperfusão das extremidades indica a 126 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 necessidade de um aprofundamento diagnós- tico para a avaliação da integridade vascular. � A avaliação da integridade da estrutura ner- vosa deve ser realizada examinando-se even- tuais défi cits sensitivos e/ou motores, antes e depois das manobras de redução. � Devem ser avaliados o grau de contamina- ção das partes moles e a necessidade de des- bridamento. � É necessário pesquisar o grau de exposição da fratura. Na presença de solução de conti- nuidade da pele, mínima ou puntiforme, na proximidade do foco de fratura, esta deve ser considerada exposta, até avaliação ortopédica. � As articulações devem ser examinadas a procura de luxação ou ferimento exposto. � Deve sempre ser considerado o risco de de- senvolvimento da síndrome compartimental no membro lesado. Avaliação da integridade vascular Os sinais clínicos de potencial comprometi- mento vascular se dividem em “fortemente indi- cativos” (hard signs) e “moderadamente signifi - cativos” (soft signs) (Tabela 1). Os primeiros são altamente preditivos de lesão vascular arterial e da necessidade de intervenção cirúrgica. No exame clínico pode ser considerada a utilização do índice pressórico, como o índice de pressão arterial (IPA), calculado pela divisão entre o va- lor da pressão arterial sistólica mensurada no membro lesado e no contralateral. Um valor de IPA < 0,9 possui uma sensibilidade de 95% e uma especifi cidade de 97% na identifi cação de lesão arterial1. O limite em tal mensuração é a sua potencial normalidade em caso de le- são profunda (artéria femoral profunda) ou de trauma penetrante na região inguinal2. Em geral, o paciente com suspeita de lesão vascular deve ser dividido em três grupos: 1. Paciente com evidente ausência de pulsos, is- quemia e sangramento ativo ou hematoma pul- sante. Não necessita de qualquer exame com- plementar. A indicação cirúrgica é absoluta. 2. Paciente com sinais fortemente indicativos de pulsos palpáveis, sem evidência de isque- mia. Em tal caso é indispensável o aprofunda- mento diagnóstico. O exame de escolha é a ar- teriografi a. O doppler pode ser utilizado como exame de primeiro nível, na sala de emergên- cia, mas a presença de pulso pode se dar em razão da circulação colateral e não exclui a le- são vascular. 3. Pacientes com sinais moderadamente indi- cativos e portadores de lesão esquelética fre- qüentemente associada a dano vascular (p. ex., luxação posterior do joelho). O aprofunda- mento diagnóstico pode ser efetuado através do doppler colorido, arteriografi a, TC com con- traste ou limitando-se a observação clínica e a freqüente reavaliação das condições do mem- bro. Se ocorrer o diagnóstico de uma lesão vas- cular através do doppler, deve ser realizado o estudo angiográfi co também com a fi nalidade terapêutica. Avaliação radiológica O estudo radiológico da extremidade constitui, normalmente, o último passo da avaliação na sala de emergência. No caso de instabilidade hemodinâmica, as manobras de reanimação não devem ser retardadas ou interrompidas para a execução das radiografi as dos membros, que são postergadas até a adequada estabilização. As lesões de ossos longos proximais po- dem condicionar perda hemática volumosa (até 1.500 mL para um fêmur e 700 mL para um úmero). As imagens devem ser realizadas em duas projeções ortogonais (AP e L) com- preendendo inteiramente o segmento esquelé- tico lesado e contendo a articulação proximal e distal; desta maneira, lesões não evidenciáveis numa única projeção podem ser diagnostica- das (p. ex., luxação posterior do ombro). Even- Sinais fortemente indicativos Sinais moderadamente indicativos Hemorragia in loco Ausência de pulso e presença de isquemia Hematoma em expansão ou pulsátil Sopro e frêmito Índice de pressão arterial (IPA) < 0,90 Lesão de estruturas nervosas adjacentes a estruturas vasculares Hematoma de média dimensão Hipotensão Perda sanguínea abundante in loco Trajeto próximo dos vasos (2,5 cm) Tabela 1 Sinais de lesão vascular 127 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 tuais aprofundamentos diagnósticos podem requerer projeções oblíquas ou exames pós- redução. Em caso de fratura articular, o exame maisadequado é a TC da articulação. Portanto, no paciente hemodinamicamente estável que deve ser submetido à tomografi a por outras lesões, na suspeita de lesão articular, deve ser realizada a TC da articulação no mesmo mo- mento. A arteriografi a é o padrão ouro para o diagnóstico das lesões vasculares dos mem- bros, entretanto, é um procedimento invasivo. O exame normalmente é bem tolerado, com 2%-4% de índice de complicação, na maioria das vezes devido a hematomas na região in- guinal. Complicações maiores como pseudo- aneurisma, fístula artério-venosa e, obstrução por êmbolo não são freqüentes3. Atualmente, com dispositivos mais modernos de tomografi a computadorizada, com 16 a 128 canais, é possível a realização de angio TC que, graças a rapidez e a facilidade de execução, além de ser não invasiva, tem encontrado mais espaço para o estudo da vasculatura periférica4. PARTICULARIDADES Fratura exposta São defi nidas como fraturas expostas aquelas nas quais coexiste solução de continuidade entre a pele e as estruturas ósseas, expondo o osso ao ambiente externo. O risco de compli- cação séptica é extremamente elevado em tais casos. Cerca de 60%-70% das feridas expos- tas têm exames de cultura positivos, seja por germes gram positivo ou gram negativo. Estes últimos são responsáveis por cerca de 50% das complicações sépticas tardias. São classifi cadas em função da extensão da lesão nas partes moles, do grau de contami- nação e do tipo de fratura, segundo Gustilo e Anderson5 (Tabela 2). Na presença de fratura exposta, a avaliação ortopédica deve ser o mais precoce possível. As radiografi as devem ser realizadas nas duas projeções ortogonais. Os achados radiográfi cos importantes são: sede e morfologia da fratura; presença de fragmentos cominutivos, com risco de deslocamento secundário; distância entre os fragmentos ósseos, que se ampla, é sinal potencial de desvasculariza- ção do membro; perda de substância óssea; presença de gás nas partes moles. É necessário realizar: abundante irrigação da ferida, com solução salina sob pressão, para remover a maior quantidade possível de contaminação; administrar antibiótico (aminoglicosídeo as - so ciado à cefalosporina de segunda ge- ração); fazer a profi laxia antitetânica, se o paciente não estiver adequadamente protegido; se a condição do paciente permitir, realizar o desbridamento do membro, no bloco cirúr- gico, dentro de 6-8 horas, evitando ao máxi- mo a manipulação do foco de exposição na sala de emergência. Não está indicado o fechamento da ferida por primeira intenção ao fi m da primeira in- tervenção para desbridamento. É oportuno, portanto, programar uma revisão do membro dentro de 36-48 horas para otimizar a remo- Tipo Defi nição I Fratura exposta com solução de continuidade não contaminada < 1cm de extensão II Fratura exposta com laceração da pele > 1 cm e sem extenso sofrimento de partes moles, retalho ou avulsão III Fratura exposta com extensa laceração das partes moles ou avulsão, fratura exposta segmentar, amputação traumática, ferida por arma de fogo, fratura exposta por acidente industrial, fratura exposta com necessidade de reparação vascular e fratura exposta há mais de 8 horas IIIa Adequada cobertura do periósteo do segmento fraturado, não obstante extenso dano das partes moles, trauma de alta energia independentemente das dimensões da ferida IIIb Extensa perda de substância, com signifi cativa lesão óssea associada à contaminação maciça IIIc Associação à lesão vascular com necessidade de correção cirúrgica, independentemente do grau de lesão das partes moles Tabela 2 Classifi cação de fratura exposta segundo Gustilo & Anderson 128 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 ção dos tecidos desvitalizados, planejando su- cessivos desbridamentos a cada 2-4 dias até a possível realização de enxerto ou retalho pedi- culado para cobrir a ferida. O tempo e a modalidade da osteossíntese nas fraturas expostas são defi nidos em função do grau. Para as fraturas expostas de grau I é possível efetuar a osteossíntese defi nitiva, através da fi xação interna, imediatamente após o ade- quado desbridamento, sendo o risco para infecção inferior a 2%. Para as fraturas de grau II a osteossíntese in- terna está indicada em casos selecionados, com mínima perda de substância e adequa- da possibilidade de cobertura das partes moles. Alternativamente, é realizada a fi xa- ção externa. As fraturas de grau III, devido a extensa perda de substância e do grau de contami- nação, impõem sempre o recurso da fi xação externa. O risco de infecção em tais casos é de 10% a 50%. Esmagamento de extremidade/ destruição maciça do membro Na presença de destruição maciça do membro, envolvendo as partes moles, as estruturas vás- culo-nervosas e o segmento esquelético, em ge- ral, devido ao trauma fechado, esmagamento e amputação traumática, a estabilização do pa- ciente deve ser precoce e efi caz, representando um pressuposto para a decisão do tratamento defi nitivo. O controle da hemorragia deve ser por com- pressão direta e o grau de comprometimento do membro deve ser quantifi cado. Na suspeita de lesão vascular, a angiografi a ou a angio TC deve ser realizada. A avaliação neurológica do membro é fundamental para o bom prognósti- co e restituição da função. A decisão de realizar a amputação primária, no lugar de se tentar salvar o membro, deve ser rápida6,7. Os critérios para a realização de amputação primária são: lesões associadas, condicionando hipoten- são prolongada, coagulopatia e acidose; lesões associadas que não permitem inter- venção cirúrgica prolongada sobre o mem- bro (p. ex., lesões hemorrágicas intracra- nianas); destruição dos tecidos musculares e nervo- sos distais da articulação do cotovelo e do joelho; esmagamento do segmento proximal; isquemia do membro por mais de 6 horas. Além dos critérios acima, para a decisão de realizar uma amputação primária, deve-se levar em conta a pontuação MESS8 (Tabela 3) que, quando superior a 7, possui um valor preditivo de 100% para a falência do tratamento con- servador. Nos outros casos, é possível tentar a preservação do membro, aplicando-se técnicas de controle do dano, antevendo a reparação defi nitiva, em função da condição do paciente e da presença de eventuais lesões associadas. Os procedimentos de controle do dano para os membros são representados pelo packing das lesões de partes moles, com hemorragia não controlável, do posicionamento de shunt vascular e da estabilização através da fi xação externa. As intervenções defi nitivas são realizadas após a recuperação da condição sistêmica do paciente e, uma vez resolvidos os problemas, com maior grau de prioridade (Algoritmo 1). Ferida penetrante Nas feridas por arma de fogo, o dano tissular é medido em função de três fatores: laceração, transmissão da onda de choque e do efeito de cavitação. Tais fatores são infl uenciados pelas características do projétil (velocidade, forma, calibre, massa e material) da propriedade vis- coelástica dos tecidos e da distância entre a arma e o alvo. A avaliação primária (Algoritmo 2) é reali- zada segundo a modalidade previamente ex- posta. A avaliação secundária prevê a inspeção das extremidades e a pesquisa de orifícios de entrada e saída, além do envolvimento de ou- tras partes do corpo. É comum documentar, com o objetivo médico-legal, através de foto- grafi as, as características das feridas. É indispensável a avaliação da perfusão pe- riférica e da sensibilidade e motricidade do segmento acometido. O estudo radiológico em AP e L, compreendendo a articulação proximal e distal, deve ser realizado com o posiciona- mento de marcadoresradiopacos nos orifícios cutâneos, para ter uma idéia do trajeto, através da radiografi a. A TC é um exame útil, especial- mente quando a lesão está próxima a uma ar- ticulação. 129 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 Na presença de suspeita de lesão vascular está indicada a exploração com hemostasia imediata, no caso de hemorragia no trajeto ou hematoma em rápida expansão. De outra ma- neira, é programável uma arteriografi a, ou me- lhor, uma TC com contraste, que permite uma avaliação tridimensional da anatomia da lesão. As feridas por arma de fogo nos membros, com envolvimento esquelético, representam um tipo particular de fratura exposta, e como tal, devem ser consideradas contaminadas (comu- mente Staphylococcus spp) requerendo, portan- to, a utilização de uma terapia antibiótica com cefalosporina e aminoglicosídeo. O dano ósseo pode ser determinado pelo impacto direto do projétil e pelo efeito da cavi- tação permanente. Em tais casos está presente uma notável cominuição dos fragmentos, so- bretudo com os projéteis de alta energia. Em geral, do ponto de vista ortopédico, as fraturas por arma de fogo são tratadas segundo os mes- mos princípios das fraturas expostas, devido ao trauma fechado. As fraturas compostas ou com limitada co- minuição dos fragmentos podem ser tratadas conservadoramente, assim como as fraturas fechadas. Em tal caso, projéteis intra ou para- articulares devem ser removidos a fi m de evitar o acúmulo de chumbo no líquido sinovial com conseqüente toxidade para a cartilagem arti- cular. Em caso de difi culdade de acesso e, se posicionado fora da superfície articular, pode- se abster da remoção do projétil. A fi xação externa é sempre preferível nos ca- sos de contaminação grosseira ou extensa per- da de substância das partes moles ou ósseas. No caso de vasta cominuição dos fragmentos é oportuno usar o recurso da fi xação externa híbrida (circular e linear) ou o posicionamento, por via retrógrada, de haste intramedular. A principal indicação para a utilização de fi xa- dor externo está representada pela fratura de grau IIIB, segundo Gustilo, lesões por projétil de alta velocidade e feridas por disparo a curta distância. Em função do grau de cominuição e de extensão da ferida é necessário o uso de fi xação ponte. Síndrome compartimental A síndrome compartimental ocorre devido ao aumento da pressão interna de um comparti- mento anatômico pouco extensível, compro- metendo a perfusão (Algoritmo 3). Nos pa- cientes traumatizados ela pode ocorrer por: lesão vascular com conseqüente isquemia e edema tissular; Parâmetro Descrição Pontuação Dano esquelético/ partes moles Baixa energia (FAB, FAF de baixa velocidade, fratura fechada) 1 Média energia (fratura exposta, luxação) 2 Elevada energia (FAF a curta distância, projétil de alta velocidade) 3 Destruição maciça e contaminação 4 Choque Ausente 0 Hipotensão transitória (PA < 90 mmHg, responsivo à infusão) 1 Hipotensão prolongada (PA < 90 mmHg, não responsivo à infusão) 2 Isquemia (a pontuação duplica se > 6 horas) Ausente 0 Leve – pulso hiposfígmo, mas com perfusão periférica conservada 1 Moderado – ausência de pulso ao Doppler, enchimento capilar tardio, parestesia e hipostenia 2 Severa – ausência de pulso, hipotermia, paralisia e anestesia 3 Idade < 30 anos 0 30-50 anos 1 > 50 anos 2 FAB, ferida por arma branca; FAF, ferida por arma de fogo. Tabela 3 Mangled Extremity Severity Score (MESS) 130 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 Algoritmo 1 Trauma complexo de extremidades Não Sim Sim Sim Não Trauma de extremidades Lesões associadas com prioridade de tratamento Controle da hemorragia Tratamento defi nitivo Amputação precoce Avaliar: – comprometimento da perfusão periférica – comprometimento neurológico – presença de fratura – lesão de partes moles Controle do dano Três ou mais elementos Efi caz Não fratura com extenso acometimento de par- tes moles; trauma por esmagamento; síndrome de reperfusão devido a revascula- rização de membros isquêmicos por mais de 4-6 horas; complicação infecciosa com edema de par- tes moles. O aumento da pressão compartimental pre- cede o surgimento de sinais clínicos, sendo fundamental realizar o monitoramento pres- sórico nas circunstâncias de risco, sobretudo nos pacientes não acessíveis e no paciente pe- diátrico. Na presença de fratura, a mensuração, através de agulha conectada a um transdutor, deve ser feita a uma distância de cerca de 5 cm do foco de fratura, no ponto de maior pressão. É considerada indicação absoluta de fascio- tomia a presença de pressão compartimental superior 30 mmHg9 ou uma diferença provisó- 131 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 Algoritmo 2 Ferida penetrante de extremidades Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não Não Não Sim Ferida por arma de fogo de extremidades Angiografi a Exploração cirúrgica Exploração cirúrgica Tratamento defi nitivo da fratura e fechamento da ferida por segunda intenção Observação Tratamento defi nitivo da fratura e fechamento da ferida por segunda intenção Desbridamento, fi xação externa, second look, depois de 48 h, fechamento por segunda intenção Tratamento defi nitivo da fratura e ferida Exploração cirúrgica Se lesão a até 2,5 cm do percurso de vasos, angio peroperatório Doppler Angiografi a Positivo Ferida de alta energia Sinais de lesão vascular Sinais de lesão vascular Positivo Projétil de alta energia, contaminação elevada, lesão articular, fratura instável, instabilidade hemodinâmica Positivo Lesão a até 2,5 cm do percurso de vasos ria (∆P) entre a pressão diastólica e a pressão compartimental menor que 30 mmHg. Nos pacientes sintomáticos é indicado considerar a fasciotomia mesmo para valores de pressão compartimental entre 20 e 30 mmHg. Os sinais clínicos, quando relevantes, são: dor, em geral, desproporcional em relação à condição clínica; dor na presença de estiramento passivo do membro; 132 Capítulo 11 - Trauma complexo das extremidades 11 edema; alteração neurológica (parestesia e hipoes- tesia); paralisia; ausência de pulso somente na fase mais tardia. A única possibilidade de tratamento é cons- tituída pela fasciotomia de cada compartimen- to muscular acometido. A descompressão efe- tuada deve ser adequada e completa. A incisão cutânea deve ser realizada de acordo com a distância do compartimento. Perna: todos os quatro compartimentos mus- culares devem ser descomprimidos. O com- partimento lateral e anterior, com uma incisão cutânea lateral, em correspondência ao septo intermuscular. Os dois compartimentos poste- riores, através de uma incisão, a uma distância de cerca de 2 cm da margem medial da tíbia, associada à incisão lateral. Coxa: incisão lateral da coxa eventualmente prolongada medialmente, se ocorrer a neces- sidade de descompressão dos compartimentos dos adutores. Antebraço: incisão em “S” na proximidade da articulação para evitar contratura durante o processo de cicatrização, eventualmente esten- dida até o túnel do carpo. A fasciotomia deve ser realizada antes da eventual osteossíntese. Está previsto um second look após 48 horas da primeira incisão para ava- liar o trofi smo dos grupamentos musculares envolvidos. O fechamento da ferida não deve ser efetuado antes de 5-10 dias, eventualmen- te, com a utilização de retalhos cutâneos e dis- positivos vacum assisted (VAC). Bibliografi a 1. Johansen K, Lynch K, Paun M, Copass M. Non- invasive vascular testsreliably exclude occult arterial trauma in injured extremities. J Trauma 1991;31:515-522. 2. 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